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SUMÁRIO 1. Introdução 2. O Enem 2.1 A história do Enem 3. A Redação do Enem 3.1 Os temas da redação do Enem 3.2 As competências avaliadas na redação do Enem 3.3 A correção da redação do Enem 4. A dissertação–argumentativa: o tipo textual da redação do Enem 4.1 Redação nota 1.000 4.2 O que é um texto dissertativo-argumentativo? 4.3 Como começar a escrever? 4.4 Como introduzir uma tese 4.5 Como desenvolver e sustentar uma tese 4.6 Argumentos e recursos linguísticos 4.7 Como desenvolver argumentos consistentes 4.8 Como ser um autor proficiente 4.9 Impessoalidade versus Subjetividade 4.10 Coerência e Coesão 4.11 Como não tirar 0 na redação do Enem 4.12 Com que letra escrevo? 5. As competências da redação do Enem: como cumpri-las. 4.1 Nº1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa 4.2 Nº2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estrtuturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa 4.3 Nº3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista 3 4.4 Nº4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação 4.5 Elaborar proposta de intervenção social para o problema abordado, respeitando os direitos humanos 6. Análise das propostas de redação do Enem 6.1 1998: Viver e aprender 6.2 1999: Cidadania e participação social 6.3 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio social 6.4 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito? 6.5 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita? 6.6 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo? 6.7 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação 6.8 2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira 6.9 2006: O poder de transformação da leitura 6.10 2007: O desafio de se conviver com as diferenças 6.11 2008: Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivos financeiros a proprietários que deixarem de desmatar ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar? 6.12 2009: O indivíduo frente à ética nacional 6.13 2010: O trabalho na construção da dignidade humana 6.14 2011: Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado 6.15 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século XXI 6.16 2013: Os Efeitos da Implantação da Lei Seca no Brasil 6.17 2014: Publicidade Infantil em Questão no Brasil 7. Dicas de preparação 1. Introdução Prezado(a) candidato(a) ao Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), É com imensa satisfação que o portal InfoENEM apresenta a apostila A Redação no ENEM. Com o intuito de auxiliar e aprimorar o seu estudo e preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio, organizamos todo o material sobre redação que publicamos nesta apostila. Pensamos que ler e escrever não é importante, apenas, para se passar ou obter uma boa nota em um exame e/ou vestibular, mas é também fundamental e essencial para toda a vida acadêmica e profissional, já que não paramos de ler e de escrever quando ingressamos na universidade e no mercado de trabalho; passaremos a ler e a escrever diferentes gêneros do que os que conhecemos na escola e assim viveremos, sendo cidadãos protagonistas por meio da leitura e da escrita e é isso, acima de tudo, que idealizamos ao produzirmos este material. Organizamos esta apostila tendo em mente seu melhor uso em casa, sozinho ou em grupos de estudos, para que haja o melhor proveito possível. Enfatizaremos a prova de produção escrita e suas tradições, sua grade de correção com suas respectivas competências, além de dedicarmos capítulos à dissertação-argumentativa, o tipo textual exigido no exame, explorando sua estrutura, sua construção e dando dicas para você se sair bem nesta e em outras provas que também a requerem, o que poderá e deverá ser levado para toda a vida. Também apresentaremos análises de todas as propostas de redação do ENEM, desde a prova de 1998 até a de 2014, comentando a respeito da coletânea de textos motivadores até como o candidato poderia ter escrito para obter uma boa pontuação. Mitos e verdades sobre o exame a dissertação-argumentativa em si também serão abordados, além de desvios que não devem ser cometidos. Esperamos que esta apostila seja de grande serventia para o seu estudo, não só para o ENEM, mas para outras provas e para a vida. Bons estudos e boa sorte! Equipe InfoENEM. 2. O ENEM 2.1 A história do ENEM O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM – foi criado pelo Ministério da Educação, juntamente com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP – em 1998 com o intuito de avaliar o desempenho dos formandos do Ensino Médio (ciclo final da educação básica brasileira) a fim de contribuir para com a melhora da qualidade deste nível de ensino por meio da elaboração de políticas públicas através dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – e foi a primeira iniciativa do governo federal de avaliar o ensino no Brasil. Pode-se dizer que o ENEM está em seu segundo modelo, já que o primeiro foi utilizado de 1998 a 2008 e tinha como objetivo, além da avaliação, conceder bolsas de estudos integrais e parciais em cursos universitários privados por meio do Programa Universidade para Todos – ProUni – e agregar pontos em vestibulares de universidades públicas que aderissem ao exame. Este primeiro modelo continha 63 questões de múltipla escolha e a prova de redação e era realizado apenas em um domingo. A partir de 2009, a proposta de unificar os vestibulares das universidades federais criou o segundo modelo do ENEM, que vem sendo realizado desde então. Assim, as universidades federais aderiram ao exame, fazendo dele seu vestibular ou parte dele. Para tanto, passou a ser realizado em dois dias, durante o fim de semana, já que as questões aumentaram para 180, mais a prova de redação. O conteúdo das avaliações do ENEM é definido a partir das chamadas matrizes de referência de quatro áreas do conhecimento, a saber: · Linguagens, Códigos e Suas Tecnologias: Língua Portuguesa (Gramática Normativa1 e Interpretação de Texto), Língua Estrangeira Moderna, Literatura, Artes, Educação Física e Tecnologias da Informação. · Matemática e Suas Tecnologias. · Ciências da Natureza e Suas Tecnologias: Química, Física e Biologia. · Ciências Humanas e Suas Tecnologias: Geografia, História, Filosofia, Sociologia e conhecimentos gerais. 1 No site no INEP, há, apenas, “gramática”, mas pensamos ser válido acrescentar o termo “normativa”, já que é esta a gramática ensinada nas escolas públicas e privadas brasileiras. O programa unificador dos vestibulares por meio do ENEM é o Sistema de Seleção Unificada – SiSu – além da continuidade do ProUni e da adesão do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior – FIES – ao exame. Outra atribuição acrescida ao ENEM foi a possibilidade de alunos de Educação de Jovens e Adultos – EJA – obterem seus certificados de conclusão de curso através da pontuação obtida no exame. 3. A Redação do ENEM 3.1 Os temas da redação do ENEM A prova de redação do ENEM faz parte da matriz de referência de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, já que esta abrange os conteúdos de Língua Portuguesa como gramática normativa, interpretação de textos e produção textual. O exame segue a tradiçãodos mais importantes vestibulares do Brasil: incluir uma avaliação de produção textual que, na verdade, não avalia apenas a escrita do candidato, mas também a leitura. A prova redação está presente no ENEM desde a sua primeira edição, em 1998 e tem como característica abordar temas com viés social, voltados para as realidades política e história do Brasil e, por isso, tem como especificidade buscar uma proposta de intervenção social por parte do candidato, a qual abordaremos a seguir. Os temas de todas as propostas de redação do ENEM, desde sua concepção até o ano de 2014 foram: Podemos dizer que até 2003 os temas eras abordados de uma forma mais abrangente e generalizada e que a partir de 2004 essa abordagem passou a ser mais específica e detalhada, focando um determinado aspecto. Porém, desde o início do 1998: Viver e aprender 1999: Cidadania e participação social 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio social 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito? 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita? 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo? 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação 2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira 2006: O poder de transformação da leitura 2007: O desafio de se conviver com as diferenças 2008: Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivos financeiros a proprietários que deixarem de desmatar ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar? 2009: O indivíduo frente à ética nacional 2010: O trabalho na construção da dignidade humana 2011: Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século XXI 2013: Os Efeitos da Implantação da Lei Seca no Brasil 2014: Publicidade Infantil em Questão no Brasil. ENEM, os temas têm enfoque social, abordando assuntos fundamentais como cidadania, direitos humanos, meio ambiente, educação, convívio social, ética, política, liberdade, comunicação etc. Por vezes, um mesmo tema abrange vários destes subtemas; por exemplo, o tema da prova de 2007 “O desafio de se conviver com as diferenças” engloba a questão da discriminação, dos inúmeros preconceitos (que, infelizmente, ainda estão enraizados na sociedade, não só brasileira) e, portanto, do convívio social e da liberdade de expressão, tanto corporal, sexual, religiosa, de informação, dentre outras. Com esta postura, o ENEM nos mostra que objetiva que os candidatos, além de argumentarem fortemente a favor do seu ponto de vista, atuem como sujeitos autônomos, protagonistas dos seus discursos e cidadãos, não apenas como sujeitos passivos que não tenham nada a dizer, nada a ajudar. A escola, como instituição, tem o dever de formar cidadãos conscientes, proativos e protagonistas de suas vidas e de seus dizeres, já que todos nós temos (e muito) o que falar. Para tanto, manter-se atualizado acerca das pautas cotidianas atuais, com viés social, é fundamental, já que a tradição é a de abordar temas sociais e atuais, como por exemplo, os efeitos da implementação da Lei Seca no Brasil, como foi o caso do ENEM 2013. A questão da atualidade, por vezes, é questionada por alguns, que não pensam ser atual o tema da redação no contexto da aplicação da prova. Na verdade, no mundo contemporâneo, no qual tudo acontece muito rápido, no qual somos bombardeados por inúmeras informações do mundo todo, a “atualidade” pode ser vista, apenas, como o agora, mas, na verdade, ela é mais extensa. Esta questão foi bastante discutida na ocasião do ENEM 2012, cujo tema da redação dizia respeito aos movimentos imigratórios para o Brasil, mas devemos salientar que este tema, em geral, estava sendo abordado pela mídia, principalmente impressa e virtual, desde 2011, quando o Haiti foi desvastado por um desastre natural e uma verdadeira onda de haitianos imigrou no país pelas fronteiras do estado do Acre. É importante ressaltar que a preparação e o planejamento da banca elaboradora do ENEM começa muito cedo; mal acaba a aplicação de uma edição, a próxima já começa a ser idealizada para haver, justamente, tempo hábil para todas as questões serem feitas e selecionadas e para que a proposta de redação seja produzida, por isso temas oriundos de acontecimentos que ocorreram próximos ao exame, normalmente, são descartados para o ano em questão, mas devem ser guardados para o próximo. Portanto, temas relevantes em 2014 podem ser temas da redação do ENEM 2015, por exemplo. Como dissemos anteriormente, desde seu nascimento, o ENEM traz como propostas de redação temas sociais e nacionais, isto é, que dizem respeito ao Brasil e à sociedade brasileira; portanto, podemos descartar, para a prova de produção escrita, temas e acontecimentos internacionais. Voltando ao ENEM 2012, a questão da imigração para o nosso país neste século tem a ver com ocorrências internacionais, como a devastação do Haiti, a crise na Zona do Euro, a busca por qualidade de vida dos latinos – americanos (como bolivianos e colombianos, por exemplo, que buscam melhores condições de vida e de trabalho no nosso país), mas relacionados ao Brasil, não isolados em seus países. Assim, temas internacionais podem, sim, servir como panos de fundo para o tema da redação do ENEM, que, por sua vez, é sempre relacionado ao nosso país. 3.2 As competências avaliadas na redação do ENEM A banca elaboradora do ENEM concebe todas as questões, de todas as disciplinas e a proposta de redação baseada na Matriz de Competência do ENEM, a qual é divulgada pelo INEP, em seu site2 , e é organizada em eixos e competências que têm como objetivo nortear a avaliação. Este documento é o alicerçe das competências avaliadas na redação do exame, das quais falaremos logo a seguir. Primeiramente, há os cinco eixos cognitivos comuns a todas as áreas do conhecimento3; são eles: 2 O documento pode ser acessado através do endereço http://download.inep.gov.br/educacao_basica/Enem/downloads/2012/matriz_referencia_Enem.pdf. 3 Extraídos do documento intitulado Matriz de Referência ENEM, acessado no endereço eletrônico escrito a cima. I – Dominar Linguagens: dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas espanhola e inglesa; II – Compreender Fenômenos: construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos históricos – geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas. III – Enfrentar Situações – Problemas: selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações – problemas. Como estes eixos são a base da grade de correção da redação do ENEM, veremos uma certa repetição, pois eles reverberam nas matrizes de referência da área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, na qual está inserida a prova de produção escrita e, portanto, nas competências específicas para esta avaliação. O domínio da norma culta, por exemplo, é a primeira competência a ser avaliada; as coletâneas de textos motivadores que acompanham as propostas de redação nos colocam fenômenos e situações – problemas, os quais os candidatos devem entender, enfrentar e intervir por meio de elaboração de propostas e, tudo isso, através de uma argumentação consistente4. As matrizes de referência da área de Linguagens, Códigose suas Tecnologias são, ao todo, nove, mas aqui abordaremos as que têm relação com a prova de redação, já que esta área abrange, como já dissemos, além da Língua Portuguesa, a Literatura, as línguas estrangeiras, as artes, a Educação Física e as tecnologias da informação5. Competência de área 1 - Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para sua vida. H1 - Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação. H2 - Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais. H3 - Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas. H4 - Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação. 4 Mais adiante, além de descrevermos as competências específicas da avaliação da prova de redação do ENEM, abordaremos como cumpri-las da melhor maneira possível e, nesta parte, as detalharemos melhor. 5 Idem à nota de rodapé de número três. IV – Construir Argumentação: relacionar informações, representadas em diferentes formas e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. V – Elaborar Propostas: recorre aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. Esta competência relaciona-se, basicamente, ao uso das informações obtidas pelos meios de comunicação na escola, no ambiente de trabalho e na vida social. Como existem diferentes meios de comunicação atualmente, como por exemplo, jornais e revistas impressos, jornais e revistas online, jornais televisivos e a televisão como um todo, blogs, redes sociais etc, também existem diferentes linguagens, adequadas as diversas esferas de comunicação e circulação social e os candidatos devem saber identificá-las e diferenciá-las. Competência de área 4 - Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da própria identidade. H12 - Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais. H13 - Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos. H14 - Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos. Além da arte ser um saber cultural e estético que gera significação e é integrante do mundo e da própria identidade individual de cada um, ela é linguagem, linguagem artística que se propõe a ter as mais variadas funções que, por sua vez, dependem de seu respectivo autor,esfera de circulação, suporte, público-alvo, dentre outros aspectos. O que isso tem a ver com a prova de redação? Um exemplo artístico pode compor a coletânea de textos motivadores, como por exemplo, uma gravura, um grafite, uma charge, uma foto etc e, assim, fazer parte de toda uma proposta de produção textual. Competência de área 5 - Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção. H15 - Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político. H16 - Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário. H17 - Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional. Esta competência aborda a contextualização de informações, conteúdos e dados, a qual os candidatos devem estar atentos. Por exemplo, ter uma ideia de em que contexto histórico social uma notícia foi veiculada ou um livro escrito é essencial para lidar bem com este material, tanto nas questões objetivas quanto no momento de ler a proposta de redação e sua coletânea de textos motivadores, já que o trecho de um romance, de um conto ou de uma crônica, por exemplo, ou um poema ou uma poesia podem fazer parte de uma coletânea. Competência de área 6 - Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação. H18 - Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos. H19 - Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução. H20 - Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional. Já esta competência trata dos textos e das linguagens não-verbais como meios de constituição de significados, expressão, comunicação e informação que são típicos de alguns gêneros, como por exemplo, infográficos, fotos, gráficos etc que estão presentes em reportagens, artigos científicos, relatórios dentre outros. O ENEM sempre traz, nas coletâneas de textos motivadores, como veremos mais adiante, textos não-verbais e a interpretação acertada destes gêneros é fundamental, além de eles estarem presentes em nosso dia a dia. Competência de área 7 - Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas. H21 - Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não- verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos. H22 - Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos. H23 - Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados. H24 - Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção, chantagem, entre outras. A competência de área sete visa avaliar a interpretação dos textos em geral, de qualquer linguagem e todos os recursos aos quais um autor pode recorrer ao escrever, como por exemplo, os textos não-verbais dos quais falamos anteriormente, suas intenções e objetivos (por meio da análise da argumentação, da descrição, da exposição e da narração) etc. Competência de área 8 - Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização do mundo e da própria identidade. H25 - Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro. H26 - Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social. H27 - Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação. A variedade linguística é o ponto nesta competência, que a reconhece e a legitima, já que falamos de acordo com a nossa idade, classe social, gênero, contexto histórico, político e cultural etc e saber distingui-la é muito importante em um exame como o ENEM, que a aborda em suas questões desde o seu início. Competência de área 9 - Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte, às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemasque se propõem solucionar. H28 - Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação. H29 - Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação. H30 - Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem. O ENEM mostra-se um exame atualizado e contemporâneo e, como não podia deixar de ser, está atento ao mundo tecnológico e informacional que nos cerca e, portanto, contextualizar toda esta tecnologia na dia a dia a fim de solucionar problemas é essencial; pensando na prova de redação, voltamos esta competência para a proposta de intervenção social requerida pela quinta competência específica da redação. Agregar as tecnologias à proposta de solução, na redação, é importante e a fortalece, já que, como veremos mais adiante, a intervenção deve ser o mais prática, palpável e verossímil possível. Estas competências de área servem como base para as específicas da redação, que compõem, assim, a grade de correção da redação do ENEM. O INEP divulga, desde o ano de 2012, em meados de setembro, um guia do candidato sobre a prova de produção escrita do ENEM com as cinco competências avaliadas e exemplos de textos que obtiveram nota máxima, isto é, 1.000 pontos6, já que a pontuação vai de 0 a 1.000, pois cada uma das cinco competências vai de 0 a 200 pontos. É baseados neste material oficial publicado que escreveremos sobre as competências da redação, já que não fazemos parte da banca corretora do exame. É importante que estes guias sejam lidos com calma pelos candidatos, pois trazem informações e orientações valiosas acerca da prova de redação do ENEM. Por exemplo, nele há a discriminação de todas as cinco competências com detalhes sobre suas pontuações e objetivos. A saber7: Competência Nº1: Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa Demonstrar domínio dos requisitos da ordem textual – coesão, coerência, sequenciação, informatividade - e escrever um texto sem marcas de oralidade e de registro informal, ter precisão vocabular e demonstrar obediência às regras de concordância verbal e nominal, regência verbal e nominal, ponttuação, flexão de nomes e verbos, colocação de pronomes oblíquos (átonos e tônicos), grafia das palavras (acentuação e emprego de letras maiúsculas e minúsculas) e divisão silábica na mudança de linhas. 200 pontos: demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro. Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos apenas em casos excepcionais e quando não são reincidentes. 160 pontos: demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com poucos desvios gramaticais e de convenções de escrita que não prejudicam a modalidade e a coesão do texto. 120 pontos: demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com alguns desvios gramaticais e de convenções de escrita que pouco prejudicam a modalidade e a coesão do texto. 80 pontos: demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com muitos desvios gramaticais e de convenções de escrita que prejudicam a modalidade e a coesão do texto. 40 pontos: demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, de forma sistemática, com diversificados e frequentes desvios gramaticais e de convenções de escrita que prejudicam a modalidade 6 Os guias dos candidatos de 2012 e de 2013 podem ser acessados por meio do endereço http://portal.inep.gov.br/web/Enem/Enem. 7 Tabela baseada no conteúdo do Guia do Participante – A Redação no ENEM 2013, que pode ser acessado por meio do endereço http://download.inep.gov.br/educacao_basica/Enem/guia_participante/2013/guia_participante_redacao_E nem_2013.pdf. e a coesão do texto. 0 ponto: demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. Competência Nº2: Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estrtuturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa 200 pontos: desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo, e apresenta excelente domínio da dissertação- argumentativa. 160 pontos: desenvolve o tema por meio de argumentação consistente e apresenta bom domínio da dissertação-argumentativa, com proposição, agumentação e conclusão. 120 pontos: desenvolve o tema por meio de argumentação previsível e apresenta domínio mediano da dissertação-argumentativa, com proposição, agumentação e conclusão. 80 pontos: desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos motivadores ou apresenta domínio insuficiente da dissertação-argumentativa, não atendendo à estrutura com com proposição, agumentação e conclusão. 40 pontos: há tangenciamento do tema ou demonstra domínio precário da dissertação-argumentativa, com traços constantes de outros tipos tetxuais. 0 ponto: há fuga total do tema ou não atendimento do tipo textual. Competência Nº3: Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista Coerência: relação de sentido entre as partes do texto, precisão vocabular, coerência interna e externa, progressão temática. 200 pontos: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos relacionados ao tema proposto de forma consistente e organizada, configurando autoria e autonomia em defesa de um ponto de vista. 160 pontos: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos relacionados ao tema proposto de forma pouco consistente e organizada, com indícios de autoria e autonomia em defesa de um ponto de vista. 120 pontos: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos relacionados ao tema proposto limitado aos textos motivadores e pouco organizados em defesa de um ponto de vista. 80 pontos: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos relacionados ao tema proposto limitado aos textos motivadores, mas desorganizados em defesa de um ponto de vista. 40 pontos: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos pouco relacionados ao tema proposto ou incoerentes e sem defender um ponto de vista. 0 ponto: apresenta informações, fatos, opiniões e argumentos não relacionados ao tema proposto e sem defender um ponto de vista Competência Nº4: Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação Coesão: paragrafação, estruturação dos períodos, referenciação. 200 pontos: apresenta um texto bem articulado e um repertório diversificado dos recursos coesivos. 160 pontos: apresenta um texto articulado, com poucas inadequações e um repertório diversificado dos recursos coesivos. 120 pontos: apresenta um texto razoavelmente articulado, com algumas inadequações e um repertório pouco diversificado dos recursos coesivos. 80 pontos: apresenta um texto com articulação insuficiente, com muitas inadequações e repertório limitado dos recursos coesivos. 40 pontos: apresenta um texto com articulação precária. 0 ponto: apresenta um texto não articulado. Competência Nº5: Elaborar proposta de intervenção social para o problema abordado, respeitando os direitos humanos 200 pontos: elabora muito bem a proposta de intervenção social, de modo detalhado, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 160 pontos: elabora bem a proposta de intervenção social e esta é relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 120 pontos: elabora uma propostade intervenção social mediana e esta é relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto. 80 pontos: elabora uma proposta de intervenção social insuficiente e esta é relacionada ao tema, mas não articulada à discussão desenvolvida no texto. 40 pontos: elabora uma proposta de intervenção social precária, vaga. 0 ponto: não apresenta uma proposta de intervenção social. Por ora, não detalharemos as competências específicas da redação do ENEM, pois pensamos ser melhor fazermos isso após explorarmos ao máximo a dissertação- argumentativa, o tipo textual pedido na prova de produção escrita, quando poderemos explicar e exemplificar como cumprir cada uma da melhor maneira possível, dedicando espaços especiais para cada uma delas. 3.3 A correção da redação do ENEM A banca corretora da prova de redação do ENEM é composta por professores de Língua Portuguesa da educação básica, que estão ou não cursando mestrado ou doutorado em universidades públicas e/ou privadas brasileiras. Primeiramente, os professores candidatos a corretores passam por um treinamento durante o segundo semestre, no qual são avaliados e os que são aprovados compõem a banca corretora e corrigem os textos por meio da internet. Como o ENEM possui dimensões continentais, é impraticável confinar todos os corretores da banca como fazem, por exemplo, os vestibulares da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e outras, então o INEP envia os textos e os corretores os reenviam corrigidos. Cada redação é corrigida por, no mínimo, dois corretores e às cegas, isto é, nenhum dos dois corretores sabe que nota foi dada pelo outro e nem qual foi o outro corretor, para haver a imparcialidade que o processo exige. Cada corretor atribui uma nota de 0 a 200 pontos para cada competência e a soma desta pontuação é a nota dada por cada corretor, podendo chegar aos 1.000 pontos. A nota final do texto é a média aritmética das notas dos dois corretores. Caso haja uma discrepância, isto é, uma diferença maior do que 100 pontos entre as notas dos dois corretores ou maior do que 80 pontos em qualquer uma das competências, a redação será corrigida uma terceira vez, por um corretor diferente e a nota final do texto será a média aritmética das duas notas mais próximas, sendo a mais distante descartada. Caso a discrepância permaneça depois da terceira correção, a redação será corrigida uma quarta vez, agora por uma banca composta por três professores e esta nota é absoluta, ou seja, é a que valerá. Candidatos surdos, com alguma deficiência ou com dislexia terão suas redações avaliadas por meio de mecanismos condizentes com estas condições; basta, no momento da inscrição, estipular se trata-se de candidatos especiais. Todas as correções (primeiras, segundas, terceiras e quartas) são realizadas baseadas nas cinco competências específicas da redação do ENEM e nas regras estipuladas pelo INEP no Guia do Participante, sobre as quais falaremos mais adiante. 4. A dissertação–argumentativa: o tipo textual da redação do ENEM 4.1 Redação nota 1.000 Redação de Mary Clea Ziu Lem Gun, Barueri (SP). Cidadania virtual Assistimos hoje ao fenômeno da expansão das redes sociais no mundo virtual, um crescimento que ganha atenção por sua alta velocidade de propagação, trazendo como consequência, diferentes impactos para o nosso cotidiano. Assim, faz- se necessário um cuidado, uma cautelosa discussão a fim de encarar essa nova realidade com uma postura crítica e cidadã para então desfrutarmos dos benefícios que a globalização dos meios de comunicação pode nos oferecer. A internet nos abre uma ampla porta de acesso aos mais variados fatos, verbetes, imagens, sons, gráficos etc. Um universo de informações de forma veloz e prática permitindo que cada vez mais pessoas, de diferentes partes do mundo, diversas idades e das mais variadas classes sociais, possam se conectar e fazer parte da grande rede virtual que integra nossa sociedade globalizada. Dentro desse contexto as redes sociais simbolizam de forma eficiente e sintética como é o conviver no século XXI, como se estabelecem as relações sociais dentro da nossa sociedade pós-industrial , fortemente integrada ao mundo virtual. Toda a comodidade que a rede virtual nos oferece é , no entanto, acompanhada pelo desafio de ponderar aquilo que se publica na internet, ficando evidente a instabilidade que existe na tênue linha entre o público e o privado. Afinal, a internet se constitui também como um ambiente social que à primeira vista pode trazer a falsa ideia de assegurar o anonimato. A fragilidade dessa suposição se dá na medida em que causas originadas no meio virtual podem sim trazer consequências para o mundo real. Crimes virtuais, processos jurídicos, disseminação de ideias, organização de manifestações são apenas alguns exemplos da integração que se faz entre o real e o virtual. Para um bom uso da internet sem cair nas armadilhas que esse meio pode eventualmente nos apresentar, é necessária a construção da criticidade, o bom senso entre os usuários da rede, uma verdadeira educação capaz de estabelecer um equilíbrio entre os dois mundos, o real e o virtual. É papel de educar tanto das famílias, dos professores como da sociedade como um todo, só assim estaremos exercendo de forma plena nossa cidadania. Texto extraído do documento A Redação no ENEM 2012 – Guia do Participante disponível em http://www.inep.gov.br/. 4.2 O que é um texto dissertativo-argumentativo? O texto dissertativo-argumentativo é um texto opinativo que se organiza na defesa de um ponto de vista sobre determinado assunto. Nele, a opinião é fundamentada com explicações e argumentos, para formar a opinião do leitor ou ouvinte, tentando convencê-lo de que a ideia defendida está correta. É preciso, portanto, expor e explicar ideias. Daí a sua dupla natureza: é argumentativo porque defende uma tese, uma opinião, e é dissertativo porque se utiliza de explicações para justificá-la. Seu objetivo é, em última análise, convencer ou tentar convencer o leitor mediante a apresentação de razões, em face da evidência de provas e à luz de um raciocínio coerente e consistente e é esse tipo textual que a proposta de redação do ENEM pede. O texto atenderá às exigências de elaboração de um texto dissertativo- argumentativo se combinar dois princípios de estruturação: I – apresentar uma tese, desenvolver justificativas para comprovar essa tese e uma conclusão que dê um fecho à discussão elaborada no texto, compondo o processo argumentativo. II – utilizar estratégias argumentativas para expor o problema discutido no texto e detalhar os argumentos utilizados. Um texto dissertativo difere de um texto dissertativo- argumentativo por não haver a necessidade de demonstrar a verdade de uma ideia, ou tese, mas apenas de expô-la. Ao ler esta redação, o que lhe chamou a atenção? O que você acha que a faz ser uma redação nota 1.000? Guarde suas respostas e, ao longo da apostila, veja se você acertou ou não seus palpites! ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS – São recursos utilizados para desenvolver os argumentos, de modo a convencer o leitor: · exemplos; · dados estatísticos; · pesquisas; · fatos comprováveis; · citações ou depoimentos de pessoas especializadas no assunto; alusões históricas; e · comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos. Por exemplo, para desenvolver um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema “Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado” (ENEM 2011), você poderia desenvolver: Tese: O excesso de exposiçãoda vida privada nas redes sociais pode ter consequências graves, como situações de violência cibernética. Argumentos: 1. explicação sobre o que é violência cibernética; 2. dados de pesquisas que comprovam a tese; 3. exemplos de situações de violência, como o cyber bullying; 4. depoimento de especialista no assunto e 5. contra-argumento: aspectos positivos das redes sociais. Proposta de intervenção: Alertar os jovens, por meio de campanhas, tanto na escola, por professores, como em em casa, com os familiares, sobre os perigos da superexposição nas redes sociais. Como desenvolver uma tese? TESE – É a ideia que você vai defender no seu texto. Ela deve estar relacionada ao tema e deve estar apoiada em argumentos ao longo da redação. ARGUMENTO – É a justificativa utilizada por você para convencer o leitor a concordar com a tese defendida. Cada argumento deve responder à pergunta “por quê?” em relação à tese defendida. Quais outras teses poderiam ser desenvolvidas e com quais argumentos? Você pode iniciar o desenvolvimento da tese transformando o tema em uma pergunta. Ainda usando o tema do ENEM 2011, ficaria da seguinte forma: “Viver em rede no século XXI: quais são os limites entre o público e o privado?” ou “Como viver em rede no século XXI? Quais são os limites entre o público e o privado?”. A seguir, responda esta pergunta da maneira mais simples e clara possível, concordando ou discordando ou, ainda, concordando em parte e discordando em parte; esta resposta será seu ponto de vista. Pergunte a si mesmo o porquê da sua resposta buscando uma justificativa para ela em uma causa, um motivo, uma razão etc: essa justificativa será seu principal argumento. Em seguida, reflita sobre os motivos que o levaram ao argumento principal, pois eles o ajudarão a fundamentar a sua posição: eles são seus argumentos auxiliares. Através das estratégias argumentativas mencionadas anteriormente, você desenvolverá seus argumentos. A partir dessa reflexão você poderá iniciar o rascunho do seu texto, planejando- o. A sugestão proposta a partir do passo a passo acima é: · interrogue o tema; · responda com a opinião; · justifique com o argumento principal; · fundamente-o com os argumentos auxiliares; · apresente as estratégias argumentativas; · apresente a proposta de intervenção social e conclua. Ao lermos as propostas de redação do ENEM, percebemos que elas vêm acompanhadas do tema e da coletânea de textos que tem a função de inspirar, motivar e expandir o seu raciocínio e a de fixar um padrão temático e não deixar que você fuja do que foi exigido. A coletânea não é um roteiro temático e sim um conjunto de possibilidades diversas de abordar a complexidade do tema com o qual, supõe-se, você, candidato, já teria tido algum contato. Os textos não possuem, entre si, uma hierarquia; Como o ENEM sempre pede uma proposta de intervenção social, normalmente, o tema está inserido em uma problemática; caso ele não esteja, caso não haja um problema, problematize e depois intervenha. eles podem e devem ser aproveitados de diferentes formas, conforme o modo de cada um mobilizar seu trabalho de leitura e escrita em função de seu projeto de texto. Assim, ao lermos o tema e a coletânea textual, devemos analisar que padrão temático ela estabelece. Por exemplo, a proposta de redação do ENEM 2011 (“Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado”) vinculava-se a um assunto mais amplo, “tecnologia”, e envolveu a discussão sobre privacidade no uso da internet na vida cotidiana, sob a forma das redes sociais. Isso comprova que o tema proposto é um recorte do assunto “tecnologia” sob o ponto de vista da “inserção da informática na vida cotidiana”, que poderia gerar também outros temas como “A influência do telefone celular nas relações interpessoais”, “O comércio eletrônico via Web”, “Inclusão digital e a mudança de hábitos de leitura” e “Hackers e crimes cibernéticos” etc. Para desenvolver o tema proposto, o participante deveria abordar o uso das redes sociais, tais como MSN, Orkut, Twitter e Facebook, discutindo a questão da privacidade – quais os pontos positivos e negativos da exposição da vida pessoal que hoje ocorrem devido aos avanços tecnológicos. A redação deveria, portanto, problematizar as consequências dessa exposição excessiva que torna a vida privada cada vez mais pública e os riscos decorrentes dessa exposição, procurando defender uma tese, um ponto de vista a esse respeito. Considera-se tangenciamento ao tema a abordagem parcial, ou marginal, do tema dentro do assunto. Por exemplo, se um candidato ao ENEM 2011 abordasse outros aspectos relacionados à inserção da informática na vida cotidiana, como inclusão digital, internet de um modo geral, referindo-se de forma superficial e paralela às redes sociais e à questão da privacidade, poderá ser considerada como fuga parcial ao tema, ou tangenciamento. Isso ocorre porque o autor partiu do assunto “tecnologia” (levando- se em conta que “assunto” é mais amplo do que “tema”) sem focalizar plenamente o tema “redes sociais e privacidade”. O tema foi abordado, portanto, apenas parcialmente, de maneira marginal, superficialmente. O tangenciamento também ocorrerá se a redação abordar a questão da privacidade sem relacioná-la às redes sociais ou se confundir a distinção entre público x privado com governamental x particular, gratuito x pago. Fugir do tema é abordá-lo de uma forma completamente diferente do recorte temático feito pela coletânea textual e, assim, construir um texto que nada tenha a ver com a proposta de redação. Ainda no exemplo do ENEM 2011, dentro do assunto tecnologia, a não consideração dos limites entre o público e o privado na questão dos avanços em hardware, como tablets e smartphones, foi considerada fuga ao tema. Foi considerada também fuga ao tema a abordagem de temas relacionados a outros assuntos, como meio ambiente, saúde ou educação. 4.3 Como começar a escrever? Uma prova de redação é, essencialmente, uma prova de leitura e escrita que visa avaliar a leitura do aluno da proposta de redação, seu conhecimento prévio (escolar e de mundo) e sua escrita, isto é, como ele definiu sua tese e a desenvolveu através de argumentos e estratégias argumentativas. Para tanto, é essencial um projeto de texto no qual tudo esteja organizado e ele pode ser feito no rascunho. O projeto básico de uma dissertação – argumentativa é o seguinte: · título (diferente do tema) · introdução da tese · desenvolvimento o argumento principal o argumentos secundários estratégias argumentativas o contra-argumento · conclusão No rascunho, você pode construir o seu projeto de texto tendo em mente esta estrutura básica. Título No Guia do Participante sobre a redação no ENEM, publicado em 2013, há a afirmação de que o título não é uma marca obrigatória na dissertação-argumentativa, ou seja, segundo este documento, o candidato que não intitular seu texto não será prejudicado, isto é, não terá descontos na nota por isso. Caso haja um título, esta redação não pode ser beneficiada apenas por isso, já que ele é facultativo. Esta não obrigatoriedade ajuda quem não gosta ou tem dificuldades em intitular textos, já que não é, mesmo, uma tarefa fácil, pois o título deve ter relações com o tema da redação, ser conciso, criativo e chamar a atenção do leitor, já que é a primeira parte a ser lida. Portanto, quem não se sente bem criando títulos ou perde muito tempo pensando nisso, no ENEM, pode deixar a dissertação-argumentativa não intitulada. Já para quem quer escrever um título, algumas orientações são importantes. O título deve ser diferente dotema, já que trata-se do seu ponto de vista particular sobre ele. O título é como se fosse o cartão de visitas do texto, pois ele será a primeira parte dele a ser lido e, por isso, deve ser expressivo, isto é, deve chamar a atenção, de alguma forma, para o seu texto; é como uma manchete de jornal que deve ser boa o bastante a levar o leitor a ler a matéria inteira. Assim, o título deve estar relacionado ao tema e à tese e deve ser, na medida do possível, criativo e nada vago. Pensando no ENEM 2011, títulos como “A internet” seriam considerados pouco expressivos, vagos e nada criativos. Palavras-chaves retiradas do tema e da coletânea podem compor um bom título.Já em relação à proposta da redação do ENEM 2013 - “Efeitos da Implantação da Lei Seca no Brasil” - colocar esta frase como título da redação é uma prova de que o candidato apoiou-se, totalmente, por falta de criatividade, dificuldade em estabelecer relações, conhecimento prévio precário ou até preguiça no tema da proposta. Introdução A introdução é, normalmente, o 1º parágrafo da dissertação – argumentativa e é nela que o tema e a sua tese devem ser apresentados ao seu leitor. Aliás, pensando nele, lembre-se que qualquer um deve conseguir ler seu texto e, assim, não pressuponha que o leitor conheça a proposta de redação e o tema: o leitor deve conhecer o tema através do seu texto, através da sua tese. É como quando um jornalista escreve uma notícia: é ele quem deve contar e apresentar os fatos ao leitor, que nada sabe do ocorrido. Vamos ver um exemplo de uma das melhores redações da Fuvest 2012; você saberia dizer, pela introdução, qual é o tema e a tese da redação? O triste aborto político Em 2011, a revista “Time” elegeu como a pessoa do ano o ser que protesta, “The Protestant”. De fato, tal ação foi amplamente verificada no ano que se passou, como exemplifica a “Primavera Árabe”. Nesta, milhares de pessoas lutaram pelos seus direitos e exigiam algo que muitos parecem ter esquecido: participação política. Entretanto, enquanto muitos árabes lutam por seus direitos políticos, o mundo ocidental parece ter descartado tal conquista, tratando-a como um objeto substituível por outras coisas que preenchem o vazio ali estabelecido. (...) Texto disponível em http://www.fuvest.br/vest2012/bestred/127933.html Esta candidata optou por fazer a introdução em dois parágrafos e não há problemas nisso, já que não há uma fórmula perfeita e única de se escrever uma dissertação-argumentativa. Ela poderia, muito bem, ter juntado estes dois parágrafos, mas optou por separá-los. Repare como a menção de informações atuais como a eleição da Time e a Primavera Árabe contextualizam melhor o tema. O tema também auxilia, já que é impactante. Exemplo da Fuvest 2011; qual é o tema e a tese? Sobre equívocos, Narcisos e imediatismos Caracterizada pela evidente degradação do “ser” em “ter”, a atual estrutura socioeconômica, embasada no que é efêmero e aparente, acarreta na vida uma desvastadora inversão de valores. Os indivíduos, influenciados pela vivência em meio a um mercado de consumo marcado pela competição, passaram a enxergar o outro como um inimigo em potencial. Diante disso, entre relacionamentos superficiais, valores egocêntricos e atitudes que priorizam o imediato, o altruísmo vai se desfalecendo e se tornando uma raridade no mundo contemporâneo. (...) Texto disponível em http://www.fuvest.br/vest2011/bestred/132240.html Já na introdução, a candidata não só apresenta o tema e introduz a sua tese como as contextualiza e as relaciona com aspectos sociais e econômicos e isto ela também faz no título que traz uma alusão histórica – mitológica, o que demonstra seu amplo conhecimento prévio e sua capacidade de relacionar assuntos8. 4.4 Como introduzir uma tese Em uma aula de redação, no momento em que o professor explica a proposta, grande parte dos alunos diz não saber como começar a escrever, como introduzir a tese no primeiro ou nos primeiros parágrafos do texto. Realmente não é fácil iniciar a escrita, mas se escrevermos com frequência, isso se tornará mais fácil com o tempo e com as orientações abaixo, podemos ver que há vários modos de começar uma dissertação – argumentativa. Conceituando (definindo) algo – É a forma mais comum de se começar. Por exemplo: Violência é toda ação marginal que nos atinge de maneira irresersível: um tiro que nos é dado, um assalto sem que esperemos, nosso amigo ou conhecido que perde a vida inesperadamente através de ações inomináveis... Apresentando alguma(s) estratégias argumentativas como dados estatísticos, exemplos, citações, depoimentos etc – No ENEM, não é adequado copiar dados da coletânea, já que nele esta é, apenas, fonte de inspiração para ampliar seu conhecimento sobre o tema, então, este modo de apresentar a tese requer um conhecimento prévio bastante vasto e certeiro, pois se você escrever algo errado, pode comprometer seu texto no quesito “coerência externa/verosimilhança”. Para TCU, atraso da Anatel põe em risco transmissão da Copa A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) enfrentará dificuldades para concluir projetos que visam garantir a segurança e o funcionamento do setor durante a Copa de 2014. A constatação é de um relatório do TCU (Tribunal de Contas da União), ao qual a Folha teve acesso. Segundo o documento, foram concluídas licitações referentes a apenas 11,6% dos R$ 45,7 milhões que a reguladora deveria ter comprometido em 2012 com projetos exigidos pelo Gcopa (Comitê Gestor da Copa 8 PS: Se você respondeu que os temas da Fuvest 2012 e 2011 foram, respectivamente, participação política (Participação política: indispensável ou superada?) e altruísmo (O altruísmo e o pensamento a longo prazo ainda têm lugar no mundo contemporâneo?), você acertou! Parabéns! 2014, grupo do Executivo que acompanha as ações de preparação para a Copa do Mundo de 2014). Extraído de http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1240692-para-tcu-atraso-da-anatel-poe-em-risco- transmissao-da-copa.shtml Usando linguagem metafórica ou sentido figurado – Método mais indicado, geralmente, para iniciar redações cujos temas são reflexivos, como por exemplo, amizade, liberdade etc (temas mais recorrentes em provas da Fuvest e da Unesp). O ENEM normalmente elabora temas de cunho social e não reflexivos, mas nada impede que você inicie sua redação utilizando metáforas ou o sentido figurado. "Sorteio de vagas na educação... triste Brasil! Tristes e desamparadas criaturas que transformam-se em números sem particularidade individual e acabam, como num bingo do analfabetismo, preenchendo cartelas da ignorância.(...) Narrando – Sim, você pode iniciar uma dissertação – argumentativa narrando algo, mas deve parar por aí e voltar a dissertar e a argumentar logo em seguida, senão seu texto será zerado na segunda competência da grade de correção do ENEM (“Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos de várias áreas do conhecimento para desenvolver o tema dentro dos limtes estruturais do texto dissertativo-argumentativo”). Pensando na proposta do ENEM 2012, vejamos um exemplo: “Maria, cidadã boliviana, não conseguia encontrar emprego em seu país e, desesperada por uma vida melhor para ela e para seus filhos, aceitou a proposta de um conhecido que a ofereceu um emprego no Brasil, em São Paulo, como costureira. Sonhando com com um trabalho digno, embarcou, mas logo se desiludiu ao conhecer a confecção escura, apertada, mal ventilada onde iria trabalhar; decepcionou-se com seu baixíssimo salário e cansou-se de, já no primeiro dia, costurar por mais de 15 horas e mal conseguir dormir no alojamento.” Interrogando o tema – Na primeirapublicação desta série, segurimos um tipo de planejamento da sua redação a partir da transformação do tema em pergunta e das respostas para esta pergunta que, por sua vez, orientariam toda a argumentação e assim podemos introduzir uma tese, questionando. Mas atenção: todas as perguntas feitas devem ser respondidas pelo autor. Tendo em mente o ENEM 2012, temos um exemplo: “O que leva uma pessoa a imigrar para outro país? A busca por uma vida melhor? A fuga de um regime totalitário, de uma crise financeira ou da miséria? Um grande amor?...” Contestando o tema – Sim, você pode discordar do tema (e assim contestá-lo) desde que tenha argumentos fortes para isso. Muitos perguntam se há a possibilidade do corretor não gostar do texto, não concordar e assim dar nota baixa e a resposta é não. O corretor está lá para verificar se a redação atende às expectativas da banca em relação à grade de correção (as competências) do ENEM e não para gostar ou não do seu ponto de vista, até porque você deve escrever imaginando um leitor universal e não o corretor. “Embora se divulgue que o trabalho infantil no Brasil diminuiu consideravelmente, isso não é o bastante, já que o ideal é que ele seja erradicado não só do nosso país, mas do mundo todo. Crianças ainda trabalham, até em regime escravo, em plantações, carvoarias, nas cidades e até em suas próprias casas” Traçar uma trajetória histórica comparando passado e presente, projetando um futuro. “A história da humanidade deu-se através dos movimentos imigratórios em busca de desenvolvimento, de poder, de riquezas, de conquistas e se dá até hoje pelos mesmos motivos...” Descrever lugares, pessoas etc – Aqui vale a mesma orientação para o início narrativo: descreva, narre e logo vá para a dissertação – argumentativa para não zerar no tipo textual. “Um porão escuro, fechado e mal ventilado; nele há várias máquinas de costura nas quais há, em cada uma, uma pessoa que buscou na imigração um sonho de vida e acabou deparando-se com o trabalho escravo em uma confecção que vende roupas para uma grande rede de lojas que, por sua vez, vendem estas peças a preços que elas nunca poderão pagar, mesmo trabalhando mais de 15 horas por dia.” 4.5 Como desenvolver e sustentar uma tese Em dissertações – argumentativas, como o ENEM pede, opinião sem argumentação não vale nada, isto é, não basta opinar sobre o tema da proposta, tem de argumentar a fim de convencer ou tentar convencer o seu leitor acerca do seu ponto de vista. Caso haja apenas a opinião, sem argumentação, não houve cumprimento da segunda competência que, dentre outras coisas, verifica se o texto é realmente uma dissertação – argumentativa que, o próprio nome diz, requer argumentos; redação com apenas opinião é somente dissertativa e não dissertativa – argumentativa. Neste momento, o planejamento da sua redação é essencial para que ela tenha progressão e seja autônoma, isto é, para que ela progrida em termos de tema e tese (evolua e não seja maçante, já que há textos que falam, falam, falam, mas nada dizem) e possa ser lida fora do contexto do ENEM, ou seja, por qualquer pessoa (lembrem-se de pensar em um leitor universal e não no corretor). É neste ponto da produção escrita que é importante ressaltarmos duas questões: o uso da coletânea e o conhecimento prévio de mundo. O ENEM nomeia o conjunto de textos que acompanha a proposta de redação de coletânea e esta serve como motivação, inspiração para a ampliação dos seus pensamentos sobre o tema, já que a banca elaboradora pressupõe que você já tenha ouvido falar, pelo menos um pouco, sobre o assunto. Obviamente é difícil e praticamente impossível ser especialista em todas as áreas do conhecimento, mas o candidato ao ENEM e a qualquer outra prova oficial deve ser aquela pessoa que saiba conversar um pouco de tudo, aquela pessoa com a qual é gostoso bater um papo, pois tem uma opinião formada sobre vários assuntos. Como exemplo, pensemos no tema do ENEM 2013 sobre os movimentos imigratórios no Brasil no século XIX: muita gente reclamou deste tema, pois realmente foi uma supresa, já que nem os professores o esperavam e os argumentos de quem não gostou foram de que o tema era difícil (e é mesmo, pois envolve várias questões geográficas, históricas, sociais etc) e de que não era tão atual como a Copa, Olimpíadas, Rio + 20 dentre outros. Como não era atual se em janeiro de 2012 começou a ser noticiada a vinda em massa de haitianos para o nosso país, principalmente pelo estado do Acre, devido às gravíssimas consequências do terremoto que assolou o Haiti O ENEM nos diz que o candidato deve usar a coletânea apenas como textos motivadores e não como textos fontes, ou seja, não devemos copiá-la nos textos e sim apenas fazer referências e relacioná-la, por meio de paráfrases, com o nosso conhecimento prévio de mundo que, nada mais é, do que o conhecimento que adquirimos na nossa vida escolar e fora dela, no mundo e é aqui que estar bem informado sobre qualquer assunto é indispensável. recentemente? O jornal O Globo, por exemplo, em seu site, disponibilizou uma verdadeira coletânea sobre o tema (ver http://oglobo.globo.com/infograficos/haitianos- no-brasil/). Outro fato que comprova a atualidade do tema é a denúncia de que uma das confecções que fornece roupas para a rede de lojas espanhola Zara, em São Paulo, escraviza seus funcionários, boliavianos em sua maioria em agosto de 2011 e a vinda de imigrantes europeus em busca de uma vida melhor no Brasil em decorrência da crise ecomômica na zona do Euro. São estas e outros tipos de informações que deveriam vir à cabeça do candidato ao conhecer a proposta de redação do ENEM 2013 e isto deve acontecer sempre, em qualquer tema de redação. 4.1 Argumentos e recursos linguísticos Vejamos agora uma redação feita por uma candidata ao ENEM 2012 disponibilizada pelo MEC para analisarmos os argumentos usados e a construção do texto, que por sua vez deve explicitar as intenções do autor, pois sempre temos intenções ao escrever e ao falar e, na dissertação – argumentativa, a principal intenção é opinar, sustentar esta opinião e, assim, convencer o seu leitor. Redes sociais: o uso exige cautela Uma característica inerente às sociedades humanas é sempre buscar novas maneiras de se comunicar: cartas, telegramas e telefonemas são apenas alguns dos vários exemplos de meios comunicativos que o homem desenvolveu com base nessa perspectiva. E, atualmente, o mais recente e talvez o mais fascinante desses meios, são as redes virtuais, consagradas pelo uso, que se tornam cada vez mais comuns. Orkut, Twiter e Facebook são alguns exemplos das redes sociais (virtuais) mais acessadas do mundo e, convenhamos, a popularidade das mesmas se tornou tamanha que não ter uma página nessas redes é praticamente como não estar integrado ao atual mundo globalizado. Através desse novo meio as pessoas fazem amizades pelo mundo inteiro, compartilham ideias e opiniões, organizam movimentos, como os que derrubaram governos autoritários no mundo árabe e, literalmente, se mostram para a sociedade. Nesse momento é que nos convém cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem. Não saber os limites da nossa exposição nas redes virtuais pode nos custar caro e colocar em risco a integridade da nossa imagem perante a sociedade. Afinal, a partir do momento em que colocamos informações na rede, foge do nosso controle a consciência das dimensões de até onde elas podem chegar. Sendo assim, apresentar informações pessoais em tais redes pode nos tornar um tanto quanto vulneráveis moralmente. Percebemos, portanto, que o novo fenômeno das redes sociais se revelacomo uma eficiente e inovadora ferramenta de comunicação da sociedade, mas que traz seus riscos e revela sua faceta perversa àqueles que não bem distinguem os limites entre as esferas públicas e privadas “jogando” na rede informações que podem prejudicar sua própria reputação e se tornar objeto para denegrir a imagem de outros, o que, sem dúvidas, é um grande problema. Dado isso, é essencial que nessa nova era do mundo virtual, os usuários da rede tenham plena consciência de que tornar pública determinadas informações requer cuidado e, acima de tudo, bom senso, para que nem a própria imagem, nem a do próximo possa ser prejudicada. Isso poderia ser feito pelos próprios governos de cada país, e pelas próprias comunidades virtuais através das redes sociais, afinal, se essas revelaram sua eficiência e sucesso como objeto da comunicação, serão, certamente, o melhor meio para alertar os usuários a respeito dos riscos de seu uso e os cuidados necessários para tal . Redação de Camila Pereira Zuconi, Viçosa (MG). Texto extraído do documento A Redação no ENEM 2012 – Guia do Participante disponível em http://www.inep.gov.br/. Iniciaremos nossa análise a partir do título, um item essencial em dissertações- argumentativas e, através dele, podemos verificar que a candidata compreendeu a proposta e o seu foco, pois já nele menciona as redes sociais e, inclusive, opina sobre elas ao afirmar que é necessário cautela. Na introdução, ela recorre à história da tecnologia da comunicação para resgatar a trajetória das relações interpessoais e à necessidade e inerência (por causa da capacidade de falar) do homem de se comunicar, o que já pontua na competência número dois que avalia a aplicação de conhecimento de várias áreas para desenvolver o tema. Ao traçar essa rota histórica, a candidata chega à internet, mais especificamente às redes sociais e afirma que seu uso é cada vez mais comum e fascinante e, assim, introduz sua tese, que será mais embasada no parágrafo seguinte, ao citar as redes sociais mais famosas e afirmar que quem não tem conta em alguma delas ou em nenhuma praticamente não existe no mundo globalizado (mais pontuação na segunda competência). Além disso, ela cita a importância que estas redes têm nas relações entre as pessoas, inclusive na sua atuação política, dando como exemplo e mostrando mais conhecimento de mundo, a Primavera Árabe (o que “casou” com a proposta de redação da segunda fase da Fuvest do mesmo ano, que tratava da participação política; também no mesmo ano, a Unicamp, em sua primeira fase, elaborou suas propostas de redação com a internet e seus usos e consequências como pano de fundo. Às vezes isso acontece e é bom o candidato que presta estes e outros exames lembrar-se, pois um pode até ajudar no outro) e, daí, finalmente (o que aqui não é ruim) destaca sua tese, dizendo que é preciso “cautela e reflexão para saber até que ponto se expor nas redes sociais representa uma vantagem” (ZUCONI, C. P. Redes sociais: o uso exige cautela In A Redação no ENEM 2012 – Guia do Participante disponível em http://www.inep.gov.br/.). Seu argumento principal vem logo em seguida, quando ela diz que não saber dos limites da exposição nas redes sociais pode sair caro e até colocar em risco a integridade da pessoa diante da sociedade, alegando que ao colocar algo na rede, perde-se o controle desta publicação, o que pode causar vulnerabilidade. Neste momento, a candidata poderia lançar mão de uma estratégia argumentativa para fortalecer este argumento e dar como exemplo casos recentes de crimes cibernéticos, como por exemplo, manipulações e e-mails virais com fotos de pessoas famosas (artistas em geral), citando nomes ou não. Ao fazer isso, apenas tenha certeza de que o dado fornecido por você é verdadeiro, já que a redação não pode ter incoerências externas. No parágrafo seguinte, ela faz uma ponderação, o que mostra bom senso: a candidata volta a afirmar a importância da internet na comunicação humana, mas faz a ressalva de que ela é perigosa para aqueles que não conhecem os limites entre o público e o privado ao publicar informações que podem prejudicar moralmente quem as publicou, além de poder denegrir a imagem alheia. Neste ponto, a autora também poderia, para alicerçar melhor seu argumento, mencionar casos de cyberbullying que, infelizmente, aumentaram com o uso das redes sociais e de pessoas que “abusaram” das redes sociais e foram prejudicadas de uma forma ou de outra (foi despedida do emprego, por exemplo). Dar exemplos que você conhece não tem problema, desde que seja feito de modo impessoal, isto é, usando a terceira pessoa e não a primeira, já que em dissertações-argumentativas o foco está nas ideias e não no autor. No último parágrafo, a candidata parte para a conclusão, lugar comum para a proposta de intervenção social, última competência a ser julgada. Ela reafirma a importância da consciência e do bom senso ao se utilizar as redes sociais e diz que isso poderia ser alcançado através de ações conjuntas entre os governos e as próprias redes sócias. Apesar de ser uma proposta de solução simples, é inovadora, pois sugere uma parceria entre governo e redes sociais. Além de tudo o que foi esmiuçado acima, a autora escreveu seu texto mostrando domínio da norma culta da Língua Portuguesa, além de demonstrar um bom uso dos recursos linguísticos a fim de produzir um texto coeso e coerente dentro do tipo textual dissertativo-argumentativo. 4.2 Como desenvolver argumentos consistentes O tipo textual requerido na prova de redação do ENEM é a dissertação – argumentativa, na qual não basta, apenas, dissertar, expor, apresentar fatos, ideias, exemplos, citações, dados etc; o fundamental é opinar acerca das questões expostas embasado em argumentos consistentes, fortes, que não são rebatidos facilmente e que tenham como objetivo tentar (e se conseguir melhor ainda) convencer o leitor em relação ao que foi posto. Para chegar a este ponto, é essencial que o candidato ao ENEM conheça e saiba utilizar estratégias argumentativas, algo que é abordado durante toda a passagem pela escola (às vezes até em demasia, deixando de lado outras coisas como gêneros e demais capacidades de linguagem, como por exemplo, o relatar, o descrever etc, mas isso é uma outra história) devido a sua importância inclusive social e pública, já que linguagem e a compreensão são dialógicas, nas quais, a todo momento, estamos respondendo ativamente ao que lemos, ao que ouvimos, ao que vemos e sempre entramos em embates ideológicos, pois a língua é ideológica e nunca será neutra e, assim, sempre pensamos algo sobre tudo, sempre temos uma opinião sobre tudo; podemos até ser metamorfoses ambulantes como dizia Raul Seixas, podemos mudar de ideias, mas sempre a temos acerca de todo e qualquer assunto, tema, pessoa etc (neste exato momento você, leitor, está pensando algo sobre este texto; você pode estar gostando ou não, concordando ou não, achando chato, interessante, instrutivo, repetitivo dentre tantas outras coisas). Portanto, em todas as relações sociais que temos (pessoais, profissionais, acadêmicas etc) a nossa opinião é essencial e requerida e não poderia deixar de ser em um exame como o ENEM e nos demais vestibulares, até porque através de toda a prova a instituição traça o perfil do candidato almejado e toda faculdade e universidade deseja, sem dúvida, alunos que tenham o que dizer e que sustentem esse dizer em argumentos consistentes. Mas como desenvolver bons argumentos? Escrever apenas dissertações – argumentativas já é o suficiente? A resposta para esta segunda pergunta é “não”, já que há outros textos, gêneros textuais, que são da ordem do argumentar e, conhecê-los, com certeza ajuda e muito no momento de planejar e escrever o tipo textualpedido no ENEM, já que a dissertação – argumentativa não é a única que traz opiniões e argumentos. Onde há discussão sobre problemas sociais (normalmente controversos) há argumentação e, junto a ela, está a refutação (contestação), sustentação e a negociação de tomadas de posição, ou seja, toda uma estratégia argumentativa que compõe a ordem do argumentar (quando falamos em argumentar falamos em opinar baseado em argumentos, já que opinar sem argumentar de nada vale, no ENEM e na vida, pois entrar em um debate sem argumentos é praticamente um suicídio). Gêneros escritos como artigos de opinião, editoriais, cartas do leitor e resenhas críticas e orais como debates, entrevistas, palestras, discursos são alguns dos exemplos de textos que possuem, em sua essência, o argumentar. Em um artigo de opinião o articulista defende seu ponto de vista sobre determinado assunto, normalmente atual e relevante, relacionando-o com seus conhecimentos de mundo; a diferença entre este gênero e a dissertação – argumentativa é que esta é escrita de modo impessoal e o artigo opinativo pode ser escrito na 1ª pessoal do singular, já que trata-se da opinião de uma determinada pessoa, a qual o leitor se interessa em ler porque concorda ou até discorda dela e, assim, tem o costume de ler para refutar as colocações. Já o editorial é um texto também opinativo, mas de autoria institucional, isto é, é a opinião de um determinado veículo de comunicação (jornal escrito, revista e jornal televisionado, já que os âncoras podem emitir suas opiniões, que refletem os pensamentos da emissora, sobre os assuntos). Cartas do leitor (seja para denunciar ou reclamar algo, elogiar, discordar, questionar etc) são essencialmente argumentativas, já que nenhum leitor escreve para um jornal ou revista por lazer, para passa o tempo e sim por alguma motivação e para dialogar e expor sua opinião para o veículo de comunicação (destinatário) e para os demais leitores. Uma resenha crítica é um texto sobre um livro, um filme, uma exposição, um programa de TV, rádio etc que expressa uma opinião sobre seu objeto de análise e são escritas por críticos, profissionais especializados que argumentam contra ou a favor e, assim, expõem o que pensam. Assim, ao lermos e analisarmos estes textos (Quais estratégias argumentativas o articulista utilizou para refutar aquela afirmação? Como o editorial opina de forma impessoal, já que sua autoria é institucional? Como o leitor constrói sua carta a fim de reclamar de um problema em seu bairro ou para contestar uma reportagem de um jornal? De que maneira o crítico tentar convencer o leitor de que este livro não vale a pena ser lido?) em seus meios de publicação, podemos refletir sobre como o argumentação foi estruturada, de que forma ela progride (não se esqueçam da progressão temática) e como os textos são finalizados. Mas não temos apenas os textos escritos; os gêneros orais como os debates são 100% argumentação, já que cada debatedor quer convencer o outro e o espectador de que ele, e apenas ele, está certo; seja em um programa de debates ou em um debate político, o objetivo central é o convencimento do outro. Em entrevistas na televisão nos quais há mais de um entrevistador para somente um entrevistado, às vezes deixa de ser um entrevista e passa a ser um verdadeiro debate, principalmente se o tema for polêmico como religião, política, políticas públicas (cotas, programas assistenciais etc). Já em palestras e discursos, também temos a exposição, a apresentação de diferentes formas de saber, mas, no fundo, a meta é também o convencimento de que aquele trabalho, aquela pesquisa é importante e tem resultados úteis, práticos e relevantes. Nestes gêneros orais podemos analisar e refletir, por exemplo, por que um debatedor se sobressai, que artimanhas um bom entrevistador utiliza, como um entrevistado sai de uma saia justa ou como não sai, se os argumentos são do senso comum ou revelam algo inovador e lógico, de que ordem eles são (pessoal, científica, política, religiosa etc) e como são rebatidos pelo outro dentre outras questões. Obviamente temos de separar muito bem suas estruturas composicionais e estilos da estrutura composicional e estilo da dissertação – argumentativa; este bom senso é fundamental, mas podemos concluir que conhecer, ler e escrever gêneros da ordem do argumentar só enriquecem nosso poder de argumentação, através da análise e da reflexão. Não bastar ler, decodificar; para ter uma boa nota no ENEM, devemos ter a cultura e o hábito da análise e da reflexão acerca de tudo o que lemos, vemos e ouvimos. 4.3 Como ser um autor proficiente Uma boa parte da população que frenquentou e frequenta a escola no Brasil (já que, infelizmente, ainda há pessoas que não têm acesso à educação no nosso país) pensa que escrever bem é, apenas, escrever corretamente, de acordo com a gramática normativa e com a norma culta da língua. Porém, ser um autor proficiente é muito mais do que saber regras de ortografia, concordância, regência, conjugação verbal, pontuação etc; um bom texto requer um autor que o planeje através de uma postura autoral, isto é, uma atitude responsável pelo o que se escreve e objetivar um texto autônomo e que tenha uma progressão textual adequada. É isso, muito mais do que escrever corretamente, que deve-se fazer na redação do ENEM e de qualquer outra prova, vestibular ou concurso. Um texto planejado é aquele que, ao lermos, percebemos que foi pensado e organizado de maneira a progredir, ou seja, é um texto no qual o autor sabe de onde partir e para onde ir, muito mais do que ter um começo, um meio e um fim ou uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Há redações com todas estas “partes” bem estabelecidas, mas que não atingem uma progressão adequada em relação ao sentido, ao o que se quer dizer. Assim, o ENEM requer um texto coeso e coerente interna e externamente, que faça sentido no contexto da proposta e fora dela e é aqui que entra o conceito de autonomia. Como devemos imaginar um leitor universal para o nosso texto e não o corretor ou o professor que o lerá (pois sempre escrevemos com algum objetivo, com uma motivação (e, no caso da dissertação – argumentativa, nossa motivação é opinar sobre um tema e mostrar que o nosso ponto de vista é coerente) para alguém, para um leitor, devemos redigir um texto que “funcione” dentro e fora do contexto da prova, que qualquer um que não conheça a proposta do ENEM possa ler e entender sem nenhum problema; é aquele texto que pode ser publicado em um jornal ou revista, por exemplo sem nenhuma alteração. Para tanto, deve-se possuir uma postura de autor e leitor proficientes ao longo de toda a jornada escolar e buscar no professor um mediador, uma pessoa que ajude nesse processo de torna-se, forma-se um autor. Não basta ler muito para escrever bem, já que isso depende da concepção de leitura que temos. Quem pensa que ler é apenas decodificar, não será um bom autor, pois um bom autor ler reconstruindo o sentido do que lê, respondendo ativamente, concordando ou discordando, agregando, inferindo e reconhecendo os discursos ali presentes, as vozes as quais o autor daquele texto recorreu para escrever o seu (já que estamos sempre parafraseando o que já lemos, vimos ou ouvimos). O autor proficiente relaciona fatos, ideias e opiniões com as suas próprias concepções (terceira competência do ENEM) em um texto autônomo, bem organizado e com progressão textual. Um bom autor, por exemplo, não recorre à mera colagem dos textos da coletânea da proposta e nem transforma essa cópia em fragmentados em um texto desarticulado, ou seja, apenas por copiar para preencher o vazio da folha em branco. Assim, além de mostrar que não conhece o tema proposto ou que não sabe utilizar seu conhecimento
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