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Prévia do material em texto

1
ANTROPOLOGIA 
BRASILEIRA
Profª. Dra. Vanessa Sander 
2
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
PROFª. DRA. VANESSA SANDER
3
 Diretor Geral: Prof. Esp. Valdir Henrique Valério
 Diretor Executivo: Prof. Dr. William José Ferreira
 Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Profa Esp. Cristiane Lelis dos Santos
Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Profa. Esp. Imperatriz da Penha Matos
 Revisão Gramatical e Ortográfica: Profª. Esp. Izabel Cristina
 Revisão técnica: Profª. Pollyanna Nicodemos
 
 Revisão/Diagramação/Estruturação: Clarice Virgilio Gomes
 Prof. Esp. Guilherme Prado
 Lorena Oliveira Silva Portugal 
 
 Design: Bárbara Carla Amorim O. Silva 
 Daniel Guadalupe Reis
 Élen Cristina Teixeira Oliveira 
 Maria Eliza P. Campos 
 Victor Lucas dos Reis Lopes 
© 2023, Faculdade Única.
 
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autoriza-
ção escrita do Editor.
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920.
4
ANTROPOLOGIA BRASILEIRA
1° edição
Ipatinga, MG
Faculdade Única
2023
5
 Graduada em Ciências Sociais 
pela Universidade Federal de Minas 
Gerais em 2012/2. Mestre pelo Progra-
ma de Pós Graduação em Antropolo-
gia Social da Unicamp (2015). Douto-
ra em Ciências Sociais também pela 
Unicamp, vinculada ao Núcleo de Es-
tudos de Gênero PAGU, com pesquisa 
sobre os circuitos de criminalização e 
encarceramento de travestis e tran-
sexuais. Atualmente, atua como Pro-
fessora Substituta na Universidade 
Federal de Lavras. e.
VANESSA SANDER
Para saber mais sobre a autora desta obra e suas qua-
lificações, acesse seu Curriculo Lattes pelo link :
http://lattes.cnpq.br/6968972660737701
Ou aponte uma câmera para o QRCODE ao lado.
6
LEGENDA DE
Ícones
Trata-se dos conceitos, definições e informações importantes 
nas quais você precisa ficar atento.
Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão 
do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar 
ícones ao lado dos textos. Eles são para chamar a sua atenção para 
determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, 
mostradas a seguir:
São opções de links de vídeos, artigos, sites ou livros da biblioteca 
virtual, relacionados ao conteúdo apresentado no livro.
Espaço para reflexão sobre questões citadas em cada unidade, 
associando-os a suas ações.
Atividades de multipla escolha para ajudar na fixação dos 
conteúdos abordados no livro.
Apresentação dos significados de um determinado termo ou 
palavras mostradas no decorrer do livro.
 
 
 
FIQUE ATENTO
BUSQUE POR MAIS
VAMOS PENSAR?
FIXANDO O CONTEÚDO
GLOSSÁRIO
7
UNIDADE 1
UNIDADE 2
UNIDADE 3
UNIDADE 4
SUMÁRIO
1.1 Introdução .............................................................................................................................................................................................................................................................................................10
1.2 Os Pioneiros ...........................................................................................................................................................................................................................................................................................11
1.3 Nina Rodrigues ...................................................................................................................................................................................................................................................................................13
FIXANDO O CONTEÚDO .........................................................................................................................................................................................................................................................................16
2.1 O Modernismo ...................................................................................................................................................................................................................................................................................20
2.2 Gilberto Freyre ...................................................................................................................................................................................................................................................................................21
2.3 Sérgio Buarque de Holanda ...................................................................................................................................................................................................................................................23
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................26
3.1 Sociologia e Antropologia nas Universidades .............................................................................................................................................................................................................31
3.2 Estudos de Comunidade ..........................................................................................................................................................................................................................................................32
3.3 Anos 60: Os Programas de Pós-Graduação ..............................................................................................................................................................................................................33
FIXANDO O CONTEÚDO ........................................................................................................................................................................................................................................................................36
MITOS DE ORIGEM 
IDENTIDADE NACIONAL E PENSAMENTO SOCIAL
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA ANTROPOLOGIA ACADÊMICA
4.1 A Formação Da Etnologia .........................................................................................................................................................................................................................................................40
4.2 Curt Nimuendajú .............................................................................................................................................................................................................................................................................41
4.3 Darcy Ribeiro .....................................................................................................................................................................................................................................................................................43
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................45
A QUESTÃO INDÍGENA
5.1 O Antropólogo nas Cidades .....................................................................................................................................................................................................................................................51um estilo sui generis de ciência social, no qual uma di-
mensão de alteridade assumisse a dupla função de produzir uma antropologia no Brasil e 
do Brasil. Nesse sentido, enquanto a antropologia clássica, ou Europeia, constitui-se a partir 
de estudos realizados geralmente em lugares distantes da realidade do observador, a an-
VAMOS PENSAR?
35
tropologia brasileira foi tradicionalmente feita dentro de suas fronteiras nacionais, uma an-
tropologia doméstica, ou da “diferença próxima” (PEIRANO, 2000). No entanto, nem por isso 
diferenças e desigualdades deixaram de emergir nas relações de pesquisador e pesqui-
sado. O que nos convoca a pensar: qual perfil social daqueles que geralmente pesquisam 
e daqueles que são estudados? Quais regimes de alteridade se formam nesse contexto e 
qual impacto disso na produção do conhecimento?
36
FIXANDO O CONTEÚDO
1. O que nomes como Roger Bastide, Emílio Willems, Claude Lévi-Strauss, Herbert Baldus 
e Donald Pierson representam para o pensamento social brasileiro?
a) Esses nomes representam a preponderância da influência francesa sobre a 
intelectualidade brasileira.
b) Esses nomes representam a institucionalização das Ciências Sociais a partir de 
nomes importantes da elite nacional.
c) Esses nomes representam o desenvolvimento precoce das universidades brasileiras.
d) Esses nomes representam a entrada de debates contemporâneos sobre sociologia 
e antropologia no pensamento social brasileiro.
e) Esses nomes representam as disputas entre europeus e americanos nas discussões 
sobre raça nos países emergentes.
2. Leia o texto abaixo e assinale a alternativa correta sobre a obra de Antônio Cândido.
a) A obra de Antônio Cândido representa uma área da antropologia conhecida como 
etnologia indígena.
b) A obra de Antônio Cândido foi escrita a partir de um levantamento quantitativo survey 
em um pequeno município no interior de São Paulo.
c) A obra de Antônio Cândido defende o desenvolvimento agrário e a concentração de 
terras como medida para o desenvolvimeto nacional.
d) A obra de Antônio Cândido descreve os modos de vida de camponeses no interior de 
Minas Gerais.
e) A obra de Antônio Cândido apresenta o cotidiano de agricultores da cidade de Bofete.
3. Qual autor desenvolveu o conceito de fricção interétnica?
a) Antônio Cândido.
b) Roberto Cardoso de Oliveira.
c) Mariza Peirano.
“O despertar é geralmente às 5 horas, seguido de pequena ablução, consistindo num 
pouco de água pelos olhos. Segue a primeira refeição e a ração de milho às criações. 
Parte-se então para o local de trabalho, raramente encostado à casa, quase sempre 
distante 200 a 1.000 metros (e mais). A faina encetada vai até o pôr do sol, resultando 
uma jornada de 12 horas no verão, de 10 horas no inverno, interrompida pela altura das 
8h30 por meia hora, para almoço, e cerca de uma hora pelo meio-dia, para merenda e 
repouso. Chegado em casa, o trabalhador dá milho às criações, lava as mãos, o rosto, os 
pés e janta, das 19 horas em diante. Às 22 horas ninguém mais está desperto. e a maioria 
já se deitou pouco depois das 20 horas”.
(Antônio Cândido – Parceiros do Rio Bonito, 1964)
37
A hibridez descreve a cultura de pessoas que mantêm suas conexões com a terra de seus 
antepassados, relacionando-se com a cultura do local que habitam. Eles não anseiam 
retornar à sua “pátria” ou recuperar qualquer identidade étnica “pura” ou absoluta; ainda 
assim, preservam traços de outras culturas, tradições e histórias e resistem à assimilação.
CASHMORE, E. Dicionário de relações étnicas e raciais. São Paulo: Selo Negro, 2000 (adaptado).
d) Florestan Fernandes.
e) Gilberto Freyre.
4. Assinale quais afirmativas abaixo estão corretas.
I. O estudo das áreas de fricção interétnica no Brasil caracterizou-se por uma 
continuidade com a noção de aculturação.
II. Para Roberto Cardoso de Oliviera, os indígenas que viviam nas cidades eram 
completamente assimilados pela cultura branca.
III. Grupos de imigrantes inspiraram os primeiros estudos sobre aculturação na 
antropologia.
a) Apenas as alternativas I e II estão corretas.
b) Apenas a alternativa III está correta.
c) As alternativas I, II e III estão corretas.
d) Apenas as alternativas I e III estão corretas.
e) Apenas a alternativa I está correta.
5. (ENEM - 2010). 
Contrapondo o fenômeno da hibridez à ideia de “pureza” cultural, observa-se que ele se 
manifesta quando:
a) Criações originais deixam de existir entre os grupos de artistas, que passam a copiar 
as essências das obras uns dos outros.
b) Civilizações se fecham a ponto de retomarem os seus próprios modelos culturais do 
passado, antes abandonados.
c) Populações demonstram menosprezo por seu patrimônio artístico, apropriando-se 
de produtos culturais estrangeiros.
d) Elementos culturais autênticos são descaracterizados e reintroduzidos com valores 
mais altos em seus lugares de origem.
e) Intercâmbios entre diferentes povos e campos de produção cultural passam a gerar 
novos produtos e manifestações.
6. (ENEM - 2013). A recuperação da herança cultural africana deve levar em conta o 
que é próprio do processo cultural: seu movimento, pluralidade e complexidade. Não 
se trata, portanto, do resgate ingênuo do passado nem do seu cultivo nostálgico, mas 
de procurar perceber o próprio rosto cultural brasileiro. O que se quer é captar seu 
movimento para melhor compreendê-lo historicamente.
38
(MINAS GERAIS. Cadernos do Arquivo 1: Escravidão em Minas Gerais. Belo Horizonte: 
Arquivo Público Mineiro, 1988.)
Com base no texto, a análise de manifestações culturais de origem africana, como a 
capoeira ou o candomblé, deve considerar que elas
a) Permanecem como reprodução dos valores e costumes africanos.
b) Perderam a relação com o seu passado histórico.
c) Derivam da interação entre valores africanos e a experiência histórica brasileira.
d) Contribuem para o distanciamento cultural entre negros e brancos no Brasil atual.
e) Demonstram a maior complexidade cultural dos africanos em relação aos europeus.
7. (MUNDO EDUCAÇÃO – 2020 – Adaptado). Os movimentos extremistas que surgiram 
na Europa, no século XX, pautavam-se pelo ideal de pureza e superioridade cultural de 
um grupo étnico. Entre eles, o nazismo é o mais lembrado em virtude do enorme impacto 
das atrocidades associadas a ele. Se os planos do regime nazista fossem concretizados 
e o extermínio da população judaica fosse uma realidade, todo e qualquer traço da 
cultura judaica estaria também exterminado.
A afirmação anterior está:
a) Correta, já que nenhuma cultura permanece sem um povo para mantê-la.
b) Correta, uma vez que o extermínio da população judaica estava ligado ao expurgo 
dos traços culturais que cultivavam.
c) Errada, já que era impossível exterminar todos os judeus que existiam no território 
alemão.
d) Errada, pois sempre existirão traços remanescentes de uma cultura embebida em 
outra em razão do processo de troca e assimilação cultural.
e) Correta, pois a aculturação é um fenômeno que se realiza completamente quando 
articulado a contextos bélicos.
8. Porque a antropologia brasileira é adjetivada como uma antropologia doméstica?
a) Por causa do seu interesse nas relações de parentesco e na vida familiar.
b) Por causa do seu foco na vida doméstica através dos estudos de comunidade.
c) Por causa das suas investigações produzidas majoritariamente dentro das fronteiras 
nacionais.
d) Por causa da sua afinidade disciplinar com a psicologia e seu foco no indivíduo.
e) Por conceber a casa como locus central de produção e reprodução da cultura.
39
A QUESTÃO 
INDÍGENA
40
 Segundo Alan Oliveira (2018), desde o período colonial, diversas obras e 
documentos foram produzidos a respeito do Brasil e de seus habitantes originários. Os 
inúmeros relatos escritos por viajantes construíram vários estereótipos sobre a sociedade 
nacional, muitos deles ainda bastante significativos na forma como os outros países do 
mundo veem o Brasil e também sobre como os povos indígenas são vistos atualmente. 
 Tais descriçõesdas múltiplas sociedades indígenas que já habitavam o Brasil 
são marcadas por um olhar etnocêntrico orientado pelos interesses econômicos e 
religiosos dos europeus. Apesar disso, esses documentos históricos servem como fontes 
para o estudo dos povos indígenas brasileiras nos primeiros séculos da colonização. A 
liberdade, o seminomadismo, a integração com a natureza, o conhecimento sobre as 
plantas e os caminhos da floresta, a alimentação baseada nos frutos da terra, na pesca 
e na caça, a arte da navegação dos rios, a inexistência de acumulação de riquezas ou 
de organização hierárquica rígida nos grupos, dentre outras características atribuídas 
aos povos indígenas, foram consideradas pelo juízo português como modo de vida 
selvagem, inferior e incivilizado (OLIVEIRA,2018). 
 Seguindo uma tendência mundial, a partir do século XVIII e no decorrer do século 
XIX, o Brasil se tornou alvo de expedições de naturalistas, imbuídos de um olhar mais 
científico do que os exploradores coloniais. Esse novo olhar se caracterizava por uma 
ênfase em classificações botânicas, zoológicas, geológicas e raciais. Sua observação 
era pautada pela ideia de taxonomia – prática que, a partir da segunda metade do 
século XVIII, tornou-se central na própria ideia de ciência. Com o passar do tempo, a 
ênfase dos naturalistas nos aspectos naturais do Brasil (botânica, zoologia e geologia) 
ganhou destaque, fazendo com o que o estudo das sociedades ditas “primitivas” se 
tornassem um campo autônomo: a etnologia indígena.
4.1 A FORMAÇÃO DA ETNOLOGIA
Figura 9: Indígenas Yanomami registrados pela fotógrafa Claudia Andujar
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/31k4Wtd. Acesso em: 15 set. 2021. 
O estudo voltado ao registro e à documentação de diferentes costumes de sociedades 
consideradas “exóticas” e “primitivas” recebeu o nome de etnologia (o prefixo grego etno 
significa “nação”, e o sufixo logia, “estudo”). Foi no final do século XVIII que essa palavra 
começou a ser usada na Europa com esse significado. O interesse pelas sociedades in-
dígenas da América do Sul foi particularmente intenso na França, onde foi fundada, em 
1896, a Sociedade de Americanistas, que engloba pesquisadores de diversas áreas, entre 
elas a antropologia. O desenvolvimento da antropologia como ciência, a partir da segun-
FIQUE ATENTO
41
 Segundo Peirano (2000), se o diálogo externo de constituição da antropologia 
como disciplina deu-se com a sociologia, internamente às suas fronteiras, esse diálogo 
é rebatido como uma eventual distinção entre a etnologia indígena feita no Brasil e as 
investigações antropológicas sobre o Brasil. De acordo com a autora,
da metade do século XIX, deu-se, de certa forma, a par das sociedades indígenas no Bra-
sil. Apesar de sua posição mítica na história das reflexões sobre as diferenças humanas, 
esses povos só foram estudados sistematicamente a partir da década de 1960, quando 
começaram a ser fontes de elaborações teóricas centrais na disciplina. Atualmente, es-
tudos feitos entre sociedades indígenas no Brasil se tornaram a base de discussões im-
portantíssimas no interior da antropologia (OLIVEIRA, 2018).
 Os primeiros estudos etnológicos sobre sociedades indígenas no Brasil foram 
desenvolvidos por pesquisadores alemães a partir do final do século XIX. Destacam-se 
as expedições realizadas por Karl von den Steinem (1855-1929) à bacia do Rio Xingu, 
entre 1884 e 1888, que resultaram em publicações importantes sobre os modos de vida 
de várias sociedades indígenas e um longo trabalho sobre a língua bakairi. Trabalhos 
como esse deram à etnologia alemã o lugar de principal campo de estudos das 
sociedades indígenas brasileiras na virada do século XIX para o XX. Esse desenvolvimento 
da etnologia durou até a década de 1930, quando foi interrompido pela ascensão do 
nazismo (OLIVEIRA, 2018).
 Um nome muito importante dessa geração de alemães que se dedicaram a 
estudar povos indígenas no Brasil foi Curt Nimuendajú (1883-1945), cuja trajetória 
abordaremos a seguir.
 Na última década, a presença de um mínimo de espe-
cialistas nas diversas temáticas – indígena, campone-
sa, urbana, afro-brasileira e outras – vem sendo consi-
derada exigência para a definição de um departamento 
de excelência em antropologia no Brasil. Para além da 
pesquisa indígena propriamente dita, uma antropo-
logia feita no/do Brasil é uma aspiração comum. Em 
qualquer caso, os padrões inicialmente definidos pela 
sociologia de Florestan Fernandes continuam vigentes 
na agenda das ciências sociais no país: a excelência 
acadêmica como parâmetro – aí incluída a ambição 
teórica – e, sob perspectivas diversas de comprometi-
mento, a temática nacional. (2000, p. 224)
4.2 CURT NIMUENDAJÚ
Figura 10: Curt Nimuendajú
Fonte: Fundo Documental Curt Nimuendajú – Museu Nacional
42
 Em 1903, o jovem operário alemão então chamado Kurt Unkel aportou no Brasil. O 
destino de sua viagem foi escolhido após se encantar com histórias sobre os indígenas 
brasileiros, que leu na biblioteca da fábrica onde trabalhava, em Jena (GOMES, 2008). 
Aos 20 anos de idade e sem formação acadêmica, o alemão deixou um próspero 
emprego na fábrica de lentes da Zeiss e rumou para o Brasil com dinheiro emprestado 
pela irmã. Pouco se sabe sobre o que o jovem fez nos dois primeiros anos de sua estadia 
no país, embora haja indícios de que tenha trabalhado em uma loja de ferragens de um 
alemão e participado de uma expedição ao sertão paulista.
 Em 1905, ele finalmente se juntou aos apapocuva, povo guarani do estado de São 
Paulo que hoje é conhecido por nhandeva. Já em sua primeira imersão, que durou dois 
anos, o pesquisador produziu uma obra cujo valor é reconhecido até os dias de hoje, A 
lenda da criação e destruição do mundo na religião dos apopokuva-guarani, publicada 
em 1915. Depois de passar por um ritual de batismo nessa comunidade, ele recebeu o 
nome indígena que adotou oficialmente, Nimuendajú, que significa "aquele que fez sua 
morada". Seu primeiro nome foi "abrasileirado" para Curt, e, em 1922, ele se naturalizou 
brasileiro, tendo abandonado o sobrenome original.
 De 1905 a 1945, Nimuendajú produziu vários estudos sobre aspectos de diferentes 
povos indígenas, como os Guarani, os Apinajé, os Xerente e os Tenetehara (Tembé). 
Esses estudos foram publicados em revistas alemãs e estadunidenses, atraindo a 
atenção de antropólogos norte-americanos, como Franz Boas e seu aluno Robert Lowie 
(OLIVEIRA,2018). Embora não tivesse formação específica em antropologia e atuasse de 
forma independente, sem vínculos formais com instituições científicas, a profundidade 
do contato que estabeleceu com as comunidades estudadas o transformou em 
referência para o ofício etnográfico e para o estudo dos povos indígenas no Brasil.
 Os esforços de Nimuendajú em documentar as línguas e os costumes indígenas 
o colocaram como um expoente da observação participante de Malinowski e do 
particularismo histórico de Boas. Seu uso do método da observação participante 
corresponde ao entendimento de que cada cultura é incomparável, ou seja, só é 
explicável em seus próprios termos, já que suas instituições e signos existem e funcionam 
em conjunto, como um sistema relacional. Por exemplo, a pajelança dos Guarani 
descrita e analisada por Nimuendajú, com seus rituais, sua liturgia e seus objetos, é 
única e incomparável, mesmo em relação à pajelança de outros povos indígenas com 
culturas semelhantes. Nesse sentido, a tarefa hercúlea dos antropólogos seria estudar 
as culturas dando conta de todas as suas dimensões, aspectos e setores: como uma 
totalidade integrada (GOMES, 2008).
Na III Conferência Curt Nimuendajú, organizada em homenagem ao etnólogo 
alemão, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro debate sobre as cosmologias 
indígenas (principalmente as guarani estudadas pelo autor), trazendo a obra 
de Nimuendajú para um debate contemporâneo sobre as crises ambientais e 
os modelos de desenvolvimento praticados pelo Ocidente e sua relação com os 
povos indígenas. Disponívelno Youtube: https://bit.ly/3RXhpsM. Mais detalhes da 
trajetória do intelectual alemão estão disponíveis no livro “Antropologia: ciência 
do homem, filosofia da cultura”, de Mércio Pereira Gomes, disponível na Bibliote-
ca Digital Pearson: https://bit.ly/3mRqQvC. Acesso em: 15 set. 2021. 
BUSQUE POR MAIS
43
 Mesmo antes da consolidação da etnologia no Brasil, algumas figuras importantes 
se dedicaram ao estudo das populações indígenas no território nacional, como destaca 
Mercio Pereira Gomes (2008). Ainda durante o Império, o governador de Goiás e general 
do exército, Couto Magalhães, passou um longo período junto aos povos indígenas do 
Rio Araguaia e Tocantins. Ele descreveu seus costumes e propôs políticas de integração 
do índio à sociedade brasileira. Couto Magalhães levou ao pé da letra a ideia de “civilizar 
o índio”, sem a ajuda da catequização cristã, aos moldes da política indigenista imperial. 
 Por sua vez, João Barbosa Rodrigues, que foi diretor do Museu Nacional do Rio de 
Janeiro, pesquisou a situação dos indígenas Waimiri-Atroari do rio Jauperi, no Amazonas, 
e propôs que esses e outros índios fossem “pacificados” ao invés de serem atacados, 
como era comum na época. Mais tarde, o general Cândido Rondon colaborou com 
a criação do Serviço de Proteção aos índios, que atencedeu a criação da Fundação 
Nacional do Índio (FUNAI), em 1967. O ideário e a base filosófica de Rondom, que é a de 
que os indígenas são livres para defender seus territórios, perduraram como princípio 
da política indigenista oficial brasileira (GOMES, 2008).
 A partir desse breve recorrido, vemos como historicamente a questão indígena 
ocupou o centro do interesse antropológico nacional, bem como das políticas de Estado 
brasileiras. E um intelectual que se destacou nessa interface política e acadêmica das 
temáticas indígenas foi Darcy Ribeiro (1922-1997). Grande parte dos antropólogos, 
até meados da década de 1970, pensava que o destino final e inexorável dos povos 
indígenas era sua extinção, por morte ou por alguma forma de assimilação. O próprio 
Darcy Ribeiro, na pesquisa que realizou para a Unesco duas décadas antes, previa o 
desaparecimento contínuo das populações indígenas brasileiras. Essa opinião era 
partilhada pela imprensa, por missionários e por antropólogos. Afinal, eram mais de 
400 anos de extermínio, de conversão, escravidão, massacres, conflitos, expulsões, 
epidemias e assassinatos de populações indígenas (CHICARINO, 2014). 
 Contudo os povos indígenas sobreviveram, perseveraram e possuem, com direito 
constitucionalmente conferido, 10% do território nacional. A organização e luta desses 
povos, junto a atuação em sua defesa, foi fundamental para a constituição desse cenário. 
4.3 DARCY RIBEIRO
Figura 11: Darcy Ribeiro
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/34j52CE. Acesso em: 15 set. 2021.
44
A intervenção de Darcy Ribeiro, diretamente envolvido na fundação do Parque Nacional 
do Xingú e na demarcação de uma quantidade considerável de terras indígenas, 
colaborou para a mudança daquele panorama pessimista de erradicação cultural. O 
autor desenvolveu na época o conceito de transfiguração étnica, que asseverava que, 
do contato intercultural, os povos envolvidos não se extinguem ou simplesmente se 
transformam um no outro nos moldes da aculturação: surge algo novo, de maneira que 
suas características se fundem e se refundem, gerando possibilidades de sobrevivência 
mesmo para os povos com menor poderio econômico, social e bélico (CHICARINO, 2014). 
Segundo Gomes (2001), o próprio Estatuto do Índio, desenvolvido pela FUNAI em 1973, 
foi baseado nas ideias de Darcy Ribeiro. A situação passou de um contingente de 90 
a 98 mil índios brasileiros em 1955, para uma população estimada em quase 897 mil 
índios em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o 
órgão, atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 250 povos indígenas em seu 
território. Ainda que no senso comum a Floresta Amazônica apareça como o espaço 
indígena principal, isso é inexato, pois embora a região seja um espaço central na 
territorialidade de muitos povos indígenas, estes estão presentes em todo território 
nacional, inclusive em espaços urbanos. Apesar das projeções mais otimistas do 
contingente populacional indígena brasileiro, por um misto de pressão de interesses 
econômicos e políticos poderosos, a questão indígena no Brasil tem envolvido, nos 
últimos anos, uma escalada crescente de tensões e conflitos, sobretudo no tocante à 
demarcação de terras indígenas (OLIVEIRA, 2018).
 Em um artigo intitulado “Etnismo e Civilização”, de 1970, Darcy Ribeiro afirma 
que o racismo americano seria segregacionista, enquanto o racismo brasileiro seria 
assimilacionista, isto é, que aceita o outro conquanto ele se “mantenha em seu lugar”. 
Essa suposta tendêndia assimilacionista da cultura brasileira não rejeita, em princípio, 
as diferenças, seja de negros ou indígenas, mas as admite e acolhe positivamente na 
medida em que elas tendam a ser incorporadas no sistema cultural e social hegemônico. 
Nesse sentido, a hipótese de Darcy Ribeiro se inspira na famosa máxima modernista de 
Oswald de Andrade, de que a cultura brasileira é antropofágica: engole tudo que vem e 
digere o que quer (GOMES, 2008). 
Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) começou a julgar se demarcações de terras in-
dígenas devem seguir o chamado “Marco Temporal”. Segundo esse critério, povos indíge-
nas só podem reivindicar a demarcação de terras que estavam ocupadas por eles antes 
da data de promulgação da Constituição de 1988. Levando em conta que Darcy Ribeiro de-
fendia que a sobrevivência dos povos indígenas no Brasil está invariavelmente vinculada à 
demarcação de suas terras, o que ele diria sobre a tese do Marco Temporal? E pensando 
que os indígenas detêm, constitucionalmente, o chamado “direito originário” sobre suas 
terras ancestrais (o que quer dizer que eles são considerados por lei os primeiros e naturais 
donos desse território), quem seriam os possíveis beneficiários dessa mudança de marco 
jurídico?
VAMOS PENSAR?
45
1. (FUNAI – 2016 – Adaptado). Em texto clássico da etnologia indígena, publicado em 
1979, os antropólogos Anthony Seeger, Roberto da Matta e Eduardo Viveiros de Castro 
argumentam a necessidade de focalizar a construção da pessoa nas sociedades 
indígenas. Assinale a opção que indica corretamente por que enfatizaram a construção 
da pessoa nas sociedades indígenas, em consonância com as proposições de Curt 
Nimuendajú
a) Representa um esforço por parte destes antropólogos de nacionalizar a etnologia 
indígena que se faz no Brasil.
b) Representa um esforço por parte destes antropólogos de transformar a etnologia 
indígena no Brasil em uma disciplina que poderia ser entendida pelos povos indígenas.
c) Representa um esforço por parte destes antropólogos de incorporar uma nova 
perspectiva para a etnologia indígena que ajudaria a compreender as semelhanças 
entre as sociedades na América do Sul, na África e na Melanésia ao revelar a natureza 
universalista do pensamento humano.
d) Representa um esforço por parte destes antropólogos de desvencilhar a etnologia 
indígena no Brasil dos modelos antropológicos formulados em outros continentes como 
a África e a Melanésia e partir de noções usadas pelos próprios índios para entender 
suas sociedades.
e) Representa um esforço por parte destes antropólogos de incorporar modelos 
antropológicos formulados em outros continentes, como a África e a Melanésia para a 
etnologia indígena das sociedades indígenas nas planícies baixas da América do Sul.
2. (ENEM -2010). Coube aos Xavante e aos Timbira, povos indígenas do Cerrado, um 
recente e marcante gesto simbólico: a realização de sua tradicional corrida de toras 
(de buriti) em plena Avenida Paulista (SP), para denunciar o cerco de suas terras e a 
degradação de seus entornos pelo avanço do agronegócio.
(RICARDO, B.; RICARDO, F. Povos indígenas do Brasil: 2001- 2005. São Paulo: InstitutoSocioambiental, 2006 
(adaptado).
A questão indígena contemporânea no Brasil evidencia a relação dos usos socioculturais 
da terra com os atuais problemas socioambientais, caracterizados pelas tensões entre
a) A expansão territorial do agronegócio, em especial nas regiões Centro-Oeste e Norte, 
e as leis de proteção indígena e ambiental.
b) Os grileiros articuladores do agronegócio e os povos indígenas pouco organizados 
no Cerrado.
c) As leis mais brandas sobre o uso tradicional do meio ambiente e as severas leis sobre 
o uso capitalista do meio ambiente.
d) Os povos indígenas do Cerrado e os polos econômicos representados pelas elites 
industriais paulistas.
FIXANDO O CONTEÚDO
46
e) O campo e a cidade no Cerrado, que faz com que as terras indígenas dali sejam alvo 
de invasões urbanas.
3. (UFU -2015 - Adaptado). A questão da demarcação de terras indígenas tem ao longo 
do tempo suscitado diversos conflitos. Mais recentemente, observou-se a possibilidade 
de modificar os critérios de demarcação, pois, conforme seus críticos, os regulamentos 
vigentes possibilitariam a ação de “indígenas civilizados”, ou seja, aqueles que 
supostamente teriam perdido sua identidade indígena e que agora a reivindicavam 
com o intuito de obter terras. No centro desse debate, encontra-se a definição do que é 
ser indígena, enfim, a definição dos critérios definidores de uma etnia.
Para os estudos antropológicos atuais, define-se uma etnia por meio da
a) Identificação da presença de traços fenotípicos comuns a uma população, atrelados 
ao cultivo de uma tradição cultural.
b) Ocupação territorial de um país específico e pela persistência de traços culturais 
tradicionais.
c) Identificação de uma concepção, partilhada por uma população, da existência de 
uma trajetória histórica comum que funda uma identidade.
d) Identificação de traços raciais comuns a uma população, aliados a elementos 
culturais específicos.
e) Ocupação tradicional de um território associada a presença de traços de determinados 
fenótipos raciais.
4. (UNICAMP - 2019 - Adaptado). O texto a seguir foi retirado de um cartaz da campanha 
promovida pela FUNAI, em 2017, para combater o preconceito contra os povos indígenas. 
Leia-o e responda à pergunta. 
Qual das ideias preconceituosas abaixo o texto procura combater?
a) “Eu queria ser índio também... ele é visto como ‘coitadinho’ e ainda tem terra de 
graça!”
b) “Não tem mais índios de verdade, essa é a grande questão... esses que estão aí são 
todos falsos!”
c) “O Brasil precisa progredir... e os índios são um obstáculo ao desenvolvimento do 
país!”
d) “Nada contra os índios, mas eles são muito preguiçosos, não gostam de trabalhar!”
e) “Agora todo mundo quer ser índio, é só falar que é índio e pronto!”
Não há desenvolvimento que se perpetue sem meio ambiente preservado. Os saberes 
ecológicos indígenas, desenvolvidos geração a geração, são tecnologias essenciais 
para a proteção das matas, dos animais silvestres, dos mananciais de água, do solo e 
do subsolo. O índio não atrapalha o desenvolvimento. Como guardião da biodiversidade, 
gera condições para que ele aconteça. A um só tempo, o índio torna possível a preservação 
e o desenvolvimento. 
(FUNAI, 2019: 1)
47
De acordo com o excerto, a gênese do povo brasileiro está associada
a) Ao propósito de ocupação de novos territórios pelos portugueses e à implantação 
de um empreendimento de povoamento, voltado à construção de um mercado interno 
amplo e diversificado.
b) À conquista de novos territórios pelos povos africanos, ameríndios e europeus e 
à implantação de um modelo de desenvolvimento econômico autônomo, voltado a 
atender às demandas do mercado externo.
c) Ao ímpeto pela descoberta de novos territórios pelos povos ameríndios e africanos 
e à implantação de um modelo de desenvolvimento social e econômico de inspiração 
europeia, dirigido ao progresso técnico e econômiconacional.
d) Ao projeto de colonização de novos territórios e de seus respectivos povos pelos 
portugueses e à implantação de um empreendimento mercantil, voltado a atender às 
demandas do mercado externo.
e) Ao propósito de conquista de novos territórios pelos europeus e à implantação de um 
modelo de desenvolvimento econômico autônomo, voltado a atender às demandas do 
mercado local.
6. (UNESP - 2015). De acordo com Darcy Ribeiro, dois movimentos caminharam 
concomitantemente ao longo do processo de formação do povo brasileiro:
a) A produção de uma unidade étnica nacional e a conformação de uma cultura 
nacional homogênea.
Surgimos da confluência, do entrechoque e do caldeamento do invasor português com 
índios silvícolas e campineiros e com negros africanos, uns e outros aliciados como 
escravos. Nessa confluência, que se dá sob a regência dos portugueses, matrizes raciais 
díspares, tradições culturais distintas, formações sociais defasadas se enfrentam e se 
fundem para dar lugar a um povo novo. Novo porque surge como uma etnia nacional, 
que se vê a si mesma e é vista como uma gente nova, diferenciada culturalmente de suas 
matrizes formadoras. Velho, porém, porque se viabiliza como um proletariado externo, 
como um implante ultramarino da expansão europeia que não existe para si mesmo, 
mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens 
para o mercado mundial, através do desgaste da população. Sua unidade étnica básica 
não significa, porém, nenhuma uniformidade, mesmo porque atuaram sobre ela forças 
diversificadoras: a ecológica, a econômica e a migração. Por essas vias se plasmaram 
historicamente diversos modos rústicos de ser dos brasileiros: os sertanejos, os caboclos, 
os crioulos, os caipiras e os gaúchos. Todos eles muito mais marcados pelo que têm de 
comum como brasileiros, do que pelas diferenças devidas a adaptações regionais ou 
funcionais, ou de miscigenação e aculturação que emprestam fisionomia própria a uma 
ou outra parcela da população.
(RIBEIRO, Darcy. 1995: 23)
5. (UNESP - 2001). 
48
b) A produção de uma sociedade nacional multiétnica e a coexistência de culturas 
regionais em extinção.
c) A produção de uma sociedade nacional multiétnica e a conformação de culturas 
regionais transplantadas de outros países.
d) A produção de uma unidade étnica nacional e a conformação de diversidades 
socioculturais regionais.
e) A produção de uma sociedade nacional multiétnica e a coexistência de culturas 
regionais fragmentadas.
7. (Brasil Escola - Adaptado). Sobre a demarcação de terras indígenas no Brasil, assinale 
V para as proposições verdadeiras e F para as proposições falsas.
( ) A Constituição Federal define terras indígenas como qualquer área habitada pelos 
índios nas quais são realizadas suas atividades produtivas e há preservação de suas 
culturas e tradições.
( ) Áreas indígenas no Brasil são propriedades da Funai.
( ) As áreas indígenas são de livre acesso e, para adentrá-las, é preciso apenas notificar 
a Funai caso não seja um membro da comunidade.
( ) No Brasil, existem aproximadamente 544 terras indígenas, segundo a Funai, estando 
a maior parte na Amazônia Legal.
Assinale a alternativa correta.
a) F-V-F-V.
b) F-V-F-F.
c) V-F-F-V.
d) V-V-F-F.
e) V-V-V-F.
8. (UNICAMP - 2019 - Adaptado). 
(1) Invasão de propriedade Projetos de lei que tramitam no Congresso pretendem 
endurecer as regras contra as invasões de propriedades rurais no Brasil. Pelas propostas, 
as invasões vão ser classificadas como terrorismo, com pena de até 30 anos de prisão e 
uso imediato da força policial. 
(Disponível em: https://bit.ly/3pRpjHy. Acesso em: 15 set. 2021.)
(2) 
49
Considerando o que se afirma no texto (1), as perguntas feitas pela menina indígena no 
texto (2) revelam
a) A sua surpresa com o fato de que o Congresso brasileiro vai, finalmente, se preocupar 
com as terras indígenas.
b) A contradição demonstrada pelo Estado brasileiro no que se refere à questão da 
ocupação de terras. 
c) O interesse dos políticos brasileiros em zelar pelo direito de todos os cidadãos do país 
à propriedade.d) A sua esperança de que também os invasores de terras indígenas venham a ser 
considerados terroristas.
e) O papel fundamental da FUNAI na demarcação de terras indígenas em todo o território 
nacional.
50
 ANTROPOLOGIA 
URBANA
51
 Durante muito tempo parecia haver uma espécie de fronteira mais ou menos 
clara entre a sociologia e a antropologia: a primeira estudava as sociedades modernas, 
consideradas complexas, enquanto a última analisava as sociedades ditas primitivas 
ou tradicionais. Essa divisão de domínios disciplinares, que se manteve pelo menos até 
a década de 1950, se sustentava teoricamente através de ausências, ou seja, através 
da contraposição das sociedades modernas com as sociedades tratadas como 
desprovidas de Estado, de história ou de estrutura complexa. Contudo, a percepção 
antropológica de que também havia complexidade nas sociedades tradicionais fez com 
que esse panorama se modificasse gradualmente, à medida que a antropologia começa 
a desenvolver estudos em sociedades consideradas avançadas tecnologicamente, 
como o Japão e a China. Desse modo, junto aos estudos de comunidades rurais, a 
antropologia foi aos poucos se detendo sobre aspectos da vida urbana (CHICARINO, 
2014).
5.1 O ANTROPÓLOGO NAS CIDADES
Figura 12 
Fonte: Maestro Virtuale
Mércio Pereira Gomes (2008) defende que o passo metodológico fundamental que abriu 
o mundo urbano para a antropologia foi a formulação de um método de pesquisa, de-
senvolvido por antropólogos ingleses, que ficou conhecido como rede social. Analisando 
os modos de vida da classe trabalhadora inglesa, os pesquisadores compreenderam 
que as pessoas imersas em contextos urbanos se relacionam através de uma miríade 
de conexões com pessoas de todo tipo, principalmente na medida em que o papel da 
família e do parentesco perdem a relevância social nas grandes cidades. Nesse sentido, 
o tecido urbano é composto por uma série de relações que vão além do parentesco for-
mal, e mesmo da vizinhança e do trabalho, formando redes de relações individuais que 
se entrecruzam umas com as outras, não constituindo nem um grupo nem uma variante 
cultural, porque existiam em função de uma ou poucas pessoas. Contudo, ainda assim 
essas pessoas davam sentido social e psicológico a esses vínculos, constituindo sociabi-
lidades que iam além da sociedade de classe e mostravam continuidades com o mundo 
rural — questões que despertaram interesse antropológico. 
 A partir de década de 1960, o olhar da antropologia voltou-se com força para as 
sociedades, comunidades e grupos mais próximos. Essa mudança deu-se, em grande 
medida, por causa do próprio desenvolvimento da antropologia em países considerados 
periféricos, como o Brasil, México e Índia. No Brasil, uma tradição forte de estudos antro-
FIQUE ATENTO
52
 No início do século XX, a sociologia já vinha desenvolvendo uma linha de estudos 
urbanos por meio da chamada “Escola de Chicago”. Um de seus mais conhecidos 
membros, Robert Park (1864-1944), foi um pioneiro dos estudos urbanos, a partir da 
cidade de Chicago, utilizando métodos etnográficos (CHICARINO, 2014). Park defende 
que a cidade não é simplesmente um amontoado de prédios e pessoas, mas um 
produto da natureza humana. Na sua perspectiva, cada parte da cidade deve ser 
analisada, de maneira a dar sentido para a ocupação do espaço. Assim, lugares que 
eram vistos como essencialmente geográficos, são vistos a partir de sua história e das 
tradições dos indivíduos que os habitam e frequentam. O autor sugere várias áreas e 
temas urbanos que merecem ser estudados, como o crescimento das populações, os 
fluxos migratórios, as áreas de segregação populacional (chamados de guetos) e a 
interferência do valor da terra, da raça e classe social na distribuição da população 
pelos espaços da cidade, etc.
 Percebe-se que a etnografia pensada como uma imersão profunda na alteridade, 
que se tornou a marca metodológica da antropologia, transcendeu as fronteiras da 
disciplina. Uma obra clássica desses estudos de grupos e culturas urbanas é Sociedade 
de esquina: a estrutura social de uma área urbana pobre e degradada, do sociólogo 
norte-americano William FooteWhyte, publicada em 1943. Para estudar as formas de 
sociabilidade entre jovens imigrantes italianos em um bairro pobre de Boston, o autor 
viveu nessa área durante três anos, realizando uma pesquisa de campo intensiva.
 No Brasil, o pensamento social sobre a temática urbana também foi produzido 
em uma área de confluência entre antropologia e sociologia. Junto aos estudos de 
comunidade, os estudos de grupos urbanos se desenvolveram no país desde a década 
de 1940. A partir dos anos 1970, surgiu uma autoproclamada antropologia urbana no 
Brasil, que constituiu um dos campos mais profícuos da disciplina no país, fortemente 
influenciado pelos pensadores da Escola de Chicago. Um marco importante dos 
primeiros estudos de sociologia e de antropologia urbana no Brasil foi a presença de 
professores norte-americanos na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. 
Nomes como Samuel Lowrie, Horace Davis e Donald Pierson introduziram a agenda 
teórica e metodológica desenvolvida pelo Departamento de Sociologia da Universidade 
de Chicago (OLIVEIRA, 2018).
 O próprio Robert Park esteve no Brasil em 1937 para supervisionar o trabalho de 
campo de Donald Pierson, seu aluno de PhD na Universidade de Chicago, que estudava 
5.2 A INFLUÊNCIA DA ESCOLA DE CHICAGO
pológicos realizados em centros urbanos se formou na década de 1970, de maneira que 
os antropólogos começaram a estudar as relações sociais em conjuntos residenciais 
de metrópoles; as diversas práticas religiosas existentes no meio urbano; as práticas e 
signos ligados ao mundo do trabalho e do lazer; o consumo; as favelas e periferias, en-
tre outros temas. Assim, houve uma dissolução da divisão do trabalho intelectual entre 
antropologia e sociologia, com os antropólogos adentrando lugares até então estudados 
pelos sociólogos e vice-versa. Atualmente, a antropologia não faz distinção do tipo de 
sociedade ou de coletividade que estuda. Isso significa que os antropólogos continuam 
estudando rituais no interior da África ou da Oceania, mas também procuram compreen-
der os processos de modernização que afetaram esses lugares e as transformações daí 
advindas (OLIVEIRA, 2018).
53
 Sob o comando de Pierson, a Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo 
congregou diversos trabalhos de pesquisa antropológica e sociológica sobre o meio 
urbano que dialogaram com outras áreas do conhecimento, como a arquitetura, 
o urbanismo, o sanitarismo e a administração pública. Destacam-se a análise das 
relações de vizinhança, de Emilio Wilems (1941), o estudo sobre subúrbios em Mogi das 
Cruzes, de Osvaldo Xidieh (1947), e o recenseamento por quarteirões, do próprio Pierson. 
Além disso, muitos pesquisadores se atentaram para a divisão do meio urbano em 
agrupamentos étnicos, visto que a cidade de São Paulo era marcada pela presença de 
inúmeros imigrantes, como japoneses e italianos (OLIVEIRA, 2018).
 Foi na década de 1970 que a antropologia urbana brasileira ganhou corpo, 
desenvolvendo pesquisas em duas universidades que se tornaram referência na área: 
a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de São Paulo (USP). 
Na UFRJ, as investigações desenvolvidas por Gilberto Velho e seus orientandos foram 
fundamentais para estabelecer um campo de estudos que combinava os investimentos 
metodológicos da Escola de Chicago com o interacionismo simbólico de Erving Goffman.
 Em 1973, Velho publicou sua dissertação de mestrado intitulada A utopia urbana, 
em que desenvolve um trabalho sobre as camadas médias residentes no bairro de 
Copacabana, desde uma etnografia feita no próprio edifício em que vivia. Seu interesse 
estava em analisar o crescimento populacional do bairro, e dos problemas decorrentes 
dessa alta densidade, atentando para as representações e estilos de vida de seus 
5.3 DESENVOLVIMENTOS POSTERIORESas relações entre brancos e negros na Bahia. A viagem de Park ao Brasil é apontada 
como um acontecimento que fez com que as Ciências Sociais euro-americanas 
descobrissem a Bahia e a transformassem em uma espécie de laboratório social. Em 
1939, Pierson assumiu a direção da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP) 
e se dedicou a disseminar entre seus alunos na cidade de São Paulo os ensinamentos 
da Escola de Chicago, principalmente de Robert Park, sobre a observação participante 
em contextos urbanos (CHICARINO, 2014).
Robert Park e a Escola de Chicago mostraram como a segregação é um aspecto funda-
mental e persistente da vida nas cidades. Como você percebe a reprodução da segrega-
ção nos centros urbanos? A antropóloga Teresa Caldeira (1997) analisa o processo de ur-
banização da cidade de São Paulo e argumenta que, nas últimas décadas, a cidade viveu 
uma escalada da segregação urbana com a produção de enclaves fortificados. Enclaves 
fortificados são espaços privatizados, fechados e monitorados para residência, consumo, 
lazer ou trabalho. Esses espaços, típicos das classes médias e altas, encontram no medo 
da violência uma de suas principais justificativas. Assim, as cidades contemporâneas são 
frequentemente marcadas por muros altos e grades, porteiros e seguranças armados, 
múltiplas tecnologias de vigilância (cercas elétricas, alarmes, câmeras de vídeo, etc.) e, 
principalmente, por contrastes impressionantes de riqueza ostensiva e extrema pobreza, 
muitas vezes convivendo lado a lado. Esse novo padrão de segregação espacial fragmenta 
as cidades e modifica drasticamente a circulação dos cidadãos e o caráter que dão ao 
espaço público.
VAMOS PENSAR?
54
moradores. Tendo como lócus privilegiado o prédio em que habitava, seu objetivo era, 
no entanto, captar através deste questões mais amplas do bairro de Copacabana, em 
posição relacional com a cidade. 
 Em 1975, o autor defendeu sua tese de doutorado intitulada Nobres e Anjos, em que 
estudou o consumo de drogas de jovens da classe média carioca. Nesse trabalho, sua 
principal influência são as pesquisas sobre “comportamentos desviantes” empreendidas 
pelo sociólogo norte-americano Howard Becker. Segundo Velho (2011), os “grupos 
desviantes” da cidade tornaram-se objeto privilegiado de pesquisa porque, de certa 
forma, representavam um tipo de alteridade radical, um “outro” que contrastaria com a 
normalidade convencional de uma moralidade de classe média. Assim, as prostitutas, 
homossexuais e usuários de drogas tornaram-se uma possibilidade de pesquisa e 
reflexão, em busca das diferenças internas a uma sociedade. A grande cidade era vista, 
portanto, como produto e produtora de heterogeneidade.
 A partir de sua obra, Velho estabeleceu o campo de pesquisa em antropologia 
urbana no Rio de Janeiro e popularizou a expressão antropologia das sociedades 
complexas, que tinha a ver com a diversidade de temas estudados em interconexão, 
que tinham como pano de fundo a sociabilidade e as interações do meio urbano. Em 
um exame crítico de seu próprio trabalho, o autor afirma que
 Dentre os trabalhos orientados por Velho, destacam-se a pesquisa de Maria Dulce 
Gaspar sobre garotas de programa em Copacabana; a investigação de Luiz Fernando 
Dias Duarte sobre os afetos e emoções das classes trabalhadoras urbanas na cidade 
do Rio de Janeiro; as análises de Hermano Vianna sobre o mundo do funk carioca, entre 
outros (OLIVEIRA, 2018). 
As pesquisas que fiz ou supervisionei foram feitas pre-
dominantemente em grandes cidades, principalmente 
no Rio de Janeiro, mas certamente lidavam com ques-
tões e temas que se aproximavam do que estava sendo 
conhecido como Antropologia das sociedades comple-
xas. Esta classificação sempre foi muito problemática, 
pois fazia parte do ideário antropológico da época rea-
gir contra o evolucionismo tradicional, salientando que 
nenhuma sociedade poderia ser considerada simples, 
mas procurou-se entender que a ideia de complexida-
de remetia a uma combinação de dimensão, presença 
do Estado, heterogeneidade sociocultural e diferencia-
ção social marcante. (VELHO, 2011. p. 164)
Figura 13: Jardim Do Museu Nacional
Fonte: Associação Brasileira de Antropologia
55
 Por sua vez, a produção da linha de pesquisa em antropologia urbana da USP 
surgiu nos anos 1970 a partir da atuação de Eunice Durham (1966) e Ruth Cardoso (1995). 
Na esteira dos estudos sobre aculturação, as duas pesquisadoras foram orientadas, 
respectivamente, para investigar os imigrantes italianos e japoneses, pensando sobre 
grupos étnicos e suas formas de vida na cidade, bem como seu êxodo do mundo rural 
para o espaço urbano. Para as autoras, a questão da imigração italiana e japonesa 
era um tema relevante para tratar a partir do valor de conhecimento antropológico 
e fundamental para se entender o processo da urbanização e da industrialização, já 
que fazia parte da consolidação de uma nova elite econômica e da formação de uma 
massa de trabalho urbana etnicamente diferenciada (DURHAM, 1966; CARDOSO, 1995). 
 Na década de 1980, quem deu continuidade ao trabalho de Durham e Cardoso 
foi José Guilherme Magnani. Um dos trabalhos deste autor, Festa no pedaço: cultura 
popular e lazer na cidade, de 1984, tornou-se uma referência importante ao colocar em 
relevo o tema do lazer, temática muitas vezes considerada menor por uma sociologia 
mais voltada ao universo do trabalho (OLIVEIRA, 2018). A partir de categorias como 
circuito, pedaço e mancha, Magnani mostra a importância de pensar espaços urbanos 
em continuidade analítica, mesmo que estejam distantes geograficamente.
Para saber mais sobre a trajetória de Gilberto Velho, suas investigações e aná-
lises sobre a influência da Escola de Chicago na antropologia brasileira, leia o 
artigo do autor intitulado “Antropologia Urbana: interdisciplinaridade e fronteiras 
do conhecimento”, disponível em: https://bit.ly/32UA96M. Acesso em: 15 set. 2021. 
As contribuições de Velho para a antropologia brasileira são exploradas no livro 
“Antropologia: questões, conceitos e histórias”, de Allan de Paula Oliveira, dispo-
nível na Biblioteca Digital Pearson: https://bit.ly/3HCmPDj. Acesso em: 15 set. 2021.
BUSQUE POR MAIS
56
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (CETAP - 2010). No começo do século XX, Robert Ezra Park inaugura os Estudos de 
Comunicação da Escola de Chicago. Entre as novidades trazidas pelos teóricos, 
podemos destacar a cidade como laboratório social e a ecologia humana. Analise as 
afirmativas seguintes e aponte a alternativa CORRETA.
 
I. O terreno de estudo da Escola de Chicago é a cidade com seus signos de 
desorganização, de marginalidade, de aculturação e assimilação.
II. A ecologia humana estuda as relações de existência entre a sociedade e o meio 
ambiente, incluindo-se aqui os animais e a flora.
III. Para Park, é a “luta pelo espaço” que rege as relações interindividuais. Competição e 
divisão do trabalho resultam em cooperação não-planificada na sociedade.
IV. Os estudiosos da escola se baseavam na pesquisa etnográfica, isto é, entender no 
nível macro as relações sociais.
V. A escola de Chicago nasceu para entender os fenômenos de recepção da TV colorida.
a) Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas.
b) Somente as afirmativas I, III e IV estão corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV estão corretas.
d) Somente as afirmativas III, IV e V estão corretas.
e) Somente as afirmativas I e III estão corretas.
2. (CESGRANRIO - 2011). O surgimento da Escola de Chicago está diretamente ligado ao 
processo de desenvolvimento da cidade de Chicago no início do século XX.
Como consequência, a Escola de Chicago
a) Inaugurou um novo campo de pesquisa sociológica, centrado nos fenômenos 
urbanos.
b) Desconsiderou a importância do uso sistemático dos métodos empíricos em suas 
pesquisas.
c) Levou à constituição da chamada sociologia indigenista como ramo de estudos 
especializados.
d) Tinha como principais objetos de estudo as relações sociais, o marxismo e a produçãocultural.
e) Propunha um conceito de sociedade formado por instâncias autônomas e 
interdependentes.
3. (FCC - 2018). A escola sociológica de Chicago produziu diversas reflexões teóricas 
e metodológicas acerca do desenvolvimento das cidades norte-americanas e dos 
agrupamentos humanos a elas correspondentes. Os estudos iniciais de ecologia 
humana, em particular, propuseram inovadoras explicações da estrutura urbana, que 
ficaram conhecidas por
57
a) Considerarem a estrutura espacial da cidade como resultante do planejamento e da 
atuação científica dos técnicos governamentais.
b) Realizarem uma crítica ao caos urbano e aos problemas sociais encontrados nas 
cidades, a partir da concepção marxista das classes sociais.
c) Demonstrarem, segundo a proposição do sociólogo Robert Ezra Park, a tendência 
de expansão radial da cidade a partir de seu centro, conforme as variações internas 
dos cinco setores delimitados por ele, o que ficou conhecido como “modelo das zonas 
adjacentes”.
d) Identificarem na disposição espacial dos assentamentos urbanos a forma da 
acomodação da organização social em relação ao meio ambiente físico.
e) Estabelecerem os marcos da gestão democrática do espaço urbano, compreendendo 
a cidade a partir dos direitos dos cidadãos.
4. (INSTITUTO - AOCP). A escola de Chicago é reconhecida na sociologia como uma 
importante precursora de estudos que envolvem problemas urbanos, como pesquisas 
sobre conflitos étnicos, raciais, criminalidade, delinquência juvenil etc. Esses estudos 
demonstram de que modo os graves problemas presentes nas cidades podem ser 
estudados a partir de pontos de vistas dos indivíduos que são socialmente apontados 
como os principais responsáveis. A respeito de metodologia de pesquisa e análise de 
dados, assinale a alternativa correta.
a) A escola de Chicago demonstrava, em 1927, que os métodos de estatísticas 
(quantitativos) e os estudos de caso eram conflitivos e mutualmente não complementares. 
Além disso, a utilização dos dois métodos juntos poderia ser metodologicamente 
inconclusiva.
b) As recomendações da escola de Chicago são de que os estudos de caso (qualitativo) 
não devem ser sugestionados por pesquisas quantitativas de mapeamento, haja vista 
que o próprio estudo de caso tem como característica o diagnóstico social que dá luz 
aos processos sociais. Em suma, nesses casos, os indicadores estatísticos não seriam 
adequados.
c) Segundo Mirian Goldeberg, é necessário seguir estritamente regras estabelecidas 
para um estudo de caso, pois cada entrevista e/ou observação deve ser encarada 
como uma pesquisa científica que tem como objetivo produzir resultados precisos e 
generalizantes.
d) Segundo a bibliografia especializada, um estudo de caso deve durar, no máximo, 
semanas, pois, caso esse tempo seja excedido, o pesquisador estará abrindo a 
possibilidade para uma grande variedade de problemas teóricos e descobertas 
inesperadas, o que pode invalidar seu objeto de estudo.
e) Os dados coletados em uma pesquisa qualitativa podem ou não ser generalizados, 
uma vez que as pesquisas que buscam a compreensão sobre os fatos sociais encaram 
a representatividade dos dados a partir de um paradigma diferente do positivismo.
5. Leia o texto abaixo e assinale a alternativa correta a respeito do trabalho de Gilberto 
Velho sobre a influência da Escola de Chicago.
58
Como já tive oportunidade de comentar, sabe-se que a Escola de Chicago não apresentava 
uma unidade de doutrina, mas era constituída por uma rede de profissionais com tipos 
e graus diferentes de ligação com o interacionismo, o pragmatismo, a fenomenologia, 
a ecologia e mesmo o marxismo (ver Velho, 2005). O que os aproximava mais era o 
interesse pela pesquisa dos mais variados tipos, destacando-se o trabalho de campo e a 
observação participante. Desse modo, mesmo quando separadas formalmente em dois 
departamentos, as disciplinas antropologia e sociologia mantinham-se em permanente 
interação, confirmada com o desenvolvimento das carreiras de várias gerações. Os 
objetos de estudo, por sua vez, apresentaram enorme variedade, mas eram, sobretudo, 
selecionados no meio urbano, em grande parte na própria Chicago, que tornou-se o 
laboratório urbano, por excelência. Mas sua atuação estendeu-se, como já foi dito, por 
todos os Estados Unidos e para outros lugares do mundo.
(Gilberto Velho, 2011: 3)
a) Gilberto Velho foi um grande crítico da Escola de Chicago, principalmente de suas 
preferências metodológicas.
b) A Escola de Chicago colaborou com uma separação disciplinar clara entre sociologia 
e antropologia nas Ciências Sociais brasileiras.
c) Robert Park foi o supervisor do trabalho de Gilberto Velho e sua principal referência 
intelectual.
d) Gilberto Velho combinou a metodologia da Escola de Chicago com o interacionismo 
simbólico.
e) As proposições da antropologia urbana brasileira incorporaram vários princípios 
evolucionistas de autores como Herbert Spencer.
6. Complete as lacunas da frase abaixo:
a) Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo / Ruth Cardoso / Eunice Durham
b) Universidade de São Paulo / Ruth Cardoso / Eunice Durham
c) Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Eunice Durham/ Ruth Cardoso
d) Universidade de São Paulo / Eunice Durham/ Ruth Cardoso
e) Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo/ Eunice Durham/ Ruth Cardoso
7. Assinale a alternativa correta a respeito da obra de Gilberto Velho.
a) Seu livro “Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade” foi fundamental para 
trazer discussões sobre lazer na cidade.
b) O autor era contrário à realização de pesquisas em pequenas unidades de análise, 
tais como bairros e vizinhanças.
c) Uma de suas grandes influências foi o trabalho de Howard Becker sobre “grupos 
desviantes”.
A antropologia urbana se consolidou na ¬¬¬¬____________ a partir de duas figuras: 
_________ e __________, que estudaram, respectivamente, a migração japonesa e 
italiana na cidade de São Paulo.
59
d) A maioria de seus orientandos não seguiu sua tradição de pesquisa em temáticas 
urbanas.
e) Seu conceito de antropologia das sociedades complexas tinha a ver com questões 
quantitativas de densidade populacional.
8. (CESPE - 2010). Acerca das migrações e da perspectiva sociológica, assinale a opção 
correta.
a) Os processos de aculturação na situação migratória não afetam a relação de 
dominação entre os homens e as mulheres.
b) A migração constitui um estado, isto é, uma característica permanente em alguns 
dos grupos humanos.
c) Os sociólogos da Escola de Chicago estudaram as migrações analisando diversos 
problemas, entre eles, os fenômenos de segregação e aculturação.
d) A figura dominante do imigrado na França na década de 60 do século XX era a de 
um homem de meia idade, casado, integrante de mão de obra qualificada.
e) A imigração hoje é concebida na Europa como processo de povoamento, vocação 
de estabelecer-se no país e não como migração de trabalho, de passagem.
60
ESTUDOS 
DE GÊNERO 
61
6.1 FEMINISMOS E ACADEMIA
Figura 14: Feminismos e Academia
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3FR05yR. Acesso em: 15 set. 2021.
 O Brasil contou com movimentos de mulheres organizadas em luta pelo sufrágio 
universal, direito à educação e abolição da escravidão pelo menos desde o século 
XIX. Contudo, foi nas décadas de 1960 e 1970 que o feminismo brasileiro eclodiu e 
movimentou uma vívida cena de debates. Esse cenário estava relacionado a mudanças 
efetivas na situação da mulher no Brasil a partir da década de 1960, propiciadas pela 
modernização que o país passava, pondo em questão hierarquias tradicionais de 
gênero. Ao mesmo tempo, esse processo desenrolou-se no contexto adverso das 
ditaduras latino-americanas, que reprimia vozes opositoras. O feminismo militante no 
Brasil, que começou a aparecer nas ruas, dando visibilidade à questão da mulher, surge, 
naquele momento, sobretudo, como consequência da resistência das mulheres a esse 
autoritarismo (SARTI, 2004).
 Nesse mesmo momento, observamos também a inserçãodos estudos feministas, 
ou estudos de mulheres, nas Ciências Sociais, mostrando como o discurso antropológico 
não é puramente acadêmico, mas permeado e reformulado por novas reflexões e 
debates públicos, que muitas vezes se originam fora de seus limites organizacionais. 
Ademais, o feminismo brasileiro contou, desde sua origem, com uma quantidade 
expressiva de mulheres acadêmicas (SARTI, 2004). 
 Segundo Bila Sorj e Maria Luiza Heilborn (1999), algumas versões da história 
consideram que o feminismo brasileiro apareceu primeiro na academia e, só mais 
adiante, teria se disseminado entre mulheres com outras inserções sociais. As 
acadêmicas estavam numa posição privilegiada para receber, elaborar e divulgar 
as novas questões levantadas pelo feminismo já no final da década de sessenta no 
contexto euro-americano, já que estavam mais expostas a ideias que circulavam 
internacionalmente. Assim, quando o movimento de mulheres no Brasil adquire 
visibilidade, muitas das suas ativistas já estavam inseridas nas universidades.
 As abordagens feministas desenvolvidas internacionalmente após finais da 
década de 1960 compartilham algumas ideias centrais. Em termos políticos, consideram 
que as mulheres ocupam lugares sociais subordinados em relação aos mundos 
masculinos (PISCITELLI, 2002). 
 A partir disso, diversas pesquisadoras – tais como Verena Stolcke, Zahidé 
62
Machado, Lélia Gonzalez, Mariza Corrêa, entre outras – começaram a se perguntar se 
as diferenças e desigualdades entre homens e mulheres eram universais, se poderiam 
ser observadas em todo e qualquer contexto e como operavam no Brasil. Nesse sentido, 
a antropologia mostrou-se uma ferramenta importante para os estudos feministas, já 
que o trabalho etnográfico mostrava que havia maneiras muito diversas de conceber o 
masculino e o feminino em diferentes culturas (SARTI, 2004).
 No Brasil, os “Estudos sobre Mulher” foi a denominação mais comum dessa área 
de pesquisa até a década de 1980. Depois disso, o termo mulher (categoria empírica) 
foi gradativamente substituído pelo termo gênero (categoria analítica). Essa mudança 
favoreceu a rejeição do determinismo biológico implícito no uso dos termos sexo ou 
diferença sexual e enfatizou os aspectos relacionais e culturais da construção social do 
feminino e masculino (SORJ e HEILBORN, 1999). 
 Assim, a designação Estudos de Gênero tornou-se a identificadora de uma 
determinada área de estudos, voltada para preencher as lacunas do conhecimento 
sobre a situação/opressão das mulheres na sociedade brasileira, bem como sobre as 
relações entre homens e mulheres, ou entre masculinidades e feminilidades. A seguir, 
apresentaremos a obra de duas antropólogas brasileiras que se destacaram nessa 
área do conhecimento: Lélia Gonzalez e Mariza Corrêa.
 Lélia Gonzalez foi, além de antropóloga, filósofa, professora e militante do 
movimento negro e feminista, constituindo-se como uma das mais importantes 
intelectuais brasileiras do século XX, com atuação incisiva na luta contra o racismo 
estrutural e na articulação das relações entre gênero e raça em nossa sociedade. Por 
isso, considera-se que ela foi uma precursora do conceito de interseccionalidade, muito 
importante para a análise social contemporânea.
6.2 LÉLIA GONZALEZ
Figura 15: Feminismos e Academia
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3pPTK19. Acesso em: 15 set. 2021.
O termo interseccionalidade foi cunhado pela afro-americana Kimberley Crenschaw em 
2002. Tal conceito propicia a observação do entrelace e interlocução de distintos marca-
dores sociais, como raça, gênero, classe, geração, sexualidade, etc. O pioneirismo de Lélia 
Gonzalez é apontado justamente porque a autora, já nas décadas de 1970 e 1980, propu-
nha pensar raça, classe e gênero não como reinos distintos da experiência sobrepostos 
FIQUE ATENTO
63
 Em seu ensaio intitulado “E a trabalhadora negra, cumé que fica?”, publicado 
originalmente em 1982 na Revista Mulherio, Gonzalez denuncia o tratamento dispensado 
às mulheres negras no mercado de trabalho. Com uma linguagem acessível e irônica, 
a autora mostra como os imbricamentos entre raça, classe e gênero proporcionam 
distintas experiências na busca por emprego, gerando desigualdades. Segundo 
Gonzalez:
 Lélia Gonzalez elaborou um diálogo profícuo com o pensamento social brasileiro: foi 
uma importante crítica do elogio da Mestiçagem de Gilberto Freyre e uma interlocutora 
da escola paulista de sociologia, analisando os trabalhos dos estudiosos que investiram 
no entendimento das relações raciais no Brasil, liderados por Florestan Fernandes. A 
autora também estabeleceu um rico diálogo com autores africanos, como Amilcar 
Cabral, bem como com intelectuais latino-americanos, caribenhos e estadunidenses 
pan-africanistas. Dessas trocas vieram reflexões importantes para Gonzalez desenvolver 
suas críticas ao colonialismo e pensar sobre formas de resistir a ele. Da Europa vieram 
três influências fundamentais para suas formulações: o feminismo (principalmente 
através da obra de Simone de Beauvoir), o marxismo (fundamental para pensar sobre 
classes sociais) e a psicanálise, sobretudo no que diz respeito ao aspecto cultural da 
dominação e da subversão, em particular por meio da linguagem (RIOS e LIMA, 2020).
como peças de um lego, e tampouco idênticos ou redutíveis entre si, mas operando em 
uma espécie de imbricamento indissolúvel. Assim, esses elementos existem em relação 
entre si e através dessa relação, mesmo que de modos contraditórios e conflitivos.
 Aquele papo do “exige-se boa aparência”, dos anún-
cios de empregos, a gente pode traduzir por: “negra 
não serve”. Secretária, recepcionista de grandes em-
presas, balconista de butique elegante, comissária de 
bordo etc. e tal são profissões que exigem contato com 
o tal do público “exigente” (leia-se: racista). Afinal de 
contas, para a cabeça desse “público”, a trabalhadora 
negra tem que ficar “no seu lugar”: ocultada, invisível, 
“na cozinha”. Como considera que a negra é incapaz, 
inferior, não pode aceitar que ela exerça profissões 
“mais elevadas”, “mais dignas” (ou seja: profissões para 
as quais só as mulheres brancas são capazes. E esta-
mos falando de profissões consideradas “femininas” 
por esse mesmo “público” (o que também revela seu 
machismo). (GONZALEZ, 2020: 218). 
64
Para saber mais sobre a trajetória de pesquisa e militância de Lélia Gonzalez, es-
cute o episódio 5 do Podcast Vidas Negras. Disponível em: https://spoti.fi/3HzU-
RaW. Acesso em: 18 out. 2021. Ver também o livro “Lélia Gonzalez”, de Alex Ratts 
e Flávia Rios, que versa sobre a história de vida, produção intelectual e ativismo 
político da autora. Disponível na Biblioteca Virtual Pearson https://bit.ly/3JDdh-
cH. Acesso em: 18 out. 2021. 
BUSQUE POR MAIS
6.3 MARIZA CORRÊA
 Mariza Corrêa foi professora do Departamento de Antropologia da Unicamp 
durante 30 anos e foi a primeira mulher a dirigir o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas 
da mesma Universidade. Também presidiu a Associação Brasileira de Antropologia 
(ABA) entre os anos de 1996 e 1998 e deixou um importante legado à antropologia que 
se faz no Brasil. Atuou principalmente na área de estudos de gênero e foi fundadora e 
pesquisadora do PAGU/ Núcleo de Estudos de Gênero, referência no Brasil e no exterior.
 Sua obra mais importante, “Morte em família: representações jurídicas de papéis 
sexuais”, publicada em 1983, analisa os crimes de homicídio e tentativas de homicídio, 
ocorridos em Campinas nas décadas de 1950 e 1960. Tais crimes eram chamados de 
“crimes da paixão” ou “crimes passionais”, por envolverem a morte de um dos cônjuges 
de um casamento, na maioria das vezes as mulheres. Os julgamentos dos mesmos 
eram pautados por um arranjo particular da lógica jurídica e dos valores dominantes 
que definiam o papel de homens e mulheres na sociedade brasileira do período (PONTES, 
2018).
 Elaborando uma concepção relacional do gênero, Corrêa (1983) argumenta que 
os processos de homens que mataram suasmulheres precisam ser justapostos com os 
processos de mulheres que mataram seus maridos. Esse exercício revela como gênero 
é codificado pela ordem jurídica: das mulheres o atributo mais exigido era a fidelidade, 
de maneira que os homens poderiam punir seu descumprimento. Contudo, para 
exigir esse direito, eles deveriam se adequar à figura de provedor do lar. Quando eram 
considerados “bons maridos”, constatava-se que haviam matado suas esposas pela 
defesa da honra. A tese da legítima defesa da honra era uma fundamentação jurídica 
que justificava ser aceitável o comportamento do réu de assassinar ou agredir sua 
parceira caso ela fosse adúltera, pois o adultério teria ferido sua honra. Portanto, essa 
argumentação era uma forma de o agressor atribuir a motivação de seu ato criminoso 
ao comportamento da vítima, culpando-a pelo que ele mesmo cometeu, imputando 
à mulher a causa de sua própria morte ou de seus ferimentos. Em contrapartida, a 
autora aponta que os casos em que a legítima defesa era usada no caso das mulheres 
acusadas de matarem seus companheiros, tinha a ver com a resposta a um ciclo de 
violências iniciado pelo cônjuge, em que a reação delas era apontada como uma 
resposta possível para lutar pela sobrevivência.
65
Figura 16: Mariza Corrêa
Fonte: Cadernos Pagu
Em um levantamento de 2020, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) destacou 
que os casos de feminicídio cresceram 22,2%, entre março e abril deste ano, em 12 estados 
do Brasil, comparativamente ao ano passado. A pesquisa aponta que, com a pandemia de 
Covid-19, aprofundaram-se as situações de convivência mais próxima com os agressores, 
de maneira que as mulheres ficaram mais facilmente impedidas de irem a uma delegacia 
ou outros lugares que prestam socorro às vítimas. Quais medidas e políticas públicas po-
deriam ser desenvolvidas para combater o feminicídio e a violência doméstica?
VAMOS PENSAR?
66
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (IDECAN – 2016 - Adaptado). 
De acordo com a afirmativa anterior, pensar em “diversidade” neste contexto significa:
a) Implica em pensar em um único lugar para a mulher no mundo, esquecendo que 
apesar da diversidade, as experiências femininas têm algo em comum, ou seja, são 
construídas e significadas socialmente em relação ao sexo oposto.
b) Implica em questionar que a mulher é sempre pensada em relação a um outro, que 
é o tipo humano absoluto, ou seja, o masculino. A mulher não se vê, portanto, como 
sujeito de si. O modelo patriarcal impõe a ela a condição de objeto.
c) Implica em refletir que o sexo diz respeito às características fisiológicas e de reprodução. 
Essa diversidade é uma forma simbolizada de identificar, agrupar e compreender o 
conjunto normativo de ações e papéis atribuídos aos homens e às mulheres em uma 
dada sociedade.
d) Implica questionar o que é ser mulher ocidental ou oriental, pobre e asiática, pobre 
e brasileira, rica e americana, deficiente e negra etc. Ficando claro que a situação 
econômica, geográfica, o contexto sócio-histórico, político e cultural, a raça, a etnia, 
a afiliação religiosa e a idade são dimensões fundamentais para compreender o ser 
mulher.
e) Implica a defesa de que a opressão feminina é universal e inata, repetindo-se em 
diversos contextos históricos e geográficos.
2. (SEJUDH - 2017). O tema da violência contra lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, 
travestis e transgêneros, grupo conhecido como LGBTs, ainda é relativamente novo, tanto 
no mundo acadêmico, quanto na esfera das políticas públicas no Brasil. O conceito de 
Gênero baliza discussões acerca dos direitos humanos para a população LGBT e pode 
ser entendido como:
a) Imagem fixa e preconcebida acerca do sexo de alguém cujo fundamento são crenças 
e preconceitos.
b) A atração que um indivíduo sente por outro indivíduo, sendo heterossexual aquele 
que orienta seu desejo para pessoas do sexo oposto ou homossexual para pessoas do 
mesmo sexo.
c) Situado no plano biológico, na diferenciação cromossômica entre indivíduos, sendo a 
“O termo ‘condição feminina’ remete-nos à indagação: o que é ser mulher e que 
implicações decorrem desse fato. O que se pretende problematizar quando falamos de 
condição feminina é a complexidade do ser mulher em diversos contextos sócio-históricos, 
em distintas culturas, em que a apropriação de diferentes significados identitários e de 
papéis sociais parece invalidar a existência de uma única vivência feminina.” 
(Almeida, 2006: 215)
67
junção dos cromossomos sexuais “x” e “y” resulta em um indivíduo do gênero masculino 
e a constituição genética “xx" em um indivíduo do gênero feminino.
d) Percepção do indivíduo sobre seu sexo.
e) Relações estabelecidas a partir da percepção social das diferenças biológicas entre 
os sexos.
3. (IDECAN – 2016 - Adaptado). No que se refere à variável gênero nos estudos 
antropológicos, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as falsas.
( ) O foco em atitudes facilita a determinação da subordinação gênero, posto que 
quando expressas são relativamente estáveis, embora também sejam sensíveis às 
mudanças no clima político. 
( ) As variações de gênero através da cultura podem ser tais que no gênero adulto há 
variantes em que a preferência cultural pode criar outros papéis ou as pessoas podem 
transicionar entre gêneros. 
( ) A subordinação de gênero é evidenciada quando as mulheres são destituídas e/
ou não possuem acesso ao controle de instituições determinantes das políticas que 
afetam as mulheres, tais como os direitos reprodutivos ou a paridade nas práticas de 
emprego. 
( ) O foco do estudo da subordinação de gênero deve ser, principalmente nas relações 
políticas e econômicas e não na atitude, levando em consideração seu caráter simbólico 
e de expressão em relações de complementariedade, mesmo que na antropologia isso 
não seja comum, visto que as teorias centralizam seus estudos no indivíduo.
a) F-V-V-V.
b) V-F-V-F.
c) F-V-F-V.
d) V-V-V-F.
e) F-V-V-F.
4. (VUNESP- 2019). No contexto atual, o termo gênero é usado em contraste com os 
termos sexo e diferença sexual com o objetivo de criar um espaço no qual as diferenças 
de comportamento entre homens e mulheres, mediadas socialmente, possam ser:
a) Exploradas independentemente das diferenças biológicas.
b) Eliminadas, para o surgimento de um padrão único de conduta.
c) Desvinculadas das ordens social, econômica e política estabelecidas.
d) Atribuídas às características determinadas pela bagagem genética.
e) Entendidas como uma inabilidade para o desempenho dos papéis sociais.
5. (Udesc - 2019). Vários foram os movimentos sociais que ganharam força e visibilidade 
a partir dos anos 60. O movimento feminista é, reconhecidamente, um deles. As questões 
de gênero, bastante debatidas nos dias atuais, advêm das pautas e das reivindicações 
deste movimento. A respeito das questões de gênero e com base nas informações 
acima, assinale a alternativa correta. 
68
a) As discussões sobre gênero visam instaurar uma supremacia do feminino sobre o 
masculino. 
b) As relações de gênero são fundamentadas, exclusivamente, na biologia e podem ser 
compreendidas como sinônimo de “sexo”.
c) As chamadas relações de gênero são constituídas por elementos de ordem política, 
econômica e social. 
d) As questões de gênero desconsideram os aspectos históricos, que fundamentam 
uma sociedade. 
e) As questões de gênero não possuem relação com os movimentos feministas. 
6. (UEL - 2016). Leia o texto a seguir. 
Em sua obra, Virginia Woolf (1997) reflete sobre a condição social das mulheres. Tal 
condição foi historicamente abordada com base no pensamento binário, a exemplo da 
díade masculino-feminino, também presente na oposição entre ordem e caos, o que 
pode ser encontrado em diferentes culturas e no pensamento científico. O binarismo, no 
entanto, é uma forma de racionalização da vida social criticada por diferentes correntes 
teóricas. 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre as críticas ao pensamento binário 
aplicado às explicações das relaçõessociais de gênero, considere as afirmativas a 
seguir. 
I. Nesse trecho, Virginia Woolf invoca o paradigma do construtivismo social e entende 
que os posicionamentos sociais das mulheres e dos homens são fruto de forças 
sociais que tendem a transcender as vontades individuais e a gerar opressões. 
II. Para Virginia Woolf, as separações entre o mundo dos homens e o mundo das mulheres 
são intransponíveis, havendo correspondência real entre as representações sociais 
e as práticas dos sujeitos empreendidas na experiência concreta. 
III. As evidências de que diferentes sociedades atribuem posição de domínio ao 
masculino fornecem a comprovação de que os valores culturais são determinados 
pelas diferenças biológicas entre os sexos, o que se expressa em uma cultura 
universal. 
Inevitavelmente, nós consideramos a sociedade um lugar de conspiração, que engole 
o irmão que muitas de nós temos razões de respeitar na vida privada, e impõe em seu 
lugar um macho monstruoso, de voz tonitruante, de pulso rude, que, de forma pueril, 
inscreve no chão signos em giz, místicas linhas de demarcação, entre as quais os seres 
humanos ficam fixados, rígidos, separados, artificiais. Lugares em que, ornado de ouro 
ou de púrpura, enfeitado de plumas como um selvagem, ele realiza seus ritos místicos e 
usufrui dos prazeres suspeitos do poder e da dominação, enquanto nós, “suas” mulheres, 
nos vemos fechadas na casa da família, sem que nos seja dado participar de nenhuma 
das numerosas sociedades de que se compõe a sociedade. 
(WOOLF, V. Trois Guinées. Paris: Éditions des Femmes, 1997. p.200. apud Bourdieu, P. A Dominação Masculina. 
2.ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002. p.4.)
69
Lélia Gonzalez pode ser considerada uma importante crítica da ideia de democracia racial 
subjacente a obra de ____________. O marxismo, a _________ de Jaques Lacan e 
o feminismo de ___________ foram influências fundamentais para a construção de 
seu pensamento.
Lélia Gonzalez (1935–1994) teve um papel pioneiro na criação de uma teoria do feminismo 
negro brasileiro. O momento mais intenso de sua militância ocorreu durante a Ditadura 
Militar (1964–1985), que coibiu a organização política da sociedade civil. A Lei de Segurança 
Nacional, de setembro de 1967, estabelecia que era crime “incitar publicamente ao ódio 
ou à discriminação racial”. O que, na verdade, poderia ser usado contra o movimento 
negro, uma vez que denunciar o racismo e expor o mito da democracia racial poderia ser 
considerado uma ameaça à ordem social, um estímulo ao antagonismo e uma incitação 
ao preconceito.
(BARRETO, Raquel. Memória – Lélia Gonzalez. Revista Cult 247. São Paulo, julho, 2019.)
IV. Pelos exemplos históricos conhecidos, os esquemas binários de representação do 
masculino e do feminino produzem hierarquias entre esses dois termos, de modo a 
reservar um status superior aos atributos classificados como masculinos. 
Assinale a alternativa correta. 
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. 
b) Somente as afirmativas I e IV são corretas. 
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. 
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. 
e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. 
7. Complete as lacunas da frase abaixo sobre a obra de Lélia Gonzalez:
a) Gilberto Freyre/ psicanálise/ Simone de Beauvoir
b) Florestan Fernandes/ psicanálise/ Karl Marx
c) Gilberto Freyre/ análise estrutural/ Amilcar Cabral
d) Amilcar Cabral/ psicanálise/ Simone de Beauvoir
e) Florestan Fernandes/ análise estrutural/ Simone de Beauvoir
8. (UNICAMP - 2021 - Adaptado). 
A partir do excerto sobre Lélia Gonzalez e seu contexto histórico, assinale a alternativa 
correta.
a) A Ditadura Militar perseguiu o feminismo negro no Brasil por ele pregar a supremacia 
das mulheres negras.
b) A Ditadura Militar criou mecanismos para recolher denúncias contra a discriminação 
e combater o racismo estrutural no país.
c) A Lei de Segurança Nacional criou instrumentos jurídicos que possibilitavam a 
70
criminalização de denúncias contra o racismo.
d) A Lei de Segurança Nacional possibilitou a harmonia das relações étnico-raciais e a 
igualdade de gênero no Brasil.
e) A atuação das feministas negras foi estritamente acadêmica, pensando a articulação 
entre gênero e raça na teoria social.
71
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO
UNIDADE 1
UNIDADE 3
UNIDADE 5
UNIDADE 2
UNIDADE 4
UNIDADE 6
QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 A
QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 A
QUESTÃO 7 B
QUESTÃO 8 E
QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 D
QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 E
QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 B
QUESTÃO 4 B
QUESTÃO 5 E
QUESTÃO 6 C
QUESTÃO 7 D
QUESTÃO 8 C
QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 C
QUESTÃO 4 C
QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 D
QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 B
QUESTÃO 1 E
QUESTÃO 2 A
QUESTÃO 3 D
QUESTÃO 4 E
QUESTÃO 5 D
QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 C
QUESTÃO 8 C
QUESTÃO 1 D
QUESTÃO 2 E
QUESTÃO 3 E
QUESTÃO 4 A
QUESTÃO 5 C
QUESTÃO 6 B
QUESTÃO 7 A
QUESTÃO 8 C
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2000.
PISCITELLI, A. Recriando5.2 A Influência da Escola de Chicago ...................................................................................................................................................................................................................................52
5.3 Desenvolvimentos Posteriores .............................................................................................................................................................................................................................................53
FIXANDO O CONTEÚDO .......................................................................................................................................................................................................................................................................56
HOMOMORFISMOS DE ANÉIS
UNIDADE 5
6.1 Feminismos e Academia ............................................................................................................................................................................................................................................................61
6.2 Lélia Gonzalez ...................................................................................................................................................................................................................................................................................62
6.3 Mariza Corrêa ..................................................................................................................................................................................................................................................................................64
FIXANDO O CONTEÚDO.........................................................................................................................................................................................................................................................................66
RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO.......................................................................................................................................................................................................................................71
REFERÊNCIAS ...............................................................................................................................................................................................................................................................................................72
ESTUDOS DE GÊNERO
UNIDADE 6
8
UNIDADE 1
A Unidade I explora as condições de possibilidade do surgimento da antropologia 
brasileira: a preocupação a respeito da miscigenação decorrente do processo de 
colonização e ocupação do país, e os intelectuais de diferentes nacionalidades e 
filiações disciplinares que foram pioneiros ao estudar esse cenário.
UNIDADE 2
A Unidade II apresenta um movimento intelectual que foi fundamental para refletir 
sobre a identidade nacional do Brasil, o modernismo, e também as contribuições de 
dois intelectuais que foram importantes para pensar as especificidades e diferenças 
nacionais: Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda.
UNIDADE 3
A Unidade III analisa a consolidação da antropologia enquanto campo disciplinar 
autônomo, ainda que em relação íntima com a sociologia. Apresentamos, ainda, 
o contexto de criação dos primeiros programas de pós-graduação na área e a 
constituição de uma vertente de pesquisa conhecida como Estudos de Comunidade.
UNIDADE 4
A Unidade IV aprofunda a discussão sobre a importância da questão indígena 
para a antropologia brasileira, trazendo os primeiros estudos etnológicos sobre 
sociedades indígenas no país, além de apresentar a trajetória de dois importantes 
intelectuais que se dedicaram a essa temática: Curt Nimuendajú e Darcy Ribeiro.
UNIDADE 5
A Unidade V apresenta uma importante subárea da antropologia brasileira: a 
antropologia urbana. A partir de uma discussão sobre a influência dos estudos 
urbanos da Escola de Chicago, exploramos os principais desenvolvimentos 
antropológicos realizados nas cidades do Brasil.
UNIDADE 6
A Unidade VI explora as relações entre feminismos e academia na constituição de 
um importante campo de estudos antropológico: os Estudos de Gênero. Dentro desse 
tema, apresentamos as principais contribuições de duas autoras fundamentais, 
Lélia Gonzalez e Marisa Corrêa.
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9
MITOS DE ORIGEM 
10
1.1 INTRODUÇÃO
 No Brasil, foi apenas nas décadas de 1960 e 1970 que a antropologia se constituiu 
enquanto um campo relativamente independente das Ciências Sociais, e não mais 
como um ramo da sociologia dominante dos anos 1940 e 1950. Contudo, mesmo antes 
disso, a disciplina já se gestava sob a influência de intelectuais de diferentes formações, 
nacionalidades e filiações institucionais. Essa diversidade torna difícil definir a gênese 
da antropologia brasileira, por isso a origem formal da disciplina ganhou múltiplos 
marcos, histórias e narrativas. Assim, tal qual um mito, a história da antropologia no/do 
Brasil ganhou várias versões (LARAIA, 2014).
 Há quem atribua esse nascimento à Semana de Arte Moderna de 1922, onde o 
escritor Mario de Andrade consagrou sua obra literária e também suas pesquisas de 
campo, intituladas “aprendizado de turista”, que foram pioneiras ao apontar a Amazônia 
como centro de interesses culturais e políticos (OLIVEIRA, 2018). Há quem marque as 
origens disciplinares antes ainda: em 1835, com a descoberta do material ósseo de 
Lagoa Santa pelo paleontólogo Peter W. Lund. Na ocasião, o cientista dinamarquês 
descobriu mais de 12 mil peças fósseis em cavernas no interior de Minas Gerais, que 
permitiram escrever a história do período pleistocênico brasileiro, o mais recente na 
escala geológica (MORELO, 2013).
 Entre as descobertas de Lund, figura um fóssil denominado o Homem de Lagoa 
Santa, que revelou a presença humana no local há mais de dois mil anos. Sua coleção 
também inclui exemplares de espécies como o tigre-dente-de-sabre, da preguiça 
gigante e do tatu gigante, entre outras. Essas descobertas e suas análises foram a base 
para a construção de uma série de teorias sobre os processos evolutivos dos homens, 
plantas e animais no Brasil (MORELO, 2013).
 As ossadas encontradas por Lund não foram, contudo, os vestígios mais antigos 
das formas de vida humana existentes em períodos geológicos passados em nosso 
continente. Décadas depois, em 1975, a arqueóloga francesa Annette Laming-Emperaire 
encontrou um fóssil humano em um sítio arqueológico no município de Pedro Leopoldo, 
também em Minas Gerais. O crânio pertenceu a uma mulher jovem e foi batizado 
como o fóssil de Luzia, que se tornou conhecido por ser o fóssil humano mais antigo 
encontrado nas Américas, com cerca de 12.500 a 13.000 anos. Luzia se converteu em 
um símbolo de uma nova teoria de povoamento das Américas: a de que o continente 
teria sido colonizado por duas levas de Homo sapiens advindas da Ásia e da África. A 
primeira migração teria ocorrido há cerca de 14 mil anos, por indivíduos semelhantes a 
Luzia. Um segundo grupo de humanos teria entrado aqui há 12 mil anos (MORELO, 2013).
Figura 1: Brasil e seu passado (pré) histórico
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3ztisHO. Acesso em: 12 set. 2021.
11
 A partir dessas descobertas importantes, é necessário pontuar que as pesquisas 
brasileiras de cunho arqueológico e antropológico só se ampliaram a partir da década 
de 1970, com a vinda de estrangeiros para expedições na Amazônia e com as atividades 
do Museu Nacional. Com a Proclamação da República, começaram a atuar nessas 
áreas de investigação também o Museu Paulista, em São Paulo, e o Museu Paraense, 
em Belém. Contudo, a tradição de arqueologia humanista, que se desenvolveu desde 
os museus, foi interrompida, em 1964, pelo golpe militar que implantou a ditadura no 
Brasil e restringiu consideravelmente as pesquisasa (categoria) Mulher?”. In: Leila Algranti (org.) “A prática Feminista 
e o Conceito de Gênero”. Textos Didáticos, nº 48. Campinas, IFCH-Unicamp, 2002.
RIBEIRO, D. O Povo Brasileiro. A formação e o Sentido do Brasil. – 1 ª ed. 1995 – 2ª ed. São 
Paulo: Companhia das Letras, 2002. 
RIOS, F. e LIMA, M. Introdução, in GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano: 
ensaios, intervenções e diálogos. Rio de Janeiro: Zahar, 2020. 
PONTES, H. Da morte em família à babá de Freud: homenagem a Mariza Corrêa. Cadernos 
Pagu (54), 2018.
POZ, J. A etnia como sistema: contato, identidade e fricção no Brasil indígena. Revista 
Sociedade e Cultura, v.6, nº2, 2003.
RODRIGUES, M. F. Raça e criminalidade na obra de Nina Rodrigues: uma história 
psicossocial dos estudos raciais no Brasil no final do século XIX. Revista de Estudos e 
Pesquisas em Psicologia, v.15, nº3. Rio de Janeiro, 2015.
SARTI, C. O feminismo brasileiro desde os anos 1970: revisitando uma trajetória. Revista 
de Estudos Feministas, 12(2), Florianópolis, 2004.
SIMÕES, J. Um ponto de vista sobre a trajetória da Escola de Sociologia e Política. In 
KANTOR, I.; MACIEL, D.; SIMÕES, J. (Orgs.). A Escola Livre de Sociologia e Política. São Paulo: 
74
Escuta, 2001.
SCHWARCZ, L. K. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no 
Brasil: 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
VELHO, G. Antropologia urbana: interdisciplinaridade e fronteiras do conhecimento. 
Revista Mana, v.17(1), 2011.
75
graduacaoead.faculdadeunica.com.brem ciências humanas (FUNARI, 2013).
 Os inícios da antropologia brasileira, suas descobertas mais recentes e sua 
resistência diante do autoritarismo formam uma linha do tempo interessante para 
pensar sobre a formação desse campo disciplinar no contexto brasileiro. No Brasil, 
inicialmente, por antropologia entendia-se, de forma dominante, o estudo canônico de 
“sociedades tribais”. Essa antropologia, quase sempre de origem germânica, se situava 
no contexto mais amplo da paleontologia, da antropologia física, da arqueologia, e 
encontrava-se, sobretudo, nos museus (PEIRANO, 2005).
 Essa trajetória singular deve-se, principalmente, ao fato de que no nosso país 
as universidades surgiram muito tardiamente, se o comparamos com outros países 
latino-americanos. Portanto, essa lacuna teve que ser preenchida pelos museus, por 
exemplo, enquanto a primeira universidade brasileira foi criada apenas em 1934, o 
Museu Nacional foi fundado em 1818. Assim, a pesquisa antropológica já dispunha de 
um espaço institucional desde o final do século XIX (LARAIA, 2014).
 Não obstante, como veremos, a disciplina tomou rumos diversos. Assim como os 
antropólogos Mariza Corrêa (2013) e Roque Laraia (2014), traçaremos uma genealogia 
da antropologia do/no Brasil a partir de outro personagem, que foi um dos grandes 
fundadores da disciplina no país, o médico Raimundo Nina Rodrigues. A partir de 
sua trajetória, apresentaremos uma outra versão da origem formal da antropologia 
brasileira.
 Os inícios da antropologia no Brasil são frequentemente intitulados como a fase 
dos pioneiros. Esse período é compreendido entre os anos de 1835 e 1933, quando a 
presença de antropólogos brasileiros era irrisória. As investigações eram realizadas, 
sobretudo, por europeus em expedições temporárias pelo território nacional (CORDOVIL, 
2008). Desde o século XVI, o Brasil ocupa um lugar especial no imaginário europeu, 
seja por sua natureza tropical exuberante, ou por sua população racialmente diversa, 
produzindo curiosidades e reflexões aos olhos do Velho Mundo até o século XIX, pelo 
Para saber mais sobre as origens e desenvolvimentos posteriores da arqueo-
logia brasileira, ver o livro de Pedro Paulo Funari (2012), intitulado “Arqueologia”, 
disponível na Biblioteca Pearson. https://bit.ly/3FKC5xf. Acesso em: 12 set. 2021.
BUSQUE POR MAIS
1.2 OS PIONEIROS
12
menos (GOMES, 2008). Vários relatos naturalistas de pesquisadores que chegavam ao 
país manifestavam preocupação com a mestiçagem que observavam nessa sociedade. 
A característica miscigenada de nossa população foi vista como um laboratório ao 
mesmo tempo curioso e degradante das raças (SCHWARCZ, 1996). Nesse contexto, os 
médicos foram figuras importantes dentre os intelectuais convocados a pensar sobre 
essas questões.
 Ainda que pareçam profissões muito distantes hoje em dia, os médicos tiveram 
um papel fundamental na história de nossa disciplina. Laraia (2014) conta uma anedota 
curiosa sobre a ocasião em que o termo antropologia foi utilizado formalmente pela 
primeira vez em relação ao Brasil. Foi em um livro do explorador britânico Richard Burton, 
intitulado “Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho”, de 1869. Em um dado momento da 
obra, ele apresenta suas observações “sobre a antropologia descritiva de Minas Gerais”. 
Nesse texto, Burton lança mão de conceitos de uma antropologia biológica da primeira 
metade do século XIX, que acreditava na influência fenotípica nas diferentes formas de 
comportamentos. Diz ele, então:
 Em seguida, comparando os mineiros com os ingleses, o explorador afirma: “Entre 
nós (os ingleses) o temperamento nervoso é mais conhecido pelo cabelo sedoso e fino, 
aqui temos o mesmo acompanhado por um topete” (LARAIA, 2014).
 Esse trecho é bastante revelador do discurso cientificista, marcado pelo racialismo 
dogmático, em voga no século XIX, bem como da importância do papel dos médicos na 
história da disciplina. Foram eles os fundadores ou incentivadores da antropologia em 
diversas regiões do país. Assim foi com Roquette-Pinto e Arthur Ramos, no Rio de Janeiro; 
Nina Rodrigues e Thales de Azevedo, na Bahia; Oswaldo Cabral, em Santa Catarina; José 
Loureiro Fernandes, no Paraná, e René Ribeiro, em Pernambuco (LARAIA, 2014).
 Os debates que mobilizavam a intelectualidade brasileira no fim do século XIX 
e início do XX, marcados pelo longo histórico nacional de escravidão, expressam a 
medida da dificuldade de se formular, à época, interpretações do país e, sobretudo de 
sua composição étnica, que não tivessem uma forte carga racista. Com efeito, o apoio 
nas teorias raciais populares naquele momento parecia definir o próprio estatuto de 
cientificidade. Segundo Lilia Schwarcz (1993), as teorias raciais propostas pela academia 
se sobrepuseram aos dogmas religiosos reinantes até então, e deram status científico 
às desigualdades entre os seres humanos. Desse modo, por meio do conceito de raça, 
A tez do mineiro é de um pardo escuro morno, rara-
mente corado na face, e muitas vezes perturbado pela 
secreção de bílis, ou pela obstrução dos condutos. É na 
realidade, a cor do português do Algarves, onde o mou-
ro viveu durante tanto tempo (in LARAIA, 2014:12).
Para conhecer em linhas gerais as teorias desses estudiosos, ver livro “Antro-
pologia: questões, conceitos e histórias”, de Allan de Paula Oliveira, disponível 
on-line na Biblioteca Pearson. https://bit.ly/3JNa1fc. Acesso em: 12 set. 2021. 
BUSQUE POR MAIS
13
Gobineau escreveu Ensaio sobre a desigualdade das 
raças humanas, publicado em 1855, obra fundamental 
no estabelecimento de teses racistas e da ideia de eu-
genia (purificação racial). O autor permaneceu no país 
por pouco mais de um ano e viu no Brasil a prova irre-
futável de suas teses racistas: ele previu, em um texto 
de 1874, que os brasileiros seriam uma raça extinta no 
prazo de 200 anos (OLIVEIRA, 2018: 244).
puderam classificar a humanidade, fazendo uso de sofisticadas taxonomias.
Na virada do século, o conceito de raça era pensado como se fosse uma formulação 
de ordem natural, objetiva ou biológica, que determinava a esfera sociocultural. Nessa 
perspectiva, a raça emergiu como instrumento de classificação de grupos humanos, 
fazendo com que a humanidade se convertesse em um objeto de estudo da biologia. 
As teorias raciais que emergiram então baseavam-se na ideia de que a humanidade 
está dividia em raças, de maneira que as diferentes raças constituem uma hierarquia 
biológica, na qual os brancos ocupam posição de supremacia. No Brasil, o racismo 
científico ganhou contornos específicos, estando especialmente interessado em 
discussões sobre a mistura de raças e os riscos de degeneração decorrentes dela 
(Schwarcz,1993)
 Como o Brasil era considerado um verdadeiro “caldeirão de raças”, esse ideário 
encontrou solo fértil no meio intelectual local. Em 1869, chegou ao Brasil o diplomata 
francês Arthur de Gobineau, um dos principais nomes do pensamento racialista daquele 
século e grande defensor da “purificação racial”. Segundo Allan de Oliveira,
 As ideias defendidas por Gobineau tiveram grande impacto no pensamento social 
brasileiro, de maneira que a mestiçagem passou a ser vista como um grande entrave para 
o desenvolvimento do país. Essa perspectiva catalisou uma série de políticas públicas 
pautadas pelo desejo de “melhorar” a composição racial da sociedade nacional, como o 
incentivo financeiro para o recebimento de imigrantes italianos e alemães. Acreditava-
se que o branqueamento da população gerado por essa importação humana poderia 
reverter o quadro de “degeneração” causado pela mestiçagem da sociedade brasileira 
(OLIVEIRA, 2018).
1.3 NINA RODRIGUES
Figura 2: Retrato de Nina Rodrigues
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3mU8Kcp. Acesso em: 12 set. 2021.
14
A ideia central das formulações de Nina Rodrigues era a relação entre raça e compor-
tamento inato. A partir daí, desenvolveram-se ideias de que determinadas raças esta-
riam mais predispostas ao crime. Nessa perspectiva, a antropologiacriminal brasileira 
era convocada a pensar a desordem social do país. Sua referência principal era o italiano 
CesareLombroso, que no século XIX se tornou um mestre em técnicas que, supostamente, 
poderiam oferecer provas empíricas de predisposição para o crime, tais como a antropo-
metria (a medição física de certas partes do corpo) e a frenologia (medição específica 
do crânio).
FIQUE ATENTO
 O termo raça, entendido como um conceito morfobiológico - isto é, aplicado a 
povos distintos para explicar ou explicitar diferenças fenotípicas e caracteres somáticos 
- emergiu com força em meados do século XIX como parte de um discurso cientificista 
construído pela classe letrada ocidental, sobretudo europeia. Na esteira dessa produção 
intelectual, Raimundo Nina Rodrigues foi um conhecido médico maranhense, radicado 
na Bahia, que no final do século XIX interessou-se pelos estudos raciais a partir da 
Medicina Legal. Produziu diversas obras nas quais busca explicar e analisar o que ele 
considerava provas irrefutáveis da inferioridade da raça negra. Assim, Nina Rodrigues 
se debruçava sobre casos de crimes, de loucura, de crenças religiosas, sempre na 
busca de pistas que pudessem comprovar suas teorias sobre a inferioridade racial no 
contexto brasileiro (CORRÊA, 2013).
 Como o tema da miscigenação constituía um campo híbrido, em que biologia e 
sociologia se entrecruzavam, vários autores, em especial os médicos, foram convocados 
para pensar sobre a questão racial e seus efeitos sobre a sociedade brasileira. Nesse 
cenário, Nina Rodrigues se tornou o precursor em um campo recente, visto como uma 
nova ciência: a antropologia criminal (OLIVEIRA, 2018).
 Em 1894, Nina Rodrigues publicou o livro “As raças humanas e a responsabilidade 
penal no Brasil”, que tinha como propósito apresentar as modificações que as reflexões 
sobre raça imprimiriam à responsabilidade penal, assim como criticar o Código Penal 
Brasileiro de 1890. Seu argumento parte do pressuposto de que haveria uma diferença 
Figura 3: Frenologia
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3HwSNRi. Acesso em: 12 set. 2021.
15
fundamental entre as raças no que se referia à sua constituição mental, fazendo com 
que os negros, caracterizados pelo “atraso cultural”, tivessem uma tendência biológica 
para o crime. Por isso, o autor propõe um tratamento diferenciado no Código Penal 
Brasileiro para negros, indígenas e mestiços, que concebe como raças inferiores. Sua 
perspectiva, claramente identificada com o darwinismo social e teorias eugenistas, 
sustenta que os crimes cometidos por esses grupos sociais só poderiam ser analisados 
a partir de um ponto de vista racial que levasse em conta os valores morais e as noções 
de justiça vigentes nas suas respectivas comunidades. Assim, a sugestão proposta por 
Nina Rodrigues foi de que cada região do país possuísse seu próprio código, adaptado 
às condições raciais e climáticas de cada uma delas, abandonando a unidade legal 
que era defendida pelo direito clássico (RODRIGUES,2015).
 Desde sua atuação como professor na Faculdade de Medicina na Bahia, Nina 
Rodrigues teve o ímpeto de observar in loco os costumes e as práticas da população 
negra local. Por isso, ele ficou conhecido como um grande frequentador de candomblés 
e bairros de população majoritariamente negra em Salvador. Durante toda a década 
de 1890, ele observou e coletou informações diretas sobre a cultura negra na cidade, 
produzindo obras importantes como “O animismo fetichista dos negros baianos”, de 
1900, e “Os africanos no Brasil”, publicada postumamente, em 1932 (CORRÊA, 1993).
 A despeito de suas visões racistas e etnocêntricas, esses livros constituem 
registros históricos importantes sobre práticas da cultura negra, especialmente das 
religiões afro-brasileiras. Por causa disso, e pelo seu diálogo com autores capitais 
da antropologia, como Edward B. Tylor (1832-1917) a Gabriel Tarde (1843-1904), Mariza 
Corrêa (2013) aposta que Nina Rodrigues deixou fissuras em algumas das premissas 
do racialismo e em seus próprios ideais, cedendo espaço para que seus discípulos 
criassem um quadro teórico distinto, pautado na valorização da mestiçagem.
Pesquisas sociológicas contemporâneas (BARROS, 2008) mostram que as abordagens po-
liciais operam com uma filtragem racial, em que pessoas negras são preferencialmente 
abordadas e vítimas de violência letal pelas forças de segurança do Estado. Nesse sentido, 
pode-se dizer que o ideário defendido por Nina Rodrigues tem consequências persistentes 
até os dias de hoje?
VAMOS PENSAR?
16
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (FGV - 2018 - Adaptado). 
A importância do achado se deve ao fato de:
a) Tratar-se de uma das poucas peças recuperadas do incêndio do museu.
b) Permitir a continuidade das pesquisas.
c) Haver possibilidade de completa restauração.
d) Representar uma peça emblemática do museu e da antropologia.
e) Ser um fóssil das américas com 2.000 anos.
2. (INSTITUTO EXCELÊNCIA – 2018 - Adaptado). Recentemente, com o incêndio do Museu 
Nacional no Rio de Janeiro, a comunidade científica perdeu o crânio de Luzia, o fóssil 
humano mais antigo das Américas. Segundo Walter Neves (2006) o crânio de Luzia foi 
descoberto na década de 1970 a partir de escavações na região de Lagoa Santa em 
Minas Gerais. Com a descoberta da expedição franco-brasileira, levantou-se amplo 
debate sobre a chegada do ser humano às Américas. Sobre isto assinale a alternativa 
CORRETA.
a) A descoberta do fóssil de Luzia com mais de onze mil anos, colocou em cheque a 
teoria de que o ser humano chegou as Américas por meio do estreito de Bering no 
mesmo período.
b) A referida descoberta foi a responsável pela legitimação da teoria de Clóvis, que 
afirma que os primeiros humanos teriam chegado na costa do Pacífico por intermédio 
de uma espécie rudimentar de barco.
c) A tese de que o ser humano teria chegado às Américas por meio do estreito de 
Bering se encontra completamente descartada, por conta das irrefutáveis provas 
empreendidas pela arqueologia brasileira.
d) Pesquisas mais recentes dão conta que, na verdade, o fóssil de Luzia é um caso 
isolado e pode ser descartado na tentativa de compreender a origem do homem nas 
Américas.
e) A exposição do fóssil de Luzia no Museu Nacional diz muito sobre os primórdios das 
pesquisas antropológicas realizadas nas precoces universidades brasileiras.
3. (UNCISAL - 2018). No Brasil pós-abolição, na virada do século XIX para o século XX, 
O Museu Nacional anunciou, nesta sexta-feira (19), que conseguiu resgatar o crânio de 
Luzia, o fóssil humano mais antigo das Américas. A peça é uma das mais emblemáticas 
do acervo incendiado em 2 de setembro. O crânio foi e encontrado fragmentado, mas 
a restauração é possível, segundo os cientistas. A reconstrução depende de repasse de 
verba do Governo Federal para reabrir o laboratório do museu, que é gerido pela UFRJ 
(Universidade Federal do Rio de Janeiro).
 (UOL Notícias, 20/10/2018) 
17
Mas era nas faculdades de medicina e psiquiatria que as convicções eugenistas atingiam 
seu estado mais avançado. ___________ – que até hoje dá nome ao Instituto Médico 
Legal (IML) de Salvalvador e a um hospital em São Luís do Maranhão – foi quem começou 
a adaptar à realidade brasileira as ideias racistas de teóricos como ___________, 
criador da teoria do “criminoso nato”. Em Mestiçagem, Degenerescência e Crime, o autor 
um conjunto de teorias raciais foi elaborado pelos intelectuais da época com o intuito 
de explicar a formação nacional brasileira. Dentre as teorias elaboradas, a que mais 
ganhou destaque nesse momento foi a do médico Raymundo Nina Rodrigues (1862-
1906), que afirmava a determinação da hereditariedade biológica sobre as instituições 
sociais da nação brasileira. É correto afirmar que uma das consequências desse tipo de 
pensamento se manifestou:
a) Na política do branqueamento da população brasileira e na adoção de mão de obra 
de origem imigrante europeia na lavoura brasileira no início do século XX.
b) No estabelecimentode ações afirmativas e na criação de cotas para a população 
negra no serviço público, durante toda a vigência da Primeira República.
c) Na defesa do africanismo como sistema cultural brasileiro, amplamente difundido no 
sistema escolar da época.
d) No desenvolvimento das chamadas epistemologias do sul no pensamento filosófico 
produzido no Brasil no final do Segundo Império.
e) Na produção de um código civil segregacionista, instaurando oficialmente o apartheid 
em todo o Brasil a partir da proclamação da República.
4. Os profissionais de diversas áreas que empreenderam as primeiras pesquisas de 
cunho antropológico no Brasil são frequentemente chamados de:
a) Os colonizadores.
b) Os pioneiros.
c) Os estruturalistas.
d) Os mestiços.
e) Os sociólogos.
5. Com a influência das ideias de Arthur de Gobineau, como a mestiçagem passou a 
ser apreendida no Brasil?
a) A mestiçagem passou a ser vista como a porta de entrada para a evolução cultural.
b) A mestiçagem passou a ser vista como um exemplo diplomático de capacidade 
brasileira de se comunicar.
c) A mestiçagem passou a ser vista como uma possibilidade de união entre diferentes 
povos.
d) A mestiçagem passou a ser vista como a melhor saída para aumentar a densidade 
populacional e ocupar o país.
e) A mestiçagem passou a ser vista como um entrave para o desenvolvimento do Brasil.
6. Complete as lacunas do texto abaixo:
18
descreve o mestiço e o negro como “naturalmente delinquentes”. Com base nisso, ele 
propôs uma reforma penal que atribuísse penas mais rígidas para africanos e seus 
descendentes.
(Fonte: Revista Super Interessante, 2019.)
a) Raimundo Nina Rodrigues / Cesare Lombroso
b) Arthur de Gobineau/ Nina Rodrigues
c) Nina Rodrigues/ Arthur Ramos
d) Arthur Ramos/ Cesare Lombroso
e) Cesare Lombroso/ Arthur de Gobineau
7. Assinale quais afirmativas abaixo estão corretas.
I. Os médicos tiveram um papel primordial na antropologia brasileira.
II. A antropologia sempre se pautou em princípios antirracistas e na defesa da 
diversidade cultural.
III. Nina Rodrigues relacionava traços raciais ao comportamento inato dos indivíduos.
IV. O Brasil ocupava um lugar inexpressivo no imaginário europeu.
a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
8. Assinale quais afirmativas a respeito da trajetória de Nina Rodrigues estão corretas.
I. Nina Rodrigues foi professor na Faculdade de Medicina da Bahia.
II. Nina Rodrigues utilizava métodos antropométricos em suas investigações.
III. Nina Rodrigues foi o precursor da antropologia criminal.
IV. Nina Rodrigues produziu registros de grande importância histórica da cultura negra 
local.
a) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
b) Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
c) Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
d) Apenas as afirmativas II, III e IV estão corretas.
e) Todas as afirmativas estão corretas.
19
IDENTIDADE NACIONAL E 
PENSAMENTO SOCIAL 
20
 Na unidade anterior, vimos que o pensamento social brasileiro, na virada do século 
XIX para o XX, buscava compreender o que singularizava a sociedade brasileira diante 
de outras sociedades. No esforço de pensar as especificidades e diferenças nacionais, 
as questões relacionadas à raça emergiram com força nos trabalhos de diversos 
autores, como Nina Rodrigues, Arthur Ramos e Arthur de Gobineau. De maneira geral, 
a visão mais corrente à época era marcada pelo racismo explícito e por uma crítica à 
mestiçagem, recaindo frequentemente em proposições eugenistas.
 Contudo o movimento intelectual chamado de modernismo, que veio num 
primeiro momento (década de 1920) no campo das artes, até atingir o pensamento 
social brasileiro (anos 1930), inverteu o modo como a mestiçagem era percebida em 
relação à singularidade da sociedade brasileira. Segundo Allan de Oliveira,
 O pensamento romântico deslocava o foco na noção iluminista de indivíduo para 
uma ideia de grupo, de coletivos sociais, para sua linguagem e subjetividade. Esse foco 
na análise social dos conjuntos de valores nacionais ou da marca espiritual de um 
determinado povo foi importante para a noção moderna de cultura. Nesse sentido, o 
modernismo deslocou o debate sobre a singularidade da sociedade brasileira a partir 
de uma ênfase na ideia de cultura brasileira. E, nessa ênfase, foram produzidas obras 
que se tornaram canônicas no pensamento social brasileiro, cujos autores de maior 
destaque apresentaremos nessa unidade. Assim, a prática modernista de mobilizar a 
cultura para a conformação da identidade nacional foi incorporada pelo projeto de 
construção nacional, seja pelos meios de comunicação de massa ou pelo Estado, que 
nos anos 1930 cria suas primeiras universidades e institucionaliza o ensino de Ciências 
Sociais no Brasil.
2.1 O MODERNISMO
Se antes a mistura racial era vista como a grande fonte 
dos males que assolavam o Brasil, os modernistas in-
verteram essa premissa e defenderam a mestiçagem 
como um valor positivo da sociedade brasileira e o ve-
tor de sua originalidade. Essa inversão de perspectiva 
tem raízes profundas que remetem ao fortalecimento 
do romantismo como tendência intelectual do fim do 
século XIX (OLIVEIRA, 2018: 250).
O movimento antropofágico do modernismo brasileiro tinha o mote de assimilar 
criticamente as influências internacionais e valorizar as manifestações culturais 
locais. O uso da noção de “antropofagia” tem a ver com o ato de comer a carne 
de outra pessoa em atos ritualísticos, em que determinados povos originários 
acreditavam estar adquirindo também as suas habilidades. Nessa perspectiva, 
o movimento promovia reflexões para “engolir as influências estrangeiras” para, 
a partir delas, enxergar a realidade única do Brasil, com o intuito de desenvolver 
uma nova cultura com a cara do país. Para saber mais, ver “História e Modernis-
mo”, de Mônica Pimenta Velloso. Disponível na Biblioteca Virtual Pearson. Dispo-
nível em: https://bit.ly/3JzPJpl. Acesso em: 15 set. 2021.
BUSQUE POR MAIS
21
 Abaporu, pintura clássica do modernismo, da artista Tarsila do Amaral. O nome 
da obra é de origem tupi-guarani e significa "homem que come gente" (canibal ou 
antropófago). O título da tela é resultado de uma junção dos termos aba (homem), 
pora (gente) e ú (comer).
 Se o Brasil se sentia inferior e atrasado nos primeiros anos do século XX, ele foi 
sacudido pela Semana de Arte Moderna, em 1922, que interpelou seu “complexo de vira-
lata”. Aos poetas e escritores geniais, como Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário 
de Andrade, se juntaram figuras como os folcloristas Azevedo Amaral e Câmara Cascudo, 
e foi-se desencadeando o projeto de modernização cultural da nação. Seus trabalhos 
constituem um rico acervo sobre culturas tradicionais, sobretudo de matriz rural, e 
apresentam análises sobre os efeitos que processos de urbanização e modernização 
tinham sobre os modos de vida tradicionais. Isso implicava o autoconhecimento da 
cultura brasileira, que se baseava em estudos e pesquisas sobre os costumes do povo 
no seu passado e presente (GOMES, 2008).
 Um personagem importante nesse processo foi Gilberto Freyre, sociólogo e 
antropólogo que nasceu em Pernambuco no ano de 1900. Durante sua trajetória 
profissional, ele se tornou uma figura importante para a institucionalização das 
Ciências Sociais, já que criou várias cátedras de Sociologia nas primeiras universidades 
2.2 GILBERTO FREYRE
Figura 4: Abaporu
Fonte: Tarsila do Amaral (1928)
Figura 5: Gilberto Freyre
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3pQTz5m. Acesso em: 15 set. 2021.
22
brasileiras, como na Universidade do Distrito Federal, fundada em 1935.
 Em 1933, Freyre publicou o célebre livro “Casa Grande & Senzala”, no qual apresentou 
as características específicas da colonização portuguesa, a formação da sociedade 
agrária nordestina, o uso do trabalhoescravizado e, principalmente, como a mistura 
de raças ajudou a compor a sociedade brasileira. Com argumentos antropológicos 
trazidos de seu aprendizado nos Estados Unidos, junto ao “pai” da antropologia norte-
americana moderna, Franz Boas, o autor contrapôs o paradigma da mestiçagem como 
forma de degeneração da nação. Freyre propõe um caminho inverso, mais afeito aos 
ideais modernistas, valorizando as características do índio, do negro e do português e 
acrescentando ainda a ideia de que a mistura dessas raças seria a grande força de 
nossa cultura. Assim, ele forneceu, para o seu tempo, uma nova maneira de conceber a 
identidade nacional brasileira (OLIVEIRA,2018). 
 No livro, Freyre relata, com estilo um tanto literário, ambientes, festas, indumentárias, 
comidas e rituais de comensalidade. Com um olhar iconográfico marcante, ele explora 
a pintura e o desenho como elementos de representação cultural. Sua preocupação 
centrava-se na interpretação do Brasil, o que ele operacionalizou principalmente 
por meio da questão racial, sem ignorar outros elementos sociais e políticos que se 
coadunassem com sua elaboração em torno da singularidade cultural brasileira 
(OLIVEIRA,2019).
 Segundo o autor:
 Na perspectiva de Freyre, a colonização portuguesa trazia elementos bastante 
específicos para a história brasileira, já que havia sido empreendida por colonizadores 
já marcados pela mistura étnica: europeus mestiços a partir do contato com os povos 
invasores da Península Ibérica, provenientes do Norte da África. Nesse sentido, o próprio 
passado étnico e cultural dos portugueses já os teria condicionado a não possuir 
restrições para “misturarem-se gostosamente” com outros povos não europeus. O autor 
também argumenta que Portugal sempre foi uma terra de população escassa, porém 
guiada por desejos expansionistas, de maneira que os relacionamentos inter-raciais 
entre homens portugueses com mulheres indígenas e, posteriormente, com mulheres 
africanas se tornaram meios de viabilizar a tarefa colonizadora dos trópicos. Portanto, 
A escassez de capital-homem supriram-na os portu-
gueses com extremos de mobilidade e misciblidade, 
(...), em uma atividade genésica que tanto tinha de 
violentamente instintiva da parte do indivíduo quanto 
de política, de calculada, de estimulada por evidentes 
razões econômicas e políticas da parte do Estado. (...). 
Quanto a miscibilidade, nenhum povo colonizador dos 
modernos, excedeu ou sequer igualou nesse ponto os 
portugueses. Foi misturando-se gostosamente com 
mulheres de cor logo ao primeiro contato e multipli-
cando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas 
de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse 
de terras vastíssimas (...). A miscibilidade mais do que 
a mobilidade, foi o processo pelo qual os portugueses 
compensaram-se da deficiência em massa ou volume 
humano para a colonização em larga escala e sobre 
áreas extensíssimas (FREYRE, 2006, p. 70).
23
 Por sua vez, Florestan Fernandes defendia que o racismo era um resíduo 
considerável da ordem escravocrata e um pilar da sociedade brasileira. Distanciando-
se da ideia de miscigenação harmônica, o autor aposta que a desigualdade racial no 
Brasil é resultado direto das disparidades sociais entre pessoas brancas e não brancas 
na educação, no acesso ao mercado de trabalho, na economia, entre outras esferas da 
vida social. Suas formulações apontam que o Estado brasileiro não promoveu qualquer 
tentativa efetiva de integração da população negra, já que após a abolição da escravidão 
os negros e negras seguiram exercendo trabalhos precários semelhantes aos que já 
realizavam. Assim, a população negra continuou vivendo sem moradia adequada, com 
oportunidades laborais escassas e condições de vida miseráveis (FERNANDES, 1965).
o processo de formação nacional composto por Freyre é considerado exitoso por ser 
apoiado em uma base racial heterogênea: a constituição de uma brasilidade mestiça 
seria a peça-chave para a construção da nação brasileira. Contudo, essa suposta 
“harmonia” racial descrita pelo autor foi bastante criticada posteriormente (MOURA E 
SILVA, 2015).
Embora a sociedade descrita por Freyre seja um ambiente profundamente marcado pelo 
autoritarismo patriarcal, alguns autores importantes da sociologia, como Florestan Fer-
nandes, defendem que seu retrato nacional, pautado pela influência de diversas raças 
para a formação de um caráter nacional, teria criado também uma imagem idílica do 
Brasil colonial, romantizando as hierarquias sociais. Essa narrativa de convivência pacífica 
entre portugueses, negros e indígenas ganhou a alcunha de mito da democracia racial. 
Nessa perspectiva, a mestiçagem seria produzida mais pelo signo das relações afetivas 
do que pelas relações de violência e desigualdade que estruturaram a escravidão.
FIQUE ATENTO
Figura 6: Um jantar brasileiro
Fonte: Jean Baptiste Debret (1927)
2.3 SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA
24
Figura 7: Sérgio Buarque de Holanda
Fonte: Disponível em: https://bit.ly/3EQH2U3. Acesso em: 15 set. 2021. 
 Além de Gilberto Freyre, outro autor importante na década de 1930 ao teorizar 
sobre a cultura brasileira e a identidade nacional foi Sérgio Buarque de Holanda, com 
sua célebre obra “Raízes do Brasil”, de 1936. No entanto, suas referências teóricas, 
bem como o peso heurístico do conceito de cultura nesse livro, diferem das de Freyre. 
Ainda assim, quando se pensa na forma como reflexões baseadas nas diferenças 
entre sociedades foram produzidas no Brasil, o período entre 1870 e 1930 se revela 
fundamental e as formulações de Buarque de Holanda se destacam, ainda que ele não 
fosse um antropólogo no sentido estrito do termo. Apesar de ter se formado em direito 
e atuado, na maior parte do tempo, como jornalista, suas análises tinham um caráter 
antropológico e propiciaram um campo para o surgimento de uma ciência social no 
Brasil, institucionalizada e preocupada com o desenvolvimento metodológico tanto da 
sociologia quanto da antropologia, mesmo que seus trabalhos assumissem uma forma 
menos empírica e mais ensaística (OLIVEIRA, 2018).
 O livro Raízes do Brasil foi publicado apenas três anos depois de Casa-Grande 
& Senzala e seis anos antes de Formação do Brasil Contemporâneo, do sociólogo 
Caio Prado Junior. Segundo Antônio Cândido, sociólogo e escritor carioca, esses três 
livros conformam uma tríade de obras seminais que foram fundamentais para que 
pudéssemos aprender a refletir e nos interessar pelo Brasil. Contudo, o livro de Buarque 
de Holanda segue uma orientação teórica distinta: em vez de optar pelo viés culturalista 
norte-americano de Freyre ou pelo fundamento marxista de Caio Prado Jr., o autor se 
orienta com muito rigor pela nova história social francesa, a sociologia cultural alemã e 
a etnologia (CHICARINO, 2005)
 Em Raízes do Brasil, Buarque de Holanda argumenta, sob influência do 
sociólogo alemão Max Weber, que a sociedade brasileira não poderia ser chamada 
categoricamente de uma sociedade capitalista, já que retinha elementos muito fortes 
de seu antigo estado, de ordem patrimonial, o que significava que o Estado era dominado 
por uma elite de origem agrária e por uma classe média que a acompanhava, as 
quais controlavam não apenas os aparelhos estatais, mas ampliavam seu campo de 
influência e dominação para a esfera privada da vida social (GOMES, 2008). 
 A partir desse contexto, o autor apresenta um tipo ideal brasileiro: o homem 
cordial. E sse conceito tem pouco a ver com as boas maneiras ou o bom mocismo 
do cidadão brasileiro, mas refere-se ao fato de que, na história do nosso país, há um 
predomínio das vontades particulares – próprias da esfera doméstica e dos domínios 
rurais –, sendo estas pouco dispostas a obedecer a uma ordenação impessoal das 
relações sociais. São laços primários – de sangue e de coração – que fornecem o 
25
modelo obrigatório de qualquer composição social entre nós (CHICARINO, 2005). 
 Nesse sentido, o homem cordial é aquele que busca sempre em suas relações 
sociaisum nexo de proximidade pessoal, fazendo tudo que é impessoal, como a 
burocracia, seu adversário. Tal atitude derivaria de um antagonismo inerente entre o 
Estado, como instância do público, portanto, do impessoal, e a família, como instância do 
privado, portanto, do pessoal, do próximo (GOMES, 2008). Sobre a palavra cordialidade, 
Sergio Buarque de Holanda afirma que
 Essa cordialidade brasileira nos tornaria pouco aptos para as relações impessoais 
que advêm da posição e função do indivíduo e não apenas de suas características 
pessoais e familiares, das afinidades nascidas na intimidade dos grupos primários. Por 
isso, para o autor, essa característica poderia se tornar um obstáculo político para a 
consolidação do Estado e deveria ser combatida em prol do desenvolvimento nacional. 
Assim, ele dava uma resposta antagônica ao resgate positivo das tradições brasileiras 
proposto por Gilberto Freyre. Como aponta Tatiana Chicarino (2005), a característica de 
cordialidade desenvolvida por Buarque de Holanda mostra ter grande influência sobre 
o modo como as elites brasileiras tendem a entender e a se colocar na esfera pública, 
muito longe de um verdadeiro espírito democrático. 
Ela pode iludir na aparência – e isso se explica pelo fato 
de a atitude polida consistir precisamente em uma es-
pécie de mímica deliberada de manifestações que são 
espontâneas no 'homem cordial': é a forma natural e 
viva que se converteu em fórmula. Além disso, a poli-
dez é, de algum modo, organização da defesa ante a 
sociedade. Detém-se na parte exterior, epidérmica, do 
indivíduo, podendo mesmo servir, quando necessário, 
de peça de resistência. Equivale a um disfarce que per-
mitirá a cada qual preservar inatas suas sensibilidades 
e suas emoções (BUARQUE DE HOLANDA, 1995: 147).
Para Sérgio Buarque de Holanda, um dos processos históricos conformadores desse modo 
de ser das elites brasileiras é a escravidão e a maneira como sua abolição foi conduzida 
no nosso país. Como você acha que essas relações sociais, que estão nas “raízes do Brasil”, 
conformam nossas relações sociais nos dias de hoje?
VAMOS PENSAR?
26
FIXANDO O CONTEÚDO
1. (UEL - 2007). 
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema é correto afirmar: 
a) A produção cultural referente à época do modernismo caracterizou-se pela 
valorização da mestiçagem entre europeus e indígenas como elemento fundamental 
para o estabelecimento de uma identidade cultural homogênea aos países latino-
americanos.
b) No modernismo hispano-americano e brasileiro sobressaiu-se a tendência de linhas 
retas e pouco uniformes, herança ainda dos artistas pertencentes à Escola Francesa, 
trazida por D. João ao Brasil.
c) A produção cultural relativa à época moderna foi influenciada pelo positivismo, 
permitindo que a “América” descobrisse a “América” através de novas formas de retratar 
os povos americanos. 
d) Vinculado a uma cultura universal, o modernismo não conseguiu tocar os imaginários 
sociais sobre a questão das características próprias de cada país, sendo que o olhar do 
europeu sobre a América é que se sobressaiu e foi valorizado nas obras deste período.
e) O modernismo proporcionou aos artistas e intelectuais americanos a formação de 
uma consciência social, de caráter nacional-popular, produzindo uma contraposição à 
subordinação vivenciadas nesses territórios e valorizando a cultura nacional.
2. (IFB - 2017). A teoria da democracia racial, derivada a partir da hipótese de pesquisa 
desenvolvida por Gilberto Freyre, principalmente com sua obra “Casa-Grande e Senzala”, 
pode ser relacionada “A discursos contrários à política de cotas implementada nos 
institutos federais a partir da Lei 12.711 de 29 de agosto de 2012. Dentre as opções abaixo, 
marque a CORRETA em relação aos conteúdos do enunciado acima. 
a) A teoria desenvolvida por Gilberto Freyre contribui para explicar a diferença entre os 
níveis de violência racial ocorridos nos EUA e no Brasil, bem como sustenta teoricamente 
a política de cotas raciais adotada em nosso país. 
b) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, sustenta uma suposta 
convivência pacífica e democrática entre os negros, indígenas e brancos europeus, de 
modo a sustentar a política de cotas raciais. 
c) A teoria desenvolvida por Freyre atribui uma visão romantizada da realidade, tornando 
O modernismo induz intelectuais latino-americanos a redescobrir o povo, o que pode 
levá-los a descobrir camponeses e operários, ou índios e negros. O vínculo com a cultura 
universal não impõe necessariamente um caráter dependente ou ’alienado’ à totalidade 
de nossa cultura.
(IANNI, O. apud. PINSKY, J. et al. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 1994. textos e 
documentos, v. 4, p. 88.) 
27
“A autonomia da Sociologia – insistamos nesse ponto – baseia-se cada vez mais no 
fato de que a estrutura social não é puro efeito de condições econômicas; nem das 
predominantemente políticas ou religiosas; nem de determinações geográficas. 
Resulta de interações: interação entre o grupo social e o meio físico; entre os fatores 
políticos e os religiosos; ou entre os econômicos e os psíquicos. Às vezes de tal modo se 
intercondicionam que é difícil dizer qual a condição predominante”. 
invisíveis várias formas de violência praticadas por brancos europeus em relação aos 
negros. A política de cotas raciais, nesse sentido, visa validar a teoria de Freyre. 
d) A teoria da democracia racial, derivada da obra de Freyre, mascara em grande 
medida a violência praticada por brancos contra negros no Brasil, sustentando de certo 
modo parte das críticas atribuídas à adoção de cotas raciais no país. 
e) A teoria da democracia racial de Freyre tem por princípio desvelar todas as formas 
de violência de brancos contra negros no Brasil, amparando teoricamente a adoção de 
cotas raciais como forma de compensação histórica.
3. (NUCEPE – 2009 – Adaptada). 
O fragmento anterior foi extraído do livro Sociologia: introdução ao estudo dos seus 
princípios, de Gilberto Freyre. De acordo com as formulações do autor, os cursos 
introdutórios de Ciências Sociais deveriam abordar:
I. As conexões entre o natural, o social e o cultural.
II. A posição da sociologia entre os estudos do homem considerado unidade biossocial.
III. A ausência das sociologias especiais, como a sociologia histórica. 
IV. O consenso de teoria dentro da sociologia geral.
V. A valorização da diversidade e complexidade da realidade social.
A respeito das afirmações dos itens I a V, marque a alternativa CORRETA.
a) Apenas as afirmações constantes dos itens III e V estão corretas.
b) Apenas as afirmações constantes dos itens I e IV estão corretas.
c) Apenas as afirmações constantes dos itens I, II e V estão corretas.
d) Apenas as afirmações constantes dos itens IV e V estão corretas.
e) Apenas as afirmações constantes dos itens I, II e III estão corretas.
4. (CCV-UFC - 2012). A antropologia no Brasil, criada e desenvolvida a partir de núcleos 
institucionais e autorais diversos, se voltou desde o princípio a um exame de nossa 
formação histórica. Entre as mais respeitadas (e ao mesmo tempo controversas) 
interpretações desse processo, está a contribuição de Gilberto Freyre e seu entendimento 
de nossa realidade social de fundo colonial. Para esse autor, era fundamental 
redimensionar a leitura de nossa construção política inicial: 
a) Alternando as pesquisas entre exercícios de exame cultural e estudos de antropologia 
física. 
b) Negligenciando o papel da política portuguesa para criar um foco de pesquisa 
28
adequado ao Brasil.
c) Criticando a diferença dos grupos humanos brasileiros no que toca nosso 
desenvolvimento econômico.
d) Buscando reforçar a validade dos estudos promovidos por euclydes da cunha e nina 
rodrigues sobre a ideia de cultura.
e) Valorizando o aspecto cultural e histórico do brasileiro em detrimento de análises 
raciais simplistas e biologizantes.
5. (IFB - 2017). “A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudestão gabadas 
por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter 
brasileiro [...]” – 
HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. São Paulo, 2011, pag. 146.
O fragmento acima representa um conceito da obra de Sérgio Buarque de Holanda ao 
definir uma relevante característica sociocultural do povo brasileiro. A esse respeito, 
marque a alternativa CORRETA. 
a) Trata-se daquilo que atualmente é discutido como jeitinho brasileiro.
b) Trata-se daquilo que atualmente é conhecido como capacidade empreendedora 
do povo brasileiro. 
c) Representa características do coronelismo praticado no Brasil ao longo do século XX. 
d) Descreve elementos ligados à grande capacidade cooperativa do povo brasileiro. 
e) Reflete o padrão civilizatório do povo brasileiro.
6. (UERR - 2018).
Na análise do autor de Raízes do Brasil:
a) A tensão entre as diversas raças que formaram o Brasil, corresponde a um tipo ideal.
b) As diferenças entre classes sociais no Brasil contituem um tipo ideal.
c) A cordialidade do brasileiro é um tipo ideal por ser uma simplificação exagerada das 
diferenças religiosas.
d) O homem cordial corresponde a um tipo ideal sociopsicológico e a um padrão de 
sociabilidade.
e) O homem cordial corresponde a um tipo ideal fundado da unidade étnica no Brasil.
7. (UFRN – 2012 - Adaptado). Na obra Raízes do Brasil, publicada pela primeira vez em 
“Em Raízes do Brasil, as possibilidades heurísticas do gênero ensaístico são exploradas 
ao máximo. A linguagem plástica escolhida por Sérgio Buarque de Holanda permite 
converter circunstâncias complexas em um vocabulário de compreensão geral. Assim, 
o autor faz uso de dualismos como trabalho e aventura, ou semeador e ladrilhador, para 
descrever e tipificar concisamente os padrões abrangentes de conduta. A propósito, a 
tensão entre estes dois polos geraria o movimento que levaria ao avanço da história. 
Neste caso, o autor recorre, claramente, tanto à metodologia dos tipos ideais de Weber 
quanto à dialética de Hegel” 
(Costa, Sérgio. O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda, 2014).
29
1936, Sérgio Buarque de Holanda, ao analisar o processo histórico de formação da nossa 
sociedade, afirma: Desde o período colonial, para os detentores dos cargos públicos, 
a gestão política apresentava-se como assunto de seus interesses particulares. Isso 
caracteriza justamente o que separa o funcionário patrimonial e o puro burocrata. 
Para o funcionário patrimonial, as funções, os empregos e os benefícios que deles 
recebe relacionam-se a direitos pessoais dos funcionários e não a interesses objetivos, 
como ocorre no verdadeiro Estado burocrático. Assim, no Brasil, pode-se dizer que só 
excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários 
puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses.
Considerando as reflexões do autor e levando em conta práticas políticas constatadas 
no Brasil Republicano, é possível inferir que
a) Os limites entre os domínios do público e do privado, no âmbito da administração 
pública, se confundem, não obstante as leis que visam a combater o patrimonialismo.
b) O patrimonialismo está presente nas regiões mais carentes do país, em razão apenas 
do baixo nível de formação dos quadros da administração pública.
c) As estruturas do poder administrativo no brasil permanecem as mesmas do período 
colonial, daí a manutenção do patrimonialismo disseminado na sociedade.
d) O predomínio do interesse particular sobre o interesse público, no brasil, foi 
efetivamente rompido com o êxito da revolução de 1930.
e) Virtudes tão elogiadas por estrangeiros como hospitalidade e generosidade 
representam um traço definido do caráter brasileiro. 
8. (FUNCAB – 2010- Adaptada). No pensamento sociológico dos anos 1930 despontam 
os nomes de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda, autores dos clássicos Casa 
Grande & Senzala e Raízes do Brasil, respectivamente. Essas obras têm como foco 
temático comum:
a) A luta de classes na sociedade rural.
b) A importância do estado nacional.
c) A democratização do ensino.
d) A democracia racial e social.
e) A estrutura patriarcal brasileira.
30
A INSTITUCIONALIZAÇÃO 
DA ANTROPOLOGIA 
ACADÊMICA 
31
3.1 SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA NAS UNIVERSIDADES
 Como vimos, até a década de 1940 a Antropologia brasileira era majoritariamente 
exercida por intelectuais de procedências diversas, alguns médicos, outros advogados 
e literatos, com atitudes inusitadas e posicionamentos teóricos ecléticos. A 
institucionalização da disciplina em solo nacional começou ainda na década de 1930, 
com a criação da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP) e da Universidade 
de São Paulo (USP), ambas localizadas na cidade de São Paulo, e da Faculdade de 
Filosofia e Letras que, junto ao Museu Nacional no Rio de Janeiro, compunham a base da 
antropologia acadêmica do Brasil. Para fazer frente à necessidade de professores, foram 
contratados vários mestres estrangeiros. Desse modo, figuras importantes como Roger 
Bastide, Emílio Willems, Claude Lévi-Strauss passaram a trabalhar na USP, enquanto 
Herbert Baldus, Donald Pierson, na FESP, onde Radcliffe-Brown esteve como professor 
visitante por um breve período durante a Segunda Guerra Mundial (OLIVEIRA, 2018).
 Essa presença de professores estrangeiros permitiu a entrada de debates 
contemporâneos sobre sociologia e antropologia no pensamento social brasileiro da 
época, principalmente questões ligadas a métodos de pesquisa. Desse modo, além 
de renovação teórica, a institucionalização dessas disciplinas no Brasil envolveu um 
maior cuidado empírico com a reflexão social. A partir daí, entre as décadas de 1940 e 
1950, o pensamento social brasileiro se afastou do caráter ensaístico que, até então, o 
caracterizava e passou a ser produzido na forma de estudos orientados empiricamente 
(OLIVEIRA, 2018).
 Naquele momento, a antropologia era considerada uma espécie de subárea 
dentro da Sociologia, e as fronteiras disciplinares entre os dois campos mostravam-se 
bastante borradas. Ao longo das décadas seguintes, as disciplinas foram se separando, 
sobretudo em virtude da ênfase em determinadas temáticas, mas mantendo conexões 
teóricas e debates epistemológicos. Paralelamente aos intelectuais estrangeiros, alguns 
brasileiros também deixaram contribuições permanentes e relevantes. O principal deles 
talvez tenha sido Arthur Ramos (1903-1949), um médico alagoano que ocupou a cadeira 
de Antropologia Cultural da Faculdade de Filosofia e Letras do Rio de Janeiro e escreveu 
um reconhecido estudo introdutório do escopo da disciplina, além de ter contribuído 
para os estudos das religiões africanas no Brasil (GOMES, 2008).
Para saber mais sobre a institucionalização da antropologia no país a partir da 
circulação internacional de intelectuais brasileiros, como Arthur Ramos, ver livro 
“Antropologia Social e Cultural”, de Tathiana Chicarino, disponível na Biblioteca 
Virtual Pearson: https://bit.ly/3Hvt9fB. Acesso em: 15 set. 2021. 
BUSQUE POR MAIS
 Decididamente, a Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP) teve um papel 
fundamental na institucionalização das Ciências Sociais no Brasil, já que foi responsável 
pela implementação das primeiras cátedras de ensino de sociologia e antropologia, 
e promoveu experiências inéditas de pesquisas de campo voltadas para a realidade 
nacional. A instituição foi fundada por setores da elite econômica e intelectual paulistana, 
32
que buscavam a formação de quadros que atuassem nas instituições públicas que 
nasciam naquele momento, para que colaborassem com o planejamento econômico 
e o desenvolvimento social do país (CHICARINO, 2014).
 Para entender a importância da FESP nesse panorama, vale dizer que os estudos 
produzidos pelo seu corpo docente sobre o perfil socioeconômico dos trabalhadores 
brasileiros serviram de base para o primeiro cálculo do custo de vida e para a definição do 
salário mínimo nacional. Seus professores foram responsáveis também pela introduçãode métodos de pesquisa extremamente importantes, como a etnografia baseada em 
observação participante, consagrada pelo polonês Bronislaw Malinowski, praticada 
pelos antropólogos britânicos desde a década de 1910 e pelos sociólogos ligados aos 
estudos urbanos da Universidade de Chicago. Grandes intelectuais brasileiros foram 
alunos da instituição, tais como Sergio Buarque de Holanda e Darcy Ribeiro, cujas 
contribuições são abordadas neste livro.
3.2 ESTUDOS DE COMUNIDADE
 Um dos expoentes da Escola de Sociologia de Chicago que lecionou na FESP foi o 
sociólogo Donald Pierson. Quando ele assumiu a direção da instituição, em 1939, o foco 
investigativo concentrou-se nos Estudos de Comunidade. Tais estudos foram definidos 
por Júlio Simões (2001) como “pesquisas de campo em pequenas comunidades 
para compreender a chamada sociedade tradicional brasileira e seu processo de 
modernização”.
 A tradição dos Estudos de Comunidade, trazida dos Estados Unidos, onde pesquisas 
desse tipo se tornaram comuns, teve forte impacto sobre as Ciências Sociais de toda 
a América Latina. Desde as décadas de 1930 e 1940, as etnografias em comunidades 
indígenas, rurais e camponesas de países em desenvolvimento se tornaram um modo 
de trabalho comum, buscando apreender os modos de vida desses grupos tradicionais 
diante de processos crescentes de urbanização. No Brasil, essa tendência analítica é 
muito bem representada pela obra de Antônio Cândido intitulada “Os parceiros do Rio 
Bonito”, lançada em 1964.
 A partir de um longo trabalho de campo realizado no pequeno município paulista 
de Bofete entre 1943 e 1946, Cândido estuda as transformações do modo de vida caipira 
no interior de São Paulo promovidas pela expansão do capitalismo na região. O autor 
registra formas cotidianas de resistência a essas mudanças, descreve as práticas 
Figura 8: A mãe, a filha, a casa e a galinha, uma das bases da dieta caipira
Fonte: Jornal da USP (2018)
33
3.3 ANOS 60: OS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO
 Mariza Peirano (2000) afirma que a antropologia brasileira se desenvolveu como 
uma “costela” da sociologia, que era a Ciência Social dominante e hegemônica nos 
anos 1940 e 1950. Apenas a partir da década de 1960 a antropologia no Brasil começou a 
se ver enquanto um campo disciplinar autônomo, ainda que a interlocução privilegiada 
com a sociologia nunca tenha deixado de ser uma marca importante. Se os primeiros 
antropólogos brasileiros se formaram no exterior, foi apenas com a reforma universitária 
nacional, em 1965, que teve início o processo de formação de antropólogos no país, já 
que ela possibilitou a criação de programas de pós-graduação no Brasil. O primeiro 
programa de pós-graduação em antropologia foi criado em 1968, no Museu Nacional. 
Depois, surgiram os mestrados da UNB e Unicamp em 1972. A criação destes programas 
chama atenção para o fato de que antes da antropologia ser percebida e ensinada 
como uma disciplina do curso de graduação em Ciências Sociais, a formação do 
antropólogo foi vista como algo que se atinge apenas quando o estudante obtém o 
título de mestre (PEIRANO, 2000).
 Nesse contexto de institucionalização e relativa autonomização da antropologia, 
o filósofo e antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira propôs um projeto intitulado 
cotidianas dos camponeses e, no final, sugere formas de preservar a integridade desses 
cidadãos – entre elas, a implementação da reforma agrária.
 Segundo Júlio Cezar Melatti (1984), os Estudos de Comunidade pretendiam 
chegar a uma visão geral da sociedade brasileira, através da soma de muitos 
exemplos distribuídos por diversas regiões do Brasil. Além desse objetivo geral, tais 
estudos estavam quase sempre voltados para a conexão dessas comunidades 
com algumas temáticas-chave, tais como: mudança cultural, persistência da vida 
tradicional, problemas de imigrantes, educação e vários outros. O foco nos processos 
de transformação de comunidades tradicionais a partir de sua relação com processos 
amplos de modernização e urbanização foi importante para o desenvolvimento de um 
conceito central nesse campo de estudos: o de aculturação.
O conceito de aculturação foi inicialmente formulado pelos Estudos de Comunidade nor-
te-americanos na tentativa de compreender os processos de transformação cultural vin-
culados a imigrações ou ao contato entre culturas diferentes. Grupos de imigrantes que 
transformaram as grandes cidades dos Estados Unidos na virada do século XIX para o 
XX converteram-se em objetos de estudo, já que tiveram seus modos de vida e culturas 
transformados em decorrência do contato com a sociedade estadunidense. Nesse senti-
do, muitos teóricos argumentavam que esses grupos sofriam processos de aculturação, 
ou seja, de perda ou transformação de sua cultura, podendo negar sua cultura de origem 
e absorver a norte-americana (assimilação), ou adaptar sua cultura de origem a seu 
novo modo de vida, o que chamavam de integração (OLIVEIRA,2018). 
No Brasil, esses conceitos também ficaram em voga na década de 1940 e foram apli-
cados ao estudo de comunidades rurais, de povos indígenas ou, ainda, da história dos 
negros no país.
FIQUE ATENTO
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Estudo de áreas de fricção interétnica no Brasil, no qual desenvolveu o conceito de 
fricção interétnica. Desde suas pesquisas etnográficas, o autor privilegiou o enfoque na 
“interação social” entre povos indígenas e outros segmentos da sociedade brasileira — 
pauta antropológica e política importante da época. Segundo Cardoso de Oliveira, a 
fricção interétnica seria:
 Em seu trabalho de campo, o autor analisou a interação que ocorria entre os 
indígenas Terena e a população regional, mostrando os “mecanismos socioculturais” 
que influiriam no processo de “assimilação” em curso. As situações de contato interétnico 
são articuladas às dinâmicas de expansão da sociedade brasileira e sua fronteira 
pastoril e agrícola. Nesse sentido, seu novo conceito apareceu como uma espécie de 
crítica à noção de aculturação, que tinha como eixo de análise a transformação de 
elementos culturais tomados de forma isolada. Por sua vez, a fricção interétnica focava 
menos nos elementos culturais em processo de transformação e mais nas relações 
estabelecidas entre as sociedades em contato, atravessadas por questões sociais e 
econômicas amplas (POZ, 2003). 
 No caso dos Terena, por exemplo, Cardoso de Oliveira defendia que a incorporação 
da mão de obra indígena no mercado regional havia resultado em um processo de 
integração econômica, mas nem por isso eles estavam em uma efetiva condição de 
“assimilados”. Em resumo, sua análise demonstra que, nas aldeias, os mecanismos 
aculturativos não se mostravam suficientes para que se extinguisse a coesão étnica, 
e tinham mais a ver com a inserção dos Terena em uma sociedade de classes (POZ, 
2003). 
 Essa articulação da identidade étnica com as estruturas sociais tem inspiração 
marxista influenciada pelo sociólogo Florestan Fernandes (1965). Assim como Florestan 
Fernandes (1965) significou a inserção da temática das relações raciais em uma 
abordagem marcada pela ideia de conflitos de classe, o conceito de fricção interétnica, 
de certa forma, constituiu a análise do contato entre sociedades indígenas e a sociedade 
nacional, tendo como pano de fundo também a ideia de conflito e as tensões entre 
os conceitos de etnia e classe. A aculturação e a assimilação deixavam de ser meros 
processos dotados de uma inevitabilidade e passavam a ser vistos em seu aspecto 
dinâmico e conflituoso (OLIVEIRA, 2018).
[...] o contato entre grupos tribais e segmentos da so-
ciedade brasileira, caracterizados por seus aspectos 
competitivos e, no mais das vezes, conflituosos, assu-
mindo esse contato muitas vezes proporções totais, 
isto é, envolvendo toda a conduta tribal e não tribal que 
passa a ser moldada pela situação de fricção interétni-
ca (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1972, p. 128).
Segundo Mariza Peirano (2000), para se constituir como antropologia nesse contexto, foi 
necessário manter e desenvolver

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