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BIOQUIMICA DOS ALIMENTOS CURSO: TÉCNICO EM NUTRIÇÃO 01.INTRODUÇÃO Estamos prestes a iniciar o estudo da Bioquímica dos alimentos, uma área que é diferencial na atuação do profissional. Saber dos componentes da alimentação e das interações no corpo humano permite que você atue em muitas vertentes e com muita firmeza na sua conduta. Essa área é uma disciplina básica na área da saúde e te oferece a oportunidade de ter os primeiros conhecimentos sobre alimentos, reações no corpo e uma visão nova sobre o papel da água na nossa vida. Nessa unidade você deverá ser capaz de absorver todos os conhecimentos introdutórios para nas próximas ser capaz de aplicar na prática todo o conteúdo. Ao longo dessa unidade iremos falar sobre conceitos básicos e já iniciar as aplicações deles no nosso dia-a-dia. Estão prontos? Vamos lá! Compreendendo o papel do profissional Nutricionista e a relação do mercado de trabalho com a bioquímica dos alimentos Ao término deste capítulo você será capaz de entender o histórico da profissão de Nutrição, o papel desse profissional na sociedade, no mercado de trabalho e a importância da bioquímica dos alimentos. Isto será fundamental para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Breve histórico da nutrição no Brasil A primeira universidade de Nutrição brasileira nasceu em São Paulo em 1939. No entanto, a regulamentação da profissão se deu apenas em 1967, sob a lei 5.276 (Figura 1). Durante os primeiros anos após o surgimento e regularização da profissão, a grande atenção dos profissionais era a desnutrição, problema bem presente na realidade brasileira nesse período. No entanto, como todas as outras, a profissão do nutricionista acompanhou a evolução demográfica e epidemiológica. Avançou para o cuidado nutricional especializado em determinadas doenças e na obesidade (problema de saúde pública atual). Na área de tecnologia e indústria de alimentos seguiu a tendência para melhor aproveitar a matéria-prima, melhor conduzir as condições da indústria agropecuária, aprimorar a indústria de alimentos na criação de novos produtos, entre outros. Papel do nutricionista na sociedade A profissão de Nutrição está atualmente inserida na vida cotidiana da sociedade. O profissional possui aspectos em várias áreas passíveis de intervenção. Desde o âmbito federal, com planejemanto de ações de em alimentação e nutrição na população brasileira até a nívei individual, com atendimentos ambulatorais com abordagem clínica. Além disso a função desse profissional na indústria só vem crescendo. Ele não assume hoje apenas o controle de qualidade da cadeia de produção. Mas trabalha desde a ideia de um produto novo no mercado até o marketing desse produto com todo o conhecimento nos diferenciais de nutrição que ele possui. Nutrição Clínica A Nutrição Clínica é uma das mais importantes áreas de atuação do nutricionista. Ela envolve atendimentos individuais ou coletivos com o objetivo de tratar pessoas enfermas através da prescrição dietética adequada. Segundo o Conselho Federal de Nutrição (CFN), compete ao Nutricionista nesse área: prestar assistência e educação nutricional a coletividades ou indivíduos enfermos, em nível hospitalar, ambulatorial, domiciliar e em consultórios de nutrição e dietética, visando a prevenção de doenças, manutenção e recuperação da saúde. Esta atuação pode se dar em hospitais, clínicas em geral, clínicas de hemodiálise, instituição de longa permanência para idosos, SPA, ambulatórios, consultórios, banco de leite humano, lactários, centrais de terapia nutricional e atendimento domiciliar. Ainda dentro da grande área de Nutrição Clínica, podemos destacar a nutrição Desportiva. Nesse caso, o profissional nutricionista exerce a função de promover uma alimentação adequada em diversas modalidades esportivas, a fim de oferecer o melhor preparo e condicionamento ao praticante de tal atividade. Alimentação coletiva Bioquímica dos alimentos15 A área de alimentação coletiva, também importante atuação do nutricionista, é uma das primeiras oportunidades de estágios e empregos para os profissionais. As possibilidades de engajamento são em unidades de alimentação e nutrição (chamadas também de UAN’s), alimentação escolar e alimentação do trabalhador. Nesse caso, o objetivo do profissionalé garantir segurança alimentar e nutricional para a população de interesse, participando do processo de recebimento, armazenamento, produção de alimentos, bem como oferecer atividades educativas com o intiuito de promover saúde e qualidade de vida. Segundo a descrição das competências pelo CRN, na alimentação coletiva compete ao nutricionista: planejar, organizar, dirigir, supervisionar e avaliar os serviços de alimentação e nutrição; realizar assistência e educação alimentar e nutricional à coletividade ou a indivíduos sadios ou enfermos em instituições públicas e privadas. Docência Essa talvez seja uma das áreas mais recentes da Nutrição. Prova disso é o exemplo de alguns professores que ainda se mantêm resistentes às inovações das tecnologias e metodologias do processo de ensino-aprendizagem. O objetivo do profissional nutricionista nesse caso é coordenar projetos de pesquisa e extensão, oferecer uma formação de alunos atualizada e seguindo as necessidades do mercado e produzir material técnico-científico além de lidar com as burocracias institucionais das universidades em que estão inseridos. Nutrição e Saúde Coletiva Área da nutrição que abrange a criação de políticas públicas e de intervenção na população, bem como supervisionar e nortear a implantação de programas e políticas públicas voltadas para a área. Além disso, se atuante em âmbito municipal, o profissional identifica famílias em situação de risco e vulnerabilidade nutricional, faz acompanhamento de gestantes, lactentes e crianças até 6 meses e realiza ações de educação nutricional para a população e também para treinar os profissionais de saúde atuantes no local, envolvidos com o cuidado daquela população. Indústria de alimentos A área da indústria de alimentos e sua história acompanha a transição demográfica e nutricional do mundo. Com o crescimento populacional, o homem viu a necessidade de aperfeiçoar e modernizar os métodos de produção, conservação e armazenamento de alimentos. Se antes a descoberta do fogo e o uso do sal eram suficientes como métodos de conservação, com o crescimento da população essas estratégias já não forneciam suporte suficiente. Foi na busca por tecnologias e formas inovadoras que aconteceu o desenvolvimento da indústria de alimentos para sanar os problemas de armazemento e comercialização, originando assim produtos de maior durabilidade e com melhor aproveitamento das máterias- primas. Oprofissionalnutricionistanessaáreaéresponsávelpor: atuar na parte do marketing dos produtos, desenvolvendo estudos sobre aceitação, sabor, textura e enriquecimento nutricional; controlar a qualidade do processo de produção até a chegada ao consumidor final; coordenar equipes de criação de novos produtos alimentícios; elaborar documentos técnicos-científicos do processo de produção e/ou criação; treinar a equipe de forma especializada em alimentação e nutrição. A bioquímica dos alimentos O estudo da bioquímica envolve barreiras por parte dos estudantes por conta da complexidade no seu título e conteúdo. No entanto, entendendo o conceito básico do nome e o que envolve sua área de estudo, ficará fácil entender como esse assunto é de fundamental importância para a prática profissional e um diferencial daqueles que dominam o assunto. Bioquímica é a junção de química com o prefixo “bio”, que significa vida. Então, bioquímica nada mais é que o estudo da química da vida. Ela é uma disciplina básica em todos os cursos da saúdeporque envolve o conhecimento de como moléculas inanimadas conseguem se organizar, interagir e se conectar umas com as outras para constituir os organismos vivos e perpetuar a vida. Para entender como isso é possível, é necessário compreender sobre as estruturas, funções e interações das moléculas que são responsáveis pelas interações químicas que ocasionam a ocorrência da vida. Para todas as áreas de atuação em nutrição é necessário e indispensável o conhecimento bem estruturado da bioquímica dos alimentos. Isso porque ela está envolvida: na nutrição clínica no entendimento do aparecimento, funcionamento e desenvolvimento de doenças, bem como a composição e ação dos alimentos no tratamento das enfermidades; na alimentação coletiva por ser responsável pelo entendimento das corretas condições de armazenamento, conservação, produção e exposição ao consumidor final do alimento, bem como por promover ao profissional o entendimento da condição clínica da coletividade que ele está atendendo; na docência por promover ao professor- pesquisador linhas de estudo e inovações tecnológicas para a melhoria processo de ensino-aprendizagem; na área de saúde coletiva por atuar na promoção do conhecimento do processo de doenças que afetam a população e assim, ajudar na construção e implantação de políticas de saúde pública efetivas; e na indústria de alimentos por contribuir com as inovações biotecnológicas na utilização da matéria prima, na melhor logística para a indústria agropecuária, no armazenamento e durabilidade os alimentos e nas tecnologias de enriquecimento nutricional. Identificar os principais nutrientes envolvidos na composição dos alimentos Ao término deste capítulo você será capaz de identificar as estruturas e funções das moléculas que compõe e interagem nos organismos vivos. Esse primeiro contato é importante para garantir o aprendizado mais apronfundado em cada classe de nutrientes e suas aplicações. E então? Motivado para alcançar esse objetivo? Então vamos lá. Avante! Água É a única biomolécula que não é sintetizada pelo nosso corpo, no entanto, dada sua importância para a ocorrência dos processos vitais, ela então é classificada como tal. É composta basicamente por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, sendo a fórmula simplificada expressa por H2O (Figura 2). Por conta das características da sua estrutura, é um solvente universal sendo capas de diluir variadas substâncias como os açúcares, por exemplo. Dado suas características, a água possui funções importantes no corpo humano: Participa de reações quimícas; Participa do transporte de substâncias; Participa da eliminação de substâncias tóxicas; Atua como regulador térmico. Proteção de algumas estruturas corporais. É a substância mais abundante nos seres vivos, no entanto, sua quantidade varia segundo as espécies de seres vivos, a faixa etária dos indivíduos e entre os tecidos e órgãos do corpo humano. Carboidratos Os carboidratos também são conhecidos como hidratos de carbono ou, mais comumente, como açúcares. São os tipos de moléculas mais abundantes na natureza e estão na maioria dos utensílios de madeira, nas nossas vestimentas de algodão, e em grande parte da nossa alimentação, abundantemente presentes em alimentos como macaxeira, milho, pães, biscoitos, arroz e macarrão. Possuem uma estrutura química básica composta por: carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), e, em algumas situações, podem apresentar fósforo (P), enxofre (S) ou nitrogênio (N) na composição de suas moléculas. Na expressão da fórmula generalizada temos: Cn (H2O)n. Percebam que pela fórmula geral podemos observar que há 1 átomo de carbono para 1 molécula de água, daí o nome de hidratos de carbono, ou seja, carbono hidratado. Dentre as principais funções exercidas pelos carboidratos, podemos listar: Energética: é a principal fonte para fornecimento de energia dos seres vivos; Estrutural: atuam como parte estrutural dos tecidos conjuntivos de animais e também como componente estrutural e de proteção nas paredes celulares de bactérias e vegetais. Os carboidratos possuem como subunidade de formação os monossacarídeos. Dependendo da quantidade de monossacarídeos que compões determinada molécula de carboidrato, ela pode ser classificada como: monossacrídeo (1 molécula de subunidade formadora), oligossacaríedo (de 2 a 10 subunidades formadoras) ou polissacarídeos (mais de 10 subunidades formadoras). Como alimentos fonte de carboidratos temos: pães, batatas, cereais integrais (aveia, quinoa, centeio, cevada e linhaça), arroz, macarrão, frutas, milho, mel, biscoitos e torradas. Proteínas As proteínas são biomoléculas extremamente importantes para a formação da estrutura das células. A ausência de proteínas via alimentação gera prejuízos enormes para o bom funcionamento do organismo, considerando são moléculas presentes (seja por participar da estrutura ou por auxiliar no funcionamento) em todos os órgãos e tecidos humanos. Dentre as principais funções exercidas por esse grupo podemos citar: Controle do metabolismo: exercem essa função através das enzimas; Defesa: atuam na defesa do organismo através dos anticorpos; Tranportam substâncias através de moléculas como a hemoglobina. Os aminoácidos são as unidades formadoras de proteínas. Eles são formados basicamente por um grupo amino (NH2) e um grupo carboxila (COOH) que tem um teor ácido. Dessa junção formada vem o nome: amino (do grupo amino) e ácido (do teor ácido do grupo carboxila. Como alimentos fonte de proteínas podemos citar: carnes (todos os tipos) e ovos, laticícios no geral (leite, iogurte, queijos e cremes a base de queijo). Lipídios Os lipídios são compostos orgânicos comumente conhecidos como óleos e gorduras. Como importante característica e diferencial desse grupo em relação aos grupos já estudados, tem-se o fato de não serem solúveis em água e sim em solventes orgânicos (éter e álcool, por exemplo). Como estrutura química básica possuem a composição de: carbono (C), hidrogênio (H) e oxigênio (O), e, em algumas situações, podem apresentar fósforo (P), enxofre (S) ou nitrogênio (N) ligados à suas moléculas. Eles exercem importantes funções no organismo humano, dentre elas podemos listar: Composição das membranas das células que formam órgãos e tecidos; Isolante térmico e físico atuando na manutenção da temperatura corporal e como proteção para choques mecânicos; Produção de hormônios (como a testoterona, progesterona e estrógeno). Eles são formados a partir da ligação entre álcool e ácidos graxos, e ao contrário dos carboidratos e proteínas, não há um padrão para formação de suas moléculas. De uma forma geral, existe uma proposta de classificação que é de: lipídios simples que são formados pela ligação básica entre álcool e ácido graxo; lipídios compostos que são formados pela ligação entre álcool, ácido graxo e outra substância; esteroides que são formados por longas cadeias dispostas em quatro anéis ligados. Como alimentos fonte de lipídios podemos citar: óleos e gorduras de origem vegetal ou animal (margarina, manteiga e óleos vegetais). Vitaminas As vitaminas compões o grupo de micronutrientes que exercem funções vitais para a vida. De uma forma geral elas não são produzidas pelo nosso organismo e devem ser adquiridas diariamente, em quantidades suficientes, via nossa alimentação. Descrever as funções das vitaminas no organismo engloba muitos aspectos, visto que elas participam da saúde do corpo no geral. No entanto, algumas dessas funções podem ser listadas a seguir: Metabolismo de macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipídios): isso porque para esses nutrientes serem incoporados nas células e utilizados para o metabolismo necessitam da ação das vitaminas; Beleza e estética: nessa área as vitaminas agem no fortalecimentoque serão discutidas agora. Além disso, existem determinadas propriedades específicas da água no alimento, que também serão abordadas a seguir. Propriedades químicas A principal propriedade química da água é sua capacidade de ser solvente universal, ou seja, de dissolver substâncias para formar soluções aquosas. Quando um sal ou açúcar é quebrado pela água, eles ficam em partes tão pequenas que não se consegue mais enxergar. Nesse nosso exemplo, a água é o solvente e o açúcar ou sal são solutos. A mistura de um solvente com um soluto resulta em uma solução. Se o solvente for água, essa será uma solução aquosa. Essa capacidade da água de dissolver substâncias, ou seja, de diluir um soluto e fomar uma solução, é conferida devido à polaridade da sua molécula e a capacidade de formar as ligações de hidrogênio. O termo “solvente universal” é bastante aplicado à água. Como ela consegue dissolver variados solutos recebe esse termo. No entanto, existem algumas substâncias (como os óleos de gorduras) que não podem ser dissolvidos pela água. Por isso, é importante lembrar que a palavra universal do termo tem limitações. Vamos a um exemplo: imagine a dissolução de sal de cozinha na água. O sal de cozinha é cloreto de sódio, ou seja, formado por íons de sódio (Na+) e cloro (Cl-). Quando colocado na água esses íons se dissociam, se separam. Os íons positivamente carregados (nesse caso os íons de sódio) ficam rodeados pelas cargas negativas de oxigênio. Já os íons negativamente carregados (nesse caso os íons de cloro) ficam rodeados pelas cargas positivas do hidrogênio. Depois de entender esse exemplo, é possível também entender porque algumas moléculas não possuem a capacidade de se dissolver na água. Moléculas como óleos e gordura não tem regiões com cargas positivas ou negativas (como os íons sódio e cloro do sal de cozinha), sendo assim, elas não têm como se ligar nos polos positivos e negativos da molécula de água. Propriedades físicas Bioquímica dos alimentos33 Um tópico importante quando se fala de propriedades físicas água é sobre os seus estados de acordo com a temperatura. Alguns desses estados são bem comuns na nossa vida cotidiana, como por exemplo o estado líquido que está a água que bebemos e o estado sólido que é o gelo que está presente para gelar a cerveja do fim de semana ou para amenizar a dor de machucados e pancadas. Ao total existem três estados físicos da água (sólido, líquido e gasoso) e cinco processos pelos quais ela muda de um estado para outro (Figura 4). São eles: Vaporização: se trata do processo onde a água passa do estado líquido para o gasoso. Isso pode ocorrer ainda de 3 formas: pela ebulição, que é quando você esquenta a água por exemplo, por aumento de temperatura; pela evaporação, que é quando colocamos roupas para secar, processo mais demorado e de forma natural; por calefação, que é uma maneira bem rápida, sob temperaturas elevadas (acima de 100º que é na ebulição), que você pode observar quando cai uma gota de água em uma superfície quente, como boca de fogão ou ferro de passar; Solidificação: é a mudança do estado líquido para o solo. Talvez um dos processos que estejamos mais habituados a ver quando colocamos água em formas de gelo no congelador e então, quando ela alcança a temperatura de 0º ela fica sólida (gelo); Liquefação: é a transformação do estado gasoso para o líquido. Um bom exemplo deste é a precipitação de chuvas, ou seja, o vapor de água (gasoso) que subiu para a atmosfera, cai em forma de chuva (líquido) após a temperatura baixar; Fusão: neste caso trata-se da mudança do estado sólido para o líquido, o contrário da solidificação. Acontece quando a temperatura da água no estado sólido (que é de 0º) começa a aumentar e então ela passa para a fase líquida. No exemplo utilizado, é quando o gelo é retirado do congelador e a temperatura do ambiente (que é maior que 0º) começa a derretê- lo; Sublimação: é a mudança do estado gasoso para o sólido ou o contrário, sem passar pelo estado líquido. Na natureza não temos muitos exemplos desse processo, ele acontece mais comumente a nível industrial ou em laboratórios. Figura 4: Ciclo dos estados da água. Sublimação Fusão Vaporização Sólido Líquido Gasoso Solidificação Liquefação Sublimação Além do estado físico, outra propriedade física da água é a densidade. A densidade de um líquido é calculada considerando sua massa e seu volume. A divisão da massa pelo volume (m/v) resulta no valor de densidade. No caso da água, a densidade dela em 25º é de 1g/cm3. Mas isso varia dependendo da temperatura, pressão e salinidade (porque como já vimos a água incopora vários sais minerais). A densidade do gelo, por exemplo, é de 0,92g/cm3, ou seja, menor que da água líquida. Por isso o gelo flutua em um copo de água. Mas você pode se perguntar: e porque em um copo de bebida alcóolica o gelo afunda? Pois bem, a densidade do álcool é de 0,79g/cm3, ou seja, menor que a do gelo, que, nesse caso, afunda. No caso dos sais minerais, dependendo da quantidade presente na água, a densidade varia entre 1,017 e 1,030g/ cm3. Seguindo nas propriedades físicas da água, vamos entender sobre o calor específico. O calor específico de uma substância é a quantida de calor que precisa para 1g dessa substância se elevar em 1º. Esse valor de calor específico varia de acordo com as substâncias, no caso da água ele é 1cal/g.ºC. Isto é, precisa de uma alteração de 1º para que 1g de água aumente ou diminua de temperatura. Considerando outras substâncias, a água tem um alto valor de calor específico. A acetona por exemplo, tem um calor específico de 0,52cal/g.ºC, o etanol de 0,59cal/g.ºC e o alumínio de 0,22cal/g.ºC. Um bom exemplo para você perceber isso é quando se coloca café em um recipiente de alumínio, você percebe que ele logo se aquece e se assemelha a temperatura do café. Outras duas propriedades físicas da água importantes e que estão ligadas é a tensão superficial e adesão e coesão. A adesão diz respeito a capacidade da água de se ligar a outras substâncias, o que já vimos que é de fundamental importância para a vida. A coesão é a capacidade da água de se ligar consigo mesma, isto é, de se manter coesa (unida), o que se dá por conta das ligações de hidrogênio. Por conta disso, a tensão superficial da água, que é sua resistência a forças externas, é a maior entre os líquidos. Arranjo da água nos alimentos Além de ser fundamental para a vida a água também é um componente principal na maior parte dos alimentos. Alimentos in natura, sem processamento possuem em sua maioria, mais de 30% de água. Uma exceção a isso são os cereais e leguminosas que apresentam entre 11- 15% de água. Atividade de água e umidade A atividade de água (Aw) de um alimento é a relação entre a pressão de vapor desse alimento (P) com relação a pressão de vapor da água pura (Po), sob mesma temperatura. Ou seja, Aw = P/Po. Já a umidade é o valor total de água que contém aquele alimento. No entanto , saber o valor total não me diz sobre a distribuição dessa água ou sobre como essa água está ligada nesse alimento. Já atividade de água oferece conhecimento sobre vida útil, migração da água e crescimento microbiano. Sendo assim quando se fala em conservação de alimentos, a medida mais sabiamente utilizada é a atividade de água em relação ao teor de umidade. Água livre e água combinada Água livre e água combinada são formas em que a água pode estar nos alimentos. Água livre: se refere a água que tem ligações fracas, que é facilmente eliminada. Essa água pode ser utilizada no crescimento microbiano e para reações químicas; Água combinada: a combinada é exatamente o contrário. Ela está ligada intimamente aos componentes do alimento, é difícil de ser eliminada e não pode ser utilizada para o crescimento de microorganisma e nas reações químicas.Atividade de água e crescimento de microorganismos Como já discutimos amplamente, a água é fundamental para a existência da vida. E não só a nossa vida, microorganismos como bactérias, fungos e leveduras também dependem da água para seu crescimento. No entanto, esse microorganismos conseguem ficar latentes (ou seja, em modo de espera) enquanto não há água para seu desenvolvimento. A atividade de água dos alimentos (Aw) é variável. Alimentos que tem valores menores que 0,85 não tem riscos de desenvolver microorganismos patogênicos. Além de transmissão de doenças, os microorganismos presentes nos alimentos também causam sua deterioração. Caso eles estejam em um ambiente com atividade de água favorável, essa deterioração vai ocorrer de forma mais rápida. Caso seja o contrário, ambientes com atividade de água desfavorável, essa deterioração pode ficar mais lenta ou até mesmo parar até que as condições fiquem melhores. No entanto, só parar o desenvolvimento desses microorganismos não quer dizer que a deterioração também vai se interromper. Ela pode ocorrer via reações químicas e enzimáticas, que discutiremos a seguir. Atividade de água e as reações Outro ponto onde a atividade de água exerce impacto é na velocidade das reações químicas e enzimáticas. Reações como escurecimento enzimático, escurecimento não-enzimático e oxidação lipídica podem ser mais rápidas ou não, dependendo da faixa de atividade de água em que se encontra o alimento. Ao passo que atividade de água vai reduzindo e ficando em faixas desfavoráveis às reações, a segurança dos alimentos aumenta. Muitos dos métodos feitos para aumentar a vida útil dos alimentos se baseiam em reduzir a atividade de água (desidratação e adição de solutos, por exemplo). Água na indústria de alimentos Ao término deste capítulo você será capaz de entender as principais funções da água na indústria de alimentos e quais os riscos do uso da água impura na produção de alimentos. Esses conceitos são de fundamental importância para a sua prática E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Antes de iniciar sobre a água na indústria, vamos falar um pouco sobre a distribuição e o consumo de água doce. Do total de água do planeta, apenas 2,5% é doce. Quase 70% estão em geleiras, 30% estão subterrâneas e o restante está compondo a umidade do solo e na porção superficial (0,3%). Destes 0,3% que estão disponíveis na superfície, a distribuição global não é igualitária. Por exemplo: na continente da Ásia tem 36% de do total de água na superfície e na América do Sul 26%. Além do uso industrial da água que será abordado com detalhes a seguir, existem outros usos que também são importantes para a atividade humana. São eles: Uso doméstico: a água que usamos em casa é uma água já tratada e normalmente fornecida por uma empresa (estatal ou privada) que é responsável por esse tratamento e abastecimento. Ela passa por processos de retirada de galhos e madeiras através de telas, retirada de partículas maiores de sujeira através da formação de coágulos que ficam no fundo dos tanques por causa da gravidade, retirada de sujeiras menores pelo processo de filtração nos filtros de carvão, adição de cloro ou ozônio para remover microrganismos (etapa chamada de desinfecção – Tabela 1) e a última etapa com adição de flúor para prevenir ocorrência de cáries na população; Uso agrícola: a água nesse caso é utilizada para irrigação porque a água da chuva nem sempre é suficiente para o crescimento da plantação. Além de irrigação com água, no uso agrícola temos também a adição de fertilizantes, pesticidas e agrotóxicos que contaminas o solo e os recursos hídricos; Uso urbano: nesse caso temos o saneamento básico que é a água utilizada no sistema de abastecimento de água e esgotos das cidades. Esse uso gera enorme contaminação por causa de dois fatores principais: (1) grande parte da população das cidades não tem sistema de esgoto, o que permite que os dejetos humanos estejam em contato direto com a água; (2) de toda a população que tem sistema de esgoto, apenas 25% deste é tratado. O restante é despejado sem tratamento em rios e mares; Pesca: a população pesqueira sofre com a contaminação da água pelo esgoto, atividade industrial entre outros porque a qualidade e pureza da água é fundamental para a sobrevivência dos peixes. Famílias que dependem dessa atividade como fonte de renda são comuns em comunidades ribeirinhas; Energia: boa parte da energia mundial é provenientes da energia hidráulica (19%). No Brasil, essa fonte de energia é responsável por 90% da energia aqui utilizada. As usinas hidrelétricas, apesar de usarem um recurso renovável como a água ao invés de petróleo e seus derivados, acarretam grandes danos aos ecossistemas nos locais que são instaladas.Bioquímica dos alimentos Tabela 1: Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo humano. Parâmetro VMP (valor máximo permitido) Água para consumo humano (poços, nascentes e outras) Escherichia coli ou coliformes termotolerantes Ausência em 100mL Água na saída do tratamento Coliformes totais Ausência em 100mL Água tratada no Sistema de distribuição (reservatório e rede) Escherichia coli ou colifor- mes termotolerantes Ausência em 100mL Coliformes totais Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por mês: ausência em 100mL em 95% das amostras exami- nadas no mês. Os sistemas que analisam menos, ape- nas uma amostra poderá apresentar resultado posi- tivo em 100mL. Fonte: Portaria Ministério da Saúde 518, de 25/03/2004, https://www.aeap.org. br/doc/portaria_518_de_25_de_marco_2004.pdf. Acesso em 12.08.19. Podemos dar ao papel da água na indústria, o mesmo que damos a ela no desenvolvimento da vida: fundamental. Os usos na indústria vão desde a adição da água na cadeia de produção de determinado item até a utilização para gerar energia, higienizar corpo e instalações, bem como utilização na geração de vapor e refrigeração. Impotante ressaltar aqui que, a água ao final desses processos traz consigo resíduos tóxicos e muito prejudiciais ao meio ambiente a aos seres humanos. Caso as indústrias não providenciem tratamento adequado para a água que é utilizada, vários animais no meio ambiente que servem como alimentação humana podem se contaminar e causar doenças. Além disso, essa água contamina também lençóis freáticos e o solo, que podem contaminar plantações de vegetais, frutas e hortaliças para o consumo humano. Ou seja, o ciclo da água engloba quase toda a alimentação humana. O cuidado com essa matéria prima é primordial para a manutenção da saúde e de uma produção de alimentos segura. O uso industrial responde por 22% do uso total de água, o que representa grandes quantidades de águas limpas. Dependendo do tipo de indústria a quantidade de água utilizada varia. Enquanto indústrias de refinação de petróleo usam 290m3/barril refinado, saboarias utilizam 2m3/tonelada de sabão. O uso da água na indústria possui vários fins, são eles: Energia: a água pode gerar energia elétrica através da transformação da energia cinética em energia mecânica, e então em energia elétrica; Consumo humano: utilizada em uma infinidade de objetivos nesse caso: bebedouros, vestiários/sanitários, refeitórios, cozinhas e até equipamentos de segurança (lava-olhos e hidrante); Aquecimento e resfriamento: quando é utilizada em dispositivos que precisam que se remova calor ou que se resfrie; Matéria-prima: água é incoporada ao produto final em algum momento do processo de produção (depende do produto fim); Auxiliar: pode ser utilizada na preparação de soluções ou reagentes químicos que são utilizados em alguma parte do processo. Existe uma diferenciação quanto às finalidades da água na indústria quando falamos da indústria do abate de animais. Nesse caso a água apresentaquatro principais utilizações. São elas: Higiene: utilizada na lavagem de mãos antes, durante e após a rotina e nos vestiários/sanitários; Consumo: nesse caso específico ela é utilizada ára o consumo humano dos trabalhadores do local e também para o consumo dos animais que ali estão sendo mantidos; https://www.aeap.org.br/doc/portaria_518_de_25_de_marco_2004.pdf https://www.aeap.org.br/doc/portaria_518_de_25_de_marco_2004.pdf Produção de vapor: necessário para etapas do processo de produção; Lavagem: utilizada tanto na lavagem dos animais, quanto dos instrumentos/utensílios de trabalho e na lavagem das dependências das instalações. A água que deve ser utilizada na indútria para todos esses fins deve ser potável segundo o Ministério da Saúde, pela Portaria nº 1.469. Água potável é aquela que está segundo os padrões microbiológicos e físico-químicos. Esses padrões vão depender do tipo de indústria e as mesmas devem fazer avaliações periódicas para assegurar que as características estão dentro do recomendado. Caso a água utilizada não siga as recomendações das diretrizes que garantem sua potabilidade e características adequadas, as consequências podem ser desde prejuízos nas instalações industriais até infecções alimentares. Alguns exemplos: Água com excesso de cálcio e magnésio pode criar prejuízos em equipamentos e tubulações pela formação de incrustações, levando a redução dos agentes de limpeza e causando risco de contaminação; Água com presença de contaminantes fecais pode levar a infecções alimentares ao consumidor final. A água contaminada além de atingir a saúde de funcionários e consumidores também leva à prejuízos financeiros, uma vez que se utilizada na cadeia de produção de alimentos, leva a menor vida de prateleira do produto.quatro principais utilizações. São elas: Higiene: utilizada na lavagem de mãos antes, durante e após a rotina e nos vestiários/sanitários; Consumo: nesse caso específico ela é utilizada ára o consumo humano dos trabalhadores do local e também para o consumo dos animais que ali estão sendo mantidos; https://www.aeap.org.br/doc/portaria_518_de_25_de_marco_2004.pdf https://www.aeap.org.br/doc/portaria_518_de_25_de_marco_2004.pdf Produção de vapor: necessário para etapas do processo de produção; Lavagem: utilizada tanto na lavagem dos animais, quanto dos instrumentos/utensílios de trabalho e na lavagem das dependências das instalações. A água que deve ser utilizada na indútria para todos esses fins deve ser potável segundo o Ministério da Saúde, pela Portaria nº 1.469. Água potável é aquela que está segundo os padrões microbiológicos e físico-químicos. Esses padrões vão depender do tipo de indústria e as mesmas devem fazer avaliações periódicas para assegurar que as características estão dentro do recomendado. Caso a água utilizada não siga as recomendações das diretrizes que garantem sua potabilidade e características adequadas, as consequências podem ser desde prejuízos nas instalações industriais até infecções alimentares. Alguns exemplos: Água com excesso de cálcio e magnésio pode criar prejuízos em equipamentos e tubulações pela formação de incrustações, levando a redução dos agentes de limpeza e causando risco de contaminação; Água com presença de contaminantes fecais pode levar a infecções alimentares ao consumidor final. A água contaminada além de atingir a saúde de funcionários e consumidores também leva à prejuízos financeiros, uma vez que se utilizada na cadeia de produção de alimentos, leva a menor vida de prateleira do produto.