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1 Disciplina: Temas de Direito Penal - CRIMINOLOGIA Semestre 2. 2012 Professora: Éllen Rodrigues ESTUDO DIRIGIDO Teorias estrutural-funcionalistas: Durkeim e a teoria da anomia; outras formulações: Merton, Cloward; Ohlin. Segundo Anitua (2008:39), a crença de Durkheim de que as sociedades progridem de uma concepção punitiva do direito penal à outra restitutiva teve muitos seguidores, mas a evidência histórica aponta para um “progresso” ao contrário, por isso os autores abolicionistas do castigo sustentam que a racionalização do poder punitivo resultou no aumento da violência e não na sua diminuição. O século XIX ficou conhecido como o século da ciência, sobretudo da ciência aplicada, dada a influência do empirismo. Neste período as diferentes disciplinas científicas alcançaram uma maturidade que ainda hoje marca as explicações do senso comum sobre a maioria dos fenômenos naturais. Em meio a todos os especialistas deste período, destaca-se o cientista Augusto Comte, considerado o fundador da sociologia como ciência e também o fundador do “positivismo”, termo que tomou de seu mestre Saint-Simon. O positivismo de Comte outorgou pretensão científica às reflexões sobre a sociedade que articulavam o discurso da razão a partir de Hegel com o da ordem tradicionalista. Para Comte, tais reflexões deveriam realizar-se a partir do conhecimento dos fatos, cujo tratamento deveria se dar por meio dos métodos experimentais. Assim, a sociologia deveria ser um saber verificável, do mesmo modo que a matemática, as astronomia, a física e a fisiologia. Ao impor esta metodologia, Comte pretendia aproximar dois tipos de reflexão: a científica e a política. O governo da sociedade deveria estar nas mãos de políticos-cientistas, novos “especialistas” e a governamentalidade deveria ser uma ciência. Comte converteria em ciência a noção hegeliana de progresso, enquanto tal movimento pudesse ser comprovado em termos de organicismo. Segundo Comte, a sociedade é um corpo que atua com espírito e demais atributos humanos. O corpo social seria composto por indivíduos, famílias e sociedade. A explicação puramente biologicista aproximava suas posições às da frenologia, ainda que ampliadas por seus conhecimentos de outras disciplinas. Segundo ele, a família constituía a unidade social básica, daí a subordinação da mulher e das crianças. Com argumentos conservadores, a filosofia positiva de Comte, apologética e justificadora do sistema dominante no século XIX, baseava-se fundamentalmente na ideia de Ordem. O argumento organicista encontrava sua justificativa científica ao afirmar que a ordem é a condição fundamental do progresso e todo progresso tende a consolidar a ordem. “Ordem e progresso” são indissociáveis como lema positivista, sendo o progresso o aspecto dinâmico da ordem, que só é possível dentro de uma estabilidade harmoniosa (consenso, coesão) – aspecto estático. A ideia de organicista de progresso, associada às teorias evolucionistas, estaria cientificamente comprovada. O positivismo e o cientificismo em geral forneceram as bases para a sofisticação ideológica que o capitalismo imperialista requeria ao final do século XIX. Superando as críticas ao racismo e tendentes a buscar aceitação dos habitantes da periferia dependente e das classes bem pensantes das metrópoles, o positivismo – calcado na teoria evolucionista – justificaria a expansão europeia a partir de um objetivo benfeitor: o homem branco iria compartilhar o produto da civilização de modo que todos os povos “evoluíssem” da mesma forma que os povos do capitalismo avançado. O grande ideólogo deste evolucionismo foi Spencer, que ao defender a evolução das sociedades defendia uma espécie de “darwinismo social”. Para Spencer, a sociedade era um organismo vivo, que aumentava sua massa conforme a reprodução e, ao faze-lo, aumentava sua complexidade, o que determinaria a diferenciação das funções neste corpo social. Spencer foi o primeiro a falar de funções sociais, tanto dos indivíduos quanto das instituições, por conseguinte, toda a escola “funcionalista” reconhece nele seu fundador. 2 Modelos sociológicos – Sociologia Criminal Cena do filme Gangues de Nova Iork - Martin Scorsese Escola de Chicago Trabalhadores de Chicago – 1886 3 Teorias estruturais – funcionalistas Tais teorias trabalham com a noção de normalidade e funcionalidade do crime, entendendo que o mesmo não deriva de nenhuma patologia individual ou social, figurando como um fenômeno normal do sistema social e da vida cotidiana, capaz de trazer estabilidade e mudança social. Ponto comum das teorias estruturais-funcionalistas O ponto comum consiste em que deslocam o centro de atenção do individuo para o sistema social, o qual deve se voltar para um eficaz consenso, além de trabalharem com a legitimação das penas – as quais, segundo eles, devem cumprir uma função de prevenção integradora e não meramente retributivista, de modo que a pensa simbolizaria a reação social, impedindo que os valores violados e vínculos sociais se enfraqueçam, fomentando a solidariedade social frente ao infrator e ao mesmo tempo devolvendo ao cidadão afetado a confiança no sistema, atuando principalmente no combate à reincidência. O funcionalismo sociológico centra seu interesse no exame do crime convencional das baixas classes sociais, sustentando um enfoque mais sintomalogico que etiológico – contempla o delito onde se manifesta e se exterioriza, e não onde é gerado. . Teoria da Anomia É considerada uma teoria de consenso, que concebe a anomia como uma situação social onde falta coesão e ordem, especialmente no tocante a normas e valores. A anomia pode decorrer de, por exemplo, normas ambíguas ou arbitrariamente implementadas; calamidades que subvertem o padrão habitual da sociedade e obscurece as normas vigentes naquele dado momento; organização do sistema de tal forma que promova o isolamento ou autonomia do individuo a ponto de haver maior preocupação com a satisfação do interesse individual que do coletivo; ou ainda da falta de normas. A teoria foi introduzida por Durkheim e desenvolvida por Robert Merton, sendo que para o primeiro a anomia se relaciona à ausência ou abandono das normas, já para Merton a anomia tem a ver com o acesso aos meios institucionalizados ou legítimos para acesso às metas culturais. A ideia de anomia foi amplamente trabalhada por Durkheim em sua obra O suicídio, sendo identificada quando na sociedade, se criam espaços anomicos, ou seja, quando o individuo ou um grupo perde as referencias normativas que orientavam sua vida, então enfraquece a solidariedade social, destruindo-se o equilíbrio entre as necessidades e meios para sua satisfação. O individuo sente-se desobrigado quanto aos vínculos sociais, passando a ter um comportamento anomico. A teoria sociológica da anomia teve com Talcot Parsons sua expressão mais acabada. Anomia em Merton Robert King Merton desenvolveu em Harvard, 1938, o seu Estrutura social e anomia, no qual trabalha o conceito de desvio, para além das abordagens durkheimianas associadas a consenso. O desvio aparece na obra de Merton como produto da estrutura social, sendo o condutor da relação entre os fins e os meios numa sociedade. Quando o desvio supera certos limites, deixa de ser funcional, e provoca uma crise na estrutura cultural que conduz à anomia. Algo do paradigma liberal clássico aparece como permanência organicista e os conceitos de desvio, anomia e estrutura social remetem à noção de equilíbrio. A ideia de desvio conduz não ao delinquente, mas ao comportamento desviante. Rompe-se com a ontologia positivista, passando o comportamento a ser analisado a partir de suas motivações, modelos, acesso e mobilidade social. Na versão mertoniana, a teoria da anomia radica aexplicação do crime no defasamento entre a estrutura cultural e a estrutura social. A primeira impõe a todos os cidadãos a persecução dos mesmos fins e prescreve para todos os meios legítimos. A segunda reparte desigualmente as possibilidades de acesso a estes meios e induz, por isso, o recurso a meios ilegítimos. Assim, para Merton, o crime seria uma das formas de adaptação no quadro de uma sociedade de meios escassos. Para Baratta, tal noção de desvio afasta-se da ideia de bem e mal, patologização e demais discursos morais sobre o crime, tendo, porém, o inconveniente de consolidar a associação entre pobreza e criminalidade. Cloward e Ohlin Tais autores, em seu Delinquency and Oportunity, aprofundaram-se nas explicações anômicas, ressaltando a pressão social, indicando a intensidade em que o individuo experimenta a pressão social de forma não uniforme – de modo que a juventude e as classes menos privilegiadas sofreriam mais com os efeitos de tal tensão. 4 Tais autores se aprofundaram nas explicações anomicas, ressaltando a direção e conotações que as pressões sociais podem exercer sobre o individuo conforme o plano da pirâmide social em que se encontra. O grau de intensidade com que o individuo experimenta a tensão entre estrutura cultural e estrutura social não é uniforme, e tem reflexões diferentes, principalmente para as classes menos privilegiadas e jovens. Segundo Baratta, a grande contribuição de tais autores reside na integração da teoria das subcultas à teoria funcionalista. A teoria funcionalista da anomia foi trabalhada por Richard A. Cloward e L.E. Ohlin como teoria das subculturas criminais, baseada na diversidade estrutural de chances de que dispõem os indivíduos de servir-se de meios legítimos para alcançar os fins culturais. Seguntos estes autores, a distribuição de chances de acesso aos meios legítimos, com base na estratificação social, está na origem das subculturas criminais da sociedade industrializada, especialmente daquelas que assumem a forma de bandos juvenis. No âmbito destas se desenvolvem normas e modelos de comportamento desviantes daqueles característicos dos estratos médios. A constituição de subculturas criminais representa, portanto, a reação – comportamento inovador, conforme Merton – de minorais desfavorecidas e a tentativa, por parte delas, de se orientarem dentro da sociedade, não obstante as reduzidas possibilidades legítimas de ação que dispõem. Em um artigo em 1959, Cloward expõe a teoria mertoniana da anomia, as de Sutherland e de Cohen sobre subculturas criminais, propondo uma síntese, a qual é obtida na propositura da extensão do conceito de distribuição social das oportunidades de acesso aos meios legítimos e ilegítimos. Isto permite aperfeiçoar a explicação estruturalista da criminalidade de colarinho branco, sem permanecer unicamente ao nível das técnicas de aprendizagem e da associação diferencial. Os dois autores em comento, acrescentam ao modelo mertoniano do desvio o conceito de apatia – que se acha no limite da criminalidade propriamente dita, abrangendo também os grupos desviantes fortemente marginalizados e criminalizados, como mendigos, drogados, etc. A partir de tais incorporações, o conceito de subcultura criminal, não funda somente um grupo autônomo, mas encontra aplicação, combinado com outros elementos, no interior de um quadro de teorias complexas. Cloward e Ohlin e a Teoria da “oportunidade diferencial” Tal teoria procura dar conta de uma descrição mais realista e complexa da delinqüência juvenil. Para os presentes autores, não são todas as áreas de classes baixas que têm idêntica organização e estabilidade, oferecendo as mesmas oportunidades a seus membros. Por isso, diante do conceito unitário de subcultura de Cohen, Cloward e Ohlin distinguem três: criminal(criminal gangs), conflitiva(conflict gangs) e evasiva(retreatist gangs). Segundo os teóricos das “oportunidades” a organização, estrutura e clientela das subculturas são variáveis, mas suas funções básicas são as mesmas: tornar possível a aprendizagem do jovem, preparando uma carreira delitiva futura, criando um marco de oportunidades para que obtenha o êxito por vias alternativas e articular os adequados mecanismos de controle para limitar o emprego dos meios ilegais que possam pôr em perigo referido controle. Segundo Vera Malaguti, a associação realizada por esses dois autores entre delinquência e oportunidade é mais generosa que a do positivismo criminológico, pois não há uma patologização. Questões: 1) Como se deu a mudança da abordagem cientificista e positivista sobre o crime para análises de matriz sociológica? 2) Quais as principais críticas feitas em relação ao paradigma mertoniano acerca das causas do crime? 3) Qual a contribuição dada por Cloward e Ohlin à percpectiva mertoniana de anomia? 4) Como a teoria da “oportunidade diferencial” explica a delinquência juvenil?
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