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07.10 - Orlando Pires

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE LETRAS
DISCIPLINA: TEORIAS CONTEMPORÂNEAS DA LITERATURA – TURMA: 257 – PROFESSORA: ANA MARIA LISBOA DE MELLO
Apresentar os conceitos básicos de Bakhtin apontados por Pires.
Dialogismo Bakhtiniano
Os estudos de Bakhtin vieram dinamizar o estruturalismo implantando uma visão sincrônica da estrutura literária fazendo desaparecer o conceito linear de historia. Ele partiu do principio que a palavra literária não pode ser admitida como um ponto isolado (um sentido fixo, estático), mas sim como uma convergência de superfícies textuais, a do narrador (emissor), a do narratário (destinatário), a do contexto atual ou a de contextos anteriores, assim partindo para um novo conceito: o estatuto da palavra, esta designada como a unidade mínima da estrutura. Considerando assim, que a historia e a moral estarão escritas/lidas na estrutura do texto literário.
A palavra-poética obedece a uma lógica que ultrapassa a lógica perdurável do discurso codificado, essa lógica só se realiza perfeitamente fora do contexto da cultura oficial. Nesse modelo não há preocupação em revelar como a estrutura literária se constitui, mas como ela se desenvolve em relação a outras estruturas, assim cria-se a dinamização do estruturalismo.
A linguística estuda a língua através da própria língua, ou seja, através das suas unidades especificas que permitem a comunicação dialógica.
As relações dialógicas não podem negar as relações de logica e significação, embora não seja apenas isso, pois possuem outras especificidades. Para que as relações de lógica e de significação sejam dialógicas é preciso constituir um enunciado, um discurso, com sujeito definido. 
As relações dialógicas se estabelecem em diversos níveis de linguagem: Na díade combinatória: língua/fala e no duplo caráter da linguagem.
Distinguindo relações dialógicas de relações linguísticas, Bakhtin afirma que as relações sobre as quais a narrativa se estrutura só são possíveis, pois o dialogismo é característico da própria linguagem. Assim o dialogo é a única forma possível de vida da linguagem.
Dividindo monólogo/diálogo, considera-se que monologo e dialogo constituem uma infraestrutura linguística, cujo estudo pertence à semiótica dos textos literários, essa semiótica não se limita a utilização dos métodos linguísticos, mas se constitui a partir deles, assim dialogo pode ser monologo (apenas textual) e monologo pode ser frequentemente apresentado como dialogo (intertextual).
Ambivalência e diálogo; o que caracteriza a ambivalência de um texto é a sua inserção na historia (sociedade) ao mesmo tempo em que a historia (sociedade) é inserida nele. É na estrutura da linguagem que o dialogo se encontra bem explicito. O dialogo e a ambivalência são os únicos recursos de que dispõe o narrador para penetrar na estória/historia professando uma moral ambivalente: a da negação como afirmação.
Escritura e texto; a escritura representa o corpus literário anterior e o texto como absorção da replica de outro texto. O dialogismo bakhtiniano encara a escritura simultaneamente como subjetividade e como comunicabilidade, fundamentou assim o conceito de intertextualidade, substituindo a noção de pessoas-sujeito da escritura pela ambivalência da escritura propiciou o advento da noção de plural do texto. Concluiu que a perfeita compreensão do texto não será possível apenas com o apoio da linguística, mas sim através de uma nova ciência – translinguistica – a qual poderá vir a conhecer as relações intertextuais.
Estatuto da Palavra
Tem como fundamento um conceito espacial da linguagem poética. O espaço textual onde se realizam os diferentes relacionamentos dos conjuntos sêmicos e das sequências poéticas define-se por três dimensões que dialogam: O sujeito da escritura, o destinatário e os textos anteriores.
O estatuto é definido:
Horizontalmente – A palavra do texto pertence simultaneamente ao sujeito da escritura e ao destinatário;
Verticalmente - A palavra do texto está orientada para o corpus literário anterior ou sincrônico;
O universo discursivo é definido por dois eixos:
O eixo horizontal – sujeito - > destinatário - > diálogo
O eixo vertical – texto - > contexto - > ambivalência
O eixo horizontal e o eixo vertical coincidem para revelar que a palavra (o texto) é o cruzamento de palavras (textos) onde se lê pelo menos outra palavra (texto). Conforme a noção de estatuto, é a palavra especializada, funcionando em três dimensões – sujeito, destinatário e contexto. Pode-se dizer então que todo texto é absorção e transformação de outro texto, desenvolvendo-se através de dois eixos: diálogo e ambivalência, estabelecendo assim noção de intertextualidade e consciência de que a linguagem poética deve ser lida como dupla.
Estrutura Romanesca
Numa estrutura romanesca observam-se dois tipos de espaços: o monológico, cada sequencia que segue é determinada pela precedente e o dialógico, as sequências narrativas são transfinitas, imediatamente superiores à série causal precedente. A permutação que se estabelece entre eles é que define a ambivalência da estrutura. Bakhtin definiu a linguagem poética como, antes de tudo, dialogo e ambivalência, assim reavaliando a estrutura romanesca, estabelecendo uma classificação das palavras na narrativa e uma tipologia no discurso.
As palavras da narrativa
Existem três categorias: A palavra direta, esta é a palavra do sujeito do discurso, a palavra que anuncia, a palavra denotativa; a palavra objetal, é a palavra do personagem no seu discurso direto, situada, portanto, fora do nível do discurso do narrador e a palavra ambivalente, que é a palavra com dupla significação, pois faz a junção de dois sistemas de signos, ela surge quando o narrador faz uso da palavra de outrem para inserir um sentido novo a ela sem perder o significado original, a junção de dois signos relativiza o texto. Existe três casso de palavra ambivalente:
O escritor usa a “palavra de outrem” para os seus próprios objetivos, sem modificar o pensamento daquele, empregando-a no sentido que lhe convém, mas mantem-se relativa, é o que acontece na menipéia e no carnaval.
O escritor usa a “palavra de outrem” dando uma significação oposta a que tem originalmente, é o caso da paródia.
A palavra do escritor sofre modificação pela influência da “palavra de outrem”, neste caso representada pela palavra de um narrador, é o que acontece nas autobiografias, nas reproduções de diálogos etc.
Potência do contínuo
A logica aristotélica é casuística e evolui no intervalo 0-1 (falso /verdadeiro), em que 1 representa a censura, a verdade, Deus, enfim, o que não deve ser transgredido.
O diálogo e a ambivalência característica da linguagem poética, tanto no espaço interior do texto como no espaço entre os textos, é definida como um duplo. A semiótica literária deve ter por base uma lógica poética, na qual o conceito de potencia do contínuo abranja um intervalo 0-2, em que o 0 denote o 1, seja implicitamente transgredido e o 2 represente o duplo poético.
A linguagem poética se constrói relacionada com outra, que representa o seu duplo. O duplo da escritura/leitura é uma especialização da sequência resultante do acréscimo às duas dimensões da escritura (sujeito/destinatário e sujeito da enunciação/ sujeito do enunciado) de uma terceira dimensão (o texto estranho), assim surgindo o dialogismo, ou seja, o texto dialoga com outros textos.
Tipologia do discurso narrativo
O discurso narrativo possui dois tipos fundamentais: o monológico e o dialógico. 
O discurso monológico pode ser representado pelo discurso épico , pelo discurso histórico e pelo discurso científico. O dialogo que esta imanente em todo discurso aqui é abafado por um interdito, de tal modo que esse discurso é incapaz de dialogar. 
O discurso dialógico pode ser representado pelo carnaval, pela sátira menipéia e pelo romance polifônico. Sua escritura lê outras escrituras, lê-se a si mesmo e se constrói uma “gênese destruidora”.
Carnaval
O carnaval propriamente
dito não é um fato literário. Trata-se de um espetáculo de caráter ritual, apresentando diversas variantes de acordo com a cultura dos povos e as épocas. Nesse espetáculo não há separação de atores e espectadores, todos fazem parte do ato carnavalesco. O carnaval não se contempla: vivesse-o. As proibições que normalmente condicionam a vida deixam de vigorar no período carnavalesco: a ordem hierárquica, a etiqueta, elimina-se todas as distancias entre os homens, admite-se uma forma de sensibilidade meio real, meio representada. O carnaval aproxima o sagrado e o profano, o sublime e o desprezível. As imagens do carnaval são sempre ambivalentes (duplas), reúnem os dois polos da crise (mudança): o nascimento e a morte (a morte como portadora de promessas), a benção e a maldição (a suplica abençoando e ao mesmo tempo desejando a morte e o renascimento). O pensamento carnavalesco é cheio dessas imagens gêmeas (lei dos contrastes).
A concepção do carnaval para Bakhtin é muito mais vasta do que a estreita e simplista do nosso tempo. Para conhecer o que é o carnaval é preciso entrar a fundo na história, ou seja, voltar na Antiguidade, na Idade Média, na Renascença. O carnaval é uma visão do mundo, muito mais vasta e popular, de um passado remoto. O carnaval é onde tudo se planeja num meio de relacionamentos livres e íntimos, com sua alegria nas mudanças e sua alegre relatividade, opõe-se ao serio, ao oficial.
A carnavalização da literatura não é trazer o carnaval direto das ruas para o texto literário, mas transfigurar os próprios fatos do carnaval, ou seja, colocando elementos do carnaval no texto através de imagens literárias. Algumas características do carnaval presente nos textos literários são: ruptura da vida cotidiana, inversão fantástica do relacionamento social (pobres/ricos, moços/velhos, pessoas/animais), parodia de condutas cotidianas estereotipadas, descontração e alegria, “certo ar de graça”, cenas na rua inseridas na narrativa, gestos livres, intimidade familiar, livre contato público, discurso aberto sem etiquetas e sem decoro, ilogismos (logica às avessas), excentricidade, escândalos, consagração/derrocada, “mésalliance” (aliança inusitada) por pares opostos (amor/ódio, sagrado/profano, sábio/tolo, rei/cavalo, etc... 
Sátira Menipéia
A sátira na antiguidade era uma mistura de textos em prosa e versos com imitações, parodias e farsas. Assenta suas raízes no folclore do carnaval, tornando-se um dos principais meios de percepção carnavalesca. É simultaneamente cômica e trágica, nela a fantasmagoria e o simbolismo se fundem com um materialismo macabro. A menipéia não faz nenhuma exigência de verossimilhança externa, possui absoluta liberdade temática e de invenção filosófica. A construção da menipéia apoia-se nos contrastes: “uma cortesã virtuosa”, “um salteador generoso”, etc. Explora passagens e mudanças bruscas: do alto para baixo (vice-versa), ascensão/queda resultantes de casamentos, etc. Possui sempre linguagem de duplo sentido usando logica de oposição, pode estar presente em qualquer modalidade literária: crônica, romance, novela, conto, carta, etc. Apresenta elementos fantásticos (fantástico experimental) que não existia na tragédia e na epopeia. É comum na menipéia o tema daquele homem solitário, dono da verdade, e que por isso sofre desprezo dos outros que o consideram um louco, são comuns também: a intimidade, a profanação, a convivência natural com o submundo. A mistura de diálogos filosóficos, simbolismos, o fantástico aventureiro e o realismo grosseiro do submundo é uma das particularidades da menipéia, ela também, dá preferencia às cenas escandalosas, as manifestações não convencionais, enfim, a todo tido de infração do bom senso, da ética, da norma de boa conduta. A menipéia acolhe tanto gêneros literários menores dentro dela, como também se insere em gêneros maiores sem deixar de ter suas características bem definidas. Outra especificidade da menipéia é que se trata de um gênero universal das questões imediatas, a ação não se passa apenas aqui, mas no universo todo: na terra, no céu, no inferno, na eternidade. A menipéia trabalha com uma ideia de vida liberta da individualidade humana, onde o homem não é mais que um reflexo.
A menipéia tem dois tipos de estruturação:
- por similitude: A semelhança, a dependência; logo, o realismo;
- por contiguidade: A analogia, a justaposição; logo, a retorica, com justificação pela e na linguagem.
O sentido da menipéia é efêmero, não sobrevive aos acontecimentos que há inspiraram, pois não é baseada em valores, ética, por tanto, não é catártica, sua narrativa quase sempre é cômica, em geral, paródica. Comparando com os dias atuais, pode se dizer que a menipéia representa o jornalismo politico de seu tempo: seu discurso exterioriza os conflitos políticos e ideológicos do momento.
Diálogo Socrático
Não constitui um gênero retorico, mas representa um “gênero particular”, seu desenvolvimento se dá a partir de uma base popular do carnaval, dotando de

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