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Apostila Dir Internacional II

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Profa. Juliana Ribeiro 1 
 
 
 
DIREITO 
INTERNACIONAL 
 
II 
Juliana Ribeiro 
 
Apostila de Direito Internacional II 2 
 
 
1 - INCOTERMS 
Visão Geral do Tema 
 Os incoterms compreendem um conjunto de regras para interpretação e 
consolidação de termos comerciais usuais utilizados, precipuamente, nas transações 
comerciais internacionais. Tais regras foram criadas pela Internacional Chamber of 
Commerce, em 1936, e por ela são atualizadas na medida em que o 
desenvolvimento logístico e as práticas do comércio internacional assim o exigem. A 
última versão é a Incoterms 2000, cujos termos foram recentemente revisados, 
seguindo uma tendência mundial de internacionalização das relações entre os 
países, revolução nos meios de comunicação e alterações nas práticas de 
transportes. São também conhecidos como "Cláusulas de Preço", eis que, conforme 
a escolha, determinam os elementos que compõem o preço da mercadoria, 
adicionais aos custos de produção. 
 Referidos termos internacionais do comércio têm importância significativa, 
pois representam linguagem universal em termos de comércio internacional. A par 
da importância e linguagem universal que facilita a contratação entre empresas de 
nacionalidades diferentes, a utilização dos incoterms podem envolver riscos 
significativos à parte que não tem domínio e conhecimento profundo de todos os 
aspectos de sua abrangência, pois dest as cláusulas defluem os riscos e 
responsabilidades que o exportador e o importador estão assumindo. A versão 
publicada em 2000 tem como ponto positivo uma apresentação bem mais simples e 
clara das treze definições que o compõem. 
 O que motivou e motiva o uso de incoterms é a compreensível diversidade 
das formas de comerciar entre os diversos países de culturas diferentes, e até 
mesmo entre os de mesma cultura. Essa diversidade gerou, e ainda gera, muitas 
disputas comerciais que redundam em ações na justiça, muitas delas ocasionadas 
por desconhecimento ou falta de assessoramento na hora da contratação, lides 
cujas conseqüências elevam o custo de aquisição ou diminuem a margem de lucro 
das partes, conforme o lado em que estejam no contrato. 
 Releva salientar que os incoterms sintetizam matérias relativas aos direitos 
e obrigações das partes no contrato, especialmente com relação à transferência de 
propriedade da mercadoria (tradição), custos e riscos inerentes às operações 
internacionais. De se esclarecer, entretanto, que devem ser empregados apenas 
nas relações contratuais estabelecidas entre vendedor e comprador, nunca nos 
contratos firmados com o transportador. A transferência de responsabilidade entre 
qualquer das partes e o transportador deve figurar em instrumento autônomo. 
 Seu uso, embora opcional, é de todo recomendável, desde que as partes 
tenham bem presente quais os direitos e obrigações que dimanam da aceitação 
deste ou daquele incoterm. A má compreensão pode ocasionar vultosa perda em 
caso de sinistro, por exemplo. O mesmo se diga em relação à adoção de um 
incoterm e fixação de outras cláusulas contratuais que podem ser com ele 
incompatíveis. 
 Abaixo estão descritos e interpretados cada um dos 13 incoterms. 
Profa. Juliana Ribeiro 3 
 
 
Os Incoterms na Exportação 
 A) EXW (Ex Works): o exportador encerra sua participação no negócio 
quando acondiciona a mercadoria na embalagem de transporte (containers, caixas, 
sacos, entre outros). Ou seja, a entrega da mercadoria se dá na porta da fábrica ou 
depósito, não se responsabilizando o vendedor sequer pelo seu carregamento no 
meio de transporte utilizado. A negociação se realiza no próprio estabelecimento do 
exportador. Assim, cabe ao importador estrangeiro adotar todos as providências 
para retirada da mercadoria do país do vendedor, tais como embarque para o 
exterior, contratar frete e seguro internacionais etc. Como se pode observar, o 
comprador assume todos os custos e riscos envolvidos no transporte da mercadoria 
do local de origem até o de destino. 
 B) FCA (Free Carrier Named Point): o vendedor cumpre sua obrigação 
quando entrega a mercadoria, pronta para exportação (desembaraçada), aos 
cuidados do transportador, no local por ele designado. Cabe ao comprador contratar 
frete e seguro internacionais. O local escolhido para entrega é importante para 
definir a responsabilidade quanto à carga e descarga da mercadoria: ser a entrega 
acontecer nas dependências do vendedor, este será responsável pelo carregamento 
no veículo coletor do comprador; se a entrega for combinada em qualquer outro 
local, o vendedor não se responsabiliza pelo descarregamento de seu veículo. Pode 
ser utilizado em qualquer modalidade de transporte, mas é mais empregado no 
transporte multimodal de containers ou Rol-On-Roll-Off. 
 C) FAS (Free Alongside Ship): o vendedor tem a obrigação de colocar a 
mercadoria ao longo do navio, no porto de carga, já liberada para exportação. A 
contratação do frete e do seguro internacionais fica por conta do comprador ou 
importador. A mercadoria somente é considerada entregue quando estiver suspensa 
no guindaste que a está removendo ou quando ultrapassar a balaustrada, se 
guindaste de terra. Somente utilizado no transporte aquaviário (marítimo, fluvial e 
lacustre). 
 D) FOB (Free on Board): o vendedor tem a obrigação de colocar a 
mercadoria vendida a bordo do navio, no porto designado no contrato. Considera-se 
entregue a mercadoria quando elas transpõem a amurada do navio (ship’s rail) no 
porto de embarque. Todo o custo e o risco de estivagem fica a cargo do vendedor, 
como também o desembaraço da mercadoria. O importador pode escolher o navio 
que transportará a carga, inclusive um de sua nacionalidade. 
 E) CFR (Cost and Freight): o vendedor assume todos os custos, inclusive 
a contratação do frete internacional para transportar a mercadoria até o porto de 
destino indicado. Também fica responsável pelo desembaraço da exportação. 
Destaque-se que os riscos por perdas e danos e/ou quaisquer outros custos 
adicionais são transferidos do vendedor para o comprador no momento em que a 
mercadoria cruze a amurada do navio, no porto de carga. Assim, a negociação 
(venda) ocorre ainda no país do vendedor. Cabe ao comprador, porém, contratar e 
pagar seguro da mercadoria, caso queira se resguardar. 
 F) CIF (Cost, Insurance and Freight): o vendedor transfere a 
responsabilidade sobre a mercadoria, já desembaraçada, ao comprador, no 
momento da transposição da amurada do navio no porto de embarque. No entanto, 
o vendedor fica responsável pelo pagamento dos custos relativos ao embarque, 
Apostila de Direito Internacional II 4 
 
frete e descarga, até o porto de destino indicado no contrato. Também obriga-se a 
contratar e pagar prêmio de seguro do transporte principal. No entanto, o seguro 
pago pelo vendedor tem cobertura mínima, cabendo ao comprador avaliar a 
necessidade de efetuar seguro complementar. Cabe ao vendedor escolher a 
embarcação que levará a mercadoria. 
 G) CPT (Carriage Paid to): o vendedor contrata e paga o frete de 
transporte da mercadoria até o porto designado. Os riscos de avarias, perdas e 
danos, bem como quaisquer custos adicionais em razão de fatos ocorridos após sua 
entrega ao transportador, são transferidos ao comprador quando a mercadoria é 
entregue à custódia do primeiro transportador. O vendedor é responsável pelo 
desembaraço das mercadorias. Esse termo pode ser usado em qualquer modalidade 
de transporte, inclusive o multimodal. 
 H) CIP (Carriageand Insurance Paid to): nesse termo o vendedor tem 
as mesmas obrigações definidas no Carriage Paid to e, além disso, arca com o 
pagamento dos prêmios dos seguros contra riscos de perdas e danos da mercadoria 
durante todo o percurso do transporte. Quando as mercadorias são entregues à 
custódia do transportador, os riscos por perdas e danos se transferem do vendedor 
ao comprador, assim como eventuais custos adicionais. O prêmio do seguro pago 
pelo vendedor tem cobertura mínima, competindo ao comprador avaliar a 
necessidade de realizar seguro complementar. 
 I) DAF (Delivered at Frontier): o vendedor deve entregar a mercadoria, 
pronta para a exportação, em local previamente designado na fronteira, antes, 
porém, da divisa alfandegária, arcando com todos os custos e riscos até esse 
momento. A entrega ocorre ainda no veículo do transportador, sem descarregar. O 
vendedor responsabiliza-se pelo desembaraço da exportação, mas fica com o 
comprador a responsabilidade pelo desembaraço da importação. Geralmente o DAF 
é empregado na modalidade de transporte rodoviário ou ferroviário. 
 J) DES (Delivered Ex Ship): o vendedor fica responsável pela entrega da 
mercadoria, a bordo do navio, no porto de destino, cabendo a ele todos os custos e 
riscos de embarque, seguros e transporte. A retirada da mercadoria do navio com 
os custos daí decorrentes são de responsabilidade do comprador, como também o 
desembaraço da mercadoria para efetivar a importação. 
 K) DEQ (Delivered Ex Quay): o vendedor fica responsável e se obriga a 
colocar a mercadoria disponível ao comprador no porto de descarga. O vendedor 
assume todos custos e riscos durante o transporte, além de se responsabilizar pela 
descarga da mercadoria no cais. O desembaraço e encargos no país do comprador 
ficam por conta deste. 
 L) DDU (Delivered Duty Unpaid): o vendedor se obriga a entregar as 
mercadorias, com todos os custos e riscos de transporte, no local designado pelo 
comprador, mas sem a responsabilidade de descarregar o veículo transportador. Os 
gastos com impostos e demais encargos oficiais porventura devidos em razão da 
importação ficam com o comprador. Ressalta-se que o comprador deve arcar com 
quaisquer custos adicionais e assumir eventuais conseqüências geradas por sua 
omissão em desembaraçar no prazo as mercadorias. 
 M) DDP (Delivered Duty Paid): contrariamente ao ex works, onde 
praticamente não existem responsabilidades ou riscos para o vendedor, no DDP 
todas as responsabilidades e custos, inclusive tributários, além de quaisquer outros 
Profa. Juliana Ribeiro 5 
 
encargos no país do comprador ficam a cargo do vendedor. É o incoterm que 
estabelece o maior responsabilidade ao vendedor. 
 
Conclusões 
 Os incoterms são instrumentos usuais utilizados no comércio internacional, 
com vistas a facilitar a operacionalização de contratos de compra e venda e 
minimizar as diferenças entre as partes interessadas, geralmente de diferentes 
nacionalidades e culturas. São regras, imparciais, que visam a uniformização e 
harmonização dos contratos internacionais de comércio. 
 Uma vez agregados aos contratos internacionais, passam a ter força legal, 
com o significado que lhes empresta a Internacional Chamber of Commerce. 
 O cuidado com as sutis diferenças existentes entre um e outro incoterm é 
fundamental para que nenhum dos contratantes tenha surpresa em caso de 
eventual sinistro, notadamente em função da necessidade de uma das partes 
realizar a contratação de seguro complementar. 
 Dominar e bem interpretar os incoterms é indispensável para que as partes 
contratantes possam incluir e prever todos os custos nas transações em Comércio 
Exterior, bem como calcular seus lucros. 
 Não raro os exportadores preferem realizar negócios cuja entrega da 
mercadoria se dê no país do comprador. Isso porque, de um lado, amplia seu poder 
de barganha, pois confere mais segurança e conforto a quem está comprando e, de 
outro, possibilita o crescimento de sua margem de lucro na exportação, não 
obstante sua maior responsabilidade e riscos. Para tanto, uma boa logística é 
fundamental. 
 
2 - AUTONOMIA DA VONTADE NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
A AUTONOMIA DA VONTADE NA TEORIA GERAL DO DIREITO 
Compreender o paradigma da modernidade, e entender como as noções de Estado 
e sujeito de direito operam no sentido conferir uma harmonia aparente a um 
sistema social que se funda na desigualdade, é tarefa fundamental para a análise 
dos caracteres que hoje fundamentam a ciência jurídica. Como bem afirma Tércio 
Sampaio Ferraz Jr.: 
 "Para o mundo jurídico o advento da sociedade do homo laborans significa, 
assim, a contingência de todo e qualquer direito, que não apenas é posto por 
decisão, mas vale em virtude de decisões, não importa quais, isto é, na concepção 
do animal laborans, criou-se a possibilidade de estruturas contraditórias, sem que a 
contradição afetasse a função normativa." 
 O mundo ocidental funda suas raízes nos paradigmas construídos em meio 
às mudanças de um período de revoluções políticas e sociais, amparadas, 
sobretudo, na grande querela instaurada entre empirismo e racionalismo. Tércio 
Sampaio identifica nesse período uma formalização e racionalização do direito que 
Apostila de Direito Internacional II 6 
 
não é "...mais nem contemplação, nem manifestação da autoridade, nem exegese à 
moda medieval, mas capacidade de reprodução artificial (laboratorial) de processos 
naturais". 
 Essa sistematização do direito, capaz de torná-lo um regulador racional, 
lança as bases para uma concepção histórica do fenômeno jurídico, sujeito às 
circunstâncias e contingências culturais de cada povo. Institucionaliza-se, desta 
forma, a mutabilidade do direito, uma característica fundamental do fenômeno da 
positivação, no qual os institutos jurídicos são vistos como totalidades de natureza 
orgânica. 
 Ora bem, o arbítrio individual, a capacidade de escolha do indivíduo que tem 
autonomia para fazer opções, está intimamente associado à idéia de liberdade, 
sendo esta última preciosa para que se reconheça o direito subjetivo como uma 
realidade em si. Segundo Tércio Sampaio Ferraz Jr., enquanto para os antigos a 
liberdade era um status, o status libertatis dos romanos, em oposição ao status 
servitutis, o cristianismo trouxe uma outra concepção de liberdade, o livre-arbítrio. 
 Desta forma, se entre os romanos a liberdade consistia numa "...qualificação 
pública do agir político", o pensamento cristão concebeu a liberdade como uma 
qualidade interna da vontade individual que se expressa num querer ou não querer, 
partilhados por todos os homens, independentemente do seu status. O indivíduo 
torna-se, assim, um centro isolado, pois o livre-arbítrio é sempre exercido, não 
importando se esse exercício é ou não possível. Mesmo numa prisão o homem 
conserva a vontade livre. 
 Tércio Sampaio alerta para o fato de que o exercício do livre-arbítrio 
encontra limites na medida em que não se puder exteriorizar publicamente. Tem-
se, portanto, um conceito negativo de liberdade, como ele próprio afirma: "...o lado 
público do livre-arbítrio permite assim a compreensão da liberdade como não 
impedimento. É o conceito negativo de liberdade: o homem é livre à medida que 
pode expandir o que quer." Essa concepção de liberdade será fundamental para a 
estruturação do capitalismo nascente. Com base no livre-arbítrio, na liberdade 
como não impedimento, um novo conceito de liberdade é erigido. Desta feita um 
conceito positivo, sendo a liberdade entendida como autonomia, como capacidade 
de auto-regramento da vontade. 
 Nádia de Araújo apresenta uma definição de vontadeefetuada por 
Claparède, que a distingue das outras atividades, como, por exemplo, as operações 
intelectuais, por apresentar um conflito de tendências que têm por objeto o fim da 
ação. O ato de vontade teria como função resolver esse conflito entre fins. O direito 
moderno atribuía à vontade a força geradora do vínculo obrigacional, importância 
essa que foi mitigada durante o século XX com a crescente intervenção do Estado 
na economia, em detrimento da liberdade do indivíduo. 
 Com efeito, no início do século XIX a concepção clássica de negócio jurídico 
utilizava a expressão (Rechtsgeshaft) para "...designar o ato jurídico em que a 
vontade tinha liberdade de escolha, podendo auto-regrar-se". Segundo Marcos 
Bernardes de Mello, o conceito de negócio jurídico fora então "...construído sob a 
inspiração ideológica do Estado liberal, cuja característica mais notável consistia na 
preservação da liberdade individual, o mais ampla possível, diante do Estado". Essa 
excessiva valorização do voluntarismo findou por transformar o negócio jurídico 
num ato de autonomia da vontade, autonomia privada, no qual a declaração da 
Profa. Juliana Ribeiro 7 
 
vontade negocial constituiria o próprio negócio jurídico, cujos efeitos dela (vontade) 
seriam decorrentes. 
 Marcos Mello critica essa concepção, para ele distorcida, de negócio jurídico. 
Sendo a exteriorização da vontade o elemento nuclear do suporte fático do ato 
jurídico lato sensu, a sua importância para o mundo jurídico apenas teria razão de 
ser caso estivesse prevista como suporte fático de alguma norma jurídica. Nesse 
sentido, a vontade negocial tem de ser erigida à condição de fato jurídico pela 
incidência da norma jurídica. "Sem a incidência da norma, a vontade não entrará no 
mundo jurídico e, portanto, não há como se falar em negócio jurídico ou outra 
qualquer espécie de fato jurídico. Somente há juridicidade onde há norma jurídica 
que a atribua a algum fato, inclusive volitivo." 
 Segundo Marcos Mello, é importante estabelecer uma distinção entre eficácia 
legal, decorrente da incidência da norma jurídica sobre o seu suporte fático, 
juridicizando-o, e a eficácia jurídica, que são os efeitos do fato jurídico. A norma 
jurídica, o fato e tampouco o suporte fático não podem, sozinhos, produzir eficácia 
jurídica. Assim sendo, a extensão da eficácia jurídica é uma decorrência do que fora 
estatuído pelo sistema jurídico como efeito do fato jurídico, noutras palavras, 
mesmo não sendo a fonte dos efeitos jurídicos, é a norma jurídica quem define a 
eficácia do fato jurídico. 
 Haveria assim uma situação jurídica básica que se constituiria na eficácia 
mínima e necessária dos fatos jurídicos, a partir da qual seriam irradiados, quando 
possível, seus outros efeitos. Quando limitada a apenas uma esfera jurídica, essa 
situação jurídica básica é denominada simples ou unisubjetiva. Quando, porém, o 
direito que integra uma esfera jurídica corresponde a um dever noutra esfera 
jurídica, estabelece-se uma relação jurídica entre os titulares desses direitos e 
deveres, caracterizando assim, uma situação jurídica complexa ou intersubjetiva, 
que se subdivide em situação jurídica complexa unilateral e situação jurídica 
complexa multilateral. Na primeira, embora haja a necessidade de 
intersubjetividade no relacionamento, inexiste a correspectividade de direitos e 
deveres; na segunda, ocorre a intersubjetividade jurídica e a correspectividade de 
direitos e deveres, caracterizando assim a relação jurídica. 
 Ao regular as relações jurídicas, o sistema jurídico pode fazê-lo 
exaustivamente, estabelecendo normas cogentes que não deixam margem à 
atuação da vontade, adstrita à escolha da categoria negocial, ou poderá fazê-lo de 
forma mais ampla, assentindo que a vontade escolha não apenas a categoria 
negocial, como também estruture o conteúdo eficacial da relação jurídica. Para 
Marcos Bernardes de Mello, contudo, a autonomia ou auto-regramento da vontade 
não estaria apta a produzir efeitos que não estivessem previstos pelo sistema 
jurídico. Desta forma, nos negócio jurídicos a vontade não criaria efeitos, pois estes 
seriam decorrentes da lei (ex lege) , que apenas concederia aos indivíduos a 
possibilidade de escolher a categoria jurídica dentro de certos limites estabelecidos 
pelo próprio ordenamento jurídico. 
 Essas limitações à vontade negocial conduzem à conclusão de que a lei deixa 
aos indivíduos um espectro restrito de possibilidades, quando se tratar de escolher 
a categoria jurídica e a eficácia da relação jurídica. Como afirma Pontes de Miranda: 
 "Em verdade, ainda que amplamente, o direito limita a classe dos atos 
humanos que podem ser juridicizados. Mundo fático e mundo jurídico não são 
coextensivos. Noutros termos: somente dentro de limites pré-fixados, podem as 
Apostila de Direito Internacional II 8 
 
pessoas tornar jurídicos atos humanos, e, pois, configurar relações jurídicas e obter 
eficácia jurídica. A chamada ‘autonomia da vontade’, o auto-regramento, não é 
mais do que ‘o que ficou às pessoas’. (...) O que caracteriza o auto-regramento da 
vontade é poder-se, com ele, compor o suporte fático dos atos jurídicos com o 
elemento nuclear da vontade." 
 A autonomia da vontade, no entanto, assume papel preponderante quando 
se trata de estabelecer a lei aplicável às relações jurídicas que extrapolam as 
fronteiras do ordenamento jurídico interno. Nesse aspecto, as limitações à vontade 
negocial são ainda mais evidentes, uma vez que adstritas à escolha da lei aplicável 
à relação jurídica. 
A AUTONOMIA DA VONTADE NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO 
 A autonomia da vontade nos contratos internacionais é questão 
doutrinariamente já debatida no Direito Internacional Privado. O mesmo se pode 
dizer, por exemplo, dos contratos de adesão, espécie de negócio jurídico no qual a 
autonomia de uma das partes contratantes estaria restrita à aceitação ou não das 
condições gerais e cláusulas uniformes estabelecidas pelo proponente. A natureza 
adesiva desse contratos torná-los-ia permeáveis a adoção de condições gerais 
uniformes, às quais deveria aderir o contrato, sem que ao oblato fosse permitido 
contestá-las. 
 Paulo Luiz Neto Lôbo efetua, contudo, restrições ao significado do termo 
"adesão" usualmente utilizado pela doutrina. Segundo ele, há que se estabelecer 
uma distinção entre condições gerais e contrato de adesão, afastando-se assim a 
confusão estabelecida pela orientação monista da doutrina francesa. O contrato de 
adesão não seria, desta forma, um contrato geral, gerais seriam apenas as 
condições às quais o contrato adere necessariamente. E assim ocorre porque a 
adesão ao contrato, por parte do oblato, pressupõe a conclusão do negócio jurídico, 
ou seja, a oferta somada à aceitação. Antes disso, não há negócio jurídico, mas 
apenas condições gerais, uma vez que "...o contrato dito de adesão só passa a 
existir com a declaração comum das partes contratantes". Desta forma, não se 
poderia falar de adesão ao que juridicamente ainda não existe, o contrato. 
Tampouco se poderia falar em adesão a condições gerais, uma vez que estas se 
aplicam a despeito da ausência de consentimento. Paulo Lôbo é enfático ao 
concluir: 
 "O que adere -– liga, une, cola – às condições gerais é o contrato individual 
quando se conclui. É o contrato que adere, e não o contratante, pois sua adesão, 
repita-se, é irrelevante. (...) No atual estágio da ciência jurídica, o contrato de 
adesão pode ser assim concebido: o contrato que, ao ser concluído, adere a 
condições gerais predispostas por uma das partes, que passam a produzir efeitos 
independentemente de aceitação da outra parte." 
 Ora, a adesividade, se considerar apenas o planodo direito interno, 
constitui-se em um quase antípoda do consensualismo e, por extensão, fere o 
princípio da autonomia da vontade, tido aqui como o poder que as partes têm de 
livremente negociar os termos do contrato, escolhendo a categoria negocial e 
estruturando o conteúdo eficacial da relação jurídica . Como afirma Irineu Strenger 
a respeito dos contratos: 
 "Ora, o contrato, seja de que natureza for, constitui-se num meio pelo qual 
os particulares regulam seus interesses de acordo com determinada vontade, 
Profa. Juliana Ribeiro 9 
 
mesmo admitidas limitações ao seu exercício, apresentando-se num quadro 
abstrato que (...) pode configurar em seus conteúdos as instituições 
correspondentes, essencialmente as relativas a quaisquer dados concretos da vida 
social, expressos na lei ou num ordenamento jurídico. Tais elementos não devem 
ser vistos somente pelo ângulo da técnica jurídica, porque exatamente o direito que 
se apóia sobre o contrato, como símbolo do direito individual, alicerça-se nos 
princípios da igualdade e da liberdade, ao passo que o direito que se apóia nas 
instituições tem apenas como suporte a autoridade." 
 Segundo Irineu Strenger, deixar de reconhecer o papel da vontade contraria 
a dimensão pluralista da sociedade "...onde os ideais morais e jurídicos se 
cristalizam por força de um comando que se origina na natureza humana". (15) A 
despeito dessa visão calcada no abstrato conceito de natureza humana, Strenger 
concebe, assim como Miguel Reale, que o processo jurígeno não está restrito à 
norma jurídica, como ele mesmo sentencia: 
 "Por outro lado, o processo jurígeno não se exaure na norma jurídica, 
porquanto, como diz Miguel Reale, ela mesma suscita, no seio do ordenamento e no 
meio social, um complexo de reações estimativas, de novas exigências fáticas e 
axiológicas, e o homem constitui o centro do direito, e o fim principal do direito é 
servir a seus legítimos interesses." 
 Autonomia da vontade, no direito interno, confunde-se com liberdade para 
contratar, embora deva-se considerar a ressalva efetuada por Pontes de Miranda, 
que assim dimensionou ambos os princípios: a libe rdade para contratar 
corresponderia ao poder de "...se adquirirem, livremente, direitos, pretensões, 
ações e exceções oriundos do contrato; e princípio da autonomia da vontade 
(expressão essa que Pontes de Miranda preferia substituir por auto-regramento) , o 
da escolha, o líbito, das cláusulas contratuais". 
 No âmbito do direito interno, a aceitação da autonomia da vontade oscila 
entre duas perspectivas distintas. A primeira antevê a possibilidade de que as 
partes possam dispor livremente os termos do contrato, a despeito das normas 
imperativas, facultativas ou supletivas, cujo ápice fora atingido, como bem observa 
Oscar Tenório (18) , com o liberalismo, materializando-se o princípio da autonomia 
da vontade no art. 1.134 do Código Civil francês, no qual restava estipulado que as 
convenções legalmente constituídas fariam lei entre as partes. 
 A segunda perspectiva rechaça o individualismo da primeira, propugnando 
que a efetiva influência do Estado no campo econômico e nas relações comerciais 
propiciou uma redução do espectro de ação dos contratantes, sujeitando-os às 
determinações legais. Quanto a esta segunda orientação, Irineu Strenger alerta 
para o fato de que a autonomia da vontade não estaria restrita a uma visão 
estritamente publicista, tese também esposada por Vicente Ráo, padecendo de 
maiores ou menores limitações em função da relação sob a qual seja tratada, a 
saber, se de natureza pública ou privada. Como o próprio Strenger afirma: 
 "Para contestar a concepção extremadamente publicista vale-se (Vicente 
Ráo) da opinião de Betti, segundo a qual a autonomia de um ente ou sujeito 
subordinado pode ser concebida através de duas funções distintas: a) como fonte 
de normas destinadas a formar parte integrante da própria ordem jurídica que a 
reconhece como tal e por meio dela realiza uma espécie de descentralização da 
função nomogenética, fonte esta que poderia ser qualificada como regulamentar, 
por ser subordinada à lei; e b) como pressuposto à hipótese de fato gerador de 
Apostila de Direito Internacional II 10 
 
relações jurídicas já disciplinadas, em abstrato e geral, pelas normas de ordem 
jurídica, revelando semelhante distinção um dado fenomenológico que não pode ser 
desconhecido (...) E finaliza: a autonomia privada verdadeira e própria, consiste no 
poder que os sujeitos privados possuem de ditar as regras de seus interesses, em 
suas relações recíprocas." 
 Transpostas para o plano do direito conflitual, ambas as orientações irão 
resultar na aceitação ou não aceitação do princípio da autonomia da vontade no 
Direito Internacional Privado e no dimensionamento do limites da sua aplicação. A 
essas duas orientações assemelham-se as concepções subjetivista e objetivista do 
conceito de autonomia da vontade. 
 A primeira entende que a designação do direito aplicável ao contrato 
obedeceria à vontade das partes. Inexistindo uma lei escolhida no contrato, caberia 
ao juiz aplicar-lhe a vontade hipotética dos contratantes, implícita nas cláusulas 
contratuais e deduzida pelo julgador. Como o contrato possui uma conexão 
internacional, seu raio de abrangência extrapola a rede de relações sociais do 
ordenamento jurídico interno e, desta forma, forçoso seria concluir-se que o 
contrato não estaria submisso a nenhum sistema jurídico. A escolha da lei aplicável 
promoveria a incorporação dessa lei ao contrato. Em contrapartida, a concepção 
objetivista afirma que a lei não pode ser objeto do que fora convencionado pelos 
contratantes. O princípio da autonomia da vontade não permite que as partes 
adotem a lei aplicável, mas que a esta se submetam. A lei aplicável é, portanto, 
determinada pelo juiz de acordo com o que as partes tenham estipulado em relação 
à localização do contrato. 
 Alguns, como Niboyet por exemplo, chegaram mesmo a afirmar que a 
autonomia da vontade considerada como o poder de escolha da lei competente, não 
existe. Por certo Niboyet tinha em mente que não se pode aceitar que uma norma 
imperativa no plano interno adquira o status de uma norma facultativa no plano 
internacional. Essa degradação da norma na passagem da ordem interna para a 
ordem internacional preconizaria a diversidade das conseqüências advindas da 
transgressão da norma imperativa, eivando de nulidade os atos no âmbito do 
ordenamento jurídico interno e amenizando os seus efeitos no plano internacional. 
Pontes de Miranda também criticou duramente a teoria da autonomia da vontade, 
assim justificando o seu pensamento: 
 " a) na parte de cogência, há uma lei aplicável, que poderá conferir à 
vontade, por estranha demissão de si-mesma, o poder de desfazer tal 
imperatividade, quer dizer – um imperativo que se nega a si mesmo, que se faz 
dispositivo; b) fixados pela aplicável os limites da autonomia, dentro deles não há 
escolha de lei, há ‘lei’ que constitui conteúdo, citação, parte integrante de um 
querer". 
 O comentário aqui efetuado por Pontes de Miranda, também citado por Nádia 
de Araújo , refere-se à Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro de 1916. 
Considerando a afirmação do jurista alagoano, seria mesmo um contra-senso 
conceber uma norma imperativa que permitisse a sua negação. Tal argumento, 
contudo, possui o mesmo teor dos argumentos formulados pelos que refutam o 
reenvio e justificam sua tese no fato de que uma vez indicado o direito estrangeiro 
pela norma de conflito do foro, deverá aquele – o direito estrangeiro – ser aplicado, 
não se aceitando a devolução para a aplicação da lex fori por se contrapor tal 
aplicação à determinação inicialdesta lei. A Pontes de Miranda incomoda a idéia de 
que uma norma imperativa contivesse a sua própria negação, o que resulta na sua 
Profa. Juliana Ribeiro 11 
 
concepção de que "...a autonomia da vontade não existia, nem como princípio nem 
como teoria aceitável". 
 No Direito Internacional Privado, a autonomia da vontade, como restou aqui 
explicitado, cinge-se tão somente à liberdade que têm os contratantes para 
determinar a lei aplicável ao contrato. Desta forma, os contratos internacionais de 
franchising estariam sujeitos aos inúmeros conflitos de leis decorrentes do 
tratamento diferenciado que recebem, legislativa e doutrinariamente, de cada 
ordenamento jurídico em particular. Sendo de natureza adesiva, poderia o 
policitante invocar a autonomia da vontade e determinar-lhes, unilateralmente, a lei 
aplicável. 
 Ora bem, considerando que os contratos de franquia possuem natureza 
adesiva, ou ainda, apresentariam alguns elementos que os qualificariam como 
contratos de adesão, como se convencionou chamar, para os ordenamentos 
jurídicos que não aceitam o caráter de adesividade dos contratos de franchising, a 
cláusula que permite a fixação unilateral da lei aplicável seria sobejamente abusiva. 
Além disso, aceitando-se ou não a "teoria da adesão", podem ainda os contratos 
internacionais de franquia esbarrar no óbice maior à determinação da lei aplicável 
em matéria de contratos internacionais: a adoção da autonomia da vontade como 
elemento de conexão no Direito Internacional Privado. 
 Os contratos internacionais são, portanto, um solo fértil para a adoção da 
autonomia de vontade como critério determinante da lei que lhes será aplicável. 
Nesses tempos de internacionalização, para não dizer globalização, da vida 
econômica, torna-se imprescindível a adoção de normas uniformes, quer internas 
quer de sobredireito, para que sejam evitados ou ao menos minimizados os 
conflitos de 2° grau decorrentes da diversidade de elementos de conexão adotados 
pelos vários ordenamentos jurídicos. 
 Como já foi dito, essa uniformidade é sempre buscada, nunca alcançada, e 
seria utópico pretender que o fosse. Contudo, alguns obstáculos impõem-se a esta 
uniformização e o primeiro deles resulta na própria conceituação doutrinária dos 
contratos internacionais, dos contratos de adesão e, por fim, dos contratos de 
franquia. Como se tais dificuldades não fossem legião, a estas seguem-se as 
disparidades internas dos diversos ordenamentos jurídicos no que tange a adoção 
da autonomia da vontade como elemento de conexão nos contratos internacionais 
e, em maior escala, a determinação dos limites de sua aplicação. 
 Erigir um único elemento de conexão como regra rígida de localização a ser 
aplicada a todos os tipos de contratos resulta num grave erro . A afirmação, feita 
por Von Hecke e citada por Luiz Olavo Baptista, ilustra com precisão que em 
matéria de contratos internacionais a determinação da lei aplicável, seja no que diz 
respeito aos aspectos extrínsecos ou formais seja no que tange aos aspectos 
intrínsecos ou de fundo, deve ser considerada em função das particularidades do 
caso. A posição de Olavo Baptista assemelha-se assim à tese defendida por 
Niboyet, que analisava os contratos numa classificação tipológica, propondo 
soluções que estivessem em consonância com o direito mais próximo ou mais 
compatível com a natureza do contrato. 
 Quanto à distinção entre os aspectos de fundo e de forma, João Grandino 
Rodas, ao analisar os elementos de conexão relativamente às obrigações 
contratuais, atenta para o fato de que a adoção do locus regit actum como 
elemento de conexão pertinente ao aspectos extrínsecos ou formais do ato guarda 
Apostila de Direito Internacional II 12 
 
algumas dubiedades. Uma delas seria a dificuldade de se estabelecer uma 
diferenciação entre forma e fundo, a outra consistiria no fato de que não foram 
também "...satisfatoriamente resolvidas as questões relativas a sua fundamentação 
e caráter". E é o próprio Professor Grandino Rodas quem cita Buzzati: 
 "Embora a uniformidade de opiniões em torno de tal ponto do Direito 
Internacional Privado seja mais aparente do que real; perdura todavia a confusão 
derivada de não se ter exatamente fixado o teor da regra; ainda hoje não há 
consenso ao se determinar o conceito de ato ou o de forma, sendo considerados 
elementos extrínsecos da validade de um negócio jurídico alguns que, ao contrário, 
são elementos substanciais, ou vice-versa; grandes diferenças são encontradas nos 
sistemas legislativos dos vários Estados, diferenças nos julgados, até em um 
mesmo país e em casos idênticos, alguns escritores pretendem que a regra locus 
regit actum seja sempre obrigatória, outros facultativa, alguns, que não possa ser 
aplicada aos atos solenes, outros, não, etc." 
 Como se observa, a delimitação de regras de conexão para os contratos 
internacionais e, em especial, a adoção da autonomia da vontade como elemento 
de conexão, esbarram em inúmeros obstáculos doutrinários, legislativos e 
jurisprudenciais. 
 
CONCLUSÃO 
 As discussões teóricas aqui apresentadas apenas revelam uma parcela 
mínima das inúmeras divergências doutrinárias que campeiam no tratamento 
destas questões. Desta forma, uma pesquisa mais exaustiva exige uma verdadeira 
promenade pelas várias teorias que trataram a autonomia da vontade no âmbito do 
direito substancial e do Direito Internacional Privado. É evidente que não se pode 
pretender fossem tais teorias aqui analisadas. Como ocorre todo trabalho de 
investigação fundado na pesquisa bibliográfica, os esforços analíticos primaram 
quase que exclusivamente por esforço de demonstração das principais teorias 
acerca da autonomia da vontade no Direito Internacional Privado, bem como do 
contexto histórico de desenvolvimento desse instituto jurídico. 
3 - ART. 8 DA LICC 
 
- Trata este artigo, no “caput” sobre a qualificação dos bens, tendo a competência territorial, pois 
aplica as leis do país onde estiverem situados. Aplicando-se desta forma, a todo território do 
Estado ( leges non valent ultra territorium). Exemplo: em relação aos imóveis, só aplicará as 
normas do local de sua situação. 
 
- No art. 8, §§ 1 e 2 LICC, aplica a lex domicilli. 
 
Os conflitos de leis no espaço relativos aos direitos reais regem pelo Principio da Territorialidade. 
 
Aplica a Lex rei sitae, quando: 
1. classificar bens em móveis, públicos ou particulares, divisíveis ou indivisíveis, consumíveis 
ou inconsumíveis, fungíveis ou infungíveis, determinado se estão ou não no comércio. 
2. reger a posse e seu efeitos, especificando a legitimidade ativa na proteção possessória; 
3. dispor sobre a aquisição e perda dos direitos reais 
4. traçar normas de usucapião 
5. restringir o direito de propriedade mobiliária ou imobiliária 
Profa. Juliana Ribeiro 13 
 
6. resolver questões de transferência de propriedade por meio de ato inter vivos 
7. estipular as ações cabíveis ao titular do direito real 
8. decidir os bens que podem ser objeto de direito real sobre coisa alheia 
9. disciplinar o direito real sobre coisa alheia de fruição e de garantia, re gulando a sua 
constituição, os seus efeitos e a sua extinção. 
 
Em caso de penhor, aplicará a Lex domicilli, quem tiver com a posse do bem empenhado, no 
momento da constituição da garantia real (art. 8 §2 da LICC). 
 
4 - Art. 9 da LICC 
 
Os efeitos da obrigação ex delicto, são decorrentes da prática de um ato ilícito. Ex. caso de 
indenização ao lesado, aplicando a lei do local, onde o ilícito se originou. 
 
As obrigações convencionais e as oriundas de atos unilaterais, reger-se-ão: 
1. quanto a forma:ad probationem tantum } lei do local onde originaram 
 ad solemnitatem 
2. quanto a capacidade: pela lei pessoal das partes (art. 7 da LICC- lex domicilli), exceto se for de 
ordem pública, pois a lex fori contraria a lei, à moral. 
 
Neste artigo não se aplica o Princípio da Autonomia da Vontade como elemento de conexão, para 
reger os contratos internacionais, no âmbito do direito internacional privado, sendo disciplinado 
pela lei local, com exceção a aplicação da lex loc i celebrationis (aplica a lei do país onde 
obrigação se constituir): 
- contratos trabalhistas assumidos pelas partes, estrangeiras ou não, no território nacional 
ou exterior, deverão obedecer à lei do local da execução do serviço ou do trabalho 
- contratos de transferência de tecnologia 
- atos relativos à economia dirigida ou aos Regimes de Bolsa de Mercados, que se 
subordinam à lei do país de sua execução. 
 
Art. 9 §1 LICC- trata da obrigação contraída no exterior, na qual atenderá a forma essencial 
requerida pela lei brasileira para ter validade o ato. Ex. um imóvel situado no Brasil foi vendido 
para um estrangeiro, deverão contrato ter escritura pública, para ter validade, aplicando a lei 
local para a sua validade e execução, neste caso é a lei brasileira, pois foi onde lavrou a 
escritura. Portanto aplicará a Locus Regit Actium a lei aplicável é a forma extrínseca do ato. 
 
Art. 9, §2 LICC- aplicará a lex domicilli do proponente, ou seja, o local onde reside o proponente, 
para cumprir a obrigação, não se importando com o local da celebração contratual 
Vide art. 435 Cód. Civil. 
 
5 - Art. 10 LICC 
 
Há 3 sistemas para solucionar os conflitos: 
1. sistema da unidade sucessória- só uma lei deve reger a transmissão causa mortis, 
determinando o herdeiro, ordem de vocação hereditária . Tendo competência o domicílio 
do de cujus (falecido), ou da nacionalidade. 
2. sistema da pluralidade sucessória- a cada bem singular deve ser aplicado a lex rei sitae. 
3. sistema misto- para os imóveis aplicará a lex rei sitae e os demais casos aplicará a lex 
domicilli do falecido. 
 
Esse artigo da Licc adotou o sistema da unidade sucessória. 
 
A comoriência será aplicado a lex domicilli do de cujus. Caso tenha diversos domicílios a lei 
pessoal de cada um regerá a sucessão, sendo que gerará conf litos. 
A morte presumida aplicará a lex domicilli do desaparecido. 
Apostila de Direito Internacional II 14 
 
 
Art. 10, §2 LICC- aplica-se a lei do domicílio do herdeiro ou legatário, pois visa a aptidão para 
exercer o direito de suceder e não na capacidade para ter direito de sucessor, aplica-se a lex 
domicilli do falecido (art. 10 “caput” da LICC). 
 
Profa. Juliana Ribeiro 15 
 
 
6 - Art. 12 LICC 
 
O estrangeiro, domiciliado ou não no Brasil, poderá ser autor ou réu, perante o tribunal brasileiro, 
com capacidade para estar em juízo, aplicará a lex domicilli, salvo ser for de ordem pública, 
aplicará a lex fori. 
O réu sendo brasileiro ou estrangeiro, domiciliado no Brasil, aplicará a competência da da 
autoridade judiciária brasileira. 
Já se dois réus e um for domiciliado no Brasil, aplicará o Princípio da Prevenção, que admite a 
competência do juiz que vier a tomar conhecimento da causa em primeiro lugar. O domicílio do 
réu é de competência brasileira. 
O mesmo se dará, quando o réu não está domiciliado no Brasil, mas a obrigação for cumprida no 
Brasil, será competente a Justiça brasileira para decidir a lide. 
 
Art. 12 §1 LICC- quando for relacionado as ações relativas ao imóvel situados no Brasil, aplicará a 
Lex rei sitae, ou seja o local do imóvel. 
 
Art. 12,§2 da LICC- O cumprimento de diligências deprecadas por autoridade competente será 
cumpridas por cartas rogatórias, ou seja, consiste em pedido feito pelo juiz de um país para outro, 
para solicitar a prática de atos processuais. 
Já as diligências realizadas sobre a massa falida, arresto seqüestro , transferência de bens ou de 
títulos, em razão da partilha, por terem caráter executória, não são objetos de cartas rogatórias. 
Quando ferir a ordem pública e os bons costumes, a lei local poderá impedir o cumprimento da 
carta rogatória (art. 17 LICC). 
 
 
7 - ART. 13 DA LICC- refere-se à prova do direito estrangeiro. 
 
A prova dos fatos jurídicos aplicará o local onde ocorreu, lex loci. E o modo de produção de 
provas em juízo será aplicada a lex fori. 
O ônus probandi também aplicará ao local onde ocorreu o fato. 
Os meios de prova aplicará pela lei local onde se deu o fato, ou onde o ato foi celebrado (lex loci 
actus). 
 
A apreciação da prova dependerá da lei do juiz, para obter seu livre convencimento. Para a 
autoridade judiciária não se submeter ao direito alienígena, baseará nas prescrições legais de seu 
país, verificando: 
- a licitude do ato ou contrato; 
- capacidade das pessoas que se obrigaram; 
- observar as formas extrínsecas ou solenidades requeridas pela lei do lugar a celebração do 
ato (lócus regit actum); 
- a autenticidade do documento que deverá estar traduzido no idioma usado no país da lex 
fori e legalizado pelo cônsul.

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