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Três ensaios sobre a teoria da sexualidade De acordo com Elia (1995, p. 43), Freud inicia os três ensaios abordando o “anormal” porque o patológico, o aberrante, seria a “via de acesso à verdade possível, confissão de verdade que, fora da aberração, permaneceria inconfessa, oculta sob as formas ordeiras da normalidade, que pela mesma lógica, é lugar do engano, da farsa”. Para Elia (1995, p.43-44): “O patológico, em Freud, é o próprio “normal” em outra configuração” Segundo Elia (1995, p.44) há um “caráter enganoso da uniformidade da configuração normal” “[...] o que define a pulsão é, entre outras coisas, o fato de que não há objeto que lhe seja adequado, como ocorre no instinto, que, este sim, traz consigo o objeto” (ELIA, 1995, p. 44) Três ensaios sobre a teoria da sexualidade: primeira publicação em 1905 com acréscimos feitos em 1915 e 1923 Três ensaios: abre caminho para as formulações sobre o Complexo de Édipo A criança é um pequeno perverso polimorfo: sexualidade fragmentada em pulsões parciais vagando entre objetos e objetivos perversos (GARCIA-ROZA, 1995) Primeiro ensaio: As aberrações sexuais Freud toma como ponto de partida um saber já existente que ele se propõe a perverter, subverter As teorias existentes assentavam-se na noção de instinto, que será substituída por Freud pelo conceito de pulsão Três ensaios: nos falam sobre pulsão sexual e não instinto Pulsão: desvio do instinto Antes de Freud: a sexualidade era tratada pela Biologia, que considera a função de reprodução da sexualidade (GARCIA-ROZA, 1995) Perversa era toda conduta sexual que não conduzisse à reprodução, já que colocaria em risco a preservação da espécie Porém, certas condutas consideradas perversas (no sentido pejorativo do termo) se tomássemos como referencial o instinto, deixariam de sê-lo se tomássemos o referencial psicanalítico Objeto da pulsão: é variado e torna-se impossível definir, apenas em função dele, o que seria perversão ou a caracterização de condutas desviantes Freud: demonstrou nos ensaios o quanto a noção de sexualidade supera os limites impostos pelas teorias (GARCIA-ROZA, 1995) Se o objeto é variável, o objetivo torna-se mais passível de estabelecimento dos desvios Objetivo sexual: a união dos órgãos genitais que conduz a um alívio da tensão sexual Perversões: atividades sexuais que se estendem, num sentido anatômico, além das regiões do corpo que se destinam à união sexual ou demoram-se nas carícias prévias, as quais passam a ser mais importantes que o objetivo sexual final Apesar de aparentemente parecer uma definição da biologia, para Freud nenhuma pessoa ‘sadia’ pode deixar de acrescentar algo de perverso ao objetivo sexual ‘normal’ Por isso a palavra perversão não deve ser usada como um termo de censura Grau de perversão permitido por cada pessoa depende da maior ou menor resistência oferecida pelas ‘forças psíquicas’ como a vergonha e a repugnância A censura é a responsável pela transformação desses impulsos em sintomas neuróticos No segundo dos Três ensaios: Freud aborda a sexualidade infantil Século XIX: a sexualidade se revelava através das formas de controle e vigilância exercidas sobre a criança (GACIA-ROZA, 1995) A sexualidade infantil não era colocada em discurso, mas já se fazia notar através de um conjunto de práticas sociais no sentido de evidenciar a ameaça que ela representava (GARCIA-ROZA, 1995) Para Freud: essas ameaças se fazia sentir pela negação pura e simples de uma sexualidade na infância e pela amnésia que incide sobre os primeiros anos da vida Ao recusarmos o reconhecimento dos nossos próprios impulsos sexuais infantis, estamos mantendo o interdito Esquecimento: uma das formas pelas quais se manifesta a recusa de nossa própria infância perversa Freud revoluciona o meio científico ao falar sobre sexualidade infantil e romper com o conceito de sexualidade que existia até então Primeiro Ensaio – As aberrações sexuais Pulsão sexual antes de Freud: estaria ausente na infância, somente se manifestaria na puberdade e seu objetivo seria a relação sexual ou pelos menos os atos que levassem nessa direção Para Freud: essa concepção de sexualidade está errada e imprecisa Objeto sexual: a pessoa de quem provém a atração sexual Alvo sexual: a ação para a qual a pulsão impele Há grande número de desvios em ambos, o objeto sexual e o alvo sexual Inversão: contraria o pressuposto de que o sexo oposto é o objeto sexual necessariamente Possibilidades de inversão: a) podem ser invertidos absolutos: objeto sexual só pode ser do mesmo sexo, enquanto que o sexo oposto causa frigidez ou aversão b) podem ser invertidos anfígenos (bissexuais): objeto sexual pode ser tanto do mesmo sexo quanto do sexo oposto – não há caráter de exclusividade c) podem ser invertidos ocasionais: em certas condições externas podem tomar como objeto sexual uma pessoa do mesmo sexo e encontrar satisfação no ato sexual com ela Alguns aceitam sua inversão como algo natural, outros rebelam-se contra o fato e sentem-na como uma compulsão patológica O traço de inversão pode vir de longa data ou só ter sido notado em outra época, antes ou depois da puberdade Esse caráter pode: Conservar-se por toda a vida; Ser temporariamente suspenso; Constituir um episódio no caminho para o desenvolvimento “normal”; Exteriorizar-se pela primeira vez em época posterior da vida, após um período de atividade sexual não invertida. A inversão pode ocorrer depois de uma experiência penosa com o objeto sexual do sexo oposto Todos os graus intermediários são abundantemente encontrados Caráter inato x degeneração Degeneração: Antes da Psicanálise: imputava-se à degeneração todos os tipos de manifestação psicológica que não fosse de origem traumática ou infecciosa (Magnan) Para Freud, pode-se pensar em degeneração apenas quando: 1. houver uma conjugação de muitos desvios graves em relação à norma; 2. a capacidade de funcionamento e de sobrevivência parecer em geral gravemente prejudicada. Vários fatores permitem ver que os invertidos não são degenerados nesse sentido da palavra: 1. Encontra-se a inversão em pessoas que não exibem nenhum outro desvio grave da norma; 2. Do mesmo modo, encontramos a inversão em pessoas onde não há prejuízo da eficiência e que inclusive se destacam por um desenvolvimento intelectual e uma cultura ética particularmente elevados 3. De acordo com a clínica e se procuramos abarcar um horizonte mais amplo, depararemos em duas direções com os fatos que impedem que se conceba a inversão como um sinal de degeneração: a) nos povos antigos, no auge de sua cultura, a inversão era um fenômeno frequente, quase que uma instituição dotada das mais importantes funções b) é extremamente difundida em muitos povos primitivos e também nos civilizados a inversão ocorre, enquanto que a degeneração restringe-se à civilização elevada Inato x adquirido Freud não se convence sobre as teorias que sustentavam que a inversão seria inata, bem como não se satisfez com as teorias que a diziam adquirida (p.132) Hermafroditismo somático/anatômico e a inversão ou hermafroditismo psíquico são independentes entre si Tampouco trata-se de determinar “centros” masculinos ou femininos no cérebro: “nem sequer sabemos se cabe presumir, para as funções sexuais, áreas cerebrais delimitadas (“centros”) como as que supomos, por exemplo, para a fala” (p.135) A teoria do hermafroditismo pressupõe que o objeto sexual dos invertidos seja o oposto do normal Entretanto: não se trata de uma característica universal da inversão Há invertidos masculinos que preservam um caráter viril, traz relativamente poucos caracteres secundários do sexo oposto e busca em seu objeto sexual traços psíquicos masculinos Nos gregos, os homens mais viris figuravam entre os invertidos A meta sexual dos invertidos não é uniforme Outras formas de relação sexual e a masturbação também ocorrem nos heterossexuais É preciso afrouxar o vínculo que supunha-se entre a pulsão e o objeto Casos de animais e pessoas sexualmente imaturas como objetos sexuais: atribuía-se à loucura essas aberrações graves Porém: “A experiência ensina que não se observam entre os loucos quaisquer perturbações da pulsão sexual diferentes das encontradas entre os sadios, bem como em raças e classes inteiras” (p.140) Loucos: podem exibir aberrações em grau intensificado ou elevam a uma prática exclusiva e substituem a satisfação sexual normal Porém: a relação entre as variações sexuais e a escala que vai da saúde à perturbação mental não é fácil O essencial e constante na pulsão não obedece a índole e o valor do objeto sexual Mesmo no processo sexual mais normal reconhecem-se os rudimentos que, se desenvolvido, levaria às aberrações descritas como perversões Certas relações intermediárias com o objeto sexual são reconhecidas como alvos sexuais preliminares Trazem prazer em si mesmas e por outro lado, intensificam a excitação até chegar ao alvo sexual definitivo Perversões: a) Transgressões anatômicas b) Demoras nas relações intermediárias com o objeto sexual Sexualidade é vivida em todo o corpo, não penas na sexualidade genital Exemplos: Uso sexual da mucosa dos lábios e da boca: Os limites do sentimento de asco pode ser puramente convencional O asco pode ser vencido pela libido Uso do orifício anal; Significações de outras partes do corpo: A propagação do interesse sexual para outras partes do corpo, com todas as suas variações em princípio nada nos oferece de novo; nada acrescenta ao conhecimento da pulsão sexual, que nisso não faz senão proclamar sua intenção de se apoderar do objeto sexual em todos os sentidos (p.144) Fetichismo: Casos em que o objeto sexual normal é substituído por outro que guarda certa relação com ele, mas que é totalmente impróprio para servir como alvo sexual normal O substituto do objeto sexual geralmente é uma parte do corpo (pés, cabelos) ou então um objeto inanimado que mantém uma relação com a pessoa a quem se substitui A transição para os casos de fetichismo com renúncia ao alvo sexual constitui-se dos casos em que se exige do objeto sexual uma condição fetichista para que o alvo sexual seja alcançado Ponto de ligação com o “normal”: proporcionado pela supervalorização psicologicamente necessária ao objeto sexual, que se propaga inevitavelmente por tudo o que está associativamente ligado ao objeto Certo grau de fetichismo costuma ser próprio do amor normal, sobretudo nos estágios de enamoramento em que o alvo sexual normal é inatingível ou sua satisfação parece impedida (p.145-146) Casos patológicos: quando o anseio pelo fetiche se fixa e se coloca no lugar do alvo sexual normal e ainda quando o fetiche se desprende de determinada pessoa e se torna o único objeto sexual Escolha do fetiche pode estar ligada à influência persistente de uma impressão sexual recebida na infância ou com a persistência do primeiro amor Em outros casos, o que leva à substituição do objeto pelo fetiche é uma conexão simbólica de pensamentos que, na maioria das vezes, não é consciente para a pessoa O tocar e o olhar: Ambos são indispensáveis para o atingimento do alvo sexual O prazer em ver (escopofilia) transforma-se em perversão quando: Se restringe exclusivamente à genitália Quando se liga à superação do asco ( o voyer espectador das funções excretórias) Quando substitui o alvo sexual normal, ao invés de ser preparatório a ele (exibicionismo) A força que se opõe ao prazer de ver, mas pode ser superada por ele é a vergonha Sadismo e masoquismo: Configurações: ativa e passiva Sadismo: presente nas pessoas ‘normais’ Sexualidade exibe uma mescla de agressão, inclinação em subjugar, cuja importância pode residir na necessidade de vencer a resistência do objeto sexual de outra maneira que não pelo ato de cortejar Sadismo: componente agressivo e exagerado da pulsão sexual Perversão: quando a satisfação está exclusivamente condicionada pela sujeição e maus-tratos infligidos ao objeto sexual Masoquismo: atitudes passivas perante a vida sexual e o objeto sexual, a mais extrema quando a satisfação está condicionada ao padecimento e dor física advinda do objeto sexual Nessa época, Freud entendia que o masoquismo era posterior ao sadismo que se volta para a própria pessoa Sadismo e masoquismo: ocupam entre as perversões um lugar especial, já que o contraste entre atividade e passividade pertence às características universais da vida sexual Particularidade da perversão: suas formas passiva e ativa podem se encontrar juntas na mesma pessoa O sádico é sempre e ao mesmo tempo um masoquista, ainda que o aspecto ativo ou passivo prevaleça Algumas das inclinações à perversão apresentam-se regularmente como pares de opostos A existência do par de opostos sadismo-masoquismo não é dedutível, em termos imediatistas, da mescla de agressão Considerações gerais sobre as perversões: Em nenhuma pessoa sadia falta algum acréscimo ao alvo sexual normal que se possa chamar de perverso e essa universalidade basta, por si só, para mostrar o quão imprópria é a utilização reprobatória da palavra perversão (p.152) No campo da vida sexual é onde tropeçamos com dificuldades peculiares e insolúveis quando se quer traçar uma fronteira nítida entre o normal e o patológico Algumas das perversões afastam-se tanto do normal que não podemos deixar de declará-las ‘patológicas’ Porém, nem mesmo nesses casos pode-se afirmar uma doença mental A pessoa pode apresentar uma conduta ‘normal’ em outros aspectos da vida, mas a anormalidade em outras relações da vida costuma mostrar invariavelmente um fundo de conduta sexual anormal Quando há nas perversões as características de exclusividade e fixação, então nos vemos autorizados, na maioria das vezes, a julgá-la como um sintoma patológico Justamente nas perversões mais degradantes é que devamos reconhecer a mais abundante participação psíquica na transformação da pulsão sexual Obra do trabalho anímico (psíquico) Pulsão sexual luta contra certas forças psíquicas que funcionam como resistências – asco e vergonha Essas forças contribuem para circunscrever a pulsão dentro dos limites considerados normais e que caso se desenvolvam precocemente no indivíduo, antes que a plenitude sexual alcance a plenitude de sua força, serão elas que apontarão o rumo de sua constituição A sexualidade não é uniforme: a pulsão sexual não é uma coisa simples e reúne componentes que separam-se nas perversões Causa das neuroses: baseiam-se nas forças pulsionais de cunho sexual Os sintomas são a atividade sexual dos doentes Sintomas são um substituto de uma série de desejos e aspirações investidos de afetos os quais, mediante o recalque, nega-se a descarga através de uma atividade psíquica passível de consciência As formações de pensamento que tornaram-se inconscientes aspiram a expressão ou uma descarga, no caso da histeria, através da conversão em fenômenos somáticos Na histeria: haveria um recalcamento sexual que ultrapassa a medida normal; uma intensificação da resistência à pulsão sexual (vergonha, asco e moralidade) e fuga a qualquer ocupação do intelecto com o problema do sexo – ignorância sexual Par de opostos: necessidade sexual desmedida e uma excessiva renúncia ao sexual – só a análise poderia desvendar e solucionar essa enigmática contradição da histeria Sintoma: não soluciona o conflito, mas procura escapar a ele pela transformação das aspirações libidinosas em sintomas Neurose a perversão: Os sintomas neuróticos se formam às custas da sexualidade normal; a neurose é, por assim dizer, o negativo da perversão. (p.157) A pulsão sexual dos neuróticos permite discernir as aberrações como variações da vida sexual normal e como manifestações patológicas a) Na vida psíquica de todos os neuróticos encontramos traços de inversão, de fixação da libido em pessoas do mesmo sexo b) Nas manifestações do inconsciente dos neuróticos é possível demonstrar, como formadoras de sintoma, todas as tendências à transgressão anatômica c) Presença dos pares de opostos (ativo e passivo) No inconsciente: uma pulsão é passível de ser pareada com seu oposto Ex. quem é exibicionista no inconsciente é também, ao mesmo tempo, voyer Nas neuroses é raro encontrar desenvolvida apenas uma das pulsões perversas – encontramos grande número delas Pulsão: um dos conceitos da delimitação entre o somático e o psíquico, é considerada como uma medida da exigência de trabalho feita ao psiquismo Pulsão: processo excitatório em um órgão ou zona erógena e seu alvo consiste na supressão desse estímulo Zonas erógenas: funcionam como parte do aparelho sexual (olho, pele, etc) Neurose x perversão Na maioria dos neuróticos a doença só aparece depois da puberdade e é contra a vida sexual que se orienta o recalque A doença também pode se instaurar tardiamente, quando a libido fica privada de satisfação pelas vias normais Em ambos os casos a libido se comporta como um a corrente cujo leito principal foi bloqueado, inundando as vias colaterais que até ali talvez tivessem permanecido vazias Alinhar fatores internos (recalque) com fatores externos para se pensar no aparecimento da neurose A neurose sempre produz seus efeitos máximos quando a constituição e a vivência cooperam no mesmo sentido Freud cita Moebius: “todos somos um pouco histéricos” (p.162) A predisposição às perversões não é uma particularidade rara, mas deve, antes, fazer parte da constituição que passa por normal Presença do infantil na sexualidade: os ‘germes’ das perversões encontram-se na infância “Vislumbramos assim a fórmula de que os neuróticos preservam o estado infantil de sua sexualidade ou foram retransportados para ele” (p.162) Por isso o interesse na vida sexual da criança, a fim de estudar o jogo de influências que domina a constituição da sexualidade infantil até seu desfecho na perversão, na neurose ou na vida sexual normal (p.162) II SEXUALIDADE INFANTIL Freud propõe dar mais ênfase aos estudos à ‘pré-história’ da sujeito ao invés da ‘pré-história’ dos antepassados Manifestações da sexualidade na infância: citadas apenas em casos excepcionais, curiosidades ou como exemplos de ‘depravação’ precoce Amnésia infantil: amnésia semelhante a que encontramos nos neuróticos - efeito do recalcamento Ponto de comparação entre a sexualidade dos neuróticos e a da criança: a sexualidade dos neuróticos preserva o estado infantil ou é reconduzida a ele Amnésia histérica: certos traços mnêmicos que deixaram de estar conscientes Infância: origem de certos fenômenos importantes que dependem da vida sexual O período de latência sexual da infância e suas rupturas Recém nascido traria consigo germes de pulsões sexuais que se desenvolveriam por um tempo para depois sofrerem uma supressão progressiva Essa supressão pode ser rompida ou suspensa por um período: latência Durante o período de latência surgem as forças que surgirão como entraves no caminho da pulsão sexual: asco, sentimento de vergonha, exigências de ideais estéticos e morais Pode ser efeito da educação, mas para Freud ocorreriam mesmo sem sua ajuda Formação reativa e sublimação: Sublimação: desvio da pulsão sexual para outros fins (realizações culturais) Seu início poderia ser situado no período de latência Pulsões sexuais nesse período: seriam por um lado inutilizáveis, já que estão diferidas as funções reprodutoras por outro lado, seriam perversas em si e poderiam causar sensações desprazerosas Elas despertam forças psíquicas contrárias (formação reativa) que para supressão desse desprazer, erigem os diques psíquicos como asco, vergonha e moral Rupturas do período de latência: vez por outra irrompe um fragmento de manifestação sexual que se furtou à sublimação ou preserva-se alguma atividade sexual ao longo desse período até a irrupção acentuada na puberdade Problema para os educadores, esclarecimentos sobre a configuração originária da sexualidade para Freud Manifestações da sexualidade infantil: O CHUCHAR Já aparece no lactente e pode continuar até a maturidade: consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca, do qual está excluído qualquer propósito de nutrição Sugar com deleite Auto erotismo A pulsão não está dirigida a outra pessoa: satisfaz-se no próprio corpo O ato do chuchar é determinado pela busca de um prazer já vivenciado (mamar no seio materno) e agora relembrado Satisfação é encontrada pela sucção rítmica de alguma parte da pele ou mucosa Os lábios da criança comparam-se a uma zona erógena associada à necessidade de alimento A atividade sexual se apoiaria primeiramente numa das funções de preservação da vida e só depois se tornaria independente dela Auto erotismo: a criança passa a não depender do mundo externo, que ela ainda não pode dominar Fixação nessa zona erógena: repetição do prazer ou formação reativa O alvo da sexualidade infantil: Características das zonas erógenas Zona erógena: parte da pele ou da mucosa em que certos tipos de estimulação provocam uma sensação prazerosa de determinada qualidade Pode ligar-se de forma mais marcante a determinadas partes do corpo Produção da sensação de prazer: faz uma zona tornar-se a preferida O alvo sexual infantil consiste em provocar a satisfação mediante a estimulação apropriada da zona erógena escolhida Estimulação na zona erógena visa abolir a tensão (caráter de desprazer), provocando a satisfação Analogia do prazer da sucção à masturbação Atividade da zona anal: Zona anal: apta a mediar um apoio da sexualidade em outras funções corporais Estimulabilidade da zona anal: acumulação, retenção, estimulação intensa – sensações prazerosas ao lado de dolorosas Fezes: “presente” – a criança pode exprimir sua docilidade ou recusá-lo Retenção: pode ser praticada para tirar proveito da estimulação da zona anal (constipação intestinal) Atividade da zona genital Assim como a zona oral e a anal, a zona genital é propícia para sensações prazerosas Masturbação infantil: pode ocorrer como segunda fase antes dos 4 anos A pulsão dessa zona erógena desperta e dura por algum tempo, até ser detida pelo período de latência ou prosseguir ininterruptamente Circunstâncias: variadas e só possível de análise nos casos individuais Neurose: esse período sexual foi esquecido e as lembranças conscientes foram deslocadas (amnésia infantil) O aparelho urinário pode funcionar como tutor do aparelho sexual ainda não desenvolvido (enurese noturna) Influência da sedução, mas também pode surgir de causas internas Pulsões parciais: Além do auto erotismo, a criança também exibe componentes que envolvem outras pessoas como objetos sexuais Pulsões de olhar e exibir, crueldade – aparecem com certa independência das zonas erógenas e só mais tarde entram em relações com a vida genital As inclinações de olhar e se exibir, com o recalcamento podem ser reativamente expressas através dos sintomas Crueldade: natural do caráter infantil – a capacidade de compadecer-se é relativamente tardio Relação entre crueldade e pulsão sexual A investigação sexual infantil A pulsão de saber: é atraída ou até despertada pelos problemas sexuais Enigma: “De onde vem os bebês’? Teorias sexuais infantis: suposição de uma genitália idêntica em todos os seres humanos Nascimento dos bebês: não reconhecimento da saída pela vagina Concepção sádica da relação sexual: ato sexual como subjugação Problema de saber em que consiste a relação sexual - em que consiste ser casado? O fracasso típico da investigação sexual infantil: as crianças percebem as alterações provocadas pela gravidez Fábula da cegonha: desconfiança profunda, embora que silenciosa Fases da organização sexual Organizações pré-genitais: organizações da vida sexual em que as zonas genitais ainda não assumiram papel predominante Organização oral: Atividade sexual vinculada à nutrição Consiste na incorporação do objeto Chuchar – auto erotismo Organização sádico-anal Divisão de opostos passivo-ativo Nessa fase já é possível demonstrar a polaridade sexual e o objeto alheio (externo) Já na infância se efetua uma escolha objetal, ou seja, as aspirações sexuais orientam-se para uma única pessoa – aproximação possível da forma definitiva a ser assumida na puberdade Diferença: na infância não há concentração das pulsões parciais e sua subordinação ao primado genital Primeiro tempo da escolha objetal: entre os dois e cinco anos Segundo tempo: puberdade Resultados da escolha infantil: prolongam-se para épocas posteriores, se conservam como tal ou passam por uma renovação na puberdade Escolha de objeto na puberdade: deve renunciar aos objetos infantis e recomeçar como corrente sensual As fontes da sexualidade infantil Excitações mecânicas – balanço, movimento Atividade muscular – brigas, contato com a pele Processos afetivos – propagam-se para a sexualidade Tensão diante de uma tarefa difícil de solucionar podem ser importantes para a irrupção de manifestações sexuais – pode surgir uma sensação estimuladora O efeito sexualmente excitante de muitos afetos desprazerosos, como angústia, medo ou horror pode conservar-se por longo período na vida Trabalho intelectual: concentração da atenção numa tarefa intelectual ou esforço intelectual pode produzir uma excitação sexual concomitante Essas fontes influenciam todos os indivíduos, mas não em todas as pessoas com a mesma intensidade Diversas constituições sexuais A vias de ligação que levam à sexualidade devem também ser percorríveis na direção inversa Sintomas neuróticos: expressa-se em perturbações de outras funções não sexuais do corpo, porém, são apenas contrapartidas das influências sob as quais se dá a produção da pulsão sexual Além dos sintomas, é possível que as forças pulsionais atinjam alvos não sexuais, como no caso da sublimação Referência: ELIA, L. Corpo e sexualidade em Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Uapê, 1995. FREUD, S. Três ensaios sobre a teoria da sexualidade infantil, (1905). In Edição Standard das obras psicológicas completas. Rio de Janeiro: RJ, Imago, 1980, v. VII GARICA-ROZA, L.A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
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