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2 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS CONTEÚDO TÉCNICO DA LINHA-GUIA DE HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA, DIABETES MELLITUS E DOENÇA RENAL CRÔNICA (NO PRELO) 3ª Edição SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Belo Horizonte, 2013 3 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS AUTORES Adriana Lúcia Meireles Ailton Cezário Alves Júnior Arise Garcia de Siqueira Galil Carla Márcia Moreira Lanna Fernanda Santos Pereira Fernando Barros Reis Gustavo de Araújo Porto Landsberg Leandro Dias de Godoy Maia Leonardo Pinho Ribeiro Lidiane Gonçalves dos Santos Liziane Silva Luiza Lisboa Maria Luiza Mendonça Pereira Jorge Márcia Braz Rossetti Marcus Gomes Bastos Mônica Barros Costa Paulo Leão Andrade Ricardo Alexandre de Souza Rodrigo Pastor Alves Pereira Rogério Baumgratz de Paula 4 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS COLABORADORES Ailton Cezário Alves Júnior Eugênio Vilaça Mendes Fernanda Santos Pereira Flávia Gomes de Carvalho Lidiane Gonçalves dos Santos Luiza Lisboa Jordana Costa Lima Josiane Batista da Silva Luciana Alves Marco Antônio Bragança Matos Marcus Gomes Bastos Maria Emi Shimazak Maria Luiza Mendonça Pereira Jorge Paulo Leão Andrade Robespierre Queiroz da Costa Ribeiro Ruth Borges Dias Thaís Abreu Maia REVISORES Ailton Cezário Alves Júnior Fabrício Henrique Simões Santos Fernanda Santos Pereira Lidiane Gonçalves dos Santos 5 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Luiza Lisboa Marcus Gomes Bastos Maria Luiza Mendonça Pereira Jorge Paulo Leão Andrade Rodrigo Pastor Alves Pereira Vanessa Malheiros Dodd Garcia Ilustrador Rafael Sete (Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) 6 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS SUMÁRIO APRESENTAÇÃO...........................................................................................................................20 INTRODUÇÃO..............................................................................................................................21 SEÇÃO 1: HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA ........................................................................... 23 1.1. Conceito e epidemiologia ..................................................................................................... 23 1.2. Fatores de risco para a hipertensão arterial sistêmica ........................................................ 23 1.2.1. Genéticos ....................................................................................................................... 23 1.2.2. Idade .............................................................................................................................. 24 1.2.3. Gênero e etnia ............................................................................................................... 24 1.2.4. Sobrepeso e obesidade ................................................................................................. 24 1.2.5. Ingestão de sal ............................................................................................................... 25 1.2.6. Uso excessivo de álcool ................................................................................................. 26 1.2.7. Sedentarismo ................................................................................................................ 26 1.2.8. Fatores socioeconômicos .............................................................................................. 26 1.3 Rastreamento, diagnóstico e classificação ............................................................................ 26 1.3.1. Rastreamento ................................................................................................................ 26 1.3.2. Diagnóstico .................................................................................................................... 30 1.4. Avaliação clínica inicial e estratificação de risco cardiovascular .......................................... 37 1.4.1. Avaliação clinica inicial .................................................................................................. 37 1.4.2. Estratificação de risco cardiovascular ........................................................................... 41 1.5. Tratamento não-medicamentoso, abordagem multiprofissional e prevenção primária .... 48 1.5.1. Tratamento não-medicamentoso ................................................................................. 48 1.5.2. Abordagem multiprofissional ........................................................................................ 53 1.5.3. Prevenção Primária ....................................................................................................... 54 1.6. Tratamento Medicamentoso (níveis 3, 4 e 5 de intervenção) ............................................. 54 1.6.1. A abordagem terapêutica do hipertenso ...................................................................... 55 1.6.2. Tratamento da hipertensão em situações especiais ..................................................... 63 1.7. Hipertensão arterial secundária ........................................................................................... 68 1.8. Urgências e emergências hipertensivas ............................................................................... 72 Quadro 29. Classificação das crises hipertensivas ...................................................................... 73 1.8.1. Abordagem clínica ......................................................................................................... 73 1.8.2. Princípios gerais para o tratamento .............................................................................. 74 1.9. Complicações crônicas da hipertensão arterial sistêmica (lesões em órgãos-alvo) ............ 76 1.9.1. Hipertrofia ventricular esquerda ................................................................................... 76 7 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.9.2. Doença arterial coronariana ......................................................................................... 78 1.9.3. Insuficiência cardíaca .................................................................................................... 78 1.9.4. Doença vascular periférica ............................................................................................ 80 1.9.5. Nefropatia hipertensiva ................................................................................................ 84 1.9.6. Ataque isquêmico transitório e acidente vascular cerebral ......................................... 86 1.9.7. Retinopatia hipertensiva ............................................................................................... 89 SEÇÃO 2: DIABETES MELLITUS .................................................................................................... 98 2.1. Conceito e epidemiologia ..................................................................................................... 98 2.2 Classificação .......................................................................................................................... 99 2.2.1. Diabetes mellitus tipo 1 .............................................................................................. 100 2.2.2. Diabetes mellitus tipo 2 .............................................................................................. 100 2.2.3 Diabetes gestacional .................................................................................................... 101 2.3 Fatores de risco e prevenção .............................................................................................. 101 2.3.1 Fatores de risco ............................................................................................................101 2.3.2 Prevenção ..................................................................................................................... 102 2.4 Rastreamento e diagnóstico ............................................................................................... 103 2.4.1 Rastreamento ............................................................................................................... 103 2.4.2 Diagnóstico ................................................................................................................... 108 2.5 Avaliação clínica inicial ........................................................................................................ 110 2.5.1 História Clínica .............................................................................................................. 111 2.5.2 Exame físico .................................................................................................................. 111 2.5.3 Avaliação laboratorial .................................................................................................. 112 2.6 Rastreamento e acompanhamento de lesões de órgãos alvo ............................................ 113 2.6.1 Complicações macrovasculares ................................................................................... 114 2.6.2 Complicações microvasculares .................................................................................... 119 2.6.3. Neuropatia diabética ................................................................................................... 124 2.6.4 Pé diabético .................................................................................................................. 129 2.7 Tratamento .......................................................................................................................... 136 2.7.1. Tratamento não-medicamentoso ............................................................................... 136 2.7.2 Tratamento medicamentoso ........................................................................................ 146 2.8 Complicações agudas .......................................................................................................... 169 2.8.1. Crises hiperglicêmicas ................................................................................................. 169 SEÇÃO 3: DOENÇA RENAL CRÔNICA.......................................................................................... 178 8 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 3.1. Definição e epidemiologia .................................................................................................. 178 3.2. Prevenção da doença renal crônica nos usuários hipertensos e diabéticos ...................... 178 3.3. Diagnóstico da doença renal crônica ................................................................................. 179 3.4. Estadiamento da doença renal crônica .............................................................................. 181 3.5. Encaminhamento da doença renal crônica para acompanhamento nefrológico conjunto ................................................................................................................................................... 183 SEÇÃO 4: A ORGANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA ............................................................................ 192 4.1. Atenção primária à saúde .................................................................................................. 192 4.1.1. Competências da atenção primária à saúde ............................................................... 192 4.1.2 A atenção programada na atenção primária à saúde .................................................. 198 4.2 Atenção secundária à saúde ............................................................................................... 203 4.2.1. Parâmetros de assistência na atenção secundária à saúde ........................................ 204 4.2.2. Critérios de encaminhamento de hipertensos, diabéticos e usuários com doença renal crônica para atendimento especializado na rede da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais .................................................................................................................................... 207 4.3. O Sistema de informação gerencial ................................................................................... 208 4.3.1. O Pacto pela Saúde ..................................................................................................... 208 4.3.2. Os sistemas de informação em saúde relacionados ao controle da hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus ................................................................................................ 209 9 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Lista de acrônimos e siglas aa - Artérias ACC - Antagonistas dos canais de cálcio ADA - American Diabetes Association AIT - Acidente isquêmico transitório Alb - Albumina AMPA - Auto- medida da pressão arterial APS - Atenção primária à saúde ASS - Atenção secundária à saúde AVC - Acidente vascular cerebral B3 - Terceira bulha BRA - Bloqueadores dos receptores de angiotensina CA - Circunferência abdominal CAD - Cetoacidoce diabética CG - Cockcroft e Gault CH - Crises hipertensivas CHDM - Centro Hiperdia Minas CHO - Carboidrato CKD-EPI - Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration COX-1 - Inibidores da ciclooxigenase 1 COX-2 - inibidores da ciclooxigenase 2. CPK - Creatinofosfoquinase Cr – Creatinina DAC - Doença arterial coronariana DAOMI - Doença arterial obstrutiva de membro inferior 10 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS DASH - Dietary Approaches to Stop Hypertension DCV - Doença cardiovascular DIMED - Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Medicamentos DM - Diabetes mellitus DM1 - Diabetes mellitus tipo 1 DM2 - Diabetes mellitus tipo 2 DRC - Doença renal crônica DVP - Doença vascular periférica EAS - Elementos anormais e sedimento ECA - Enzima conversora da angiotensina ECG - Eletrocardiograma EH - Emergências hipertensivas EHH - Estado hiperglicêmico hiperosmolar EUA - Estados Unidos da América FGe - Filtração glomerular GGT - Gama glutamil transpeptidase GIP - Gastric inibitory polypeptide GLP-1 - Glucagon-like peptide-1 GME - Glicemia média estimada HAR - Hipertensão arterial resistente HAS - Hipertensão arterial sistêmica HAS-M - Hipertensão arterial sistêmica mascarada HAS-AB - Hipertensão arterial sistêmica do avental branco HAS-S - Hipertensão arterial sistêmica secundária HbA1c - Hemoglobina glicada (Glycated haemoglobin) HDL - Colesterol (High density lipoprotein) HVE - Hipertrofia ventricular esquerda 11 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS IAM - Infarto agudo do miocárdio IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IC - Insuficiência cardíaca ICC - Insuficiência cardíaca congestiva ICFEP - Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada IECA - Inibidores da enzima de conversão da angiotensina IM - Intramuscular IMC - Índice de massa corporal ITB - Índice tornozelo braço IV - Intravenosa KDIGO - Kidney Disease Improving Global Outcomes Hb - Hemoglobina LDL - Colesterol (Low density lipoprotein) LSD - Dietilamida ácido lisérgico (Lyserg Säure Diethylamid) MACC - Modelo de Atenção às Condições Crônicas MAPA - Monitorização ambulatorial da pressão arterial MDRD - Modification of Diet in Renal Diseases MDI - Múltiplas doses diárias MMII - Membros inferiores MMSS - Membros superiores MODY - Maturity onset diabetes of the young. MRPA - Monitorização residencial da pressão arterial NaCl - Cloreto de sódio NCEP - National Cholesterol Education Program NCEP - ATP III - National Cholesterol Education ProgramAdult Treatment Panel III NGSP - National Glycohemoglobin Standardization Program NPH - Neutral Protamine de Hagedorn 12 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS OMS - Organização Mundial de Saúde PA - Pressão arterial PAD - Pressão arterial diastólica PAM - Pressão arterial média PAS - Pressão arterial sistólica PSP - Perda da sensibilidade protetora PTH - Paratormônio RCV - Risco cardiovascular RENAME- Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes SC - Subcutânea SES/MG - Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais SIAB - Sistema de Informação da Atenção Básica SIGAF - Sistema Integrado de Gerenciamento de Assistência Farmacêutica SIS-HIPERDIA - Sistema de Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus da Atenção Básica. SM - Síndrome metabólica SRAA - Sistema renina angiotensina aldosterona SUS - Sistema Único de Saúde T4 - Tetraiodotiroxina TFG - Taxa de filtração glomerular TG - Triglicérides TGO - Transaminase glutâmico oxalacética TGP - Transaminase glutâmico pirúvica TOTG - Teste oral de tolerância à glicose TRS - Terapia renal substitutiva TSH - Hormônio tireoestimulante 13 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS UA/UC - Relação albumina/creatinina em amostra isolada de urina. UBS - Unidade básica de saúde UH - Urgências hipertensivas UI - Unidade internacional USG - Ultrassonografia VET - Valor energético total VIGITEL - Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico 14 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Lista de FIGURAS, FLUXOGRAMAS, GRÁFICO, TABELAS e QUADROS Figuras Figura 1. Modelo de Atenção às Condições Crônicas ................................................................. 21 Figura 2. Medida da circunferência abdominal .......................................................................... 25 Figura 3. Medidas para o índice tornozelo-braço ....................................................................... 83 Figura 4. Acantose nigricans ...................................................................................................... 102 Figura 5. Uso do monofilamento de 10 g .................................................................................. 126 Figura 6. Pirâmide alimentar ..................................................................................................... 137 Figura 7: Algoritmo terapêutico para o manejo do DM2 segundo as fases de evolução da doença ....................................................................................................................................... 154 Figura 8: Perfil de ação das preparações insulínicas ................................................................. 156 Figura 9: Insulinização oportuna no diabetes mellitus tipo 2 ................................................... 157 Figura 10: Áreas de aplicação de insulina. ................................................................................ 163 Figura 11: Técnica de aplicação insulina etapa 1 ...................................................................... 165 Figura 12: Técnica de aplicação insulina etapa 2 ...................................................................... 165 Figura 13: Técnica de aplicação insulina etapa 3 ...................................................................... 166 15 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Fluxogramas Fluxograma 1a. Abordagem terapêutica inicial do indivíduo com hipertensão arterial estágio 62 Fluxograma 1b. Abordagem terapêutica medicamentosa inicial do indivíduo com hipertensão arterial nos estágios 2 e 3 ........................................................................................................... 63 Fluxograma 2. Abordagem do hipertenso com hipertrofia ventricular esquerda, em nível da atenção primária à saúde, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais ............ 77 Fluxograma 3. Rastreamento para diabetes mellitus em gestantes com fatores de risco para diabetes gestacional .................................................................................................................. 106 Fluxograma 4. Rastreamento para diabetes mellitus em gestantes sem fatores de risco para diabetes gestacional .................................................................................................................. 107 Fluxograma 5. Diagnóstico de diabetes na ausência de glicemia casual igual ou superior a 200 mg/dL, acompanhada de sintomas clássicos ............................................................................ 109 Fluxograma 6. Diagnóstico de nefropatia diabética ................................................................. 123 Fluxograma 7 - Insulinização ao deitar ...................................................................................... 158 Fluxograma 8. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na taxa de filtração glomerular. ................................................................................................................................ 188 Fluxograma 9. Rastreio e diagnóstico da doença renal crônica baseado na lesão do parênquima renal .......................................................................................................................................... 189 Gráfico Gráfico 1. Gráfico de desenvolvimento para cálculo do percentil de altura..............................29 Tabelas Tabela 1. Nomograma para estimativa da taxa de filtração glomerular em mulheres baseado na Equação CKD-EPI ....................................................................................................................... 186 Tabela 2. Nomograma para estimativa da taxa filtração glomerular para homens baseado na Equação CKD-EPI ....................................................................................................................... 187 16 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadros Quadro 1. Fontes alimentares de maior teor de sódio ............................................................... 25 Quadro 2. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão arterial para meninas de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura ........................ 27 Quadro 3. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão arterial para meninos de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura ........................ 28 Quadro 4. Condições nas quais crianças menores de 3 anos de idade devem ter a medida da pressão arterial aferida ............................................................................................................... 30 Quadro 5. Procedimentos recomendados para a medida da pressão arterial ........................... 31 Quadro 6. Dimensões da bolsa de borracha para diferentes circunferências de braço em crianças e adultos ........................................................................................................................ 32 Quadro 7. Características comparativas do efeito do avental branco, hipertensão do avental branco, hipertensão mascarada e outras condições .................................................................. 33 Quadro 8. Outros métodos diagnósticos e de acompanhamento para a hipertensão arterial sistêmica ...................................................................................................................................... 35 Quadro 9. Classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no consultório em maiores de 18 anos ..................................................................................................................... 36 Quadro 10. Classificação da pressãoarterial para crianças e adolescentes e sugestões de conduta, segundo a sua classificação .......................................................................................... 36 Quadro 11. Evidências de lesões em órgãos-alvo em hipertensos ............................................. 38 Quadro 12. Dados de história clínica e comentários relevantes na avaliação de hipertensos ... 39 Quadro 13. Dados de exame físico e comentários relevantes na avaliação de hipertensos ...... 40 Quadro 14. Avaliação complementar inicial básica do hipertenso recomendada pela SES/MG e comentários relevantes ............................................................................................................... 41 Quadro 15. Estratos e critério para a estratificação da hipertensão arterial sistêmica, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais ......................................................................... 43 Quadro 16. Escore de Framingham revisado para homens ........................................................ 44 Quadro 17. Estimativa de risco cardiovascular para homens ..................................................... 45 Quadro 18. Escore de Framingham revisado para mulheres ...................................................... 46 Quadro 19. Estimativa de risco cardiovascular para mulheres ................................................... 47 17 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 20. Classificação de risco global, segundo escore de risco de Framingham revisado, com prevalências estimadas para Minas Gerais ......................................................................... 48 Quadro 21. Como recomendar uma dieta ao estilo DASH .......................................................... 50 Quadro 22. Características das principais bebidas alcoólicas e teor de etanol por quantidade definida ....................................................................................................................................... 53 Quadro 23. Ações da equipe multiprofissional ........................................................................... 54 Quadro 24. Detalhes práticos das classes de anti-hipertensivos usados no tratamento da hipertensão arterial sistêmica ..................................................................................................... 55 Quadro 25b. Disponibilidade dos medicamentos anti-hipertensivos, citados nesta Linha-guia, na lista da Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais e do Programa Farmácia de Minas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais .................................................................... 60 Quadro 26. Dados clínicos sugestivos de hipertensão arterial secundária ................................ 69 Quadro 27. Achados de história e de exame clínico sugestivos de causas específicas de hipertensão arterial sistêmica secundária e estratégias diagnósticas ........................................ 69 Quadro 28. Principais classes de fármacos e drogas lícitas ou ilícitas indutoras de hipertensão arterial sistêmica secundária ...................................................................................................... 71 Quadro 29. Classificação das crises hipertensivas ...................................................................... 73 Quadro 30. Abordagem das urgências hipertensivas ................................................................. 75 Quadro 31. Medicações disponíveis no Brasil para uso oral em urgências hipertensivas ......... 75 Quadro 32. Estágios da insuficiência cardíaca crônica do adulto ............................................... 79 Quadro 33. Versão em português do questionário de claudicação de Edimburgo .................... 81 Quadro 34. Índice tornozelo-braço ............................................................................................. 83 Quadro 35. Abordagem terapêutica de usuários com doença vascular periférica .................... 84 Quadro 36. Características dos subtipos de acidente vascular cerebral .................................... 88 Quadro 37. Estadiamento da retinopatia hipertensiva .............................................................. 90 Quadro 38. Classificação do diabetes mellitus............................................................................ 99 Quadro 39. Fatores de risco para diabetes mellitus tipo 2 ....................................................... 101 Quadro 40. Fatores de risco para diabetes gestacional ............................................................ 105 Quadro 41. Critérios diagnósticos para diabetes gestacional segundo International Association of Diabetes and Pregnancy Study Groups, 2009 e American Diabetes Association, 2012 ....... 110 Quadro 42. Critérios diagnósticos para diabetes gestacional segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 2009 e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, 2009 110 Quadro 43. Dados relevantes da anamnese na avaliação clínica inicial do indivíduo diabético ................................................................................................................................................... 111 Quadro 44. Exames complementares para avaliação inicial do indivíduo diabético ................ 112 Quadro 45. Metas para o perfil lipídico no indivíduo diabético ............................................... 115 18 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 46. Fatores de risco para doença cardiovascular em diabéticos ................................. 118 Quadro 47. Classificação da retinopatia diabética .................................................................... 119 Quadro 48: Rastreamento da retinopatia diabética ................................................................. 120 Quadro 49. Estadiamento da nefropatia diabética ................................................................... 121 Quadro 50. Valores da proteinúria para o diagnóstico de nefropatia diabética ...................... 122 Quadro 51. Principais tipos de neuropatia focal ....................................................................... 127 Quadro 52. Fatores de risco para úlcera de pé e amputação ................................................... 130 Quadro 53. Avaliação dos pés ................................................................................................... 131 Quadro 54. Cuidados com os pés nos usuários diabéticos ....................................................... 132 Quadro 55. Classificação de risco baseada no exame dos pés ................................................. 133 Quadro 56. Avaliação da doença arterial periférica ................................................................. 135 Quadro 57. Recomendações nutricionais para indivíduos com diabetes ................................. 138 Quadro 58. Gorduras presentes nos alimentos ........................................................................ 140 Quadro 59. Adoçantes............................................................................................................... 142 Quadro 60. Metas laboratoriais para o tratamento do diabetes mellitus tipo 2 ..................... 147 Quadro 61. Metas de glicemias capilares para adultos e idosos. ............................................. 148 Quadro 62. Metas de glicemias capilares para crianças e adolescentes .................................. 148 Quadro 63. Metas das glicemias capilares para o diabetes gestacional e para mulheres com diabetes mellitus que engravidaram ......................................................................................... 148 Quadro 64. Correlação entre as glicemias médias estimadas e a hemoglobina glicada .......... 149 Quadro 65. Classes dos agentes antidiabéticos ........................................................................ 150 Quadro 66a.Caracterização dos principais agentes antidiabéticos disponíveis ...................... 150 Quadro 66b. Disponibilidade dos antidiabéticos orais e insulinas, citados nesta linha-guia, na lista da Relação Nacional dos Medicamentos Essenciais e do Programa Farmácia de Minas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais ....................................................................... 152 Quadro 67: Recomendações quanto ao uso da metformina segundo a filtração glomerular . 153 Quadro 68: Características das insulinas .................................................................................. 155 Quadro 69: Fracionamento das doses de insulina NPH ............................................................ 159 Quadro 70: Orientações para associações de insulina ............................................................. 167 Quadro 71: Complicações da Insulinoterapia ........................................................................... 168 Quadro 72: Fatores precipitantes das crises hiperglicêmicas ................................................... 169 Quadro 73: Critérios diagnósticos na avaliação laboratorial das crises hiperglicêmicas .......... 170 Quadro 74: Tratamento das crises hiperglicêmicas .................................................................. 170 Quadro 75. Valores de albuminúria de acordo com a técnica de coleta urinária .................... 181 19 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 76. Estágios da doença renal crônica baseados na taxa de filtração glomerular e presença ou não de lesão do parênquima renal ....................................................................... 182 Quadro 77. Doença renal crônica no hipertenso e diabético – diagnóstico, estadiamento e encaminhamento ...................................................................................................................... 190 Quadro 78. Estratificação de risco dos diabéticos na rede de atenção à saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais ............................................................................................. 191 Quadro 79. Competências da atenção primária à saúde de acordo com a estratificação do hipertenso para o seu ............................................................................................................... 192 Quadro 80. Competências da atenção primária à saúde de acordo com a estratificação do diabético para o seu controle metabólico ................................................................................ 193 Quadro 81. Competências da atenção primária à saúde de acordo com o estadiamento do usuário com doença renal crônica ............................................................................................ 194 Quadro 82. Parâmetros de prevalência total e por estrato da hipertensão arterial sistêmica na atenção primária à saúde .......................................................................................................... 199 Quadro 83. Parâmetros de prevalência total e por estrato do diabetes mellitus na atenção primária à saúde ........................................................................................................................ 199 Quadro 84. Parâmetros de prevalência total e por estrato da doença renal crônica na atenção primária à saúde ........................................................................................................................ 199 Quadro 85. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial sistêmica, por estrato e procedimento, na atenção primária à saúde ............................................................. 200 Quadro 86. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial sistêmica, por estrato e exame laboratorial, na atenção primária à saúde ..................................................... 201 Quadro 87. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato e procedimento, na atenção primária à saúde ............................................................................ 201 Quadro 88. Parâmetros de assistência para os usuários com diabetes mellitus, por estrato e exame laboratorial, na atenção primária à saúde .................................................................... 202 Quadro 89. Atendimentos e exames disponíveis nos Centros Hiperdia Minas ........................ 204 Quadro 90. Atendimentos e exames/procedimento disponíveis nos Centros Hiperdia Minas de carteira ampliada ...................................................................................................................... 204 Quadro 91. Parâmetros de assistência para os usuários com hipertensão arterial sistêmica de alto risco cardiovascular e diabetes mellitus com controle metabólico ruim na atenção secundária à saúde da rede da .................................................................................................. 205 Quadro 92. Critérios de encaminhamento para os Centros Hiperdia Minas por condição de saúde ......................................................................................................................................... 207 20 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS APRESENTAÇÃO Prezados(as) leitores(as), É com enorme prazer e perspectivas de real colaboração para a melhoria de conhecimentos e processos que a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais apresenta-lhes o conteúdo técnico da 3ª edição da Linha-guia de Hipertensão Arterial Sistêmica, Diabetes Mellitus e Doença Renal Crônica, a qual se encontra no prelo. Sabe-se que o enfrentamento das condições crônicas de saúde, hoje tão prevalentes, exige a organização da assistência aos usuários em redes de atenção. Por meio desse documento, a Rede Hiperdia Minas (Rede de Atenção aos Hipertensos, Diabéticos e Usuários com Doença Renal Crônica da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais) organiza uma perspectiva de elaboração de diretrizes clínicas e operacionais a partir de um modelo de atenção às condições crônicas, fortemente determinado pelas estratificações de risco da população abordada. Entende-se que o início do curso de capacitação sobre esse tema no Canal Minas Saúde representa um momento mais que oportuno para o compartilhamento desse conteúdo com fundamentais atores para o controle desses fatores de risco e doenças: os profissionais de saúde, especialmente da Atenção Primária, e também os gestores de saúde. Assim, esse documento, fruto de um extenso processo interinstitucional e participativo de busca de consenso, apresenta informações cuja aplicação deve obedecer não somente os princípios de ética e regulamentação profissional (os quais observam conteúdos privativos da prática médica e não-médica, por exemplo), mas acima de tudo, propiciar o cuidado oportuno, eficaz, efetivo e eficiente das necessidades em saúde dos nossos usuários. Coordenadoria Estadual de Hipertensão e Diabetes Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais 21 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS INTRODUÇÃO: Abordagem das condições crônicas de saúde na população geral De acordo com a nova tipologia das doenças, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica as condições de saúde em agudas ou crônicas. As doenças crônico-degenerativas como a hipertensão arterial sistêmica (HAS), o diabetes mellitus (DM) e a doença renal crônica (DRC) são consideradas condições crônicas de saúde. A Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Minas Gerais (SES/MG) propõe a utilização de um modelo específico para a abordagem das condições crônicas de saúde na população, o qual é apresentado a seguir.¹ Mendes (2007) desenvolveu um modelo de atenção às condições crônicas para ser aplicado no Sistema Único de Saúde (SUS) que denominou de Modelo de Atenção às Condições Crônicas(MACC). Esse modelo foi elaborado com base nos elementos do modelo da Atenção Crônica da Pirâmide da Kaiser Permanente e no Modelo de Determinação Social da Saúde de Dahlgren e Whitehead (1991) e em função da singularidade do SUS, conforme representado na Figura 1.¹ Figura 1. Modelo de Atenção às Condições Crônicas Fonte: Mendes, 2011 1. 22 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS A organização do processo de trabalho nas equipes de saúde, segundo o modelo de atenção proposto, deve comportar ações desde o nível de promoção da saúde até o nível de gestão de casos. Para cada nível da pirâmide, ações diferenciadas se fazem necessárias.¹ Sendo assim, é razoável entender que grande parte da população, sob os cuidados de uma equipe de saúde, encontra-se nos níveis 1 e 2 de necessidades de intervenções.¹ As intervenções de nível 1 devem ser aplicadas na população total. Elas estão relacionadas à macropolíticas, tais como educação, distribuição de renda, trabalho, habitação, lazer, saneamento e, para a obtenção de resultados satisfatórios, faz-se necessário realizar parcerias intersetoriais.¹ No nível 2, as principais ferramentas a serem utilizadas são as ações que estimulam o comportamento e estilo de vida saudáveis tanto no âmbito individual quanto no coletivo. É nesse nível que a atenção primária à saúde deve realizar o rastreamento das subpopulações de pessoas tabagistas, com sobrepeso ou obesidade, de sedentários, de usuários excessivos de álcool, com alimentação inadequada, ou seja, subpopulações com fatores de risco para o desenvolvimento da HAS e do DM.¹ No nível 3, encontram-se usuários com fatores de risco biológicos e usuários com condições crônicas, de baixo e médio risco, os quais devem ser foco de intervenções da atenção primária à saúde, relacionadas às ações de tratamento da condição crônica e de rastreamento das complicações da HAS e do DM.¹ Nos níveis 4 e 5, as intervenções devem ser direcionadas aos usuários com condições crônicas complexas e muito complexas. Esses usuários frequentemente são acometidos por complicações dessas condições, sendo necessário o manejo do caso de maneira individualizada e em cogestão com profissionais especialistas de áreas focais.¹ Essa mesma figura 1, representativa do MACC, apresenta uma linha que perpassa os níveis 2 ao 5, a qual poderia ser identificada como linha de atenção à saúde. A proporção do espaço à esquerda dessa linha representa a fração do cuidado em saúde que deve ser destinada ao autocuidado do usuário, o qual atua como agente ativo nesse processo, apoiado pela equipe de saúde; à direita, representa a fração referente ao cuidado profissional. Uma análise da figura mediante essa perspectiva permite evidenciar que quanto maior a complexidade da condição crônica na subpopulação abordada, mais relevante será o cuidado profissional. Por outro lado, mediante uma menor complexidade da condição crônica abordada, ou mesmo mediante a abordagem de uma subpopulação com fator de risco, o autocuidado apoiado deverá representar a mais eficaz, efetiva e eficiente fração da atenção à saúde disponibilizada. É exatamente nesse cenário que atuação da atenção primária à saúde se fará mais pertinente. 23 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS SEÇÃO 1: HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA 1.1. Conceito e epidemiologia A HAS é uma condição clínica multifatorial, caracterizada por níveis elevados da pressão arterial (PA), frequentemente associada a alterações de órgãos-alvo e, por conseguinte, a aumento do risco de eventos cardiovasculares.² Inquéritos populacionais em cidades brasileiras apontaram prevalência de HAS em indivíduos com 18-59 anos de idade, entre 20 a 30%, percentual que atinge 50% na faixa etária de 60 a 69 anos e 75% em indivíduos com idade acima de 70 anos.² Em Minas Gerais, a SES/MG estima prevalência da HAS na ordem de 20% em sua população com idade igual ou superior a 20 anos.³ 1.2. Fatores de risco para a hipertensão arterial sistêmica A HAS é uma condição clínica decorrente de fatores genéticos, em geral associados a alterações de estilo de vida e a fatores sócio-econômicos.² 1.2.1. Genéticos A contribuição de fatores genéticos para a gênese da HAS está bem estabelecida na população. Porém, não existem, até o momento, variantes genéticas que possam ser utilizadas para predizer o risco individual de se desenvolver HAS.4 24 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.2.2. Idade A prevalência de HAS aumenta linearmente com o envelhecimento, atingindo percentual superior a 60% em indivíduos acima de 60 anos.² Embora haja controvérsias acerca da utilidade do diagnóstico da SM, vale mencionar que a presença da SM indica a agregação de fatores de risco cardiovasculares e, portanto, será utilizada no presente documento.11,12 1.2.3. Gênero e etnia Indivíduos do sexo masculino apresentam maior prevalência de HAS que mulheres até os 50 anos de idade. A partir dessa faixa etária, as mulheres apresentam significativo incremento na prevalência de HAS.5,6,7,8 Em relação à cor, a HAS é duas vezes mais prevalente em indivíduos de cor não-branca, especialmente nas mulheres.9 1.2.4. Sobrepeso e obesidade O excesso de peso e a obesidade se associam com maior prevalência de HAS desde idades jovens.10 Nos EUA, a obesidade contribui em até 75% para os casos de HAS.11 No presente documento, a definição de obesidade adotará os critérios da OMS, que classifica como indivíduos normais aqueles com índice de massa corporal (IMC) entre 20 e 24,9; como sobrepeso, indivíduos com IMC entre 25 e 29,9 e, como obesos estágios 1,2 e 3, aqueles com IMC respectivamente iguais a 30-34,9, 35-39,9 e igual ou superior a 40.11,12 Para o cálculo do IMC, basta dividir o peso corporal pela altura elevada ao quadrado. Vale ressaltar que o termo obesidade, frequentemente se confunde à síndrome metabólica (SM), uma vez que as duas condições estão frequentemente associadas. No entanto, a SM pode estar presente em indivíduos não obesos. Para o diagnóstico de SM, os critérios mais utilizados são aqueles preconizados pelo National Cholesterol Education Program (NCEP) Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP III), em concordância com os da I Diretriz Brasileira sobre Síndrome Metabólica. 12 Esta recomendação inclui pelo menos três das seguintes alterações: glicemia de jejum > 110mg/dL; circunferência da cintura abdominal (CA) > 102 cm para homens e > 88 cm para mulheres; níveis plasmáticos de triglicérides (TG) > 150mg/dL; níveis plasmáticos do colesterol HDL < 40mg/dL, em homens e < 50mg/dL, em mulheres e pressão arterial > 130x85mmHg.11,12 Para medida da CA, utiliza-se fita métrica não distensível, 25 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS posicionada no ponto médio entre o rebordo costal e a crista ilíaca, estando os indivíduos em posição ortostática, conforme figura 2, sendo medida em centímetros.12 Figura 2. Medida da circunferência abdominal 1.2.5. Ingestão de sal Ingestão excessiva de sódio tem sido correlacionada ao desenvolvimento de HAS.13 Indivíduos normotensos com elevada sensibilidade à ingestão de sal apresentaram incidência cinco vezes maior de HAS em 15 anos, quando comparados àqueles com baixa sensibilidade. A população brasileira apresenta um padrão alimentar rico em sal, açúcar e gorduras. Ademais, o efeito hipotensor da restrição de sódio tem sido bem demonstrado.10,14,15 Portanto, recomenda-se a redução do consumo de cloreto de sódio para 5-6 g ao dia como forma de prevenção de HAS, devendo ser consideradas para tal as principais fontes alimentares com maior teor de sódio, conforme quadro 1.2,16 Quadro 1. Fontes alimentares de maior teor de sódio Fontes Sal de cozinha (NaCl) e temperos industrializados; Alimentos industrializados (Ketchup, mostarda,shoyo, caldos concentrados); Embutidos (salsicha, mortadela, linguiça, presunto, salame, paio); Conservas (picles, azeitona, aspargo, palmito); Enlatados (extrato de tomate, milho, ervilha); Bacalhau, charque, carne seca, defumados; Aditivos (glutamato monossódico) utilizados em alguns condimentos e sopas de pacote; Queijos em geral. Onde: NaCl = cloreto de sódio. Fonte: III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial; 1998.17 26 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.2.6. Uso excessivo de álcool Ingestão de álcool por períodos prolongados de tempo pode aumentar a PA e a mortalidade cardiovascular em geral.² O consumo excessivo de etanol (>30 g/dia) se associa com a ocorrência de HAS de forma independente das características demográficas, devendo, portanto, ser desestimulado.2,18 1.2.7. Sedentarismo A atividade física regular reduz a incidência de HAS bem como a mortalidade e o risco de doenças cardiovasculares (DCV), mesmo em indivíduos pré-hipertensos. Maior detalhamento, vide item 1.5.1 Tratamento não-medicamentoso.1,2,19 1.2.8. Fatores socioeconômicos A influência do nível socioeconômico na ocorrência da HAS é complexa e difícil de ser estabelecida.19 No Brasil, a HAS é mais prevalente entre indivíduos com menor escolaridade.5 1.3 Rastreamento, diagnóstico e classificação 1.3.1. Rastreamento Rastreamento da HAS em adultos Para o rastreamento da HAS na população adulta, recomenda-se a medida anual da PA.² Rastreamento da HAS em crianças e adolescentes A medida da pressão arterial em crianças é recomendada em toda avaliação clínica após os 3 anos de idade, idade a partir da qual se deve aferir a PA pelo menos anualmente. As interpretações dos valores da pressão arterial obtidas em crianças e adolescentes devem levar 27 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS em conta a idade, o sexo e a altura de acordo com as orientações a seguir (quadros 2 e 3 - gráficos 1a e 1b).20,21 Quadro 2. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão arterial para meninas de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura 28 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: V Dir Bras HAS, 2006 / The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, 2005.20,21 Quadro 3. Valores de pressão arterial referentes aos percentis 90, 95 e 99 de pressão arterial para meninos de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil de estatura Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: V Dir Bras HAS, 29 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 2006 / The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, 2005.20,21 Gráfico 1. Gráfico de desenvolvimento para cálculo do percentil de altura: A, meninas e B, meninos Fonte: V Dir Bras HAS, 2006 / The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, 2005.20,21 30 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.3.2. Diagnóstico Diagnóstico em crianças Define-se HAS, nessa população, como a pressão arterial igual ou maior ao percentil 95 de distribuição da pressão arterial. Crianças também apresentam hipertensão de consultório e efeito do avental branco (ver assunto no tópico “Diagnóstico em Idosos” e quadro 7), mas o papel da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA) é limitado nessa população.² Crianças menores de 3 anos devem ter a pressão arterial aferida em circunstâncias especiais, como demonstra o quadro 4. Quadro 4. Condições nas quais crianças menores de 3 anos de idade devem ter a medida da pressão arterial aferida Condição História de prematuridade, peso muito baixo ao nascer ou outras complicações neonatais requerendo cuidados intensivos; Doença cardíaca congênita (corrigida ou não); Infecção do trato urinário recorrente, hematúria ou proteinúria; Doença renal conhecida ou malformações do trato urinário; História familiar de doença renal congênita; Transplante de órgãos-sólidos; Malignidade ou transplante de medula óssea; Tratamento com drogas que sabidamente aumentam a pressão arterial; Outras doenças sistêmicas associadas com hipertensão (neurofibromatose, esclerose tuberosa, etc); Evidência de pressão intracraniana elevada. Fonte: The Fourth Report on the Diagnosis, Evaluation and Treatment of High Blood Pressure in Children and Adolescents, 2005.21 Diagnóstico em adultos No adulto, a HAS é diagnosticada pela detecção de níveis elevados e sustentados da pressão arterial por medidas casuais. A medida da pressão arterial deve ser realizada em toda a avaliação por médicos e demais profissionais de saúde.² O diagnóstico de HAS é baseado na média de duas ou mais medidas aferidas em duas ou mais visitas ao consultório, respeitando-se as recomendações para a aferição da PA indicadas no quadro 5. 31 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 5. Procedimentos recomendados para a medida da pressão arterial Preparo do usuário: 1. Explicar o procedimento ao usuário e deixá-lo em repouso pelo menos 5 minutos em ambiente calmo. Ele deve ser instruído a não conversar durante a medida. Possíveis dúvidas devem ser esclarecidas antes ou após o procedimento. 2. Certificar-se de que o usuário NÃO: Está com a bexiga cheia; Praticou exercícios físicos há pelo menos 60 minutos; Ingeriu bebidas alcoólicas, café ou alimentos (esses últimos em quantidades significativas); Fumou nos 30 minutos anteriores. 3. Posicionamento do usuário: Deve estar na posição sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado. O braço deve estar na altura do coração (nível do ponto médio do esterno ou 4º espaço intercostal), livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. Para a medida propriamente: 1. Obter a circunferência aproximadamente no meio do braço. Após a medida, selecionar o manguito de tamanho adequado ao braço. 2. Colocar o manguito, sem deixar folgas, 2 a 3 cm acima da fossa cubital. 3. Centralizar o meio da parte compreensiva do manguito sobre a artéria braquial. 4. Estimar o nível da pressão sistólica pela palpação do pulso radial. O seu reaparecimento corresponderá à PA sistólica. 5. Palpar a artéria braço na fossa cubital e colocar a campânula ou o diafragma do estetoscópio sem compressão excessiva. 6. Inflar rapidamente até ultrapassar 20 a 30 mmHg o nível estimado da pressão sistólica, obtido pela palpação. 7. Proceder à deflação lentamente (velocidade de 2 mmHg por segundo). 8. Determinar a pressão sistólica pela ausculta do primeiro som (fase 1 de Korotkoff), que é em geral fraco, seguido de batidas regulares, e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação. 9. Determinar a pressão diastólica no desaparecimento dos sons (fase V de Korotkoff). 10. Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa. 11. Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/ diastólica/ zero. 12. Sugere-se esperar em torno de 1 minuto para nova medida, embora esse aspecto seja controverso. 13. Informar os valores de pressões arteriais obtidos para o usuário. 14. Anotar os valores exatos sem “arredondamentos” e o braço em que a pressão arterial foi medida. Onde: PA = pressão arterial; mmHG = milímetro de mercúrio; cm = centímetros. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² 32 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS A medida da PA pode ser realizada pelo métodoindireto com técnica auscultatória, com uso de esfigmomanômetro de coluna de mercúrio ou aneróide devidamente calibrados, ou com técnica oscilométrica pelos aparelhos semiautomáticos digitais de braço validados, estando também calibrados. Vale ressaltar a importância de se respeitar às dimensões das circunferências dos braços dos usuários de acordo com o diâmetro das braçadeiras dos esfigmomanômetros.² O quadro 6 expõe estas observações. Quadro 6. Dimensões da bolsa de borracha para diferentes circunferências de braço em crianças e adultos Denominação do manguito Circunferência do braço (cm) Bolsa de borracha (cm) Largura Comprimento Recém-nascido ≤ 10 4 8 Criança 11-15 6 12 Infantil 16-22 9 18 Adulto pequeno 20-26 10 17 Adulto 27-34 12 23 Adulto grande 35-45 16 32 Onde: cm = centímetros. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² Diagnóstico em idosos Nos idosos, recomenda-se a verificação da pressão arterial na posição sentada, deitada e em pé, pois alterações ateroscleróticas nas regiões dos seios carotídeos podem reduzir a sensibilidade dos barorreceptores, ocasionando maior variabilidade da pressão arterial nos idosos e redução dos reflexos posturais, o que os predispõe à hipotensão ortostática. Uso de fármacos como diuréticos, antidepressivos, vasodilatadores, betabloqueadores e maior frequência de insuficiência vascular cerebral podem também ocasionar hipotensão ortostática.²² Outra condição frequentemente observada no idoso é o hiato auscultatório, situação em que após a ausculta do 1º som (fase I de Korotkoff), ocorre desaparecimento dos ruídos, que podem reaparecer somente após decréscimo de até 40 mmHg da PA. Essa situação pode levar à subestimação da pressão sistólica (PAS) ou à superestimação da pressão diastólica. Deve-se considerar a pressão sistólica o valor observado no aparecimento à palpação do pulso radial após a desinflação do manguito.²² A pseudo-hipertensão pode surgir em idosos com arteriosclerose pronunciada caracterizada por calcificação da parede arterial e enrijecimento tão pronunciado dos vasos que a insuflação do manguito é insuficiente para colabar a artéria braço. Para identificação deste fato, utiliza-se a manobra descrita por Osler. Esta consiste em inflar o manguito do aparelho até níveis acima da PAS e, concomitantemente, palpar a artéria radial. Persistência da palpabilidade sugere rigidez da artéria e indica que o índice obtido pela ausculta não expressaria a verdadeira pressão arterial sistólica, obtida por medida intra-arterial. Esse diagnóstico também é sugerido 33 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS quando a pressão arterial sistólica está elevada, porém o usuário não apresenta lesão em órgãos alvos. A suspeita também deve ser lembrada diante de manifestações de hipotensão, após tratamento com medicamento anti-hipertensivo suave em dose baixa.²² A hipertensão do avental branco (HAS-AB) ou de consultório é a condição em que a pressão se eleva no consultório, porém se mantém normal durante as atividades rotineiras. Cerca de 30% dos idosos apresentam esta condição, que pode ser avaliada pela MAPA ou pela monitorização residencial da pressão arterial (MRPA), conforme detalhado no quadro 7.²³ Na hipertensão mascarada (HAS-M), ocorre o contrário, a pressão se mantém alta nas atividades rotineiras e normal no consultório. Pode também ser avaliada pela MAPA ou MRPA.22,23 Algumas das condições citadas e outras estão comparativamente sistematizadas no quadro a seguir. Quadro 7. Características comparativas do efeito do avental branco, hipertensão do avental branco, hipertensão mascarada e outras condições Condição da pressão arterial Definição Prevalência (estudos específicos, se pertinentes) Efeito do avental branco Diferença de pressão obtida entre a medida conseguida no consultório e fora dele, desde que essa diferença seja igual ou superior a 20 mmHg na PAS e⁄ou de 10 mmHg na PAD 12% Hipertensão PAS ≥140 mmHg e⁄ou de PAD ≥90 mmHg em medidas de consultório. 28% Normotensão verdadeira Medidas de consultório são consideradas normais 51% Hipertensão sistólica isolada Comportamento anormal da PAS com PAD. A hipertensão sistólica isolada e a pressão de pulso são fatores de risco importantes para doença cardiovascular em usuários de meia- idade e idosos Hipertensão do avental branco Medidas de PA persistentemente elevadas (≥140/90 mmHg) no consultório e medias de PA consideradas normais seja na residência ou pela MAPA 9% Hipertensão mascarada Situação clínica caracterizada por valores normais de PA no consultório (< 140/90 mmHg), porém com PA elevada pela MAPA durante o período de vigília ou na MRPA. Desconhecida Onde: PAS = pressão arterial sistólica; PA = pressão arterial; PAD = pressão arterial diastólica; MRPA = monitorização residencial da pressão arterial; MAPA = Monitorização ambulatorial da pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: modificado de V Diretrizes Brasileiras de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) e III Diretrizes Brasileiras de Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), 2011. 23 34 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Diagnóstico em obesos Manguitos mais longos e largos são necessários em usuários obesos, para não haver superestimação da pressão arterial. Em braços com circunferência superior a 50 cm, onde não há manguito disponível, pode-se fazer a medida no antebraço e o pulso auscultado deve ser o radial. Há, entretanto, restrições quanto a essa prática, recomendando-se que sejam usados manguitos apropriados.² Diagnóstico em gestantes A pressão arterial deve ser obtida com os mesmos equipamentos e com a mesma técnica recomendada para adultos, entretanto a pressão arterial também pode ser medida no braço esquerdo, na posição de decúbito lateral esquerdo, em repouso, e esta não deve diferir da posição sentada. O 5º ruído de Korotkoff deve ser considerado como a pressão diastólica.² Orientações adicionais quanto ao diagnóstico Na primeira avaliação, as medidas devem ser realizadas em ambos os braços e, em caso de diferença, deve-se usar o braço com a medida de maior valor. A posição recomendada para a medição da pressão arterial é a sentada. As medidas na posição ortostática e supina deverão ser feitas ao menos, na primeira avaliação, em todos os usuários, e, em todas as avaliações de idosos, diabéticos com manifestações de disautonomia, alcoolistas ou em uso de medicação anti-hipertensiva.2,23 Novas orientações consideram a utilização da MAPA e da MRPA como ferramenta importante na investigação de usuários com suspeita de hipertensão. Recomenda-se, sempre que possível, a medida da pressão arterial fora do consultório para esclarecimento do diagnóstico, identificação da HAS-AB e da HAS-M. Embora não seja um método diagnóstico de HAS, a utilidade da MAPA deve ser considerada para o refinamento da classificação de risco cardiovascular, em especial em usuários com hipertensão arterial resistente (HAR), definida atualmente como aquela que se mantém elevada, apesar do uso de três classes de anti-hipertensivos em doses otimizadas, sendo, idealmente, um deles um diurético, ou aquela controlada com o uso de quatro ou mais drogas.24 Neste sentido, a SES/MG recomenda que em sua rede a MAPA seja solicitada apenas no nível secundário de atenção. Outros métodos diagnósticos mais recentes, como o MRPA podem ser utilizados na dependência de sua disponibilidade (quadro 8). No entanto, deve ser enfatizado que o 35 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS diagnóstico de HAS é feito com base em medidas isoladas da PA, conforme tradicionalmente estabelecido. Quadro 8. Outros métodos diagnósticos e de acompanhamento para a hipertensão arterial sistêmica Método Conceito Valores anormais UtilidadeMedida Residencial da Pressão Arterial (MRPA) Método destinado a fazer registro da PA fora do ambiente de consultório, pelo próprio usuário ou pessoa capacitada para tal, com equipamento validado e calibrado. Não deve ser confundida com a automedida da PA (AMPA), que é registro não sistematizado e realizado a pedido do profissional de saúde O protocolo mais aceito considera a tomada de pelo menos duas medidas da PA, pela manhã, antes do desjejum, e à noite, antes do jantar, durante quatro dias. O número mínimo de 14 medidas deve ser obtido para a análise dos dados (médias). Valores normais < 130/85 mmHg. Avaliação da terapêutica; Pesquisa de hipertenso do avental branco; Possibilidade de realizar maior número de medidas fora do ambiente do consultório; Boa aceitabilidade do método; Limitação: dificuldade de medidas durante o sono. Auto Medida da Pressão Arterial (AMPA) Registro não sistematizado da pressão arterial, realizado de acordo com a orientação do profissional de saúde do usuário. Média da auto medida da pressão arterial acima de 135/85 mmHg. Resposta a anti- hipertensivos; Avaliação da hipertensão do avental branco Onde: PA = pressão arterial; mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: V Diretrizes Brasileiras de Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial (MAPA) e III Diretrizes Brasileiras de Monitorização Residencial da Pressão Arterial (MRPA), 2011.23 36 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.3.3 Classificação Para a classificação da HAS serão adotados os critérios propostos pelas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (quadros 9 e 10). Quadro 9. Classificação da pressão arterial de acordo com a medida casual no consultório em maiores de 18 anos Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg) Ótima < 120 < 80 Normal < 130 < 85 Limítrofe* 130 – 139 85 – 89 Hipertensão estágio1 140 – 159 90 – 99 Hipertensão estágio 2 160 – 179 100 – 109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Hipertensão sistólica isolada ≥ 140 < 90 Quando as pressões sistólica e diastólica situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão arterial. * Limítrofe, pressão normal-alta ou pré-hipertensão são termos que se equivalem na leitura. Onde: mmHg = milímetro de mercúrio. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² Quadro 10. Classificação da pressão arterial para crianças e adolescentes e sugestões de conduta, segundo a sua classificação Classificação Percentil para PAS e PAD* Conduta sugerida (se pertinente) Normal PA < percentil 90 Reavaliar na próxima consulta médica Limítrofe PA entre percentis 90 a 95 ou se PA exceder 120/80 mmHg sempre < percentil 90 até < percentil 95 Reavaliar em 6 meses Hipertensão estágio 1 Percentil 95 a 99 mais 5 mmHg Usuário assintomático: reavaliar em 1 a 2 semanas; se hipertensão confirmada encaminhar para avaliação diagnóstica. Usuário sintomático: encaminhar para avaliação diagnóstica Hipertensão estágio 2 PA> percentil 99 mais 5 mmHg Encaminhar para avaliação diagnóstica Hipertensão do avental branco PA> percentil 95 em ambulatório ou consultório e PA normal em ambientes não-relacionados à prática clínica Onde: PA = pressão arterial; PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica; mmHg = milímetro de mercúrio. * Para idade, sexo e percentil de altura. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² 37 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS 1.4. Avaliação clínica inicial e estratificação de risco cardiovascular 1.4.1. Avaliação clinica inicial Os objetivos da avaliação clínica em usuários hipertensos consistem em: Confirmar o diagnóstico de HAS; Identificar fatores de risco cardiovasculares; Pesquisar lesão em órgãos-alvo; Pesquisar doenças associadas; Estratificar risco cardiovascular global; Avaliar indícios de hipertensão arterial resistente (vide Orientações adicionais quanto ao diagnóstico, item 1.3.2. Diagnóstico).² A avaliação clínica se inicia com uma anamnese detalhada, com atenção redobrada no início da HAS, tratamentos prévios já realizados, fatores de risco, indícios de hipertensão secundária, busca de lesões em órgãos-alvo já conhecidas, aspectos sócio-econômicos, estilo de vida, uso de outras medicações ou drogas que possam influenciar no tratamento da HAS, como descongestionantes nasais, corticóides, anti-inflamatórios, entre outros.² A lesão de órgãos-alvo agrava o risco cardiovascular associado à HAS. O estadiamento, a presença de lesão em órgão-alvo e a avaliação de fatores adicionais de risco cardiovascular são utilizados para determinar o risco total e planejar o tratamento (medicamentoso versus não- medicamentoso).² Aliado à anamnese reforça-se a igual importância de um exame físico minucioso, com medida do peso corporal e da circunferência abdominal interferindo no risco cardiovascular conforme comentado anteriormente.¹¹ A busca de sinais sugestivos de lesão em órgãos-alvo e de hipertensão secundária deve ser incentivada, assim como o exame de fundo de olho, especialmente em hipertensos estágio 3 com lesão em órgão-alvo ou usuários com diabetes.² No quadro a seguir estão listadas as principais evidências de lesões em órgão-alvo em usuários hipertensos. 38 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 11. Evidências de lesões em órgãos-alvo em hipertensos Órgão-alvo Evidência clínica de lesão Comentários (se pertinentes) Coração IAM; doença coronariana; angioplastia e ou revascularização do miocárdio; HVE; IC Sistema Nervoso Central AVC transitório; AVC isquêmico, AVC hemorrágico, alteração da função cognitiva Rim Déficit importante da TFG<60 ml/min. A ocorrência de diminuição da TFG e/ou albuminúria aumenta o risco de doença cardiovascular Retina Hemorragias ou exsudatos, papiledema. Doença arterial periférica Baseado na história clínica de claudicação, exame físico e ITB. Onde: IAM = infarto agudo do miocárdio; HVE = hipertrofia ventricular esquerda; IC = insuficiência cardíaca; AVC = acidente vascular cerebral; TFG = taxa de filtração glomerular; ITB = índice tornozelo-braço. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² A observação ao eletrocardiograma (ECG) de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) e/ou de infarto agudo do miocárdio (IAM) prévio indica comprometimento cardíaco (HVE) ou lesão (IAM).² A ocorrência de retinopatia, sinais de comprometimento cardíaco, sopros, sinais neurológicos consistentes com AVC e a diminuição ou ausência de pulsos periféricos são achados de exame físico de lesão de órgão alvo e a redução da pressão arterial reduz significativamente a ocorrência de desfechos cardiovasculares.2,25 A taxa de filtração glomerular (TFG) estimada <60 mL/min/1.73m2 indica a presença de DRC, caso se mantenha em um período igual ou maior que 3 meses, aliado ou não às alterações urinárias (albuminúria, hematúria ou piúria). A ocorrência de diminuição da TFG e/ou albuminúria aumenta o risco de doença cardiovascular.26,27 Salienta-se que, para detecção da doença vascular periférica (DVP), a medida do índice tornozelo braço (ITB), deverá ser realizada. Valores menores que 0,9 são indicativos de DVP.28 Na detecção de valores anormais, referenciar ao especialista. Detalhes mais pormenorizados estão no item 1.9 “Complicações crônicas da hipertensão arterial sistêmica (lesões em órgãos- alvo)”. Os quadros 12 e 13 sumarizam os principais achados obtidos na história clínica e no exame físico dos usuários hipertensos. 39 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 12. Dados de história clínica e comentários relevantes na avaliação de hipertensos Dados da história clínica Comentários Idade do início, duração e curso clínico da HAS Início em usuários jovens (<18 anos) ou idosos (>60 anos) pode indicara presença de HAS secundária Tratamento prévio da HAS, resposta terapêutica Útil no planejamento da estratégia terapêutica Medicações que possam influenciar na PA (p.ex., contraceptivos orais, simpaticomiméticos, esteróides adrenais) ou dieta com excesso de sal Fatores modificáveis que podem reduzir a PA sem o emprego de medicamentos História familiar de HAS, doença ou óbito prematuro por doença cardiovascular, doença renal, diabetes ou feocromocitoma Importante no diagnóstico de HAS primária e avaliação de risco cardiovascular Sintomas sugestivos de causas secundárias Importante para determinar a investigação de componentes específicos que contribuem para elevação da PA Sintomas de lesão de órgão alvo (p. ex., cefaléia, fraqueza ou cegueira transitória, diminuição da acuidade visual, dor torácica, dispnéia ou claudicação) Utilizado para avaliar possível lesão de órgão alvo; funciona como um guia grosseiro para a gravidade da HAS Outros fatores de risco (p. ex., tabagismo, diabetes, dislipidemia, ou sedentarismo Fatores modificáveis que contribuem para o risco cardiovascular Estilo de vida (p.ex., ingestão de sal, álcool e gordura saturada; estresse no trabalho; achados de apnéia do sono) Fatores modificáveis que contribuem para elevação da PA Onde: HAS = hipertensão arterial sistêmica; PA = pressão arterial. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² 40 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Quadro 13. Dados de exame físico e comentários relevantes na avaliação de hipertensos Dados do exame físico Comentários Aferição da PA em ambos os braços (e inicialmente na perna) Possibilita afastar a presença de lesão vascular importante, tal como coarctação da aorta Aspecto geral, lesões de pele distribuição da gordura corporal Pode identificar usuários com alto risco para diabetes ou dislipidemia Fundo de olho Avalia o grau de comprometimento vascular e reflete a gravidade da hipertensão Exame de pescoço (palpação das carótidas e da tireóide; ausculta de sopros) Identifica os usuários com alto risco cardiovascular e possibilita a suspeita de doença cardiovascular Exame cardiopulmonar para ausculta de estertores, freqüência, ritmo, sopros e galopes cardíacos Detecta as consequências da HAS em órgãos-alvo (HVE ou IC): B3 sinaliza disfunção sistólica; B4 sinaliza disfunção diastólica de VE. Exame do abdome para massas renais e sopros abdominais e nas artérias femorais Rins aumentados, palpáveis em usuário com HAS indicam doença renal policística do adulto; sopro abdominal pode indicar doença renovascular; sopro femoral pode ser observado nas doenças vasculares de membros inferiores Determinação do índice tornozelo braço Possibilita a identificação precoce do comprometimento das artérias dos membros inferiores Exame neurológico para sinais de AVC prévio (hiperreflexia, espasticidade, sinais de Babinsky) e atrofia e distúrbios da marcha (sinais motores) Identifica usuários com lesão de órgão alvo, tal como AVC prévio Onde: PA = pressão arterial; HVE = hipertrofia ventricular esquerda; IC = insuficiência cardíaca; B3 = terceira bulha; B4 = quarta bulha; VE = ventrículo esquerdo; HAS = hipertensão arterial sistêmica; AVC = acidente vascular cerebral. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² 41 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS Exames complementares Uma investigação complementar inicial básica é indicada para todos os usuários hipertensos. O quadro 14 expõe a avaliação mínima recomendada pela SES/MG para esta avaliação. Quadro 14. Avaliação complementar inicial básica do hipertenso recomendada pela SES/MG e comentários relevantes Avaliação Comentários Análise de urina (simples) Albuminúria se associa com risco aumentado de DCV, HAS, DRC. Albuminúria e/ou hematúria e/ou piúria pode ser o primeiro sinal de doença renal secundária à HAS. Hemoglobina ou hematócrito Anemia é fator de risco para DCV, preditor de morte na IC e fator agravante da DRC. Potássio plasmático Baixos níveis de potássio podem indicar excesso de aldosterona (investigação de hipertensão secundária) Creatinina plasmática (estimar TFG) Possibilita estimar a TFG Glicemia jejum Permite identificar intolerância à glicose e diabetes mellitus Colesterol total, HDL-colesterol, Triglicérides* A dislipidemia é duas vezes mais prevalente nos hipertensos Eletrocardiograma (ECG) HVE é fator de risco cardiovascular independente. Prioriza o diagnóstico de HVE através dos índices de Sokolov-Lyon ou Cornell. 2,29 Onde: * O LDL-C (colesterol LDL) é calculado pela fórmula: LDL-C = colesterol total - (Colesterol HDL + triglicérides/5) (quando a dosagem de triglicérides for abaixo de 400 mg/dL); DCV = doença cardiovascular; HAS= hipertensão arterial; DRC = doença renal crônica; IC = insuficiência cardíaca; TFG = taxa de filtração glomerular; HVE = hipertrofia ventricular esquerda. Fonte: VI Dir Bras HAS, 2010.² Uma avaliação adicional é orientada para detectar lesões clínicas ou subclínicas com o objetivo de melhor estratificação do risco cardiovascular. Está indicada na presença de elementos indicativos de doença cardiovascular e doenças associadas, em usuários com dois ou mais fatores de risco e, em usuários acima de 40 anos de idade com diabetes mellitus.² 1.4.2. Estratificação de risco cardiovascular A idade, o sexo, a pressão arterial elevada, o tabagismo, a dislipidemia e o diabetes são sabidamente os principais fatores de risco para se desenvolver doença cardiovascular. A interação e o agrupamento destes fatores levaram ao desenvolvimento de uma predição baseada em algoritmos de análise multivariada, que podem ser utilizados por profissionais de 42 SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS saúde da atenção primária para avaliar o risco de desenvolver doença cardiovascular, ou seja, doença coronariana, AVC, DVP e insuficiência cardíaca. Esta avaliação tem sido defendida por estimar o risco cardiovascular global e para guiar o tratamento destes fatores de risco.30 A avaliação do risco de Framingham original é uma ferramenta validada para brancos e negros americanos e é transportável (com a devida calibração) para várias populações da Europa, Mediterrâneo e Ásia.30 A VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (2010) valorizou a estratificação de risco, baseada no reconhecimento dos fatores de risco cardiovasculares, em fatores adicionais para a HAS, na identificação de lesões em órgãos-alvo e de lesões subclínicas destes órgãos.² Os fatores de risco adicionais para a HAS representam homens com idade acima de 55 anos e mulheres acima de 65 anos; o tabagismo; as dislipidemias, especialmente, triglicérides acima de 150 mg/dL, LDL-colesterol maior que 100 mg/dL e HDL-colesterol menor que 40 mg/dL; a presença de diabetes mellitus associada à história familiar prematura de doença cardiovascular em homens com idade menor que 55 anos e mulheres com idade menor que 65 anos.² Como lesões subclínicas de órgãos-alvo, cita-se a presença de HVE ao ECG. Índices recomendados são os de Sokolov-Lyon (soma do S de V1 ou V2 e do R de V5 ou V6 acima de 35 mm) ou Cornell (soma do R de aVL e do S de V3, acima de 28 mm para homens e acima de 20 mm para mulheres).29 Aliado à presença de HVE, pelo ecocardiograma transtorácico, com índice de massa de ventrículo esquerdo (VE) maior que 134g/m2 em homens ou acima de 110g/m2 em mulheres, a espessura médio-intimal de carótidas acima de 0,9 mm ou a presença de placa de ateroma pelo doppler de carótidas; o índice tornozelo-braço menor que 0,9; a depuração de creatinina estimada menor que 60 ml/min/1,72 m2; o baixo ritmo de filtração glomerular menor que 60 ml/min/1,72 m2; presença de microalbuminúria ou velocidade de onda de pulso acima de 12m/s, são outros indicativos de lesões subclínicas de órgãos-alvo.²