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PROCESSO CIVIL I PROF(A) CAMILA HATAJIMA Princípio da Isonomia Esse princípio, que foi um dos ideais da revolução francesa, está previsto na nossa Constituição Federal, no art. 5º, caput e inciso I. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; Vista sob a ótica processual, a isonomia indica a necessidade de que seja conferido tratamento igualitário às partes, tanto no que se refere ao exercício de direitos e faculdades processuais, quanto no que tange aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais. Veja o que diz o art. 7º, do CPC: Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Isonomia Formal e Isonomia Real Quando falamos em isonomia formal, estamos nos referindo a um tratamento igualitário a todos, sem que se leve em consideração possíveis diferenças entre os indivíduos ou, no que tange ao processo civil, aos sujeitos do processo. “Tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, dentro de suas desigualdades”, traduz a isonomia real. Significa dizer que, quando as pessoas estive- rem em situação de igualdade, devem receber tratamento igualitário; no entanto, quando forem diferentes, e estiverem em situação de desequilíbrio, tal diferença deve ser considerada. A lei só criará situações reais mais justas quando, verificando que realmente há diferenças e desequilíbrios entre as pessoas, proteger as menos favorecidas, tentando dessa forma “aplainar” as diferenças. Isonomia Real - 1. Prazo em Dobro para o Ministério Público e a Fazenda Pública se manifestarem nos autos, nos termos dos arts. 180, caput, e 183, caput, do CPC. Essa concessão de prazo maior se deve ao fato de que os beneficiários têm uma quantidade de processos muito maior do que os litigantes comuns. - 2. Prazo em Dobro deve ser concedido à Defensoria Pública e àqueles que gozam do benefício da justiça gratuita, desde que sejam patrocinados por entidades públicas, organizadas e mantidas pelo Estado (nos termos do art. 5º, § 5º, da Lei n. 1.060/1950). - Atenção a esse detalhe: não são todos os beneficiários da justiça gratuita que recebem o benefício do prazo em dobro, mas somente aqueles representados pela Defensoria Pública e pela Procuradoria do Estado (a jurisprudência tem entendido que o benefício deve ser extensivo a Centros Acadêmicos de entidades públicas de ensino superior que prestam serviço gratuito de assistência). Por outro lado, os litigantes beneficiários da justiça gratuita assistidos por advogado que não pertença a essas entidades não terão o benefício. Isonomia Real - 3. Remessa Necessária se trata de benefício concedido à Fazenda Pública, pelo qual as sentenças proferidas contra ela, em que haja sucumbência, não transitam em julgado, senão depois de reexaminadas pela instância superior. Mesmo que não haja recurso voluntário das partes, a eficácia da sentença depende de tal reexame. Esse privilégio se mantém no sistema, não tendo sido declarada sua inconstitucionalidade. O fundamento é o fato de que, como os bens da Fazenda são públicos, seria conveniente que as sentenças que lhe impõem sucumbência fossem examinadas por juízes mais experientes. - 4. a Prioridade de tramitação e desnecessidade de ser observada a ordem cronológica de conclusão, para que seja prolatada sentença ou acórdão, nos casos de prioridade legal, nas hipóteses previstas nos art. 1.048 e art. 12, VII, ambos do CPC. Observe que, enquanto o caput do art. 12 determina que juízes e tribunais observem a ordem cronológica de conclusão, para proferir sentenças e acórdãos, o § 2º estabelece algumas exceções. - A Lei estabelece prioridade de tramitação para a parte que tenha idade superior a 60 anos, ou que seja portadora de doença grave. Essa prioridade afasta a aplicação do disposto no caput do art. 12. Não há ofensa ao princípio da isonomia nesse caso, já que as circunstâncias pessoais das partes o justificam. Princípio da Imparcialidade do Juiz (Juiz Natural) Esse importantíssimo princípio veio estampado nos incisos LIII e XXXVII do art. 5º da Constituição Federal. Art. 5º, XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; (...) LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; O legislador teve o cuidado, com a edição desses dispositivos, de conter possível arbítrio do poder estatal e assegurar a imparcialidade do juiz. O juiz natural é aquele cuja competência é apurada segundo regras previamente estabelecidas pelo ordenamento jurídico, não podendo ser modificada a posteriori. Todos nós sabemos o quão perigoso seria se o Estado pudesse criar juízos ou tribunais de exceção. Requisitos para a Caracterização do Juiz Natural São três: 1. o julgamento deve ser proferido por alguém investido de jurisdição; 2. o órgão julgador deve ser preexistente, vedada a criação de juízos ou tribunais de exceção, instituídos após o fato, com o intuito específico de julgá-lo; 3. a causa deve ser submetida a julgamento pelo juiz competente, de acordo com regras postas pela Constituição Federal e por lei. Princípio da Motivação das Decisões Judiciais O art. 93, IX, da Constituição Federal, prevê esse princípio, ao determinar que serão públicos todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Art. 93. (...) IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Diante disso, o juiz, ou tribunal, quando da prolação das decisões, deverão justificá-las, expondo as razões que determinaram a medida adotada ou o julgamento proferido. Na falta de fundamentação, tanto as partes, quanto os órgãos superiores e a própria sociedade desconheceriam os motivos que levaram o julgador a proferir aquela decisão. A fundamentação é indispensável, não só para propiciar a fiscalização da atividade judiciária, mas também para que a transparência seja assegurada. Em caso de ausência de motivação, qualquer dos litigantes poderá utilizar os embargos de declaração, solicitando ao juiz que explique os fundamentos de sua decisão ou, se preferir, poderá valer-se do recurso adequado para postular a nulidade da decisão. Princípio da Motivação das Decisões Judiciais Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem. § 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar aconclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. § 2º No caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão. § 3º A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos e em conformidade com o princípio da boa-fé. Princípio da Cooperação Esse princípio está expressamente previsto no art. 6º do CPC. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Temos aqui um desdobramento do princípio da boa-fé e da lealdade processual que vai além, na medida em que exige que as partes contribuam para o desenrolar normal do processo. O artigo 357, § 3º, por exemplo, cuida do saneamento do processo, que incumbe ao juiz, sem necessidade da participação dos litigantes. No entanto, se a ação envolver complexidade em matéria de fato ou de direito, caberá ao juiz convocar uma audiência, para que o saneamento seja feito em cooperação com as partes. Nessa ocasião, o juiz as convidará a esclarecer suas alegações. Lei processual no tempo - A norma processual não retroagirá (art. 14, CPC) e será aplicável imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos processuais já praticados e as situações jurídicas consolidadas sob a vigência da norma revogada. - Também não se vislumbra qualquer complicação para os processos a serem iniciados, já que a norma processual civil terá aplicação imediata, respeitando-se, é claro, a sua vacatio legis. - Quanto à vigência do CPC/15 temos a seguinte regra cronológica: processos transitados em julgado até 17/3/2016 observam o CPC/73; processos e atos processuais a partir de 18/03/2016 observam o CPC/15; processos que se iniciaram antes de 17/3/2016, porém, serão concluídos após, observam até essa data o CPC/73 e, após, o CPC/15. - Sobre a aplicação do processo comum aos processos especiais, a regra é que na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições do CPC/15 lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. Jurisdição - CONCEITO: é a função atribuída a terceiro imparcial (a), de realizar o Direito de modo imperativo (b) e criativo (reconstrutivo) (c), reconhecendo/efetivando/protegendo situações jurídicas (d) concretamente deduzidas (e), em decisão insuscetível de controle externo (f), com aptidão para tornar-se indiscutível (f). Esse conceito foi extraído do livro do prof. Fredie Didier Jr. Decisão por terceiro imparcial - heterocomposição A jurisdição é a técnica de solução de conflitos por heterocomposição: um terceiro substitui a vontade das partes e determina a solução do problema apresentado. O juiz não é NEUTRO. Até porque não existe ninguém neutro. O juiz deve ser IMPARCIAL. Deve tratar as partes com igualdade, não pode ter interesse no litígio, zelando pelo contraditório em paridade de armas. Imperatividade e inevitabilidade da jurisdição A jurisdição é a manifestação de um poder e, portanto, impõe imperativamente, reconstruindo e aplicando o Direito a situações concretas que são submetidas ao órgão jurisdicional. Jurisdição como atividade criativa Ao decidir, o Tribunal cria. Toda decisão pressupõe ao menos duas alternativas que podem ser consideradas. A decisão é sempre algo novo porque ao Tribunais cabe interpretar, construir e, ainda, distinguir os casos para que possam formular suas decisões. Jurisdição como técnica de tutela de direitos mediante um processo A jurisdição também tem a função de proteger direitos em sentido amplo e isso também se dá mediante o reconhecimento judicial (processo de conhecimento) ou, por exemplo, pela sua efetivação (tutela executiva). A jurisdição sempre atua em uma situação jurídica concreta Sempre num determinado problema que é levado à apreciação jurisdicional. O raciocínio é sempre problemático: é chamado a resolver um problema concreto. Insuscetibilidade de controle externo A jurisdição tem como característica marcante produzir a última decisão sobre a situação concreta posta em juízo. Aplica-se o direito a essa situação concreta, sem que se possa submeter essa decisão a controle externo de nenhum outro poder. Aptidão para a coisa julgada A coisa julgada é a situação jurídica que diz respeito exclusivamente às decisões jurisdicionais. Somente uma decisão judicial pode tornar-se indiscutível e imutável pela coisa julgada. A jurisdição tem aptidão para a definitividade. COMPETÊNCIA Competência é a demarcação dos limites em que cada juízo pode atuar; é a medida da jurisdição. É a atribuição legal para julgar a causa. Por questão organizacional, o constituinte originário e o legislador ordinário optaram por distribuir a função jurisdicional (que é una) entre vários órgãos, levando em conta diversos critérios (valor da causa, matéria e pessoas envolvidas no processo, critérios de funcionalidade e territorialidade). Para que seja válido o processo, portanto, é necessário que o órgão jurisdicional que o presidirá e proferirá o julgamento seja competente para tanto. Aliás, o julgamento por órgão competente é direito fundamental do indivíduo e decorre da garantia ao juízo natural. Assim é que a Constituição previu que ao STF caberá o julgamento da ADI em face de lei federal e o CPC prevê que, em regra, a ação que verse sobre direito pessoal deve ser proposta no domicílio do réu (art. 46) e a ação de direito real, sobre imóveis, no foro da situação da coisa (art. 47). COMPETÊNCIA - COMPETÊNCIA INTERNA: As causas cíveis serão processadas e decididas pelo juiz nos limites de sua competência, RESSALVADO às partes o direito de instituir juízo arbitral, na forma da lei. A competência se fixa no momento do registro ou da distribuição da petição. Fixada a competência, esta é perpétua, com duas exceções: supressão do órgão judiciário e alteração da competência absoluta. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, SALVO quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta. CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA COMPETÊNCIA DO FORO (TERRITORIAL) COMPETÊNCIA DO JUÍZO O foro deve ser compreendido como o local em que o magistrado exerce sua competência. Uma vez definido o local, deve-se perquirir qual é o Juízo competente, ou seja, qual, dentre os vários juízes do foro, é concretamente competente. CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA COMPETÊNCIA DERIVADA Define o órgão jurisdicional para conhecer o processo pela primeira vez. Estabelece a reponsabilidade de julgar recursos a partir da decisão do órgão originariamente competente. Slide 1: PROCESSO CIVIL I Slide 2: Princípio da Isonomia Slide 3: Isonomia Formal e Isonomia Real Slide 4: Isonomia Real Slide 5: Isonomia Real Slide 6: Princípio da Imparcialidade do Juiz (Juiz Natural) Slide 7: Requisitos para a Caracterização do Juiz Natural Slide 8: Princípio da Motivação das Decisões Judiciais Slide 9: Princípio da Motivação das Decisões Judiciais Slide 10: Princípio da Cooperação Slide 11: Lei processual no tempo Slide 12: Jurisdição Slide 13: Decisão por terceiro imparcial - heterocomposição Slide 14: Imperatividade e inevitabilidade da jurisdição Slide 15: Jurisdição como atividade criativa Slide 16: Jurisdição como técnica de tutela de direitos mediante um processo Slide 17:A jurisdição sempre atua em uma situação jurídica concreta Slide 18: Insuscetibilidade de controle externo Slide 19: Aptidão para a coisa julgada Slide 20: COMPETÊNCIA Slide 21: COMPETÊNCIA Slide 22: CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA Slide 23: CLASSIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA