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A Mulher Negra na Sociedade Brasileira

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Negra 
"A mulher na história do Brasil tem surgido recorrentemente sob a luz de 
estereótipos, dando-nos a enfadada ilusão de imobilidade. Auto-sacrificada, 
submissa sexual e materialmente e reclusa com rigor, à imagem da mulher 
de elite opõem-se a promiscuidade e a lascívia da mulher de classe 
subalterna, pivô da miscigenação e das relações inter-étnicas que 
justificaram por tanto tempo a falsa cordialidade entre colonizadores e 
colonos”1. 
Sendo a maioria da população brasileira, com aproximadamente 53% do total dos 
habitantes do país (IBGE, 2015), o que equivale a mais de 100 milhões de pessoas. A 
população negra ainda combate diariamente contra o racismo, discriminação e desigualdades 
que a sociedade instituiu ao longo dos séculos no nosso país. Em se tratando do gênero, o 
abismo é ainda maior. Apesar da baixa representatividade de Mulheres Negras na política e 
em cargos de Poder e de decisão, cada ascensão deve ser comemorada como reconhecimento. 
Como é o caso da Ministra Nilma Lino Gomes da Secretaria de Políticas de Promoção da 
Igualdade Racial da Presidência da República. 
Em uma sociedade voltada única e exclusivamente ao ganho do lucro e onde tudo 
“pode” e deve ser comercializado, vendido, trocado ou mercantilizado, não é de se espantar 
que a esmagadora maioria da população se encontre submissa a um poder social, econômico e 
ideológico que vise a sua decadência. Onde a mulher esta alojada como “objeto” de venda de 
imagem e de interesse sexual do homem, especialmente do homem branco dominante de uma 
classe que não coincidentemente imperou e se fez dominador desde os primeiros dias do 
nosso processo colonizador. 
Herdeiro de uma psicopatia colonial, o homem enxerga a mulher como um ser frágil e 
de fácil dominação, que estaria alocada em uma posição abaixo da sua e que pode e deve ser 
desejada e obtida para seus fins mais libidinosos. Em outros tempos, no período colonial, 
quando a mulher negra escrava era submetida a todos os caprichos de seus senhores e 
sucessivamente a sua prole masculina, onde a submissão sexual era tida como um ato normal 
para a iniciação sexual da elite jovem do momento, tendo como costume: 
 
Nenhuma casa-grande do tempo da escravidão quis para si a glória de 
conservar filhos maricas ou donzelões. O que a negra da senzala fez foi 
 
1 Mary Del Priore – História da Mulher no Brasil 
facilitar a depravação com sua docilidade de escrava, abrindo as pernas ao 
primeiro desejo do senhor - moço. Desejo não, ordem.2 
 
Diante de uma falsa moral, social e religiosa, o senhor de escravo mantinha a sua 
mulher branca em um altar onde só poderia ser retirada quando a necessidade de fazer mais 
herdeiros brancos se fazia presente. Diferente do tratamento aplicado a negra escrava que 
devido ao “calor” dos trópicos “despertava” em seu amo, feitor ou senhor uma verdadeira 
transgressão dos desejos sexuais. 
Hoje o que podemos notar é que esse mau, este desejo repulsivo, nojento e sem 
escrúpulo ainda é atribuída à mulher negra em nossa sociedade, onde a mesma pode ser 
exposta, tocada, cheirada sem nenhum tipo de pudor moral. Isso se faz notório por exemplo 
em nossa mídia, o último grande caso de repercussão nacional foi o da propaganda da 
cervejaria Schin (Devassa) no qual atribuía o corpo da mulher negra como objeto sexual, 
tendo como slogan a frase "É pelo corpo que se conhece a verdadeira negra". Nesta sociedade 
de consumo, a publicidade deveria ser um indicativo de padrões éticos, que deveriam ser 
adotados pelas empresas para eventual oferta de seus produtos e serviços. Não se pode admitir 
que para vender um produto sejam utilizadas mensagens discriminatórias, que reforçam 
estereótipos de gênero e étnico-raciais e contribuem para aprofundar desigualdades. 
Não devemos esquecer que a mulher negra sofre duplamente na pele a dura realidade 
de ser mulher em uma sociedade machista e ser negra em uma sociedade racista. O processo 
de coisificação, de desumanização das mulheres em nossa sociedade é latente, não podemos 
nos calar diante de tal instrumento de destituição dos valores, sentimentos e afetividade que a 
mulher e principalmente a mulher negra passa, ela que nos serviu como base de origem do 
povo brasileiro, sendo trabalhadora, ama-de-leite e pós abolição estando a frente de suas 
famílias já que os homens negros eram severamente discriminados. 
Fica aqui a minha indignação diante de tal imagem que a mídia insiste em vender e a 
sociedade insiste em comprar. E minha singela homenagem ao dia da Mulher Negra, Latino 
Americana e Caribenha. 
“A igreja diz: o corpo é uma culpa. A Ciência diz: o corpo é uma máquina. A 
publicidade diz: o corpo é um negócio. E o corpo diz: eu sou uma festa”. Eduardo Galeano. 
 
2 Gilberto Freyre – Casa Grande e Senzala.

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