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VERA LUCIA MESSIAS FIALHO CAPELLINI OLGA MARIA PIAZENTIN ROLIM RODRIGUES Organizadoras VIVÊNCIAS DO CURSO DE PRATICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS NA MODALIDADE EAD: RELATOS DOS CURSISTAS UNESP/FC BAURU 2012 @ 2012 - Faculdade de Ciências. Bauru/UNESP – ISBN 978-85-99703-66-3 www.fc.unesp.br Av . Eng. Luiz Edmundo C. Coube, 14 -01 17033-360 - Bauru-SP-Brasil Telef. (14) 3103 6000 Permitido a reprodução desde que citada a fonte UNESP – Universidade Estadual Paulista Vice-reitor no exercício da Reitoria – Prof. Dr. Julio Cezar Durigan Campus de Bauru Faculdade de Ciências – FC Diretor: Prof. Dr. Olavo Speranza de Arruda Vice Diretor: Profª Adj. Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem Coordenadora: Profª. Drª. Tânia Gracy Martins do Valle Vice-Coordenadora: Profª Drª Ana Cláudia Bortolozzi Maia Curso de Aperfeiçoamento em “Práticas Educacionais Inclusivas na área de Deficiência Intelectual” na modalidade EaD Coordenadora: Vera Lucia Messias Fialho Capellini Revisora de Língua Portuguesa Vera Lucia Spezi Pereira Design gráfico Ana Laura Rolim Rodrigues Editoração e Normalização Técnica Glória Georges Feres Dados para catalogação 371.9 Vivências do curso de praticas educacionais inclusivas na modalidade EaD: relatos dos cursistas. / Vera Lucia Messias Fialho Capellini e Olga Maria Piazentin Rolim Rodrigues, organizadoras.-- Bauru: UNESP/FC, 2012. 237 p. ISBN 978-85-99703-66-3 1. Práticas educacionais inclusivas. 2. Deficiência intelectual. 3. Relatos de experiências. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO Vera Lucia Messias Fialho Capellini 7 PREFÁCIO Leda Maria Borges da Cunha Rodrigues 13 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Irení Aparecida Basso 16 DUAS BOAS NOVIDADES: CURSO EAD É MUITO BOM E A INCLUSÃO PODE SER UMA REALIDADE PARA TODOS Lívia Maria e Silva Galvão 17 MEUS CAMINHOS PELA INCLUSÃO Marina Rossi Melo 21 APERFEIÇOANDO A MINHA PRÁTICA INCLUSIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Alcides Pereira da Silva Junior 28 PRÁTICA INCLUSIVA: O APRENDIZADO GERANDO MUDANÇAS Amanda Nolasco de Oliveira Santos 32 PRÁTICAS INCLUSIVAS: UM DIREITO DOS ALUNOS Ana Paula Souza Báfica 35 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Mirian Coelho de Oliveira 38 ENTENDENDO A INCLUSÃO PARA GARANTIR E RESPEITAR OS DIREITOS DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA Josiani Aparecida Julio de Oliveira 43 ERA O QUE FALTAVA: INFORMAÇÃO PARA O EDUCADOR Hélvia Garcia Casadore Alberganti 45 INCLUSÃO: DISCUSSÃO ANTIGA – CONHECIMENTO NOVO Adriana Costa Ferreira 46 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AMPLIANDO HORIZONTES E POSSIBILIDADES Adriana Lemos de Carvalho Soares 48 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Ana Paula Radó Donnini 51 UM NOVO OLHAR PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA INCLUSIVA Andreza Patrícia Balbino Cezário 53 NENHUMA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E TÃO GRAVE AO PONTO DE IMPEDI- LO A TER AMIGOS Elaine Marques Santo Urbano 56 TECER UM NOVO OLHAR ATRAVÉS DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS Maria Cristina de Andrade Silva 57 INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: A CONTRIBUIÇÃO DE VIGOTSKI Maria das Graças Estanislau de Mendonça Mello de Pinho 61 O PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO EM SALA DE AULA Débia Régia Silva Guimarães Borges 65 EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL: NOSSO PAPEL COMO EDUCADOR Deize Mara Cecconi 68 A INFLUÊNCIA DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO AFETANDO NOSSOS HÁBITOS, MODOS DE TRABALHAR E DE APRENDER Leila Paim de Souza 71 MINHA EXPERIÊNCIA COM O CURSO EAD Liliane Mendonça da Silva Nascimento 75 IMPORTÂNCIA DO CURSO E SEGURANÇA PROFISSIONAL Eliane de Almeida de Souza Valadão 80 APRENDER E APAIXONAR-SE FAZ TODA DIFERENÇA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Ivone Maria de Moura 84 MUDANÇA NA FUNÇÃO PEDAGÓGICA DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA REFLEXÃO Mariza Conceição Viana 88 O DESAFIO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Claudete Beatris Romani¹ 92 REFLEXÕES, DÚVIDAS E CERTEZAS Ana Mara Galasso Romera 96 INCLUSÃO: UMA LIÇÃO DE AMOR Michele Vieira Ribeiro Doneda 98 SUPERANDO DESAFIOS EM CURSOS A DISTÂNCIA Rosana de Cássia Aparecida Rodrigues Moura 102 APRENDENDO SEMPRE PARA AGIR COERENTEMENTE Vanessa Aparecida Domingues Moreira 105 INTEGRAÇÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA EM SALA REGULAR Maria Valéria Polla Rodrigues 107 SOMOS TODOS IGUAIS NA DIFERENÇA Cristiane Covolan Luvisotto 110 REFLETINDO SOBRE NOSSA PRÁTICA NA DIVERSIDADE DA EDUCAÇÃO Keila Maria Bordignon 114 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UMA MUDANÇA DA VISÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL PARA SUPRIR UMA CARÊNCIA EDUCACIONAL Kátia Regina Silva Silveira. 117 UMA BOA AVALIAÇÃO COMO SENDO PONTO DE PARTIDA PARA UM PLANEJAMENTO MAIS EFETIVO Ana Paula Souza da Silva Sichetti 120 DESAFIOS Lúcia Helena Rodrigues Soquetti 122 PALAVRA DE ORDEM: ADMINISTRAR E CONFIAR QUE O ALUNO É CAPAZ DE TUDO QUE QUISER Grasieli Zampieri Laudissi 124 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA Liseti Menezes Sottovia 127 INCLUSÃO QUALIDADE DE ENSINO PARA TODOS Jussara Ester da Costa Rossi 130 REFLEXÕES SOBRE CONHECIMENTOS NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Regina Novaes Silva 134 UMA VISÃO DO CURSO E DA INCLUSÃO FORA DA SALA DE AULA Tereza Maria do Amaral 136 CRESCER E APRENDER SOBRE OS SERES HUMANOS, SUAS SINGULARIDADES E INCAPACIDADES: REFLEXÕES SOBRE AS PRÁTICAS QUE RESPEITAM A TODOS. Thais Helena Neves de Mello 138 APENAS A INSERÇÃO DAS CRIANÇAS COM ALGUMA DEFICIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR NÃO PODE–SE CHAMAR DE INCLUSÃO Isabel Cristina Lemos 140 MINHA EXPERIÊNCIA NO EaD Maria Antonia de Toledo Barros Carvalho 144 A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM O DEFICIENTE INTELECTUAL: REFLETINDO SOBRE A IMPORTANCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA Ana Paula Gonçalves de Araujo Mortimer 147 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES NA SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA NA ESCOLA INCLUSIVA Rose Lapa 150 PERCURSOS NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM EM AMBIENTE VIRTUAL Rosalynn Davies Conrado Veiga 154 NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO NAS ESCOLAS E O QUANTO ELA SE FAZ NECESSÁRIA Edvaldo Ribeiro Filho 160 CORAGEM: PRÉ-REQUISITO PARA UMA TRAJETÓRIA DE ACERTOS Elaine Sueli Ferreira dos Santos 161 EAD: UMA FERRAMENTA PARA A INCLUSÃO. Sônia Aparecida de Angeles Cerqueira Costa 165 EDUCAÇAO INCLUSIVA: UM TEMA PARA REFLEXÃO NO CURSO EAD Gisele Coito Ermacara 167 RELATO SOBRE MINHA EXPERIÊNCIA COM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Natália Aparecida Perez Toma 170 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: ÊNFASE EM EXEMPLIFICAÇÕES, SUGESTÕES DE TRABALHO E TEXTOS DE APOIO. Patrícia Bento de Souza Campos 173 DIFÍCIL SIM! IMPOSSÍVEL NÃO: APRENDI A APRENDER VIVENCIANDO OS ENSINAMENTOS DAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Patrícia Helena Martins 174 RENOVAÇÃO: PRÁTICA ANUAL PARA UMA EDUCAÇÃO QUE ACREDITA NO VALOR DOS ALUNOS Valéria Regina Giambroni Neves Monaco Perin 178 ESCOLA INCLUSIVA: PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM ESPAÇO DE CONVIVÊNCIA FLEXIVEL E SAUDÁVEL COM O APOIO DA FAMÍLIA E EDUCADORES Patrícia Aparecida Porto182 TEORIA E PRÁTICA Marcleida Lima Gomes 184 A IMPORTÂNCIA DE UM OLHAR DIFERENCIADO AO SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO Luciana Aparecida Camilo Hidalgo 187 PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO DA EDUCAÇÃO PARA TODOS Fabiana Marcuzo de Caíres 192 MINHA EXPERIÊNCIA E GANHOS COM O CURSO EAD Norma Carvalho Pereira 195 EXPERIÊNCIAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Vana Beatriz Soares do Amaral 197 RECONHECER AS DIFERENÇAS É ESSENCIAL NO CAMINHO DA INTEGRAÇÃO Valéria Luiza Marques Campos 203 O QUE QUEREMOS EM NOSSAS SALAS DE AULA? ALUNOS TODOS IGUAIS? QUE SE DESENVOLVAM DE MANEIRA IGUAL? QUE SE COMPORTEM IGUAIS? João Paulo Silva de Oliveira 207 VALORIZANDO A FORMAÇÃO INTEGRAL DOS ALUNOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA, ATRAVÉS DA PRÁTICA PEDAGÓGICA, DO DIREITO E DA IMPORTÂNCIA DA INCLUSÃO ESCOLAR NA REDE REGULAR DE ENSINO E NA SOCIEDADE Elisangela Maria de Lima Gonçalves 210 COMO IDENTIFICAR O ALUNO DEFICIENTE INTELECTUAL, QUANDO ESSA DEFICIÊNCIA NÃO É VISÍVEL OU QUANDO AINDA NÃO É DIAGNOSTICADA? Mariane Della Coletta Savioli Garzotti 213 PRATICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS - DEFICIÊNCIAS INTELECTUAL: UM OLHAR REFLEXIVO Romanilta Julia da Rocha 216 O PROCESSO DE INCLUSÃO É LENTO E ENVOLVE MUITOS FATORES Vanuza Batista Gomes 219 EXPERIÊNCIAS A PARTIR DE UM CURSO EM AMBIENTE VIRTUAL Cibelle Aparecida Vieira de Oliveira Pereira 224 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Viviane Lauter Balbé 227 REFERÊNCIAS 229 ÍNDICE DE ESCOLAS 232 ÍNDICE DE AUTORES 235 7 APRESENTAÇÃO O livro Vivências do curso de praticas educacionais inclusivas na modalidade EaD: relatos dos cursistas, foi idealizado para constituir em um veículo de disseminação e divulgação das experiências de professores da Educação Básica de escolas públicas (municipal ou estadual) que atuam buscando a construção de escolas mais inclusivas. Esses professores participaram do curso de Aperfeiçoamento em Práticas Educacionais Inclusivas, promovido pela Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Bauru, sob minha coordenação. Contei com o apoio de diversos professores do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem, sobretudo, da Professora Olga Maria Rolim Piazentin Rodrigues, numa parceria com o Ministério da Educação, por intermédio em 2007 da Secretaria de Educação Especial, incorporada à nova Secretaria SECADI em 2011, que desenvolve em parceria com o programa Universidade Aberta do Brasil - UAB o Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial, cujo objetivo é formar professores dos sistemas estaduais e municipais de ensino, por meio da constituição de uma rede nacional de instituições públicas de educação superior que ofertem cursos de formação continuada de professores na modalidade a distância. Como concepção idealizadora deste livro de Relatos a temática geral constitui “o amplo campo da educação”, para se tornar porta-voz de experiências concretas e vivenciadas pelos professores-cursistas, como contribuição a solução de questões imediatas ou de curto prazo relacionadas às práticas educativas como podemos observar no relato da professora-cursista quando diz: Como concepção idealizadora deste livro de Relatos a temática geral constitui “o amplo campo da educação”, para se tornar porta-voz de experiências concretas e vivenciadas pelos professores-cursistas, como contribuição a solução de questões imediatas ou de curto prazo relacionadas às práticas educativas como podemos observar no relato da professora-cursista quando diz: “Interessante observar que fomos nos construindo enquanto grupo, criando laços, apesar da distância, típica de um curso que a modalidade EaD nos impõe. Não sei se o mesmo ocorreu com outros grupos, com outros tutores e formadores, mas no caso de nossa turma, a turma 38, ficou claro que as participantes, tutora e formadora, apresentaram, desde o início, grande afinidade. O carinho nos emails 8 trocados era palpável, se é que tal coisa possa existir em termos de comunicação virtual.” É grande satisfação e orgulho poder reunir aqui, relatos vindos de terras longínquas. Queremos que nossos leitores participem dessas contribuições que vêm de longe, mas que dizem respeito muito de perto à dignidade do ser humano em toda a face da terra e, portanto, têm a ver de modo imediato com a tarefa educativa. Realçamos com esses Relatos que a tarefa da educação é humana por excelência, esmerando-se, muitas vezes, em seu aspecto científico, porém, sem nunca perder de vista o humano que orienta a prática que devemos, quotidianamente, exercer. A professora-cursista em seu relato abaixo demonstra, claramente, nosso objetivo de oferecer aos leitores desse livro uma variada gama de experiências e de sugestões de aprofundamento na compreensão da educação enquanto prática social. Seu depoimento diz: “No segundo módulo, começamos a ter contato com a especificidade da educação inclusiva, sua trajetória ao longo da história”. Nesse ponto, que sempre se levanta questionamentos sem fim, ficou visível o quanto já progredimos quando falamos em inclusão, educação e sociedade. Em nossos debates, nos maravilhosos bate-papos agendados, percebemos que ainda há muito a se evoluir sim, sempre. Uma das características da humanidade é a constante busca e necessidade de evolução é isso o que nos torna diferentes dos demais animais, o que nos confere a racionalidade como diferencial. Sendo assim, ainda precisamos e iremos sempre precisar evoluir. Porém, quando olhamos para a história dos deficientes, em geral, é fato que grandes e largos passos já foram dados até o presente momento. Do total abandono, em lares especializados, passando pela época em que divertiam o povo sendo usados como bobos da corte, vagando pelas vielas da exclusão, transitando levemente pelo movimento da integração, quando obtiveram um olhar diferenciado, até o momento inclusivo em que vivemos hoje, o trajeto foi longo. Foi tortuoso, dolorido, muitas vezes, exaustivo para os familiares, porém bem sucedido. Nos capítulos dois e três, do módulo dois, discutimos ética e direitos dos deficientes. Foram dois capítulos bem intensos e com discussões bem acaloradas, diria eu. O assunto abordado levantou o tapete de nossas vidas, de nossa sociedade e de nossas escolas, mostrando que, muitas vezes, a lei é deixada de lado sim e todos nós fazemos vista grossa. E o fazer vista grossa sinaliza uma forma de negligência, pois embora, na maioria dos casos, não dependa única e exclusivamente de nós professores, quando nos calamos ao perceber um erro legal, estamos contribuindo para a perpetuação desse erro. “Finalizamos esse momento, percebendo nosso papel político na instituição escola, junto aos nossos alunos da educação especial e da educação regular que estejam incluídos”. 9 Neste livro, vamos encontrar Relatos que abordam questões filosóficas, metodológicas e práticas que nos instigam, nos deixam incomodados e, muitas vezes, numa situação instigante impulsionando o Educador a buscar respostas em cursos de aperfeiçoamento como este, em Relatos e vivências de outros professores, em salas de bate-papo onde nossos cursistas se reuniram, semanalmente, para discutir e trocar experiências que deram certo. O Relato da professora abaixo mostra o quão importante foi para ela a experiência de um curso EaD “E chegamos ao final do curso”[...] Um curso que irá deixar muita saudade. Quando optamos por um curso na modalidadeEaD, invariavelmente, é por falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das atividades, dar prosseguimento parece impossível. Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta. Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano. Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de engrandecimento profissional. Ser professor... Uma missão! Não somente uma profissão, pois não se exerce tal função nas 8 horas em que se está frente à classe. Quando se é professor, se é... 24 horas por dia, 7 dias por semana. As crianças do mundo parecem estar sob sua responsabilidade, é como me sinto. Ontem, 15 de outubro, dia do professor! Quero dividir um relato... Um relato bobo talvez, mas que me fez encontrar, no dia de ontem, motivos suficientes para acreditar que estou no caminho... Na véspera, 14 de outubro, realizamos a festa do dia das crianças na escola onde leciono pela manhã. Alugamos um pula-pula grande, pois nossos alunos são adolescentes e adultos, é uma escola especial. Um dos meus alunos é cadeirante e assistia a brincadeira dos demais alunos de sua cadeira de rodas. No meio de tantas coisas para fazer, não me dei conta de imediato de sua solidão. Não sei precisar o momento em que bati os olhos nele. Fui até lá e perguntei se ele gostaria de ir no pula- pula. Ele disse que não. Eu insisti, disse que o colocaria lá. Ele disse que sim. Não precisei de ajuda para tirá-lo da cadeira e colocá-lo no brinquedo. E como ele não conseguia sustentar o corpo sentado, coloquei-o deitado mesmo, no centro da cama elástica. Solicitei a outro aluno que pulasse bem devagar ao lado do meu cadeirante. Com o vibrar da cama elástica, seu corpo saltava também. E ele ria, gargalhava alto, como eu nunca havia visto antes. Não fui a única a me emocionar ali. O monitor do brinquedo olhou para mim e disse que nunca havia visto cena tão linda antes. Acabados os 3 minutos que lhe eram de direito, coloquei-o de volta em sua cadeira, e a festa continuou normalmente para todos nós. Ontem à noite recebi uma ligação do aluno em questão. Era para me desejar feliz dia dos mestres, dizer, com sua fala um pouco enrolada, que sou muito importante para ele e que ele me ama. Emoção maior veio depois, quando sua mãe veio ao telefone me falar que o brilho nos olhos de seu filho, ao chegar em casa, relatando que havia pulado na cama elástica e que eu o havia colocado lá, não tinha preço. A cada dia, na educação especial ou regular, vivemos situações de vida com nossos alunos que podem realmente 10 fazer aquele dia valer a pena em nossas vidas. Enquanto professores, munidos de um olhar que talvez nenhum outro profissional tenha, podemos fazer total diferença. E cursos como o que estamos encerrando, contribuem e muito para a aquisição desse olhar. Um olhar não de piedade, de compaixão, de estar fazendo isto ou aquilo porque Deus pregava. Um olhar humano que batalha constantemente pelo humano. Um olhar que vê, que enxerga através e além... Um olhar que não se traduz, um olhar mais que especial!” Observamos, claramente, mediante os Relatos publicados neste livro que o trabalho com a família merece um olhar especial. Que uma das funções da escola para com essas famílias é a acolhida é o prestar esclarecimentos, o orientar. Muitas dessas famílias são de origem bem humilde e desconhecem por completo seus direitos. Percebe-se, aqui, a escola enquanto força política nas vidas dessas pessoas e os professores, tornando-se a ponte que, certamente, ligará essa família a uma forma mais confortável de viver. Esses Relatos também se constituíram em subsídios valiosos para reflexão de muitos paradigmas. Percebemos, nitidamente, quando a professora diz que “O módulo cinco, veio colaborar para a desconstrução de paradigmas. Já no primeiro capítulo a bomba: SEXO! Sim, nossos alunos se interessam por sexo! Não, sinto muito, o deficiente não é uma samambaia! O vídeo abordando o tema, com depoimentos de deficientes intelectuais, foi fabuloso. Algumas colegas mostraram-se receosas, até chocadas. Mas, abrir os olhos para a sexualidade de nossos alunos é imprescindível na construção de um ser humano completo, integral, pleno. E precisamos ter em mente que, se para os pais de crianças ditas normais, lidar com esse assunto é um tabu, imagine para os pais de alunos deficientes. Nas escolas de modo geral ainda não se trabalha com projetos que abordem a sexualidade efetivamente. Ficou a deixa para pensarmos e avaliarmos nosso papel em mais essa empreitada”. Apresentamos, assim, aos nossos leitores diferentes experiências de educadores que se debruçaram e refletiram sobre o processo de ensino e aprendizagem, oferecendo uma variada gama de experiências fundamentais para a compreensão da educação enquanto prática social como relata a professora cursista: “E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade. Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não 11 que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das atividades, dar prosseguimento parece impossível. Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta. Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano. “Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de engrandecimento profissiona”. Os Relatos foram solicitados aos cursistas de forma colaborativa e estão organizados na sequencia das turmas e dos cursistas que espontaneamente escreveram os relatos. Em nota de rodapé, apresenta-se o nome da escola, a cidade e estado do cursista. Ao final do livro há um índice remissivo organizado por Estado, em seguida pelo nome do município e depois o nome da escola do professor participante do curso, Considera-se essa informação relevante para que se possa avaliar a dimensão e grandiosidade deste tipo de aprendizagem ao longo da vida em formato EaD. Adotou-se também, para efeito didático de apresentação dessa obra, o critério de retirar dos relatos, os agradecimentos especiais e carinhosos direcionados a coordenação, aos formadores e tutores, mas sintam-se todos homenageados. Temos, ainda, a satisfação de finalizar essa apresentação com o poema elaborado pela professora cursista Abadia Suassuna Patativa do Assaré: 12 CORDEL DA PLATAFORMA FREIRE Certo dia na escola Num desses tarde HTPCs A coordenadora disse: — Hoje vou falá proceis Da Plataforma Freire Que dá curso de treis meis Foi um tar de se espremê Virá o zóio e torcê o nariz Porque ninguém sabe direito O que fazê com os aprendiz Que não querem estudáE nem iscuitá o que a gente diz. Na hora nem bola Não prestei muita atenção Mas no dia seguinte Me baixo a inquietação Corri pro computadô E diz a minha inscrição Foram dias de espera Até que a resposta veio Entre tantos escoidos Eu também tava no meio Deu frio na barriga E até um certo receio. Mas depois conheci a Lívia De nossa turma a tutora Minina linda de morrê Parece inté uma dotora Que além de tanto estudo É também fina cantora. Devagá foi ajeitando E a turma 15 ela formô Turma de muié valente Que numa classe faz suadô E pra elas o deficiente É um ser de muito valô. Nesses meses de estudo Aprendemos sobre deficiença Foram muitas as lição Que fala dessas doença Temos muito que aprendê Pra aceitá as diferença. Somos filhos de Deus E todos somo irmão Se existe palavra abençoada Essa palavra é INCLUSÃO Que dá a oportunidade Do deficiente sê cidadão. O trabaio é grande, Duro e dicultoso Porém, muitas veis É por demais prazeroso Você vê minino cego Fazendo trabaio honroso. Oxalá que no Brasil A Educação inclusiva Se torne uma realidade De norte a sul seja viva E se torne a bandeira Dos professô da ativa. É aqui no teleduc Que as coisa acontece Através de muito estudo Que nóis cresce e aparece E cada um pode espaiá O que aqui nos oferece. Tem gente do Rio de Janero, De Duque de Caxias, Bauru De Jundiaí, Cordeirópolis E eu de Monte Azu Que aqui se conheceu E se gosta pra chuchu. Todos dia de bate-papo Só se vê lamentação É a sardade chegando Apertando o coração Pois o curso ta caminhando Para sua finalização. Quero então deixá a todas Um abraço apertado Deixo também o endereço Pra sê sempre lembrado E o que oceis precisá É só fazê o comunicado. Abadia Suassuna Patativa do Assaré Vera Lucia Messias Fialho Capellini Coordenadora do Curso 13 PREFÁCIO IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA PARA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES A proposta do curso Práticas Educacionais Inclusivas envolveu um grande número de professores das cinco regiões do nosso país, compartilhando do mesmo objetivo, buscar conhecimento a cerca do tema inclusão da pessoa com deficiência. Os professores das redes publica: municipais e estaduais, se inscreveram pela Plataforma Paulo Freire (MEC) a fim de terem a oportunidade de formação continuada gratuita e de qualidade, com propósito de conhecer estratégias para trabalhar com a pessoa com deficiência. Nosso grande desafio formar professores destas diferentes regiões, atendendo seus anseios e desejo de novos conhecimentos sobre como promover a inclusão da pessoa com deficiência, e para nossos professores, com papel de cursistas, um outro desafio, utilizar os recursos da tecnologia para sua formação. As tecnologias da informática associadas às telecomunicações veem provocando mudanças radicais na sociedade por conta do processo de digitalização. Uma nova revolução emerge a revolução digital (SANTOS, 2003). E neste cenário digital, o curso foi oferecido para aproximadamente 1.200 profesores/cursistas, com carga horária de 180horas, onde utilizamos um Ambiente Virtual de Aprendizagem, para mediação do formador/tutor com os cursistas. Entende-se por AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem: Ambiente – por ambientes podemos entender tudo aquilo que envolve pessoas, natureza ou coisas, objetos técnicos (SANTOS, 2003). Virtual - vem do latim medieval virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência (SANTOS, 2003). Lévy (1996) em seu livro O que é o virtual? Nos esclarece que o virtual não se opõe ao real e sim ao atual. Virtual é o que existe em potência e não em ato. Citando o exemplo da árvore e da semente, Lévy explica que toda semente é potencialmente uma árvore, ou seja, não existe em ato, mas existe em potência, mas, caso um pássaro à coma a mesma jamais poderá vir a ser uma árvore. (LEVY, 1996; SANTOS, 2003). Muitas vezes a expressão virtual é empregada como alguma coisa que 14 não existe, algo fora da realidade, o que se opõem ao real. Mas, fundamentado por Levy (1996) virtual não se opõe ao real. Ambiente virtual é um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem potencializando assim, a construção de conhecimentos, logo a Aprendizagem (SANTOS, 2003). É possível atualizar e, sobretudo virtualizar saberes e conhecimentos sem necessariamente estarmos utilizando mediações tecnológicas seja presencialmente, seja à distância. Entretanto essas tecnologias digitais podem potencializar e estruturar novas sociabilidades e consequentemente novas aprendizagens (SANTOS, 2003). A modalidade de EaD ganha, a cada dia, mais espaço com o reflexo dos benefícios do uso da Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) na educação e as mudanças significativas nas estratégias de ensino-aprendizagem; vivencia-se, assim, o momento de expansão da EaD, efetivando-se como modalidade de ensino para formação de grande número de pessoas em todo o mundo. Segundo Barros et al. (2008, p. 6), [...] para entender a Educação a Distância (EaD) é necessário compreender a educação online que engloba todos os elementos que se referem ao virtual e às formas metodológicas atuais organizadas para a aprendizagem. Quando falamos em educação online estamos nos referindo à educação não presencial mediada por tecnologias digitais. Isso engloba vários elementos como a EaD, os E. B. M. learning(s), entre outros. Pode ser entendida como um conjunto de ações de ensino e aprendizagem que são desenvolvidas através de meios telemáticos como a Internet, a videoconferência e a teleconferência. A educação online nos traz questões pedagógicas específicas com desafios novos para a EaD e a presencial. Para o uso da educação online um dos maiores desafios está na compreensão da diferença do paradigma virtual e do presencial na utilização das interfaces da tecnologia disponíveis para a aula. No Brasil, nos dias atuais, o número de oferta de cursos cresceu significativamente, visando atender à formação continuada do professor em exercício e às transformações na educação. Segundo Moran (2002, p. 13), [...] educação contínua ou continuada, se dá no processo de formação constante, de aprender sempre, de aprender em serviço, juntando teoria e prática, refletindo sobre a própria experiência, ampliando-a com novas informações e relações. 15 Este conceito caracteriza a educação continuada do professor, como uma prática que favorece o repensar de sua atuação, e o coloca numa condição de aprendizagem para as mudanças atuais no contexto educacional. Neste contexto está claro que a educação por meio de novas mídias conectadas é uma realidade cada vez mais presente e os relatos dos Professores, retratam a eficiência e eficácia de se aprender online. Leda Maria Borges da Cunha Rodrigues Articuladora de Tutoria e Professora Colaboradora Programa de Formação Continuada de Professores na Educação Especial 16 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Irení Aparecida Basso 1 Minha experiência com o curso EaD foi e será única, visto que, mesmo tendo feito pós-graduação em Psicopedagogia Educacional e Clínica, a educação inclusiva e as deficiências intelectuais, auditivas, visuais, físicas e outras, nunca foramtão esmiuçadas, exploradas e questionadas como foram nesses encontros virtuais que tivemos nesse curso. Minha prática em sala de aula sofreu grandes alterações após a leitura e o estudo de diversos textos e os questionamentos das nossas queridas Formadora-Colaboradora Telma Maria Ribeiro e Tutora-Colaboradora Fernanda Ribeiro Mattar Barbaresco. Nós todos ganhamos muito, mas, os alunos inclusos, com certeza, ganharão mais. Nada ficou sem resposta. Posso dizer que os objetivos propostos pelo curso sobre Práticas Educacionais Inclusivas na Área de Deficiência Intelectual foram plenamente alcançados. Tudo foi mencionado para que pudéssemos entender que a inclusão requer parcerias com todo pessoal da Unidade Escolar, família e comunidade; que o educador deve propiciar ao aluno condições e oportunidades de explorar seu potencial intelectual nas diferentes áreas do conhecimento, realizando sucessivas ações e reflexões, utilizando diversas ferramentas com a finalidade de proporcionar maior independência e autonomia à pessoa com deficiência ou dificuldade de aprendizagem. Fui muito auxiliada no meu saber fazer e posso dizer com certeza que meu olhar em relação aos meus alunos, minha prática educativa e metodologia sofreram transformações visíveis. Conheci pessoas maravilhosas, pude trocar ideias e vou sentir muitas saudades de tudo e de todos. 1 EMEIF “Professora Dinah de Mello Campos” - Ibitinga - SP 17 DUAS BOAS NOVIDADES: CURSO EAD É MUITO BOM E A INCLUSÃO PODE SER UMA REALIDADE PARA TODOS Lívia Maria e Silva Galvão 2 Essa foi minha primeira experiência num curso a distância. Confesso que nutria certo preconceito em relação aos cursos não presenciais, Acreditava que não seria possível manter uma qualidade acadêmica, utilizando-se, apenas, da internet como veículo de comunicação. Ainda sou dos velhos tempos e acho que comunicação implica contato visual, físico. Bom, se eu pensava assim, devem estar se perguntando por que resolvi me inscrever num curso a distância. É que apesar do preconceito, sou o tipo de pessoa que não gosta de julgar o que não conhece e, aliada a essa minha característica, tinha uma imensa vontade de voltar a estudar, algo que gosto imensamente e que, neste meu momento de vida, só o ensino a distância poderia proporcionar. Inscrevi-me na Plataforma Freire com a ajuda de uma colega, foi muito difícil por problemas de conexão. Tinha a intenção de fazer um curso voltado para educação de crianças com altas habilidades. Como não estava disponível, escolhi esse, que é um tema atual e tem gerado muitas polêmicas entre os educadores. Passado algum tempo, quando já tinha perdido a esperança de que o curso aconteceria, recebi a mensagem com as instruções para participar do curso. Foi uma grande surpresa, em todos os aspectos. Superadas as dificuldades iniciais em lidar com as ferramentas, fui me encantando e descobrindo que esse negócio de curso a distância é o “maior barato”. É incrível como podemos nos sentir acolhidos por pessoas que não vemos ou escutamos a voz. Foi uma grande descoberta e uma grande realização. Se me perguntarem hoje o que penso do ensino a distância, minha postura será totalmente diferente, aconselho a todos que experimentem porque realmente funciona. O curso superou minhas expectativas em muitos aspectos, principalmente se levarmos em conta que, inicialmente, não era o curso que queria fazer. Foi um curso sério, onde os conteúdos são muito bem organizados, o suporte que recebemos é melhor do que em um curso presencial onde, muitas vezes, as turmas são 2 EMEI “Teresa Hendrica Antonisse” – Ribeirão Preto - SP 18 muito cheias e os formadores não conseguem dispensar atenção adequada a todos. Apesar de estarmos em grupo, sentia-me, por vezes, como uma aluna particular, pois o acompanhamento é próximo e individualizado, em que cada um tem seu tempo e todos recebem atenção e orientação. É fantástico. A gente consegue até desenvolver sentimento de carinho por pessoas que só vimos por fotografia... Meus paradigmas estão todos de pernas para o ar... O curso me proporcionou rever e ampliar minha visão em relação à inclusão, possibilitando reflexões e me trazendo conteúdos muito ricos. Durante o curso, me dei conta do quão grande era minha ignorância sobre o assunto e do quanto se tem a fazer para que a implementação da inclusão ocorra efetivamente nas escolas da rede pública de todo o país. Por meio do curso pude confrontar meus preconceitos e meu ceticismo em relação à eficácia do processo de inclusão. É claro que ainda acho que existem muitos obstáculos a serem superados, mas hoje, de posse de todo este novo conhecimento, de tantas informações preciosas, estou bem mais otimista. Acredito que este curso deveria ser obrigatório para todos os professores das redes públicas e particulares, pois, só através do conhecimento e da sensibilização dos profissionais, seremos capazes de garantir um processo de inclusão eficiente, onde tanto alunos incluídos como os não incluídos possam receber uma educação de qualidade. A inclusão é uma realidade, no entanto, o conhecimento que os professores e profissionais de educação, de um modo geral, possuem sobre ela é muito precário, o que gera muitas críticas e posturas inadequadas que dificultam o processo de inclusão. A escola enquanto instituição, não foi preparada, nem do ponto de vista humano nem do físico, para a inclusão. É comum a crença de que o “problema” do aluno incluído diz respeito apenas ao professor responsável pela turma, a comunidade escolar não abraçou ainda a inclusão como algo de responsabilidade de todos. A maioria dos profissionais de educação desconhece os recursos e as tecnologias assistivas disponíveis para auxiliarem no desenvolvimento das habilidades dos alunos de inclusão. Quando se tratam de alunos com deficiência auditiva ou visual ainda existe uma maior difusão e conhecimento de recursos, no entanto, as deficiências múltiplas e intelectuais, bem como as físicas, ainda representam uma dificuldade a mais e, consequentemente, assustam muito os profissionais que se sentem despreparados para lidarem com elas. 19 É um reflexo natural do ser humano de reagir ao desconhecido de forma defensiva, o que explica, em parte, a grande resistência por parte dos educadores em relação à inclusão. Resistência esta que, acredito, só poderá ser vencida através do conhecimento, da familiarização com o tema e com as estratégias e recursos disponíveis, pela troca de experiências que resultará na ampliação dos conhecimentos e no desenvolvimento de novas técnicas mais aperfeiçoadas e diversificadas para atendermos os alunos especiais. Em contrapartida, os órgãos responsáveis pelo desenvolvimento da educação no país, também, têm sua parcela de responsabilidade na medida em que falham no cumprimento das leis, na fiscalização em relação ao cumprimento destas leis e na falta de divulgação destas mesmas leis. Também, não tem criado mecanismos competentes para prepararem os profissionais e as instituições de ensino para a inclusão. Eu mesma, antes de fazer esse curso, tinha muitas dúvidas e críticas em relação à inclusão. Realmente duvidava que fosse possível, achava injusto com as crianças incluídas uma vez que necessitavam de atenção especial que eu julgava difícil de ser dada pelo professor, em sala, sozinho. Desconhecia por completo que a criança com múltiplas deficiências tem direito a um tutor para auxiliar o professor na atenção às suas necessidades, eque o deficiente auditivo tinha direito a um tradutor, que existiam programas de computador para auxiliar o deficiente visual... São tantas as coisas que eu desconhecia e que tenho certeza que outros tantos professores, como eu, ainda desconhecem e que são fundamentais para que o aluno e o professor possam realmente desenvolver um trabalho competente. Desse modo, volto a afirmar que todos os professores deveriam fazer esse curso. Vivenciei uma grande oportunidade de aprendizagem sobre a inclusão e troquei experiências com profissionais de cidades e estados diferentes do nosso. Esse é um outro aspecto do ensino a distância que contribui para torná-lo tão interessante. Podemos ter uma visão do processo não só na nossa localidade como podemos fazer comparações e receber sugestões de ações realizadas em outras unidades da federação que deram certo. Estamos trabalhando com profissionais que estão atuando com educação em diferentes séries, com diferentes abordagens, em diferentes realidades. Essa troca de experiências proporcionada, sobretudo durante os fóruns de debate, foi muito rica. Saí do curso com excelentes sugestões de atividades e ações, inclusive uma ação, envolvendo toda a comunidade escolar que foi socializada por uma colega e a 20 direção da minha escola, pediu-me que ajudasse a pôr em prática no ano que vem, em nossa unidade escolar. Essa experiência também me levou a buscar e me inteirar mais sobre como está sendo gerenciado o processo de inclusão em meu município. Despertou em mim o interesse em pesquisar como a Secretaria Municipal de Educação organiza o suporte aos professores, de que recursos dispõem, quem são os profissionais responsáveis por dar assistência aos professores, se temos profissionais na rede aptos a funcionarem como tutores ou intérpretes, que tipo de recursos materiais dispomos e como poderemos adquirir os matérias necessários, como se sentem os professores que possuem alunos incluídos em suas salas, quantos alunos incluídos possuímos oficialmente na rede... São muitas questões para as quais quero buscar respostas, com o objetivo de sensibilizar os profissionais envolvidos e tentar mobilizá-los para que avancemos no processo de inclusão em nosso município. Enfim, para quem iniciou de forma um tanto cética, cheia de preconceitos, num curso que não era a princípio o de sua primeira escolha, termino o mesmo imensamente satisfeita e feliz, aguardando ansiosamente a próxima oportunidade de participar de um curso de formação a distância, fazendo planos inclusive de me inscrever num curso de pedagogia a distância, uma vez que minha formação é no magistério(nível secundário) e em Psicologia(nível superior). Agradeço muito a oportunidade e parabenizo a competência, não só dos formadores e tutores, como de todos os envolvidos responsáveis pelo sucesso de nosso curso, desde o planejamento até a execução final. Que muitos outros cursos como estes possam ser disponibilizados para nós e para todos os professores que, como eu, buscam aperfeiçoar sua prática profissional, mantendo-se atualizados, com o objetivo de oferecer sempre uma educação de qualidade aos nossos alunos. 21 MEUS CAMINHOS PELA INCLUSÃO Marina Rossi Melo 3 Lembro-me como se tivesse ocorrido hoje, dia em que o Colégio recebeu funcionárias da Subsecretaria Regional de Educação de Ceres – GO para triar os alunos das salas exclusivas e encaminhá-los às salas inclusivas. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de: III – atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com necessidades especiais, preferencialmente na rede regular de ensino; (LDB Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – art. 4º) Cheguei naquela tarde para trabalhar. O acesso à biblioteca se dava pela sala de vídeo onde aquelas senhoras estavam conversando e, fazendo um singular diagnóstico de cada aluno das duas salas exclusivas que tínhamos em nosso Colégio. Ao passar por elas, notei a calma que demonstravam e muita autoridade no assunto, inclusão. As professoras traziam um a um e durante a conversa com eles, registravam suas observações sobre as potencialidades intelectuais. Daquela data em diante, ouvi muitos comentários, a favor e contra a inclusão. Eu, sem compreender plenamente a implicação de toda aquela ação, resolvi não tirar nenhuma conclusão precipitada. Na ocasião, ficou decidido que tais alunos deveriam realizar suas transferências para a Escola Estadual. A mãe de uma aluna com Síndrome de Down se revoltou e disse que não tiraria sua filha daquele Colégio. Realmente, não precisaria. Bastava incluí-la numa sala ali mesmo, como de fato aconteceu. A adolescente foi inclusa numa sala de alfabetização cujos alunos iniciaram o processo de convivência com a diversidade. Na lida com pessoas com deficiência, se não acreditarmos nas suas potencialidades ensinaremos menos coisas e reforçaremos sua dependência. Por outro lado, a crença nas suas capacidades e nas nossas de ensiná-los, pode auxiliar na promoção do seu desenvolvimento, tornando-as pessoas autônomas e produtivas (RODRIGUES; LEITE, 2010, p. 12) Durante os estudos realizados a respeito dos “Fundamentos” - Módulo 2, observei que a “educação inclusiva, ...é um processo em que se amplia a participação de 3 Colégio Estadual “Zeca Batista” - Anápolis - GO 22 todos os estudantes nos estabelecimentos de ensino regula” (RODRIGUES; MARANHE, 2010, p.20). Um sentimento de inclusão e aceitação do outro com suas limitações e deficiências, não nasceu agora em meu coração. Penso que meus pais foram grandes responsáveis e influenciadores para fortalecer este amor que tenho pelas pessoas com deficiência. Em nossa família, conheci alguns parentes com deficiência: um tio com Síndrome de Down e um primo com hemiplegia e dificuldade na fala. Mas a sensação que tinha era de que havia muitos assim. Talvez pela humanidade com que todos lidavam com a situação, haja vista na Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”. Contudo nem todas as famílias se preocupam com esta formação para seus filhos. Além de princípios familiares, os atuais educadores necessitam de formação ética para lidar com todas as situações no ambiente escolar. Um bom exercício profissional significa não apenas competência teórico técnica, mas a capacidade de respeitar e ajudar a construir a dignidade, a cidadania e o bem-estar daqueles com os quais nos relacionamos e que dependem de nossa ação. Portanto, a ética [...] deve ser aplicada a cada uma e a todas as atividades profissionais. (NEME, 2010, p. 04) Meu primeiro contato com alunos especiais aconteceu aos 13 anos, quando cursava o Ciclo 2, do Ensino Fundamental em São Paulo, na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus Cidade de Hiroshima. A sala onde estudava, ficava em frente às classes especiais. Eu não sabia se nela só havia alunos com deficiência, mas já tinha idade o suficiente para entender que aquela sala era diferente. Sempre que podia, procurava observar aqueles alunos e não havia, nessa época, uma política de inclusão. Ninguém se preocupava em promover interação entre nós, mas eu tinha necessidade de interagir. Sentia uma força dentro de mim que me impulsionava a buscar aqueles alunos. “A convivência com pares da mesma idade, estimula o desenvolvimento cognitivo e social do aluno com deficiência [...]” (RODRIGUES; MARANHE, 2010, p. 20). É compromisso da escola inclusiva promover mudanças de atitudes discriminatórias – a escola deverá trabalharcom quebra de tabus, estigmas, desinformação, ignorância – que levam as pessoas a terem atitudes negativas em relação aos seus alunos com deficiência (RODRIGUES; MARANHE, 2010, p. 20). 23 No ônibus, preocupava-me se os surdos não seriam enganados e de longe observava tudo, mas não podia conversar com eles, pois não sabia a língua de sinais. Os anos foram avançando e parece que houve um silêncio em meu coração. Não tenho lembranças de ter visto outros especiais pelo meu caminho. Exceto na igreja onde estagiei durante o tempo em que cursei Educação Religiosa, em 1986. Morava em Anápolis onde estudava, mas estagiava em Brasília – DF, numa igreja na Asa Norte. Ao chegar lá, fui incumbida de trabalhar com os ensinamentos da Bíblia às crianças enquanto os pais ouviam o sermão, durante a cerimônia religiosa que acontecia aos domingos. Nessa turma, um garoto de nove anos era surdo. Como eu faria para ensiná-lo se não conhecia a língua de sinais? Eu não sabia onde procurar formação, também ninguém me orientou a respeito, embora Brasília tivesse um trabalho já avançado com surdos. O professor precisa ser criativo A criatividade é qualidade que todo ser humano pode desenvolver em todos os seus fazeres. O mundo não precisa mudar para sermos criativos, mas, precisamos mudar nossa maneira de ver o mundo! (CAPELLINI; VALLE; GIRALDI, 2010, p. 02). Segundo Capellini; Valle; Giraldi (2010) podemos surpreender nossos alunos e a nós mesmos fazendo algo diferente, experimentando novas possibilidades, novas estratégias. Procurei pôr em prática estes ensinamentos embora não os conhecesse pelos autores supracitados e, sim, pelas experiências de vida familiar, social e religiosa. Eu ainda não havia feito um curso na área de inclusão ou qualquer outra capacitação para lidar com crianças com deficiência, contudo, sabia que “não é o aluno que se ajusta, adapta-se às condições de ensino, mas o movimento se dá de forma contrária [...]” (LEITE; MARTINS, 2010, p. 04). Então, procurava ensinar as histórias bíblicas me servindo de mímicas, teatro e desenhos para que ele também fosse contemplado com o conteúdo das aulas. Vinte anos depois, sem nunca mais tê-lo visto, reencontrei-o. Participamos juntos em Goiânia – GO de uma formação para instrutores de LIBRAS, ministrada pela FENEIS, promovida pela Secretaria Estadual de Educação de Goiás. Ele já estava casado com uma surda. Juntos relembramos as histórias vivenciadas em sua infância, 24 daquele tempo em que fui sua professora. Hoje, ele trabalha com a educação de surdos, em cursos de Informática, na capital goiana. Retomando os acontecimentos daquela época, conforme mencionei no início do texto, procurava sempre que possível levar alguma peça teatral, brincadeiras e presentes àqueles alunos das classes especiais. Na ocasião, eu cursava o Magistério e preparava diversas atividades teatrais. Numa destas apresentações, na Páscoa, estávamos no palco, eu e meu filho com seis anos na ocasião, contando história. Ele trajado de coelhinho, fazendo as peripécias que eu havia ensinado. Nessa apresentação, avistei uma menina, conhecida por mim, em meio às ciranças com deficiência. Foi um susto muito grande! Eu sabia que ela não era deficiente mental, então por que estava entre os alunos especiais? Recompus-me, continuei a apresentação e, no dia seguinte, procurei ajuda. Fui à Subsecretaria Regional de Educação, na época já inaugurada em Itapaci – GO, não mais necessitando do acompanhamento da Subsecretaria Regional de Educação de Ceres – GO. Lá conversei com a coordenadora do “Projeto Acelera”, pois me sentia segura com essa coordenadora que demonstrava compromisso com a educação. Após explicar o ocorrido e minhas percepções sobre a situação, ela me convidou a, junto com a família, buscarmos uma mudança de vida para aquela menina que, na ocasião, já estava com 11 anos e ainda era analfabeta. Eram questões decisivas que implicavam em “acertar” ou “errar” na escolha. É importante, registrar aqui que, no final do ano anterior, essa criança havia me falado assim: “Tia Marina, me ajude, repeti de novo”. Aquelas palavras ecoavam em minha mente e coração. Como podemos ajudar alguém quando não sabemos o que fazer? A literatura nos subsidia, dizendo que “O sucesso acadêmico do educando depende da parceria forte entre a família e a escola: juntos, com o mesmo objetivo” (MELCHIORI, RODRIGUES; PEREZ, 2010, p. 01). Busquei a família, explicando que levar a garota da 3ª Série para a Alfabetização não seria um retroceder, mas um avanço para que, alfabetizada no final do ano, a menina pudesse prosseguir na 4ª série, normalmente. Seus pais acreditaram em mim e eu acreditei na coordenadora do “Projeto Acelera”. Juntos então, família, escola e comunidade investimos e, ao final do ano, de fato a menina já estava alfabetizada. Recebi uma carta escrita por ela, com expressões de amor e gratidão. Sua dificuldade foi superada. 25 É importante ressaltar que a criança pode apresentar avanços lentos, mas não se pode aceitar que chegou ao seu ponto máximo por causa disso. O fato de apresentar atrasos, quando comparada aos seus colegas..., não significa que deixará de ter avanços. É importante o professor pensar em estratégias de ensino diferenciadas que possibilitem aprendizagens significativas (MELCHIORI; RODRIGUES; PEREZ, 2010, p. 18). Com esta experiência aprendi muito. Contudo, quero dizer que, o Projeta “Acelera” não é, necessariamente, a única estratégia, afinal, eu nem possuía habilidades para articular estas situações com a deficiência intelectual. Como cidadã busquei ajuda em prol de uma criança que estava à mercê do sistema educacional, esperando, simplesmente, aprender a ler e a escrever. Em 2002 o Governo Estadual enviou um instrutor de LIBRAS à Itapaci – GO para iniciar um curso de linguagem de sinais. Na época, eu já havia sido aprovada em concurso público e exercia uma função administrativa em um Colégio Estadual. As vagas para o curso eram destinadas aos professores, mas lutei muito por uma delas. Geralmente sobram vagas para estes cursos no interior do Estado. Que experiência maravilhosa! Foram 40 horas preciosas para mim. Após aquelas 40 horas (Módulo I), aguardei, incessantemente, a vinda dos demais Módulos para concluir o curso de 160 horas. mas somente em 2005, outra instrutora retornou para ministrar o Módulo II. Percebia que os surdos daquela cidade conheciam muito pouco de LIBRAS e não tinham intérprete em sala de aula, exceto um aluno que recebeu uma intérprete, após esta capacitação inacabada. Os surdos precisavam estudar. Tanto os adultos quanto os jovens e crianças estavam lá, aguardando oportunidades. Tendo estudado somente os conteúdos dos dois Módulos, organizei um grupo de estudo de LIBRAS, convidei várias pessoas da cidade, inclusive os surdos. Dentre eles, alguns eram analfabetos e não conheciam nada de LIBRAS. Naquele ano, viajei 500 quilômetros (entre ida e volta), todos os sábados, para concretizar meu sonho: concluir o curso de LIBRAS. A cidade onde eu morava distanciava da capital, quase 250 quilômetros e, somente lá havia uma escola que ministrava tal curso. Todos os sábados, eu sofria de dores de cabeça devido às noites mal dormidas, pois, acordava as 03h30min para conseguir chegar à escola às oito horas. Contei para isso com vários patrocinadores, afinal, o curso e as passagens estavam além de minhas possibilidades financeiras. 26 Hoje, com o curso “Práticas educacionais inclusivas na área da deficiência intelectual” através da EaD, pude me formar com qualificação e muito conforto, sem custos e sem sofrimentos.No início de 2006, lutei muito para organizar uma sala de alfabetização para aqueles surdos que não sabiam ler, escrever, contar, usar sua própria língua materna. Deparei-me com muitos obstáculos. Por fim, a subsecretária me autorizou usar uma sala, duas ou três noites por semana. Organizei aulas de no máximo 2 horas, afinal, eles chegavam cansados do trabalho diário. A faixa etária era de 35 a 55 anos. Lembro-me da alegria de uma das senhoras surdas, nos momentos de interação e aprendizado. Ela era a única que conhecia um pouco da linguagem de sinais, pois havia morado um tempo em Brasília e lá havia aprendido. Disseram-me que eu não poderia organizar aquela sala, pois, os surdos deveriam ser inclusos na rede regular. Nessa época, não havia EJA, muito menos intérprete na cidade. O trabalho de educação com aqueles surdos adultos só durou meio ano, tive que me mudar para Anápolis – GO. Deixei algumas pessoas com um conhecimento básico em LIBRAS e diversas com conhecimento superficial, mas não houve continuidade esse trabalho. Ao chegar a Anápolis, fui a Subsecretaria para definir em que escola seria modulada, permitiram-me escolher o local, então, optei por uma escola inclusiva, onde estou desde julho de 2006. Quando tomei conhecimento da Plataforma Freire, imaginei que poderia tentar uma vaga em um curso de Pós Graduação. A princípio pensei que não teria direito pelo fato de não estar atuando como professora, embora me sinta como docente. A propaganda na T.V. dizia que era para professores e, mesmo assim, resolvi tentar. Como não foi possível Pós Graduação, notei que as Formações Continuadas estavam com as inscrições abertas, efetuei a inscrição. Fiquei muito interessada em formação na área de deficiência, por isso me inscrevi para este curso. Procurei ser sincera e não omiti a função que exerço, mesmo que para isso corresse o risco de perder a vaga. Aproximadamente quatro meses depois, recebi um comunicado que meu pedido fora aceito. Fiquei muito feliz. Iniciei o curso! Tive algumas dificuldades no ambiente virtual, mas isso foi normal para quem pela primeira vez participa de um curso EaD. Aos poucos, fui aprendendo. Vi colegas desejando desistir, encorajei-as a continuar. 27 Todo o material que recebia foi impresso e realmente estudei-os com dedicação. A cada leitura, eu aprofundava meus conhecimentos sobre inclusão. Sempre partilhava com outros professores as novidades e, lhes disponibilizava os materiais que seriam necessários para a melhoria de seu trabalho. Agi como agente de transformação pela inclusão. Agora tenho uma riqueza em mãos. Estudar através da EaD é bem melhor! Posso administrar meu tempo e meus dias. Realizo as atividades no dia e no horário que bem desejar. É claro, obedeço a data da postagem, contudo esta flexibilização de horário é adequada às pessoas que estão engajadas em um acelerado ritmo de vida com estudos, trabalho, família, educação dos filhos, responsabilidades com a casa, enfim, adultos que, talvez, jamais poderiam frequentar uma Universidade com aulas presenciais. Também, é necessário muita responsabilidade, afinal, o aluno é quem administra o desenvolvimento das atividades. Tutor, coordenadores, formadores, técnicos no ambiente virtual desempenham um papel importantíssimo, subsidiando nosso aprendizado. Todas as dúvidas são reportadas a eles e o feedback é certo. O aluno precisa ser sério e ético, assumindo suas responsabilidades com o curso. Se não for centrado e objetivo com seus propósitos, dificilmente, chegará ao final. Venci. Agora é aguardar que haja flexibilidade também no sistema burocrático, a fim de que eu possa de fato desempenhar minha verdadeira vocação, a docência. Enquanto aprovada em concurso público para funções administrativas, não me permitem assumir uma sala de aula. Quem sabe, um dia... 28 APERFEIÇOANDO A MINHA PRÁTICA INCLUSIVA: RELATO DE EXPERIÊNCIA Alcides Pereira da Silva Júnior 4 Nesse relato pretendo mostrar minha satisfação ao concluir o curso “Práticas Educacionais Inclusivas”. Na oportunidade, pude perceber e esclarecer muitas dúvidas que, na prática, ainda, fazem parte do cotidiano de muitos professores que estão na rede pública de ensino. Curso como esse deveria ser implantado por todos os órgãos responsáveis por uma educação de qualidade, não apenas sob a responsabilidade do MEC (Ministério da Educação) que, muitas vezes, não consegue alcançar a maioria do público alvo esperado. Durante muito tempo, vivemos numa sociedade excludente, achando que o correto era ver as coisas “daquele modo”. Mudar essa condição é um trabalho árduo. Falar em concepção ainda é tabu, acreditar que de fato podemos conviver em harmonia com a diversidade e que ela é importante para o aprendizado em geral, faz com que os teóricos da área pesquisem, cada vez mais, situações reais que tornem a inclusão um fato real. A cada módulo estudado no curso, pude compreender a importância de se trabalhar a inclusão, falamos sobre a história da inclusão social e educacional da pessoa com deficiência, o desenvolvimento humano e a aprendizagem, avaliação e conceitos relacionados a entender melhor como se desenvolve o ser humano dentro de uma visão inclusiva. Portando, neste texto, a pretensão é demonstrar o que é possível e o que é real perante a inclusão através dos conhecimentos adquiridos pelo curso que sem dúvida trouxe conceitos importantes para a melhor compreensão na área, estruturando conceitos e estabelecendo relações possíveis para a inclusão. No início do curso, propuseram um questionário sobre as questões levantadas em relação aos conhecimentos sobre inclusão. As questões estavam pautadas na relação que havia entre aluno-professor, aluno-aluno, professor-professor, escola-comunidade. As experiências que tínhamos com alunos deficientes foram levadas em conta. A partir 4 EMEI “Profa. Magda Contart dos Santos” – Pontal - SP 29 daí, foi possível compreender melhor os conteúdos que seriam propostos no decorrer do curso. Assim que terminei o curso para professor em 1989 denominado Magistério, curso técnico para formação de professores para o ensino nas séries iniciais do Ensino Fundamental, fui convidado a participar da criação da instituição APAE do meu município, Pontal/SP. Na ocasião, tive a oportunidade de realizar um curso de Especialização para trabalhar com deficientes, oferecido pela APAE de Jaboticabal/SP, com duração de 180 horas. Em seguida fui para o Estado trabalhar com as Classes Especiais, salas com crianças que tinham sido testadas por psicólogos e que eram encaminhadas para a alfabetização. Trabalhei até 1998, quando então as classes especiais foram substituídas pelas salas de recurso. Durante minha atuação com os alunos encaminhados para a Classe Especial, meu foco de trabalho era a inclusão, minha preocupação maior estava na denominação da sala e onde estava localizada, geralmente era uma sala pequena, embaixo da escada, no fundo do corredor ou até mesmo um antigo depósito. Procurava sempre fazer algumas parcerias com os outros professores da escola. Caso na escola tivesse dois primeiros anos, A e B, por exemplo, minha sala era o primeiro ano C. Para a continuidade de estudos, meus alunos eram encaminhados para uma turma que havia um professor com um perfil diferenciado, esse cuidado tinha por finalidade dar aos alunos, ao chegar na turma nova, maior acolhimento, não sendo discriminados por terem passados pela CLASSE ESPECIAL. Participei de vários cursos sobre inclusão, problemas de aprendizagem, deficiências de aprendizageme outros assuntos que eram pertinentes a minha atuação. Tinha muitas dúvidas em relação aquele tipo de inclusão, que, na verdade, nada mais era que uma exclusão. Compreender de fato que a inclusão acontece nas escolas ainda é difícil, pois depende muito da concepção de aprendizagem que cada um possui. O curso Práticas Educacionais Inclusivas na sua dinâmica propõe “a veiculação de informações sobre deficiência intelectual e seus desdobramentos para prestação de serviços, via educação, à pessoas com deficiência intelectual”. Foram trabalhados temas como: aspectos etiológicos, conceituais, históricos e legais da Educação Especial, desenvolvimento infantil, postura ética frente à deficiência, relação família escola e aspectos da sexualidade. A elaboração e execução de avaliações diagnósticas deram subsídios para a implementação de práticas educativas voltadas para o ensino efetivo de pessoas com 30 deficiência, como, por exemplo, o ensino colaborativo, o planejamento individualizado, além da utilização de recursos lúdicos e jogos. “A informática é hoje, ferramenta indispensável para o trabalho pedagógico.” Minha expectativa estava ligada aos conhecimentos que ainda não faziam parte de nossas práticas em sala de aula. Novos conhecimentos vão sendo adquiridos a partir do momento que ocorrem mudanças. A mudança de comportamento é sinal que houve aprendizagem. Dar importância a uma nova aprendizagem conduz a novos conhecimentos. Esse movimento pode ser percebido quando é possível respeitar o ritmo que cada um tem para aprender. Esse ritmo só será respeitado no processo de conhecimento das capacidades de cada um. Cada um traz uma história de vida que determina formas diferenciadas de comportar-se diante de uma situação. A todo momento o contexto de interação torna-se diferenciado e diversificado fazendo todos, da equipe escolar, procurar novos conhecimentos. Daí a importância da formação continuada, adquirindo novos conhecimentos, buscando aumentar a capacidade de compreensão em relação às dúvidas de qualquer conteúdo. Compreender melhor como ocorre a aprendizagem, respeitando o ritmo, os conhecimentos, as condições, as causas, os aspectos conceituais, históricos pode garantir o aprendizado dos alunos. Isso envolve o trabalho de toda a escola e da sociedade. O resultado é uma sociedade mais justa, solidária e igualitária para todos. Pensando que o movimento pela inclusão está atrelado à construção de uma sociedade democrática, aprendemos como eram os deficientes durante a história da humanidade. Saber que na Antiguidade estava atrelado a alguma maldição ou até mesmo a castigos, na Idade Moderna eram banidos da sociedade por ter comportamentos que não condiziam com a época, faz-nos refletir a respeito da condição social e educacional de cada época para a construção da história. É importante saber o porquê dessas condições e das ações que levaram às extremas covardias que hoje é possível perceber. O que difere a sociedade atual das sociedades antigas? Para refletir a respeito dessas questões é preciso atentar para a relação que temos com as pessoas. Convivemos com as diferenças, apesar de ainda convivermos numa sociedade individualista. Dar a oportunidade de inclusão social e educacional, propondo uma condição melhor para a convivência é função da escola. A participação de todos para a construção de uma sociedade inclusiva é fundamental. A participação da família é o começo. É nesse seio que se inicia o convívio natural das pessoas. Importar-se com o 31 desenvolvimento do indivíduo, como está relacionando-se com os outros, faz com que a família perceba suas necessidades. Na escola, podemos perceber o quanto é importante a participação da família na construção de cidadania. É na escola também que podemos perceber o quanto é necessário essa participação. Em se tratando de inclusão a falta de informação da família pode mudar o rumo de muitos excluídos. Como, então, colocar essa instituição, que tem um papel fundamental no desenvolvimento do indivíduo, numa participação mais ativa e efetiva? Ações conjuntas, parcerias, formação e acompanhamento são condições necessárias para uma escola que pensa na inclusão. Ter conhecimento de como ocorrem os fatores que desencadeiam a exclusão, torna a escola uma instituição que apresentará para toda a sociedade uma tarefa de facilitadora na busca de novas oportunidades para cada um. No mercado de trabalho, na continuidade da carreira acadêmica ou, simplesmente, conviver em sociedade, só terá oportunidade de escolha aquele que tiver condições de conhecimento e isso é papel de uma escola inclusiva. Entender conceitos como sexualidade, flexibilização de ensino, ensino colaborativo, criatividade, habilidades sociais, tecnologia assistida proporcionou a nós, cursistas, um aprendizado concreto, articulando o currículo prescrito com o currículo real nas escolas, quando se tem um conhecimento teórico a respeito de um conteúdo a ser trabalho é possível colocar em prática de maneira mais efetiva. O curso trouxe conhecimentos que proporcionarão muita reflexão sobre nossa prática em sala de aula. O ir e vir no desenvolvimento de atividades que atendem as expectativas de aprendizagem, a avaliação dos conhecimentos, a nova reflexão sobre o que aprendeu e o que precisa avançar contribuirá no aprendizado dos alunos. Fazer da inclusão uma ação que vai ocorrer de fato, está na Legislação, agora ter essa ação como prática, é fundamental para se ter uma sociedade justa, solidária e igualitária. 32 PRÁTICA INCLUSIVA: O APRENDIZADO GERANDO MUDANÇAS Amanda Nolasco de Oliveira Santos 5 Percebe-se que a maioria dos professores está comprometido com a prática docente e se preocupam em fazer a diferença nas buscas constantes do saber para melhor atender seus alunos. O professor só consegue usar, em seu trabalho, as tecnologias disponíveis, se conhecê-las. Fica evidente a necessidade de se pensar estratégias de promoção e valorização das escolas A escola é um importante espaço difusor de cultura e informação, tornando-se o lugar ideal para se desenvolver, junto ao aluno, a elevação de sua autoestima e, consequentemente, seu papel de cidadão na sociedade. É necessário um vínculo afetivo para que se possa compreender as necessidades e o comportamento dos alunos, bem como suas limitações. Com isso, há a valorização dos alunos, das ideias divergentes, é incentivado o surgimento de liderança criando um ambiente favorável ao aprendizado com soluções criativas para os diversos problemas, do cotidiano escolar. As crianças que frequentam as escolas, muitas delas com dificuldades de aprendizagem não são crianças incapazes, apenas apresentam alguma dificuldade para aprender. Já um aluno com desordem neurológica seguramente terá mais dificuldades para aprender e, consequentemente, necessitará de intervenções pedagógicas pontuais e sistemáticas. Segundo Vigotski (1991) todo auxílio prestado à criança em suas atividades de aprendizagem é válido, pois, aquilo que a criança faz hoje com o auxílio de um adulto ou de outra criança maior, amanhã estará realizando sozinha. Desta forma, o autor enfatiza o valor da interação e das relações sociais no processo de aprendizagem. Para enfrentar essa maratona de alunos com dificuldades ou deficiências nas escolas, os professores têm que procurar ajuda e, muitas vezes, as escolas não possuem. Elaborar aulas levando em conta os estilos de aprendizagem e criar atividades diferenciadas dá trabalho, implica na busca de auxílio com outros colegas ou cursos que, são oferecidos pela secretaria de educação da cidade em que resideou em cursos do MEC. Professores se inscreveram e foram selecionados para realizar esse curso por intermédio do TelEduc. 5 Escola “João Alcindo Vieira” - Rua Jose Bonifacio n. 487 - Guarei –SP 33 Foi através desse curso maravilhoso que eu e muitos outros professores conseguimos mudar nossa prática pedagógica e ajudar os alunos com dificuldades de aprender e os que nem conseguiam entender o que é aprender, ou seja, crianças com ritmos, interesses e jeitos diferentes de aprender. Quando a aprendizagem não ocorre tanto o aluno quanto o professor sentem-se frustrados e desmotivados, o que acaba gerando uma carga emocional negativa com todo o grupo. Por esse motivo sentimos, muitas vezes, incapazes de ensinar, mas com a ajuda desse curso, pudemos diferenciar nossas atividades, criando, flexibilizando e, ainda, contando com o trabalho colaborativo do professor especializado, o que foi muito legal. Sou professora na Escola João Alcindo Vieira e minha sala é um 3º ano, com 28 alunos, sendo um aluno deficiente auditivo, uma aluna com atraso no Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) e oito com dificuldades de aprendizagem. Num primeiro diagnóstico pude observar que os alunos tinham: Falta de concentração; Sintomas de hiperatividade; Leitura escassa; Dificuldades em relacionar números e quantidades; Dificuldades ortográficas; Desinteresse pela aprendizagem. Quando me deparei com todas essas dificuldades na sala, percebi que deveria buscar auxílio, mas não tinha ideia de onde ou quem procurar. Estava no início do curso de Práticas Educacionais Inclusivas. Este curso me deu a segurança que procurava para seguir adiante. Através da interação com os colegas do curso, da diversidade de textos oferecidos e das várias atividades propostas pude, com confiança, mudar minha prática pedagógica para, então, chegar até esses alunos, compreendendo-os melhor e, aí, ajudá- los. As atividades aplicadas na sala foram adaptadas às necessidade de cada um. Todos participaram, questionaram, refletiram e realizaram atividades em grupos e individualmente, de acordo com as exigências das mesmas. Os agrupamentos eram feitos de acordo com as hipóteses de aprendizagem de cada um, sendo possível fazer as intervenções necessárias. A minha interação com a sala, no início, foi dificultoso, mas a sala possuía uma energia muito boa e contagiou todo ambiente. Pudemos juntos aprender. Particularmente, posso afirmar que, com as atividades desenvolvidas, 34 conseguimos uma maior integração dos alunos. Percebi que eles se sentiram mais valorizados e motivados toda a vez que conseguiam realizar o proposto. Com a diferenciação pedagógica conseguida através do curso Práticas Inclusivas, respeitando os diferentes estilos de aprendizagem dos alunos, as aulas transcorreram de modo mais vibrante, em constante movimento de trabalho e alegria. Afinal, desta forma, todos se veem como capazes e inteligentes. Ainda foi necessário continuar dando uma atenção especial aos alunos com dificuldades, mas a cada dia que passa, percebem-se seus avanços, mesmo que apresentem defasagens em relação ao grupo. Mas, o mais importante disso tudo foi ter resgatado a autoestima dos alunos. Com atividades bem planejadas e intervenções adequadas eles estão acompanhando o grupo com sucesso. O curso Práticas Inclusivas foi muito importante para o meu aprendizado e o de meus alunos. O aprendizado extraído desse curso trouxe todo um contexto de conhecimentos que estava faltando para meu trabalho em sala de aula. Ele não só contribuiu para a minha carreira profissional, mas me fez dar um passo enorme para tentar ajudar meus colegas e melhorar o nosso trabalho em sala de aula. Um ano especial, com um grupo especial! Está sendo muito bom trabalhar com as crianças do 3° ano, depois do curso, pois com o desenvolvimento de cada um ao realizar suas atividades estão se tornando crianças mais interessadas e participativas, dispostas com desejo de aprender. Muitas dificuldades de aprendizagem são decorrentes de metodologia inadequada, de professores desmotivados e cansados e, ”presos” em trabalhar dentro de um único estilo, o professor acaba favorecendo o aparecimento dos problemas de aprendizagem. É importante, no momento em que surja problemas com algum aluno, que haja uma mobilização por parte da escola, a fim de que solucionem a possível dificuldade. A recusa em aprender é um ato de defesa diante de seu fracasso e frustração. Com o estudo, pudemos perceber que a escola tem muito ainda o que fazer para ajudar seus alunos. A escola deve esforçar-se para a aprendizagem ser significativa para o aluno. Com isso todos têm a ganhar, a escola, a família e, principalmente, a criança que será mais flexível, mais motivada e mais interessada em aprender. A criança que possui dificuldades de aprendizagem necessita adquirir confiança em si mesma e acreditar que é capaz. Para dar conta disso as pessoas envolvidas devem se dedicar profundamente para que essa dificuldade seja trabalhada e sanada. A afetividade é o ponto “x” para garantir o sucesso e o aprendizado dos alunos. 35 PRÁTICAS INCLUSIVAS: UM DIREITO DOS ALUNOS Ana Paula Souza Báfica 6 Atualmente, o tema inclusão está em evidência no Brasil e no mundo. Urge a necessidade de se pensar em uma sociedade menos desigual, onde todos tenham acesso aos bens e direitos que a vida, a natureza e a história prepararam. Nesse sentido, o debate gira em torno das acessibilidades, do acesso a uma educação de qualidade e igual para todos, acesso aos locais e espaços de convívio social em geral. Nesse sentido, ciente dos princípios, políticas e práticas educativas atuais que se direcionam para uma escola inclusiva, que tenha estrutura educativa como suporte social, que abrigue a todos, independente de suas particularidades e diferenças, faz-se necessário, uma retrospectiva histórica da inclusão social, destacando que em tempos passados, os sujeitos com deficiências eram tratados como uma ameaça à sociedade. Compreende-se que a proposta de inclusão implica em alguns princípios básicos: a aceitação das diferenças e valorização de cada ser como único, rico a sua maneira; que a aprendizagem se constrói convivendo com a diversidade e a cooperação; as dificuldades de aprendizagem têm causas e desenvolvimentos múltiplos, exigindo pesquisas em diversos campos de origens: genética, orgânica, intelectual, cognitiva, emocional (incluído aí, a estrutura familiar/relacional) e, que influências externas podem minimizar ou maximizar os desdobramentos das diferenças. O recorte dessa discussão se evidenciará em relatar aprendizagens construídas durante o decorrer do curso de Práticas Inclusivas e Déficit Intelectual. Primeiro, por compreender ser um tema pertinente para uma sociedade que tanto tem falado em inclusão social e que precisa continuar dando sinais reais de que ela é possível. Segundo, porque quando falamos em Educação e Educação Inclusiva, falamos de um processo que visa o indivíduo integral e sua inclusão em todas as esferas da sociedade. Um dos maiores desafios das escolas regulares atualmente é promover a inclusão dos alunos com deficiência. Primeiro por sabermos que as pessoas com deficiência não necessitam de piedade ou compaixão, nem tão pouco de atitudes paternalistas no sentido de poupá-las das atividades imprescindíveis à sua sobrevivência. Segundo, por ter a certeza que elas precisam serem incluídas na sociedade. Para isso devem ser oferecidas oportunidades educacionais e profissionais, bastando, para tanto, a compreensão dos6 Escola “Raio de Sol-APAE” - Canaviereiras – BA 36 que estão a sua volta, a fim de que lhes respeitem e que as deixem levar uma vida dentro da normalidade. O melhor caminho a se trilhar em busca da inclusão de pessoas com deficiência, dentro do espaço escolar e, por conseguinte, dentro da sala de aula, é a formação do professor. Destarte, o curso de Práticas Inclusivas em Deficiência Intelectual veio para contribuir para a melhoria dessa prática, nos possibilitando lançar um novo olhar ao aluno com deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais. Como consequência (positiva) desta formação continuada, podemos, hodiernamente, incluir esses sujeitos e orientá-los para a autonomia e para o sucesso acadêmico. O variado conteúdo desenvolvido no curso auxiliou, sobremaneira, a lida no cotidiano escolar e, em especial: aspectos legais, a ênfase na família, a postura da escola, a ética profissional, as habilidades sociais, a flexibilização do ensino, o ensino colaborativo e a tecnologia assistiva. O resultado de tudo isso, foi a oportunidade de crescimento, a modificação da prática (para melhor) e o alcance de resultados positivos no que se refere ao relacionamento com os discentes. É sempre bom destacar que Mantoan (2007) defende a escola inclusiva para todos. Ressaltando que este modelo escolar que aí está posto, precisa ser modificado. No entanto, enfatiza que a escola integradora é muito mais cômoda e quebrar estes padrões, é tarefa difícil. Para a autora, inclusão é mais que integração. Todos têm o direito de frequentar a escola regular, pois é responsabilidade da escola comum a escolaridade do aluno, tenha ele deficiências, dificuldades ou altas habilidades. No entanto, os alunos com deficiências não têm tido seus direitos assegurados pelas escolas. Elas ainda estão longe de se tornarem inclusivas, desenvolvendo projetos parciais de inclusão, os quais não visam mudanças de paradigmas e continuam a atender os alunos com deficiências em espaços segregados (classes especiais, escolas especiais). As escolas que não estão atendendo os alunos com deficiências em suas turmas, justificam-se não terem professores preparados para este fim, ou não acreditam que esta inclusão possa trazer benefícios (MANTOAN, 1997). Após a conclusão desse curso, pode-se perceber o quanto podemos crescer enquanto profissionais e quantos recursos de acessibilidades têm sido disponibilizados para facilitar o processo de inclusão de pessoas com deficiências. Nesse sentido, afirmar que o processo de inclusão das pessoas com deficiências é consequência de uma escola de qualidade que seja capaz de perceber um mistério a ser desvendado e ser vivenciado, é um fato real. A ideia de inclusão escolar desloca a centralidade do processo de apenas 37 o sujeito se adequar à escola, mas ter o direito incondicional à escolarização, estando todos no mesmo espaço educativo. Este direito trará à escola um significativo referencial teórico da inclusão das diferenças, permitindo organizadamente o conhecimento e a prática desses educadores no alcance de novos patamares de qualidade no decorrer do processo de inclusão. Sendo assim, a evolução do processo inclusivo torna-se mais evidente e significativo à medida que os professores tomam posse dos seus conhecimentos, sentindo-se capazes de trabalhar com os limites individuais de cada criança. Para isso é indispensável uma relação dialética entre família e escola para que as necessidades dos alunos sejam atendidas favoravelmente, pois a família subsidia o trabalho da escola. Nesse sentido, pode-se compreender que a pior forma de segregação é aquela que marginaliza a pessoa em qualquer ambiente, dificultando a aproximação e o contato natural com a interação social. Essa interação passa a ser estabelecida a partir da convivência em grupos e são reguladas por estereótipos, preconceitos e ideias preconcebidas. As pessoas com deficiências são capazes de exercer diferentes atividades, desde que sejam feitas adaptações para o seu tipo de deficiência. Alguns deficientes, inclusive, deixam claro que a questão principal não está na inclusão e, sim, nas condições de sobrevivência que lhes são dadas. Percebe-se que passos precisam ser dados e mudanças mais significativas precisam ocorrer, porém não se pode descartar os avanços históricos existentes, haja vista a própria lei que já se configura em uma conquista. Se conseguirmos vencer tais implicações, principalmente no espaço educacional, a deficiência será aceita, assimilada com mais naturalidade e, certamente, os deficientes terão assegurados os seus direitos a igualdade e à diferença. Para isso, a conscientização é o primeiro passo e esta ação vai além de adaptar rampas de acesso nas escolas. A verdadeira inclusão escolar, só passará a ser uma realidade quando todos entenderem que incluir não é, apenas, uma obrigação. Ela não só se efetiva se assegurada por lei. Incluir deve ser um ato “normal”, pois estamos lidando com seres humanos, ainda que com algumas limitações. Porém, enquanto este ápice de consciência não for unânime, conta-se com as leis que asseguram os direitos aos sujeitos com deficiências e continua a esperança de que este objetivo seja alcançado. No entanto, fazer a nossa parte já é um começo. Ou seja, buscando nos especializar, ampliar nossas visões e nos tornando capazes de contribuir, de alguma forma, para a inclusão, seja ela na escola ou em outros espaços. 38 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS – DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Mirian Coelho de Oliveira 7 A educação inclusiva eficaz é o anseio de toda a sociedade. Temos nos confrontado com situações em que pessoas consideradas “inaptas” por serem deficientes são relegadas ao abandono e ao descaso. Fruto dessa visão errônea da comunidade em que vivemos é que se acredita ainda que, pessoas com anomalias físicas e , considerados diferentes dos estereótipos preconizados pela sociedade, os tornam incapazes de relacionamentos ou aprendizados em condições de igualdade com os demais aprendizes. Baseados nos preceitos de que cada individuo possui sua própria peculiaridade e característica singular e, portanto, devem usufruir do bem comum, intensificou-se na sociedade a discussão sobre a necessidade de encontrar mecanismos que permitam a inclusão social, como forma para construção de uma nova sociedade. Esta, agora, democrática, garantindo que todos possam ser considerados cidadãos capazes e que possam conviver em igualdade de condições, respeitando as diversidades e promovendo garantias de direitos e acessos a todas as oportunidades, independentes de sua condição física ou psicológica. As novas políticas públicas têm investido em um novo modelo educacional, visando à promoção de acessibilidade e apoio à inclusão escolar dos alunos em escolas públicas de ensino regular. Em eventos como o “Programa Escola Acessível”, o governo investiu na qualificação dos profissionais da educação, promoveu a adequação das salas de aulas, ampliou as escolas regulares, preparando-as para atender aos alunos ditos “especiais”. Garantiu recursos especiais para atender as necessidades dos portadores de deficiência. Esta adequação perfaz desde a arquitetura e estrutura do espaço físico, até a criação de dispositivos legais que dão apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino, valorizando e incentivando os profissionais à qualificação para melhor atender a demanda da rede pública regular. A qualificação profissional, entretanto, demanda tempo, pois requer a busca de novos conhecimentos, técnicas e desenvolvimento de competências e habilidades que permitam ao professor realizar atividadesque facilitem e contribuam para o aprendizado do aluno deficiente em salas regulares onde terão que conviver com situações diferentes 7 - Barra do Bugres – MT. 39 daquelas a que estão acostumados, precisando adaptar-se a esta nova realidade. Para que essa adaptação ocorra, é preciso que escola e professores estejam imbuídos num único propósito de promover a inclusão, quebrando barreiras ao desenvolvimento das competências e habilidades úteis às práticas educacionais dentro e fora da sala de aula. Como poderia o professor manter-se atualizado em meio a tantas atividades em que o exercício de sua função exige? Pensando nestas dificuldades do profissional e buscando a melhor forma de expandir o aprendizado para melhor atender o aluno com deficiência em suas necessidades, surge a possibilidade de qualificação através de cursos de formação continuada a distância que, com suas ferramentas e metodologias, possibilita ao professor ampliar seus conhecimentos, trocar experiências com outros profissionais e desenvolver atividades que irão enriquecer suas atividades práticas no exercício da docência. Sem dúvida o curso “Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual” foi de grande valia. Proporcionou-nos a possibilidade de um aprendizado ímpar que nos permitiu a reflexão sobre a importância da escola e seu papel enquanto mediadora no processo inclusivo. Contribuiu, também, para a formação do professor como profissional ético, competente, humano em suas relações com as diversidades presentes na sociedade. O professor é um elemento-chave para que os princípios de igualdade e oportunidades, tolerância, justiça e liberdade possam fazer-se presentes nessa comunidade, saindo da teoria para a prática, da abstração para a ação concreta. Permitiu-nos, também, refletir sobre as práticas desenvolvidas em sala de aula pelo professor e sobre a necessidade de um trabalho de conscientização e esclarecimento tanto aos profissionais da educação, professores, alunos e da família. A compreensão do papel da família no processo educacional inclusivo é um fator de extrema relevância, pois, ela deve ser parte deste processo como parceira da escola. À família cabe o primeiro espaço do aprendizado de valores e conhecimentos acerca do mundo que o ser humano tem a oportunidade de usufruir, enquanto à escola compete a tarefa de fornecer os meios de acesso ao conhecimento formal e diferentes alternativas de desenvolvimento do potencial do aluno e de suas habilidades. A escola e a família juntas constituem o instrumento de construção do cidadão capaz e crítico, em condições de interação na sociedade. O material disponibilizado para nosso estudo foi muito rico. Proporcionou-nos compreensão de teorias que dão suporte e embasamentos ao processo de inclusão. 40 Esclareceu fatos relevantes de práticas diárias em sala de aula, produzindo experiências reflexivas e orientação para as atividades práticas. Ter claros os conceitos sobre deficiência intelectual e deficiência mental também nos auxiliou na compreensão da complexa situação que enfrentamos em nosso dia a dia, em sala de aula. Desta forma, conhecer nossos alunos, suas dificuldades e necessidades possibilitaram-nos melhor desempenho no âmbito educacional, além de facilitar o nosso planejamento de acordo com as necessidades evidenciadas. Outro fator importante relaciona-se à base teórica que nos forneceu conhecimento e orientação para planejar as atividades, levando em conta as necessidades do aluno, promovendo a interação entre grupos, ajudando-os a lidar e conviver com as diferenças, trabalhando a autoestima, incentivando-o em seu processo de desenvolvimento cognitivo como sujeito da construção do seu próprio saber, como retrata Piaget em suas obras, nas quais abordam os variados usos da linguagem, noções de espaço, tempo e objetos, noções de matemática, biologia e substancialidades, desenvolvimento da inteligência, de atitudes e de valores relacionados à moral. O professor também deve estar preparado para trabalhar com seus alunos sobre questões como a sexualidade do aluno com deficiência. Este aluno também tem sentimentos, sonhos, desejos e prazer assim como os outros. O desconhecimento de seu próprio corpo e suas necessidades, muitas vezes, torna-os alvo fácil de abusos e exploração sexual. Cabe ao professor e a família a tarefa de orientação, para isso é preciso estar preparados e munidos de material que os ajude na tarefa de explicação, exemplificação, possibilitando maior compreensão e assimilação dos fatos. Desenvolver atividades de conscientização faz parte do papel educacional da escola. A educação sexual é um processo amplo, social e cultural e deve ser trabalhado de maneira que os alunos possam se autoconhecer para lidar com suas emoções e necessidades, adequadamente. A orientação, além de prepará-los para a vivência de sua sexualidade, poderá preveni-los contra possíveis abusos ou explorações. Mais que mediar o aprendizado do aluno é preciso saber avaliar, pois a avaliação deve contemplar todas as áreas do conhecimento construído, abrangendo o seu desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo, bem como as demonstrações de como lidar com as novas situações. Deve-se observar, também, as formas de expressão de seus sentimentos, se demonstram prazer ou não e como se processa o relacionamento em grupo. 41 Observar o caráter evolutivo tanto no âmbito individual quanto no coletivo. O aprender inclusivo deve atender a todas as áreas citadas que fazem do aluno sujeito de seu próprio aprendizado. Cabe ao professor atentar para os aspectos cognitivos, atitudinais e sócio afetivo para avaliar se houve avanços ou não, se há necessidades de outras formas de intervenção, buscando atender ao aluno em todas as suas necessidades. A flexibilização dos conteúdos é necessária para atender aos alunos, fortalecendo as relações para que eles sintam-se integrantes da turma e possam desenvolver as atividades em pleno uso de suas habilidades. O professor poderá planejar suas aulas adequando as atividades ao aluno às suas possibilidades. Para isso as escolas devem estar preparadas física e estruturalmente à realidade do aluno. A utilização de atividades que promovam a socialização e estabeleçam a integração da turma e cooperação mútua é essencial para a formação humana. O aluno com deficiência deve sentir-se parte da turma, ter liberdade para expressar-se com naturalidade e, ao mesmo tempo, desfrutar do respeito e compreensão dos outros colegas. A sua participação efetiva nas atividades deve estimulá-lo ao desenvolvimento de suas habilidades de comunicação, socialização e colaboração, pois ele é tão capaz quanto os outros e deve ser valorizado pelo seu potencial. As experiências vivenciadas com alunos portadores de deficiência, em sala de aula regular, mostraram-nos o quanto é difícil o convívio com as diferenças. Conciliar os alunos ditos “normais” com os portadores de deficiência não é fácil, principalmente, quando nos deparamos com escolas que ainda não estão totalmente adequadas para esta realidade. Embora existam tantos mecanismos legais e disponibilização de recursos, a prática ainda é muito precária. O que existe de fato é a vontade de fazer a diferença e vencer as diferenças, fazer a inclusão quando tudo a nossa volta aponta para a exclusão. Contudo, esse curso mostrou-nos, também, que essa convivência é possível. Com determinação, compreensão, carinho e muito amor, pode-se construir um aprendizado de qualidade e os resultados ainda que lentos, são gratificantes. Confrontando essas experiências com as vivenciadasno centro de atendimento a alunos com deficiência, percebemos que não é muito diferente do ensino oferecido pelas escolas regulares, pois as necessidades são as mesmas e a forma de trabalhar exige a mesma dedicação e amor, qualificação e disposição para vencer os desafios defrontados. A realidade destes alunos e as dificuldades enfrentadas pelas instituições que os recebem, mostrou-nos que ainda 42 há muito que fazer para que o processo educacional inclusivo possa ser realidade em nossas escolas e em nosso país. Pudemos, entretanto, perceber que é possível ter esperança e sonhar com um mundo melhor em que não haverá acepção de pessoas, seja por quais quer que sejam suas limitações. Esperamos que em um futuro próximo tenhamos uma sociedade mais humana, consciente de suas obrigações e responsabilidades inclusivas que saia de sua teoria e tome atitudes concretas e que tenhamos professores conscientes de seu papel de formador e parte integrante desse processo de construção do cidadão por meio da educação inclusiva. 43 ENTENDENDO A INCLUSÃO PARA GARANTIR E RESPEITAR OS DIREITOS DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA Josiani Aparecida Julio de Oliveira 8 Certo dia, abri meu e-mail e estava lá: SELEÇÃO PARA CURSO – UNESP. Num primeiro momento, fiquei muito feliz, mas, ao mesmo tempo, apreensiva. Inclusão é algo que busco entender no meu dia a dia e luto para garantir que os direitos desses alunos sejam realmente respeitados. A inclusão é algo muito amplo que requer muita dedicação e responsabilidade de todos os envolvidos para garantir uma aprendizagem eficaz. Muitos de nós, professores, estamos em fase de entendimento e, por isso, não estamos totalmente seguros para atender aos alunos que precisam de atendimento especializado. Às vezes, fico muito preocupada e triste ao conversar com algumas colegas e perceber a rejeição que algumas têm quando o assunto é inclusão. Percebo que essa rejeição aflora pelo fato de estarem mal informadas. Algumas professoras fazem com que o aluno incluso seja excluído e, até mesmo, os pais mal informados acabam excluindo seu próprio filho. Não quero ser mais uma professora. O objetivo maior é fazer a diferença em seu próprio meio. Observo que alguns alunos estão inseridos em suas salas, mas o tratamento dado a eles é como se ele fosse diferente dos demais. Inclusão não é apenas inserir o aluno com deficiência no ensino regular e “abandoná-lo”; não é deixar que ele seja mais um aluno na sala. Para mim, inclusão é tratá-lo de forma igual, é respeitar suas limitações, é interagir e integrá-lo na sala, na escola e na sociedade, garantindo e adaptando suas atividades. Essas eram minhas pré-concepções até o momento de iniciar do curso. Felizmente, o curso tem início. São enviados os primeiros textos e as atividades. Chega o momento de total dedicação, reflexão e indagações. Fui me apaixonando cada vez mais pelo processo de inclusão e aquele momento de desespero, insegurança, apreensão foi sendo amenizado no decorrer do curso e o interesse em aprender mais foi aumentando dia após dia. 8 CEPE “Conceição Colombo Mota” - Santa Adélia – SP 44 Os relatos das colegas, a observação do aluno incluso junto a professora da sala, os bate-papos, os fóruns de interação, a troca de experiência foi muito gratificante. Acrescentaram muito em minha prática pedagógica. Não tenho aluno com deficiência em minha sala da aula, mas isso não é motivo para eu não buscar informações. Procuro, sempre que possível, conversar com as minhas colegas que trabalham com aluno com deficiência. Observo seus medos, suas dificuldades e suas conquistas, também. Acredito que com o conhecimento que o curso me proporcionou, com as informações que sempre estou buscando, estarei preparada para atendê-lo ou pelo menos integrada a cada dificuldade que ele possa ter, garantindo a ele possíveis conquistas de aprendizagem. Esse curso foi e está sendo de grande valia para o meu crescimento enquanto educadora. Leciono há seis anos. Estou sempre em busca de novos desafios. A inclusão é um desafio e nesse desafio somos instigados a novas informações para conduzi-lo com progresso e sucesso. Surgem novas discussões e questionamentos que nos fazem caminhar em busca de novos conhecimentos. Seria importante que as pessoas ligadas à educação tivessem acesso a cursos desse nível. Só assim mudariam o pensamento e a visão dessas pessoas em relação a inclusão. A inclusão está do nosso lado, portanto, não podemos fechar os olhos e fingir que o problema não é nosso. Inclusão envolve toda a sociedade. Vamos dar as mãos, abraçar essa causa e lutar juntos para garantir o tão sonhado DIREITO PARA TODOS. 45 ERA O QUE FALTAVA: INFORMAÇÃO PARA O EDUCADOR Hélvia Garcia Casadore Alberganti 9 Minha experiência como aluna do curso EaD foi gratificante. O material utilizado foi muito bem elaborado pelos organizadores do curso e a atuação dos tutores foi fundamental para que os objetivos fossem alcançados. Por meio desse curso, tive a oportunidade de conhecer mais sobre os recursos disponíveis para facilitar a vida daqueles que, por serem diferentes, sofrem com o descaso de muitos educadores que, pela falta de conhecimento sobre suas necessidades, acabam prejudicando seu desenvolvimento. O desafio é grande, mas possível ser vencido. Cabe a cada educador buscar informações e soluções sobre as necessidades de seus alunos, sejam elas físicas ou intelectuais. Muitos alegam que a escola regular não está preparada para atender aos alunos incluídos, mas falta preparo daqueles que são responsáveis pelo desenvolvimento dos alunos É necessário que toda a equipe escolar assuma um compromisso em facilitar o acesso e permanência desses alunos no ambiente escolar. Espero que outra oportunidade como esta seja oferecida para que possamos auxiliar nossos alunos a serem amados e respeitados por todos, desfrutando dos seus direitos assegurados pela nossa Constituição. 9 EMEF “Prof. Dircília de Carvalho Pereira Gutierrez” - Ariranha – SP 46 INCLUSÃO: DISCUSSÃO ANTIGA, CONHECIMENTO NOVO Adriana Costa Ferreira 10 Inclusão não é uma discussão recente. Há décadas se debate essa questão, no entanto, na prática essa ideia só agora torna-se realidade. A constituição determina que a educação é direito de todos. A LDB (Lei de Diretrizes e Bases da educação) também deixa claro que os alunos com deficiência devem ser atendidos, preferencialmente, na rede regular de ensino, juntamente com os demais alunos. A tarefa de conduzir todos os alunos ao conhecimento, independente das limitações ou potencialidades de cada um, não é uma tarefa simples. É necessário estudo, materiais adequados, estrutura física e muito comprometimento do professor. A plataforma Paulo Freire contribuiu muito no que diz respeito ao estudo, ao conhecimento e a troca de experiências. Ao longo do curso, tivemos acesso a textos riquíssimos. Sempre traziam algo novo para nos acrescentar, mesmo quando tratavam de assuntos já vistos anteriormente. É necessário capacitar os professores, principalmente os da rede pública, pela responsabilidade que têm em relação ao trabalho desenvolvido com a maioria dessas crianças e adolescentes em idade escolar. Abordaram-se questões voltadas para o melhor convívio e atendimento aos alunos com deficiência, principalmente, aqueles com deficiência intelectual, no que diz respeito aos seus processos de aprendizagens e necessidades adaptativas.Mostrou-nos a importância da escola estar engajada, desenvolvendo um projeto político pedagógico que envolva os alunos de forma geral, contendo material didático adaptado e, consequentemente, o esclarecimento sobre as necessidades educacionais de cada aluno, no propósito de atender bem a todos que nela ingressar. Deve existir parceria entre a escola e a família, imprescindível para o sucesso escolar de toda criança, especialmente aquela com deficiência. O oferecimento do curso Práticas Educacionais Inclusivas mostra uma evolução no que diz respeito à educação especial, pois nos coloca frente a uma realidade atual, inevitável, encorajando-nos, porque através das atividades realizadas e das trocas de 10 EMEI “Profª Anizia Zancanella de Figueiredo” - Santa Fé do Sul – SP. 47 experiências que aconteceram, podemos perceber que a inclusão é necessária e absolutamente possível. No decorrer de todo o curso, tivemos experiências diversas que, com certeza auxiliará cada aluno que teve a grata satisfação dele participar. Ao final do curso ficou o fascínio pela profissão, o desejo de fazer sempre o melhor e cumprir a meta de educar. Educar é viajar no mundo do outro, sem nunca penetrar nele. É usar o que pensamos para nos transformar no que somos. O melhor educador não é o que controla, mas o que liberta. Não é o que aponta erros, mas o que os previne. Não é o que corrige comportamentos, mas o que ensina a refletir. Não é o que enxerga apenas o tangível aos olhos, mas o que vê o invisível. Não é o que desiste facilmente, mas o que estima sempre a começar de novo. O excelente educador abraça quando todos rejeitam; anima quando todos condenam; aplaude os que jamais subiram no pódio, vibra com a coragem de disputar dos que ficaram nos últimos lugares. Não procura o seu próprio brilho, mas se faz pequeno para tornar seus filhos, alunos e colegas de trabalho grandes. Augusto Cury 48 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AMPLIANDO HORIZONTES E POSSIBILIDADES Adriana Lemos de Carvalho Soares 11 Nos dias atuais, nunca se falou tanto em inclusão nas escolas e na sociedade. Percebe-se, hoje, um grande movimento na comunidade escolar para conhecer, compreender e aprender para receber e lidar com os alunos com deficiência nas salas de aulas. Mais do que nunca, as políticas públicas e a legislação vêm garantir, efetivamente, os direitos de todos os alunos. Isso demanda do professor, uma busca constante de novos conhecimentos teóricos e metodológicos que o auxilie na sua prática, de modo a garantir que seu trabalho pedagógico seja efetivo junto à diversidade existente na sala de aula. Assim, o curso: “Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual” pôde nos proporcionar um aprofundamento teórico e metodológico, visando garantir a igualdade de direitos e oportunidades ao aluno deficiente intelectual bem como sua integração social. Ao longo do curso, desenvolvido totalmente em ambiente virtual, à medida que os temas iam sendo apresentados, divididos em módulos, pude ir construindo uma nova visão sobre a inclusão. Essa não foi minha primeira experiência com EaD, mas a primeira a distância em se tratando de formação continuada em docência. Destaco o ambiente virtual de fácil acesso às ferramentas e com opção de acesso ao portfólio próprio e dos demais colegas. A disposição das atividades a serem desenvolvidas, dos textos para leitura e dos materiais de apoio facilitaram a organização dos estudos pelos cursistas. Vale ressaltar, que apesar de não termos nenhum encontro presencial, a frequente atuação dos tutores e formadores contribuiu para nos aproximar, deixando mais aconchegante e familiar o ambiente virtual. Da formação à educação continuada, sempre tive muita dificuldade em aceitar o aluno com deficiência na sala de aula, por despreparo, sentimento de impotência e, também, por medo de errar. Durante minha formação acadêmica, em pedagogia, há onze anos, pouco foi falado e estudado sobre o tema inclusão. Como sempre trabalhei em escolas da rede 11 Escola Municipal- Belo Horizonte – MG. 49 privada, em turmas de educação infantil que, em sua grande maioria, não aceitavam crianças com deficiências, por isso acreditava que não havia necessidade de buscar mais informações e formação sobre o assunto. Somente quando ingressei na rede pública de ensino é que me dei conta de que a inclusão, vista por mim, na época, como sendo um equívoco, era inevitável, um caminho sem volta (para o bem). Desde então passei a ler artigos, conversar com outros profissionais, buscar informações, conhecer a legislação e ouvir experiências que me auxiliassem na prática. Sentia-me frustrada porque pouco aprendi sobre como é realmente o dia a dia na sala de aula, sobre como ensinar o aluno com deficiência, até que me deparei com alunos com deficiências múltiplas. Fiquei ainda mais perdida e tive que recorrer às equipes de atendimento desses alunos, aos acompanhantes de inclusão do município, às famílias, mas ainda sem respostas que atendessem, satisfatoriamente, as minhas inquietações. Tive que continuar buscando aprender mais sobre educação inclusiva, pois quando me deparei com alunos de EJA, vi que muitos apresentavam deficiência intelectual e de aprendizagem. Isso despertou em mim um sentimento de que precisava ir além, que precisava fazer mais por estes alunos. Eles tinham sede de conhecimento. O professor necessita compreender como ocorre a aquisição dos conhecimentos para então poder realizar as intervenções necessárias que auxiliem no desenvolvimento das competências e habilidades dos alunos. Nessa busca constante, o curso veio exatamente ao encontro das minhas necessidades. A cada módulo, minhas dúvidas eram elucidadas, meus conhecimentos prévios se aprofundavam e outros eram agregados e apreendidos. Os textos apresentados foram de pertinência ímpar, numa sequência lógica que dá embasamento teórico consistente, bem como aprofundamento sobre o assunto. Para somar a esta aprendizagem tivemos os fóruns de discussão onde as trocas de experiências e vivências permitiam uma sensibilização e reflexão sobre as variadas práticas desenvolvidas em outros municípios. Percebo o quanto minha mente se abriu para a visão de que há um horizonte ainda maior, no campo educativo, e que há uma infinidade de possibilidades de atuação e de trabalho efetivo junto às diferenças. Como diz Mantoan, na escola inclusiva, professores e alunos aprendem uma lição que a vida dificilmente ensina: respeitar as diferenças. Esse é o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa. 50 De toda a trajetória do curso, ficou um aprendizado: o de que é preciso ir além e buscar novas possibilidades educativas que contemplem as necessidades de todos os alunos que, apesar de diferentes entre si, carregam sua individualidade que deve ser respeitada. Ao professor cabe reconhecer as diferenças e limitações dos alunos e propor situações desafiadoras e estimulantes que promovam seu desenvolvimento, buscando na formação continuada subsídios para a sua prática. 51 PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS E A DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Ana Paula Radó Donnini 12 Quando comecei o curso, eu só trabalhava com sala de aula regular do Ensino Fundamental. No começo deste ano, fui chamada, através de um concurso em que fui aprovada, para assumir uma sala de recursos multifuncionais. Então, acumulei uma sala regular com uma sala de recursos até o mês de abril quando fiz umatroca da sala regular por outra sala de recurso. No momento estou com duas salas de recursos multifuncionais onde os alunos que frequentam, em sua maioria, têm laudo de deficiência intelectual, em níveis diferentes. Para mim, é tudo novidade. Estou meio ansiosa com os alunos novos, com essa nova forma de trabalhar e esse curso abrange situações que vivemos no dia a dia. A cada módulo proposto para estudo, novas portas se abriam, pois através das leituras e muitas informações novas que vão chegando até nós, nos fazem pensar, querer conversar, trocar ideias com outras pessoas e através do fórum de discussão e do bate- papo conseguimos resolver essas questões. Entre as experiências do cotidiano que o curso me ajudou está a construção do Projeto Político Pedagógico da nossa escola. É comum pensarmos no aluno padrão e não no aluno com deficiência. Quando esse assunto foi abordado, ajudou muito a opinarmos e colocar uma interrogação nos gestores e professores de nossas escolas. Disciplina é outro assunto que todos precisam pensar e agir de acordo com a realidade do seu dia a dia. De repente, percebemos que nós, professores queremos exigir dos alunos algo que, às vezes, para nós é difícil. Nós mesmos não sabemos como administrar nosso tempo e, também, precisamos de disciplina no nosso serviço. Flexibilização foi um assunto muito importante pra mim, pois precisamos aprender como fazer acontecer a flexibilização quando temos alunos nas nossas salas que precisam ser incluídos. A flexibilização possibilita adaptar atividades, recursos e a aprendizagem flui melhor. O Ensino Colaborativo pra mim foi uma novidade, pois estamos acostumados a trabalhar sozinhos com nossos alunos. O outro professor faz o trabalho dele sozinho 12 EMEIF “Pref. Zoroastro Alves” - Avaré – SP. 52 também e isso não traz benefício nenhum para os alunos. Depois que li sobre o ensino colaborativo, mudei totalmente o meu comportamento. Agora vou na sala de aula regular, converso com o professor, vejo o que posso fazer para ajudar o aluno que está nos dois ambientes. Isso ajudou muito. Sexualidade pra mim foi um ponto difícil, pois trabalho com alunos menores e quando vi tudo que dá pra ser feito, fiquei um pouco paralisada, pois o que faço é tornar as coisas mais normais possíveis para não tornar o assunto chamativo e tentar esclarecer de forma verdadeira as dúvidas que surgem para que as crianças não sofram por ignorância. Com a tecnologia assistiva, percebemos que não é porque a criança tem algum tipo de deficiência que ela não poderá aprender porque a tecnologia assistiva está aí para ajudar e muitos dos nossos alunos já estão até usando alguma coisa de comunicação alternativa. Achei maravilhoso, principalmente, para alunos que têm dificuldade para se comunicar. Quanto à avaliação percebemos que é um instrumento importante que está presente no cotidiano e sabemos que podemos (e devemos) avaliar os alunos, diariamente, e de diversas formas e para elaborarmos o planejamento, necessitamos de uma avaliação bem feita, pois é a partir dela que tudo começa. A inclusão digital é um ponto importantíssimo, pois a maioria dos professores é, totalmente, analfabeto digital. E como podemos querer que os alunos dominem se nós, professores, não sabemos também? Esse ponto foi muito importante, pois precisamos estudar e nos familiarizar com as novidades que aparecem para poder ajudar nossos alunos. Experiências no decorrer do curso eu tive muitas e foram citadas nas atividades propostas. O que nos falta é tempo para registrá-las e poder contribuir com vocês que nos ofereceram esse trabalho tão enriquecedor. 53 UM NOVO OLHAR PARA A CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA INCLUSIVA Andreza Patrícia Balbino Cezário 13 Atualmente, a escola vem cada vez mais buscando esforços na construção de uma educação inclusiva. Com a valorização das habilidades individuais dos alunos e um olhar mais atento para as diferenças presentes em sala de aula, aliado às práticas educacionais inclusivas, reconhecemos a importância da capacitação continuada dos professores. Neste sentido, o curso: “Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual”, nos proporcionou o aprofundamento de conhecimentos teóricos e metodológicos que visam garantir a igualdade de direitos e oportunidades ao aluno deficiente intelectual e sua efetiva integração social. Um novo olhar foi sendo tecido ao longo do curso Práticas Educacionais Inclusiva em Deficiência Intelectual, cujo objetivo foi aprofundar conhecimentos sobre a mesma e proporcionar o aprimoramento de ações pedagógicas a serem desenvolvidas em sala de aula. Inicialmente, tivemos que desenvolver novos conhecimentos de informática e Internet para realizar as atividades no ambiente virtual, oferecido com muita qualidade pela Plataforma do TelEduc. Essa trajetória oportunizou-nos muitos conhecimentos sobre o aluno com deficiência intelectual e seu desenvolvimento cognitivo e social. A troca de experiência vivenciada entre os professores, sempre focada no objetivo maior, de garantir a implantação e a operacionalização dos direitos de igualdade de oportunidades educacionais ao aluno deficiente intelectual, subsidiou, de maneira ímpar, o desenvolvimento dos conteúdos. O percurso foi todo realizado, partindo da sensibilização, reflexão e o reconhecimento da valorização das diferenças em sala de aula e suas inúmeras contribuições para o coletivo escolar. Desse modo, assumindo as práticas educacionais inclusivas aliadas às sociais, vemos o desenvolvimento integral do aluno com deficiência intelectual aumentar sua capacidade de relacionar-se com o meio cultural, social e familiar, no verdadeiro exercício da cidadania. 13 E.E. “João Pedro Fernandes” - Bauru – SP. 54 Levando este contexto, para a sala de aula, verificamos a importância dos registros das atividades do aluno deficiente intelectual. Através da confecção de portfólios, é possível realizar um contínuo acompanhamento do desempenho dos alunos, respeitando seu ritmo de desenvolvimento, possibilitando, desse modo, realizar intervenções necessárias que fortalecem sua integração social. No primeiro Módulo, iniciamos nossas primeiras atividades práticas em um ambiente virtual, através da familiarização e ambientação no TelEduc o que, no princípio, considerávamos de difícil entendimento, passou a ser mais uma ferramenta pedagógica eficaz e de fácil manuseio. Já a sensibilização em relação ao deficiente intelectual, iniciou-se no segundo Módulo com os fundamentos teóricos estudados na leitura do texto “Direitos fundamentais à proteção e integração social da deficiência à luz do texto constitucional” de Carlo José Napolitano. A legislação contemplada nos textos assegura o direito de todos as pessoas com deficiência à educação. Nós, professores, gestores e famílias contribuímos quando colocamos em prática o texto da lei. Assim, estamos colaborando para construir uma sociedade mais justa. O professor, enquanto mediador, necessita ter a compreensão de como ocorre a aquisição de conhecimentos por parte dos alunos, para poder realizar as intervenções necessárias que auxiliem no desenvolvimento das competências e habilidades dos mesmos. Finalmente, o curso proporcionou um desvendar de novos horizontes, com a soma de novas e reais possibilidades: o que era desconhecido ou aplicado ao aluno deficiente intelectual de uma forma empobrecida, passou a ser compreendido e assimilado através de práticas pedagógicas eficazesem sala de aula. De acordo com Jacques Delors (2003), a educação deve organizar-se em torno de quatro pilares de aprendizagens fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Trabalhamos temas como – Sexualidade, Flexibilização Curricular, Habilidades Sociais e o Ensino Colaborativo e Criatividade. Vislumbramos que a união gera a força, como os ventos movem os moinhos. Assim também ocorre em sala de aula, quando reconhecemos estratégias de ensino colaborativo, através do lúdico, de jogos de colaboração onde cada um contribui, integrando-se ao grupo, Esse movimento, em sala de aula, gera conhecimento, cidadania e melhoria das relações interpessoais. 55 Os resultados alcançados no curso, iniciaram-se quando aceitamos fazer parte do mesmo e assumir o compromisso de termos uma escola mais justa e solidária, incluindo todos na igualdade de oportunidades educacionais. Temos a certeza de que as melhorias ocorrem a longo prazo, mas já estamos constatando desde que se iniciou o curso, quando começamos a levar para sala de aula e para toda a comunidade escolar, as primeiras propostas de atividades práticas com o aluno deficiente intelectual. Começamos, assim, a perceber os primeiros resultados satisfatórios. Considerar bons resultados significa também considerar as conquistas. Nesse sentido, conseguimos, também, adquirir conhecimentos em informática, descobrimos a possibilidade de utilização de diferentes subsídios que facilitam o desenvolvimento dos alunos deficientes, a troca de experiências entre os professores, os hábitos diários de estudo e pesquisa. Assumir um trabalho pedagógico que garanta ao aluno êxito em sala de aula, requer de nós, professores, um compromisso com a capacitação continuada. O professor tendo maior acessibilidade aos cursos de capacitação, consequentemente, o atendimento ao aluno deficiente mental é melhor. Somar esforços para estabelecer práticas educacionais inclusivas, é levar para a sala de aula a construção de saberes humanos, o respeito à diversidade, com estratégias de ensino que propiciam a participação de todos os alunos. 56 NENHUMA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL É TÃO GRAVE AO PONTO DE IMPEDI-LO A TER AMIGOS Elaine Marques Santo Urbano 14 Na minha experiência, o que mais me marcou foi a frase “nenhuma deficiência intelectual é tão grave ao ponto de impedi-lo a ter amigos”. A partir daí, fiquei observando os alunos e constatei que eles próprios e seus familiares se sentem discriminados e diferentes no que diz respeito a amizade. Comecei, então, a fazer um trabalho de inclusão com os alunos onde o principal objetivo era se tornar acessível uns aos outros. Trabalhando em duplas, grupos, falando em primeiro lugar sobre o respeito mútuo entre todos, usando as diferenças em benefício de todos, buscando o equilíbrio, preparando as aulas pensando em todos os alunos para aproveitar e potencializar suas capacidades. Tudo isto precisava partir de mim, pois, eu sou o exemplo e o professor respeitando e incluindo... os alunos fazem o mesmo. Antes de conhecer o conteúdo do curso, posso dizer que não tinha esse olhar cuidadoso que hoje tenho e nem pensava que poderia ajustar o currículo em favor de alguns, mas agora compreendo a necessidade de um currículo pautado na ideia da diferença. Há pouco tempo, recebi um aluno com deficiência motora nas pernas e braços. No início, confesso que fiquei um tanto preocupada, pois, ele cai com muita facilidade, sua letra não é tão legível... Depois de alguns dias, percebi uma mudança no comportamento dos colegas. Posso dizer que veio fechar com chave de ouro o curso que realizei com a tutora e formadora Vera e Norma, pois, pude constatar o quanto uma criança dessa, na sala regular, não atrapalha e, sim, ajuda. Hoje, este aluno não tem apenas o meu apoio, mas da maioria dos colegas. Eles se revezam em quem vai dar segurança a ele. Tem sempre um colega da sala pronto a ajudá-lo a caminhar, a ir ao banheiro, levar sua bolsa, etc. E digo mais, essa sensibilidade, esse respeito à dificuldade do outro fez com que a sala, em geral, melhorasse no comportamento e na convivência, sem que eu pedisse, a classe compartilhou comigo a responsabilidade de tornar acessível mais uma vida em sala de aula, afinal “Quem ensina também aprende” (PAULO FREIRE). 14 EMEB- “Prof. José Barreto Coelho” - São José do Rio Pardo – SP. 57 TECER UM NOVO OLHAR ATRAVÉS DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS Maria Cristina de Andrade Silva 15 Nesse capítulo, relatarei as experiências conquistadas no Curso Práticas Educacionais Inclusivas na área da Deficiência Intelectual oferecido pela UNESP/SEESP/MEC cujo objetivo foi promover a formação continuada de professores, através da EaD, na área de deficiência intelectual, com enfoque nas práticas educacionais inclusivas. O curso ocorreu entre maio a outubro de 2010, propiciando aos professores possibilidade de discutir sua formação e a inclusão dos alunos. Esse relato pretende descrever algumas etapas de estudos em que o curso favoreceu o enriquecimento de nossa prática em sala de aula e muitas reflexões sobre apoio educacional para alunos com deficiência. Esse apoio só tem sentido para que os alunos possam aprender e ultrapassar as barreiras que lhes são impostas pela deficiência. Estamos envolvidos em discursos sobre a qualidade educacional que prioriza escola para todos. Muito se fala e se discute sobre a inclusão, mas, as práticas continuam a desejar. Somente a partir de 90, as propostas inclusivas para alunos com deficiências passaram a ser discutidas na Política Nacional da Educação. Essas propostas inclusivas, primeiramente, dependem de mudanças na maneira de pensar e agir da sociedade. Nesse curso, conhecemos muitas leis e tivemos oportunidade de discutir diferentes opiniões sobre a inclusão sob o olhar dos docentes que tem um contato direto com essa situação. Vivenciamos experiências de diferentes escolas do estado e sentimos na pele como é difícil trabalhar sem recursos e instrumentos didáticos. O profissionalismo não permite o descaso e valoriza cada momento de descoberta de um aluno especial. Aprendemos, sempre, com pequenos detalhes, com um simples olhar, um gesto. Para isso, basta que tenhamos compromisso com a educação de qualidade e a inclusão faz parte dessa qualidade. O curso elencou temas importantes que propiciaram muitas reflexões sobre os fundamentos da Educação Inclusiva, sobre práticas educacionais, ética, sexualidade, 15 CEJA – Parque Viaduto - Bauru – SP. 58 criatividade, ensino colaborativo, habilidades sociais, tecnologia assistida. Enfim, abriu- se um novo olhar sobre o processo ensino-aprendizagem para os nossos alunos com necessidades educacionais. Muitas atividades do curso instigaram investigação em nossas salas, priorizando o trabalho e o envolvimento entre professor e aluno. Ressaltou-se muito o papel do professor como mediador, preenchendo as lacunas e facilitando o aprendizado. As nossas tutora e formadora tiveram um grande desafio, pois elaborar materiais de apoio e socializar com professores com práticas diferenciadas é um árduo caminho para integrar todas as opiniões. É lógico que perceberam que os professores possuíam experiências riquíssimas e atentaram, carinhosamente, para as situações diversificadas que elevaram as discussões sobre as habilidades didáticas e a autonomia em sala de aula. Os fóruns com temas atuais e críticos proporcionaramum debate saudável e muitas descobertas interessantes, caminhos desconhecidos que achávamos estreitos e sem valor. Enfrentamos e conseguimos encontrar respostas, até então, indecifráveis. Como poderíamos saber? Participando das discussões e atividades presentes no curso, elencando dúvidas para ampliar o caminho do conhecimento e apagando todas as incertezas diante da inclusão. Aceitar os desafios, bater de frente com as implicações de temas polêmicos como a sexualidade para nossos alunos com necessidades educacionais; buscar interação familiar, outro tema trabalhado no curso. Difícil, mas não impossível. Querer implica derrubar barreiras que as famílias criam para não participar das atividades escolares. Trabalho com um público bem heterogêneo composto de jovens e adultos excluídos da sociedade. Uma visão distorcida marca, profundamente, a aprendizagem desses educandos. A educação de jovens e adultos vai além da leitura e escrita. Trata-se de um processo no qual as pessoas envolvidas são agentes e não depósitos de informações. Assim, primeiramente, trabalhamos a autoestima que, aos poucos, ajudamos a construir um cidadão mais estruturado e confiante em si mesmo. Assim, atentei que o curso poderia trazer novas ideias e conceitos para ampliar meu trabalho em sala de aula. Percebi as influências positivas que o curso trouxe para o meu trabalho, principalmente, para os alunos com dificuldades de aprendizagens. As atividades propostas foram bem vindas, propiciou socialização e compreensão de muitas dinâmicas elaboradas no decorrer do curso. 59 Refletimos muito sobre nossa prática pedagógica. Qualquer deslize trará feridas incuráveis, principalmente para os nossos alunos excluídos por uma sociedade ignorante. Enfim, é preciso estudar, investigar, compreender e transformar a realidade. As formadoras sempre persistentes nas atitudes ofereciam respostas competentes para evitar algumas distorções nas leituras, sempre favorecendo o conhecimento e as experiências de todos, ou seja, sempre articulando as necessidades e demandas da turma. É preciso buscar novos conhecimentos. O curso tentou abranger o máximo de vertentes com o objetivo de ampliar nossos horizontes, apagando as dúvidas que apareciam no decorrer de cada módulo. Sempre nos incentivaram a procurar informações e mobilizar o programa educativo, inserindo nossos alunos com deficiência na sala comum, pois, este aluno tende a ficar isolado diante das riquezas de conhecimento que há na sala de aula comum. A má interpretação dos conceitos da inclusão persiste e nega, muitas vezes, uma educação de qualidade. O curso permitiu-nos registrar valiosas informações e avaliar cada momento em um portfólio compartilhado com os participantes do curso. Muitos comentários enriqueceram os trabalhos dos professores e questionaram as leituras, ponto crucial para alavancar a temática e os questionamentos presentes nos módulos. São nesses momentos de troca que aprendemos mais e percebemos que precisamos utilizar, em sala de aula, mais estratégias contextualizadas abrangendo todos os alunos, envolvendo-os em todas as atividades. Após cinco meses de estudos, percebi que as questões mais relevantes vêm do próprio ser. A confiança é elo do crescimento do profissional. O apoio de um professor especializado seria ótimo, que a nossa realidade política permite. Mas, também, devemos confiar em nós, em cursos oferecidos por entidades sérias que se preocupam com o saber e excluir o pensamento negativo. O envolvimento favorece o debate da questão da inclusão em nossa sociedade e permite a veiculação de ideias, contribuindo, desse modo, para que todos possam conquistar um espaço digno entre o poder e o saber. Portanto, a inclusão é um motivo para que a escola se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas. A inclusão escolar de pessoas com deficiência torna-se uma consequência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino básico. Devemos estar cientes das novas mudanças e respeitar a legislação vigente para cumprir as normas com consciência e competência. 60 O importante é ressaltar que o curso levou-nos a refletir e questionar sobre nossos velhos conceitos sobre a inclusão. E, também, elevar a nossa autoestima diante das dificuldades que perpassam nossos desejos de mudanças, além de acrescentar novas visões modernas e inserir novos desafios para sermos um professor facilitador no processo de ensino-aprendizagem com criticidade e autonomia. É fascinante perceber que, em cinco meses, aprendemos muito e conseguimos avaliar nossas práticas: olhar para nossos alunos e dizer que não estamos sós diante das dificuldades. Almejamos que os discursos não fiquem soltos no ar, mas concretizados em nossas escolas, firmando nossos compromissos diante de uma realidade cruel e injusta nas escolas estaduais e municipais. O aprendizado é constante em diversas situações diárias, como preenchendo formulários, passando receitas médicas e cheques, tomando notas de recados, lendo jornais, revistas, cartas bulas de remédio, anúncio de publicitários e principalmente nas urnas eleitorais. Mas, como esses conhecimentos não são suficientes, precisamos ampliar nossas reflexões. O educando deve ter consciência da diversidade textual e ampliar seu repertório. O professor necessita organizar um plano diferenciado para os alunos portadores de deficiência e sempre procurar novas estratégias e estudar caminhos adequados para resolver os problemas em sala de aula. O curso valorizou as experiências dos professores, redimensionando o papel do educador, indicando-o como capaz. Mostrou aspectos relevantes diante das situações problemas e tentou direcionar para resolução dos mesmos. Enfim, é preciso que cada educador seja consciente que precisamos de esforços para identificar os problemas e as soluções no dia-a-dia. 61 INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: A CONTRIBUIÇÃO DE VIGOTSKI Maria das Graças Estanislau de Mendonça Mello de Pinho 16 Vigotski (1995) criticou o modo de se tratar a Educação Especial, pois julgava que não é na facilitação ao aluno que se provê a aprendizagem e o desenvolvimento, mas, justamente, na promoção de desafios é que se encontra a fonte de possibilidades de desenvolvimento. Complementa, ainda que a escola deve ser um local para a educação e, assim, privilegiar o abstrato ao concreto e o desenvolvimento das funções mentais superiores e cognitivas, ao invés da ênfase às funções sensoriais e motoras. É no contexto de sala de aula, ambiente cultural por excelência que, entre as muitas interações e vozes em ação, criação e transformação, subsidiam-se a emergência das Zonas de Desenvolvimento Proximal. Vigotski (1995) distingue dois tipos de deficiência, sendo uma primária, compreendida como biológica, tais como lesões orgânicas, cerebrais, malformações, e alterações cromossômicas, e as secundárias, do tipo social, com base nas interações sociais. Ele opõe-se as explicações, exclusivamente, biológicas para o desenvolvimento dos sujeitos com deficiência, uma vez que defende uma concepção que se orienta do plano social para o plano individual. “[...] é importante conhecer não só o defeito que tem a criança, mas a criança que tem tal defeito” (VIGOTSKI apud GARCIA, 1999, p. 44). Vigotski (1995) considera que as aprendizagens e as não-aprendizagens na escola devem ser atribuídas às formas de ensino, organizadas entre os professores e alunos, considerando suas histórias de aprendizagens anteriores. Descarta, uma visãoorganicista e individualista na qual o fracasso estaria relacionado, exclusivamente, ao aluno. Para ele a sociedade preocupa-se com aquilo que a criança não é, e com aquilo que ela não faz, dentro de um padrão de normalidade, quando o que é necessário é caracterizar seu desenvolvimento e não medi-lo. Vigotski (1988) julga que, de modo equivocado, a escola propõe às crianças tarefas apenas em seu nível real, que conseguem realizar sozinha, não explorando as 16 E.M. “Jardim Escola Norberto Marques” - Natividade – RJ. 62 promissoras possibilidades da zona de desenvolvimento proximal. Focaliza, principalmente, o aprendizado emergente, totalmente dependente do que será viabilizado socialmente, sendo considerado o bom ensino aquele que se adiantar ao desenvolvimento já conquistado. Um indivíduo, a partir da ajuda de outro, será capaz de realizar tarefas que não seria capaz, individualmente. O diagnóstico é um dos fatores que o educador deve observar, mas não é o ponto central definidor de toda a sua ação. Outros fatores devem ser incluídos, como as condições sociais e econômicas da criança, as pessoas com as quais convive, a qualidade das interações e as situações de aprendizagens anteriores. “Algum diagnóstico de deficiência seria, no seu entender, decorrente da ausência de uma educação adequada” (VIGOTSKI apud GARCIA, 1999, p. 43). Vigotski (1995) orienta-nos que o que conduz a limitação, a debilidade, a diminuição do desenvolvimento, opostamente estimula o movimento através de uma tentativa de compensação, por meios alternativos de eliminação das dificuldades impostas pela deficiência. Onde há a impossibilidade do desenvolvimento orgânico, ali está aberta de forma ilimitada uma compensação social. O autor destaca a importância da escola, enquanto local privilegiado de interação no contexto, principalmente, da sala de aula tanto entre professor e alunos, como alunos/alunos, na produção de sentidos, propondo reflexão, não apenas na sua característica em poder sistematizar o saber, mas ter legitimado os mecanismos pedagógicos de aprendizagem e ensino, de avaliações de desempenho, mas também classificatórias dos graus e séries, definindo, socialmente, a trajetória curricular e acadêmica dos indivíduos na sociedade. Julga-se necessário maior atenção às intervenções sistemáticas exploratórias de nível perceptivo e de atenção, em especial aquelas que destaquem e evidenciem atributos e características dos objetos e conceitos de aprendizagem. Para tanto, cabe aos educadores investir na pesquisa de estratégias instrumentais e simbólicas, especificas, ricas e suficientes, a serem empreendidas. Segundo Fierro (apud COLL, 2004, p. 207) A instrução mais completa que as pessoas com deficiência necessitam é obtida, entre outros meios graças a ampla utilização de redundância: ensinar de diferentes formas, com variados exemplos, por meio de canais sensoriais e de ações distintas, introduzindo também variações nas consecuções das tarefas. As crianças apropriam-se nas suas interações sociais tanto dos conhecimentos específicos mediados, como das estratégias do mediador, o que descreve teoricamente o processo de internalização de estratégias (VIGOSTSKI apud SMOLKA, 1991). Fierro 63 ratifica tal ideia e sugere alguns princípios e regras para aplicação com pessoas com deficiência intelectual. Com isso, propõe que a ênfase na intervenção deva ser na instauração de estratégias mais funcionais de processar e aprender tentando, sempre, conscientizar o aluno de seu processo cognitivo (FIERRO apud COLL, 2004). Para tanto, foca a atenção em estratégias específicas que serão necessárias, assim como quais serão as adaptações curriculares, passando das dificuldades dos alunos às dificuldades de ensino. O autor ainda destaca que os déficits dos alunos com deficiência intelectual podem requerer também recursos especializados da tecnologia, de código, de comunicação. A perspectiva educacional contrapõe-se a, meramente, classificatória e luta contra as piores previsões. Este educador trabalha para que o diagnóstico de deficiência grave em uma criança, revele-se errôneo, e que, graças a educação, não pareça tão grave, mas apenas moderado, que o diagnóstico de uma deficiência moderada, mostre-se apenas leve e que a deficiência leve manifeste simplesmente como dificuldade generalizada de aprendizagem. Quando Vigotski (1991) considera prospectivas as potencialidades do indivíduo, ele baseia-se não apenas no aspecto quantitativo, mas nos qualitativos, no sentido de se compreender o desenvolvimento em todos os seus sentidos, inclusive quanto ao autoconceito, a constituição da consciência e da subjetividade. Goés (2000), baseado em conceitos de Pierre Janet (1929) destaca a importância da história social, pelo papel regulador da linguagem na formação da personalidade e nos processos de individuação que, segundo este autor, mesmo que se esteja isolado da sociedade, a influência do social permanece. Para a promoção da permanência e sucesso na carreira escolar do aluno com deficiência é necessário a implantação de adaptações curriculares que podem ser de grande porte quando se referem à adaptação de objetivos, organizados pela equipe da escola, da mesma forma que os conteúdos, o sistema, a metodologia de avaliação e a temporalidade de acordo com a especificidade de cada aluno e, de pequeno porte, as que se referem às adaptações organizativas, de objetivos de ensino, conteúdo, avaliação, método de ensino, temporalidade, cabendo responsabilidade ao professor, sempre precedidas de rigorosa avaliação do aluno em todos os seus aspectos físico, cognitivo, linguístico, gráfico, comportamental, social, afetivo. Destaco aqui, o conceito de currículo funcional que se apoia em princípios teóricos e metodológicos que irão auxiliar o professor na organização de atividades funcionais, valorizando a independência e autonomia, mesmo que possibilitadas pela 64 observação ou imitação de outros colegas ou modelos. Acrescente-se que devem ser adequadas a idade cronológica do aluno. Para tanto, leva-se em conta o grau de complexidade, da menor para a maior complexidade; as avaliações do processo pelo aluno, bem como a avaliação final dos objetivos alcançados. A escola deve prever e prover adaptações. Reconhecido o grande desenvolvimento da criança, principalmente, na faixa etária compreendida como período crítico de zero a três anos, sabe-se, que se algumas conexões neurais não forem desenvolvidas podem determinar sérios prejuízos à criança. A grande dificuldade para se libertar das amarras das disciplinas acadêmicas para uma compreensão mais ampla de que o currículo é para a vida do cidadão, é um dos entraves na Educação Inclusiva. Revela-se, ainda, complexo a incoerência entre o sistema educativo com sua organização em classificação de séries ou níveis e a matrícula por parte do aluno com necessidades educativas especiais, já que há exigência dos mesmos critérios e as mesmas classificações. É necessário que haja preocupação não só com as intervenções convencionais, mas também com aquelas que a partir de uma efetiva e eficaz identificação do nível de desempenho do aluno, ou de sua Zona de Desenvolvimento Real, sejam diversificadas para o desenvolvimento de competências e habilidades sensoriais, motoras, linguísticas, lógicas, cognitivas, curriculares, comportamentais, sociais e emocionais do Deficiente Intelectual que, calcadas em adaptações, revelam-se necessárias e possíveis. 65 O PROCESSO EDUCACIONAL INCLUSIVO EM SALA DE AULA Débia RégiaSilva Guimarães Borges 17 A formação de profissionais da educação requer um ensino de qualidade, e voltado para a diversidade para que se atenda às diferenças. Nessa perspectiva o Curso Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual proporcionou mudanças no que tange a quebra de barreiras ideológicas, com uma nova postura crítica no processo de ensinagem. O curso teve como objetivo capacitar os profissionais da educação, subsidiando o trabalho com alunos com deficiência, especificadamente, a intelectual, favorecendo a troca de conhecimentos. Iniciamos as atividades com leituras e troca de experiências entre os cursistas e tutores, tendo alguns diagnósticos avaliativos que nos oportunizou um melhor aprendizado e conhecimento sobre o assunto abordado em questão, principalmente, sobre estratégias e intervenções para o trabalho com alunos com déficit intelectual. Diante desse aprendizado, foram percebidos muitos resultados, pois gradualmente, os alunos foram tendo melhor entendimento e já se posicionavam como entendedores básicos do assunto. Vimos que, antes de iniciar o curso, muitos não tinham conhecimento do que era trabalhar com a diversidade. Esse curso foi primordial e extremamente válido para a consolidação e efetivação de conhecimentos necessários para a formação profissional de todos os participantes. Constatamos que o Curso Práticas Educacionais Inclusivas- Deficiência Intelectual possibilitou-nos quebra de barreiras ideológicas e muitos conhecimentos para se trabalhar com o aluno com déficit intelectual, tendo embasamento para fazer com que o aluno se insira no contexto, não somente educacional, mas também, social, por meio de estratégias, flexibilizações e intervenções para este ter sua própria autonomia de inserção social. A experiência inclusiva em sala de aula, posteriormente, à capacitação promovida pelo Curso Praticas Educacionais - Deficiência Intelectual, favoreceu avanços significativos, elevando minha prática pedagógica. Mesmo já vivenciando a Educação Inclusiva em Goiás, pude melhor trabalhar com esses alunos, pois implantei 17 Col. Est. “Previsto de Morais” - Caiapônia – GO. 66 uma nova proposta educacional com base nos princípios de inclusão, assimilados por meio das trocas de experiências com os colegas, as leituras direcionadas, as avaliações diagnósticas e outros subsídios dos tutores. Comecei, portanto, adotando o paradigma da inclusão que consiste no processo de adequação da realidade das escolas e do alunado que, por sua vez, representa a diversidade na escola. É notório que esse processo é gradativo. Sabemos que ainda há muitas relutâncias contra ele, mas faz-se necessário a conscientização e sensibilização constante, pois a educação inclusiva e o trabalho com os alunos com deficiência é um desafio. Entretanto, quando se fala em garantia de direitos à essas pessoas especiais, percebe-se que há muito a se fazer. O modo de vida da sociedade precisa ser mudado. A cultura de que as pessoas que têm limitações é um ser inválido, precisa sair dos pensamentos humanos. Na Unidade em que trabalho, a conscientização foi feita em reuniões pedagógicas, onde pudemos formar grupos de estudos, utilizando as leituras proporcionadas pelo curso, onde todos puderam ter acesso, também, às várias informações veiculadas no curso. E, em sala de aula, passamos a fazer a flexibilização dos conteúdos, adaptando o que se faz necessário e utilizando intervenções e estratégias pedagógicas voltadas para os alunos com déficit intelectual. Mas quando me coloco a pensar o antes e o depois, vejo que, mesmo lentamente, os professores da unidade escolar passaram a ter uma nova visão e com isso pude perceber o desenvolvimento profissional e pessoal que proporcionou esse curso, em minha vida. Na sala multifuncional (A.E.E.), aproveitei várias informações para trabalhar com o atendimento educacional especializado, principalmente, quando se trata de estratégias de trabalho com os alunos com deficiência intelectual. Atualmente, temos uma equipe que dá suporte à escola para orientar os professores com o trabalho para a diversidade. Muitos outros benefícios eu poderia mencionar, mas o que me deixa mais confiante e otimista, é que por meio dessa capacitação, pude transformar o meio em que trabalho, com momentos de estudos subsidiados pelas leituras do curso e pude perceber o ambiente modificado e as atitudes em relação aos alunos com necessidades educacionais especiais. A indiferença promove a distinção das relações sociais e leva a estupidez, e o que precisamos é restaurar a sensibilidade do ser humano uns com os 67 outros. É sabido que aprendemos com as diferenças e que cada ser tem sua limitação, mas, também, tem suas habilidades. Segundo Guimarães Rosa, “o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando”. Assim é o processo de Educação Inclusiva e o trabalho de conscientização de aceitação às diferenças. Salientamos que várias políticas públicas estão, de fato, comprometidas a mudar o cenário atual da educação no que se diz respeito a “Educação para a Diversidade” e este é um grande desafio que instiga o professor a se capacitar e os cursos de extensão como estes de Educação a Distância oferecido pela UNESP/BAURU fazem com que tenhamos embasamento para o nosso trabalho, oportunizando ricas intervenções pedagógicas para nosso trabalho, tornando o ambiente escolar acolhedor, enfim, uma escola para todos, propiciando aprendizagem de todos. Ressalto, entretanto, que há um caminho longo a se percorrer, já que na prática nos deparamos ainda com profissionais desqualificados que necessitam se capacitar para trabalhar com as diferenças. Sabe-se, também, que temos escolas que ainda não oferecem estruturas adequadas para atender as necessidades dos alunos e suporte aos professores, mas vejo que estamos no caminho e esse é um deles, participar de cursos preparatórios de extensão que qualificam, não somente mudam maneiras de se trabalhar, mas também a concepção ideológica, pois para transformar a educação, precisamos mudar a concepção. É isso que esse curso nos proporcionou. Conclui-se que há vários desafios para melhorar o processo de ensinagem com os alunos com necessidades educacionais especiais. Os temas propostos no curso foram repassados através de grupos de estudos na unidade escolar, portanto, abriram espaços para outros se qualificarem meio da educação a distância. Pudemos, assim, ter maior compreensão do assunto, não somente entre professores, mas no contexto escolar que extravasa fronteiras para a comunidade em geral. 68 EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL: NOSSO PAPEL COMO EDUCADOR Deize Mara Cecconi 18 Após a conclusão desse curso, posso garantir que todos que participaram de uma forma ou de outra, mudaram sua forma de pensar e sua postura de educador. Eu mesma, como educadora que sou, há 23 anos mais ou menos, sempre tive uma postura diferenciada de alguns profissionais que convivi nesses anos todos. Sempre me preocupei com o bem estar dos meus alunos e o que poderia causar na sua formação tanto para o positivo quanto para o negativo, mas percebia que nem todos pensavam como eu. Presenciei muitas cenas de injustiças e violência psicológica com crianças e adolescentes. O curso “Práticas Educacionais Inclusivas - Deficiência Intelectual” só veio a acrescentar e a aprimorar meus conceitos sobre Inclusão. Muitos temas não conhecia, muitas sugestões foram interessantíssimas, documentáriosmaravilhosos, reflexões importantes sobre nossa postura como educadores, textos valiosos para nossa formação, atividades práticas que oportunizaram uma observação mais detalhada de alguns casos de Inclusão que temos nas nossas escolas, a flexibilização do currículo na educação inclusiva, enfim, uma oportunidade única que tivemos o privilégio de participar. Sempre fui muito observadora com relação ao comportamento dos alunos, os que apresentam dificuldades tanto de comportamento, como de aprendizagem ou apresentam alguma deficiência são os que mais necessitam de apoio de toda a equipe educacional e multidisciplinar. Estes alunos são vítimas da própria sorte, são crianças e adolescentes que necessitam de carinho, atenção, afetividade e orientação para que se desenvolvam e sejam felizes. Este é nosso papel como educador. Difícil missão, sim, sem dúvida, mas não impossível. Cabe a nós, gestores, orientar, capacitar e disponibilizar recursos para que a Inclusão realmente aconteça nas nossas escolas. Tenho participado de reuniões intersetoriais aqui no meu município e pude perceber, após ter concluído este curso que estou muito mais preparada, informada e integrada neste assunto tão polêmico, que é a Inclusão. Consigo perceber com mais clareza a falta de conhecimento e até de 18 EMEF "Chrisostimo Redigolo” – Cedral – SP. 69 humanidade de alguns profissionais da educação. E fico indignada com a postura de profissionais que se dizem educadores e cidadãos. Acredito que o nosso país esteja com certo atraso neste quesito “Educação e Inclusão social”. As pessoas ainda não entenderam o objetivo da inclusão. As escolas não querem alunos que exigem uma atenção maior, um atendimento individualizado ou diferenciado ou que o professor tenha que se preparar melhor e planejar suas aulas, tornando-a mais agradável e prazerosa. Elas querem que o aluno se adapte a ela e não a escola ao aluno. São profissionais preparados? Sabemos que na prática não é tão simples. Há, sim, casos muito difíceis de lidar, casos que nos tiram o sono e não achamos caminhos e soluções. Mas, não podemos e não devemos desistir. A arte de educar é uma tarefa bastante complexa, mas é para profissionais que têm paixão pela sua profissão e abraçam a causa com persistência, serenidade, comprometimento e muita responsabilidade. A história da Inclusão Social e educacional tratada nos primeiros capítulos foi de suma importância para que eu abraçasse ainda mais a causa (Inclusão Social). A Educação Inclusiva, fundamentada em princípios filosóficos, políticos e legais dos direitos humanos, compreende a mudança de concepção pedagógica, de formação docente e de gestão educacional para a efetivação do direito de todos à educação. Portanto, é imprescindível que os profissionais da educação, saúde, assistência social e conselhos tutelares conheçam e façam uso das legislações que embasam a “Educação Inclusiva”. Tivemos momentos significativos de trocas de experiências com os colegas e com as tutoras que muito colaboraram com a nossa formação. Fico muito feliz em ter sido contemplada para fazer esse curso que me possibilitou muitos conhecimentos. Agora, estarei disseminando tudo que aprendi para toda a equipe que coordeno e para todos os casos que tiver ao meu alcance como cidadã que sou. O Ensino Colaborativo, um dos temas abordados no curso, é um sonho de muitos profissionais que atuam na educação. Um trabalho em equipe, com apoio, compartilhando nossas angústias e incertezas. Essas trocas enriquecem nosso trabalho, nos dão confiança e, principalmente, condição de sermos atores de nossa própria prática. O conhecimento das teorias do desenvolvimento humano é também fundamental para lidarmos com a questão da inclusão social no nosso meio. Enfim a Inclusão escolar está inserida em um movimento mundial denominado Inclusão Social que tem como 70 objetivo efetivar a equiparação de oportunidades para todos, inclusive para os indivíduos que, devido às condições econômicas, culturais, raciais, físicas ou intelectuais, foram excluídos da sociedade, como sugere a música “Inclassificáveis” de Arnaldo Antunes, interpretada por Ney Mato Grosso, onde a Exclusão Social, o preconceito e a Diversidade Cultural toma conta de muitos espaços na nossa sociedade. Parabenizo e agradeço a todos que participaram deste estudo e destas reflexões acerca da Inclusão Social. 71 A INFLUÊNCIA DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO AFETANDO NOSSOS HÁBITOS, MODOS DE TRABALHAR E DE APRENDER Leila Paim de Souza 19 É inegável a influência das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs em nossas vidas, uma vez que fazem parte de um novo cenário sócio-cultural, afetando e modificando nossos hábitos, modos de trabalhar e de aprender. Além de introduzir novas necessidades e desafios relacionados à sua utilização, estão cada vez mais presentes no cotidiano de todos e parece impossível imaginar a vida sem essas novas ferramentas tecnológicas. Elas devem servir de suporte para o desenvolvimento de habilidades no processo ensino-aprendizagem, auxiliando o trabalho do professor e o futuro profissional do educando. É necessário lembrar que, especialmente o computador, embora não seja a resolução de todos os problemas de aprendizagem, é, sem dúvida, importante recurso para ampliar as possibilidades de conhecimento devido ao seu poder motivador e ferramenta de acessibilidade que permite adequá-lo às necessidades de cada um. Diante dessas novas exigências, precisamos refletir sobre nosso aperfeiçoamento profissional e a nossa prática pedagógica, ainda mesclada de conceitos tradicionais vivenciados enquanto alunos. Neste cenário, os cursos de Educação a Distância – EaD apresentam-se como opção ativa e atual para o nosso aperfeiçoamento e as novas tecnologias, ferramentas complementares e eficazes no ensino-aprendizagem. Na perspectiva atual, pensamos em Educação Inclusiva como um processo que se amplia com a participação de todos. Ela requer mudanças significativas na estrutura e no funcionamento das escolas, na formação e postura do professor e nas relações família-escola, de forma a promover uma aprendizagem significativa e o desenvolvimento pessoal de todos. Assim, as TICs apresentam-se como recursos ímpares tanto na formação profissional como na prática pedagógica. Participar do Curso Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual, promovido, em parceria com o MEC/SEESP/UNESP, foi uma experiência única para meu crescimento pessoal e profissional. 19 Escola Municipal “DEP. Wilson da Paixão” – Catalão – GO. 72 Foi a primeira experiência com essa modalidade de ensino e, confesso-me surpresa pela eficácia e funcionamento desse curso, pois já era sabido que essa modalidade sofre críticas por parte de alguns céticos. Porém, não posso deixar de registrar meu contentamento com a metodologia, o conteúdo, os professores formadores, enfim, com toda equipe envolvida e, tenho certeza, contribuiu, enormemente, para esse sucesso. Pelo ambiente TelEduc foi possível trabalhar de forma objetiva e dinâmica por sua eficiente estrutura organizacional. Todas as ferramentas foram exploradas pelos professores formadores e pelos alunos. Gostaria, todavia, de destacar a sala de bate- papo e o correio que foram espaços ímpares onde trocamos informações, opiniões e tiramos dúvidas e, ainda nos relacionamos de forma muito cordial. Também o conteúdo escolhido foi bastante oportuno e bem selecionado, servindo como base para novos conhecimentose suporte para as atividades desenvolvidas. Nos Fóruns de Discussão, tivemos a possibilidade de emitir opinião, trocar ideias e refletir sobre a inclusão e outros assuntos relativos a nossa profissão. No portfólio, não só arquivamos nossos trabalhos individuais e em grupo, trocamos comentários de atividades com os colegas, tutores e formadores como também tivemos acesso à ferramenta perfil que nos permitiu conhecer melhor cada colega, tutor e formadores. Quero ressaltar que mesmo sendo Educação a distância esse processo de ensino- aprendizagem, mediado por tecnologias, com professores e alunos separados espacialmente, não perdem em nada para os presenciais. Sua essência e qualidade e as relações desenvolvidas são iguais a dos cursos presenciais. Temos ainda a flexibilidade de escolher o horário mais adequado para realizar nossas leituras e atividades e ainda estamos ligados por laços de interesses comuns, afinidades e empatia, desenvolvidos ao longo do curso. Por apresentar tantos benefícios, os cursos de educação a distância devem ser mantidos e ampliados para o acesso de um maior número de alunos-professores porque são opções eficazes para aqueles que não dispõem de tempo ou acesso a cursos presenciais, que é o meu caso e de muitos outros profissionais. O Curso Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual apresentou- se como opção acessível no município de Catalão para quem quer se aperfeiçoar na área de inclusão, visto que os mesmos só estão disponíveis em Uberlândia-MG ou Goiânia- Go, locais mais próximos. Portanto, na impossibilidade de me deslocar para outro 73 município, esse curso a distância me proporcionou a oportunidade de aperfeiçoamento e preparo para ampliar minha prática pedagógica. Tenho 20 anos de prática Educacional e, nesta caminhada, tenho buscado aliar a teoria apreendida nos cursos de especialização e de aperfeiçoamento à prática pedagógica, porém, atualmente um assunto tem me inquietado diante da responsabilidade de professor e tem me levado a buscas constantes e a vários questionamentos. Minha escola está preparada? Eu estou no caminho certo? Onde buscar soluções? O que fazer? Tenho vivido os dois lados da moeda: o de professor e o de mãe na luta pela inclusão e nem sempre encontramos respostas para nossas perguntas. Diante de tal situação, por mais adversa que seja, não podemos fechar os olhos e deixar de trilhar caminhos para abrir novos horizontes no processo de inclusão. Pensando assim, idealizamos na Escola onde trabalho o Projeto “Entrelaçando Saberes - Informática Educativa e Educação Inclusiva”, cuja iniciativa conta com outros professores parceiros e apresenta-se como vanguarda desse processo . Ele propõe resgatar um ensino que realmente seja inclusivo, buscando desenvolver práticas educacionais para alunos com deficiência intelectual, acrescentando ao trabalho de sala de aula, técnicas e abordagens diferenciadas de conteúdo que permitam a esse aluno as mesmas oportunidades, democratizando, assim, o processo de ensino-aprendizagem. O Projeto “Entrelaçando Saberes – Informática Educativa e Educação Inclusiva” atende aos alunos em suas dificuldades elementares, uma vez que busca superar essas deficiências para que o aluno sinta-se inserido no processo de ensino aprendizagem e desenvolva suas habilidades, respeitando as possibilidades de cada um. Desta forma, o Curso Práticas Educacionais Inclusivas – Deficiência Intelectual me auxiliou na ampliação de conhecimentos importantes na área de inclusão, esclarecendo muitas questões sobre a Legislação vigente e fornecendo conceitos que serviram de apoio ao meu trabalho. Ainda, trouxe sugestões objetivas e criativas, particularmente na área de Tecnologia Assistiva (T.A). Portanto, foi um curso que realmente entrelaçou teoria à prática de sala de aula e abriu horizontes para a busca de parcerias e conscientização de todos os envolvidos: escola, família, administradores e outros. Esse curso abriu as “portas” para incluir a diversidade, criando oportunidades reais para mobilizar as potencialidades humanas de todas as crianças e dar realmente as mesmas oportunidades a todos que almejam uma escola inclusiva. 74 Sabe-se que a discussão sobre inclusão vem de longa data e prevista em Legislação Federal desde 1988. Em 2008, houve uma reformulação tornando-a obrigatória na rede regular de ensino. Entretanto, a sociedade não se vê preparada para assumir uma postura inclusiva e sequer percebe-se disposição de mudança neste aspecto. Talvez isso se dê porque, culturalmente, as pessoas ainda têm arraigadas em si preconceitos advindos de longa data e influências diversas. Diante dessas perspectivas e constatações, precisamos refletir sobre o papel da Escola, ambiente no qual as reações diante dessa diversidade é conflituosa e confusa, ainda. Então, é preciso buscar caminhos que amenizem essas relações e estabeleçam direcionamento seguro e eficaz da prática pedagógica. Diante do exposto se faz necessário pensar como, verdadeiramente, efetivaremos a escola inclusiva? O que cada um pode fazer? O que precisamos mudar? A resposta para todas essas perguntas está naqueles que buscam desenvolver sentimentos e habilidades para dar oportunidades aos que não as têm, seja disponibilizando cursos, seja realizando-os, seja criando acessibilidades ou afagando as ansiedades, diminuindo assim as dificuldades dos que possuem algum tipo de deficiência. E, por fim, a título de reflexão, deixo um pensamento que entendo ter tudo a ver com nossa profissão, “embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. E nunca esqueçamos que somos os frutos de nossas escolhas. 75 MINHA EXPERIÊNCIA COM CURSO EAD Liliane Mendonça da Silva Nascimento 20 O presente texto apresenta um breve relato da minha experiência com o curso a distância (EaD) que acabei de fazer sobre Práticas Educacionais Inclusivas - Deficiência Intelectual, oferecido pela UNESP, cidade de Bauru/SP. Serão relatadas também algumas reflexões da minha prática educativa, enquanto professora e da minha prática com a inclusão. Desde 2008, faço um curso EaD em Língua Espanhola e esse ano tive a oportunidade de fazer outro curso a distância, na área da inclusão. Na minha concepção, essa modalidade de curso seria mais fácil, mais tranquila, ou seja, seria um curso que não teria muitas atividades para fazer, seria em menor quantidade do que em uma universidade com curso presencial. Pensava também em como seria o trabalho dos professores com os alunos. Nossa! Quanto me enganei!! Sempre tive tantas informações, tantos textos para ler, muitas atividades interessantes a fazer que pensei que elas não seriam possíveis de se realizar a distância. Também não posso me esquecer de falar dos mestres que muito me ensinaram, tanto dando explicações como respondendo aos fóruns. No início do curso, é muito difícil saber como “manobrar” as ferramentas que nos são dadas nos sites para podermos acessar os links e conseguirmos salvar textos para ler, resolver exercícios, participar de fóruns (olha ele aí de novo!!) para trocarmos nossas experiências. Mas com o tempo, a gente aprende a lidar com estas ferramentas e trabalhar e estudar de forma mais tranquila. Sou formada em Letras, trabalho em escola pública desde 1997, mas até em 2008, não havia trabalhado com inclusão. A partir de 2009, o Estado me colocou para trabalhar com um aluno de inclusão, cuja condição, a princípio, era Autismo. Tive muita resistência no início, pois nunca havia feito nenhum curso nessa área, nem havia me interessado pelotrabalho de inclusão e não sabia como agir. Aos poucos, fui lendo sobre o assunto. Lia muitos livros indicados pela minha coordenadora, lia sobre o assunto pela internet, perguntava aos médicos quando eu, meu marido ou nossos filhos iam consultar. Segui trabalhando, mas meu aluno não apresentava características de pessoa 20 Colégio Estadual “João Netto de Campos” – Catalão - GO 76 autista. Então comecei a questionar minha coordenadora sobre a provável condição dele. Chamei a mãe para conversarmos sobre o problema do filho e ela me disse que ele tinha Síndrome de Asperger. Novamente fui buscar fontes de conhecimentos para me inteirar do assunto e poder trabalhar com ele da melhor maneira possível. Contudo, ao estudar sobre essa síndrome, percebi novamente que o aluno não apresentava características dessa síndrome e retornei para a coordenadora sobre o problema desse aluno. Por fim, pedimos à mãe que nos mandasse um laudo médico atualizado do filho para que pudéssemos arquivar na escola. Quando o laudo chegou, dizia que ele tinha Esquizofrenia Paranóide Progressiva. Mais uma vez busquei sobre o assunto e, enfim, constatei que as características de comportamento que ele apresentava coincidiam com o seu laudo. Pude, então, trabalhar com ele com mais segurança. Uma das atitudes das pessoas que mais achei interessante era quando me perguntavam sobre a doença do aluno. Ao responder a esses questionamentos, muitas pessoas me perguntavam se eu não tinha medo de trabalhar com ele. Outras falaram para eu desistir de ficar com ele e outras, ainda, diziam para eu ter cuidado com o que ele poderia fazer, pois, para quem ainda não sabe, esquizofrenia é popularmente conhecida como a loucura. Na verdade, nunca tive medo dele. Sempre procurei ser firme mantendo sempre a educação. Ensinei-o a manusear o corretivo, a esperar a vez de falar e muitas coisas que pensava “não dar conta”. Essa doença é muito ingrata, pois, por ser progressiva, com o passar do tempo, ele irá perder aquilo que já aprendeu. Neste ano, ele começou a estudar novamente, mas, a sua doença agravou e acabou desistindo de frequentar a escola. Então, colocaram-me para trabalhar com uma aluna que possui déficit cognitivo leve a moderado e imaturidade associado a transtorno do déficit de atenção. “Nossa, quanta coisa que ela tem...”, pensei. Bem, lá fui eu novamente procurar informações sobre o diagnóstico. Desta vez, pude ir aos especialistas que cuidam dela, pois a mãe leva-a numa neuropediatra, de dois em dois meses e a uma psicóloga, uma vez por semana. Claro que não deixei de conversar com a mãe, pois é ela quem toma a iniciativa de fazer o tratamento na filha. Em primeiro lugar fui à neuropediatra. Conversamos muito a respeito do laudo e ela me esclareceu várias dúvidas. Também contei a ela como eu estava trabalhando com a aluna e ela me disse para continuar neste caminho, pois estava indo bem. Saí do 77 consultório mais aliviada, pois, como já disse, ainda não tinha nenhum conhecimento maior sobre inclusão ou qualquer outro assunto relacionado. Num outro dia, fui ter com a psicóloga uma conversa mais detalhada sobre a aluna. Foi muito bom esse papo, pois ela me orientou em como agir com a aluna, elogiou o que eu estava fazendo certo e corrigiu o que precisava fazer diferente. Também disse que essa deficiência da aluna é hereditária, pois o pai tem este déficit, só que em grau maior do que o dela. Sinceramente, saí mais leve do que entrei. Percebi que estava começando a dar um primeiro, mas importante, passo no trabalho com alunos especiais. E o mais importante de tudo veio logo em seguida: foi iniciar outro curso a distância na área de deficiência intelectual. Este curso foi tão importante para mim (e creio também para as minhas colegas) que fica muito difícil a gente não elogiar. No entanto, no começo não foi fácil. A princípio, não sabia como seriam tratados os conteúdos, como seriam os trabalhos, as leituras e outras atividades, pois nunca havia feito nenhum tipo de curso nessa área. Outra expectativa era saber o que eu iria aprender e como poderia aplicar estes conhecimentos. Como disse, anteriormente, este curso foi muito bom para o meu crescimento enquanto profissional e enquanto pessoa. Trouxe-me reflexões, conhecimentos que eu nem sabia que existiam. Se mudou a minha prática? É claro que mudou, mas não somente a prática como também o meu modo de pensar e enxergar a inclusão e as pessoas que fazem parte dela. Quantos foram os vídeos interessantes!! Assisti a um vídeo com o Projeto Pipa e até hoje não deixo de refletir sobre como há preconceitos. Pensava que os alunos não conseguiam aprender ou se aprendiam era depois de muitos anos na escola. Hoje sei que alguns são assim, mas há os “diferentes” entre os deficientes. Nesse curso, aprendi a fazer trabalho em grupo a distância e é muito interessante. Acreditava ser impossível. Li tantos textos que trouxeram informações, esclarecimentos e reflexões sobre a inclusão, sobre os direitos destas pessoas, a ética, a avaliação, o trabalho dos professores, sobre também as habilidades sociais...difícil é lembrar de tudo. A cada texto discutíamos nos fóruns, fazíamos atividades relacionadas, trocávamos experiências através do correio e, com isso, íamos caminhando rumo ao conhecimento sobre alunos especiais. Outra coisa que me chamou a atenção nesse curso é que aprendi não apenas sobre a deficiência intelectual, mas, também, sobre algumas outras agregadas. Entendi 78 que a especialidade está associada a vários tipos e, com isso, somamos outras informações, mas é claro que sem perder o foco central do curso que é a deficiência intelectual. São tantos momentos que ficarão registrados em minha memória que fica difícil não citá-los e, ao mesmo tempo, não conseguirei citar todos, mas um que me fez muito feliz, foi a troca de experiências com as novas colegas que nos foi dado de presente. Presente sim, pois conversávamos sobre o curso, as atividades, fazíamos comentários construtivos e trocávamos experiências o que me fez crescer, pensar e, muitas vezes, mudar de atitude em relação a minha vivência como professora de ensino especial. Ah, tem também o bate-papo... Lógico que depois dos textos lidos e atividades feitas ou ainda por fazer, o bate papo foi, se posso dizer assim, “campeão de audiência!” Os primeiros foram focados nos textos, nas dúvidas que tínhamos, pois não conhecíamos ainda ninguém, nem mesmo a tutora e a formadora quem nos acompanhava. No entanto, com o passar das semanas, já sabendo como funcionavam as ferramentas do site, e sendo as atividades postadas para que todos pudessem ler, comecei a dar uns “pitacos” para as minhas colegas. No início, fiquei apreensiva, pois pensei que alguém poderia não querer ou não gostar destes comentários que eu fazia. Ora, ora!! Como me enganei!! (Graças a Deus!!) Minhas colegas começaram a responder sobre os comentários que eu fazia, elogiavam e também passaram a dar também os “pitacos” nos meus trabalhos. Olha, como aprendi com elas!! Quem está de fora consegue ver melhor, isto serve para tudo, inclusive para as respostas dos trabalhos. Quantas vezes, ao receber os comentários, mudei a resposta, ou acrescentei. A partir daí, os bate-papos foram ficando cada vez mais esperados, pois além de tirarmos dúvidas, conversávamos sobre as atividades, agradecíamos os comentários feitos pelas nossas colegas. Ficávamos tristes ao saber que esta ou aquela pessoa estava passando uns dias difíceis e assim por diante. E, como não poderia faltar, são os elogios (e penso que todas as minhascolegas concordarão) à tutora e à formadora que muito nos ajudaram a crescer neste processo de aprendizagem. A atuação desta dupla (como Batman e Robin) em se preocupar com o nosso aprendizado, em elogiar todas (sim, todas!) as nossas atividades, sempre com uma palavra amiga. Caso não fizéssemos da forma como fora pedido, por não conseguirmos de alguma forma, sabíamos que sempre podíamos contar com elas. E, pensem, quantos alunos, quantas dúvidas e quantos trabalhos para corrigir, fazer comentários e tudo mais, no prazo de uma semana! Não foi fácil não! E sabemos disso. Contudo estavam 79 sempre com um entusiasmo contagiante que nem pensei em desistir. Sempre podíamos contar com orientações preciosas e importantes sobre cada assunto dos módulos, com explicações, com exemplos claros que faziam a gente entender melhor o que o autor queria dizer em seu texto. Depois de passar por este processo todo, pergunto: como não mudar de atitude? Fica quase impossível não haver crescimento pessoal e profissional com um curso que me acrescentou tanto! E, em se tratando de curso EaD, fico satisfeita de saber que pude participar com um grupo tão bom quanto este, conviver com pessoas que me ajudaram a caminhar neste processo de construção do conhecimento. Enfim, aprendi que para trabalhar com pessoas com deficiência temos que ter criatividade, trabalhar mais o lúdico do que o abstrato; temos que ser flexíveis para entender que podemos mudar de tática ao percebermos que a forma que usamos para ensinar não alcançou nosso objetivo; temos que ter profissionais especializados que possam colaborar para o crescimento do ensino-aprendizagem deste aluno; temos que ter ética acima de tudo; temos que trabalhar, concomitantemente, com a família deste aluno e trazê-la para dentro da escola, pois, a família é esteio de tudo e, por fim, temos de ser habilidosos suficientes para trabalhar com os problemas de comportamento. 80 IMPORTÂNCIA DO CURSO PARA A SEGURANÇA PROFISSIONAL Eliane de Almeida de Souza Valadão 21 Fazer o Curso da Plantaforma Paulo Freire – Deficiência Intelectual trouxe-me uma bagagem surpreendente de entendimento e, acima de tudo, melhor compreensão do caminho em que estou pisando. Sei que não foi ainda o suficiente para sentir-me preparada para este desafio, que é o de ensinar, com sucesso, o aluno em suas limitações, mas sei que posso fazer um diagnóstico melhor e optar por caminhos mais seguros para me estruturar diante do planejamento quanto ao aluno com deficiência. Percebo que não há em um ser humano possibilidades do não aprender e que há vários caminhos a ser tomado para que possamos nos amparar na busca do ensinar, do reconhecer, do acreditar, do amor, do aceitar e, acima de tudo, ser realmente um professor, acreditando na capacidade que tem o ser humano, buscando força em Deus, depois em você mesma. E, prova disso é o resultado que temos em nossas unidades de ensino onde limitações são superadas e ainda aspiram para crescimentos maiores. Tenho, aproximadamente, 15 anos de docência. Trabalhava, no início, com turmas de 30 alunos. Para o meu desafio, lembro–me de que não havia nenhum deficiente na época. As dificuldades encontradas eram simplesmente pela falta de acompanhamento dos pais, os alunos eram obedientes, até então e, na sua grande maioria, interessados em aprender. As deficiências, agora percebo não existiam, estavam escondidas por seus familiares em escolas especializadas ou centros de tratamento, mas em sua grande maioria, ainda dentro de quartos ignorados e desacreditados. Hoje, sim, nos deparamos com a realidade do que é a deficiência e suas limitações e estamos no convívio com as mesmas. Ao me encontrar como docente de uma escola nova em que permitia a inclusão e, em contrapartida, ter alunos com deficiências que jamais imaginava poder aprender como as outras crianças ficavam encabuladas com a inclusão e seu propósito, não sabia como começar, nem mesmo como agir, tocava a vida na caminhada de ensinar, sem me dar conta de que aquela criança necessitava de maior atenção e compreensão. 21 Dependência Administrativa: x Estadual – Rubiataba – GO. 81 Ministrava aulas tentando repassar para aqueles meninos o mesmo conteúdo, sem a mínima oportunidade de aprendizado para os deficientes. Preocupava-me com os demais, aquela situação do aluno com deficiência era ignorada. Com o passar do tempo e o convívio com os alunos deficientes me fez perceber que eles eram seres humanos capazes de aprender. O carinho que me passavam, era um carinho puro de ternura e com necessidade de aprender algo. Estavam eles lá, naquela sala, juntamente com os demais que tentavam superar seus limites com a mínima ajuda. Resolvi mudar e me vi um pouco perdida e curiosa em saber como trabalhar aquelas dificuldades para que houvesse aprendizado. Observava as mães que, de uma certa forma, confiavam na capacidade de seus filhos e acreditavam em mudanças, já outras não reconheciam e nem acreditavam nas possibilidades de aprendizagem, simplesmente deixavam seus filhos na escola por ser uma escola inclusiva que permitia de uma certa forma um descanso para si. Hoje, ainda vejo pais frustrados em perceber que seu filho não conseguiu ler, nem escrever, mas compreendem a progressão diante da vida social. Minha aflição continuava. Ao me deparar com este desafio, de uma sala inclusiva, preocupada com o aprendizado, acreditando em mudanças, conduzi-me a cursos variados na área da inclusão. Fiz vários cursos oferecidos pela Subsecretaria. Leio muito a respeito. Hoje posso dizer que temos vários recursos disponíveis para o aprendizado do aluno com deficiência. O curso me oportunizou conhecer mais materiais que vieram ao encontro de várias das dificuldades dos alunos. Basta saber como lidar com o mesmo. Quando tomei conhecimento das limitações de um aluno com deficiência auditiva, pude perceber o quanto sou pequena, o quanto ainda tenho que aprender, o quanto tenho que agradecer a Deus e o quanto eu posso contribuir, como professora. O mais importante é o quanto a sociedade está se mobilizando para buscar um mundo melhor e igualitário. Antes, sociedade e família desacreditavam no aprendizado dos alunos com deficiência, hoje, já vejo respeito e carinho na escola. Lembro-me de um fato que aconteceu comigo em uma escola distante da que eu lecionava. Estava fazendo uma substituição de uma colega de trabalho que se encontrava doente e a escola não tinha ninguém para estas aulas. Prontifiquei-me a ajudar. Era uma escola no final da cidade, quase na roça. Os alunos na grande maioria morava em fazendas e tinham um comportamento surpreendente. Isso aconteceu por volta do ano de 2002. Estava eu lá, ministrando minhas aulas e fazia no momento uma leitura em que a cada parágrafo mudava de pessoa, fila por 82 fila, todos já sabiam minha forma de agir, não havia nenhuma dificuldade em estar parando para fazer as leituras, era automático, quando chegava a vez do aluno, ele levantava-se e se posicionava em frente a turma e fazia sua leitura. Adoravam fazer isto. Havia uma aluna com deficiência auditiva na sala e eu, automaticamente, iria passar por ela ignorando-a, ação automática, não havia sequer pensado na possibilidade de a aluna participar daquele momento, mas o mais surpreendente é que quando chegou na sua vez, ela se levantou, pegou seu livro e foi para frente, posicionou-se diante da turma e iniciou sua leitura, “balbuciando” como se todos estivessem entendendo. Aquilo para mim foi mágico, fiquei quieta por um instante. Até hoje me lembro dessedia. Foi ali, naquele momento, é que acordei para a inclusão. O mais interessante é que os alunos trataram-na como se estivessem entendendo tudo. Foi lindo este momento. Percebi que naquele lugar era eu que tinha que me adequar àquela criança. Colegas da menina já conheciam seus limites e tentavam da melhor forma conduzi-la a um aprendizado prazeroso e de igualdade. Hoje, esta menina terminou o Ensino Médio, está casada e com filho. Olha pra mim e me vê como sua professora. E eu, quando a vejo, meu olhar é de agradecimento. Ela não sabe até hoje, que ela, sim, foi minha professora, meu despertar para inclusão, meu acreditar em mudanças, meu respeitar as diferenças, entender que eles são seres humanos como qualquer um de nós. Os cursos na área da Inclusão proporcionam-me aprendizado para que eu possa adequar-me, da melhor forma, em termos de aprendizado para o aluno deficiente e esta adequação vem ao encontro do acreditar, respeitar os limites e entender que, para cada limitação, há um aprendizado a ser alcançado. Mas para isso tenho que ter um apoio fundamental da família e de meus companheiros do trabalho. Frederico é um aluno que acompanhei no curso, não deixando de lado os demais. Afinal, temos vários professores de apoio que contribuem para um melhor aprendizado. Os conhecimentos por mim adquiridos não foram em vão, procurava da melhor forma multiplicar para os professores as novidades que aprendia. Os alunos da escola progrediram bastante. É surpreendente quando percebo como Frederico chegou nesta unidade de ensino. Tímido, cabisbaixo, não conversava, não havia brilho em seu olhar, agora, quer participar de tudo, é comunicativo, até demais. César, um outro menino que, mesmo com suas limitações, quer ser escritor, confecciona livros em casa, e leva suas redações para que possamos contemplá-la. Ah!... e quer ser locutor, adora falar na rádio da escola. Natiele melhorou, significativamente na higiene. Seu convívio social melhorou bastante, conversa e 83 participa dos eventos da escola. João Paulo e Jaqueline já melhoraram no comportamento, nas atitudes e limites, pois não havia nenhum. Enfim, todos na escola contribuem com o aprendizado dos alunos, por ser uma escola pequena e de poucos alunos. Temos oportunidade de estarmos mais envolvidos e ter mais contato com os pais. Percebe-se uma significativa mudança quanto a inclusão em nossas escolas, mas ainda há muito o que fazer.... 84 APRENDER E APAIXONAR-SE FAZ TODA DIFERENÇA NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Ivone Maria de Moura 22 A Educação Inclusiva vista como mudança de concepção busca, a cada dia, sensibilizar os que almejam a efetivação do direito de todos à educação. Nessa perspectiva, aprimorei meus conhecimentos por meio do curso Práticas Educacionais Inclusivas. na área da deficiência intelectual, que embasou minha prática, oferecendo um material excepcional, com troca de experiências e um acompanhamento ímpar. Através destes conhecimentos, atendi na Sala de recursos da Escola Municipal Presidente Costa e Silva, no município de Equador/RN. Acredito que fiz a diferença, e doei-me na tarefa de dar a esperança do aprender àqueles que já são desacreditados por si só e por muitos, dentro do próprio convívio escolar. Compartilho, neste momento, o trabalho realizado com crianças e adolescentes, que me deu a oportunidade de contribuir no resgate da vontade de aprender através do afeto e do acreditar e, assim, poder realizar sonhos antes impossíveis. A temática oferecida pelo curso foi de extrema relevância, com material apaixonante, dando-nos vontade de ler e envolver-se. Apesar de nosso tempo comprometido com o trabalho diário, fazia-nos debruçar no seu conteúdo nas madrugadas ou no tempo livre, até do domingo. O curso a distância proporcionou-me novos conhecimentos. Os fóruns foram bastante proveitosos, cheio de trocas de experiências e novas amizades. O trabalho em grupo virtual me fez enxergar que não existe o impossível quando se almeja algo. A equipe de especialistas merece todo nosso apreço e reconhecimento, pela linguagem tão acessível, clara e compreensiva, tornando o trabalho prazeroso. Fiquei encantada. Hoje, com certeza, sou uma profissional ainda mais sensível com a causa da inclusão social da pessoa com deficiência intelectual. Na abordagem histórica, tive a oportunidade de conhecer, desde o Séc. XVI, como estudiosos e especialistas contribuíram nesta temática, mas, necessitamos ainda de muito estudo e discussão para podermos fazer valer o direito de todos. Muitos desejam uma receita pronta e acabada, mas se faz necessário muito conhecimento para facilitar a aprendizagem de todos. Porém, é preciso pôr a "mão na 22 Escola Municipal “Presidente Costa e Silva” - Município de Equador - RN. 85 massa" e não ferirmos o "princípio de igualdade" como afirma Bandeira de Mello (1999, p. 12): "dispensar tratamentos desiguais". Pode ocorrer um tratamento diferenciado, por exemplo, "para a mulher, se comparada aos homens", "para a criança e para o idoso se comparados aos adultos" e, também, com "a pessoa com deficiência com a que não a tem", Então, podemos dar tratamento “igualitário aos iguais" e "tratamento diferenciado aos diferentes". É nesse tratamento diferenciado que há a falta de escolas adaptadas, de formação adequada de professores, de profissionais especializado para auxiliar etc. Dos trechos importantíssimos que me chamaram a atenção, destaco: “A ética profissional começa com a reflexão e deve ser iniciada antes da prática profissional”. Refletir sua prática, aprender a agir sem prejudicar os outros, fazer alguém feliz, dar oportunidade a alguém de ver o mundo de forma diferente, isso é ser ético. Precisamos rever nossos conceitos, sermos realmente formadores de opiniões, darmos bons exemplos. Não adianta dizer faça o que digo, se o meu comportamento não é coerente, Faz-se necessário focar nos valores. As correntes teóricas nos proporcionaram informações sobre o processo de desenvolvimento pelo qual passam crianças e adolescentes e, como não há receitas, nem modelos, devemos adotar um ou outro referencial, dependendo da real necessidade de conhecermos nosso educando e, posteriormente, as decisões, os encaminhamentos para um trabalho diante do processo de ensino-aprendizagem. Com relação a criatividade, concordo plenamente quando diz que é preciso conhecer para ser criativo, Nós, professores, precisamos estar antenado e informado, pois nossos alunos estão cada vez mais exigentes e desmotivados para o tradicional. A criatividade pode mudar essa história, pois há muito material disponível, principalmente em multimídia e os profissionais da educação, muitas vezes, não usam, pois não sabem operar. Segundo Mantoan (2006, p121), a inclusão causa uma mudança na perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal administrativo para que se obtenham sucesso na corrente educativa geral. Por meio do Plano Político Pedagógico que a escola inclusiva poderá efetivar o direito de todos aprenderem, criando infraestrutura adequada ao desenvolvimento de todos, seja com flexibilização curricular, ensino colaborativo ou tecnologia assistiva. 86 Com esse material dei início a efetivação e atendimento da Sala de Recursos da Escola Municipal Presidente Costa e Silva. Iniciei, procurando na secretaria da escola, informações sobre alunos deficientes com laudo, matriculados na escola. Em seguida, elaborei um Plano de Trabalho que teve início com as visitasdomiciliares para conhecermos todo o histórico dos alunos. Num primeiro momento fiz um diagnóstico para organizar o plano de trabalho de cada criança. Os atendimentos são realizados duas vezes por semana. Essas crianças ainda não são alfabetizadas. Optei por trabalhar com o alfabeto, usando uma variedade de recursos. O uso do computador chamou a atenção de todos que por ali passavam e vi aqueles olhinhos brilharem de alegria ao usar o equipamento, era mais um atrativo em nossas aulas. Segundo um pai, seu filho tinha voltado a se interessar mais pela escola, É o primeiro a chegar no horário de atendimento da sala de recurso e, dois dias pra ele é pouco. Infelizmente, precisei deixar o atendimento e passar pra outra colega, mas fico feliz com o carinho que eles sentem por mim e a declaração que um deles sempre que me vê, faz. “Tia, eu amo muito você”. E sempre me abraça. O outro com Síndrome de Down me surpreendeu ao voltarmos de uma caminhada com um abraço e um sorriso no rosto. Quando iniciamos nossos trabalhos, ele era muito tímido e com pouca expressão. Hoje já é um rapazinho e mantemos uma grande afetividade graças a esse trabalho iniciado. Com o embasamento teórico que obtive durante o curso, pude mudar minha concepção de trabalho inclusivo e tentei repassar para os professores da sala regular de meus alunos esse novo jeito de trabalhar com essas crianças. Outra conquista foi procurar a Secretária de Saúde para levá-los ao fonoaudiólogo. Já conseguimos uma primeira consulta, graças ao empenho da assistente social que está atendendo em nossa escola e, também, da parceria com a Prefeitura Municipal que autorizou o transporte para levá-los a APAE do município vizinho. Realizei um dia de estudo sobre avaliação usando o material do curso e foi muito produtivo. Fiz uma oficina e apliquei o questionário de habilidades sociais educativas e todos os professores tiveram a oportunidade de refletir sobre sua prática. Pretendo realizar outros encontros onde vou trabalhar esse rico material. Concluindo, deixo meus agradecimentos ao apoio e dedicação da minha querida tutora e a nossa colaboradora que nos oportunizou esses novos conhecimentos na área de educação inclusiva. Fica o desejo de aprender muito mais, para oportunizar o direito de aprender a essas crianças que se sentem desacreditadas e esses pais que esperam que seu filho ou filha sejam iguais aos demais. Como me disse uma mãe “que ficava triste 87 em comprar o material da filha todo ano, com tanta vontade de vê-la, utilizando-o e não obtinha o desejo alcançado”. Essa é a nossa missão de educador, acreditar que podemos sempre fazer muito mais. O meu desejo é poder fazer com que essas crianças sejam alfabetizadas e que os educadores que as receberem, acreditem que irão fazer delas crianças e adolescentes iguais a todos e que possam exercer a sua cidadania, seja através de um sorriso, um aperto de mão, uma troca de olhares e até uma declaração de amor. Sejamos sensíveis a essa causa, vamos juntos fazer a diferença, eu sou mais uma nessa caminhada. Preciso te conquistar para juntos formarmos uma corrente do bem para alfabetizarmos mais um. Posso contar com você? 88 MUDANÇA NA FUNÇÃO PEDAGÓGICA DE PROFESSOR DE EDUCAÇÃO ESPECIAL: UMA REFLEXÃO Mariza Conceição Viana 23 Durante o Curso Práticas Inclusivas na área da Deficiência Intelectual, da UNESP, de Bauru/SP, realizado, no período de 10/10/2010 a 10/04/2011, não passou despercebido de que é necessário o aperfeiçoamento dos profissionais da área educacional, embora isso já tenha sido mencionado e comprovado por diversos autores e pesquisadores da educação. Nós nos encontramos numa situação de significativa mudança na função pedagógica de professor de educação especial. Isso poderá representar uma mudança do conceito de uma educação especial fixa, estabelecida fisicamente em espaços circunscritos, basicamente nas escolas especiais, para o conceito de uma educação especial móvel, dinâmica que se desloca para atender os alunos nas escolas do ensino regular (BEYER, 2006). É importante iniciar esse relato, explorando a questão da leitura. Sabe-se que o professor que tem o hábito da leitura e é comprometido com o processo ensino e aprendizagem desenvolve suas experiências de aprendizagem, possibilitando novos recursos ao educando para que o mesmo possa desenvolver suas potencialidades físicas, morais e intelectuais. Isso se confirma através das leituras de textos enviados pela equipe do TelEduc. É bom salientar aqui que está acontecendo um envolvimento também dos professores do ensino regular a dar uma assistência mais abrangente aos alunos da Educação Inclusiva. A leitura do material enviado pela equipe TELEDUC possibilitou-nos mais reflexão sobre a importância de nos organizarmos e multiplicarmos para nossos colegas da educação e ao educando o quanto a leitura é significativa. O estudo do texto de Eduardo O. C. Chaves “Administrar o tempo é planejar a vida” nos levou a repensar sobre a importância da organização para realização de nossas atividades com sucesso. Já o pesquisador Carlo José Napolitano procura reforçar sobre a garantia ao atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de Ensino (artigo 208, III). 23 E.E “Francisco de Oliveira Faraco” - São Manuel e E.M. “Odynir Maganha” - Igaraçu do Tiete - SP 89 No módulo V, ficou claro a necessidade de repensamos as nossas ações: como organizar coletivamente um currículo que valorize o educando; como reorganizar as práticas escolares para o atendimento aos alunos; quais alterações deverão ser feitas na unidade escolar na qual atuamos, entre outras possibilidades. Em relação ao tema Sexualidade ficou explícito a importância da escola ter um projeto no sentido de esclarecer e prevenir os adolescentes e seus familiares. Ao abranger o tema Criatividade, no fórum de discussão, a tutora Marilu fez uma colocação interessante quando disse que “Criatividade não é só inata, mas deve ser exercitada. Quanto mais tempo nos dedicamos para preparar, planejar, ler e pensar sobre nossas ações, mais criativos seremos. É notório que a Flexibilização se faz necessária em nosso cotidiano, pois cada aluno aprende em ritmo diferente e quando flexibilizamos, acontecem surpresas valiosas que beneficiarão todos nossos alunos. Em “Tecnologia Assistiva” quanta riqueza de material! É preciso acelerar neste aspecto para que todos os alunos da Escola inclusiva tenham a sua disposição essas ferramentas, que muito contribuirão para elevar sua autoestima. Faz-se necessário salientar que aulas proporcionadas pelo Ambiente TelEduc são enriquecedoras. Trabalhamos de forma interativa, junto à equipe de formadores, com leituras, apresentação do perfil, enquetes, fóruns de discussão, bate-papo, correio, portfólio, tudo voltado a Educação Inclusiva. O objetivo é ampliar nossas práticas educativas, favorecendo, de maneira geral, o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de todos que atuam no campo da educação. Todos esses fatos abordados me faz relembrar que entretidos ao ouvir o canto dos pássaros, observamos seus movimentos e, a partir dessas observações, nossas ideias expandem-se, alargam-se trazendo novos conhecimentos, emoções e reflexões. Nesse contexto fazemos uma leitura indescritível da natureza, procurando novos horizontes, principalmente quando somos envolvidos com a educação. Isso confirma que houve leitura, estudos científicos, experimentos necessários para que haja novas evoluções, tanto técnicas como culturais, pois foi atravésde projetos e planejamentos. Hoje vivemos a época do mundo virtual, da inclusão digital que facilita o acesso às informações, ao mundo da comunicação e do trabalho. Tanta tecnologia leva-nos a refletir sobre nossas práticas educativas em sala de aula. Trilhando um novo olhar ao que queremos almejar, em meio a tantas habilidades e 90 competências é fundamental o aperfeiçoamento de nossas experiências no ambiente de trabalho educativo. Por que nós educadores não levamos experiências significativas que envolvam e mexam com a emoção e a criatividade de nosso educando? É interessante destacar que toda vez que a leitura entra na sala, há curiosidade e há instigação para o aprender. Tem um extremo significado o aprender fazer e ao término da aula de “Comunicação e Expressão” no coletivo, vivem dizendo - Ah! Já acabou? – Deixa apresentar meu trabalho na próxima aula professora? A ponto de enviar trabalhos produzidos por eles através de e-mail. Nessa sala que leciono Língua Portuguesa há uma aluna que já frequentou APAE que apresentava uma dificuldade imensa de se expressar, tinha vergonha de ler por não conhecer todas as palavras, e ao envolvê-la socialmente através de debate, valorizando a norma de convivência, trabalho em grupo com alunos monitores, enfatizando a importância da leitura de mundo e o papel da escola, essa garota, como outros alunos com dificuldades de aprendizagem tornaram-se mais participativos, sem medo de errar, pois há o respeito da classe. Fica evidente que as pesquisas e o curso de Práticas Educacionais Inclusivas têm chamado a atenção para um olhar mais plural no sentido de propor uma aula mais significativa, favorecendo ao educando seu crescimento como aprendiz para que ele se sinta mais seguro e capaz de superar-se sempre. Pensando nisso, procurei trabalhar a música, interagindo-os com o gênero musical que faz mexer com a emoção, também, com o intuito de que apreciassem uma boa música. Como eu estava trabalhando classes de palavras, substantivos, adjetivos, trouxe para sala de aula a música Aquarela do Toquinho, músico da MPB que muito mexeu com a sensibilidade dos alunos. Passei a letra para todos. Cantamos, analisamos, refletimos acerca do futuro, houve a compreensão da linguagem. Uma aluna tocava violão e teve a ideia de tirar a letra para tocar para a sala, pois era uma música que ainda não havia tocado. Em casa, ensaiou. Depois de várias tentativas, conseguiu. O dia esperado chegou, ela tocou e a classe acompanhou cantando de uma maneira agradável e surpreendente. Já num outro grupo, uma aluna que toca flauta, estudou a letra e trouxe para sala suas habilidades com a música. O vice-diretor ao passar pelo corredor e ouvir, parou entrou, participou e fez questão de fotografá-los. O trabalho foi um sucesso. Apostei em outra sala, onde leciono Produção de texto, lá há também uma portadora de necessidade Especial (Visual). Esse trabalho deu tão certo que contagiou a escola, chamando a 91 atenção de outras salas. Mães foram cobrar da direção esse trabalho para que seus filhos participassem também. Agora todos querem participar do desenvolvimento do Projeto Flauta na escola. A aceitação foi excelente. Elaboramos um painel. Um grupo irá desenvolver a coreografia e vamos apresentar para a escola. A professora de arte vai participar junto ao projeto que está em andamento, A sala melhorou em seu comportamento e os alunos estão se sentindo valorizados... o que era grupo tornou-se coletivo. Isso leva a crer que vale a pena experimentar aproveitando as habilidades dos alunos. Outros trabalhos foram organizados relacionados à linguagem e gramática, envolvendo leitura e produção de textos desenvolvidos em sala de aula no sexto ano D. Um deles, após a leitura do poema do escritor Carlos Drummond de Andrade “Família”, e do escritor Elias José ”O grilo grilado” instigou toda a classe a uma disputa saudável: elaborar belas produções de textos, com apresentação e dramatização na sala. Trabalhamos ritmo e entonação. A aprendizagem e o processo de construção de conhecimento são indispensáveis ao educando. Envolver o aprendiz com atividades significativas é nosso dever. Mas, fica mais fácil quando há uma política educacional que procura inovar o conhecimento do corpo docente e quando há uma equipe gestora que participa, incentivando-nos a trilhar novos caminhos em busca de novas descobertas através de práticas educacionais. Nos fazem perceber que, dentro de nós, há um Leonardo da Vinci que acreditou em suas vivências e experiências, em sua criatividade, dando os primeiros passos no campo da aviação que foi aperfeiçoado, com o tempo, por outros, mas ainda é reconhecido, mundialmente. 92 O DESAFIO DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA Claudete Beatris Romani 24 A educação inclusiva assume espaço central no debate acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola na superação da exclusão. Nesse contexto, repensar a organização didático pedagógica das escolas, implica uma mudança estrutural e cultural da escola para que todos os alunos tenham suas especificidades atendidas e condições plenas de desenvolvimento de suas capacidades. Tais mudanças devem estar voltadas à concepção de direitos humanos onde seja possível a união entre igualdade e diferença e concebidos como valores indissociáveis, tanto na escola quanto na sociedade. Vivemos um momento de muitas dúvidas e incertezas acerca da educação e da forma como está se desenvolvendo o trabalho pedagógico nas escolas. Entre tantas preocupações, deparamo-nos com a inclusão. Aparentemente, parece fácil quando pensado que, para incluir basta apenas colocar o aluno dentro de uma sala de aula comum e pronto. Mas, as coisas não se efetivam dessa forma. Primeiro por que se trata de seres humanos e, portanto, merecem respeito. Segundo, se há respeito, então há que se pensar em adequação do currículo escolar para que todos possam ter o sucesso educacional merecido. A escola precisa conceber todos os alunos que chegam nela como seres em potencial, com capacidades e habilidades a serem desenvolvidas, cada qual em sua individualidade, respeitando-se os limites de cada um. O desafio da inclusão vai além da simples integração. Percebe-se que muitos acreditam que incluir é integrar, o que não é verdade. O aluno com deficiência precisa sim ser integrado à escola e à sociedade, porém, com condições de usufruir seus direitos e, também, exercer seus deveres. Portanto, a inclusão em sala de aula é bem mais que apenas integrar. A inclusão tornou-se um desafio permanente e contínuo das escolas. Não dá mais para tapar os olhos frente diante dessa realidade, porém, é necessário a oferta de condições para a inclusão. Tais condições passam pela acessibilidade, tanto arquitetônica, quanto de aceitação do outro diferente, fazendo parte do mundo e convivendo com outros ainda mais diferentes. Ninguém é igual a ninguém, mesmo sem 24 Escolas: Municipal e Estadual - Ronda Alta - RS 93 uma deficiência diagnosticada. Cada aluno tem um ritmo e um tempo próprio de aprender que, necessariamente, não deve ser o diferencial principal da aprendizagem. Um aluno nunca é igual a outro no desenvolvimento de capacidades e habilidades. Cada um tem uma forma ímpar de ser e estar no mundo e de, assim, conceber o mundo a sua volta e aprender. Perceber o potencial de cada aluno é uma meta importante de cada educador no planejamento de suas atividades pedagógicas e do sucesso da aula. A escola, primeiro, deve ter condições para que possa, não apenas acolher, mas incluir, fazendo com que os alunoscom deficiência possam se apropriar do conhecimento e evoluir no conteúdo educacional oferecido. Não basta apenas elaborar uma lei perfeita sobre inclusão, sem a oferta de condições para que ela se efetive na prática. A verdadeira inclusão somente acontecerá quando o número de alunos em cada sala de aula for condizente com uma proposta de trabalho que inclua a todos. Salas de aulas numerosas, sobrecarga do trabalho docente jamais serão propícias à oferta da inclusão efetiva. A acessibilidade vai além da superação das barreiras arquitetônicas de nossas escolas e sociedade. Acessibilidade é garantir a flexibilização do currículo escolar. Como flexibilização de currículo escolar entende-se a adequação, a forma de ministrar o conteúdo e as atividades. Um conteúdo com diversas formas de expressão e de compreensão, com recursos diversos que permitam ao aluno a aquisição do mesmo conforme suas capacidades. As flexibilizações não se restringem ao empobrecimento, à minimização dos conteúdos indispensáveis à formação humana e aos objetivos escolares, mas concernem a um redimensionamento das práticas pedagógicas e das formas de convivência, compreendendo que cada um pode desenvolver-se como sujeito do processo, de maneira que não cabe aos profissionais da educação, nas suas certezas teóricas, estipular a priori quem deve ou não avançar. (PASTOR; TORRES, 1998). Muitas vezes, a flexibilização do conteúdo não vem sozinha. Dependendo da deficiência, há que eliminar alguns objetivos e fixar o trabalho mais em outros que requerem mais tempo para que se possa alcançar um nível satisfatório de aprendizagem. É preciso aprender novas formas de ensinar. Para isso, também é necessário dispor de espaços e tempos pedagógicos para formação continuada em serviço, discussão com colegas e, o que é fundamental, a unidade de ação entre todos, envolvendo pais, alunos, professores, gestores e até mesmo, funcionários. Onde há unidade de ação, há trabalho cooperativo e há inclusão. A articulação entre os diversos 94 contextos sociais coloca pais e professores na estratégia de mediadores no processo de aprendizagem dos alunos e na formação de sua cidadania. Daí a importância da presença da família na escola. O ensino colaborativo é uma estratégia comum entre os indivíduos que interagem uns com os outros. Assim, o professor especializado, juntamente com o professor da sala de aula comum, devem buscar estratégias e condições de aprendizagem do aluno com deficiência, um complementando o trabalho do outro, cada um com estratégias de aprendizagem diferenciadas. Conforme as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica: “O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas”. (MEC/SEEP, 2001). Há uma diferenciação entre as atividades educacionais especiais ministradas na sala de aula comum, daquelas ministradas pelo atendimento educacional especializado. Esse atendimento vem ao encontro da complementação e/ou suplementação da formação dos alunos, com objetivo de servir de suporte pedagógico aos alunos com deficiência para que tenham sucesso escolar e possibilitem o desenvolvimento de habilidades e competências, respeitando suas potencialidades. Estudar no ensino regular possibilita ao aluno com deficiência acesso aos elementos necessários para construir um significado de mundo que lhe permita desenvolver-se com autonomia e participação. Porém, só o ensino regular não basta. É preciso o atendimento paralelo e especializado, trabalhando junto para que o desenvolvimento da criança tenha êxito. A socialização das experiências de vida e de aprendizagem encoraja o outro a continuar se esforçando e a perceber que não se está só e que a superação das barreiras colocadas a cada um se torna possível com o encorajamento dado por aqueles que também possuem dificuldades semelhantes. Portanto, momentos de aprendizagem juntamente com seus pares e com acompanhamento de professor especializado, continuam sendo indispensáveis no desenvolvimento intelectual e social do indivíduo com deficiência. Assim como os momentos junto aos demais, no ensino regular, possibilitam a aceitação, o crescimento da autoestima e a valorização do respeito às diferenças. Há que se ter presente a necessidade de investimento pesado por parte dos governos em recursos humanos, didático e pedagógico para a efetiva aprendizagem dos 95 alunos com deficiência. O professor da sala de aula regular, sozinho não consegue desenvolver um trabalho satisfatório nem com os alunos com deficiência, nem com os alunos ditos normais, pois a exigência de prestar um atendimento mais individualizado é grande junto aos alunos com deficiência ou com dificuldade de aprendizagem. Daí a importância de haver monitores junto às salas regulares com alunos incluídos, na função de assessoria pedagógica ao trabalho individualizado do professor titular da turma. Existem, também, muitos recursos de tecnologia assistiva para auxiliar o aluno com deficiência e o trabalho pedagógico, porém, tais recursos são, na grande maioria, desconhecidos dos professores e não chegam às escolas o que compromete o trabalho inclusivo. Outro grande desafio no que se refere à inclusão dos alunos com deficiência é a garantia de aprendizagem. Respeitar o tempo e o espaço da criança é estar promovendo garantias de que possa aprender. De nada adianta avançar uma criança com deficiência para outra série, sem que ela tenha aprendido o conteúdo básico, principalmente no período de alfabetização. Sabe-se que a criança com deficiência tem um ritmo próprio de aprendizagem que necessita de mais tempo do que os demais para aprender. Dessa forma, a retenção do aluno na alfabetização ainda é válida quando percebido que a criança está conseguindo desenvolver e avançar na leitura e na escrita, mas, ainda não alcançou o grau de aprendizagem de que é capaz. No entanto, deve se basear tal situação em diálogo permanente com a família e avaliações conjuntas com os especialistas. Dessa forma muitas crianças têm a chance de aproveitar melhor a escolarização. Assegurar o direito à diferença é ensinar a incluir e, se a escola não tomar para si essa tarefa, a sociedade continuará perpetuando a exclusão em suas formas mais sutis e mais selvagens. Não basta apenas acolher e promover a integração dos alunos com deficiência, é preciso garantir a aprendizagem. Aprender é uma ação humana, criativa, individual, heterogênea e regulada pelo sujeito da aprendizagem, independente de sua condição intelectual ser mais ou menos privilegiada. 96 REFLEXÕES, DÚVIDAS E CERTEZAS Ana Mara Galasso Romera 25 Minha primeira experiência com cursos a distância, não foi muito boa. Fiz um curso de complementação de 15 meses com um encontro mensal, porém, no meio do curso, fiquei grávida e quando meu filho nasceu, estávamos na reta final, concluindo estágio e fazendo monografia. Ficou muito complicado, mas consegui terminar tudo, mesmo não podendo me dedicar o quanto queria. Quando me inscrevi na Plataforma Freire, minha intenção era fazer algum curso relacionado com alfabetização, mas recebi, com surpresa, o convite para esse curso de Práticas Educacionais Inclusivas. Então me veio a pergunta: por que fazer esse curso, se minha “necessidade” maior era entender o processo de alfabetização, pois acabara de ingressar na rede municipal numa classe de 2º ano? Então, conversando com algumas colegas, percebi que deveria fazero curso ainda mais trabalhando com uma aluna com diagnóstico de deficiência múltipla. Os comentários que ouvia me deixavam intrigada, como por exemplo: “faça que a sua pontuação vai aumentar”; “muita gente tentou, mas não foi selecionada”; “é a distância? Deve ser moleza!”, entre outros. Ouvindo isso fiquei muito curiosa e ansiosa por poder pôr à prova essas afirmações da forma mais real possível. Acessando o ambiente TelEduc, tive a primeira resposta. Não era um curso qualquer e não poderia ser feito só para ganhar pontos, em nenhum momento, haveria facilidades se não organizasse meu tempo para poder me dedicar integralmente na realização das atividades, na leitura dos textos e na participação nos bate-papos. Tudo era novidade, mas a seriedade e o envolvimento das formadoras fizeram com que o curso se tornasse uma importante ferramenta de informação e aprendizagem. Muitos assuntos trabalhados foram de um aproveitamento profundo, como o capítulo Fundamentos, falando sobre a história da inclusão social e educacional da pessoa com deficiência, deixando claros os seus direitos e abrindo uma discussão entre o que é lei e o que acontece na realidade. O capítulo Ética, nos chamou a atenção a questão da formação docente, e quando falamos sobre a família e sua participação na escola, já sabia que não me arrependeria de ter iniciado o curso. 25 EM. “Luiz Gonzaga Fernandes” - Bragança Paulista - SP. 97 Entrar nos temas diretamente educacionais, de aprendizagem, planejamento e avaliação, embasados nos estudos de Jean Piaget e Emília Ferrero, foi de uma importância e significados muito relevantes para entender todo o processo de inclusão. Mas nenhum tema me chamou mais a atenção quanto o da Sexualidade, conhecendo o projeto PIPAS e percebendo como um tema tão delicado e cheio de tabus pode e deve ser levado em consideração, com alunos deficientes ou não. Aprender novas formas de organizar o ensino, usando a criatividade, a colaboração, as habilidades sociais e entendendo a importância das tecnologias assistivas transformou esse curso num dos mais importantes para mim onde aprendi que nenhuma teoria está afastada da prática, nem deve ser fechada e acabada, que cada uma, a seu tempo, tentou fazer o seu melhor dentro de suas possibilidades e que ainda falta muito para se chegar ao ideal. Faltam, ainda: o aprimoramento e o cumprimento das leis; o aperfeiçoamento e maior dedicação dos profissionais; o apoio à família e sua participação mais efetiva na escola; bem como o entendimento da sociedade de que todas as pessoas deficientes ou não, têm suas limitações e que devem ser respeitadas, aceitas e incluídas em todas as esferas sociais. São cursos como esse que permitem que uma parcela desses desafios seja cumprida e determinados obstáculos sejam transpostos, que estudos possam ser feitos e mais profissionais sejam movidos pelo sentimento de cumprir o seu dever, pensando em seu aluno como um ser que está apto a aprender, conviver, relacionar-se, viver e ser feliz. 98 INCLUSÃO: UMA LIÇÃO DE AMOR Michele Vieira Ribeiro Doneda 26 “É só o amor que conhece o que é verdade...” Renato Russo Ser professor não é uma tarefa fácil, exige dedicação, estudo, inovação, aprimoramento. Tudo isso só alcançamos se fizermos o que realmente desejamos, gostamos, amamos. Lidamos com pessoas diferentes, com gostos, vivências e religiões diferentes. Devemos unir tudo isso e interagir com aprendizagens distintas, pois cada um aprende do seu jeito, uns com mais rapidez, outros um pouquinho mais devagar e, mais, outros que têm uma dificuldade imensa em aprender algo que foi estabelecido por um currículo pré determinado. Todos os dias nos deparamos com barreiras que devem ser eliminadas, até mesmo do nosso coração ou pensamento e a inclusão é uma delas... Aceitar é uma tarefa muito difícil e começa desde o nascimento da criança com deficiência, passando pelo seu dia a dia e por toda a sua vida. Pode gerar uma certa discriminação por parte de pessoas que não possuem esse “olhar”, o “olhar do coração” que aceita e respeita as diversidades. Estamos em um período de reestruturação do ambiente escolar, as salas de recursos e o aperfeiçoamento do professor, oferecido pelo MEC por intermédio da UNESP, são o ponto de partida para se atender a todos sem distinção. Iniciei o magistério com 15 anos em uma escola de período integral (CEFAM) e aos 16 anos comecei a ter um “novo olhar”. Fui monitora (recreação) de um Festival na Semana da Criança em 1996 e acho que o destino me uniu ao diferente. Trabalhei como monitora de uma sala especial numa escola da rede estadual. A professora era uma pessoa adorável, meiga, com voz doce e serena que já tinha mais de 60 anos e esperava a aposentadoria automática aos 70 anos. Tudo isso por causa do seu amor à profissão e aos seus alunos. Amava-os como seus próprios filhos, ela já trabalhava com essa classe há mais de 20 anos. 26 EM. “Prof. Paulo Nunes” - Poá – SP. 99 Conheci uma aluna com síndrome de Down, que aos 27 anos foi incluída na 2ª. série da escola regular porque aprendeu a ler e outro com 34 anos que estava aprendendo as letras. A sala era composta com mais de 20 alunos, com diversos tipos de deficiências. Aquele dia foi tão bom, já se passaram 14 anos e até hoje não me esqueci daqueles sorrisos, daquela alegria que mesmo impossibilitados de realizar certas atividades, estavam felizes, muito felizes... Daquele dia em diante o meu “olhar mudou” e o meu coração mudou, também ... e me fez uma pessoa melhor que acredita, luta e respeita a diversidade... nada é mais gratificante do que uma criança com deficiência ou não, gostar da sua companhia... de transmitir carinho... penso que devo fazer a diferença, quero ser lembrada por algo que fiz de bom... sempre transmitindo e recebendo carinho... amor. Sei que o mundo está diferente, violento, incompreensível... mas temos um grande poder em nossas mãos... formar cidadãos conscientes e porque não, cidadãos que transmitem o amor, o carinho, o respeito... Atualmente, vivemos em um período de reestruturação, com os alunos com deficiências sendo acolhidos no ensino regular, na classe comum e isso exige preparação, estudos e muita dedicação. Precisamos mudar a nossa maneira de pensar e agir e o Curso de Deficiência Intelectual, promovido pelo MEC em parceria com a UNESP de Bauru é só um ponta pé inicial. Aprendi, refleti e li muitas coisas de grande valia para o meu enriquecimento pessoal, diminuiu a minha ansiedade, em achar que os progressos devem ser rápidos. Percebi que, com o aluno com deficiência, tudo deve ser bem devagar e com tranquilidade que, mesmo com os pequenos avanços, já são grandes vitórias. Desde o ano passado, trabalho com a mesma turminha e tive o prazer de conviver com seus erros e acertos. Dentre eles há um menino que está prestes a completar nove anos. Ele não falava, saía de sua boca poucos balbucios quase incompreensíveis. Encantei-me por aquele menininho tímido e carinhoso. A princípio, me preocupei com a alfabetização. Trabalhava com vogais, números... sempre conversando, levantando questionamentos para que ele começasse a se expressar oralmente. Confesso que ficava meio frustrada e com sentimento de incapacidade por ele não conseguir reconhecer nem as letras do próprio nome. Logo, ele começou a falar baixinho... meio tímido e resolvi continuar o trabalho em 2010 com a mesma turma, em especial por causa daquela criança. 100 Iniciou o ano letivo,percebi que a memória do meu aluno começava a melhorar, ele já conseguia identificar algumas letras... hoje essa criança ainda não sabe ler, mas já é capaz de interpretar um texto oralmente, realiza cruzadinha com um banco de palavras, faz pequenas somas, utilizando material de contagem, ou seja, teve “pequenos grandes” avanços, que só foi possível por sua determinação. Tenho dois alunos com deficiência intelectual e por meio do curso pude inovar a minha prática diária, sempre valorizando e respeitando-os. Valorizei tanto e os encorajei muito que os dois participaram da quadrilha da Festa Junina. Fiquei tão feliz e satisfeita que parecia que havia ganhado na “megasena”. A informação é sem dúvida essencial para o aprimoramento do ser humano. Nesse período, através das leituras sobre deficiência intelectual havia um quesito chamado altas habilidades/superdotação que me chamou a atenção, principalmente, para o meu filho João Vitor que já sofreu muito na escola, por causa da sua agitação e também pelo “olhar” do professor que, por falta de conhecimento, acaba cometendo erros. Realizou testes e foi confirmado que ele possui inteligência muito superior a sua faixa etária, ou seja, ele tem altas habilidades/superdotação e depois que começou a realizar atividades extracurriculares está mais calmo. A sua agitação, segundo a neuropsicóloga, era “sede de aprender”. Segundo, CIASCA (2003), é necessário se especializar, ampliar seus horizontes, estar em constante busca, procurar o novo na tentativa de cada vez mais estar atualizado e se tornar capaz. Por isso que defendo a busca pela informação, o aprimoramento para que possamos atender e compreender o outro sem cometer erros. Aprendi que flexibilizar o currículo, é adaptar os conteúdos para o aluno com deficiência. É uma maneira de essa criança fazer parte da sala e participar da aula efetivamente. Deve-se utilizar da colaboração tanto dos amigos de sala ou do professor para que se alcance a aprendizagem. O lúdico e o diálogo devem estar sempre presentes. Devemos acreditar no potencial do aluno e respeitar sua particularidade. Para que a inclusão se efetive se faz necessário o apoio constante de todos os funcionários da escola. O aluno não é só do professor, e sim, de todos envolvidos na educação, tanto os profissionais, como a família da criança. O poder público deve se encarregar de oferecer recursos e acessibilidade; o AEE (atendimento especializado), de orientar e organizar o sistema escolar, o professor e os funcionários da escola promoverem o acolhimento do aluno com deficiência. 101 Devemos dizer sim a inclusão da pessoa com deficiência para que tenhamos um futuro mais compreensível com as diferenças. Um futuro cheio de respeito e amor ao próximo. A escola é fundamental para que isso aconteça e o professor é peça importante nesse processo. Com a Constituição Federal de 1988, começa a se oportunizar o conceito de igualdade, preocupando-se com o bem estar das pessoas, tendo a educação como um direito de todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa. Em seguida, veio o Estatuto da Criança e do Adolescente em 1990, a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) [...] sempre se preocupando com o pleno desenvolvimento humano e o conceito de igualdade e respeito à diversidade, conscientizando a população de que todos devem ser acolhidos e não marginalizados, discriminados e excluídos do meio social como acontecia antigamente. Era a escola especial que acolhia todos àqueles que, de certa maneira, eram tidos como anormais e somente através das leis que tais paradigmas foram suprimidos. Diante disto se dá a abertura para o aluno deficiente ir para a escola regular, para se lutar por igualdade de condições. Os objetivos da educação inclusiva são propiciar condições igualitárias aos indivíduos independentes de suas diferenças e acabar com as discriminações sociais, dar condições de aprendizagens. A escola é o ponto inicial para que o meio social aceite e respeite as diferenças. Um novo olhar ao diferente está dando a oportunidade, através das leis, para aceitarmos, respeitarmos e vivermos em sociedade, em igualdade!!! E o resultado é o aumento de matrículas de alunos com deficiências na rede regular de ensino. Acabar com a discriminação é uma tarefa árdua, mas, conscientizando os nossos pequenos alunos, num futuro bem próximo, estes, com certeza, serão adultos conscientes e aplicarão os princípios de igualdade e respeito entre as pessoas, aceitando de coração as diferenças. “Sem amor eu nada seria...” (Renato Russo) 102 SUPERANDO DESAFIOS EM CURSOS A DISTÂNCIA Rosana de Cássia Aparecida Rodrigues Moura 27 Essa foi a primeira vez que fiz um curso a distância (EaD). Confesso que tive muito medo, pois o novo sempre nos deixa apreensiva e por ser tão ansiosa, fiquei muito apavorada. Fiz a inscrição no primeiro semestre desse ano, quando estava fazendo a matrícula de outro curso pela plataforma Paulo Freire, mas não acreditava que seria escolhida para tal. Ao receber o e-mail da tutora achei que não deveria fazer, pois nunca tinha participado de cursos a distância e, com certeza, não iria conseguir, mas conversei com minha família e todos me apoiaram. Fiz minha inscrição e comecei. Esse tema é muito importante e creio que “todos os professores” devam fazer esse curso, pois, depois que participamos, aprendemos a ver a criança com deficiência com outros olhos. Também conheci sobre as leis e recursos existentes, o que me fez refletir de quanto atrasados estamos, como se ainda vivêssemos na idade da pedra. Quando estudei a parte teórica, em que pesquisadores refletem sobre o comportamento de pessoas com deficiência, e como deveríamos agir em relação as suas conquistas, refleti muito porque, muitas vezes, essas deficiências nos parecem impossíveis de serem sanadas, ou então, que somos incapazes de conseguir qualquer resultado positivo, principalmente, se falarmos de aprendizagem seja alfabetizando ou no relacionamento com outras pessoas. Como já relatei no início, sou muito ansiosa e quero resultados rápidos, evoluções, melhoras, enfim, muitas vezes, esqueço que cada um tem seu limite, e é muito importante respeitá-lo. Eu nunca trabalhei com alunos portadores de deficiências físicas, porém no ano passado tive uma sala diferenciada onde muitos dos meus alunos tinham que passar por psicóloga, psicopedagoga e fonoaudióloga. Foi um ano bem difícil, pois eu não sabia nada a respeito e trabalhei, primeiramente, com a socialização deles. Fui ganhando a confiança e depois investi na alfabetização. No fim do período letivo, tive muitos avanços. 27 Escola - Bragança Paulista - SP 103 Eu tenho vinte e um anos de sala de aula, porém aprendi a ser professora somente depois que passei pela sala do ano passado. Vi o quanto é importante termos relatório dos alunos do ano anterior e, também, dos alunos que já passaram por pessoas habilitadas, pois, além de nos ajudar, permite-nos saber até onde é possível ir, ou seja, respeitar os limites. Este ano, quando precisei fazer as atividades do curso, fiz com alunos de outras salas, já que não tive nenhum caso de deficiências na minha sala. Busquei crianças com diferentes deficiências em determinadas atividades. Desenvolvi atividades, também com uma aluna da minha sala de aula por ter dificuldades de aprendizado, porém sem relatório e encaminhamento dela, pois é uma criança faltosa e que os pais não são presentes, ou melhor, o pai trabalha e a mãe tem problemas mentais e nãoteria quem a acompanhasse, Essa criança está sendo observada e acompanhada pelo conselho tutelar, pois a mãe já perdeu a guarda de seus quatro filhos, inclusive o bebê que nasceu este ano. Outro ponto importante que foi mostrado nesse curso, é que necessitamos da ajuda de profissionais especializados para nos orientar, não dá para sermos sós, além de não sermos habilitadas, se não tivermos essa ajuda, fica muito difícil, perdemos o foco. Quanto aos recursos, foi mais uma novidade, são materiais que nem imaginava que existissem, mas aí vem novamente aquela história: do que adianta ter se não sabemos usar? Ficou muito claro que é essencial a inclusão, mas, nós, professores temos que ser preparados para receber esses alunos, não é simplesmente depositar essas crianças numa escola e falar, ”pronto, aqui já estamos trabalhando com inclusão”. Estaremos recebendo em nossas mãos, sob nossa responsabilidade, crianças, como todas, mas, por outro lado, crianças cujos direitos vão além de uma vaga naquela escola. Temos que estar prontos para recebê-la, começando pelo espaço físico adequado, pelos materiais didáticos e acompanhamento diário de alguém que sabe das suas potencialidades. A criança tem o direito de viver em sociedade, de fazer parte do mundo e de “ser alguém”, como sempre falamos. Nós somos responsáveis por isso, temos que fazer a diferença na vida delas. Cabe ao município colaborar, fazendo sua parte, promovendo formação continuada e especializações para os professores, melhorando o espaço físico das escolas, mandando materiais necessários solicitados e disponibilizando ajuda de profissionais habilitados. 104 Por que não pensar lá na frente e criar cursos profissionalizantes para esses alunos? Podemos aproveitar suas habilidades, seja em arte, música, ou qualquer outra área. Acredito que dessa forma estaremos tornando uma escola mais atrativa, para todos os alunos, motivando-os e ajudando a apreciar mais a escola. Finalmente posso dizer que dei meu primeiro passo. Não me acomodei, quero estar apta para receber as crianças, mas ainda é muito pouco, preciso aprender muito, muito mais. É necessário que esse seja o início, mas que não pare por aí, que tenha uma continuidade. Necessitamos de especializações em todas as áreas porque, com certeza, não vou ter só um tipo de deficiência em minha sala, talvez tenha dois ou mais casos. A criança não tem que ser a prejudicada, ela tem direitos e cabe a nós fazer valê-los, de forma correta, ajudando – os e tornando sua convivência melhor, possibilitando evoluções e muitas conquistas. Gostaria que esse curso pudesse continuar. Tenho ainda muito a aprender e sei que eles tem muito a me oferecer. Existem tantos assuntos ainda para serem estudados, experiências para serem trocadas, relatos que, com certeza, servirão de exemplos para melhorar nossa prática educacional. Com relação a cursos a distância, posso dizer que foi uma ótima invenção, pois tenho duas filhas: uma de sete anos e outra de três anos e poder fazer esse curso em casa, nos meus horários, foi importantíssimo. Posso cuidar da minha família sem deixar de lado meu compromisso com a profissão e melhorar cada vez mais minha prática em sala de aula. Adorei, quero, com certeza, buscar mais, participar de muitos outros. 105 APRENDENDO SEMPRE PARA AGIR COERENTEMENTE. Vanessa Aparecida Domingues Moreira 28 É com satisfação que concluo mais esse curso a distância. É a minha segunda experiência em EaD pela UNESP. Gostaria de manifestar minha alegria em concluir esse curso que tanto me proporcionou reflexões sobre práticas educativas inclusivas. Mais uma vez a UNESP, junto à Plataforma Freire, mostra a seriedade e o comprometimento dos envolvidos nesta formação. Em meus nove anos de magistério, na rede municipal de Educação de Bragança Paulista, não tive a rica oportunidade de trabalhar com alunos com deficiência comprovadas, mas bem sei que são muitas e diferenciadas as necessidades das crianças que frequentam nossas escolas... Estudar sobre este tema tão novo e ao mesmo tempo tão antigo, necessário e presente no contexto escolar, abriu novas possibilidades de ação e a busca de conhecimento junto a outros colegas com experiências nessas abordagens. O curso ofereceu uma visão abrangente sobre a educação inclusiva, o que tornou possível estudar sobre outros temas que interferem seriamente no contexto escolar. Os textos oferecidos foram de qualidade, bem como o apoio das formadoras e dos colegas. A troca de experiência virtual foi muito motivadora. A forma com que o curso foi promovido e organizado muito favoreceu a aprendizagem: os bate-papos com os colegas, as devolutivas da tutora e da formadora, as nossas opiniões que foram seriamente acatadas, permitiram um novo ritmo ao trabalho, enfim, a parceria firmada entre todos que participaram. Ler, comentar e trocar experiências com os colegas sobre as diferentes configurações de família, ensino colaborativo, avaliação e planejamento escolar, desenvolvimento humano e aprendizagem, história da inclusão, tecnologias assistivas e habilidades sociais do professor, entre outros, foi de grande valia para minha formação. Muitos desses assuntos ainda não eram de meu conhecimento e surpreenderam-me, fazendo-me entender a complexidade que o espaço escolar representa e o quanto se faz necessário entendê-lo para agir, coerentemente, sobre ele. 28 “Rede municipal de Educação” - Bragança Paulista – SP. 106 Cursos a distância nos ajudam a crescer muito. Vejo que, sobretudo, a disciplina, a que somos incentivados a ter, nos faz crescer como profissionais. É uma experiência interessante, pois o estudo individual permite o crescimento coletivo. Acredito ter sido complexa a tarefa deste estudo. Primeiro, porque é difícil estudar algo que está um tanto distante de nossa realidade no dia a dia (como a minha, por exemplo, em que são poucos os alunos com deficiência física ou intelectual da escola, além destes estarem em suas salas de aula, sem que lhes tenhamos muito acesso). Segundo, porque os embasamentos teóricos são ricos, porém complexos se a prática está distante de nós. Mesmo assim, pude enxergar as necessidades específicas de crianças que estão na sala de aula, mas que se divergem quanto ao ritmo de aprendizagem. Pude trabalhar com elas para realizar as atividades e dessa forma, enxergar o quanto precisam de nosso investimento, da nossa alegria, das nossas parcerias... Que riqueza é isto! Encerro o curso com muitas dúvidas sanadas, mas, principalmente, com ainda muitas outras proporcionadas pela reflexão que ele propiciou, e com imensa vontade de prosseguir com esses estudos. Fica, assim, claro para mim que será preciso, ainda, muito estudo para que possamos oferecer uma educação verdadeiramente compromissada com a necessidade de todos, com suas características particulares e especiais. Que novos estudos venham! O que de mais valioso ficou neste estudo foi a importância de um novo olhar sobre a criança que está nos bancos escolares de nossas salas. Fica a certeza de que é preciso ousadia, vontade e desafio na tarefa de educar alunos com necessidades especiais visíveis ou não. Ora, muitas delas estão escondidas esperando e pedindo que nós as busquemos, as procuremos. É preciso, então, olhar a criança para enxergá-la, estudá-la e ofertá-la o nosso melhor, aquilo que uma boa formação, como a desse curso, é capaz de suscitar em nós. Foi um prazer! 107 INTEGRAÇÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA EM SALA REGULAR Maria Valéria Polla Rodrigues29 Ao longo da minha carreira, deparei com situações como essas, várias vezes, e é necessário ter muita vontade e compromisso para desenvolver um trabalho eficaz. Durante o curso Práticas Educacionais Inclusivas - Deficiência Intelectual, pude obter muitos conhecimentos sobre esta prática e atualizá-los, também. Atualmente, leciono em uma sala regular da rede municipal, com um número elevado de alunos e uma aluna que apresenta deficiência intelectual moderada e dificuldade na coordenação motora fina. O trabalho realizado com essa aluna é bem direcionado às necessidades imediatas de aprendizagem. Nada mais eficaz para refletir a realidade da educação no Brasil que a sala de aula. Nas salas de aula, encontramos crianças com seu jeito próprio, com seu conhecimento, com o seu modo de ver o mundo. Pressupõe-se que todas as crianças são iguais, que as origens são as mesmas e que por isso o ponto de partida deve ser o mesmo para todas. A história de vida da criança não interessa aos conteúdos pré-estabelecidos pela escola? É, nesse contexto, que aparecem os alunos com deficiência. Essas crianças trazem consigo uma história própria. São pais que superprotegem e acham que seus filhos realmente são “especiais” e por isso não sabem e não podem fazer nada, não é permitido a essas crianças fazerem tentativas de acertar ou errar. Ou ainda, são pais que rejeitam e abandonam as crianças, passando a não aceitá-las, rejeitando-as ou reprovando-as. Essas crianças estão pedindo apenas uma oportunidade para mostrar que são capazes. A educação especial tem duas contradições: segrega ou deixa de lado, em nome de uma educação baseada numa pseudo-integração. Será que precisamos escolher entre integração e educação? Se a integração/segregação estão sendo dicotomizadas é porque o fundamento teórico de tais práticas ainda é frágil, por isso, é necessário apontar novos caminhos com uma postura teórica sólida. Enfatizamos a importância dos aspectos sociais da educação das crianças com deficiência e, é exatamente, para esse papel social que Vigotski nos chama a atenção 29 EMEF “Dr. Francisco Monlevade” - Campo Limpo Paulista – SP. 108 quando diz que “Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no interior da criança (intrapsicológica). Isso se aplica igualmente para atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as funções superiores originam-se das relações reais entre indivíduos humanos” (VIGOTSKI, 1989, p. 64). Ele se refere à gênese de todo e qualquer conhecimento nas relações entre pessoas. O indivíduo começa a aprender com o outro e nesse processo internaliza esse conhecimento, fazendo-o seu. Com relação à integração, podemos verificar alguns estudos feitos em 1977 por Cook que mostram bem essa realidade. Segundo o autor a simples colocação de indivíduos normais e especiais no mesmo ambiente não é o suficiente para que ocorra interação entre si. São necessários programas especiais. As crianças parecem preferir interagir socialmente com crianças que tenham níveis de desenvolvimento semelhantes. E, a interação é positiva em situações que incentivam a cooperação entre os participantes e é negativa em situações que incentivam a competição ou o trabalho individual. Analisando esse estudo, podemos dizer que a escola deve trabalhar para que ocorra a quebra de tabus, estigmas, desinformação e ignorância que fazem com que as pessoas tenham atitudes negativas em relação à criança especial. A individualização do ensino, o trabalho diversificado, a avaliação permanente e, predominantemente, qualitativa são os fatores essenciais nesse processo. Durante o curso, pude realizar muitas leituras e observações sobre os problemas apresentados pelas crianças inseridas no contexto escolar, então comecei a interagir com cada criança, dando orientação individual e, por várias vezes, proporcionando-lhes uma melhor compreensão sobre os conteúdos trabalhados. Juntando o conhecimento teórico aos diversificados problemas apresentados com o conhecimento de cada aluno, foi possível ter uma melhor interação, estabelecendo laços de amizade, cooperatividade e incentivo, mostrando que eram capazes de fazer, de resolver e questionar, participar e perguntar como os demais alunos. Com o passar do tempo, os próprios colegas ofereciam apoio e auxílio para as questões que houvesse dificuldade. Aqui, percebemos e verificamos o que Vigotski diz sobre a necessidade do outro intervir no processo. Logicamente que para a realização desse trabalho foram necessários muitos momentos de conscientização de todas as crianças para que acreditassem que seu colega 109 era capaz e que precisava da presença de outras pessoas, intervindo com ela para atingir o objetivo. Ser diferente e único é uma característica de todo ser humano. Para facilitar a compreensão do desenvolvimento e comportamento humano, podemos normatizar e agrupar características semelhantes. Tarefa difícil é descobrir e valorizar as dificuldades de cada um. Entretanto, todos necessitam desse conhecimento para aprender e saber onde estão seus limites, onde precisam de ajuda, onde precisam de complementaridade dos demais, até caminhar sozinha. A percepção e valorização de sua realidade total, com altos e baixos, facilidades e dificuldades, é essencial para que o ser humano cresça e se desenvolva plenamente. Assim, aprendemos a respeitar a individualidade de cada um, sabendo compreender e acreditar na capacidade da criança especial, relevando o seu ritmo, seus conhecimentos e maneiras que são adquiridos. Nesse relato, a criança aqui mencionada apresentava deficiência intelectual moderada e dificuldade na coordenação motora fina. Só o convívio direto, pode favorecer o desenvolvimento de amizade entre os alunos, proporcionando uma variedade de desafios, estímulos e inúmeras oportunidades para a criança especial. Enfim, a integração, ou seja, a inclusão de todas as crianças com deficiência na sociedade constitui um dos objetivos principais da educação especial. Nesse processo global, todos os alunos da classe tornam-se agentes diretos do desenvolvimento de cada um deles e favorecem a construção de personalidades únicas e originais. A integração das crianças com deficiência na classe regular não pode ser imposta por decreto, ela só é possível se mudarmos nossas atitudes. Essa mudança modifica nossos conceitos e o modo de compreender nosso papel enquanto educador. 110 SOMOS TODOS IGUAIS NA DIFERENÇA Cristiane Covolan Luvisotto 30 Sou professora de educação infantil pelo município. Estou na área da educação há 10 anos. O meu primeiro contato com criança foi na creche como auxiliar de desenvolvimento infantil, na faixa etária de 0 a 5 anos. No início, surgiram dúvidas em como trabalhar, principalmente, com as crianças que apresentavam deficiência ou dificuldades de aprendizagem. Aos poucos, fui adquirindo experiência. Conforme surgiam dúvidas, pesquisava na biblioteca, comprava livros (pois na época não tinha acesso à internet) para que pudesse desenvolver um bom trabalho com essas crianças, percebia que necessitavam de um trabalho diferenciado. Após cinco anos, surgiu uma nova oportunidade, fiz um concurso para professora de educação infantil. Fui chamada para dar aula em uma nova escola. No decorrer do segundo ano, recebi um aluno com deficiência, com paralisia cerebral. No primeiro momento, toda equipe escolar ficou apreensiva em como trabalhar com esse aluno. Surgiram muitas dúvidas, mas fomos aos poucosadaptando materiais e tentando ajudá-lo a se desenvolver da melhor forma possível Nesse período, senti falta de um curso de aperfeiçoamento sobre educação inclusiva para que pudesse sentir maior segurança no trabalho que vinha sendo realizado. No ano de 2009, surgiu a oportunidade em realizar inscrição para o curso do programa de formação continuada de professor - Plataforma Freire (MEC) sendo um curso a distância. Não tive dúvidas, optei pelo curso Práticas Educacionais Inclusivas na área da deficiência intelectual. Sentia necessidade de uma capacitação nessa área. Fiquei muito feliz e senti iluminada por Deus ao receber o e-mail da equipe da UNESP, de Bauru. Tinha sido selecionada entre muitas pessoas para iniciar o curso. Este curso veio ao encontro do que eu mais precisava no momento: uma orientação, maior conhecimento, pois este ano recebi um aluno com deficiência intelectual, apresentando muitas dificuldades e agressividade constante. Durante esses dez anos de profissão, este aluno está sendo meu maior desafio. 30 EMEFEI “Profa. Cecília Salto de Almeida” - Laranjal Paulista – SP 111 Educação a distância é uma modalidade educativa, uma alternativa pedagógica que não vem para substituir a educação presencial. É fruto de uma série de determinações presentes no atual estágio de desenvolvimento científico-tecnológico e econômico das complexas forças produtivas, pois não é um “fast-food” em que o aluno se serve de algo pronto. É uma prática que permite um equilíbrio entre as necessidades e habilidades individuais e as do grupo. Nessa perspectiva, é possível avançar rapidamente, trocar experiências e esclarecer dúvidas. A maioria das pessoas, muitas vezes, não tem acesso a esses recursos tecnológicos que democratizam o acesso à informatização. Por isso, é de maior relevância possibilitar a todos o acesso às tecnologias, a informação significativa e à mediação de profissionais efetivamente preparados para a sua utilização inovadora. O curso Práticas Educacionais Inclusivas, totalmente a distância, foi um curso muito bem organizado por toda a equipe, abrindo novas perspectivas no que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem. Esta foi minha primeira experiência com EaD. No inicio, fiquei um pouco apreensiva por ser algo novo e, principalmente, por estar em contato com pessoas de diferentes localidades. No decorrer do curso, fiquei totalmente envolvida, em um ambiente rico de aprendizagem. Sua organização por ícones contribuiu para a mudança de uma tela para a outra, facilitando o trabalho, assim como a divisão por módulos, estipulando datas, onde pudemos organizar nossos estudos. O estudo pela internet proporciona flexibilidade, mas exige a mesma dedicação do estudo presencial ou, às vezes, até mais. Os materiais diversificados e ricos em conteúdos nos envolveram ativamente, trazendo contribuições significativas por meio dos bate-papos e das contribuições temáticas em fóruns de discussão, colocando-nos em contato com pessoas de localidades e realidades diferentes, ideias interessantes, desenvolvendo trabalhos em grupos e muita troca de experiências. Podemos dizer que um bom curso não é apenas ler os textos e ter acesso aos conteúdos, mas sim, ter a possibilidade de se comunicar, fazer perguntas, interagir com a equipe do curso, alunos e trocar experiências. Mesmo o curso sendo a distância, sentia estar participando de forma ativamente presencial. A tutora e a professora formadora desenvolveram uma verdadeira mediação, estimulando o aprendizado, respeitando a autonomia de aprendizagem de cada aluno, constantemente orientando, dirigindo, tirando dúvidas e supervisionando o processo de aprendizagem dos cursistas. 112 Através de temas atuais como: A história da inclusão social e educacional da pessoa com deficiência; Direito fundamental a proteção e a integração social da pessoa com deficiência à luz do texto constitucional; Ética; Família; Desenvolvimento humano e aprendizagem através das contribuições da psicologia histórico-cultural; Avaliação e planejamento; Sexualidade; Flexibilização(ensino fundamental de nove anos); Ensino colaborativo e criatividade; Habilidades sociais e Tecnologia assistiva adquiri conhecimentos e apliquei atividades com orientações das fichas que refletiram sobre minha prática. Compartilhar experiências é fundamental para a formação continuada em educação, pois os conhecimentos teóricos somente não bastam, é necessário a participação nas mudanças sociais, como agente de formação e não apenas transmissor de conhecimentos. A formação do professor deve ser contínua, diferenciada e vista como uma ação para ampliar as competências a fim de desenvolver as potencialidades do profissional em todas as dimensões. Nos últimos anos, tivemos um avanço na questão da inclusão, mas ainda temos muito que fazer para melhorar essa história. Precisamos cada vez mais de profissionais capacitados, conscientes, para trabalhar com alunos que apresentam alguma deficiência. A inclusão se concilia como uma educação de qualidade para todos, mas é necessário enfrentar um desafio maior que recai sobre o fator humano. Não basta apenas incluir os alunos portadores de deficiência para ser cumprida a lei, é preciso trabalhar para realmente incluí-los. A tarefa da escola inclusiva é ofertar e buscar sempre melhores condições de ensino e recursos pedagógicos para que todos os alunos desenvolvam suas potencialidades, respeitando suas limitações, favorecendo a diversidade. Pensar em uma escola acolhedora, que trabalhe com a diversidade observável em sala de aula, significa levar em consideração uma concepção de currículo através da flexibilidade para que este ofereça respostas educativas às necessidades educacionais de todos os alunos. Mudanças no contexto escolar e social possibilitam que a equipe escolar possa exercitar refletir e compartilhar ideias, interagindo com os colegas, estudando juntos, abertos à colaboração, elaborando o projeto PPP com autonomia, cooperação e de forma participativa, diagnosticando a demanda dos alunos, estabelecendo parcerias com profissionais especializados, trabalhando em conjunto com as famílias, percebendo que 113 as crianças podem aprender juntas, embora tenham objetivos e processos diferentes, favorecendo as diferenças para que os alunos consigam progressos significativos, estaremos assim contribuindo para uma verdadeira educação inclusiva. Os preconceitos em relação à inclusão poderão ser eliminados, ou pelo menos reduzidos por meio de ações de sensibilização da sociedade. Esse curso contribuiu muito para melhorar minha prática, pois ao olhar um aluno, não devemos apenas ver as dificuldades, mas sim, verificar as habilidades e as formas que ele usa essas habilidades para vencer desafios. Percebo isso hoje no meu aluno O avanço que ele obteve, claro que de forma mais lenta. Está conseguindo permanecer por mais tempo sentado, concentrar um pouco mais durante as atividades, expressar seus sentimentos, controlar com mais frequência a agressividade. Ele também vem realizando atendimento com profissionais especializados e a família que antes não participava, hoje a mãe já está aceitando ajuda, dialogando e procurando em parceria com a escola contribuir no desenvolvimento do filho. Foi um trabalho que necessitou de muita persistência, pois muitas vezes, quase desanimei diante dos vários obstáculos apresentados e hoje percebo que, graças ao curso, senti mais segurança e um maior conhecimento para desenvolver o meu trabalho. Agradeço a toda a equipe do curso Práticas Educacionais Inclusivasna área da deficiência intelectual em ter contribuído com a minha capacitação e também as alunas do curso que proporcionaram momentos de trocas de experiências enriquecedoras. Quando surgirem dúvidas sei que adquiri conhecimentos e materiais que irão me ajudar a criar diferentes estratégias, com o compromisso de fazer o ensino inclusivo acontecer, com espontaneidade e coragem de assumir os riscos, trabalhando em equipe através de parcerias, desenvolvendo novas habilidades e promovendo uma educação de qualidade a todos os alunos, favorecendo a diversidade. Finalizo o meu relato do curso com uma frase de Paulo Freire: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. 114 REFLETINDO SOBRE NOSSA PRÁTICA NA DIVERSIDADE DA EDUCAÇÃO Keila Maria Bordignon 31 Foi com muita alegria e surpresa que recebi o convite para fazer parte desse curso. No início, ficamos apreensivos, pois o novo nos traz insegurança, a incerteza de talvez não conseguir realizar tudo o que está por vir, principalmente por se tratar de um tema polêmico e pouco trabalhado até o momento entre nós, nas classes comuns. Mas, ao mesmo tempo nos mostra que os desafios estão presentes e são a partir deles que conseguimos atingir nosso principal objetivo: o de ensinar e de aprender. O curso Práticas educacionais inclusivas na área da deficiência intelectual foi dividido em MÓDULO 1 – EaD e Ambientação no TelEduc; MÓDULO 2 – Fundamentos: Capítulo 1: A história da inclusão social e educacional da pessoa com deficiência, Capítulo 2: Direito fundamental a proteção e a integração social da pessoa com deficiência a luz do texto constitucional, Capitulo 3: Ética e Capítulo 4: Família MÓDULO 3 – Desenvolvimento humano e Aprendizagem; MÓDULO 4 – Avaliação e Planejamento e MÓDULO 5 - Práticas Educacionais Inclusivas. A disposição do ambiente TelEduc estava de fácil acesso, os ícones bem dispostos e separados de forma organizada. O fórum representou um momento de interação ímpar, pois pudemos compartilhar com todos os cursistas as realidades, dificuldades e experiências que cada uma possui. Os materiais de apoio foram escolhidos de forma atingir nossa realidade e levar a uma profunda reflexão sobre as práticas inclusivas. As atividades sempre detalhadas e de fácil compreensão, para realizá-las, tive poucas dúvidas. Em relação ao trabalho em grupo, tivemos um pouco mais de dificuldade para realizá-lo, pois não consegui entrar em contato com duas participantes de outra cidade, por motivos particulares que depois vieram explicar, por isso realizamos o trabalho em duplas e assim concluímos o módulo. Outro item importante foi à divisão e organização do tempo para realização das atividades, que foi suficiente para concluí-las. O bate-papo foi outro ponto importante na socialização e compartilhamento, com os cursistas, de momentos alegres e tristes. Os conselhos, os sentimentos sobre o que cada uma estava vivenciando, durante a semana e 31 EM. “João Salto” - Laranjal Paulista – São Paulo 115 nas respectivas escolas, as experiências que deram certo, pontos que poderíamos mudar em determinados momentos e a reflexão sobre os temas propostos nos bate-papos relacionados aos módulos da semana, sempre nortearam boas discussões para as possíveis ações. E difícil de explicar o carinho e a preocupação que sentimos pelas pessoas sem ao menos conhecê-las pessoalmente. Nossa ligação na educação é muito forte, um laço que estreita qualquer distância e fronteira. A postagem das atividades também estava sempre bem explicada na plataforma, o correio foi bem utilizado sendo uma ferramenta essencial para as dúvidas, marcações de encontro no bate-papo, troca de experiência e informações da tutora e coordenação do curso entre outros. Outro ponto que merece destaque são os registros dos comentários tanto das formadoras, quanto das colegas, momento imprescindível de crescimento profissional. Gostaria de acrescentar também meu agradecimento ao carinho e dedicação da tutora e formadora, que sempre estiveram presentes nas dificuldades e conquistas, sempre incentivando e sendo o alicerce para que esse trabalho fosse concluído, pois precisamos de muita determinação e estímulo para vencer os desafios, mostraram assim que são verdadeiras educadoras comprometidas com a educação e fazem a diferença no processo do ensino e aprendizagem. A planilha do curso também foi outra ferramenta importante para verificarmos nossas atividades e nossa participação no curso, delineando nosso trabalho. O conteúdo trabalhado foi de extrema importância para refletirmos sobre nossa prática na diversidade da educação e, principalmente, confirmar que devemos trabalhar em equipe com comprometimento, desprendimento e responsabilidade para o bem comum do todo. O curso representa, em particular, um grande crescimento e abertura na minha visão sobre as práticas educacionais inclusivas, principalmente, reportando para minha realidade escolar, percebo que precisamos de uma preparação maior e um suporte de profissionais especialistas e recursos para auxiliar no desenvolvimento desses alunos. Aprendi sobre deficiência intelectual muita coisas das quais tinha dúvidas e consigo ter uma abertura maior em relação a esse aluno para poder acolhê-lo, respeitando mais seus limites e aprendizagem, mesmo, muitas vezes, sem um diagnóstico concreto. Mas, por outro lado, não vou deixar de lutar por um suporte mais 116 efetivo que possa auxiliar da melhor maneira o meu trabalho, minha aprendizagem e a do meu aluno. A escola na qual trabalho não possui muitos alunos de inclusão com diagnóstico preciso em deficiência intelectual, por isso não temos tanto recursos para trabalhar essas diversidades. Os professores, de maneira geral, questionam as dificuldades no aprendizado por parte de alguns alunos por falta de um maior suporte pedagógico e especializado para entendermos melhor esse aluno e incluí-lo na classe comum. A flexibilização curricular, a organização do ensino para os alunos deficientes, a ética profissional, a família, a avaliação, o planejamento e os diversos assuntos que permeiam a educação inclusiva, norteiam grandes avanços e conquistas e muitos ainda estão por vir para que realmente ocorra a efetivação do processo. Assim, a inclusão escolar começa a partir de pessoas e instituições dispostas a gerar mudanças como esses cursos, as parcerias entre as instituições e o poder público entre outros. Esse curso pressupõe, na nossa prática, significativas transformações administrativas e pedagógicas, no âmbito da organização do sistema do ensino. Como exemplo, podemos citar a construção coletiva do projeto político pedagógico, a parceria dos profissionais especialistas, os recursos e a flexibilização curricular para alunos com deficiência e o trabalho com os professores na orientação e suporte nessa diversidade. É importante ressaltar o espaço que a educação a distância vem alcançando e a seriedade com que está sendo trabalhada. É o meu segundo curso a distância e me sinto cada vez mais comprometida com essa nova forma de aprendizagem que requer mais disciplina, organização e responsabilidade na ordenação do seu tempo e estudo diário. Posso dizer, com convicção, que são poucos os que conseguem ter uma autodisciplina para estudar, aprender, colocar em prática o que se aprende e saber compartilhar esse aprendizado, ensinando ao mesmo tempo. Entretanto posso afirmar que esse curso foi um momento de movimentação e rompimento de paradigmas na minha prática e das pessoas com as quais convivo, destacando a importânciada inclusão para uma sociedade mais democrática, na qual exista respeito à diversidade e todos possam exercer sua cidadania. Deixo a seguinte reflexão para avançarmos nas mudanças necessárias para nossa educação na diversidade “Não temos um novo caminho, o que temos de novo é a forma de caminhar”. 117 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: UMA MUDANÇA DA VISÃO DO SISTEMA EDUCACIONAL PARA SUPRIR UMA CARÊNCIA EDUCACIONAL Kátia Regina Silva Silveira 32 Falar em Educação a distância, no Brasil, é falar na mudança da visão do sistema educacional, ou seja, a quebra do paradigma da educação formal. Quando penso no EaD, enxergo a ruptura da educação na sociedade elitista, pois a realidade educacional no Brasil, é de que poucos conseguem se quer concluir o Ensino Fundamental, minoria ainda, consegue chegar às Universidades, já os que conseguem, poucos concluem o Ensino Superior. Segundo Gadotti, falar em perspectiva é falar de esperança no futuro. Nesse aspecto, a educação a distância vem ao encontro para suprir uma carência educacional, presente em nosso país, pois tem como objetivo democratizar o acesso à educação; propiciar uma aprendizagem autônoma; promover um ensino inovador e de qualidade, uma educação permanente. Programas educacionais a distância foram criados com objetivos comuns, visando diminuir cada vez mais a exclusão de cidadãos ao conhecimento, incluí-los no mercado de trabalho, oferecer ensino gratuito aos mais diversos pontos territoriais no país. A educação do futuro chegou. Temos pela frente o desafio de encararmos os avanços tecnológicos e uma nova postura, diante de um novo sistema de ensino que aos nossos olhos, parece novo, porém, há séculos vem buscando seu espaço, vem se aprimorando, cabendo a nós, qualificá-la e aplicá-la. Para muitos, o ensino a distância, transmite a ideia de uma educação informal, muito distante, porém, o que posso afirmar com convicção é que o curso de Práticas Educacionais Inclusivas na Área de deficiência Intelectual, ofereceu um estudo profundo, proporcionando um contato direto entre os formadores e alunos, numa dinâmica constante, diária, que a sensação é de nos conhecermos há algum tempo, pois, durante o curso, construímos um laço de afetividade/amizade, fazendo-nos esquecer da distância e efetivarmos trocas de experiências, conhecimentos, fundamental e essencial à mudança de olhar nas relações educacionais que possuíamos até o momento. 32 EM. “Profa. Lea Eady Alonso Saliba” - Sorocaba – SP. 118 O curso foi organizado de modo que pudéssemos realizar uma análise crítica construtiva da nossa prática educacional enquanto educadores, enquanto cidadãos, em busca de uma educação mais humana, democrática, autônoma, construtiva e, principalmente, inclusiva. Durante o curso, realizamos um estudo da história da inclusão, no aspecto social, onde pudemos conhecer o aspecto histórico da pessoa com deficiência, séculos de luta, na inclusão social. Oportunizamos também momentos de trocas com amigos/colegas no que diz respeito ao processo de inclusão nas escolas, como mais acessibilidades, materiais de recursos, entre outros... Conseguimos analisar e embasar nossos estudos na Constituição Brasileira que garante uma educação igualitária, humana, em recursos e oportunidades, em direitos, ou seja, na Lei, todos os direitos são garantidos para que a educação inclusiva seja eficiente e desenvolvida integralmente. Refletimos sobre a conduta ética profissional, essencial para se manter uma relação de democracia, cidadania, preservando valores de humanidade e dignidade, remetendo-nos ao aspecto da educação inclusiva, na prática e na relação que mantemos com nossos alunos e colegas em geral. Enfim se quisermos sobreviver numa sociedade democrática, humana, digna e igualitária, temos de assumir nosso compromisso social e ético. Um dos compromissos fundamentais e primordiais à instituição escolar é convencer e conquistar a família para um trabalho em equipe com a escola. A participação familiar é essencial no desenvolvimento afetivo/cognitivo/emocional do aluno. Nesse sentido, a escola deve estar permanentemente de portas abertas à sua comunidade, criando estratégias e ações essenciais a essa participação colaborativa, ao desenvolvimento, no trabalho pedagógico realizado na escola. Conhecer as contribuições de estudiosos na área da deficiência intelectual traz- nos momentos de reflexão à prática educacional realizada na escola, pois através dos estudos mostrados, podemos realizar experimentos de ações pedagógicas, criando novos a partir da necessidade, adaptando-se aos recursos disponibilizados na unidade escolar. Durante o curso, ainda tivemos momentos de estudos de projetos realizados com pessoas com deficiência, conhecemos a importância do trabalho colaborativo e flexível na prática educacional. Tivemos, também, a oportunidade de criar e aplicar uma ação pedagógica com o auxílio de parcerias e ver o quanto é possível ampliar uma ação pedagógica de modo eficiente e eficaz. 119 Conhecemos o Projeto Pipa, lindo, que realiza um trabalho maravilhoso, com naturalidade, na questão da sexualidade do aluno com deficiência. Um assunto que para muitos é delicado, constrangedor, porém para nós educadores, serviu como um sinal de alerta na necessidade de realizar um projeto que aborde o tema da sexualidade, abrindo um leque na participação familiar e parcerias com profissionais da área, médicos, psicólogos, desenvolvendo um trabalho colaborativo de grande valia para a comunidade escolar como um todo, pois o tema não precisa estar restrito simplesmente ao aluno, esse é um momento importante para trazer a comunidade para dentro da escola sendo mais uma parceria fundamental na ação coletiva educacional. Enfim, o curso Práticas Educacionais Inclusivas, na área de deficiência intelectual proporcionou momentos de reflexão a minha prática profissional, voltando- se para a importância de realizar um trabalho pedagógico dinâmico, com ações criativas, flexíveis e colaborativas. Mudou minha visão, no sentido de que não estou só na luta por uma educação humana, moral, digna, igualitária, justa, democrática, autônoma e INCLUSIVA! Finalizo meu relato, com a convicção de que minha luta não finalizou. Ela está apenas iniciando... 120 UMA BOA AVALIAÇÃO COMO SENDO PONTO DE PARTIDA PARA UM PLANEJAMENTO MAIS EFETIVO. Ana Paula Souza da Silva Sichetti 33 Esse foi meu primeiro curso a distância e garanto que não será o único. Foi uma experiência enriquecedora e gratificante. Pude relembrar teorias já estudadas e conhecer novas perspectivas de pensamento e ação. Com isso, tive a oportunidade aprimorar minha prática. Sou professora desde 1997, na rede municipal de Juiz de Fora, MG. Desses 13 anos de magistério, trabalho há, no mínimo seis anos com alunos incluídos, atendendo a deficiência visual (visão reduzida), intelectual e, também, transtorno global de desenvolvimento (síndrome de Asperger). Esse tempo foi marcado por muita busca. Foram muitas conversas com a família da criança, com professores que já trabalharam ou trabalham com ela e, ainda, com profissionais que atendem essa criança. Participei de alguns cursos e, atualmente, faço parte de um grupo de professores que se preparam para assumir as salas de recursos multifuncionais do Atendimento Educacional Especializado (AEE) que estão sendo instaladas em algumas escolas do município. Gostei da dinâmica e tópicos desenvolvidos no curso. Aprender a usar o ambiente TelEduc foi muito importante, assimcomo relembrar a histórica da inclusão na sociedade e na educação, a legislação, envolvendo as questões da inclusão, a dimensão ética e características das famílias contemporâneas. Destaco como embasamento teórico as ideias de autores como Piaget e Vigotski para pensar o desenvolvimento e a aprendizagem. Considero muito importante uma boa avaliação como sendo ponto de partida para um planejamento mais efetivo. Por isso, muito me acrescentou o módulo 4 que trouxe muitas inovações para minha prática. Com o questionário de habilidades sociais para professores pude pensar de forma mais sistematizada as minhas concepções e práticas. Com o inventário de comportamentos pró-sociais, descobri a possibilidade de analisar e planejar com metas mais claras e objetivas e utilizar as habilidades sociais para construir uma convivência mais harmônica, significativa e justa na sala de aula. Entendo com mais consistência 33 CAIC – “Escola Municipal Professor Helyon de Oliveira” - Juiz de Fora – MG. 121 como pode ser realizado um trabalho educativo baseado em criatividade, ensino colaborativo e flexibilização de currículo. Pude aprender um pouco sobre tecnologia assistiva e isso me estimulou muito a buscar recursos para serem utilizados pelos alunos especiais, sendo esses recursos algo já pronto, ou até mesmo aqueles recursos que podemos construir com materiais de sucata. Enfim, posso dizer que muito aprendi com esse curso. Pude, como mais marcante dessa experiência, trocar vivências e sentimentos com minhas colegas e formadoras do curso. Guardo todas comigo como fonte de inspiração e motivação diária. Tenho a certeza que muito ainda pode ser feito por uma educação que inclua a diversidade em todas as suas dimensões. Vou sentir saudades de acessar diariamente o correio e para finalizar agradeço o empenho dos profissionais envolvidos. Destaco a presença organizada da tutora e os comentários ternos da formadora como sendo marcas da qualidade do curso. Pena que acabou... 122 DESAFIOS Lúcia Helena Rodrigues Soquetti 34 Participar do EAD me proporcionou momentos de aprendizagem, reflexão e troca de experiências. Conheci novos profissionais de diferentes localidades e vivi momentos de alegria. Os momentos de aprendizagem foram muito importantes, pois, embora a educação inclusiva venha acontecendo há anos em nossas salas de aula, recentemente, em maior número, tem causado muitas discussões entre os profissionais da Educação e, ao mesmo tempo, angústia por não haver preparo desses profissionais por não saberem como lidar com as diferentes deficiências e até mesmo o desconhecimento dos recursos a serem utilizados. As discussões compartilhadas nos fóruns e nas salas de bate-papo proporcionaram reflexões às quais mexeram de forma significativa na maneira de ver a educação inclusiva como algo necessário ao ser humano, com o intuito de dar-lhes a oportunidade de participarem de forma igualitária de nossa sociedade, onde todos têm seu direito como cidadão, independente ser deficientes ou não. Ter o contato com outros profissionais foi importante para troca de experiência, pois sempre há algo novo a aprender com o outro. Faz-se necessário que saibamos da importância desse contato com outras pessoas, com elas temos muito a aprender e o que aprendemos não deve ficar guardado em nossa memória, mas sim, passado para outros: isso é crescimento profissional. Quando nos deparamos com profissionais da Educação de outras localidades, percebemos que nossas dúvidas e angústias são muito parecidas e, quando nos unimos, nos tornamos mais fortes para enfrentar novos desafios. É disso que vive diariamente o bom professor, enfrentando novos desafios, e se fortalecendo à medida que consegue vencê-los. Este contato, as trocas de experiências, um novo olhar à inclusão, trouxeram também alegria. Deram-nos a certeza de que o caminho que estamos trilhando é o correto. Dar às pessoas a oportunidade de serem aceitas em uma sociedade que se 34 E.M.E.F.E.I. “Vereador José Luíz Gomes da Silva-Zelo” - Santa Bárbara d’Oeste – SP. 123 mostra tão excludente, é gratificante, pois a escola é o local ideal para modificar essa realidade. Professores de salas comuns precisam conhecer e saber trabalhar com os recursos disponíveis aos alunos de inclusão. Não é possível que nossas escolas recebam, por pouco que sejam, materiais que não se sabe como se manipula. O ensino colaborativo proporcionado pelo EaD nos remete a reflexão da importância da interação dos professores de salas comuns e professores de salas de recursos. Se queremos uma escola inclusiva, por que somos tão excludentes com nossos pares? Como queremos que professores de salas comuns atendam com dignidade os alunos com deficiência se não os capacitamos para isso? Por que as salas de recursos são tão fechadas aos professores de salas comuns? Para que possamos ter uma escola verdadeiramente inclusiva, não basta as portas das escolas se abrirem para os alunos portadores de deficiência. Faz-se necessário que órgãos governamentais e profissionais da Educação se unam para dar a esses alunos as condições necessárias para que a aprendizagem aconteça. Não pode haver duas escolas dentro de uma, como vem acontecendo. Não há que pensarmos em sala de recursos x sala comum, mas sim, pensarmos que os recursos materiais e os saberes que recebemos nas escolas devem ser compartilhados com todos, sem distinção de funções. A questão é: não sermos professores de sala de recursos, nem de classe comum, mas sim, Profissionais da Educação. 124 PALAVRA DE ORDEM: ADMINISTRAR E CONFIAR QUE O ALUNO É CAPAZ DE TUDO QUE QUISER Grasieli Zampieri Laudissi 35 Ao me inscrever nesse curso, não tinha a mínima noção de como funcionava um curso a distância. Realizado através do computador, sem poder olhar nos olhos das colegas, sem poder “tagarelar” entre as mesmas trocando informações, buscando auxílio para sanar dúvidas. Confesso que a priori eu estranhei, mas possuo uma facilidade em adaptar-me, portanto, rapidamente me sentia amiga de todas e sentia-me em sala de aula, discutindo, conversando, oferecendo e recebendo informações que atendiam as minhas necessidades como professora de AEE que ansiava por novos conhecimentos e trocas de experiências com pessoas da mesma área e que entendessem um pouco mais sobre o funcionamento da inclusão baseada nas leis e de pessoas preocupadas em realizar isso com destreza e comprometimento consigo mesmo, mas, acima de tudo com os alunos que são os principais autores dessa história. Durante todo o curso, o que sempre me recordava, era do primeiro texto a nós enviado sobre como ADMINISTRAR nosso tempo que, desde o início, nos preparava para o compromisso e assiduidade com relação ao curso, para que o levássemos a sério, visto que o conhecimento se dá individualmente. As informações, a aprendizagem foram a todas fornecidas, mas o que cada uma das cursistas adquiriu de conhecimento se dá devido ao quanto cada um se dedicou para que esse conhecimento passasse a ser significativo. O que sempre favoreceu o aprendizado foi a prontidão da tutora e da formadora em solucionar nossas dúvidas, proporcionando e despertando em mim um grande interesse por aprender e querer mais... por querer dividir com todas o que eu já sabia, dividir para que depois pudéssemos somar. A relevância e qualidade do material disponível deixavam-me, em cada módulo, mais interessada e desejosa do conhecimento. Assim que descobriramas possibilidades infinitas das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC's), nosso mundo tornou-se mais próximo, não há mais limites, as barreiras foram ultrapassadas, todo e qualquer distanciamento já não existe 35 EMEFEI “Vereador José Luiz Gomes da Silva – ZELO” - Santa Bárbara d’Oeste – SP. 125 em se tratando de tecnologia e o melhor é poder fazer uso desse recurso, poder usá-lo a nosso favor para que assim, nossa prática, nosso conhecimento seja cada vez mais aprimorado em benefício de nossa profissionalização, em benefício de nossas aulas, em benefício, sobretudo de nossos alunos. Refleti muito sobre como e o que poderia descrever sobre o curso. Afinal foram tantos os aprendizados e benefícios adquiridos através do mesmo, tais como: a) repensar a prática inclusiva, o papel da escola, da família, da comunidade e do professor diante dessa prática; b) identificar quais os procedimentos que devem ser utilizados para melhor atender os alunos e quais as possibilidades e sugestões possíveis para melhor atender aos nossos alunos inclusos no ensino regular; c) conhecer as leis que amparam e garantem o ensino de qualidade também ao aluno com necessidades educacionais especiais; d) utilizar os caminhos para que se possa planejar, avaliar e adequar melhor as atividades propostas aos mesmos; e) investigar os meios possíveis de interação, as tecnologias que beneficiam o aluno como as Tecnologias Assistivas e, f) conhecer as habilidades que cada qual possui. Dominar as melhores formas de nos organizar e proceder enquanto professor pode garantir a todos os alunos um ensino de qualidade e benéfico a todos, sem recusas, sem medos, sem negar, mas, acima de tudo, respeitando os alunos como cidadãos e merecedores do que temos de melhor para lhes oferecer. De acordo com Rubem Alves: “Educar é um exercício de imortalidade”. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver a mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais... Entendo assim a tarefa primeira do educador: “Dar aos alunos a razão para viver... ” Essas palavras mostram como o papel de professor é fundamental, pois, muitas vezes, somos nós, os únicos que acreditamos que nosso aluno tem valor, que ele é capaz de tudo que quiser, basta confiarmos neles, tenham eles deficiência ou não!!! Nossa responsabilidade diante dessas vidas é relevante. Somos peças fundamentais no processo de escolarização dos mesmos. Ressalto que, não havia noção da dimensão de um curso a distância e do quanto seria proveitoso poder aprender com pessoas de outras cidades, outros estados e além de aprender, poder usar todo conhecimento adquirido em prol de uma classe desvalorizada, ainda pela sociedade, que são a dos alunos com deficiência. Posso afirmar que hoje tenho um olhar diferenciado, um olhar mais apurado com as informações absorvidas no decorrer do curso. E encerro minhas palavras com as de Paulo Freire: 126 "Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se amofinar e de já não ser testemunho que deve ser de lutador pertinaz, que cansa, mas não desiste." 127 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA Liseti Menezes Sottovia 36 Para as pessoas da minha geração, o diploma universitário em si, já era o bastante para alterar substancialmente a vida das pessoas. Com o passar do tempo, esse conceito foi sendo alterado e, aos poucos, fomos chegando ao que é hoje, quando o enorme volume de informações colocadas à disposição nos obriga a estar permanentemente em processo de formação. Foi com esse espírito que fiz minha pós e desde então tenho feito cursos, constantemente, na tentativa de me manter a mais atualizada possível. Os cursos on line são uma ferramenta poderosa para a atualização de profissionais já com formação e experiência em suas áreas. Participando do Curso EaD Práticas Educacionais Inclusivas - Deficiência Intelectual - pude reafirmar a importância da Formação Continuada para mim como professora do AEE. Destinar um tempo exclusivo para aprimorar os conhecimentos e as práticas pedagógicas é uma ação importante para a melhoria do ensino. A formação continuada é o único caminho para dar o salto de qualidade. Pensar em estratégia, liderança, orientação, diálogo, tempo, prática, conhecimento, organização, tato pedagógico, são capacidades tão importantes como saber ouvir, se comunicar e se relacionar, com confiança e respeito. A formação continuada a distância não é para qualquer pessoa. O perfil do estudante é um dos fatores que interferem no desempenho dessa modalidade de ensino, ela destina-se a quem consegue estudar sozinho e organizar o próprio tempo. O processo pedagógico transforma as relações sociais em um projeto de libertação do homem por meio da formação acadêmica, porém, uma formação de amplitude humanística. O ensino deve ser uma arma de resistência à indústria cultural na medida em que contribui para a formação da consciência crítica e permite que o indivíduo desvende as contradições da coletividade. Um processo educacional capaz de criar e manter uma sociedade baseada na dignidade e no respeito às diferenças. A educação a distância tem papel importante na implementação de políticas de democratização e interiorização da oferta de cursos. Vivemos numa era em que o 36 E.M.E.F. “Sala de recursos João Florencio” – Tatui – SP 128 conhecimento – no sentido de informação - é constantemente oferecido em tempo real, mas ainda assim, falta-nos a habilidade elementar de interpretar todo conteúdo. De acordo com Platão “... a ignorância é a raiz de todo o mal. O oposto da ignorância é o conhecimento ... o conhecimento é a crença verdadeira, justificada”. Para conhecer alguma coisa, a ideia em questão precisa ser verdadeira, precisamos acreditar nela, afinal, se não acreditarmos em algo verdadeiro, não podemos afirmar conhecê-lo A arte do pensamento crítico, tão necessária em nossa sociedade moderna, quando somos inundados por informações vindas de computadores, smartphones, tablets eletrônicos e livros digitais que não temos as habilidades necessárias para lidarmos. Esses equipamentos nos tornam massas de ignorantes, encharcadas de informação. Para o professor é de fundamental importância, o pensamento crítico, principalmente na era da internet. O acesso à informação não é problema e, sim, a capacidade de processar e interpretá-la. Cabe ao professor, ensinar seu aluno a pensar, a refletir e promover a ética, vivendo coerentemente com uma linha de conduta, aproximando o que se pensa daquilo que se faz, buscando o beneficio e qualidade de vida de todos, orientando a pratica. A vida e a qualidade de vida não vão melhorar apenas por meio do desenvolvimento científicoe tecnológico, mas pelo debate e pelo comportamento ético dentro da família, da escola e da comunidade. O professor e a equipe escolar, são elementos chaves nos princípios de igualdade de oportunidades, tolerância, justiça, liberdade e confiança, passando da reflexão à ação. É por meio da compreensão do mundo, dos outros e de nós mesmos, além das interações entre todos, que nos tornamos preparados para o incerto e aprendemos a intervir e estabelecer o alicerce para cidadania, ação profissional que requer competência e eficiência, atitudes e condutas éticas. A educação promove a socialização, novos tipos de trocas simbólicas entre os indivíduos, acesso a bens culturais e facilidades oferecidas, que impulsionam o exercício pleno e consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo. A formação continuada é uma atividade que desenvolve uma boa relação com as pessoas participantes e compartilham com competência os conhecimentos, habilidades fundamentais ao bom formador. É só através do conhecimento, da educação que nós teremos competência e criatividade. 129 A educação é uma ferramenta estratégica para o desenvolvimento, é preciso colocar o conhecimento a serviço do que realmente importa, isto é, fazer com que os professores transformem a prática para ir ao encontro das necessidades dos alunos. Incorporar a formação continuada à rotina do professor é tão importante quanto a relação direta com seus alunos. Só através de conhecimentos prévios de teorias e novas didáticas é que poderemos fazer as intervenções e mudanças necessárias nas práticas educacionais. O que foi descrito acima podemos chamar de cenário ideal ou otimista, pois tudo cairá por terra se as pessoas não se sentirem necessitadas de participar de novos cursos e se não os fizerem com a dedicação necessária. As políticas públicas deverão ser sempre no sentido de valorizar os mais capazes e mais interessados em seu próprio aprimoramento profissional deixando de lado as práticas comuns que vemos em muitos lugares de se dar sempre valor a apadrinhados pouco competentes em detrimento dos compromissados. 130 INCLUSÃO QUALIDADE DE ENSINO PARA TODOS Jussara Ester da Costa Rossi 37 É oportuno mencionar que a bagagem de conhecimentos que obtive com este curso sobre Deficiência Intelectual, com enfoque nas práticas educacionais inclusivas, me fez ampliar conceitos, rever atitudes e valores, analisar, avaliar, renovar, inserindo em meu contexto familiar, social e profissional, saberes e práticas educativas inclusivas. Busco agora promover as “pessoas”, com as quais convivo, respeitando suas singularidades, diversidades, oportunizando momentos de integração, participação, socialização e trocas de experiências e saberes construído de maneira recíproca e colaborativa. Diante das diversas teorias analisadas e estudadas, informações atualizadas e, principalmente, a prática desse universo educacional, hoje, posso me considerar uma educadora com uma visão inclusiva e holística de mundo. Discorrendo um pouco sobre a trajetória do Curso, posso declarar que no início fiquei muito confusa, ansiosa, pois ainda não tinha participado de nenhum curso a distância. Esse foi o meu maior desafio, pois não tinha habilidades desenvolvidas para lidar com o sistema, além de não ter contato, pessoalmente, com as formadoras e demais participantes do curso. Estava pensando em desistir, pois além de não ter tais as habilidades expostas acima, o fator adequação de tempo, com outras atividades particulares, também, estavam contribuindo para a minha desistência. Um dia enviei um e-mail para minha tutora, dizendo que não estava conseguindo realizar minhas atividades, acessar o sistema. Ela, com paciência, orientou-me a não desistir, pois eu estava como todos, em processo de adaptação e a curto prazo eu me adaptaria ao ambiente, enfim a toda a dinâmica do curso. E assim prossegui e não me arrependi. Aproveito também essa oportunidade para agradecê-la, enfatizando que é de educadores assim que a educação carece. Um educador que motiva o aluno a prosseguir dando-lhe credibilidade, impulsionando-o a busca pelo sucesso e superação. Todos os temas abordados enriqueceram e aprimoraram meus conhecimentos, ofereceram-me fundamentos para atuar com mais competência e eficiência em minhas ações profissionais. Destacarei alguns temas inseridos em alguns módulos que me 37 Emei Jaci Americana - Santa Bárbara d’Oeste -SP 131 possibilitaram refletir sobre minhas ações educativas, bem como notar aspectos relevantes apontados para um trabalho de qualidade e oportunidades igual a todos que já permeavam o meu universo de atuação como educadora. Esse curso me fez reconhecer as ações e práticas educativas inclusivas aplicadas. O tema Ética abordou aspectos primordiais para a atuação profissional e, em especial, ao educador que sabe da importância do agir com ética, educando para a cidadania e para a preservação de valores como igualdade, tolerância e dignidade. Também aponta a Escola como uma das mais importantes via de acesso à cidadania e a oportunidade educacional para todos. Na leitura desse texto, recordei-me de uma aluna deficiente física inserida em minha sala de aula, no ano de 2009, na educação infantil, nível –I, 4 anos. Ela veio transferida para a minha sala em junho. Quando fui notificada pela coordenadora da unidade que receberia tal criança, fiquei apreensiva, porém, era preciso agir com ética. Conversei com meu grupo de alunos, preparei um ambiente bastante acolhedor para receber a mais nova integrante do grupo. Foi emocionante observar o carinho e afeto demonstrado por todos, no primeiro dia de aula dessa criança. No momento da roda da conversa ela se apresentou, demonstrando timidez. A partir desse dia, comecei a observar quais eram as necessidades dessa criança. Notei que precisava de auxilio para suas necessidades fisiológicas, como para locomover-se nos espaços escolares. Então solicitei a ajuda do grupo, sempre que ela precisasse. Para garantir uma educação de qualidade a esta criança que promovesse o desenvolvimento de suas capacidades pessoais, contribuindo para o seu bem estar e inserção social, entrevistei primeiro a mãe, para obter detalhes sobre sua deficiência e saber se recebia tratamento especializado. Após fazer o levantamento de dados com a família, em parceria com a coordenadora pedagógica, agendamos um dia para uma conversa colaborativa com a equipe Especializada da APAE, em nossa unidade escolar para orientações sobre os cuidados e adequação necessárias ao currículo para contemplar o desenvolvimento de habilidades, em especial, as motoras, devido ao seu comprometimento por ter hemiplegia nos membros superiores e inferiores direitos. A partir daí, iniciei meu trabalho. Confeccionei um apoio para os pés da aluna com lista telefônica, fixava as folhas de atividades na mesa com fita adesiva, elaborei atividades que estimulavam sua coordenação motora, recortes, modelagens, perfuração, dobraduras. Durante a roda de conversa, procurava incentivá-la a participar, sempre 132 instigando-a a comentar algo de seu cotidiano ou recontar alguma história. Nas atividades de movimento sempre procurei oportunizar, e motivar sua participação, enfatizando suas conquistas. No parque, percebia certa insegurança, porém, ao mesmo tempo notava um olhar de desejo em usufruir do mesmo prazer dos amigos. Resolvi auxiliá-la, encorajando-a a subir as escadas do escorregador e apoiando-a para que pudesse escorregar. Dias depois, observei que já tentava brincar nesses brinquedossozinha e, a cada dia, que passava percebia a felicidade estampada no rosto dessa criança por sentir-se integrada ao grupo. Muitos foram os avanços obtidos no desenvolvimento da aprendizagem dessa criança. A transformação foi surpreendente e acredito que se não tivesse lançado um “Olhar Ético”, criando condições para que as barreiras fossem superadas e ultrapassadas, eliminando preconceitos e discriminações, promovendo o seu desenvolvimento integral, essa aluna não teria desenvolvido potencialidades de maneira eficaz e satisfatória. Essa experiência foi muito enriquecedora. Possibilitou a inserção de práticas educacionais inclusivas em minha ação profissional, beneficiando não somente a aluna inclusiva, mas todo o grupo. Diante do exposto, posso hoje avaliar, nessa experiência, a presença de aspectos relacionados aos temas estudados nesse curso, como a Flexibilização, a criatividade, o desenvolvimento de habilidades sociais, a inclusão social, o ensino colaborativo, a família, a ética e o professor. Aproveito para destacar também os momentos inesquecíveis de trocas de experiências compartilhados pelas atividades propostas pelos módulos e socializadas nos fóruns de discussão com comentários das formadoras e companheiros de curso. As sessões de bate-papos, que saudades! Possibilitaram a criação de laços afetivos a distância, bem como a construção de novas amizades em diversos estados do nosso Brasil, partilhando nossas angústias, conquistas, superação e esperanças como educadoras, apaixonadas pelo ato de educar apesar de todo cenário em que se encontra a atual educação brasileira. Acredito que somos um diferencial, hoje, em quaisquer lugar por onde atuarmos, pois podemos dizer que somos educadores inclusivos, em escolas inclusivas, lutando para que nossa sociedade seja plenamente inclusiva. Todo este suporte e embasamento foi possível adquirir com a formação proporcionada por esse curso. Parabenizo toda a equipe da UNESP/Bauru pela organização e pela dinâmica do curso, assim como pela preocupação com a qualidade de ensino para todos e com um 133 ambiente educativo em constante ampliação, oferecendo e oportunizando por intermédio deste curso o aprimoramento dos educadores; ampliando suas competências e habilidades. A Educação do século XXI necessita desta formação de diversidades de talentos e de personalidades e, mais ainda, de profissionais atuando com excelência, inovação, tanto social, cultural como econômica que saibam trabalhar em equipe e de maneira criativa e colaborativa. Temos muito que aprender com as crianças com deficiência, principalmente a intelectual... Concluo meu relato com a fala de uma aluna portadora de Síndrome de Down que tive o privilégio de acompanhá-la em sua escolarização com acompanhamento em aulas particulares ao cursar o ensino fundamental: “Professora, você sabia que desde que nasci eu sou uma pessoa feliz?” 134 REFLEXÕES SOBRE CONHECIMENTOS NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA INTELECTUAL Regina Novaes Silva 38 Para muitas pessoas a Inclusão é vista como um “monstro” ou um grande problema de difícil solução. Isso acontece devido a maneira como foi introduzido e realizado esse processo nas escolas, geralmente, sem eficácia devido à falta de experiência. A questão da inclusão deve ser fundamental na escola, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de projetos educacionais. Tais projetos devem possuir meios de oportunizar a participação e possuir preceitos de negação à discriminação. É necessário orientar o grupo, mostrando as diferenças e necessidades que as pessoas com deficiência possuem, conscientizando-os do respeito e valorização dos direitos que possuem como indivíduos na sociedade. Dessa forma, precisamos inserir essa criança ao grupo. Não se trata apenas da matrícula, mas da capacitação da escola e seu espaço físico, bem como da elaboração de uma proposta pedagógica que atenda as necessidades dessas crianças. Infelizmente, as pessoas valorizam aquilo que acreditam ser o normal. Por exemplo, tenho uma aluna cadeirante que, inúmeras vezes, sofre com o preconceito das próprias crianças em não ficarem juntas, não serem parceiras na brincadeira e, também, por parte do próprio sistema que não está preparado, nem estruturado para receber e apropriar o espaço para a sociabilidade dessa criança. A discriminação existe não somente na escola, mas em todos os setores públicos. É um tema sempre trabalhado com professores e equipe escolar: o pouco preparo dos educadores e a falta de auxílio que acarretam inúmeros danos ao trabalho pedagógico. Deste modo, é indispensável instrumentalizar os professores, não somente na formação inicial, mas, oferecendo-lhes uma formação continuada. Acredito que a aprendizagem desses alunos tenha uma nova característica, desenvolvida através de atividades lúdicas e experiências variadas, envolvendo o cotidiano e a realidade das crianças que estão nesse processo, que necessitam ser 38 EMEB Selma Maria Mesquito Godoi Martinho – Cabreúva - SP 135 entendidas. É uma oportunidade para que a criança descubra-se como habitante do mundo. Por meio desse trabalho, nota-se a importância das atividades significativas e prazerosas no aprendizado, pois propiciam ao aluno condições para construir e reinventar conceitos, permitindo o ato de pensar, explorar, descobrir e construir seu conhecimento. Para se atingir os resultados e objetivos almejados, é necessário que toda a equipe escolar elabore uma proposta pedagógica de acordo com a realidade desses alunos e, se preciso for, modifique as ações em relação à criança e o seu pensamento, motivando e incentivando-a na aquisição de conhecimentos por meio de ações que funcionem, efetivamente. Diante disso, faz-se necessário a tomada de consciência e, consequentemente, de posição diante da necessidade de se conhecer e valorizar as semelhanças e diferenças como parte importante em qualquer projeto educativo e social que se pretenda democrático. Busca-se, então, a formação de educadores políticos, críticos, responsáveis, teoricamente competentes, para fazer uma educação que sirva como instrumento social de inclusão que forme cidadãos aptos a agir criticamente na sociedade, conhecedores e atores de sua cultura. Dessa forma o EaD permitiu repensar a prática, introduziu novas estratégias e socializou experiências anteriores que realmente funcionaram. Nesse curso, pude aprofundar e acrescentar mais intensamente os conceitos inclusivos à minha prática pedagógica. Cada um dos módulos e conteúdos desenvolvidos beneficiou e aprimorou minha prática pedagógica, proporcionando maior embasamento para o processo de ensino aprendizagem dos alunos especiais, bem como de todos os demais. 136 UMA VISÃO DO CURSO E DA INCLUSÃO FORA DA SALA DE AULA Tereza Maria do Amaral 39 Sobre minha vivência em relação à aprendizagem acerca do curso sobre Práticas Inclusivas, posso dizer que não sou atuante no momento. Estou afastada da sala de aula, trabalhando junto a Secretaria de Educação, Cultura e Esporte do município de Iperó, fazendo parte da equipe técnica, implantando o sistema SESI de Ensino, os programas Ler e Escrever e São Paulo faz Escola. Em relação a minha vida e ao fato de ter me conscientizado de que todos nós, seres humanos, temos nossas deficiências, nossas dificuldades, ficou muito claro, óbvio até... não que eu já não tivesse essa consciência, mas, com certeza, ela foi potencializada. Hoje, percebo e aceito com mais naturalidade as pessoas como são, ou melhor, comoestão no seu momento, na sua trajetória, na sua aprendizagem, já que somos todos aprendizes. A cada dia a vida nos proporciona novas experiências, novos cenários de atuação e novas oportunidades, bastando que haja aproveitamento pleno e estejamos embasados na teoria e dispostos à prática. O curso foi excelente, os textos maravilhosos, os vídeos e as atividades pertinentes; as colegas virtuais e algumas amigas reais que também fizeram o curso e com quem troquei muitas ideias, foram ótimas e a formadora e a tutora, fantásticas, pacientes, ‘presentes’ e sempre motivadas, incentivando toda a turma 28 da qual, orgulhosamente, fiz parte. Portanto, mediante tantos adjetivos positivos, qualquer pessoa percebe que ADOREI!!! Minha maior problemática foi não estar atuando dentro de uma escola e sentir dificuldades em aplicar as atividades, mas a equipe do AEE que, na ocasião trabalhava no mesmo prédio, me ajudou muito e pude cumprir minhas tarefas. Hoje, o AEE possui prédio próprio, junto a uma das quatro CEIs do município e continua fazendo um excelente trabalho. Com minha participação neste curso, adquiri maior capacidade de avaliar, tendo mais propriedade ao dizer com certeza que o trabalho é muito bom, possui qualidade e tem resultados positivos, pois cinco jovens atendidos estão atuando dentro do mercado de trabalho, em uma parceria entre a Secretaria da Educação e as empresas locais. 39 E.M “Dra. Neide Fogaça de Lima” - Iperó – SP. 137 Nos dias 26 e 27 de maio, uma representante do AEE, o coordenador de Inglês que implantou o ensino da língua no Fundamental I e eu como professora de História fizemos uma capacitação no Museu da Energia de Itu com a visitação do público especial a museus, com palestra, oficinas e outras atividades que enriqueceram ainda mais os conhecimentos adquiridos com o curso de Inclusão. Na ocasião, tive a oportunidade de socializar com todos, os conhecimentos adquiridos no curso sobre Inclusão. A lista de filmes sobre deficiências agradou a todos, inclusive ao capacitador. Bem, só tenho a agradecer a oportunidade de ter podido participar deste novo olhar que foi proposto neste curso sobre Inclusão, sobre oportunidades e, principalmente, sobre respeito que nós, como seres humanos, precisamos ter em relação à vida e a nossos semelhantes, sejam eles de inclusão ou não. 138 CRESCER E APRENDER SOBRE OS SERES HUMANOS, SUAS SINGULARIDADES E CAPACIDADES: REFLEXÃO SOBRE AS PRÁTICAS QUE RESPEITEM A TODOS. Thaís Helena Neves de Mello 40 Sou orientadora pedagógica da rede municipal de ensino de Sorocaba. Atuo na Educação Infantil, com muito orgulho e, com a certeza, de que são as crianças que poderão mudar nossa realidade. Sou formada, primeiramente em História (1996) e, concomitantemente com essa faculdade, cursei Direito, me formando em 1998. Advoguei por alguns anos, mas a educação sempre esteve no meu caminho. Fui eventual e efetivei na rede estadual como PEB II. Tive alguns contratos pela Prefeitura de Sorocaba, também como PEB II. Já dei aulas de 5ª a 8ª séries (hoje anos) do Ensino Fundamental e da 1ª. a 3ª séries do Ensino Médio. Convivi com diversas realidades, situações, alunos, vidas...enfim, com pessoas com as mais variadas realidades, diferenças e deficiências!!! E é muito triste ver que ainda hoje existem preconceitos! Adoro e valorizo as oportunidades para construir novos saberes e obter novos olhares. Tenho ciência de que a capacitação para os profissionais da Educação deve ser contínua e de qualidade, de que os educadores devem ter formações que os façam refletir e ampliar conhecimentos sempre, pois este é um direito deles e, principalmente, das nossas crianças e adolescentes, de nossos alunos. A inclusão ainda é um conceito desconhecido e uma realidade nova para a maioria das pessoas. Precisamos de esclarecimentos, estudos, reflexões, apontamentos, experiências para que este seja um processo possível, real e significativo. Precisamos saber como trabalhar com as pessoas com deficiência que estão nas nossas escolas, nas nossas salas de aula. Como trabalhar dignamente, com foco, para atingirmos resultados. Os educadores estão cansados. Queremos respostas às nossas dúvidas e angústias. Queremos dar o máximo, uma educação de qualidade para todos. Atualmente, uma das maiores expectativas dos professores, senão a maior, é atender às crianças e adolescentes que já estão inseridas na nossa realidade, com 40 Ensino municipal - Sorocaba - SP 139 qualidade. É exatamente isso que encontrei nesse curso. Uma oportunidade de crescer e aprender ainda mais sobre os seres humanos, suas singularidades e capacidades. Esse curso EaD é uma iniciativa louvável do MEC, pois proporciona a ampliação dos horizontes sobre a Educação Inclusiva, seus objetivos, sua funcionalidade, recursos e o enriquecimento das pessoas envolvidas no processo educativo das pessoas com deficiência. Para mim, pessoalmente, trouxe todos estes benefícios, além de uma mudança de postura e um novo olhar para a inclusão. Novas ideias foram construídas, novas possibilidades[...]. Aprendi e reforcei que a criatividade é uma grande aliada e que nossa sensibilidade é fator essencial nesse processo. Com toda certeza, todos os educadores deveriam ter a chance de fazer o curso, pois precisamos de profissionais esclarecidos, que saibam trabalhar a inclusão de maneira efetiva e que sejam, principalmente, sensíveis à causa. Agradeço muito por ter participado e aprendido ainda mais sobre meus semelhantes e nossas diferenças. 140 APENAS A INSERÇÃO DAS CRIANÇAS COM ALGUMA DEFICIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR NÃO PODE SER CHAMADA DE INCLUSÃO. Isabel Cristina Lemos 41 O discurso acerca da inclusão das crianças com alguma deficiência no ambiente escolar tem sido debatido por todos os profissionais da educação. Discutindo o processo de como a educação inclusiva acontece, percebemos que somente a inserção das crianças com alguma deficiência no ambiente escolar, não pode ser chamada de inclusão. Ainda vivemos a realidade onde muitas crianças com alguma deficiência frequentam as salas de aulas do ensino regular, apenas marcando a presença, ocupando um espaço, sem que as práticas pedagógicas da educação inclusiva aconteçam. As políticas públicas de atenção a esse segmento, geralmente, estão circunscritas ao tripé: educação, capacitação dos educadores e estrutura física adequada. Porém, estão sendo esquecidos os aspectos básicos que são: a capacitação dos educadores e o ambiente escolar realmente preparado com materiais pedagógicos e estrutura física da escola adequada para receber a criança com alguma deficiência. Esses aspectos são necessários para que a educação inclusiva realmente aconteça dentro da escola pública. Mas, estão sendo negligenciados. Os educadores do ensino regular ressaltam, entre outros fatores, a dura realidade das condições de trabalho, os limites da formação profissional, o número elevado de alunos por turma, a rede física inadequada, o despreparo para ensinar alunos com deficiência ou, apenas, diferentes. Também não se sentem preparados para trabalhar com a diversidade desse alunado, com a complexidade e amplitude dos processos de ensino e aprendizagem. O que realmente precisa acontecer é a formação dos educadores, voltada para a qualificação ou habilitação específicas, obtidas por meio de cursos ou de outras alternativas de formação agenciadas por instituições especializadas. Nesses cursos, estágios ou capacitação profissional,os educadores aprendem a lidar com métodos, técnicas, diagnósticos e outras questões centradas na especificidade das diferentes deficiências. 41 Centro Municipal de Educação Infantil Município de Jauru - Mato Grosso. 141 Essa realidade está presente em muitas escolas públicas. No ano letivo de 2009, o Centro Municipal de Educação Infantil, Maria Soares de Souza Lima, localizado em Jauru – MT recebeu oito crianças de quatro anos de idade com alguma deficiência. O Centro Infantil cumpriu o seu primeiro papel para a educação inclusiva: receber essas crianças. Mas houve um desespero da equipe pedagógica. A coordenadora, a diretora e os professores não sabiam como realizar o processo pedagógico inclusivo dentro da sala de aula. O Centro Municipal não tem materiais para dar suporte às crianças com alguma deficiência e os educadores não possuem conhecimento para trabalhar pedagogicamente a individualidade dessas crianças. Tentamos buscar apoio na Secretaria Municipal de Educação para capacitarmos os educadores numa sala de recursos. A resposta foi que teríamos que esperar os cursos da Plataforma Freire e sala de recurso para educação infantil. Nesse caminho, ficamos com essas crianças, dois anos letivos e, pedagogicamente, as necessidades educativas dessas crianças não foram atendidas, suficientemente, para desenvolver as habilidades necessárias de acordo com os critérios da educação inclusiva. Podemos dizer que essas crianças com deficiência frequentaram os dois anos da educação infantil, indo para o primeiro ano do ensino fundamental sem ter sido trabalhado dentro dos princípios da educação inclusiva. Somente no final de 2010 que a Plataforma ofereceu o curso de educação especial. Fui contemplada com o curso. Quando comecei a fazer, passei a conhecer os caminhos necessários para o atendimento da educação inclusiva. Relembrando das crianças com deficiência que passaram pela nossa escola por dois anos letivos, podemos avaliar que não realizamos o processo de inclusão e que as crianças foram prejudicadas no processo mais importante de sua vida escolar que é a primeira etapa da educação básica - a educação infantil. A situação vivida pelos educadores do Centro Municipal de Educação Infantil Maria Soares de Souza Lima, no ano letivo de 2009 e 2010, configurou-se como um problema pedagógico de inclusão, de crianças com deficiência que necessitavam de ações pedagógicas especiais dentro da sala de aula. No ano letivo de 2011 recebemos outras crianças com alguma deficiência. Com os conhecimentos sobre educação inclusiva nos aspectos administrativos, legais, pedagógicos e metodológicos, dando suporte à prática pedagógica dentro da sala de aula, fizemos um trabalho diferenciado Esses conhecimentos foram oferecidos no curso 142 Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual, através da Plataforma Freire (MEC). É uma realidade a formação continuada dos educadores no ambiente escolar, no Estado de Mato Grosso. O projeto é montado pela escola, de acordo com seu Projeto Político Pedagógico. O tema de estudo é debatido no coletivo com todos que fazem parte do ambiente escolar, ou seja, professores, técnicos, administrativos, funcionários de apoio, coordenadora pedagógica, direção escolar e conselho escolar. O encontro é semanal, com todos os educadores do Centro Infantil, com objetivos que venham intervir na queixa apresentada pela escola, construindo, assim, uma ação de intervenção que venha contribuir para o processo de ensino e aprendizagem no ambiente escolar. O Projeto Sala do Educador em 2011 está voltado para a socialização do curso oferecido pelo MEC, TelEduc/UNESP/Bauru: Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual. Construímos o projeto com os mesmos objetivos oferecidos pelo ambiente, veiculando informações sobre deficiência intelectual e seus desdobramentos para prestação de serviços via educação às crianças com deficiência intelectual. São trabalhados temas como os aspectos etiológicos, conceituais, históricos e legais da Educação Especial, desenvolvimento infantil, postura ética frente à deficiência, relação família escola e aspectos da sexualidade. O estudo desses temas vêm contemplar a necessidade de estarmos construindo nossa prática pedagógica inclusiva para as crianças com alguma deficiência, subsidiando, assim, a implementação do processo de aprendizagem de forma que atenda aos critérios do ensino colaborativo flexibilizado, contribuindo para interação das crianças com deficiência na sala de aula. O material do curso explora, também, conhecimento de um planejamento individualizado e, ao mesmo tempo, não perdendo a oportunidade de contemplar o coletivo, utilizando os recursos lúdicos e jogos onde o educador passa a planejar suas aulas, partindo da criança com necessidades especial para as demais crianças. Descobrimos porquê que toda ação pedagógica construída para a educação inclusiva que acontece dentro da sala de aula não dava certo, pois, ao planejar suas aulas o professor planejava para todas as crianças, somente, depois que iam ver como trabalhar os conteúdos e metodologias com as crianças com deficiência. A metodologia utilizada sempre era “sentar e explicar”, individualmente, para a criança com deficiência. Após os estudos do curso, na sala do educador, os professores começaram a desenvolver novas metodologias para ministrar suas aulas às crianças da 143 educação infantil com deficiência. Hoje, os educadores têm posturas diferentes, principalmente, nos aspectos metodológicos buscando novos caminhos que vão ao encontro dessas crianças especiais, fazendo com que, no ambiente da sala de aula, a interação, a colaboração, flexibilização do ensino e da aprendizagem construam a inclusão de forma lúdica e criativa, garantindo a essa criança, com alguma necessidade especial, participação na construção de sua aprendizagem. O curso Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual realizado no ambiente TelEduc veio contribuir para que realizemos, com sucesso, o processo pedagógico de inclusão das crianças com necessidades especiais. Os educadores passaram a ter mais conhecimentos sobre os direitos da aplicação dos recursos e de materiais que poderão ser trabalhados com as crianças com deficiência. O conhecimento sobre questões metodológicas foi o aspecto que mais ajudou a visualizar a educação inclusiva e fazer com que ela, realmente, se efetive na prática pedagógica dentro da sala de aula. Ao socializar esse curso para todos da escola, na sala do educador, estamos contribuindo para que as crianças, com alguma necessidade especial, tenham seus direitos de cidadã respeitados para que possamos construir uma sociedade inclusiva. 144 MINHA EXPERIÊNCIA NO EaD Maria Antonia de Toledo Barros Carvalho 42 A educação a distância no Brasil tem crescido de forma vertiginosa na última década. Ainda existe resistência à aplicação das novas tecnologias de comunicação na educação do país, por uma parcela da academia de educadores brasileiros e da elite que temem a perda da qualidade e do controle do processo educacional. Porém, a necessidade de ampliação de conhecimentos em um país com enorme dimensão continental, carente de recursos econômicos e sociais, juntamente com o barateamento das novas tecnologias de comunicação e a “sede por saber” de uma grande parcela da população trabalhadora, tem contribuído para o fenômeno da massificação e ampliação da educação a distância no Brasil. Nesse processo, estão ocorrendo várias experiênciasricas em inclusão digital, educacional e, principalmente, social, como é o caso dessa experiência realizada nesse curso que acabo de concluir: Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual. Com base em uma política equivocada de igualdade e respeito ao ser humano, é constante o surgimento de cartilhas que apontam "vilões" e "heróis" da Inclusão. Os "vilões" são aqueles tidos como dificultadores do processo de Inclusão, pessoas preconceituosas e mal esclarecidas que representam uma barreira às nobres iniciativas governamentais de desenvolvimento humano, pessoas que por conhecerem mais a fundo a realidade das escolas públicas, que por estarem inseridas dentro dela, ousam questionar as demagogias patrocinadas pelas políticas públicas. Os "heróis" são os ilustres defensores dos "direitos", da "igualdade" e do "respeito" aos fracos e oprimidos, famigerados pesquisadores que, por dedicarem todo o seu tempo ao estudo da Educação Pública, sequer precisam conhecer a realidade, pois estão altamente capacitados a criar a sua própria realidade. É importante ter em mente que Inclusão significa dar as devidas condições para que cada ser humano, dentro das suas dificuldades e potencialidades, possa se desenvolver. Nessa perspectiva, torna-se desumano defender uma Inclusão que garante 42 CEMEI- “TIA BELA”- Mineiros do Tietê – SP. 145 o direito ao acesso, a matrícula, a inserção, mas não oferece a infraestrutura necessária ao desenvolvimento individual e coletivo. Políticas equivocadas que submetem as pessoas a uma realidade tosca, que apenas inserem o indivíduo no convívio social, mas não lhe dá as devidas condições de crescimento, estão mais pra “covardia social” do que Inclusão Social. A Inclusão Escolar, como forma de se promover a integração de todos na vida em sociedade, é algo maravilhoso, mas que precisa ser tratado com responsabilidade, honestidade, sinceridade, respeito e conhecimento de causa e efeito. Não é honesto ludibriar as pessoas por meio da promoção de propagandas politicamente bem elaboradas que vendem uma falsa realidade escolar e criam falsas expectativas. A possibilidade de dar continuidade a minha formação contribuiu muito para meu aprimoramento cultural e profissional, portanto o EaD me possibilitou uma experiência única e de grande valia. Nos dias de hoje, como andamos atarefados e com a agenda lotada de compromissos, um curso a distância nos favorece muito. No EaD tive a oportunidade de conhecer diversas pessoas, trocar experiências e aprimorar os meus conhecimentos. Os textos fornecidos no material de apoio foram ricos e as atividades nos fizeram refletir sobre nossa prática pedagógica: aquilo que está certo, o que está errado, o que deve ser repensado e as técnicas que devem ser reformuladas. Os tutores e formadores estavam sempre a nossa disposição, tirando dúvidas e nos orientando, sempre com o caráter de mediar e conduzir o nosso estudo. Isso possibilitou muito o meu crescimento e minha capacidade de reflexão. Hoje, diante das minhas atitudes, penso, diferentemente. Antes de realizar o curso, eu não tinha esse olhar. Aprendi muito sobre a educação inclusiva. A estrutura física do curso e os apoios escritos foram de suma importância. Aprendi, também, que a inclusão escolar de um aluno com deficiência intelectual que necessite de apoio extensivo deve ser amparada na premissa que a diferença faz parte da natureza humana e que a todos os membros de uma sociedade devem ser fornecidas oportunidades iguais para a participação em atividades comuns àquelas partilhadas por grupos de idades equivalentes. A comunidade escolar deverá providenciar todo tipo de suporte (apoio): pessoais, físicos, materiais, equipamentos, acessibilidade, etc. E o currículo deverá ser baseado na crença de que através da nossa aquisição de informações e da convivência com o outro, as pessoas com deficiência mental podem aprender e que nós podemos ensiná-las e também aprender com elas, alterando nosso comportamento diante dos fenômenos da vida, que 146 é um processo dinâmico. Esse currículo deverá fazer parte do projeto pedagógico e político da escola. Fizemos atividades que utilizei e continuo utilizando em sala de aula, como elaborar atividades para um aluno com deficiência intelectual, ou mesmo alunos com dificuldades de leitura e escrita. Aprendemos a fazer uma avaliação da fase em que ele se encontra e traçar estratégias adequadas que possam auxiliar na produção da escrita. O que considero mais valioso desse curso, é que tudo o que trabalhamos na teoria, trabalhamos também na prática e alcançamos exatamente o resultado positivo que procuramos. Conhecemos novos conceitos, novas práticas, como por exemplo, no módulo Tecnologia Assistiva, conheci algumas adaptações de materiais que desconhecia e já coloquei algumas em prática, fazendo assim, com que um aluno que não possuía muita autonomia para se alimentar sozinho, com a colher adaptada que conheci através do curso, esse aluno já passa a se alimentar sozinho. Enfim, aqui estão algumas das muitas vitórias que iremos e já estamos (professores e alunos) alcançando, após um estudo adequado e de boa qualidade. Foi uma experiência valiosa e muito gratificante. 147 A PRÁTICA PEDAGÓGICA COM O DEFICIENTE INTELECTUAL: REFLETINDO SOBRE A IMPORTANCIA DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA Ana Paula Gonçalves de Araújo Mortimer 43 Esse texto pretende conjecturar sobre aprendizagens adquiridas no Curso “Práticas Educacionais Inclusivas na área da deficiência intelectual” escalonadas como mais contributivas para a formação da postura profissional de sua autora. Tais aprendizagens suscitam reflexões sobre: o relacionamento entre o professor e os alunos com deficiência, o papel do professor no balizamento dos demais relacionamentos entre os alunos da classe de inclusão; objetivos do relacionamento do professor com os pais do aluno deficiente; a importância da observação e planejamento de atividades a serem desenvolvidas com o aluno com deficiência. A prática pedagógica com o deficiente intelectual requer o entendimento do sujeito-aluno na sua condição de pessoa diferente. Entendimento esse, que não se vincula a um processo de aceitação da diferença do aluno, mas se relaciona com as ações a serem desenvolvidas pelo educador para estabelecer comunicação com o deficiente intelectual, com fins de promover sua inclusão e desenvolvimento (RODRIGUES; MARANHE, 2010, p. 11). A promoção dessas ações, entretanto, influencia a condição ética das relações a serem estabelecidas pelo aluno com deficiência com o educador e com os demais colegas ao se atentar para o fato de que: É no convívio escolar que crianças e jovens podem ter importantes experiências dignificantes e construtivas de sua personalidade e cidadania, mas é também na escola que podem experienciar situações significativas de fracasso e de exclusão social precocemente. O preconceito e a discriminação, o desrespeito e a humilhação são sérios obstáculos ao bem-estar e à conquista da cidadania, demonstrando a brutal intolerância à diferença que ainda existe em nossa sociedade (NEME, 2010). Cabe ao educador, em face dessas circunstâncias, trabalhar no sentido, não apenas da promoção de aprendizagens de conteúdos, mas, precipuamente, no agenciamento da convivência salutar, pautada no respeito e solidariedade, entre todos os partícipes da vida escolar. Nesse sentido, cabe ao educador trabalhar valores, num processo contínuo, enfocando a amizade e o companheirismo entre os educandos.43 Estava sem aulas na época - Curvelo – MG. 148 A inclusão está para além da aceitação da diferença do outro. A inclusão acontece na medida em que o educador busca se comunicar com o aluno a fim de ensiná-lo por meios atitudinais e pedagógicos, atentando para as potencialidades e dificuldades dele. A inclusão envolve a dimensão da ação. Por outro lado, o ingresso do aluno com deficiência, na escola, implica no atendimento aos pais desses alunos. No entanto, podem surgir questões sobre: […] como tratar os pais das crianças com deficiências em relação aos demais pais. As reuniões à parte ajudariam no processo? Eles participariam das reuniões ordinárias com os pais das outras crianças? As reuniões à parte ajudam muito nesse processo, mas eles também devem participar das reuniões gerais, junto com todos os outros pais. Se necessário, conversar sobre a participação da criança com deficiência na sua sala de aula, na presença de todos os pais, inclusive com os da criança deficiente. (MELCHIORI; RODRIGUES; PEREZ, 2010). A postura dos autores supracitados, em face do atendimento aos pais, é inclusiva na medida em que convida à discussão participativa, junto aos demais, sem deixar de abrir espaço para atendimentos em separado, importante fator de flexibilidade, pois pode haver especificidades do diálogo que não interessam a todos ou apresentam caráter particular. A inclusão diz respeito não apenas ao aluno com deficiência, mas se relaciona também com a inclusão dos pais do aluno com deficiência no círculo dos outros pais, num trabalho conjunto onde haja espaço para a discussão aberta e coletiva do trabalho pedagógico desenvolvido com o deficiente intelectual, assim como de seu relacionamento e forma de interação com os demais colegas. Em outro sentido, aluno com deficiência intelectual pode ainda apresentar outros comprometimentos ou doenças e, inclusive, outras deficiências. Nestes casos, a ajuda dos pais é especialmente importante para o conhecimento pelo professor de cuidados específicos, assim como das medidas a serem tomadas em função das necessidades do educando. O conhecimento a priori e o planejamento de possíveis ações em situações de crise representa medida cautelar importante que o professor pode agenciar desde o primeiro encontro com os pais. Será, também, nesses primeiros encontros quando se deverá comunicar aos pais sobre o funcionamento da instituição e estabelecer formas de contato para ambas as partes. Sendo que, após um período inicial de observação para avaliação das potencialidades e necessidades do aluno deficiente, o professor - tendo observado o planejamento para a série - poderá apresentar objetivos de trabalho pedagógico aos pais 149 do aluno com deficiência, discutindo com eles parcerias nas diferentes atividades. Também, nesses momentos iniciais, haverá possibilidade de se agenciar reuniões periódicas para se discutir sobre progressos e dificuldades do aluno, quando poderão ser planejadas novas estratégias. (MELCHIORI; RODRIGUES; PEREZ, 2010). O contato inicial com os pais do aluno com deficiência é, portanto, fundamental. Há muito trabalho e questões importantes a serem aclaradas desde os primeiros encontros, fazendo-se papel precípuo do professor agenciar para que os pais sintam-se acolhidos e compreendam o trabalho pedagógico a ser desenvolvido com seu filho, convidando-os a se tornarem partícipes nesse trabalho. É por meio de suas ações, nas dimensões atitudinais e da prática pedagógica que o professor promove a inclusão do aluno com deficiência intelectual, assumindo o papel veiculador de valores e atitudes solidárias junto aos colegas e demais pais da classe. O trabalho com os pais é intenso desde os contatos iniciais, devendo ser realizado em coletivo com os outros pais, com permissão para reuniões particulares, caso se faça necessário. A avaliação diagnóstica de caráter pedagógico a ser desenvolvida no princípio do ano pelo professor com o aluno com deficiência intelectual e servirá de embasamento para a construção de um planejamento, tendo em vista a proposta de trabalho com toda a classe, deve ser transmitida aos pais, convidando-os a participarem das atividades de forma a se tornarem fomentadores do trabalho de seu filho. Por meio do contato com os pais, o professor conhece melhor seu aluno deficiente e com isso se prepara para agir em situações de crise. Pode, também, planejar atividades de acordo com as condições de relacionamentos, psíquicas, pedagógicas e orgânicas do educando. 150 A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES NA SUA PRÁTICA PEDAGÓGICA E NA ESCOLA INCLUSIVA Rose Lapa 44 Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão Paulo Freire A formação continuada permite ao professor refletir sobre a sua ação docente de maneira crítica (PIMENTA, 2005). É nesse momento que avaliamos e reavaliamos as metodologias, os pressupostos, as teorias e ações que fundamentam o nosso fazer pedagógico. Para tal, os estudos realizados em diversas áreas do conhecimento como a sociologia, a psicologia, a antropologia e outras têm contribuído muito. Por isso, pensar minha atuação como professora sempre foi uma questão central enquanto profissional que deseja aprimorar a sua ação pedagógica de forma crítica e contribuir, efetivamente, para melhoria do ensino-aprendizagem dos meus alunos. Como afirma Paulo Freire “O professor que não leva a sério a sua formação, que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua classe” (1996, p 92). Essa formação pode ocorrer de diversas maneiras, no local de trabalho, cursos oferecidos por órgãos gestores, convênios com universidades, dentre outras. No entanto, nas últimas décadas, com a invenção do computador, da internet e o avanço de novas formas de comunicação, a EaD ( educação a distância) tem se colocado como mais um instrumento a serviço da melhoria da nossa atuação enquanto professores. Vale ressaltar que não se trata aqui da substituição de uma formação presencial por outra realizada a distância, ou mesmo, pensar a formação através do EaD com o objetivo único de certificação, pois isso significaria exatamente o inverso do que almejamos, que é uma formação que garanta interlocução com os pares, que permita melhorar nossa prática em sala de aula e, acima de tudo, que não seja uma alternativa que traga mais uma sobrecarga no dia a dia do professor que, notoriamente, já tem uma carga de trabalho exaustiva para além do espaço escolar. 44 E.M. “Regina Celi da Silva Cerdeira” Centro de Referência - Duque de Caxias – RJ. 151 Há também o fato de ser uma modalidade nova o que gera uma desconfiança quanto à legalidade e à qualidade dos conteúdos dos cursos. Em pesquisa, no site do MEC observa-se, quanto à base legal e aos referenciais de qualidade: Decreto N.º 5.773, de 09 de maio de 2006, dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. Decreto N.º 6.303, de 12 de dezembro de 2007, altera dispositivos dos Decretos nos 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, e 5.773, de 9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino. Fazendotodas essas reflexões, realizei minha inscrição no Curso de Extensão on-line Práticas Educacionais Inclusivas - Deficiência Intelectual- UNESP – Bauru. Trabalho em unidade escolar que representa muito bem o processo histórico da educação especial no Brasil. Seu prédio começou como um orfanato/asilo que abrigava pessoas com deficiência, principalmente, a intelectual e a múltipla deficiência. Com o passar dos anos, tornou-se uma Escola Especial e, na sua mais recente mudança, deixa de ter apenas turmas de classe especial, formando, a partir de então, turmas regulares com alunos com deficiência, tornando-se centro de referência onde se propõe uma educação inclusiva. Digo “propõe-se” porque não se trata apenas de mudança de nomenclatura ou proposta pedagógica, mas numa nova lógica de ensino, teórica e prática, no qual o professor e sua formação são elementos-chave. E, também, toda a escola deve perseguir o êxito de uma verdadeira e efetiva inclusão escolar. Através do curso pude caracterizar a escola não apenas dentro de um juízo de valor que leva em conta somente o estágio atual da educação das pessoas com deficiência intelectual, mas situa a inclusão dentro do processo histórico da sociedade brasileira. Embora já tivesse alguns conhecimentos por ter atuado na educação especial, o curso auxiliou-me a pensar questões que permeiam o cotidiano escolar: Como trabalhar esse aluno com deficiência intelectual no ensino regular, num outro contexto, com outras interações? Agora que ele é “nosso aluno” (sala de recursos & turma regular), que ações implementar junto à professora da turma de maneira a não fragmentar e/ou criar um currículo paralelo? 152 De que forma ela pode auxiliar no meu trabalho desenvolvido com o aluno na sala de recursos e vice-versa? Que estratégias utilizar para que verdadeiramente o aluno com deficiência faça parte do grupo no qual está inserido, sem que ele seja mais um aluno a dar trabalho, mas, sobre o qual recaia um olhar preocupado com sua aprendizagem tanto quanto todos os outros? A experiência que me impulsionou a sintetizar essas indagações foi uma aluna que tem sete anos, com Síndrome de Down que frequenta a sala de 1º ano. Era aluna da escola desde a educação infantil. Apresentava uma defasagem na fala embora conseguisse expressar suas ideias, emoções e desejos com expressão corporal/facial, gestos e algumas oralizações. Na sua rotina escolar, a aluna demonstrava grande dificuldade em permanecer em sala de aula e, quando estava presente, ficava à parte da rotina estabelecida para a turma, brincando, vendo revistas, completamente alheia ao que acontecia ao redor. Dificuldades apresentadas pela professora: a) falta de interação com o grupo; b) dispersão nas atividades coletivas e rotina da turma e, c) dificuldades na elaboração de objetivos e atividades para aluna. O trabalho realizado buscou base nos pressupostos do ensino colaborativo entre o atendimento educacional especializado 45 , professora regente e equipe técnico- pedagógica e família. É importante citar que todos os envolvidos têm a clareza das suas funções. O trabalho em parceria prevê a participação de todos, a existência de um objetivo comum, o compartilhamento de responsabilidade e recursos, a equivalência dos participantes e o voluntarismo. Estratégias elaboradas a partir do planejamento coletivo. Definição de tipo e número de atendimento da aluna: Aluna teria sua aula no AEE no contra turno. Ficou definido que pelo menos duas vezes por semana eu acompanharia a sua rotina na turma, já que o horário do AEE educacional especializado era de dois dias integrais de 8h às 17h e um dia de 8 às 12h. Nesses dias seriam desenvolvidas atividades com ela e toda a turma para estreitarem-se os laços, também era o momento em que eu a auxiliava para 45 Resolução nº4, 2 de outubro de 2009. Institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade educação especial. Determina entre outras as atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado. 153 desenvolver a sua atenção, trazendo-a para as atividades como leitura compartilhada, distribuição de crachás e, também, auxiliar na volta para sala de aula quando a mesma se retirava. No planejamento coletivo, elaborar, juntamente com a professora regente, as atividades que estivessem no nível de desenvolvimento da aluna referenciada no ano de escolaridade da turma. Foi definido com a professora que, a cada semana, nós desenvolveríamos uma atividade individual e outra coletiva com os alunos. A partir destas estratégias, já no fim do primeiro bimestre, algumas considerações puderam ser feitas. A frequência com que a aluna saía de sala diminuiu: Ela demonstrou mais atenção voluntária para realizar as atividades propostas; A professora demonstrou mais segurança para pensar as atividades para a aluna; A partir da fala das crianças e iniciativa em auxiliar a aluna, percebemos que ela estava realmente começando a fazer parte daquele grupo de alunos. O relato sucinto de algumas ações que ocorreram a partir das diretrizes traçadas neste curso não dão conta de capturar toda a riqueza dessa experiência. O trabalho na escola com os colegas das turmas regulares e as novas práticas escolares que privilegiam a diversidade humana ao invés do ensino pautado na unicidade de proposta pedagógica e homogeneização dos alunos têm mostrado a urgência e necessidade da formação continuada para Educação Inclusiva, aliado, é claro, com políticas maiores de acessibilidade, pois este é um projeto que diz respeito a toda a sociedade dentro e fora da escola. 154 PERCURSOS NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM EM AMBIENTE VIRTUAL Rosalynn Davies Conrado Veiga 46 Práticas Educacionais Inclusivas em Deficiência Intelectual, esse era o nome do curso. E lá estava eu, realizando minha pré-inscrição na Plataforma Freire. Fiquei muito feliz quando recebi o email da tutora comunicando que eu havia sido selecionada. Trabalho, há quatro anos com Educação Especial, acredito na inclusão e busco sempre informações para fomentar meu discurso e batalhar por esse direito junto aos colegas das classes regulares que não acolhem a temática com a mesma paixão que eu. Passado o trâmite burocrático, teve início o curso, propriamente dito. Interessante observar que fomos nos construindo enquanto grupo, criando laços, apesar da distância que um curso na modalidade EaD nos impõe. Não sei se o mesmo ocorreu com outros grupos, com outros tutores e formadores, mas no caso de nossa turma, ficou claro que as participantes, tutora e formadora, apresentaram, desde o início, grande afinidade. O carinho nos emails trocados era palpável, se é que tal coisa possa existir em termos de comunicação virtual. Percebo que um módulo inicial de ambientação, na plataforma do curso, é fundamental. Algumas pessoas apresentaram certa dificuldade no manejo da internet e, é necessário, que se tenha paciência e clareza na comunicação do passo a passo, do como se fazer realmente. No segundo módulo, começamos a ter contato com a especificidade da educação inclusiva, sua trajetória ao longo da história. Nesse ponto, que sempre se levanta questionamentos sem fim, ficou visível o quanto já progredimos quando falamos em inclusão, educação e sociedade. Em nossos debates, nos maravilhosos bate-papos agendados, percebemos que ainda há muito a se evoluir sim, sempre. Uma das características da humanidade é a constante busca e necessidade de evolução éisso o que nos torna diferentes dos demais animais, o que nos confere a racionalidade como diferencial. Sendo assim, ainda precisamos e iremos sempre precisar evoluir. Porém, quando olhamos para a história dos deficientes, em geral, é fato que grandes e largos passos já foram dados até o presente momento. Do total abandono, em lares 46 E.M. Professor Marcos Gil - Estrada Feliciano Sodré 2315, Mesquita – RJ, e E. M. Motorista Paschoal André - Pavuna – RJ. 155 especializados, passando pela época em que divertiam o povo sendo usados como bobos da corte, vagando pelas vielas da exclusão, transitando levemente pelo movimento da integração, quando obtiveram um olhar diferenciado, até o momento inclusivo em que vivemos hoje, o trajeto foi longo. Foi tortuoso, dolorido, muita vezes, exaustivo para os familiares, porém bem sucedido. Nos capítulos dois e três do módulo dois, discutimos ética e direitos dos deficientes. Foram dois capítulos bem intensos e com discussões bem acaloradas, diria eu. O assunto abordado levantou o tapete de nossas vidas, de nossa sociedade e de nossas escolas, mostrando que, muitas vezes, a lei é deixada de lado sim e todos nós fazemos vista grossa. O fazer vista grossa sinaliza uma forma de negligência, pois embora, na maioria dos casos, não dependa única e exclusivamente de nós professores, quando nos calamos ao perceber um erro legal, estamos contribuindo para a perpetuação desse erro. Finalizamos esse momento, percebendo nosso papel político na instituição escola, junto aos nossos alunos da educação especial e da educação regular que estejam incluídos. No capítulo 4, abordamos família. Esse tema é importantíssimo quando falamos de aluno. O aluno é aluno sempre, tenha ele deficiência ou não. A instituição familiar é válvula do processo educacional, tão fundamental quanto o professor. O trabalho realizado com um aluno não apresentará resultados sem o apoio da família. Raros são os alunos que foram bem sucedidos apenas com o apoio da escola. Quando falamos em alunos incluídos ou da educação especial, percebemos que a família encontra-se, muitas vezes, cansada e desgastada da caminhada árdua. Muitas portas já se fecharam... Muitos olhares já condenaram... Encontramos mães abandonadas por seus maridos por terem produzidos um filho “com defeito”. Mães cujas vidas são seus filhos, pois pararam de viver suas trajetórias para cuidar daquela semente. Fica claro que o trabalho com a família merece um olhar especial... Que uma das funções da escola para com essas famílias é a acolhida, é o prestar esclarecimentos, o orientar. Muitas dessas famílias são de origem bem humilde e desconhecem por completo seus direitos. Aqui, entra a escola enquanto força política nas vidas dessas pessoas. E nós, professores, nos tornamos a ponte que, certamente, ligará essa família a uma forma mais confortável de viver. Interessante que ser professor parecia algo tão diferente... Com o abrir de nossas cabeças e a aquisição de novas informações vamos nos apercebendo do quão complexa, 156 realmente, é a nossa função. E o quão prazeroso é cumprir com louvor, a cada dia, nossa missão. No módulo 3, iniciamos a parte mais técnica da deficiência intelectual, suas implicações na vida do indivíduo, em seu desenvolvimento e em sua aprendizagem. Parece bem monótono, é verdade. Para quem já tem graduação com habilitação específica na educação especial, dois cursos de pós graduação na área, sempre fica aquela sensação de que nada novo irá aparecer ali. Ledo engano... Quando vamos esmiuçando a teoria, vamos nos dando conta de que muitas das nossas atitudes e ações possuem embasamento teórico, embora não soubéssemos. Vamos lendo com um olhar diferente um mesmo texto que, provavelmente, já foi lido em outro momento de nossa vida acadêmica. As teorias perpassam nossas práticas que fundamentam e são fundamentadas por elas. Por mais monótonas que possam parecer, as teorias são fundamentais para dar caráter científico ao que estamos fazendo. Do contrário se torna senso comum, e na educação, especialmente quando falamos em inclusão, senso comum não ajuda em muito na efetivação da prática. No módulo 4, avaliação e planejamento, teve início nosso momento prático. Como atuo em turma de educação especial, busquei auxílio em uma turma vizinha, com alunos incluídos. Foi enriquecedora demais a experiência de observação de outra prática. A abertura da colega, sua disposição em contribuir, terminaram por me revelar uma grande educadora em um figura até então vista como ordinária, sem grandes atrativos. Percebo o quão importante é, em nossa prática profissional, poder observar e ser observado. Você ganha, o outro ganha, os alunos ganham também. É como poder dar e receber uma lufada de ar fresco em momentos onde o cheiro de mofo tentava impregnar o ar. Sim, com o passar dos meses, dentro do ano letivo, vamos nos deixando mofar um pouco. Embora tenhamos a natural tendência de buscar sempre crescer e melhorar, por vezes, deixamos que situações e personagens se cristalizem em nossas práticas. Aí reside a beleza e importância da observação. O módulo cinco veio colaborar para a desconstrução de paradigmas. Já no primeiro capítulo a bomba: SEXO! Sim, nossos alunos se interessam por sexo! Não, sinto muito, o deficiente não é uma samambaia! O vídeo abordando o tema, com depoimentos de deficientes intelectuais, foi fabuloso. Algumas colegas mostraram-se receosas, até chocadas. Mas, abrir os olhos para a sexualidade de nossos alunos é imprescindível na construção de um ser humano completo, integral, pleno. Precisamos 157 ter em mente que, se para os pais de crianças ditas normais, lidar com esse assunto é um tabu, imagine para os pais de alunos deficientes. Nas escolas de modo geral ainda não se trabalha com projetos que abordem a sexualidade efetivamente. Ficou a deixa para pensarmos e avaliarmos nosso papel em mais essa empreitada. A flexibilização foi trabalhada no segundo capítulo do referido módulo. Quando falamos em inclusão, pensar na flexibilização do ensino é uma das chaves do sucesso. Ficou claro que flexibilizar não é trazer para a sala de aula folhas com trabalhos totalmente diferentes, muitas vezes, de conteúdo infantil por demais, contendo apenas figuras para pintura e entreter o aluno incluído com aquilo, enquanto se dá os conteúdos normalmente para os demais alunos. No processo de flexibilização todos os alunos saem ganhando, pois os conteúdos são passados de forma mais dinâmica, algumas vezes lúdica, tornando sua aquisição mais fácil para os educandos. No terceiro capítulo, trabalhamos o ensino colaborativo e a criatividade. O material utilizado foi maravilhoso. Os textos, de fácil compreensão e bem escritos proporcionaram-nos muitas discussões e mudanças de atitude frente ao aluno. Quando se fala em equipe, dentro de uma escola, devemos pensar essa equipe como atuante no processo de aprendizagem dos alunos. Por isso é fundamental que tenhamos uma equipe realmente trabalhando junta, em prol daquele aluno. Também é interessante pensarmos que os alunos podem sim aprender e ensinar mutuamente, tendo o professor como mediador do processo. Dividir a turma em grupos, mesclar os diferentes níveis de desenvolvimento, promovendo a interação e a troca de saberes, esse tipo de atividade traz a construção de conhecimento. Em termos de criatividade, podemos trazer também a flexibilização e agregar a temática. Um professor criativo propicia flexibilização do currículo, tornando as aulas mais interessantes a todos. A geração do “cuspe/giz” já foi. As crianças contidase extremamente reprimidas de outrora não estão mais em nossas escolas. Hoje contamos com uma clientela espontânea que vive na era da internet, onde a velocidade das informações é um fato. Essa geração precisa de professores que acreditem que o conhecimento se constrói independente de quadros abarrotados de cópias, sem o menor sentido. Em alguns momentos precisamos ainda lançar mão da decoreba sim, por várias questões, dentre elas as avaliações e vestibulares da vida. Porém, em alguns momentos, apenas, nos demais momentos, as aulas devem se dar de forma dinâmica, garantindo que aquelas crianças irão assimilar o conteúdo por perceberem relação prática na teoria. 158 Fechando o módulo falamos de Tecnologia Assistiva e Habilidades Sociais. Quando ainda estávamos em curso, participei de um congresso na área de TA. Impressionante a quantidade de recursos que dispomos atualmente. Porém, esses recursos ainda são de alto curso e nossa clientela nem sempre dispõe de verba para isso. As possibilidades de adaptação são inúmeras e contamos, novamente, com a criatividade de nossos professores, bem como com seu olhar especial na busca por auxílio para que a aprendizagem de seus alunos aconteça de forma plena. O texto de habilidades sociais educativas do professor e sua relação com o repertório comportamental das crianças foi um dos mais marcantes ao longo do curso. Por meio dele percebemos o quanto o nosso comportamento influencia diretamente o comportamento de nossos alunos. Estimulamos comportamentos positivos, exibindo-os. Fale o que eu digo e não o que eu faço, não acontece em sala de aula. Somos espelho, nossos alunos são nosso reflexo. Quando a turma como um todo vai mal, é hora de olhar para a prática do professor que rege aquela turma. E chegamos ao final do curso... Um curso que irá deixar muita saudade. Quando optamos por um curso na modalidade EaD, invariavelmente, é por falta de tempo para a realização do mesmo em modalidade presencial. Não que o curso EaD não seja trabalhoso, pelo contrário, exige muito mais disciplina. Quando não nos organizamos nas leituras e realizações das atividades, dar prosseguimento parece impossível. Meu olhar de educadora inclusiva saiu fortalecido desse curso. Através dos textos, dos debates, dos emails trocados, fomos nos alimentando de informação, de conhecimento, de experiências diversas, de ideias! A cada dia, a cada ingresso na plataforma, uma nova e importante descoberta. Minha prática... Passei a avaliar constantemente o meu fazer cotidiano. Para cada dia, atribuo-me uma nota como educadora, percebo meus pontos falhos, onde preciso melhorar, o que posso fazer nesse processo de engrandecimento profissional. Ser professor... Uma missão! Não somente uma profissão, pois não se exerce tal função nas 8 horas em que se está frente à classe. Quando se é professor, se é... 24 horas por dia, 7 dias por semana. As crianças do mundo parecem estar sob sua responsabilidade, é como me sinto. Ontem, 15 de outubro, dia do professor! Quero dividir um relato... Um relato bobo talvez, mas que me fez encontrar, no dia de ontem, motivos suficientes para acreditar que estou no caminho... Na véspera, 14 de outubro, realizamos a festa do dia das crianças na escola onde leciono pela manhã. Alugamos um pula-pula grande, pois 159 nossos alunos são adolescentes e adultos, é uma escola especial. Um dos meus alunos é cadeirante e assistia a brincadeira dos demais alunos de sua cadeira de rodas. No meio de tantas coisas para fazer, não me dei conta de imediato de sua solidão. Não sei precisar o momento em que bati os olhos nele. Fui até lá e perguntei se ele gostaria de ir no pula- pula. Ele disse que não. Eu insisti, disse que o colocaria lá. Ele disse que sim. Não precisei de ajuda para tirá-lo da cadeira e colocá-lo no brinquedo. E como ele não conseguia sustentar o corpo sentado, coloquei-o deitado mesmo, no centro da cama elástica. Solicitei a outro aluno que pulasse bem devagar ao lado do aluno. Com o vibrar da cama elástica, seu corpo saltava também. E ele ria, gargalhava alto, como eu nunca havia visto antes. Não fui a única a me emocionar ali. O monitor do brinquedo olhou para mim e disse que nunca havia visto cena tão linda antes. Acabados os três minutos que lhe eram de direito, coloquei-o de volta em sua cadeira, e a festa continuou normalmente para todos nós. Ontem à noite recebi uma ligação do aluno em questão. Era para me desejar feliz dia dos mestres, dizer, com sua fala um pouco enrolada, que sou muito importante para ele e que ele me ama. Emoção maior veio depois, quando sua mãe veio ao telefone me falar que o brilho nos olhos de seu filho, ao chegar em casa, relatando que havia pulado na cama elástica e que eu o havia colocado lá, não tinha preço. A cada dia, na educação especial ou regular, vivemos situações de vida com nossos alunos que podem realmente fazer aquele dia valer a pena em nossas vidas. Enquanto professores, munidos de um olhar que talvez nenhum outro profissional tenha, podemos fazer total diferença. E cursos como o que estamos encerrando, contribuem e muito para a aquisição desse olhar. Um olhar não de piedade, de compaixão, de estar fazendo isto ou aquilo porque Deus pregava. Um olhar humano que batalha constantemente pelo humano. Um olhar que vê, que enxerga através e além... Um olhar que não se traduz, um olhar mais que especial! 160 NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE A INCLUSÃO NAS ESCOLAS E O QUANTO ELA SE FAZ NECESSÁRIA. Edvaldo Ribeiro Filho 47 Como aluno de EaD, tive algumas experiências não muito gratificantes, posso até dizer frustrantes. Inscrevi-me, em outros cursos, com muita expectativa positiva, mas, no final, não foi o que eu esperava. Desde então tinha algumas restrições sobre esse tipo de curso. Quando meus colegas me falaram da Plataforma Freire e da possibilidade de fazer uma especialização, por intermédio da mesma, acessei o site e procurei cursos que realmente me interessassem. Não queria fazer só mais um curso, queria algo que realmente fosse somar aos meus conhecimentos e que eu pudesse aplicar na minha sala de aula. Foi assim que entrei em contato com o curso de Educação Inclusiva. Algo que me incomodava muito era ter alunos com deficiência e não ter confiança ou achar que não era capaz de atendê-los dentro de uma sala para alunos sem deficiência. Queria ter condições de ensiná-los sem tratar os mesmos como coitadinhos. Esse curso me deu conhecimentos e abriu-me as portas para uma nova perspectiva sobre a inclusão nas escolas e o quanto ela se faz necessária. Adorei a metodologia do curso, principalmente, a interação através da sala de bate-papo, onde tive oportunidade de interagir com pessoas de várias regiões do país. No fórum de discussão, tive a possibilidade de conhecer o que os colegas pensam sobre determinado assunto e colocar a minha opinião sobre o mesmo. Acredito que os conhecimentos conquistados, através das trocas de experiências, possibilitadas por intermédio do curso, serão de grade valia e já tem influenciado muito a minha práxis pedagógica. Tenho olhado a minha sala com outros olhos, com o olhar da inclusão, com a certeza de que todos têm condições de aprender, mas cada um tem seu tempo. E nós, enquanto educadores, temos que respeitar e procurar ajudá-los no aprendizado, adequando os conteúdos às necessidades de cada um. Essa visão de mundo que já tinha, alargou-se infinitamente após o curso. Como aluno de EaD, sinto-me atendido em todos as minhas necessidades. Gostei muito de ter participado desse curso EaD e, ao terminá-lo, dizer que valeu a pena.47 Escola Estadual “Oliveira Britto” - Salvador – BA. 161 CORAGEM: PRÉ-REQUISITO PARA UMA TRAJETÓRIA DE ACERTOS Elaine Sueli Ferreira dos Santos 48 Quando iniciei minha trajetória em Educação Especial, fui trabalhar na APAE, como secretária de Eventos para ajudar na organização de leilão. Havia me separado do meu marido com dois filhos pequenos para criar. Depois de algum tempo, ofereceram-me o cargo de professora com o objetivo de me ajudar, por questões financeiras. Colocaram-me condições: aquele cargo só seria por cinco meses, pois a professora da sala havia pedido demissão e por questões de convênio não poderiam contratar outra professora antes do término do ano. Estava no primeiro ano de pedagogia, depois de ter feito o magistério há mais ou menos 17 anos e não tinha nenhuma formação para Educação Especial. Aceitei o desafio: era uma classe com alunos com Deficiência Mental Severa, com faixa etária de 30 anos. Os problemas eram muitos!!! Mas, acredito que Deus, como escolhe as mães das crianças excepcionais, escolhe a dedo as pessoas para lidar com elas. Eu me sinto uma pessoa privilegiada por ter iniciado meu trabalho com esses alunos. Pude então perceber que os problemas que temos não são nada, pois apesar das dificuldades que esses alunos encontram, sempre têm um sorriso no olhar e um gesto de carinho para nos dar. No final do ano, na reunião de encerramento e avaliação do ano letivo, a diretora me chamou para ler a oração do dia. Depois que terminei a oração, a diretora disse a todos, o que havia me dito quando iniciei meu trabalho...mas, que naquele momento estava voltando atrás no que tinha dito porque havia me saído muito bem naqueles meses e superado as professoras habilitadas, com mais de 20 anos de experiência na área. Concluiu que, a partir daquele momento, a sala era efetivamente minha, pois além dos progressos visíveis dos alunos, ainda tinham recebido muitos elogios dos pais, sobre o meu trabalho. A partir daí, fui em busca de capacitação na área. Nas próximas férias, passei realizando o Curso de Formação de 180h e quando iniciei o ano letivo já havia concluído, não me sentindo mais como se tivesse caído de paraquedas ou protegida da diretora. 48 EMEB “Prof. José M. Neto” - Araçatuba – SP. 162 Concluí minha Pedagogia em 2002 e iniciei minha primeira Pós Graduação em Bauru, no ano de 2003, na área de Deficiência Mental e, a partir daí, não parei mais... respiro Educação Especial. Sei que é um trabalho que me realiza plenamente e todos os esforços que faço para realizar cursos, valem a pena, pois só acrescentam à minha prática profissional e, consequentemente, quem ganha são meus alunos que sempre fazem a diferença. Hoje sou professora do Atendimento Educacional Especializado. Ao iniciar meu trabalho em 2009, na prefeitura de minha cidade, precisei sair da APAE, pois o horário de trabalho é integral. Sei que posso ajudar muito os “meus alunos” incluídos no ensino regular. Passei por muitas dificuldades, pois quando iniciei, minhas coordenadoras falavam que o trabalho do AEE não tinha nada a ver com o trabalho que fazíamos na APAE e que só aprenderíamos a trabalhar, depois que fizéssemos o curso do AEE só que esse nunca começava. No meu primeiro ano de trabalho com o AEE, atendia em 03 escolas, mais de 50 alunos na área de Deficiência Intelectual. Para chegar a esse número de atendimento, avaliei mais de 100 alunos. Corríamos de uma escola para outra, com intervalos de 15 minutos. Não tínhamos tempo para orientar os professores, adequadamente, ou acompanhar os alunos em sala de aula. Não tínhamos materiais para desenvolver o trabalho. Todo o meu tempo, em minha casa, era para confeccionar os materiais utilizados no atendimento, pois na escola não tinha tempo para isso, devido ao número excessivo de atendimentos. Ainda assim encontrava tempo para realizar cursos e estudos, pois sabia que precisava realizar meu trabalho da melhor maneira possível. Como sou muito ansiosa e queria ter certeza que estava fazendo um bom trabalho, entrei em contato com o MEC e expus minha situação. Pediram meu currículo que foi aprovado. Iniciei, então, o AEE pela UFSM. Concluí em julho desse ano com a nota máxima em todas as disciplinas, inclusive projeto, o que me levou a confirmar que estava no caminho certo. Antes de terminar, iniciei esse curso de Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual através da UNESP de BAURU. A conclusão que chego é que tudo vale a pena, todos os esforços, dificuldades são esquecidas quando vemos os progressos ou um resultado positivo de nossos alunos em sua sala de aula regular, principalmente quando isto é reconhecido pelo professor da sala. 163 Sabemos que a Inclusão era para acontecer gradativamente há vários anos, mas só está acontecendo agora, quando estamos no prazo final para isto acontecer, apesar do MEC ter disponibilizado vários Seminários sobre o assunto por intermédios das Secretarias Municipais. Na prática, as professoras, infelizmente, em sua maioria, não faziam, procuravam outros temas, pois não acreditavam que a Inclusão se tornaria realidade, porém, quando começaram a receber os alunos em salas de aula, muitas entraram em desespero por não saber como lidar com esses alunos, mas foram poucas as que se interessaram em procurar estudar sobre o assunto, pois ainda não viam aquilo como algo que fosse vingar, infelizmente. No início, não aceitavam o trabalho do AEE, criticavam o fato de não alfabetizarmos e demoraram muito para compreender o real objetivo do nosso trabalho. Nesse ano, as nossas condições de trabalho melhoraram muito: atendo a 03 escolas, mas como só uma tem a sala de recursos montada, os alunos das demais escolas é que vão até a escola. Atendo a todas as áreas de deficiências, tenho 32 alunos para atendimento e 41 para novas avaliações. As condições de trabalho melhoraram muito, tenho materiais para utilizar e na escola tem alguns materiais também, além do que já há verba para isto também, não necessitando gastar com a confecção de tantos materiais. Claro que sempre quero novidades e, dificilmente, utilizo os materiais do ano passado, apesar dos meus alunos serem outros. Ainda tenho um número grande de alunos, dificultando meu trabalho, para atender professores em sala de aula ou acompanhar meus alunos em sala. Na maioria das vezes, faço isto no meu horário de almoço. Meus alunos, em sua maioria, são atendidos em grupo, devido ao número excessivo de atendimentos programados. Os professores hoje, na escola em que trabalho já são verdadeiros parceiros, reconhecem o meu trabalho e o progresso dos alunos depois que iniciaram o atendimento. Procuro dar todo suporte a eles e aos alunos em sala de aula, além de estar sempre em contato com os pais para orientações. Sei que tudo isto que tenho realizado, só tem acontecido graças a tudo que aprendo nas formações que realizo. Nesse curso aprendi muito. As trocas são fundamentais, hoje já iniciei outro curso através da UNESP de Marília, o AEE como Pós Graduação, pois o conhecimento se inova a cada momento, portanto, temos que estar nos atualizando, constantemente. 164 A sugestão que faço seria que outros professores do ensino regular, fizessem esse curso. Antigamente havia muito preconceito com relação a Educação a Distância, comparando os mesmos com diplomas comprados, mas considero esses comentários desagradáveis, fofoca de quem nunca realizou um, pois quem faz, sabe que o curso tem o mesmo comprometimento que os presenciais e, em alguns casos, as cobrançasainda são maiores. Temos a possibilidade de aprender mais rapidamente e muito mais porque aproveitamos o fato de estarmos conectados na Internet para realizar pesquisas sobre os assuntos que nos criam dúvidas. Logo, as mesmas são sanadas, imediatamente. Agradeço aos professores formadores, tutores e coordenação do curso que estiveram sempre presentes para nos auxiliar em tudo que precisávamos, sempre facilitando o nosso desempenho durante o curso, aos colegas que nos possibilitaram iniciar novas amizades e trocas de conhecimentos constantes. Gostaria de ter a oportunidade de realizar novos cursos, pois todo o esforço que faço resulta em uma melhor qualidade de vida e aprendizagem dos meus alunos, e é isto que importa. 165 EAD: UMA FERRAMENTA PARA A INCLUSÃO. Sônia Aparecida de Angeles Cerqueira Costa 49 No século XXI, com a “Era do Conhecimento”, com o avanço da tecnologia, Informação e Conhecimento, com os estudos e a dedicação dos especialistas no campo da Educação Especial, está, cada vez mais presente, a Educação Inclusiva que, ao longo de muitos esforços, tem conseguido implementar o princípio da igualdade para garantir às pessoas com deficiência o seu direito de igualdade, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade do ensino em geral No cotidiano do contexto escolar, a pessoa com deficiência matriculada na escola em classes regular comum, integrando-se nas atividades propostas sente-se parte do grupo, sente-se pertencendo a classe, ao processo ensino aprendizagem, interagindo, participando, vivenciando conteúdos significativos para a sua vida cidadã. Além disso, desenvolve-se entre os pares o espírito de solidariedade e cooperação. O sentimento de empatia que se faz presente nos alunos sem deficiência, muda o seu olhar diante da educação inclusiva, aceitando, colaborando e, até mesmo, buscando ficar em contato direto com o aluno com deficiência, em atividades de grupo. Se o professor monitora os trabalhos e explora as potencialidades desses alunos com deficiência eles participam efetivamente contribuindo para o seu aprendizado, sendo protagonistas do saber. Não podemos perder de vista a criança enquanto foco do processo. Para Lima (2003, p.26): O desenvolvimento da criança está diretamente relacionado com a diversidade e qualidade de experiências que ela tem a oportunidade de vivenciar. Essas experiências dependem da constituição do contexto em que a criança vive, principalmente, do que lhe é tornado acessível pela ação mediadora dos adultos que dela se ocupam. Em outra perspectiva, dependem, também, do conceito de criança presente em cada cultura, pois ela determina os limites à ação da criança. Os adultos estabelecem limites e oferecem possibilidades de ação para as crianças, de acordo com o que elas acham que ela pode fazer. Portanto, cabe ao professor que é o mediador da informação, transformada em conhecimento, ter autonomia curricular e capacidade de tomar as decisões, ao longo do processo de desenvolvimento curricular, no que diz respeito às adaptações às necessidades dos alunos e às especificidades de cada um, para que se efetive o 49 EMEB “Profa. Leda Aparecida Martins” - Araçatuba – SP. 166 aprendizado a todos os envolvidos – Educação Inclusiva - levando-os ao sucesso escolar e, consequentemente, à qualidade de ensino. Isso só é possível porque nos são proporcionados cursos que nos oferecem oportunidades de participar de temas tão importantes como a Educação Inclusiva. O material de apoio foi de excelente qualidade. As leituras e estudos nos nortearam e nos levaram a refletir sobre cada caso existente no contexto da sala de aula. O Correio, ferramenta que nos transmitia informações para o entendimento e a execução das tarefas de cada módulo. Também era usado para sanar as dúvidas, para efetivação das atividades propostas. As atividades dos Módulos a serem publicadas no Portfólio Individual, levaram-nos a dedicar às leituras e estudos com muita compromisso, pois são atividades merecedoras de atenção especial. O assunto é envolvente e estamos diante do “novo” – situações novas que vivenciamos em nossa prática educativa, sendo necessário o aprofundamento de estudos para sanar ao máximo as nossas dúvidas e anseios, objetivando uma prática pedagógica que atenda as necessidades de nossa clientela escolar na educação inclusiva. A participação no Fórum de Discussão foi uma ferramenta que nos fez crescer com a troca de experiência e o acompanhamento pela equipe formadora. Não podemos deixar de mencionar o carinho por ela dispensado, sempre nos orientando com seus comentários e acompanhando, passo a passo, nossas atividades, tanto as publicadas no Portfólio como as do Fórum. Isso nos fortaleceu e propiciou que a Educação Inclusiva deixasse de ser um desafio e passasse a ser parte integrante do processo ensino aprendizagem. Sem falar no Bate-Papo que nos proporcionou um contato mais próximo e maior afinidade com os pares. O conhecimento direto e a interação aguçou ainda mais a troca de experiências e de materiais para enriquecimento da nossa prática pedagógica. A UNESP está de parabéns pelo Curso, pelo desempenho, pela qualificação da Equipe competente que soube a todo o momento estar presente para nos dar suporte e sanar nossas dificuldades para que pudéssemos nos fortalecer e adquirir a confiança e o conhecimento que viemos buscar ao nos inscrever nesse curso. Superou todas as minhas expectativas elevando o conceito mais uma vez dessa conceituada Instituição de Ensino Superior. 167 EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UM TEMA PARA REFLEXÃO NO CURSO EaD Gisele Coito Ermacara 50 A Educação Inclusiva é um tema polêmico que vem fazendo parte das discussões atuais em todas as esferas da sociedade, principalmente, no campo educacional. É um tema que merece atenção de todos os profissionais envolvidos com a Educação, por isso há necessidade de um maior entendimento e reflexão. Foi por meio do curso EaD intitulado “Práticas Educacionais Inclusivas na área de Deficiência Intelectual” que pude obter conhecimento, refletir sobre minha prática e trocar experiências sobre os conceitos, práticas, atitudes, materiais que permeiam as atividades e discussões referentes à Educação Inclusiva e, especificamente, a Deficiência Intelectual. Sabemos que as deficiências sempre existiram e que, ao longo do tempo, elas foram caracterizadas e conceituadas a partir da influência dos costumes e crenças de cada povo, do conhecimento disponível em cada época e da legislação vigente que explicam as diferentes formas de ver as pessoas com deficiência. Na sociedade contemporânea, as pessoas com deficiência ganham um novo olhar. Com a inclusão, a situação atual da educação aponta um grande avanço no sentido de não focalizar a deficiência na pessoa, e sim, buscar formas e condições de aprendizagem para que o aluno se desenvolva. Assim, buscamos uma nova escola, aquela que deve ajustar-se à diversidade dos seus alunos. Por meio do conhecimento sobre a legislação vigente, percebi que a escola tem o dever e obrigação de atender a todas as crianças, independente de suas diferenças, porém, faltam efetivar diversas ações para que a inclusão se concretize. Frente a essa situação, os professores sentem-se despreparados para lidar com classes numerosas e sentem a falta de apoio pedagógico especializado para suprir suas deficiências diante do trabalho individualizado com diferentes alunos. Diante das dificuldades cabe-nos, como professor, buscar informações e estratégias presentes em cursos decapacitação que nos levem a entender, valorizar e a trabalhar com as diferenças, na sala de aula. É importante conhecer nossos alunos, descobrir e valorizar suas potencialidades para assim, poder explorar e levar o aluno a se desenvolver. Nesse 50 Ensino Fundamental - Ibaté – SP 168 sentido, o curso em questão me possibilitou um maior entendimento e reflexão sobre o assunto. Com as informações sobre diferentes estratégias de ensino ao aluno com deficiência houve uma ampliação da minha visão sobre o processo de ensino e aprendizagem dos indivíduos que estão na sala de aula. Percebi que uma atitude ética nos leva a superar preconceitos e ver nossos alunos com outros olhos. A partir do ponto de vista ético, é necessário promover atitudes respeitosas e de acolhimento aos seres humanos que apresentam deficiências, demonstrando nas relações com seus alunos, o que significa tolerância e cidadania. Fui incentivada assim, a refletir sobre o meu comportamento como professora na sala de aula, buscando valorizar o bem coletivo. Para nos livrarmos de preconceitos e garantirmos a todos os alunos o direito à educação precisamos, além dos educadores, mobilizar a sociedade em geral. Nesse sentido, cabe-nos ressaltar o papel da família e da escola, como duas instituições promotoras do desenvolvimento das crianças. Essa duas instâncias devem trabalhar juntas para o bem estar das crianças. A escola deve buscar conhecer seus alunos através de um contato maior com sua família, mas para isso, é necessário criar condições de participação da família nas atividades escolares que acontecem, atualmente, somente a partir de reuniões bimestrais. O contato com os pais deve ser ampliado a partir de situações de participação e conhecimento sobre a aprendizagem e desenvolvimento de seu filho. A escola regular tem o dever de realizar a matrícula das pessoas com deficiência e, nós, educadores, diante das diferenças, devemos reconhecer as potencialidades de cada aluno e nos esforçar para que o aluno com deficiência consiga se beneficiar do ensino regular. Devemos criar condições para que o aluno participe das atividades em sala. Podemos fazer as adaptações e as modificações no currículo, no uso de materiais didáticos e nos recursos pedagógicos a fim de que o aluno consiga se desenvolver. Durante o curso pude conhecer e discutir assuntos relacionados ao tema e concluir que a inclusão não pode acontecer se não houver mobilização e mudança nos paradigmas da escola. É necessária uma reestruturação da cultura, das práticas e das políticas vivenciadas na escola. Por isso, podemos dizer que a escola é inclusiva quando todos da equipe escolar participam ativamente desse projeto. Para que a inclusão de alunos com deficiência ocorra é necessário uma atenção especial tanto do ponto de vista pedagógico, quanto político e administrativo. Alguns procedimentos diferenciados precisam ser garantidos para receber e manter todos os 169 alunos na escola. A sala de aula deve ser um espaço em que as diferentes estratégias sejam utilizadas para garantir a aprendizagem. Isso pode ocorrer através da flexibilização e de um ensino colaborativo, com o trabalho conjunto entre diferentes profissionais. O êxito da pedagogia inclusiva dependerá de mudanças nas propostas educacionais, mesmo no interior das salas de aula. Nós, professores, devemos fazer a nossa parte, realizando um trabalho sério e comprometido com o nosso aluno incluído. Podemos mudar a visão de uma sociedade preconceituosa, buscando construir uma sociedade mais justa, na qual o deficiente tenha oportunidades de se desenvolver e participar da vida social. Foi com a participação e realização do curso que pude ampliar e refletir sobre questões que até então não faziam parte do meu conhecimento. Com o apoio do tutor, do formador e das colegas pude conhecer a realidade da inclusão e compreender sobre conceitos, leis, atitudes, práticas e materiais que existem para que a inclusão torne-se real. Foi uma grande oportunidade para modificar, o meu olhar e a minha prática pedagógica referente à educação inclusiva. 170 RELATO SOBRE MINHA EXPERIÊNCIA COM PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Natália Aparecida Perez Toma 51 O trabalho aqui, brevemente realizado, trata-se de um relato sobre minha experiência em um curso de educação a distância, voltado para a formação de professores em Práticas Educacionais Inclusivas na Área da Deficiência Intelectual. Apesar de a educação a distância proporcionar maior autonomia e flexibilidade nos estudos, requer muita dedicação e disciplina nos estudos, elementos, muitas vezes, difíceis de conciliar com as responsabilidades do emprego. Contudo, com o auxílio e compreensão das tutoras, foi possível aproveitar ao máximo as aprendizagens, trocas de experiências e diálogos, essencial para as reflexões de meu cotidiano de sala de aula. Muitas vezes, o pensar a prática esbarra na falta de tempo e nas frustrações diárias. Ter um espaço para que isso fosse possível, e mais, poder contar com colaborações de outras profissionais que vivem situações similares, foi muito importante para continuar seguindo e perceber que outros caminhos são possíveis e, muitas vezes, necessários. Necessário é compreender que estamos em uma sociedade democrática e que, para tanto, precisa ser inclusiva, dar condições e oportunidades para todos. Na escola não é diferente, ou, não poderia ser. Falar em inclusão escolar tornou-se lugar comum, todavia sabemos que é preciso muito mais do que isso. É preciso dar condições para o professor trabalhar com uma criança com necessidades especiais e não somente matriculá-la na escola e exigir que o educador “se vire”. Uma equipe multidisciplinar não pode ser um privilégio nas escolas, mas um direito e um dever. Trata-se de uma condição mínima para atender a todos os alunos com necessidades educacionais especiais, dando o suporte para o professor e as famílias envolvidas. Sem isso, torna-se discurso vazio e pura demagogia daqueles que, efetivamente, não frequentam o cotidiano de uma escola pública brasileira. Os alunos não podem ser tratados como seres homogêneos, mas como crianças que possuem características diferenciadas, distintos graus de interesse pelos mesmos assuntos e diferentes formas de aprendizagem, atentando para o fato de que o 51 EMEB Angelina Dagnone de Melo – São Carlos - SP 171 aprendizado vai muito além dos espaços escolares e que a todo o momento estamos nos educando e aprendendo, a partir das experiências com o outro. Cada vez fica mais evidente a necessidade de buscar o desenvolvimento de práticas político-educativas transformadoras através do ato dialógico com o aluno que também se constrói como ser crítico e engajado, indo além das questões de sala de aula ao se inserir em seu contexto social, observando os princípios educativos nas relações de raça, gênero, classe, faixa etária, em espaços de trabalho, lazer, academias, associações, sindicatos, indo sempre em busca de uma educação permanente e de instrumentos que possibilitem a articulação da construção do conhecimento e do sujeito crítico, consciente da diversidade e do direito de todos se expressarem. É preciso estar sempre buscando um ensino de qualidade que vise o pleno desenvolvimento e inclusão da criança nas esferas participativas, sócio-culturais, políticas, com visão crítica e de abertura ao diferente, planejando e refletindo sobre as práticas político-pedagógicas e educando-se sempre, como diria Paulo Freire.Nesse curso, discutimos sobre a Constituição Federal Brasileira de 1988, que garante a proteção jurídica e a integração social das pessoas com deficiência, beneficiando-as com direitos e ressaltando a importância da inclusão na escola regular. Como já ressaltei, esse processo não é simples e tem que ser compreendido enquanto inclusão e não mera integração do aluno com deficiência, tendo que ser abraçado por todos: aluno, família, escola e comunidade para que possa progredir e garantir o sucesso do desenvolvimento do aluno. Para tanto, o professor tem o direito e o dever de buscar formação adequada a fim de melhor atender o aluno, promovendo assim as adaptações pedagógicas necessárias e, realmente, permitir o processo de inclusão e socialização da pessoa com deficiência. Esses conhecimentos também favorecem ao professor e dão-lhe mais segurança com os outros alunos, permitindo que todos aprendam a viver juntos, na diferença. A formação do professor também acaba sendo primordial na medida em que pode ser a única fonte de informação das famílias e da comunidade, esclarecendo-os sobre os direitos da pessoa com deficiência que, muitas vezes, ‘contentam-se’ somente com o fato de estar na escola regular, pois é comum ouvir que “antigamente nem isso”. Precisam ter em mente que possuem direito a atendimento educacional especializado, acessos a serviços, recursos sociais em geral, etc. 172 Na medida em que conseguimos garantir uma boa orientação aos pais sobre as necessidades educacionais específicas do aluno, favorecemos o desenvolvimento de suas habilidades, aprendizagens e, principalmente, sua autonomia, cada qual tendo suas limitações respeitadas. Contudo, a formação do professor é elemento-chave, com respaldo e suportes necessários dos gestores e responsáveis pela educação especial. Cursos como esse possibilitam uma formação e, principalmente, informação aos professores. Torna-se um espaço de diálogo, interação e, muitas vezes, de desabafo, mas que nos leva a refletir sobre nosso papel que antes de tudo é político. Inclusão não é somente em relação ao espaço escolar, mas acerca do conhecimento. O módulo sobre Sexualidade me fez perceber o quanto ainda preciso aprender para melhorar minha prática. Responder ao questionário me levou a pensar sobre minha formação enquanto ser individual e coletivo, na família e na escola, o quanto ainda tenho de preconceitos e tabus que dificultam meu trabalho. Fez-me perceber que nunca tratei sobre o tema com meus alunos e das dificuldades que tenho. Também foi importante discutirmos sobre a adaptação curricular e as tecnologias assistivas, inerentes para um bom trabalho com crianças com necessidades especiais, mostrando-nos como ainda estamos longe de uma efetiva inclusão, mas no caminho. Sabemos que não é uma caminhada fácil, mas necessária para a construção de uma sociedade em que todos possam ter seus direitos respeitados, valorizados em sua singularidade e possam ter oportunidades de se transformar e transformar o ambiente em que vive. 173 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: ÊNFASE EM EXEMPLIFICAÇÕES, SUGESTÕES DE TRABALHO E TEXTOS DE APOIO. Patrícia Bento de Souza Campos 52 O curso Educação Inclusiva foi de fundamental importância para minha formação profissional. Embora já tenha trabalhado com alunos com deficiência mental e realizado cursos e oficinas sobre a educação inclusiva, só agora pude me apropriar de teorias que, não só apontam as deficiências ou as dificuldades em relação à inclusão, mas exemplificam situações, apontam sugestões de trabalhos e materiais a serem utilizados. Ao realizar o questionário sobre Tecnologia Assistiva, percebi o quanto sou ignorante em relação ao assunto. Quantos materiais riquíssimos e quantos colegas de profissão, assim como eu desconhecem esses instrumentos. A ignorância e o desconhecimento nos paralisam e nos impedem de exigir do Estado materiais e recursos para educação inclusiva. Na minha escola, já tivemos alunos com deficiência que passaram por lá e não tiveram suas necessidades atendidas por falta de recursos e desconhecimento teóricos dos professores que se viram impotentes diante de algumas situações. Agora entendo que, para os alunos avançarem e desenvolverem comportamentos habilidosos, o professor também deve apresentar esses comportamentos. Tendo em vista, posturas tomadas em reuniões pedagógicas, muitas vezes, vazias de teoria e repletas de práticas descontextualizadas, percebemos que muitas habilidades sociais ainda nos faltam. Sou a favor da inclusão. Porém, sou a favor de grupos de estudos, debates e sugestões sobre este tema na escola; do trabalho coletivo; do aluno incluso, não como “propriedade daquele professor” que se sente cansado diante do trabalho solitário, mas, como aluno da escola que precisa ter suas necessidades educacionais atendidas e, para isso, toda a comunidade escolar se articula e trabalha. 52 Escola Municipal - São Gonçalo – RJ. 174 DIFÍCIL SIM! IMPOSSÍVEL NÃO: APRENDI A APRENDER VIVENCIANDO OS ENSINAMENTOS DAS PRÁTICAS EDUCACIONAIS INCLUSIVAS Patrícia Helena Martins 53 Quando penso no curso Práticas Educacionais Inclusivas em Deficiência Intelectual lembro-me da minha primeira gestação. Queria muito ficar grávida, queria muito fazer e quando chegou a comprovação de ambas, fiquei perdida. Que caminhos tomar, quais as medidas necessárias, o que fazer primeiro? Depois de tanta ansiedade, as coisas foram se acalmando e o caminho a ser traçado foi se delineando. Depois desse primeiro passo, muitas coisas aconteceram: enxoval, pré-natal, enjôos, tonturas, mal estar, alegrias, dúvidas, medos... No TelEduc: muitos textos, datas de entrega, entrevistas, vídeos, ansiedade, medo de não dar contar, observações, relatórios e dificuldade em participar de alguns bate-papos. Muitas alegrias vieram, também: o primeiro chute, a batimento do coração, o ultrassom. No TelEduc: o bate-papo muito proveitoso, a atenção da tutora e a troca de experiências com o demais integrantes do grupo. Durante os noves meses muito aprendizado... E, durante os cinco meses do TelEduc muito mais. No relatório Elasi, consegui refletir e repensar na Inclusão em vários aspectos que antes não pensava. Na entrevista feita com uma professora, perceber o quanto é difícil, no dia a dia, lidar com crianças com deficiência. No Módulo 2 estudamos o direito fundamental à proteção e a integração social da pessoa com deficiência à luz do texto constitucional. Ficou claro que o primeiro passo é ter conhecimento de todo o processo e, diante disso, ter uma participação com engajamento, ter ética, equidade, solidariedade e comprometimento com a inclusão. Ser responsável pelos sucessos e fracassos, buscando refletir sobre a ação e ter reflexão sobre a reflexão. A Ética é fundamental em todos os momentos de nossa vida. Nesse caso, para que o professor desempenhe seu relevante papel social na promoção de uma sociedade ética, é necessário que assuma compromissos profissionais básicos consigo mesmo, com a prática profissional, com seus colegas de profissão, com seus alunos, pais, comunidade e sociedade. Outro tema discutido foi a família. A importância do 53 EMEI “Creche Primavera” - MARILIA – SP. 175 relacionamento entre família e escola como promotoras do desenvolvimento das crianças e, entre elas, crianças com deficiência intelectual. No módulo 3 tratamos muitos conceitos que nos subsidiam, na decisão sobre qual o caminho a se tomar, quais os fundamentosteóricos, quais os preceitos. A teoria é necessária, mas o melhor momento foi a atuação, a observação das crianças, o estudo de possibilidades de trabalho. No módulo 4, o Questionário de habilidades sociais educativas para professores, considerei um momento muito esclarecedor, no decorrer do curso. Muitas vezes, não nos atentamos aos acontecimentos em sala de aula, na escola em relação à inclusão. No módulo 5, a sexualidade foi o tema mais difícil para mim, mas hoje posso dizer que vejo com outros olhos e até entendo muitas atitudes.Na atividade criatividade, novamente foi possível estudar, pesquisar , aplicar conhecimentos e ver resultados. Aprendi demais com os textos Tecnologia Assistida, não imaginava tantos recursos para se trabalhar com crianças incluídas, em diversas dimensões. Dentre tantas coisas, ter a possibilidade de atuar foi fundamental, pois teoria e prática andaram juntas, fizemos uma reflexão sobre a prática e muita reflexão sobre a reflexão. Conhecer, entender e refletir sobre as teorias do desenvolvimento auxilia no entendimento do papel da didática para a formação do professor e seu papel nas atividades de ensinar a aprender. Percebemos assim, quais os pressupostos implícitos ou explícitos que fundamentam a ação docente em situações de ensino-aprendizagem. É preciso saber o que está fazendo, o porquê e como deve ser feito. A fundamentação anda junto à prática. Outro fato que se assemelha... A sala de espera do consultório: cada gestante conta o que está acontecendo, encontra-se em períodos de gestação diferentes e mães com bebês recém-nascidos. Cada uma com uma experiência e algo a acrescentar. Vamos, agora, para a sala de bate-papo: pessoas de todos os lugares, com o mesmo interesse, com experiências diferentes e todas, acrescentando conhecimentos, todas querendo trocar ideias... São dois momentos ricos, com experiências diferentes. Muitas noites, durante a gravidez, passamos acordadas pensando no futuro e aqui, também, no curso pensando no texto, por exemplo, na questão da flexibilização curricular, na sistematização de ajustes educacionais no âmbito da metodologia, da avaliação pedagógica, da oferta dos objetivos de ensino e das expectativas de aprendizagem que promovam o acesso ao currículo proposto pela escola. 176 Nas observações que faço em sala de aula, percebo o empenho para que esta definição aconteça, sempre haverá algo que poderá ser feito que poderá ser repensado. Na educação infantil, a minha vivência mostra professoras preocupadas com avaliação, com resultados. Isto, porém, está mudando. Estamos começando a ver a criança com outro olhar, outras expectativas, principalmente, em relação à criança incluída. Na minha escola posso dizer que as crianças incluídas são felizes e sentem prazer em estar na escola. E isso é muito bom. O final da gestação chegando e o final do curso também. Sentia um friozinho na barriga. Estava acostumada, todos os dias com os chutes, com o jeito incômodo para dormir, a dor nas costas, a fome, entrar na Internet e ver novidades no TelEduc, ler o fórum de discussão, comentar a atividade dos amigos, esperar o bate-papo. Chega o grande dia do nascimento, o grande dia do final do curso. Muitos sentimentos misturados: satisfação, alegria, tristeza, medo, felicidade, outras angústias... O que fazer agora??? Levar este filho para o melhor caminho. Levar este curso para o resto da vida, ter uma postura diferente, agir diferente, fazer a diferença na vida de quem precisa. A educação inclusiva requer, num primeiro momento, mudanças de consciência e de atitudes; é preciso admitir que todos somos diferentes, é necessário aceitar que, de alguma maneira, essas diferenças podem se diluir na sociedade. Na realidade escolar, as diferenças saltam aos olhos porque os alunos são colocados em grupos; portanto, registra-se a imensa importância do professor, no sentido de valorizar essas diferenças de forma inclusiva, ultrapassando barreiras e criando novos caminhos. A nova era da educação traz consigo a necessidade de incluir todos, a diversidade, inclusive, o que se consolida como fator positivo e fonte de estimulação. Só a partir de então, desenvolvem-se nos alunos competências capazes de tornar os indivíduos flexíveis, pois ser inflexível é quase sinônimo da prática da exclusão. Um aspecto que não posso deixar de mencionar relaciona-se ao conhecimento adquirido no texto sobre Tecnologia Assistida. Esse conhecimento era muito reduzido sobre as possibilidades de trabalho e hoje está totalmente reformulado, contribuindo de modo positivo para: 1. Auxílio para vida diária e vida prática. 2. Comunicação suplementar e aumentativa. 3. Recursos de acessibilidade ao computador. 4. Sistema de controle do ambiente. 177 5. Projetos arquitetônicos para acessibilidade. 6. Órteses e Próteses. 7. Adequação Postural. 8. Auxílio de mobilidade. 9. Auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal. 10. Auxílios para pessoas com surdez ou com déficit auditivo. 11. Adaptações em veículos. Sassaki (1999), fala da “inclusão social” como um novo paradigma, “o caminho ideal para se construir uma sociedade para todos e que por ele lutam para que possamos – juntos na diversidade humana – cumprir nossos deveres de cidadania e nos beneficiar dos direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e de desenvolvimento”. A inclusão implica na reformulação de políticas educacionais e de implementação de projetos educacionais do sentido excludente ao sentido inclusivo. Nenhum começo é fácil, tudo que é novo nos traz inseguranças, mas não podemos desistir nunca. 178 RENOVAÇÃO: PRÁTICA PARA UMA EDUCAÇÃO QUE ACREDITA NO VALOR DOS ALUNOS Valéria Regina Giambroni Neves Monaco Perin 54 A cada novo ano deparo-me com o desafio de pensar e refletir sobre o melhor caminho a seguir com meus alunos. Todo ano se inicia como uma folha em branco. Penso nos conteúdos, métodos, avaliações, adaptações e, comprometida com a educação, olho atenta para meus alunos e estabeleço metas a cumprir, durante o decorrer do ano. E, assim, com ousadia, tento construir uma fórmula para elaborar atividades, adaptações, renovar o que já foi feito no ano anterior. Afinal, a cada momento, o conteúdo da vida e do mundo se renova e não há como fechar questão em se tratando de educação. Acredito no valor de meus alunos, no potencial escondido dentro de cada um, suas histórias de vida, suas individualidades, suas emoções envolvidas e que nem sempre são vistas com tanta facilidade. Sou, atualmente, professora de Sala de Recursos Multifuncional que possui materiais pedagógicos e de acessibilidade para a prática do Atendimento Educacional Especializado, complementar ou suplementar à escolarização. A finalidade dessa sala é apoiar e atender os alunos com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação, matriculados nas classes comuns do ensino regular. A Secretaria de Educação Especial oferece equipamentos, mobiliários e materiais didático- pedagógicos e de acessibilidade para a formação das salas de recursos multifuncionais de acordo com as necessidades apresentadas. Estou atuando no Ensino Especial há vinte anos. Lecionei por 13 anos como professora de Classe Especial com crianças com deficiência mental. Muitas dessas crianças eram “jogadas” nas classes especiais por apresentarem problemas de comportamento, aprendizagem e outros comprometimentos, mas nem sempre eram realmente deficientes. Nessa ocasião, acreditava que esse atendimento era o melhor para esses alunos, uma vez que no ensino regular