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W BA 07 33 _V 2. 0 FUNDAMENTOS DA METROLOGIA 3D - DIGITALIZAÇÃO 2 Luciano José Dantas Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2024 FUNDAMENTOS DA METROLOGIA 3D - DIGITALIZAÇÃO 1ª edição 3 2024 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR Homepage: https://www.cogna.com.br/ Diretora Sr. de Pós-graduação & OPM Silvia Rodrigues Cima Bizatto Conselho Acadêmico Alessandra Cristina Fahl Ana Carolina Gulelmo Staut Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Juliana Schiavetto Dauricio Juliane Raniro Hehl Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Coordenador Mariana Gerardi Mello Revisor Charlie Hudson Turette Lopes Editorial Beatriz Meloni Montefusco Márcia Regina Silva Paola Andressa Machado Leal Rosana Silverio Siqueira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Dantas, Luciano José Fundamentos da metrologia 3D – digitalização/ Luciano José Dantas, Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2024. 32 p. ISBN 978-65-5903-681-3 1. Metrologia. 2. Medição 3D. 3. Tecnologias de Medição. I. Título. CDU 519.9 _____________________________________________________________________________ Raquel Torres – CRB 8/10534 D192f © 2024 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. https://www.cogna.com.br/ 4 SUMÁRIO Apresentação da disciplina __________________________________ 05 Conceitos e fundamentos de Metrologia, Sistema Internacional, Tolerâncias e Instrumentos de Medição. ____________________ 07 Conceitos e Fundamentação Matemática da Metrologia 3D e Tecnologia de Medição por Coordenadas. ___________________ 19 Tecnologia, Equipamentos, Processo de Captura de Imagens e Softwares para Metrologia 3D. ______________________________ 33 Garantia de Rastreabilidade nas Medições 3D. Exemplos e Aplicações da Metrologia 3D. Limitações da Metrologia 3D. _______________________________________________ 46 FUNDAMENTOS DA METROLOGIA 3D - DIGITALIZAÇÃO 5 Apresentação da disciplina Olá, aluno(a)! Você irá estudar, nesta disciplina, os conceitos fundamentais da Metrologia 3D. Nessa jornada, iremos definir a Metrologia como a ciência que é voltada ao estudo da medição, seu histórico e apresentar a importância do Sistema Internacional de Unidades (SI). O estudo também aborda o funcionamento do Sistema Metrológico brasileiro e seu principal órgão normativo – que é o Inmetro –, destacando as normas aplicáveis para garantir o funcionamento e rastreabilidade dos processos de medição. Para o entendimento das tecnologias de medição tridimensional, você irá compreender a importância dos princípios matemáticos aplicados à tecnologia, assim como os conceitos básicos da Metrologia 3D, compostos pelo processo de medição por coordenadas, o processo de captura de imagens e a transformação de imagens em modelos tridimensionais para análise dimensional. A importância da tecnologia de informação também fará parte dessa discussão, visto que, sem essa ferramenta, é praticamente impossível conceber que a medição tridimensional seja executada, visto que os equipamentos utilizam softwares para os processos executados, e os dados gerados por esses processos necessitam ter um tratamento e armazenamento adequados. Os equipamentos e suas tecnologias de medição 3D também serão abordados nesta disciplina. Serão apresentados os principais equipamentos utilizados e algumas de suas características. Iremos destacar, também, exemplos de aplicações em alguns segmentos, as limitações que o processo de medição tridimensional pode apresentar e 6 os tipos de softwares que devem ser utilizados para a realização correta das operações envolvidas nesse processo. Destacamos que o objetivo principal desse estudo é fornecer subsídios para que você, estudante, em sua vida profissional, possa ter um entendimento das tecnologias envolvidas na Metrologia 3D e sua complexidade, possibilitando que tenha condições de avaliar o que e quando utilizar, tal como quais as dificuldades que terá para implantar ou gerenciar processos de Metrologia 3D. Bons estudos! 7 Conceitos e fundamentos de Metrologia, Sistema Internacional, Tolerâncias e Instrumentos de Medição. Autoria: Luciano José Dantas Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Definir e classificar a ciência de Metrologia. • Apresentar como a Metrologia se desenvolveu historicamente. • Informar sobre a importância do Sistema Internacional de Unidades. • Destacar o papel do Inmetro e do Sistema Metrológico Brasileiro. • Apresentar normas aplicadas à tolerância dimensional, geométrica e rugosidade. • Destacar os principais instrumentos utilizados na medição dimensional linear e angular. 8 1. Definição e Histórico da Metrologia Os processos de medição fazem parte de todas as atividades produtivas e de serviços dentro dos mais diversos segmentos. Neste momento, convidamos você a observar quais atividades são fundamentais e quais as tecnologias envolvidas nesses processos. Vamos apresentar a Metrologia como ciência e estabelecer uma relação com a parte legal envolvida nos estudos e práticas usuais do mercado. Podemos entender que a Metrologia está presente em nosso dia a dia, principalmente se pensarmos nas atividades cotidianas de nossas vidas. Quem nunca foi a um supermercado e pediu a um funcionário para verificar a massa um produto qualquer? Quando abastecemos nossos veículos, verificamos que uma bomba de combustível fornece uma quantidade de fluído que é mostrada no painel. Ao recebermos uma conta de energia elétrica, verificamos que é apresentado um valor de consumo em kilowatts por hora. Esses são pequenos exemplos de medição que, para o entendimento comum, fazem parte de operações normais dentro de nossas realidades. Você já parou para refletir que há uma ciência por trás dessas ações cotidianas? Sim, a Metrologia é uma ciência e, como tal, é objeto de estudo por especialistas, organismos nacionais e internacionais. O Vocabulário Internacional de Metrologia (VIM) (ABNT, 2013) define a Metrologia como a ciência das medições e suas aplicações, englobando todos os aspectos teóricos e práticos da medição. Nesse aspecto, compreendemos que essa ciência abrange em seu escopo de estudo tudo o que se relaciona ao processo de medir, desde a compreensão das variáveis físicas presentes nos diversos segmentos até as técnicas utilizadas para chegar a valores corretos de medição. Dá para imaginar um mundo sem padrões de medições? Pois esse era nosso mundo há cerca de dois séculos, quando medidas eram parâmetros 9 relativos que dependiam de cada país, cidade ou local, e a base para cada sistema era a tradição, sem coerência ou padrões exatos (De Lira, 2016). No Egito Antigo (3000 a 664 a.C.), utilizou-se um padrão de medição para a construção das pirâmides, conforme ilustrado na Figura 1. Figura 1 – Escravos egípcios trabalhando na construção de pirâmides Fonte: https://stock.adobe.com. Figura colorida que ilustra o trabalho de escravidão na construção de pirâmide no Egito, onde cinco escravos movem um bloco geométrico de pedra através de cordas, e um egípcio supervisiona o trabalho com um chicote. Esse padrão era o cúbito, uma das unidades de medida mais antigas das quais se tem notícia, que é definido pelo comprimento do braço medido do cotovelo à extremidade do dedo médioGrande volume de dados gerados Investimento em infraestrutura de TI Necessidade de calibração constante Fonte: elaborado pelo autor. 57 A primeira limitação que destacamos é a implantação. A aquisição de equipamentos destinados a trabalhar com medição 3D requer um alto investimento inicial, que inclui sistemas de comunicação e softwares dedicados. Podemos entender, também, que, dependendo do tipo de produto que é fabricado, deve-se adquirir uma série de equipamentos diferentes para atender às diversas variações de produção ou aplicação, o que torna a implantação mais onerosa inicialmente. Podemos referenciar como consequência de uma implantação de Metrologia 3D a segunda limitação, que é a necessidade de treinar todo o pessoal envolvido nas operações (projeto, fabricação e inspeção) ou contratar mão de obra já qualificada. Essa limitação demanda tempo para ser executada e pode ser um ponto muito crítico na operação. Outra limitação que podemos observar é a resolução e precisão dos instrumentos utilizados, que podem ser afetadas pelas condições ambientais em que são realizadas as medições e pelas características técnicas dos equipamentos, visto que estes podem não estar adequados às necessidades de medição de detalhes devido a sua resolução. A necessidade de calibração frequente também é considerada uma limitação da Metrologia 3D, pois a garantia de precisão e rastreabilidade dos processos de medição passa incondicionalmente por essa situação. Outra limitação destacada é relacionada aos dados gerados pelos processos de medição 3D. São gerados grandes volumes de dados durante as operações, que devem ser processados, tratados, analisados e armazenados adequadamente. Isso demanda uma grande infraestrutura de tecnologia de informação, softwares e hardwares adequados para todas as operações envolvendo as medições. A garantia de qualidade da Metrologia 3D no aspecto destacado anteriormente passa por um circuito que inclui os projetos iniciais gerados em softwares, os processos de captação de imagens pelos equipamentos e a geração de nuvens de pontos, a transformação de 58 dados em geometrias 3D, a análise dimensional, a geração de relatórios e o armazenamento desses dados para que o sistema funcione corretamente. Referências ABNT. ISO/IEC Guia 99:2013 - Vocabulário Internacional de Metrologia: Conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM). Rio de Janeiro: ABNT, 2013. ABNT. NBR ISO 9001:2015: Sistemas de gestão da qualidade: Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. DE LIRA, F. A. Metrologia na indústria. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2016. 59 Sumáriodistendido. Na Mesopotâmia, especificamente entre os povos babilônios, houve um notável desenvolvimento de sistemas de peso e medidas. Destaca-se o sistema de numeração babilônico, que utilizava um sistema sexagesimal (baseado no número 60), tábuas de argila e escrita cuneiforme, datadas de 1800 a 1600 a.C., que abordavam tópicos como frações, álgebra, equações, além do teorema de Pitágoras e o símbolo do zero. Na Idade Média (século V ao século XV), houve um grande desenvolvimento do comércio e da troca de mercadorias, potencializando o comércio internacional, principalmente no norte da 10 Europa. Esse comércio era realizado em mercados e feiras, onde houve a padronização de unidades de medida, principalmente o peso (libra), que foi utilizado como medida no comércio medieval. A Era Moderna (século XVIII ao século XX) trouxe a Revolução Industrial e, com ela, na necessidade de medições precisas para a manufatura e desenvolvimento tecnológico, a introdução do sistema métrico na França, em 1799, a criação do Sistema Internacional de Unidades (SI) e organismos internacionais como o BIPM (Bureau International des Poids et Mesures), nos séculos XX e XXI. O avanço da tecnologia durante as diversas fases da Revolução Industrial, ilustradas no Quadro 1, trouxe também o desenvolvimento de novas técnicas e de instrumentos de medição cada vez mais precisos, como os atuais sistemas automatizados de medição e controle de processos, a digitalização 3D, a análise de dados em tempo real e a integração de diversas áreas dentro das empresas, visando à melhoria na gestão de processos, nas instruções de trabalho, nas estratégias operacionais e nas ferramentas que garantem a qualidade dos produtos e serviços oferecidos. Quadro 1 – Características das quatro revoluções industriais 1ª Revolução Industrial 2ª Revolução Industrial 3ª Revolução Industrial 4ª Revolução Industrial Século XVIII Século XIX Século XX Hoje • Mecanização • Máquina a vapor • Fonte de energia carvão • Produção em massa • Linha de montagem • Fonte de energia eletricidade e petróleo • Produção automatizada • Computadores • Tecnologia da Informação • Produção Inteligente • Big Data • Internet das coisas Fonte: elaborado pelo autor. 11 2. Conceitos Fundamentais da Metrologia Compreendemos que a Metrologia, que é a ciência da medição, tem um ponto fundamental em sua proposta. Sim, é a medição! Para conceituarmos o que é medição, devemos nos ater à sua condição fundamental: comparar algo que queremos medir com uma grandeza da mesma espécie. Essa grandeza é chamada de padrão. A definição de medição descrita no VIM (ABNT, 2013) a coloca como o processo de obtenção experimental de um ou mais valores que podem ser, razoavelmente, atribuídos a uma grandeza. Salienta, ainda, que essa medição pressupõe uma descrição da grandeza que seja compatível com o uso pretendido dum resultado de medição, segundo um procedimento de medição e com um sistema de medição calibrado que opera de acordo com este procedimento. Temos, portanto, outros termos que devem estar associados ao processo de medição: resultado de medição, sistema de medição e procedimento de medição. O resultado da medição é a expressão do valor obtido na medição, sendo composto pelo valor numérico de uma grandeza acompanhado de uma variável física. Podemos citar como exemplos: • 10 metros (medição linear) • 32 graus Celsius (medição de temperatura) • 150 Amperes (medição de corrente elétrica) O sistema de medição, segundo o VIM (ABNT, 2013), é um conjunto composto por um ou mais instrumentos de medição montado e adaptado para fornecer informações destinadas à obtenção dos valores medidos, dentro de intervalos especificados, para grandezas 12 de naturezas especificadas. O procedimento de medição, por sua vez, é a descrição detalhada de uma medição, baseada em um ou mais princípios e com um dado método, a partir de um modelo e incluindo todo cálculo destinado à obtenção dum resultado. Podemos salientar, também, que a Metrologia é dividida em três categorias principais: metrologia científica, metrologia industrial e metrologia legal, sendo que cada uma tem suas especificidades e objetivos, conforme destacado no Quadro 2: Quadro 2 – Áreas da Metrologia, suas definições e objetivos Área Definição e Objetivos Metrologia Científica Envolvida na criação e manutenção dos padrões de medição, com foco em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas e sistemas de medição Objetivos: desenvolver padrões de medida internacionais, pesquisar e aprimorar métodos de medição e garantir a rastreabilidade das medições Metrologia Industrial Aplicada nos processos produtivos e controle de qualidade nas empresas; atua na utilização, calibração e manutenção dos instrumentos e sistemas de medição Objetivos: garantir a conformidade dos produtos com especificações técnicas e normativas, melhorar a qualidade e eficiência dos processos, minimizar desperdícios e reduzir custos através de processos adequados Metrologia Legal Relacionada à regulamentação e legislação para garantir precisão e confiabilidade das medições nas transações comerciais e assuntos que envolvem a proteção do consumidor Objetivos: garantir a conformidade com leis e regulamentos, proteger consumidores, assegurar transações comerciais corretas e certificar que instrumentos e sistemas de medição atendam requisitos legais Fonte: elaborado pelo autor. 13 3. Sistema Internacional de Unidades (SI) Você consegue imaginar um mundo sem um padrão de unidades de medidas físicas? Como se estabeleceriam as relações comerciais entre um país da América e um país da Ásia, por exemplo? Como seriam fabricados equipamentos para serem vendidos num mercado mundial sem um padrão definido? Como seria controlada a capacidade de cargas de caminhões, navios e aviões utilizada na área de logística? São questões que, atualmente, não nos afetam diretamente, visto que, na maioria dos países, são utilizados sistemas de unidades reconhecidos internacionalmente. Diante desse contexto, podemos entender que o Sistema Internacional de Unidades (SI) é, atualmente, o sistema padrão de unidades de medida adotado mundialmente, sendo estabelecido em 1960 pela 11ª Conferência Geral de Pesos e Medidas (CGPM). O SI é baseado no sistema métrico, sendo o sistema oficial de unidades em quase todos os países do mundo, exercendo um papel fundamental nos estudos aplicados à área de Metrologia e para a ciência, a tecnologia, o comércio e outras atividades que envolvem medições precisas. O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) publicou, em seu site, a tradução luso-brasileira da 9ª edição do SI. Esse documento pode ser acessado gratuitamente no site do instituto (www. inmetro.gov.br). No seu conteúdo, podemos encontrar as definições das unidades do SI, as sete unidades base e as unidades derivadas. A Tabela 1, a seguir, ilustra as unidades de base do SI: 14 Tabela 1 – Unidades Básicas do Sistema Internacional de Unidades (SI) Grandeza de base Unidade de base Nome Símbolo típico Nome Símbolo tempo t segundo s comprimento l,x,r etc. metro m massa m quilograma kg corrente elétrica I,i ampere a temperatura termodinâmica t kelvin k quantidade de matéria n mol mol intensidade luminosa Iv candela cd Fonte: elaborada pelo autor, baseada no Sistema Internacional de Unidades (SI) (BRASIL, 2021) 4. Inmetro e Sistema Metrológico Brasileiro No Brasil, existe um órgão que objetiva o fortalecimento das empresas nacionais no que diz respeito à produtividade, adotando mecanismos para a qualidade e a segurança dos produtos e serviços. O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), criado em 1973, é esse órgão, sendo uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. A missão do órgão é viabilizar soluções de infraestrutura da qualidade, proporcionandoapoio tecnológico às empresas através da rastreabilidade metrológica, desenvolvimento tecnológico, superação de barreiras técnicas e formação e qualificação em infraestrutura da qualidade. Outro aspecto dessa missão é apoiar o funcionamento dos mercados através do controle metrológico legal, acreditação de 15 organismos de avaliação da conformidade e desenvolvimento de regulamentação técnica e de programas de avaliação de conformidade. O Sistema Metrológico Brasileiro segue a estrutura básica das grandes economias do mundo, que normalmente é composta por um sistema de controle metrológico compulsório em áreas sujeitas a regulamentação estatal – representada pela Metrologia Legal –, laboratórios de calibração e ensaios (públicos ou privados) adequados às necessidades operacionais – representados pela Rede Brasileira de Calibração (RBC) e pela Rede Brasileira de Laboratórios de Ensaio (RBLE) –, um instituto metrológico nacional – normalmente de caráter público, que tem a responsabilidade pelos padrões metrológicos, gestão e operação das funções estratégicas no país, representado pelo Inmetro – e o órgão de articulação internacional – com organismos como o Sistema Interamericano de Metrologia (SIM), o Comitê Internacional de Pesos e Medidas (CIPM) e o Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM), também representado pelo Inmetro. 5.Tolerâncias Dimensionais, Geométricas e Medição de Rugosidade Vamos refletir um pouco: será que é possível conceber projetos de produtos, fabricar peças e controlar dimensões sem uma referência técnica coerente? Acreditamos que isso não é possível. Entendemos que o papel das normas técnicas, voltadas a tolerâncias dimensionais e tolerâncias geométricas, é de criar as referências adequadas para que diversos profissionais do ramo industrial possam se guiar ao fazer suas atividades cotidianas. No Brasil, temos como referência para as tolerâncias dimensionais e tolerâncias geométricas as seguintes normas, conforme o Quadro 3: 16 Quadro 3 – Normas técnicas ABNT para tolerâncias Norma Tema ABNT NBR ISO 2768-1:2001 Tolerâncias gerais (parte 1): tolerâncias para dimensões lineares e angulares sem indicação de tolerância individual. ABNT NBR ISO 2768-2:2001 Tolerâncias gerais (parte 2): tolerâncias geométricas para elementos sem indicação de tolerância individual. ABNT NBR 6158:1995 Sistema de tolerâncias e ajustes. ABNT NBR 6409:1997 Tolerâncias geométricas: tolerâncias de forma, orientação, posição e batimento – generalidades, símbolos, definições e indicações em desenho. ABNT NBR 17068: 2022 Desenho técnico: requisitos para representação de dimensões e tolerâncias. Fonte: elaborado pelo autor. Para as tolerâncias dimensionais e geométricas, essas normas servem como referência principal para definições dentro do escopo de fabricação de um produto ou equipamento. Outro ponto importante dentro do controle de qualidade de um produto é a medição de sua rugosidade superficial. A rugosidade desempenha um papel importante na indicação do acabamento de peças, na parte operacional e em assuntos ligados à manutenção e capacidade de lubrificação de componentes. No Brasil, temos como referência principal para o trabalho a norma ABNT NBR ISO 4287:2002 (Especificações geométricas do produto (GPS) - Rugosidade: Metódo do perfil - Termos, definições e parâmetros da rugosidade). Cabe aqui uma observação sobre a importância dessas normas dentro do controle de qualidade metrológico, visto que elas definem, do ponto de vista técnico, qual o nível de controle utilizar, quais os instrumentos 17 de medição mais adequados e quais os procedimentos. É de suma importância para o profissional de qualidade conhecer e utilizar corretamente essas normas. 6. Tipos de Instrumentos de Medição Linear, Angular e de Processos As operações envolvidas no processo de medição necessitam de instrumentos ou sistemas de medição. Esses equipamentos têm como características a aplicação, a exatidão, o erro e a incerteza de medição. Dentre os instrumentos utilizados para medição linear, ou seja, para medir diâmetros, comprimentos e espessuras, podemos destacar os mais convencionais, que são as réguas graduadas, os paquímetros e os micrômetros. Para a medição angular, os instrumentos convencionais são os goniômetros, esquadros combinados, régua e mesa de seno e os projetores de perfil. No caso de processos industriais, as medições são voltadas para as variáveis físicas, e existem instrumentos específicos para cada aplicação. Para medição de temperatura, existem os termopares e os termômetros. A medição de pressão utiliza instrumentos como manômetros, tubo U e sensores de pressão. Quando necessitamos medir o nível de tanques, podemos utilizar visores de nível, chaves de nível e medidores por ultrassom e radar. A medição de vazão pode ser executada com medidores de vazão de quantidade ou volumétricos, como os rotâmetros, placas de orifício e medidores eletromagnéticos. 18 Referências ABNT. ISO/IEC Guia 99:2013 Vocabulário Internacional de Metrologia: conceitos fundamentais e gerais e termos associados (VIM). Rio de Janeiro: ABNT, 2013. BRASIL. Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia. Sistema Internacional de Unidades (SI). Brasília: Inmetro, 2021. DE LIRA, F. A. Metrologia na indústria. São Paulo: Saraiva Educação SA, 2016. 19 Conceitos e Fundamentação Matemática da Metrologia 3D e Tecnologia de Medição por Coordenadas. Autoria: Luciano José Dantas Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Conceituar a Metrologia 3D no contexto atual de utilização e Indústria 4.0. • Apresentar a fundamentação matemática utilizada na Metrologia 3D. • Destacar a tecnologia da medição por coordenadas e suas aplicações principais. 20 1. Conceitos de Metrologia 3D Dentre as revoluções industriais a que o mundo foi submetido, a Quarta Revolução caracteriza-se pela presença cada vez maior da eletrônica, da informática e da tecnologia da informação. A informação digital é cada vez mais presente em nossas vidas – como, por exemplo, nas redes sociais, no modo como estudamos, na leitura, no jeito como assistimos filmes, nas relações comerciais e nas indústrias e empresas de serviço de um modo geral. Você já ouviu ou leu sobre o termo “Indústria 4.0”? Esse é o ponto principal para abordarmos nossos conceitos de Metrologia 3D. A Indústria 4.0, ou Quarta Revolução Industrial, é um termo utilizado para identificar essa revolução, que utiliza tecnologias para automação industrial, troca de informações e conceitos como big data, internet das coisas, realidade aumentada, robôs autônomos, segurança da informação, computação em nuvem e manufatura aditiva. Esse conceito surgiu na Alemanha, por volta de 2011, para identificar uma nova forma de produção que integrou as tecnologias digitais das máquinas e que prepara uma fábrica para a melhoria da qualidade produtiva, adequada ao mercado mais exigente. A Figura 1 ilustra operários de uma fábrica controlando um processo industrial através desses conceitos: Figura 1 – Operadores controlando uma linha de produção com conceito de Indústria 4.0 Fonte: https://stock.adobe.com/ 21 Essa integração entre as tecnologias atuais das máquinas e equipamentos (monitoramento, sensoriamento, informação de processo) com a tecnologia da informação montou a base dessa Quarta Revolução Industrial, que busca, de acordo com Santos et al. (2018), convergir níveis importantes de sensoriamento, controle e inteligência artificial com os requisitos de comunicação e intercomunicação de forma consistente e estabelecida globalmente. Podemos entender que a Metrologia 3D está inserida nesse contexto e, por definição, é um processo de medição que utiliza técnicas e ferramentas aptas a analisar objetos em três dimensões. Esse processo tem uma relevância muito grande em um momento em que as empresas necessitam se adequar aos padrões de qualidade eprodutividade exigidos pelo mercado global e pelos preceitos da Indústria 4.0. Você provavelmente está acostumado e aprendeu Metrologia utilizando os processos convencionais de medição em duas dimensões, com utilização de instrumentos tradicionais. Esse modelo tem suas limitações, visto que, atualmente, há necessidade de medições mais rápidas, mais precisas e que possam gerar informações adequadas para a garantia de qualidade dos produtos. Será que a Metrologia 3D é uma ciência? Podemos entender que sim, pois envolve estudos aplicados aos processos de medição e equipamentos utilizados para esse fim, além de normas e requisitos técnicos similares à Metrologia convencional. A Metrologia 3D envolve operações de captura, interpretação e análise de dados, como dimensões, forma e posição de objetos tridimensionais. Os processos de medição estão presentes nos mais diversos segmentos, como a indústria manufatureira, a engenharia de produtos, a indústria aeroespacial, o setor de petróleo e gás, entre outros, e a técnica 22 ganha um espaço cada vez maior dentro das empresas. As operações necessárias para a medição utilizando a Metrologia 3D podem ser divididas em três partes, conforme demonstrado no Quadro 1: Quadro 1 – Operações básicas da Metrologia 3D Operação Descrição Captura de imagens Nessa operação, faz-se uso de instrumentos específicos para capturar todas as medidas físicas de um objeto tridimensional, ou seja, há uma digitalização do objeto, dependendo do equipamento utilizado. Podemos utilizar equipamentos como scanners a laser 3D, braços de medição, sistemas de fotogrametria e tomógrafos. Processamento de dados Nessa operação, os dados coletados pelos instrumentos são transformados, através de softwares específicos, em modelos tridimensionais do objeto cujas imagens capturamos. Análise de dados Nessa operação, faz-se a comparação do modelo tridimensional do objeto, gerado pelo software, com as especificações, tolerâncias dimensionais e tolerâncias geométricas, a fim de identificar irregularidades e garantir a conformidade do objeto com sua especificação técnica. Pode ser considerada uma fase de inspeção. Fonte: elaborado pelo autor. Dentre as principais aplicações da Metrologia 3D, podemos destacar o controle de qualidade, em que os equipamentos fazem a verificação das dimensões e formas geométricas dos produtos, a fim de que estes atendam às especificações técnicas determinadas pela engenharia de produto. A engenharia reversa é um outro exemplo de aplicação da Metrologia 3D. Nesse processo de engenharia, objetivamos descobrir a tecnologia e o funcionamento de um dispositivo, objeto ou sistema, analisando sua estrutura física e a função dentro da operação. Nesse caso, os equipamentos de digitalização podem criar modelos exportados para 23 softwares tipo CAD (Computer Aided Design) – cuja tradução é Desenho Auxiliado por Computador –, que permitem modificar ou reproduzir essas peças. Na prototipagem rápida, que é utilizada para criar modelos preliminares de produtos novos ou repaginados, podemos aplicar a Metrologia 3D para medir e validar os protótipos gerados durante o processo de desenvolvimento desses produtos. Em termos gerais, podemos concluir que a Metrologia 3D é uma técnica de medição mais avançada que utiliza equipamentos sofisticados tecnologicamente, alinhada com a tendência da Indústria 4.0 e com várias aplicações além da tradicional medição. 2. Fundamentação Matemática da Medição 3D A Matemática é uma ciência fundamental para qualquer estudo, seja ele de qual área for, principalmente quando falamos de tecnologia. Entender seus fundamentos e sua aplicabilidade nos mais variados contextos é de grande relevância para qualquer profissional. A metrologia 3D, assim como outras técnicas utilizadas na indústria, utiliza vários fundamentos matemáticos em seus processos, sejam eles para a captura de imagens, para o processamento dessas figuras e para a análise dos dados tridimensionais gerados pelos equipamentos e softwares dedicados. A aplicação correta desses fundamentos na concepção dos equipamentos, na programação dos softwares e nas técnicas de análise pode garantir a excelente precisão e exatidão das medições realizadas com essa técnica. 24 Dentre os fundamentos utilizados, o primeiro que podemos citar é a geometria plana ou euclidiana. Euclides foi um matemático grego, criador da famosa escola de matemática de Alexandria por volta de 300 a.C., na qual foi professor (Eves, 2011). Trata-se da forma mais comum da geometria, que estuda as propriedades e as relações das figuras geométricas em um espaço bidimensional (plano) de acordo com os axiomas de Euclides. A Figura 2 ilustra um dos teoremas de Euclides relacionado ao triângulo retângulo: Figura 2 – Teorema de Euclides sobre a altura de um triângulo retângulo Fonte: https://stock.adobe.com. Os principais elementos e características da geometria euclidiana incluem o estudo de: • Pontos e linhas: a geometria euclidiana define os pontos, objetos sem dimensões e linhas, que são conjuntos infinitos de pontos que se estendem em ambas as direções. • Ângulos e polígonos: o estudo dos ângulos formados por linhas que se encontram e das figuras formadas por essas linhas, como os triângulos, quadrados e pentágonos. 25 • Paralelismo: em sua obra “Os Elementos”, Euclides fundamenta seu Postulado das Paralelas, no qual considera que por um ponto passa uma única reta paralela a uma reta dada. • Congruência e semelhança: os estudos de Euclides exploram temas como a congruência (igualdade de forma e tamanho) e semelhança (proporcionalidade de forma) entre figuras geométricas. • Teoremas: os textos de Euclides, principalmente o escrito em sua obra fundamental, são repletos de teoremas, conhecidos como Teoremas de Euclides, que descrevem as propriedades e relações entre as figuras geométricas. O Teorema de Pitágoras é o exemplo mais famoso, que descreve a relação entre os lados de um triângulo retângulo. Outro fundamento matemático importante no entendimento da Metrologia 3D é a álgebra linear. Esse ramo da matemática tem como objetos de estudo as equações e sistemas lineares, os polinômios, as matrizes, os determinantes e os cálculos algébricos pertinentes. A palavra “álgebra”, de origem árabe, é uma variante da palavra al jabr, que teria sido utilizada pela primeira vez no título da obra “Hisab al-jabr w’al-muqabalah”, em torno de 830 anos d.C., traduzida como “Compêndio de cálculo por reintegração e comparação”. A autoria é do matemático e astrônomo persa Muhammad ibn Musa al-Jwarizmi, conhecido como Al Juarismi. Os estudos iniciais da álgebra chegaram ao Ocidente e deram origem à álgebra abstrata no século XIX, a partir da consolidação de números complexos durante os séculos anteriores nas obras de matemáticos como Gabriel Cramer (1704-1752), Leonhard Euler (1707-1783) e Adrien- Marie Legendre (1752-1833). 26 Em termos de contribuições para a tecnologia de Metrologia 3D, podemos reconhecer os estudos de vetores e matrizes, em que são utilizados vetores para representar pontos e direções no espaço 3D e matrizes, usadas para transformações geométricas como translações, rotações e escalas, para as transformações lineares, que abordam cálculos e operações que incluem rotação, translação, escala e reflexão para manipular objetos tridimensionais e para o sistemas de coordenadas, que aborda transformações entre diferentes sistemas de coordenadas (local, global, etc.). A Figura 3 ilustra o sistema de coordenadas bidimensional (2D), com os eixos x e y, e o sistema de coordenadas tridimensional (3D), com os eixos x, y e z: Figura 3 – Ilustração dos sistemas de coordenadas 2D e 3D e seus respectivos eixos Fonte: https://stock.adobe.com. A computação gráfica é repleta de álgebra linear: a manipulação de imagens – como o redimensionamento de uma foto –, a coloração de ícones em um computador e a renderizaçãode gráficos em jogos. A geometria analítica é outro fundamento matemático utilizado na Metrologia 3D e teve seus estudos iniciais datados no século XVII pelos franceses Pierre de Fermat e René Descartes. Ela combina álgebra e 27 geometria para estudar pontos, linhas e figuras no plano e no espaço tridimensional. Utilizando um sistema de coordenadas, como o cartesiano, é possível representar equações e propriedades geométricas de forma algébrica. Ela permite resolver problemas complexos e é fundamental em diversas aplicações. A Estatística desempenha um papel fundamental na análise e interpretação de modelos tridimensionais em diversas áreas do conhecimento. Em engenharia, podemos destacar a análise estatística de modelos tridimensionais de estruturas complexas, como pontes e edifícios, e a avaliação da resistência dos materiais, prevendo como as estruturas irão se comportar nas condições de carga a que podem ser submetidas. Podemos utilizar a Estatística na computação gráfica, para a criação e o aprimoramento de modelos tridimensionais de objetos, bem como para desenvolver algoritmos de renderização a fim de produzir imagens mais realistas. Para verificar incerteza e variabilidade dos dados tridimensionais, as ferramentas da Estatística podem gerar análises mais precisas, calculando e interpretando as incertezas associadas às medições tridimensionais, com o ajuste de curvas e superfícies, através de métodos como regressão linear e não-linear, aos dados de medição. Também podemos identificar e quantificar erros sistemáticos e aleatórios oriundos das medições geradas pelos equipamentos de medição 3D. O cálculo diferencial e integral foi a maior realização no campo da matemática no século XVII, e vários matemáticos contribuíram para a consolidação dessa ferramenta, mas atribui-se a Newton e Leibniz a criação dessa técnica. Para nosso estudo, entendemos que o cálculo diferencial vai se aplicar na análise de curvatura de superfícies para 28 entender a forma e a suavidade dos objetos, utilizando derivadas para determinar como uma função muda em relação a uma variável, e o cálculo integral vai lidar com a acumulação de quantidades e a determinação de áreas sob curvas. Na utilização de integrais, podemos calcular a área sob uma curva, o volume de um sólido de revolução ou a soma total de pequenas mudanças. Os problemas matemáticos mais difíceis ou que não podem ser resolvidos com a forma analítica podem ser resolvidos pelas técnicas dos Métodos Numéricos, que empregam algoritmos iterativos e aproximações, objetivando conseguir resultados numéricos satisfatórios. Dentre os métodos mais utilizados destacamos: • Método de Newton-Raphson, para encontrar raízes de funções; • Métodos de integração numérica, como a Regra do Trapézio e a Regra de Simpson; • Métodos de resolução de sistemas lineares, como a Eliminação de Gauss. Na aplicação dentro da Metrologia 3D, podemos destacar a interpolação e aproximação, a partir das quais utilizamos métodos como interpolação polinomial e splines para aproximar dados de medição e gerar modelos contínuos, e as Técnicas de Otimização para minimizar erros em ajustes de modelos e calibrar sistemas de medição. Outro fundamento importante é a Análise de Fourier, ou método de Fourier. É uma poderosa ferramenta matemática utilizada para decompor funções ou sinais em suas componentes de frequência e foi desenvolvida por Jean-Baptiste Joseph Fourier no século XIX. Uma das aplicações mais conhecidas é a Transformada de Fourier, que converte uma função do domínio do tempo para o domínio da 29 frequência, facilitando a análise de sinais periódicos e a resolução de equações diferenciais, sendo esse método usado em áreas como acústica, processamento de imagens, comunicação e processamento de sinais, pois permite a análise e a manipulação de dados complexos de maneira eficiente. Em resumo, apresentamos no Quadro 2 os fundamentos matemáticos e suas contribuições para que você, aluno, tenha um melhor entendimento. Quadro 2 – Fundamentos matemáticos e suas aplicações em Metrologia 3D Fundamento Contribuição Geometria Plana ou Euclidiana Estudo das propriedades e as relações das figuras geométricas em um espaço bidimensional. Álgebra Linear Estudo dos vetores, matrizes e transformações lineares. Geometria Analítica Combinação de álgebra e geometria para estudo de pontos, linhas e figuras no plano e no espaço tridimensional. Estatística Verificação de incerteza e variabilidade dos dados tridimensionais. Identificação e quantificação de erros sistemáticos e aleatórios. Cálculo Diferencial e Integral Análise de curvatura de superfícies determinação de áreas sob curvas, cálculo de volume de um sólido de revolução ou a soma total de pequenas mudanças. Métodos Numéricos Aproximação de dados de medição e geração de modelos contínuos, e otimização para minimizar erros em ajustes de modelos e calibração de sistemas de medição. Análise de Fourier Análise e manipulação de dados complexos de maneira eficiente. Fonte: elaborado pelo autor. 30 3. Tecnologia de Medição por Coordenadas A tecnologia de medição por coordenadas é considerada fundamental na garantia de precisão na inspeção, controle de qualidade do produto e conformidade com as normas de fabricação nas indústrias de vários segmentos como a automotiva, a mecânica de precisão, a aeroespacial, a de manufatura, a de plástico e demais setores que necessitam avançar tecnologicamente nos processos de medição. A medição por coordenadas é definida por Raghavendra e Krishnamurthy (2013) como aquela executada por instrumentos ou máquinas capazes de medir em todos os três eixos ortogonais (X, Y, Z), permitindo a localização de coordenadas de pontos em um espaço tridimensional (3D) e capturando simultaneamente as dimensões e as relações ortogonais. Os benefícios dessa tecnologia são vários, dentre os quais podemos destacar o fornecimento de medições altamente precisas, a redução de tempo para medir e inspecionar peças complexas, a versatilidade em relação à gama de objetos e tipos de industriais que podem utilizar e a geração documentação com registros detalhados e com rastreabilidade. Dentre os princípios básicos de operação num sistema de medição por coordenadas, podemos destacar que o sistema se baseia em coordenadas tridimensionais para mapear a posição de pontos na superfície de um objeto, fazendo uso de sensores para capturar as coordenadas dos pontos no objeto medido. Após esse processo, os dados capturados pelos sensores são enviados a um software de análise que os compara como modelos CAD do objeto medido para verificar a conformidade dimensional e relacionar possíveis desvios. São vários os tipos de equipamentos e sistemas utilizados na medição por coordenadas, com tecnologias e aplicações diversas, inclusive além da medição. Relacionamos a seguir alguns desses equipamentos: 31 • Máquina de Medição por Coordenadas (CMM). • Sistemas de Fotogrametria. • Scanners a Laser. • Braços de Medição Articulados. A Figura 4 ilustra uma Máquina de Medição por Coordenadas executando uma medição. Figura 4 – Máquina de Medição por Coordenadas inspecionado uma peça de engenharia Fonte: https://stock.adobe.com. Destacamos a suma importância da medição por coordenadas para a garantia de precisão, qualidade, agilidade nos processos de medição 3D nas mais diversas indústrias. O conhecimento dos equipamentos, softwares e possibilidades dessa tecnologia se faz necessário para assegurar a fabricação de produtos que atendam às especificações e padrões exigidos. 32 Referências EVES, H. Introdução à história da matemática. Campinas: Editora da Unicamp, 2011. RAGHAVENDRA, N. V.; KRISHNAMURTHY, L. Engineering metrology and measurements. New Delhi: Oxford University Press, 2013. SANTOS, M. M. D.; LEME, M. O.; JUNIOR, S. L. S. Indústria 4.0: fundamentos, perspectivas e aplicações. São Paulo: Saraiva EducaçãoSA, 2018. 33 Tecnologia, Equipamentos, Processo de Captura de Imagens e Softwares para Metrologia 3D. Autoria: Luciano José Dantas Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Apresentar as tecnologias utilizadas na Metrologia 3D. • Destacar os equipamentos principais para a Metrologia 3D e suas características. • Definir como funciona o processo de captura de imagens. • Destacar tipos de softwares de engenharia aplicados na Metrologia 3D. 34 1. Tecnologias e Equipamentos utilizados em Metrologia 3D As medições de um objeto físico, como a de um eixo de comando de válvulas de um motor a combustão, contemplam a verificação de dimensões como larguras, profundidades, diâmetros, raios, rasgos, roscas, entre outras. Esses objetos, como eixos de comando de válvulas, por exemplo, podem ter detalhes complexos ou situação de verificação de tolerâncias que não conseguimos verificar com a metrologia convencional, o que justifica a adoção de um sistema de medição mais avançado tecnologicamente como os utilizados na Metrologia 3D. A tecnologia de medição 3D utiliza como princípio as coordenadas tridimensionais (X,Y,Z) para determinar as relações existentes entre os pontos na superfície de um objeto, e faz uso de sensores para captar esses pontos no objeto e de softwares de análise para identificar as conformidades com o projeto e relacionar os possíveis desvios. A qualidade e a assertividade de uma medição 3D passam obviamente por condições de medição bem estabelecidas, as quais podemos discutir por alguns aspectos importantes que devem ser considerados na definição dos processos de controle dimensional. O primeiro aspecto que podemos considerar nas condições é a do projeto, que deve contemplar todas as tolerâncias dimensionais e de geometria de um objeto, de modo que permita ao metrologista planejar adequadamente qual ferramenta utilizar para o controle e quais os pontos a serem observados na inspeção. Um outro aspecto importante a ser observado é a seleção correta da tecnologia a ser utilizada para a medição. Nesse ponto, deve-se verificar se a empresa possui o equipamento selecionado e se ele poderá atender tecnicamente às necessidades da medição. Caso a empresa não o tenha, 35 o equipamento poderá ser objeto de uma aquisição ou a medição poderá ser feita por uma empresa contratada. Em relação ao pessoal que executará a medição, devemos compreender que os técnicos de qualidade devem ser qualificados, ter conhecimento da tecnologia utilizada e possuir habilidades suficientes para preparar e operar os equipamentos, tal como para fazer corretamente a coleta de dados, transmiti-los para os softwares de análise e interpretar os resultados de modo coerente. Em relação aos equipamentos utilizados em metrologia 3D, vamos relacionar alguns presentes nas empresas que necessitam ter suas medições realizadas com essas tecnologias por motivos de melhoria de qualidade e produtividade. 1.1 Máquinas de Medição por Coordenadas (MMC) As máquinas de medição por coordenadas, conhecidas pela sigla MMC, são equipamentos utilizados para medição física de objetos com sistema de coordenadas tridimensionais para detecção dos pontos na superfície das peças. Segundo Raghavendra e Krishnamurthy (2013), os primeiros protótipos desse tipo de máquina surgiram nos Estados Unidos da América, nos anos 1960, e as versões modernas apareceram na década de 1980, devido ao desenvolvimento da tecnologia da informática. Os autores salientam, ainda, que a principal aplicação desse tipo de equipamento é a inspeção. As MMCs possuem uma estrutura mecânica composta por base, onde o objeto a ser medido é colocado, eixos para movimentação da sonda em todas as direções, e sonda, que é o elemento que interage com o objeto para fazer a medição, podendo ser do tipo tátil, óptico ou por laser. 36 Operacionalmente, a MMC utiliza o sensor para fazer contato com a superfície do objeto. A máquina possui um sistema controlador computadorizado que recebe os sinais dos sensores e executa os cálculos para determinar as posições nos eixos X, Y, Z dos pontos medidos. O software de medição integrado com a máquina faz a comparação dos dados coletados com os modelos CAD (Computer-Aided Design) destinados ao objeto, permitindo a visualização do objeto e a geração de uma análise dimensional através de relatórios, que podem apresentar também tolerâncias, desvios e demais criticidades que se deseja identificar nas peças. A Figura 1 ilustra um processo de medição utilizando a máquina de medir por coordenadas. Figura 1 – Equipamento MMC medido uma peça automotiva Fonte: https://stock.adobe.com. 1.1 Scanners a Laser Outro equipamento importante na Metrologia 3D é o scanner a laser. Esses equipamentos foram desenvolvidos utilizando a tecnologia do laser para capturar dimensões e forma de objetos de modo rápido e com alta precisão operacional. Os scanners têm a capacidade técnica de digitalizar objetos físicos como peças usinadas, fundidas com muitos detalhes, criando nuvens 37 de pontos de dados onde podemos medir detalhes mínimos de um produto. Essa possibilidade é fundamental para desenvolver produtos e controlar a qualidade na produção. Em relação ao histórico de desenvolvimento, Edl, Mizerák e Trojan (2018) descreveram que a digitalização a laser em três dimensões foi desenvolvida durante a última metade do século 1920 com a finalidade de recriar precisamente superfícies de objetos e lugares, sendo o primeiro equipamento na década de 1960. Os autores pontuam que os primeiros scanners utilizavam luzes, câmeras e projetores, mas eram limitados operacionalmente, bem diferentes dos modelos atuais. De modo geral, os scanners a laser operam emitindo um feixe de laser na direção da superfície do objeto a ser escaneado. Essa luz é refletida, e o receptor do scanner a captura. A partir dessa captura, faz-se a medição da distância, através do cálculo de tempo de ida e volta do feixe de laser ou calculando a distância utilizando o ângulo formado entre o feixe e a reflexão dele. Os dados coletados nessa operação, que se realizam em todo o objeto, formam uma nuvem de pontos tridimensional representativa da superfície analisada. Essa nuvem é transformada em uma malha poligonal, que é comparada com o modelo CAD utilizado para a verificação de conformidade de dimensões e demais especificações. Para uma correta operação, devemos inicialmente selecionar o tipo de scanner adequado à aplicação, considerando as variáveis de resolução da imagem, as dimensões tridimensionais do objeto – para checar se há alcance do instrumento – e a precisão de medição. Após a seleção, devemos nos preocupar em preparar o objeto a ser medido, fazendo a limpeza da peça, aplicando os marcadores de referência, se necessário, e o posicionando no local de medição, de modo a garantir que esteja estável e com acessibilidade. A Figura 2 apresenta uma medição de peça utilizando essa tecnologia. 38 Figura 2 – Equipamento Scanner a Laser escaneando uma peça de metal Fonte: https://stock.adobe.com. Ainda na operação, o scanner deve ser calibrado, e seus parâmetros de captação de imagem ajustados. Após esse processo, para iniciar o processo de captura de imagens, o equipamento deve ser posicionado com auxílio de tripés ou braços articulados. Uma observação importante é que o local de medição deve estar iluminado adequadamente e permitir a movimentação do equipamento em toda a extensão da peça. Como a operação com laser gera riscos, o operador do scanner deve utilizar os equipamentos de proteção individual necessários para essa tarefa, não esquecendo de proteger também as demais pessoas que estão ao redor, se for o caso. 1.3 Sistemas de Fotogrametria A fotogrametria de três dimensões é uma técnica de mapeamento de formas, geometrias e dimensões de uma peça que utiliza múltiplas fotografias, sendo um processo em que não é necessário que o equipamento toquena peça. O princípio fundamental é a triangulação, na qual se faz necessária a captura de pelo menos duas imagens em posições diferentes para medir pontos no objeto. 39 Em seu trabalho, Da Silva (2015) comentou que o termo Fotogrametria apareceu no ano de 1855, criado pelo geógrafo Kersten, e foi introduzido por Albrecht Meydenbauer (1834-1921) na literatura internacional em 1893, ao fotografar edificações de grande valor arquitetônico na Alemanha. A técnica começou a ser desenvolver no século XX, originalmente para fins militares. O desenvolvimento da tecnologia de computação permitiu que a técnica fosse utilizada em outras áreas. Para fazermos e referenciarmos as medições, devemos colocar pontos- alvo no objeto a ser medido. O sistema básico para essa técnica é composto por uma câmera fotográfica para registrar as imagens, pontos-alvo para marcação no objeto, barras de escala para referenciar as dimensões e um software para processamento dos dados e criação do modelo 3D. A Figura 3 ilustra o resultado de uma peça gerada em software a partir de um modelo real. Figura 3 – Peça metálica modelada em 3D Fonte: https://stock.adobe.com. Em seu processo de medição, inicialmente temos que capturar as imagens do objeto com os pontos-alvo, ressaltando a necessidade de utilizar diversos ângulos de captação e uma qualidade de resolução adequada para que a imagem possa ser utilizada de modo preciso. 40 As imagens captadas devem ser processadas por um software dedicado para a Fotogrametria, que faz a correspondências das imagens para o mapeamento dos detalhes do objeto (linhas, pontos e formas). O resultado desse processamento é a criação de um modelo tridimensional do objeto, em um formato digital ou em um mapa. O formato digital gera um arquivo com a informação e geometria do objeto, enquanto o mapa gera um arquivo com as informações dimensionais do objeto para efeito comparativo e análise dimensional. Outra técnica que podemos utilizar nesse contexto são os Sistemas Intuitivos de Visão, nos quais utilizamos câmeras industriais de alta resolução, sistemas de iluminação aliados com softwares de análise para inspecionar com rapidez, precisão e automação processos de manufatura, fabricação de alimentos e bebidas, soldas, veículos e infraestruturas. Podemos entender que essa técnica substitui a visão humana em processos industriais. Podemos utilizar essa técnica, também, para a engenharia reversa, principalmente quando necessitamos gerar modelos de objetos complexos e de grandes dimensões como partes de máquinas, de veículos e equipamentos em geral. 1.4 Braços de Medição Articulados Os braços de medição articulados são dispositivos para medição em 3D que possuem a vantagem de serem portáteis e oferecerem maior flexibilidade do que as máquinas de medição por coordenadas (MMC), que, por sua vez, têm limitações de utilização devido a seu sistema de três eixos e espaço de medição. Outro aspecto interessante desse equipamento é que ele pode fazer medições em qualquer ambiente, inclusive dentro de uma fábrica. 41 Os braços do equipamento são fabricados com juntas articuladas que possuem sensores de posição, configurados com seis ou sete eixos para garantir liberdade de movimento em várias direções e permitindo medição de objetos e superfícies mais complexas geometricamente. Em sua operação, os braços de medição articulados utilizam sensores para detectar os pontos da superfície do objeto. Esses sensores podem ser do tipo toque, com contato, ou laser, sem contato, selecionados de acordo com a operação a ser executada. Os braços são montados em uma base fixa para que a medição realizada seja estável e garanta a qualidade do serviço. Após a coleta de dados do objeto, uma interface digital presente no equipamento registra essas informações levando em consideração a posição do sensor e das juntas articuladas, calculando, assim, a posição correta do ponto do objeto no espaço tridimensional. Essas informações são enviadas para um software dedicado, que transforma os dados em um modelo tridimensional para fazer a comparação com modelos CAD do objeto. O resultado desse processo é o relatório de inspeção gerado pelo software, no qual podemos avaliar dimensionalmente o objeto, identificando desvios e demais requisitos previstos no plano de inspeção. Salientamos que a grande vantagem do equipamento é sua operação versátil, pois é combinada a tecnologia de uma MMC com um equipamento portátil, podendo, assim, medir peças de geometria complexa de uma maneira rápida e em ambientes diversos. Essa versatilidade proporciona características interessantes, como a de poder medir objetos de acordo com a necessidade, sem programação de rotinas, e levar o equipamento para medição no campo. Nesse aspecto, podemos entender que empresas fabricantes de equipamentos de grande porte, que normalmente operam com encomendas e não podem 42 movimentar muito seus equipamentos no ambiente fabril, podem utilizar os braços de medição articulados em seus processos de medição e qualidade. 2. Processo de Captura de Imagens A Metrologia 3D tem como início de processo a captura de imagens e dados, em qualquer equipamento destacado. A partir dessa captura, os dados podem ser processados, transformados em modelos tridimensionais do objeto analisado e comparados com modelos CAD disponíveis nos softwares de análise metrológica. Para garantir que o processo de medição – principalmente os que utilizam imagens – seja executado com qualidade e precisão adequadas, alguns pontos devem ser observados. O primeiro deles é a preparação do objeto a ser analisado e do ambiente. O objeto tem que estar limpo, sem resíduos de fabricação ou rebarbas, e o ambiente deve ter iluminação adequada, sem sombras e reflexos que possam interferir no processo de captação de imagens. Se necessário, aplicar os marcadores no objeto para garantir o alinhamento de imagens. A seleção adequada do equipamento de captação de imagens, principalmente os scanners a laser, tem que obedecer a uma lógica de escolha que inclui o dimensional do objeto, sua geometria e a resolução da imagem a ser gerada pelo equipamento. No processo de captura de imagens em si, devemos garantir que o objeto esteja fixo em uma posição, ou em uma estrutura de movimentação adequada ao processo que estamos utilizando para 43 que o equipamento possa acessar o objeto nos diferentes ângulos necessários para uma completa digitalização. A seguir, podemos verificar no Quadro 1 o comparativo entre os processos de medição apresentados. Quadro 1 – Comparativo dos processos de medição tridimensional Processo Velocidade de captura Limitação Precisão Máquina de medição por coordenadas Lenta a moderada, dependendo da complexidade da peça. Tamanho da mesa da máquina. Alta, dependendo do sensor utilizado. Scanner a laser Rápida, milhões de pontos por segundo. Superfícies brilhantes e custo elevado. Alta, dependendo da resolução do scanner. Sistema de Fotogrametria Moderada, devido ao tempo necessário para capturar e processar as imagens. Número elevado de imagens para obter alta precisão, sensibilidade a iluminação. Moderada a alta precisão, dependendo da qualidade das imagens e do software utilizado. Braço de Medição Articulado Moderada, dependendo da habilidade do operador. Alcance limitado pelo comprimento do braço. Alta precisão, dependendo do equipamento utilizado. Fonte: elaborado pelo autor. Devemos garantir, também, que os dados capturados sejam efetivamente enviados aos softwares de processamento de imagens. Para isso, devemos checar o funcionamento do equipamento, os cabos e interfaces de comunicação, além de verificar a capacidade disponível de armazenamento de dados no computador que receberá as informações. 44 3. Softwares de Metrologia 3D Você consegue imaginar os processos de medição e digitalização da Metrologia 3D sem auxílio de softwares?Esses são elementos fundamentais e vitais para que possamos criar modelos tridimensionais de objetos, capturar e processar dados obtidos das peças analisadas, fazer a comparação e análise dos dados com modelos CAD e gerar relatórios detalhados de inspeção do equipamento. O Quadro 2 classifica os tipos de softwares que podem ser utilizados no processo e suas aplicações principais. Quadro 2 – Tipos de softwares e suas aplicações na Metrologia 3D Tipo de Software Aplicações CAD Integrado Realizar desenho e projeto de modelos 3D, integrado com módulos de fabricação, inspeção e análise metrológica. Captura de Dados Capturar e processar volumes de dados com alta precisão e gerar nuvens de pontos. Processamento e Modelagem Converter e processar nuvens de pontos em modelos tridimensionais e malhas 3D. Inspeção Comparar modelos gerados pelo processo de captação com os modelos CAD do projeto da peça. Gerar relatórios e análises do objeto inspecionado. Análise Analisar estatisticamente os dados de inspeção e gerar relatórios de inspeção detalhados. Fonte: elaborado pelo autor. Em suma, os processos de medição da Metrologia 3D envolvem tecnologias abrangentes, desde os equipamentos desenvolvidos para essas aplicações, os softwares que devemos utilizar e os cuidados que temos que observar nas operações, visando garantir confiabilidade e resultados compatíveis com o investimento que esses processos necessitam. 45 Referências DA SILVA, D. C. Evolução da fotogrametria no Brasil. Revista Brasileira de Geomática, v. 3, n. 2, p. 81-96, 2015. EDL, M. M. T. J.; MIZERÁK, M.; TROJAN, J. 3D laser scanners: history and applications. Acta Simulatio, v. 4, n. 4, p. 1-5, 2018. RAGHAVENDRA, N. V.; KRISHNAMURTHY, L. Engineering metrology and measurements. New Delhi: Oxford University Press, 2013. 46 Garantia de Rastreabilidade nas Medições 3D. Exemplos e Aplicações da Metrologia 3D. Limitações da Metrologia 3D. Autoria: Luciano José Dantas Leitura crítica: Charlie Hudson Turette Lopes Objetivos • Definir o conceito de rastreabilidade aplicado na Metrologia 3D. • Destacar exemplos e aplicações da Metrologia 3D em algumas áreas. • Apresentar algumas limitações e situações que podem ser encontradas no uso da Metrologia 3D. 47 1. Garantia de Rastreabilidade nas Medições 3D Todos os processos de medição executados em uma empresa têm como requisito fundamental que o instrumento ou sistema tenha sua rastreabilidade garantida. Mas o que é rastreabilidade? Se você adquire um produto qualquer industrializado, você pode verificar que constam em sua embalagem informações do lote de fabricação, número de série e sua validade, se for aplicável. Você pode perguntar: o que isso tem a ver com nosso assunto? Na realidade, são informações que chegam ao consumidor comum e que fazem parte de um sistema de garantia de qualidade das empresas. Nesse sistema, devem constar todas as informações relativas ao processo de fabricação de um determinado objeto, as condições em que foi produzido e quais instrumentos de medição foram utilizados para garantir a sua qualidade. De Lira (2016) define esse processo como confirmação metrológica, que é a atividade de suporte de gerenciamento da garantia da qualidade, a qual objetiva assegurar a confiabilidade dos dados que determinam a qualidade de um produto ou o efetivo controle de um processo. A rastreabilidade metrológica, na definição do Vocabulário Internacional de Metrologia (2013), consta como a propriedade do resultado de medição pela qual tal resultado pode ser relacionado a uma referência através duma cadeia ininterrupta e documentada de calibrações, cada uma contribuindo para a incerteza de medição. Para os sistemas e equipamentos utilizados na Metrologia 3D, a rastreabilidade metrológica tem uma importância fundamental na 48 garantia das precisões das medições executadas e na confiabilidade de todos os resultados obtidos, desde a coleta das imagens até os relatórios finais de inspeção. Para que isso seja assegurado, precisamos garantir que alguns requisitos e exigências sejam feitos antes, durante e depois do processo de medição. Um desses requisitos é a calibração. A calibração é, segundo o VIM (2013), uma operação que visa estabelecer, sob condições especificadas, uma relação entre os valores indicados pelo instrumento ou sistema de medição e os fornecidos por padrões, incluindo as incertezas de medição associadas. Deve-se garantir que os equipamentos de medição 3D sejam calibrados com a regularidade que suas operações necessitam, de acordo com a indicação dos fabricantes e com as normas nacionais e internacionais aplicáveis. Essas calibrações devem ser executadas utilizando os padrões de calibração certificados e rastreáveis por padrões nacionais ou internacionais, como os fornecidos pelo Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) diretamente ou através dos laboratórios de calibração que compõem a Rede Brasileira de Calibração (RBC). Esses laboratórios são acreditados segundo a norma ABNT NBR ISO/IEC 17025: 2017 (Requisitos gerais para a competência de laboratórios de ensaio e calibração). Recomenda-se, também, que os equipamentos calibrados sejam objeto de verificações periódicas através de procedimentos, para checar se apresentam resultados de medição com a precisão requerida ao longo do tempo de operação e garantia da confiabilidade no uso. 49 As empresas podem fazer esse controle através de softwares de gestão de ativos, como os utilizados em manutenção, para gerenciar a situação de cada instrumento em relação à sua calibração, tempo de operação, ajustes feitos no equipamento, desvios encontrados e provável data de envio para nova calibração. Alguns equipamentos que utilizamos na metrologia 3D podem sofrer influência das características do ambiente em que estão executando as medições, como temperaturas altas, umidade, pó, vibrações do processo etc. Nesse aspecto, recomenda-se utilizar, dentro do possível, os equipamentos em um ambiente mais propício ou com condições que evitem essas intempéries. Essa recomendação visa garantir a precisão das medições e aumentar o tempo útil da calibração dos equipamentos. A norma ABNT NBR ISO 9001:2015 (Sistemas de gestão da qualidade – Requisitos) estabelece requisitos para o Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) de uma organização, dentre os quais estão a Rastreabilidade de Medições (item 7.1.5.2) e a Informação Documentada (item 7.5). Nesse ponto, as operações envolvidas na medição 3D devem ser registradas e mantidas na empresa para garantir a rastreabilidade do que foi executado, desde os documentos de calibração de um equipamento, as medições feitas, equipamentos que realizaram operações, condições ambientais de medição e os resultados encontrados em cada operação. O treinamento e a capacitação dos funcionários de uma empresa que executam as medições 3D nos equipamentos é um requisito fundamental para garantir a correta execução das operações de acordo com os procedimentos adequados. Para a garantia de que todo o processo de medição 3D seja confiável, sugere-se a execução de auditorias internas e externas que possam 50 verificar se o sistema implantado está realizando os procedimentos corretamente e atingindo o objetivo final, que é a rastreabilidade e qualidade do que está sendo produzido. 2. Exemplos e Aplicações da Metrologia 3D As operações de medição têm uma importância fundamental em diversos setores e tipos de indústrias. O avanço tecnológico durante as diversas fases da revolução industrial, o surgimento da tecnologia de informação e as necessidades operacionais de medições com mais precisão, rapidez e confiabilidade fazem com que a Metrologia 3D ocupe cada vez mais espaço dentro das mais variadas áreas. Diversos segmentos fazem uso da tecnologia, e iremos destacar alguns importantes e suas aplicações. A indústria automotiva sempre foi pioneira em utilizaçãode tecnologias diversas de projetos, fabricação e inspeção para fabricar veículos com mais rapidez e qualidade, contribuindo de modo ímpar no desenvolvimento econômico e tecnológico dos locais onde estão instaladas as fábricas montadoras de veículos. No caso específico de utilização da metrologia 3D, podemos destacar que esse tipo de indústria faz a inspeção de seus componentes, como os blocos de motor, cabeçotes, caixa de engrenagens de transmissão e demais componentes com essa tecnologia. A Figura 1 ilustra uma máquina de medição por coordenadas executando medições em um bloco de motor. 51 Figura 1 – Medição de dimensões de bloco de motor utilizando uma MMC Fonte: https://stock.adobe.com. Os fabricantes de automóveis estendem essa exigência de inspeção mais tecnológica a seus fornecedores de componentes ou partes, capacitando-os também para garantir que todos os itens que fazem parte de um veículo tenham uma rastreabilidade de acordo com o projeto original. Ainda no segmento automotivo, podemos incluir a montagem de carrocerias. A medição 3D nas linhas de produção de carrocerias de veículos inclui a utilização de sensores 3D, câmeras e pontos que servem de referência para verificar as geometrias complexas desses componentes automotivos. Normalmente, essas medições são operadas por robôs dedicados que, através dos sensores, geram nuvens de pontos do item inspecionado na linha de produção com muita precisão e rapidez. O resultado dessa inspeção possibilita verificar a conformidade dimensional dos alinhamentos do objeto, dos elementos, dos pontos de fixação da 52 carroceria, suas cavidades e bordas, além da geometria projetada para o componente. Um outro segmento em que a metrologia 3D e suas tecnologias são imprescindíveis para garantir a qualidade e principalmente a segurança na operação é o aeroespacial. Você consegue imaginar uma aeronave construída sem o uso de tecnologias avançadas no projeto e no controle de seus componentes? Pois esse segmento utiliza as tecnologias de medição 3D em todos os seus componentes, desde a carroceria até o motor – que é um componente de engenharia complexa composto por um enorme ventilador, um compressor de baixa pressão, um compressor de alta pressão, um eixo de alta pressão, câmara de combustão, uma turbina de alta pressão e uma turbina de baixa pressão. A Figura 2 ilustra um motor de avião e seus componentes. Figura 2 – Seção transversal de um perfil de motor a jato Fonte: https://stock.adobe.com/ Todos esses componentes são fabricados com materiais especiais e técnicas de usinagem especiais devido a suas geometrias complexas e estão sujeitos a condições severas de operação. Por se tratar de 53 peças com criticidade alta, devem ser submetidas a uma inspeção que garanta precisão, eficiência e conformidade com os requisitos técnicos e operacionais que estão destinados. Os fabricantes de equipamentos de metrologia 3D possuem normalmente departamentos e soluções dedicadas para atender às necessidades desse segmento, que compreendem, além da fabricação, o acompanhamento do ciclo de vida dos componentes. A prototipagem também é uma área que se utiliza e se beneficia das vantagens da Metrologia 3D. Nos processos de projetos e desenvolvimento de produtos nas mais diversas aplicações, é uma prática normalmente utilizada pelas empresas a de criar um protótipo ou uma versão mais simplificada do objeto para verificar se ele funciona adequadamente e se possui as qualidades requeridas para a aplicação. Esse protótipo serve para validar e aprovar o projeto concebido. A Figura 3 ilustra um processo de prototipagem utilizando uma impressora 3D. Figura 3 – Operação de impressora 3D em prototipagem Fonte: https://stock.adobe.com/ 54 Para avaliar as condições dimensionais e demais características físicas dos protótipos criados, podemos utilizar os scanners a laser de medição 3D, por serem possíveis de aplicação portátil, extremamente ágeis e precisos na medição de objetos de diversas dimensões e possibilitarem transformar os dados coletados em um modelo digital do objeto a fim de análises mais complexas. Para as empresas que utilizam moldes, matrizes e ferramentas de corte em suas operações produtivas, é de fundamental importância criar um sistema de controle dimensional desses equipamentos, visto que a variação dimensional pode ocasionar grandes perdas de produção devido à alta produção. A Figura 4 apresenta um molde de sopro para garrafa plástica, onde podemos observar uma série de detalhes a serem controlados dimensionalmente. Figura 4 – Molde metálico para garrafa plástica Fonte: https://stock.adobe.com/ Nesse aspecto, as tecnologias de medição 3D atuam diretamente nesse controle, garantindo que os equipamentos sejam fabricados dentro das especificações técnicas e utilizados para verificar se as características estão adequadas depois de um tempo de uso dos equipamentos nas 55 linhas de produção. Podemos utilizar as máquinas de medição por coordenadas, e os scanners a laser para fazer esse controle dentro das empresas, gerando relatórios que devem ser analisados pela equipe técnica. A medicina é outra área que utiliza as tecnologias de medição 3D de forma contínua para garantir que os equipamentos médicos e as próteses utilizadas em cirurgias e implantes sejam fabricadas em conformidade com as demandas e com os padrões de qualidade necessários para o segmento. A inspeção dos implantes ortopédicos e odontológicos, tal como da instrumentação cirúrgica, é feita com equipamentos dedicados da metrologia 3D para garantir uma adequação ao uso. O processo de criação de próteses para diversas aplicações dentro da medicina também faz uso da tecnologia, visto ser necessário checar se as próteses criadas para determinado paciente terão seu ajuste adequado. O setor de manufatura faz uso da tecnologia de medição tridimensional devido a suas necessidades operacionais de controlar a qualidade do que é fabricado, garantir que as ferramentas utilizadas na produção estão adequadas, detectar defeitos nos produtos antes de colocá-los no mercado consumidor e fornecer dados para os controles estatísticos de processo ou outras ferramentas de controle de produção que a empresa adota. Nesse segmento, podemos entender que os equipamentos de medição 3D, como os scanners, máquina de medição por coordenadas e braço articulados, serão selecionados de acordo com o tipo de objeto que se necessita controlar e com as necessidades documentais que os processos exigem em termos de rastreabilidade. 56 Enfim, podemos relacionar diversos setores que necessitam de avaliação dimensional de objetos para que possam produzir com mais qualidade, precisão, segurança e atendimento a especificações técnicas, como a usinagem de precisão, a indústria eletroeletrônica, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, manutenção, arquitetura, engenharia naval, engenharia civil, petróleo e gás, química, entre outros. 3. Limitações da Metrologia 3D As tecnologias são fundamentais para o desenvolvimento de processos produtivos mais modernos, a melhoraria da comunicação, a adequação dos transportes para as necessidades operacionais de agilidade, a produção de mais alimentos com qualidade, a construção de estradas, prédios e estruturas com segurança; ou seja, em todas as atividades em que pensarmos, no mundo moderno, a tecnologia estará presente. Todas essas tecnologias possuem vantagens e limitações. Vamos destacar aqui algumas das limitações que os equipamentos e sistemas dedicados ao conceito de Metrologia 3D apresentam e que podem se tornar uma barreira para a empresa que pensa em utilizá-los em suas operações. O Quadro 1, a seguir, relaciona em dois grupos as limitações envolvidas nas operações com Metrologia 3D. Quadro 1 – Limitações da Metrologia 3D Técnicas Financeiras Variedade e seleção de equipamentos Alto custo de implantação Treinamento operacional Manutenção do sistema