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TRABALHO PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
1. ORIGENS
	O PROBLEMA EM FACE DA DOUTRINA E DA LEI. A questão referente à distinção entre prescrição e decadência tão velha quanto os dois velhos institutos de profundas raízes romanas - continua a desafiar a argúcia dos juristas. As dúvidas, a respeito do assunto, são tantas, e vêm se acumulando através dos séculos, que, ao lado de autores que acentuam a complexidade da matéria, outros, mais pessimistas, chegam até a negar - é certo que com indiscutível exagero - a existência de qualquer diferença entre as duas principais espécies de efeitos do tempo sobre as relações jurídicas. Acentuam, ainda, que não se pode, a priori, estabelecer diferença entre prescrição e decadência, e sim examinar caso por caso, para dizer, a posteriori, se o mesmo é de prescrição ou de decadência. 
	CLÓVIS BEVILÁQUA, por sua vez, afirma que "a doutrina ainda não é firme e clara neste domínio". E CÂMARA LEAL, inegavelmente o autor brasileiro que mais se dedicou ao estudo do assunto, chegando mesmo a elaborar um método prático para fazer a distinção entre os dois institutos, diz que esse é "um dos problemas mais árduos da teoria geral do direito civil". 
	É incontestável, porém, que as investigações doutrinárias, confirmadas pela grande maioria da jurisprudência, já conseguiram, pelo menos, chegar a uma conclusão: a de que os dois institutos se distinguem. Deste modo, falta apenas encontrar uma regra, um critério seguro, com base científica, para se fundamentar tal distinção, de modo a se tornar possível identificar, a priori, os prazos prescricionais e os decadenciais, o que, sem dúvida, não constitui empreendimento fácil. 
	Há também um problema de grande importância, intimamente relacionado com aquele da distinção entre prescrição e decadência, e ao qual não se tem dispensado a necessária atenção. É o que diz respeito, às denominadas ações imprescritíveis. Como identificar tais ações? Ou - reunindo os dois problemas - como saber se determinada ação está subordinada a um prazo de prescrição, a um prazo de decadência (por via indireta), ou se ela é imprescritível?
	A prescrição tem sua origem no direito romano, assim como sua derivação vocabular da língua portuguesa, que provêm da expressão latina “praescriptio”, que significa “escrever antes”, “no começo”. Assim, no direito romano, sob o mesmo vocábulo, surgiram duas instituições jurídicas, que partem do mesmo elemento: ação prolongada do tempo e inércia do titulo. 
	Já quanto à decadência, sua origem vocabular vem do verbo latino “cadere”, que significa cair. Existe desde muito tempo uma grande polêmica que diferencie prescrição e decadência. Tanto uma quanto a outra extinguem direitos por inércia no decurso de tempo para agir em determinado caso; sendo que a prescrição extingue o direito indiretamente e a decadência o atinge diretamente.
	Esse problema de distinguir prescrição de decadência foi assumido na própria “Exposição de Motivos do Supervisor da Comissão Revisora e Elaboradora do Código Civil”, de 16 de janeiro de 1975 (Mensagem n° 160 de 1975), sendo o supervisor de tal comissão o grande Sr. Miguel Reale.
“Menção à parte merece o tratamento dado aos problemas de prescrição e decadência, que anos a fio, a doutrina e a jurisprudência tentaram em vão distinguir, sendo adotadas, às vezes num mesmo tribunal, teses conflitantes, com grave dano para a justiça e assombro das partes. Prescrição e decadência não se extremam segundo rigorosos critérios lógico-formais, dependendo sua distinção, não raro, de motivos de conveniência e utilidade social, reconhecidos pela política legislativa” (BRASIL, 1975). 
	Logo, tanto a prescrição quanto a decadência são efeitos do decurso de tempo, cujo prazo é fixado em lei, aliado ao desinteresse ou inércia do titular do direito, nas relações jurídicas, sendo institutos criados pelo direito para servir de instrumento à consecução do objetivo maior: a resolução de conflitos, com a consequente pacificação social. Mas vamos ver isso mais adiante.
2.QUANTO À PRESCRIÇÃO
	Na nova concepção, a prescrição extingue a pretensão, que é a exigência de subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio. De acordo com o art.189 do Código Civil de 2002, o direito material violado dá origem à pretensão, que é deduzida em juízo por meio da ação. Extinta a pretensão, não há ação. Portanto, a prescrição extingue a pretensão, extinguindo também e indiretamente a ação.
Exemplo: 
	Quando um direito é violado, surge então para seu titular a pretensão de iniciar uma ação, essa pretensão é como uma fechadura para se alcançar um direito, tendo o interessado sua chave correspondente; porém essa chave é desgastada com o tempo, e apenas enquanto ela estiver ainda em bom estado é que ela será ferramenta legítima para abrir a fechadura.
Então:
	Esse exemplo foi dado para mostrar a prescrição, o decurso do tempo em que a chave vai sendo desgastada, mais continua apta para o uso, é como se fosse o prazo da prescrição; quando já não mais for válida a chave para abrir a fechadura por conta de seu desgaste, diz-se que tal ação foi prescrita. Sendo assim, o dono da chave poderá tentar abrir a porta mais não mais conseguirá, trata-se de uma tentativa frustrada pela perda de ingressar com um direito.
	Essa é a principal diferença entre prescrição e decadência, como já fora dito. A prescrição invalidará obliquamente o exercício do direito, sua ação, sendo tal direito excluído por mera consequência; já na decadência a extinção do direito é a própria consequência da inércia do titular.
	Após o período do prazo prescricional aquela ação será inválida, tida também como ineficaz, podendo o titular ingressar com uma ação, mais não sendo ela mais fonte legítima para assegurar qualquer direito. 
	E quando a lei priva uma pessoa de ser capaz de administrar seus próprios bens, instituindo representantes para responderem civilmente por suas decisões, como fica essa situação se tal representante agir de má fé, como deixar transcorrer por falta de zelo um prazo prescricional? 
	Nesse caso o novo Código Civil (art. 195), assim como o CC de 1916 (art. 164), prevê que os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm a legitimidade de proporem ação regressiva contra seus assistentes ou representantes legais, que deram causa à prescrição ou não a alegaram em momento devido. Já em casos de sucessão, o prazo prescricional ou a prescrição já constituída continuam a valer contra o sucessor do falecido quando essa já tenha sido iniciada contra o ausente.
3.ESPÉCIES
Extintiva
Como o próprio nome indica, faz desaparecer direitos. É a prescrição propriamente dita, tratada no novo Código Civil, na parte geral, aplicada a todos os direitos.
Intercorrente
É a prescrição extintiva que ocorre no decurso do processo, ou seja, já tendo o autor provocado a tutela jurisdicional por meio da ação. Obviamente, se autor utiliza a ação para fugir à prescrição e, já sendo processada essa ação, o processo ficar paralisado, sem justa causa, pelo tempo prescricional, caracterizada está a desídia do autor, a justificar a incidência da prescrição.
Aquisitiva
Corresponde pelo usucapião previsto no novo Código Civil, na parte relativa ao direito das coisas, mais precisamente no tocante aos modos originários de aquisição do direito de propriedade. Está prevista também nos arts. 183 e 191 da Constituição Federal de 1988, continuando restrita a direitos reais. Nessa espécie, além do tempo e da inércia ou desinteresse do dono anterior, é necessária a posse do novo dono.
Ordinária
	Aquela cujo prazo é genericamente previsto em lei. No Código Civil de 1916, a prescrição ordinária era disciplinada no art. 177, já no Código Civil de 2002 o prazo genérico encontra-se previsto no art. 205, que confirmou a tendência de diminuição do prazo prescricional (de 20, 15 ou 10 anos para 10 anos), além de acabar com o tratamento diferenciado entre ações pessoais e ações reais.
EspecialOs prazos prescricionais são pontualmente previstos. No Código Civil de 1916, a prescrição especial era tratada pelo art. 178, que muito embora se referisse expressamente à prescrição, continha alguns casos de decadência. Por sua vez o Código Civil de 2002 disciplina a prescrição especial no art. 206, merecendo destaque o prazo prescricional de três anos (§ 3°) relativo à pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa (inciso IV) e à pretensão de reparação civil (inciso V).
Alegação
	A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem aproveita, conforme dispõe o art. 193 do Código Civil de 2002. Logo, poderá ser arguida em qualquer fase, na segunda ou primeira instância, mesmo que não levantada na contestação. Porém, se não alegar de imediato, ao réu não caberá honorários advocatícios em seu favor, ex. vi art. 22 do Código de Processo Civil.
	A regra geral comporta exceções. Na fase de liquidação da sentença é inadmissível a alegação de prescrição, que deve ser objeto de deliberação se arguida na fase cognitiva do processo. A prevista no art. 741, inciso VI, do Código de Processo Civil, que pode ser alegada mesmo na fase de execução, é a prescrição superveniente à sentença. Tampouco é admissível a alegação em sede de recurso especial ou extraordinário, ou em ação rescisória, se não foi suscitada na instância ordinária por total falta de prequestionamento.
	A prescrição só poderá era arguida pelas partes, exceto se for reconhecida no interesse de absolutamente incapazes, quando poderá fazê-lo o juiz, de ofício. O ministério público, em nome do incapaz ou dos interesses que tutela, e o curador da lide, em favor do curatelado, ou o curador especial, também poderão invocar a prescrição. Entretanto o ministério público não poderá demonstrar, em se tratando de interesse patrimonial, quando atuar como fiscal da lei.
	A prescrição é a regra, diante dos motivos anteriormente apresentados. No entanto, há ações que não são prescritíveis pois, certas relações jurídicas não se uni com os institutos da prescrição ou da decadência, tais como o direito de personalidade, a vida, ao nome, a nacionalidade, as de estado das pessoas, tais como filiação, cidadania, condição conjugal. 
Os imóveis públicos não podem ser adquiridos por usucapião, logo não são submetidos à prescrição aquisitiva, a teor dos arts. 183, § 3°, e art. 191, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988.
4. DAS CAUSAS QUE IMPEDEM OU SUSPENDEM A PRESCRIÇÃO
	Vale antes de tudo lembrar que há, embora sutil, uma significativa diferença em essência de seus significados entre os termos: causas impeditivas e suspensivas de prescrição. 
Nas causas impeditivas o prazo de prescrição ainda não chegou a ser computado, ou seja, o prazo estava zerado e assim continuará até que não haja mais impedimentos; 
Já nas causas suspensivas, como o próprio nome já diz, o prazo fica suspenso temporariamente até que cesse sua causa, recomeçando a contagem do tempo do ponto em que fora interrompido, após o período que frustrou a cronometragem do prazo.
Não corre a prescrição, conforme art. 168:
Entre cônjuges;
Entre ascendentes e descendentes;
Entre tutelados ou curatelados e seus tutores e curadores;
Em favor do credor pignoratício, do mandatário, e, em geral, das pessoas que lhe são equiparadas, contra o depositante, o devedor, o mandante e as pessoas representadas, ou seus herdeiros.
Também não haverá a prescrição, conforme art. 169:
Contra os incapazes de que trata o art. 5o;
Contra os ausentes do Brasil em serviço público da União, dos Estados, ou dos Municípios;
Contra os que se acharem servindo nas forças armadas e exércitos nacionais, em tempo de guerra.
Também não corre igualmente, conforme art. 170:
Pendendo condição suspensiva;
Não estando vencido o prazo;
Pendendo ação de evicção.
5. DAS CAUSAS QUE INTERROMPEM A PRESCRIÇÃO
	As causas que impedem ou suspendem estão expostas nos arts. 197 a 201 e as que interrompem nos arts. 202 a 204, todos do Código Civil de 2002. E aplicam-se tanto à prescrição extintiva, quanto à aquisitiva.
	“A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para interromper” (CC/02, art. 202, parágrafo único). Essa prescrição só pode ser interrompida uma vez, por qualquer interessado, que será proferida por despacho do juiz, mesmo sendo ele incompetente para ordenar a citação. Importante explicitar também os casos do inciso VI do art. 202, que interrompe a prescrição “por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor”.  
	Cita-se o art. 176 do CC/16, que é quase que idêntico ao seu equivalente no Novo Código, art. 204; havendo apenas uma pequena diferença que não prejudica a interpretação no §1°.
	Art. 176.  A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros. Semelhantemente, a interrupção operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.
	§ 1o  A interrupção, porém, aberta por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
	§ 2o  A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica aos outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.
	§ 3o  A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.
6. DOS PRAZOS DA PRESCRIÇÃO
	Em seu grande clássico “Dos Delitos e Das Penas” o sábio jurista César Beccaria citou um tópico sobre “Processos e Prescrições”:
	“Conhecidas as provas e estabelecida a certeza do delito, é necessário conceder ao réu o tempo e os meios oportunos para ele se justificar; mais esse tempo deve ser tão breve que não prejudique a presteza da pena, que vimos ser um dos principais freios dos delitos. Um mal compreendido amor à humanidade parece contrário a essa brevidade de tempo, mais toda dúvida se desvanecerá se se pensar que os perigos para os inocentes aumentam com os defeitos da legislação.
	As leis, porém, devem fixar certo espaço de tempo tanto para a defesa do réu quanto para as provas dos delitos, e tornar-se-ia legislador o juiz que estipulasse o tempo necessário para provar um delito.
	Da mesma forma, os delitos atrozes que permanecem por longo tempo na memória dos homens, uma vez provados, não merecem nenhuma prescrição em favor do réu que se subtrai pela fuga; mais os delitos menores e obscuros devem pôr termo, com a prescrição, à incerteza da sorte de um cidadão, pois a obscuridade que por longo tempo envolveu os delitos anula o exemplo da impunidade e deixa ao réu, entretanto, a possibilidade de se regenerar.
	Basta-me aqui indicar esses princípios, pois só pode estabelecer um tempo preciso para uma dada legislação e em determinadas circunstâncias de uma sociedade; acrescentarei apenas que, uma vez provada a utilidade das penas moderadas em uma nação, as leis, que proporcionalmente aos delitos reduzem ou aumentam o tempo da prescrição ou prazo das provas, considerando o encarceramento ou o exílio voluntário como parte da pena, estabelecerão facilmente uma divisão de poucas penas suaves para um grande número de delitos.
	Mais esse prazos não aumentarão na exata proporção da atrocidade dos delitos, pois a probabilidade dos delitos está na razão inversa de sua atrocidade. Será necessário, pois, reduzir o tempo do exame e aumentar o da prescrição, o que parece uma contradição do que afirmei, isto é, que se pode dar penas iguais a delitos desiguais, valendo como pena o tempo do encarceramento ou da prescrição anteriores à sentença. Para melhor explicar a minha idéia ao leitor, distingui duas classes de delitos: 
1ª é dos delitos atrozes, que começa pelo homicídio e compreende todas as atrocidades ulteriores; 
2ª é dos delitos menores. Essa distinção tem seu fundamento na natureza humana. 
	A segurança dosbens é um direito social. O número dos motivos que compelem os homens para além do natural sentimento de piedade é muito menor do que o número dos motivos que, pela natural ambição de serem felizes, os induzem a violar um direito que não encontram em seus corações, mais nas convenções da sociedade. A grande diferença de probabilidade dessas duas classes de delitos exige que eles se regulem com diferentes princípios. 
	Nos delitos mais atrozes, porque mais raros, deve diminuir o tempo do exame em razão da maior probabilidade de inocência do réu; e deve aumentar o tempo da prescrição, porque da definitiva sentença de inocência ou culpa de um homem depende o fim de sua ilusão de impunidade, cujo dano aumenta com a atrocidade do delito. Mais os delitos menores, diminuindo a probabilidade de inocência do réu, devendo aumentar o tempo da impunidade e diminuir o tempo da prescrição. Essa distinção de delitos em duas classes não seria admissível se o risco da impunidade diminuísse na proporção em que aumenta a probabilidade do delito. Note-se que um acusado do qual não se constatou nem a inocência nem a culpa, ainda que ele tenha sido liberado por falta de provas, poderá sujeitar-se pelo mesmo delito a nova prisão e a novos interrogatórios se surgirem novos indícios previstos pela lei, enquanto não decorrer o prazo de prescrição fixada para seu delito”. [...] (BECCARIA, 2003, p. 34-36)
	A citação foi apenas para aprofundamento e um melhor entendimento substancial do assunto, visto que os exemplos do douto autor são mais referenciados ao direito penal.
	Diferentemente do antigo CC/16, onde as ações prescreviam em vinte anos (ordinárias), dez anos (reais), quando presentes; e entre os ausentem em quinze anos contados da data em que poderiam ter sido propostas (CC/16, art. 177); nosso novo Código Civil alega o prazo de dez anos para ocorrer a prescrição, isso quando a lei não haja fixado prazo menor (CC/02, art. 205).
	Porém, o próprio Código dispõe de prazos diferenciados para determinados casos, elencados nos cinco parágrafos do art. 206, sendo os prazos de um, dois, três, quatro e cinco anos.
“Por fim, para a consumação da prescrição e no que couber, da decadência em síntese a conjugação de quatro fatores bem nítidos:
Existência de um direito exercitável;
Inércia do titular pelo não exercício do direito;
Continuidade da inércia por certo tempo;
Ausência de fato ou ato impeditivo, suspensivo ou interruptivo do curso da prescrição, requisito aplicável à decadência excepcional, somente por previsão legal específica.” (vide art. 207) 
7. DECADÊNCIA
	A decadência atinge diretamente o direito em razão também da negligência do titular durante certo lapso temporal. Portanto, a decadência é a extinção do direito pela inércia do titular, quando a eficácia desse direito estava originalmente subordinada ao exercício dentro de determinado prazo, que se esgotou, sem o respectivo exercício. O tempo age, no caso de decadência, como um requisito do ato.
	O objeto da decadência, portanto, é o direito que nasce por vontade da lei ou do homem, subordinado à condição de seu exercício em limitado lapso de tempo.
O Código Civil de 2002 aborda expressamente a decadência, nos arts. 178, 179, e 207 a 211, ao contrário do Código Civil de 1916.
	Assim como a prescrição, pode ser demostrada tanto por via de ação como por meio de exceção ou defesa, as normas de suspensão, impedimento e interrupção não são aplicáveis à decadência, que envolve prazos fatais, colocando um fim, salvo disposição em contrário, como a exceção encontrada no art. 26, § 2°, do Código de Defesa do Consumidor.
8. ESPÉCIES
Legal
Quando é prevista em lei, sendo reconhecida de ofício pelo juiz, ainda que se trate de direitos patrimoniais; de acordo com o arts. 210 do Código Civil de 2002.
O prazo decadencial legal é irrenunciável, segundo o art. 209 do Código Civil de 2002.
Convencional
Estipulada pelas partes, somente a parte beneficiada poderá alegá-la, sendo vedado ao juiz de Direito suprir a alegação da parte, consoante o art. 211 do Código Civil de 2002.
O prazo decadencial convencional pode ser renunciado, a teor do art. 209 do Código Civil de 2002, a contrario sensu.
9. DIFERENÇA ENTRE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
	A doutrina e jurisprudência pátrias adotaram inúmeros métodos para diferenciar os institutos da prescrição e da decadência, já que ambos envolvem efeitos do decurso do tempo nas relações jurídicas, sendo muitas vezes confundidos.
	O Código Civil de 1916, ao tratar em setor específico exclusivamente o tema da prescrição, contribuiu para a nebulosidade que acostumou acompanhar o tema, posto que em muitos dos casos previstos no art. 178, não se tratava de prescrição, mas sim de decadência.
	A seguir serão vistas as principais diferenças entre ambos os institutos jurídicos:
	1º - A decadência começa a correr, como prazo extintivo, desde o momento em que o direito nasce. Enquanto a prescrição não tem seu início com o nascimento do direito, mas a partir de sua violação, porque é nesse momento que nasce a ação contra a qual se volta a prescrição.
	2º - Diversa é a natureza do direito que se extingue, pois a decadência supõe um direito que, embora nascido, não se efetivou por falta de exercício, ao passo que a prescrição supõe um direito nascido e efetivo, mas que pereceu por ausência de proteção pela ação, contra a violação sofrida.
	3º - A decadência, como regra geral, não é suspensa nem interrompida e só é impedida pelo exercício do direito a ela sujeito. A prescrição pode ser suspensa ou interrompida pelas causas expressamente colocadas em lei.
	4º - A decadência pode ser fixada pela lei ou pela vontade das partes bilateralmente ou unilateralmente. Enquanto a prescrição só se estabelece por lei.
	5º - A decadência legal pode ser reconhecida de ofício pelo juiz e independe da argüição do interessado. Porém a prescrição poderá ser reconhecida de ofício apenas nos casos de interesses de absolutamente incapazes, conforme art. 194 do Código Civil de 2002.
	6º - A prescrição admite renúncia depois de consumada, não sendo admitida antes ou no curso do prazo, porque é instituto de ordem pública, decorrente da lei [5], a decadência legal não pode ser renunciada.
	7º - A decadência opera contra todos, salvo contra absolutamente incapazes, ex vi art. 208 do Código Civil de 2002, enquanto que a prescrição não opera para determinadas pessoas elencadas pelo art. 198 do Código Civil de 2002.
	O Código Civil de 2002 foi mais prático, ao determinar serem os prazos de prescrição, apenas e exclusivamente, os taxativamente discriminados na Parte Geral, nos arts. 205 (regra geral, prazo de 10 anos) e 206 (regras especiais), sendo de decadência todos os demais, estabelecidos como complemento de cada artigo que rege a matéria, tanto na Parte Geral como na Especial. Essa foi uma das principais inovações trazidas pelo Código Civil em vigor.
	Enfim, para evitar a discussão sobre se a ação prescreve ou não, adotou-se a tese da prescrição da pretensão, por ser considerada a mais condizente com o direito processual contemporâneo, afastando a possibilidade de envolver o direito subjetivo público abstrato de ação.
10. INSTITUTOS ASSEMELHADOS
Perempção
	O instituto processual que extingue somente o direito de ação é a perempção, decorrente da contumácia do autor que deu causa a três, arquivamentos sucessivos (art. 268, parágrafo único, CPC).
	Restam conservados o direito material e a pretensão, que só podem ser opostos em defesa ou exceção.
Preclusão
	É a perda de uma faculdade processual, por não ter sido exercida no momento próprio, impedindo nova discussão em questões já decididas, dentro do mesmo processo.
11. DA PRESCRIÇÃO E DA DECADÊNCIA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
	Não há muita diferenciação nos institutos da prescrição e da decadência tratados pelo direito consumerista. O que ocorre é diferenciação de prazos.
	O art. 26 do Código de Defesa doConsumidor trata dos prazos decadenciais, ao contemplar o direito de reclamar por vícios aparentes ou ocultos dos produtos e serviços, que se extingue em 30 dias, se o produto ou serviço for não durável; e em 90 dias, se for durável. A durabilidade se relaciona com o tempo médio de consumo do produto ou serviço.
	O termo inicial da decadência, para vícios aparentes, começa a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços; já para os vícios ocultos, quando evidenciado o defeito.
	Causas suspensivas da decadência, previstas no § 2° do art. 26 do Código de Defesa do Consumidor são: a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor até a resposta negativa do fornecedor e a instauração de inquérito civil pelo ministério público, até seu encerramento.
	Por sua vez, o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor regula a prescrição nos casos de responsabilidade por danos, nos acidentes causados por defeitos do produto ou serviço. O prazo prescricional é de cinco anos, contados a partir do conhecimento por parte do consumidor do dano e de sua autoria.
12. DIREITO INTERTEMPORAL
	O art. 2.028 das disposições transitórias do Código Civil de 2002 contém normas que devem ser aplicadas aos prazos em curso quando da vigência do estatuto civil em vigor.
	Os prazos serão os da lei anterior, quando reduzidos pelo Código Civil de 2002 e se na data de sua entrada em vigor houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. Caso contrário, serão aplicados os prazos estabelecidos pelo Código Civil de 2002.
13. PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA NA PRÁTICA
	Nada melhor que avaliar como realmente estão sendo postas em prática as normas referentes ao já tão citado assunto. A seguir encontram-se exemplos jurisprudenciais. São decisões com base no novo Código Civil (exemplo da prescrição), assim como no Código Civil de 1916 (exemplo da decadência).
Concluímos então, que ser conhecedor da prescrição e da decadência é fundamental ao operador do direito, porque trata-se de um meio para a obtenção da finalidade da atividade jurídica.
	Em virtude do exposto, vimos que a prescrição e a decadência são importantes institutos jurídicos destinados à pacificação social, à manutenção da ordem jurídica, à tranquilidade das relações jurídico-sociais.
	
Fontes de pesquisa :
	Pesquisa Internet - Livro Da Prescrição E Da Decadência - Antonio Luiz Camara Leal
	Artigos jusbrasil.com.br 
	Artigos direitonet.com.br
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