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1 Profa. Dra. Iracy Lea Pecora 2011 2 MÉTODOS BIOFÍSICOS DE ANÁLISE A análise de soluções diluídas na investigação científica ganhou grande importância ao longo dos anos, pois permitiu o fracionamento, a identificação e a quantificação de substâncias envolvidas em diversos e diferentes processos. Os métodos biofísicos de análise fundamentam-se em fenômenos físicos que, aplicados sobre as substâncias, promoverão sua separação ou caracterização. Dessa forma, tem-se: 1) Os métodos fotométricos, que avaliam a interação da luz com a matéria; 2) Os métodos cromatográficos, que se baseiam na ação de forças como gravidade, pressão, ligações intermoleculares, etc. sobre a matéria; 3) Os métodos eletroforéticos, que aplicam um campo elétrico sobre as soluções; 4) Os métodos de sedimentação acelerada, que se utilizam da força centrípeta para acelerar o fenômeno da decantação. Aqueles métodos que são capazes de identificar as substâncias são ditos QUALITATIVOS. Aqueles métodos que permitem a separação dos componentes de uma solução são ditos FRACIONÁRIOS e aqueles métodos que determinam a concentração de uma dada substância são denominados QUANTITATIVOS. De uma forma geral, a seguir estão os principais métodos biofísicos de análise. Este material não tem a intenção de esgotar o assunto, mas, fornecer a base para se compreender os princípios utilizados e seus procedimentos. MMÉÉTTOODDOOSS FFOOTTOOMMÉÉTTRRIICCOOSS oouu MMÉÉTTOODDOOSS DDEE MMEEDDIIDDAA DDEE AABBSSOORRÇÇÃÃOO EE EEMMIISSSSÃÃOO DDEE LLUUZZ I. FUNDAMENTO Átomos e moléculas NÃO podem ter quantidades arbitrárias de energia. Somente certos níveis são possíveis e a condição necessária para a interação entre moléculas e radiação eletromagnética é que dois níveis de energia (E: energia do fóton ou quantum) difiram por: E = h onde h é a constante de Planck (6,63 x 10-27 erg/seg) e (“ni”) é a frequência da radiação. A interação envolve excitação atômica, onde os elétrons se distanciam ou se aproximam do núcleo, recebendo ou eliminando energia. Essa interação depende de “pacotes” pré-definidos para cada átomo, orbital ou elétron. Ou seja, esse fenômeno somente ocorre associado a esses valores de energia. Na Figura 1, encontra-se o Diagrama de Níveis de Energia para o átomo de hidrogênio. A excitação atômica pode ocorrer no átomo isolado ou mesmo se inserido em uma substância, em orbitais mais internos ou externos. Além da excitação atômica, há movimentos internos das moléculas como um todo (rotação, torção, distensão, etc.), onde as ligações químicas permitirão movimento característico de cada radical ou componente. Na Figura 2 estão representados três movimentos possíveis para a molécula de butano. Dessa forma, é possível até identificar certas substâncias, pela presença de radicais ou ligações químicas particulares. Como exemplo, tem-se as proteínas, cuja presença é detectada por absorverem energia de ondas eletromagnéticas de 280nm ou abaixo de 220nm. Figura 1 - Diagrama de níveis de energia para o átomo de hidrogênio. (www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa /fisica-moderna/fisica-moderna- 4.php). 3 A absorção em 280nm deve-se à presença de certos aminoácidos (fenilalanina, cisteína, triptofano, cistina, metionina, histidina e tirosina), que fazem com que a curva de absorção espectral (veja adiante) de proteínas apresente um pico nesse comprimento de onda (Figura 3). A absorção abaixo de 220nm é devida à ligação peptídica. Assim, a determinação da absorção em 280nm, fornece uma avaliação semi-quantitativa da presença de proteínas e a determinação em 220nm ou em valor menor, fornece um valor mais próximo do real. A absorção da radiação eletromagnética de uma forma geral pode ocorrer desde a faixa da radiação ultravioleta até o infravermelho. Os métodos fotométricos foram inicialmente desenvolvidos para medir a absorção da luz de forma padronizada. Entretanto, algumas substâncias por possuírem a característica de se excitarem após a interação com a radiação eletromagnética, e depois voltarem ao estado fundamental emitindo luz visível, permitiram o estabelecimento dos métodos fotométricos de emissão. São as substâncias fluorescentes, muito presentes nos seres vivos. Mais recentemente, surgiram os métodos fotométricos que exploram uma das características dos elementos metálicos: absorver e emitir o mesmo comprimento de onda. São os métodos de fotometria e espectrofotometria de absorção atômica. II. ESQUEMA GERAL ABSORÇÃO EMISSÃO IE(1) I0() I0() IT () IT () IR IA IR IA Sendo: I0: luz incidente ou excitadora IT: luz transmitida IR: luz refletida IA: luz absorvida (refratada) IE: luz emitida Figura 2 - Molécula de butano sendo deformada elasticamente por: a) uma distensão; b) uma flexão e c) uma torção (http://w3.ufsm.br/juca/oscila.htm). Cubeta contendo a amostra Figura 3 (ao lado) – Curva de absorção espectral típica de proteínas, mostrando pico em 280nm devido à presença de certos aminoácidos. (www2.iq.usp.br/docente/mhgdmede/.../Purificacao_ Proteinas_Maycon.pdf). 4 III. MÉTODOS FOTOMÉTRICOS Classificam-se em dois grupos: a) Métodos fotométricos por ABSORÇÃO, que relacionam a quantidade e o comprimento de onda da luz que foi capaz de interagir (= absorvida) com a substância: Colorimetria, Fotocolorimetria, Espectrofotometria, Fotometria de Absorção Atômica, além de Turbidimetria e Nefelometria b) Métodos fotométricos por EMISSÃO, que relacionam a emissão de luz na faixa do visível e seu comprimento de onda (= fluorescência) com a substância que foi excitada por raios na faixa do ultravioleta ou pelo calor: Espectrofluorimetria e Fotometria de Chama. III.1. MÉTODOS DE MEDIDA DA ABSORÇÃO DA LUZ III.1.a. ESPECTROFOTOMETRIA A interação da luz como visto, dá-se de forma especial, envolvendo pacotes de energia pré-determinados. Isso implica na necessidade da mesma ser monocromática. Dessa forma, antigamente, existindo apenas fontes de luz policromática (lâmpadas), houve a necessidade de se desenvolverem técnicas para selecionar os comprimentos de onda desejados. Atualmente, são usadas lâmpadas de deutério, que emitem radiações eletromagnéticas menores que 350 nm e de tungstênio ou tungstênio-halogênio, que emitem luz branca, para excitação na região do visível e infravermelho próximo (>350 nm). Essas lâmpadas emitem luz policromática e espalhada em todas as direções e, para o uso nos aparelhos fotométricos, os raios necessitam ser paralelos, formando feixes, e monocromáticos, criando dois problemas que os aparelhos fotométricos resolveram de forma semelhante, mas diferente. Para solucionar a emissãode luz policromática em todas as direções a partir da lâmpada, inicialmente os raios luminosos são direcionados e concentrados por espelhos para atingirem um colimador, que tem como papel, tornar os raios paralelos (feixe). Os colimadores são lentes convergentes onde os raios incidentes passam pelo foco e saem paralelos ao eixo principal (Figura 4). Na Física, aprende-se que a lente convergente caracteriza-se por concentrar os raios incidentes que chegam paralelos ao eixo óptico, em um só ponto que define o Foco. No colimador, o sentido é oposto: todos os raios incidentes que passarem pelo foco, sairão paralelos ao eixo óptico (Figura 4). Dessa forma, obtêm-se feixes paralelos de luz policromática. Esses raios atingem um prisma que fará a decomposição da luz nos seus diferentes comprimentos de onda, obtendo-se feixes de luz monocromatizada (Figura 5). Para selecionar o comprimento de onda necessário para a excitação da substância, podem ser utilizados dois recursos: filtros e fendas. Os filtros (Figura 6) são vidros coloridos que impedem a passagem de todos os comprimentos de onda menos aquele desejado. As fendas (Figura 7) são aberturas em um material totalmente opaco e escuro que são posicionadas de tal forma que somente o comprimento de onda desejado consegue ultrapassar. Alguns equipamentos possuem somente fendas, outros somente filtros, mas, os melhores e de maior precisão, possuem os dois sistemas monocro- matizadores. Figura 4 – Esquema de ação dos colimadores. Figura 5 – Decomposição da luz branca por um prisma (http://nautilus.fis.uc.pt/wwwfi/hipertextos/espectro/i mg/esp_vis_prisma.gif). Foco 5 O feixe de luz monocromática atingirá a amostra diluída que se encontra dentro da cubeta e, se houver nela uma substância capaz de absorvê-lo, haverá redução da intensidade inicial de luz, conforme visto no Esquema Geral (item II). Assim, havendo absorção, IT < I0, ou seja, a intensidade de luz transmitida é menor que a da luz incidente. A luz transmitida incidirá sobre uma fotomultiplicadora que ampliará o sinal de leitura. Depois, alcançará a célula fotoelétrica que a transformará em sinais elétricos que serão avaliados por um galvanômetro. A célula fotoelétrica é constituída de um metal que é capaz de transformar luz solar ou outra fonte de luz, em energia elétrica. Isso ocorre porque é um diodo fotossensível e os elétrons mais externos são liberados com a energia luminosa, criando uma corrente elétrica. Na Figura 8 temos o experimento de descoberta do efeito fotoelétrico por Hertz. Os raios luminosos (vermelho) ao incidirem sobre o eletrodo liberam elétrons que migram ao eletrodo oposto. Esse efeito foi melhor estudado e explicado por Einstein, justificando seu Prêmio Nobel de 1.921. A contribuição de Einstein foi determinar que os elétrons liberados somente o faziam ao absorver pacotes de energia pré-definidos que os excitava a ponto de permitir sua projeção para fora do metal (E=h) (Figura 9). A célula fotoelétrica é construída com metal que sofre o efeito fotoelétrico. Para que funcione como captador de vários comprimentos de onda, as células fotoelétricas de aparelhos fotométricos são feitas de ligas metálicas. Como a luz que incide sobre a célula fotoelétrica é a luz transmitida (IT) (Transmitância), o aparelho, antes de fornecer o resultado, converte-o em absorbância, que é uma grandeza de mais fácil entendimento. A Absorbância reflete a quantidade de radiação luminosa (energia) que foi absorvida pela amostra. Figura 6 – Filtros para seleção de comprimento de onda. (www.studiolightworld.com/es/ components/com_virtuemart/shop_image/produ ct/ebf59ae2c771a2a86179b516b0b199ad.jpg). Figura 7 – Luz decomposta por prisma e atravessando uma fenda por onde somente está passando o comprimento de onda da luz vermelha (www.espacofotografico.com.br/Dicasteoriadecores/t eorias19.jpg). Figura 8 – Descoberta do efeito fotoelétrico por Hertz. A aplicação de um campo elétrico orientava a migração dos elétrons para o eletrodo da direita (http://www.fisica.net/einsteinjr/1/efeito_f otoeletrico_introducao.html). Figura 9 – Contribuição de Einstein à descrição do efeito fotoelétrico correlacionando-o a valores exatos de energia, dados por E=h. (http://www.comciencia.br/reportagens/2005/03/07.shtml). Fenda 6 De forma intuitiva, essa absorbância será diretamente proporcional à quantidade de substância presente na amostra. Em outras palavras, concentrações crescentes da mesma substância (C1<C2), nas mesmas condições de medida, terão absorbâncias crescentes também (A1<A2). Esse fenômeno foi estudado por Beer que determinou que a absorbância é diretamente proporcional à concentração da substância (Figura 10). Paralela e separadamente, Lambert e Bouguer demonstraram que a absorbância dependia do comprimento da cubeta, pois um trajeto óptico () mais longo permitiria maior interação entre a luz e a substância (Figura 11). I0 I1 I0 I2 I0 I1 I0 I2 1 2 Dessa forma, a absorbância é diretamente proporcional à concentração e ao trajeto óptico: A , C. Entretanto, se a fórmula final só dependesse dessas variáveis, substâncias diferentes, na mesma concentração, mesmo trajeto óptico e avaliadas no mesmo comprimento de onda deveriam apresentar a mesma absorbância. Mas, cada substância pode interagir com a luz de formas diferentes, envolvendo ligações químicas e/ou estruturas atômicas, fazendo com que cada uma delas apresente um comportamento típico, e, por isso, na fórmula final surge mais um componente: o coeficiente de extinção (E), que tem um valor constante para cada substância. O coeficiente de extinção pode ser encontrado na literatura científica ou pode ser determinado experimentalmente. Para tanto, deve-se possuir a substância pura e isolada e, com ela, faz-se 5 soluções de concentrações crescentes e mede-se a absorbância no comprimento de onda adequado para essa substância, sempre usando cubetas iguais (mesmo trajeto óptico). Obtém-se um resultado como o da Tabela 1, com os quais pode ser construído o gráfico da Figura 12. Tabela 1 – Valores de Absorbância medidos em 500 nm, para concentrações molares crescentes da substância. C (M) A500 1 0,1 2 0,2 4 0,4 8 0,8 16 1,6 C1 C2 Figura 10 – Lei de Beer: Duas soluções da mesma substância com concentrações diferentes (C1<C2) ao interagirem com a intensidade de luz I0, terão a luz transmitida diferente (I1>I2). Figura 11 – Lei de Lambert e Bouguer: A mesma solução (C1) colocada em cubetas de trajetos ópticos diferentes (1<2) ao interagir com a intensidade de luz I0, terá a luz transmitida diferente (I1>I2). C1 C1 A500 C Figura 12 – Reta obtida na determinação experimental do coeficiente de extinção. 7 A partir dos valores da tabela, determina-se o Coeficiente de Extinção (E) com a relação: O Coeficiente de Extinção pode ser determinado em qualquer unidade de concentração e no valor de comprimento de onda mais adequado para a substância, em temperatura e cubeta de trajeto óptico constantes, tendo por isso, no nosso exemplo, o valor 0,1 (M-1 cm-1).Para facilitar, o coeficiente de extinção é indicado com a unidade de concentração e com o comprimento de onda que foi determinado: E = 0,1 (M-1 cm-1) Outro exemplo: E coeficiente de extinção determinado em milimolar e em 280nm Quando se usa a concentração molar, o E se denomina Coeficiente de Extinção Molar. A fórmula final para se obter a concentração de soluções desconhecidas a partir da absorbância, conhecida como Lei de Lambert-Beer, fica então: A = E C #observar sempre em cm e C na mesma unidade de E. A espectrofotometria é metodologia que permite a identificação de substâncias (método qualitativo), uma vez que as mesmas interagem de forma específica com a luz. Para tanto, é realizada Curva de Absorção Espectral: a solução da substância pura é colocada na cubeta e faz-se uma varredura das absorbâncias nos diferentes comprimentos de onda. Na Figura 13 tem-se o espectro de absorção da clorofila a; observe que ela apresenta dois picos de absorção: um na faixa do azul e outro no vermelho. Na Figura 14 têm-se os Espectros de Absorção dos Pigmentos Fotossintéticos, determinados separadamente e sobrepostos para comparação; observe em azul claro, o perfil da clorofila a. M 500 mM 280 Figura 14 - Espectros de Absorção dos Pigmentos Fotossintéticos determinados separadamente e sobrepostos para comparação: todas as vezes que se encontrar o espectro da linha azul claro, pode-se afirmar que a substância analisada é a clorofila a (http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/fotossintese/fot ossintese-e-sua-importancia.php). Figura 13 – Espectro de absorção da clorofila a, em metanol. Nessas condições, essa substância apresenta dois picos de absorção: no azul e no vermelho (http://www.steve.gb.com/science/photos ynthesis.html). 8 A espectrofotometria é também um método quantitativo. Para tanto, é necessário ter a substância isolada e purificada. Com ela, a partir de soluções de concentrações conhecidas determina-se uma curva padrão (Absorbância x Concentração). Um valor de absorbância desconhecido pode ser colocado sobre essa curva, construída em papel milimetrado, e então, determina-se a concentração experimental (Figura 15). Se a representação da Lei de Lambert-Beer for uma reta perfeita, na variação de concentração utilizada, como na Figura 15, pode-se também determinar uma relação entre a Concentração e a Absorbância denominada Fator de Calibração (f): f = A concentração desconhecida de uma solução pode então ser encontrada com a fórmula, a partir da absorbância do desconhecido, obtida no mesmo comprimento de onda: C = A x f Quando a substância não apresenta linearidade na Curva-padrão, diz-se que não segue a Lei de Lambert-Beer (Figura 16). Essa não linearidade pode ocorrer em soluções mais concentradas ou muito diluídas e, nesse caso, utiliza-se o Fator de Calibração apenas para a faixa linear. Nesse caso, também se pode determinar a concentração desconhecida como foi descrito para a curva-padrão: por interpolação. O espectrofotômetro é um aparelho que pode ler amostras nas faixas do ultravioleta (UV), visível (Vis) e infravermelho próximo (IV), conforme especificações do fabricante; os aparelhos vêm indicados como UV-Vis (mais comuns) ou UV-Vis-IV. As cubetas podem ser colocadas em carrossel com local para o branco e 5 amostras experimentais, ou podem ser colocados apenas o branco e uma cubeta amostral. O tubo branco possui uma solução com todas as substâncias contidas na amostra, menos o que se quer avaliar na mesma. O tubo branco é utilizado para levar a escala do aparelho ao zero, para poder ter o valor exato da medida. Esse procedimento é denominado de “zerar”. Assim, as leituras sempre são feitas zerando inicialmente o aparelho com o branco. As cubetas devem ser feitas de material totalmente transparente; geralmente utiliza-se o quartzo ou sílica fundida para leituras em UV e vidro ou plástico para leituras na faixa do visível. Esse é um detalhe importante porque a radiação UV não atravessa o vidro, interferindo na leitura. Podem ter diferentes valores de trajeto óptico, sendo considerado o valor de 1 cm como o padrão. Sua capacidade também varia: 5 ml, 1 ml, 0,5 ml, etc., sendo que, para amostras biológicas, as mais empregadas são aquelas de pequena capacidade (0,1 ml) e trajeto óptico de 0,5 cm. Figura 15 – Curva-padrão de uma substância. Nas condições ideais, sempre resulta em retas, podendo- se obter a equação do tipo y = ax + b. Neste caso, ela vale y = 0,136x + 0,001. Um valor experimental de absorbância (0,4) resulta em 3% de concentração (v/v), como pode ser visto pelas linhas vermelhas (www.bio.txstate.edu/~fxbio/lab2_files/image004.gif) Concentração do padrão Absorbância do padrão Figura 16 – Com este tipo de curva, diz-se que a substância não segue a Lei de Lambert-Beer, para valores de concentração mais altos (http://plato.if.usp.br/1- 2004/fap0181d/Lei%20de%20Beer_files/be ersdev.gif). 9 A espectrofotometria pode ser empregada então, para a quantificação de qualquer substância que apresente interação específica com a luz, fato que a identificará, sendo por isso, metodologia quantitativa e qualitativa. Até o momento, foram descritos os procedimentos para a avaliação de uma determinada substância pura. Ocorre que, na maioria das soluções biológicas, essa situação nem sempre acontece: tem-se, na verdade, uma solução com mais de uma substância. Essa situação cria um grande problema, pois, a curva resultante será a soma de seus componentes, prejudicando a identificação da substância (Figura 17). Nem sempre a curva resultante é exatamente a soma: vai depender das características das substâncias envolvidas. Figura 17 – Soma de absorbâncias de soluções mistas (http://www.scielo.cl/fbpe/img/jcchems/v50n2/img04- 01.jpg). III.1.b. COLORIMETRIA e FOTOCOLORIMETRIA São metodologias fundamentadas nos mesmos princípios da espectrofotometria; a diferenciação se faz pela sensibilidade dos equipamentos: o colorímetro e o fotocolorímetro são equipamentos que somente avaliam a absorbância na faixa da luz visível, sendo que o branco é lido juntamente com a cubeta da amostra. O sistema óptico subdivide o sinal que é enviado às cubetas paralelamente. Há equipamentos que permitem a leitura de tubos de vidro, quando a reação pode ser lida no mesmo recipiente em que ocorre (tubos de ensaio). A variação de comprimentos de onda nestes equipamentos é mais ampla (de 50 em 50nm), enquanto que no espectrofotômetro, é possível a varredura de 1 em 1nm. O colorímetro não é capaz de realizar uma curva de absorção espectral, pois apresenta oferta de estreita faixa de comprimento de onda; alguns fotocolorímetros, por sua vez, podem obtê- la. Esses equipamentos são ideais para rotina, quando se use apenas ondas na faixa do visível. O espectrofotômetro é um equipamento mais adequado para laboratórios de pesquisa e para o desenvolvimento de novas rotinas III.1.c. TURBIDIMETRIA E NEFELOMETRIA O princípio geral da absorção da luz, realizada nos fotômetros descritos até o item anterior, somente realizam medidas de soluções em que seus componentes estejam totalmente dissolvidos. Entretanto, a redução da transparência da água que ocorre em vários sistemas biológicos e no tratamento da água relacionada ao consumo humano, introduziu a necessidade de se avaliar coleções aquosas com material particulado ou coloidal em suspensão. Essa medida denomina-se de turbidez. O turbidímetro e o nefelômetro são equipamentosadaptados ao conceito da fotometria, mas não avaliam absorbância e sim a interrupção da passagem da luz ou a sua dispersão, respectivamente. Basicamente ambos possuem uma fonte de luz branca que não necessita ser monocromatizada, que passa pelo colimador (para tornar seus raios paralelos) e em seguida, incide sobre a amostra. Para pouco material disperso em suspensão (de aqüicultura, rios, lagos, etc.), determina- se a turbidez com o turbidímetro, que possui o detector na mesma linha seqüencial do feixe de luz e, por isso, mede a luz que conseguiu atravessar por entre as partículas em suspensão. Quando se Espectro de absorção da solução de A + B Espectro de absorção da solução B Espectro de absorção da solução A 10 revolve o sedimento de fundo e se quer avaliar o particulado, é mais adequado utilizar o nefelômetro, pois este possui o detector em ângulo de 45 ou 90º, avaliando a luz dispersa pela amostra (Figura 18); em outras palavras, o turbidímetro avalia misturas mais “diluídas” e o nefelômetro, determina misturas mais “concentradas”. A unidade de medida da turbidez depende do padrão utilizado para calibrar o aparelho. A mais utilizada é unidade de turbidez nefelométrica (NTU ou FTU) cujo padrão é um polímero de formazina. Figura 18 – Turbidímetro à esquerda e Nefelômetro à direita. Observar que o primeiro avalia a luz que consegue atravessar a amostra e o segundo, determina o espalhamento da luz por uma suspensão contendo mais particulados (http://www.brquimica.com.br/turbi/news_turbi.php?id=1105204758). A utilização destas metodologias volta-se mais para a avaliação físico-química da água no ambiente doméstico, tanto potável como de esgotos, águas industriais, tanto efluentes como de refrigeração e de produção aqüícola, controle de qualidade nos processos de fabricação de bebidas, cosméticos, plásticos e outros, estudos de impacto ambiental, análises de derramamentos perigosos, águas oriundas de irrigações, qualidade das águas para consumo humano (lagos, rios e riachos), etc. Para microrganismos é possível estabelecer uma relação entre turbidez e concentração de células, tanto para bactério como para fitoplâncton, tornando-se mais fácil a construção de curvas de crescimento (Figura 19). Assim, tanto a turbidimetria como a nefelometria são métodos quantitativos, mas, ressalta-se que eles não determinam a concentração no sentido químico da palavra, mas estabelecem uma relação mensurável que pode ser utilizada em avaliações comparativas. III.1.d. FOTOMETRIA DE ABSORÇÃO ATÔMICA Esta metodologia explora uma característica dos metais: eles absorvem e emitem o mesmo comprimento de onda. Assim, uma solução metálica vaporizada recebe um feixe colimado proveniente de uma lâmpada confeccionada com o próprio metal que está sendo avaliado. Em outras palavras, uma solução contendo magnésio é avaliada por um feixe de luz colimado proveniente de uma lâmpada de magnésio. A precisão alcançada é muito expressiva, atingindo a determinação de “partes por trilhão” do elemento metálico em solução. É metodologia importante em laboratórios de toxicologia, impacto ambiental, fisiologia, bioquímica, etc., enfim, todos aqueles que necessitam determinar metais poluentes ou fisiológicos em solução. Figura 19 – Curva de crescimento típica de bactérias, determinada com a turbidimetria (http://pathmicro.med.sc.edu/fox/growth_c.jpg). 11 As lâmpadas são conhecidas por “catodo oco”, onde, por questões econômicas, esse eletrodo é confeccionado nessas condições para reduzir custos (Figura 20). Esta metodologia é qualitativa a partir do momento que identifica o metal por ele absorver a luz de comprimento de onda esperado, ou seja, se a luz emitida por uma lâmpada de cobre incidir sobre a amostra e ocorrer absorbância, podemos concluir que na amostra há esse metal em solução. Além disso, é metodologia quantitativa, pois, a partir de uma curva-padrão, pode-se determinar a concentração desconhecida de uma solução, como visto na espectrofotometria, por interpolação ou pela obtenção do fator de calibração. Atualmente, são também fabricadas lâmpadas mistas ou multi-elemento, contendo mais de uma substância metálica (2-4 metais, formando uma liga). Esses aparelhos podem então realizar espectros de absorção e, por isso, passaram a ser denominados espectrofotômetros ou espectrômetros de absorção atômica. As leituras obtidas com lâmpadas puras são mais precisas e indicadas quando esse requisito é primordial. As lâmpadas mistas são ideais para determinações de rotina por facilitarem também as leituras. Para o uso de lâmpadas mistas, o equipamento precisa vir montado com um monocromatizador que é colocado após a passagem pela amostra (Figura 21). Além disso, alguns elementos metálicos não podem ser vaporizados pelo calor por formarem amálgama, como é o caso do mercúrio. As determinações desse metal devem ser realizadas em equipamentos que obtêm a vaporização ou por redução da pressão ou através de uma reação química. Nesse caso, o vapor de mercúrio é fruto da reação química. III.2. MÉTODOS DE MEDIDA DA EMISSÃO DA LUZ Algumas substâncias absorvem radiações eletromagnéticas, raios catódicos ou X, e retornam ao estado fundamental emitindo luz de comprimento de onda na faixa do visível. São as substâncias fluorescentes, que, por apresentarem de forma característica a radiação de excitação e a de emissão, podem ser mensuradas pelos métodos fotométricos de emissão. III.2.a. ESPECTROFLUORIMETRIA No espectrofluorímetro, a amostra também é colocada em uma cubeta transparente, de trajeto óptico padronizado e a medida é a da emissão de luz da substância excitada. Figura 20 – Esquema à esquerda e foto à direita de uma lâmpada de catodo oco (http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/1/1e/Hollow_Cathode_Lamp.png e http://www.labhut.com/products/lamps/hollow_cathode/index.php?gclid=CO_p4_qnl5UCFQOuFQod3AbJfg). Figura 21 – Esquema de um espectrofotômetro de absorção atômica com a vaporização por calor (http://www.resonancepub.com/atomicspec.htm). 12 O equipamento possui dois canhões: o excitador (anterior à cubeta) e o analisador colocado depois da amostra. Ambos possuem espelhos, colimador e monocromatizador, e no analisador localiza-se a célula fotoelétrica, fotomultiplicador e galvanômetro. Nesta configuração, o registro no galvanômetro é o da luz emitida que será proporcional à concentração da amostra. Geralmente, os canhões ficam em ângulo de 90º para não haver interferência da luz de excitação (Figuras 22 e 23). A substância poderá ser caracterizada tanto pelo seu espectro de absorção como pelo espectro de emissão, sendo ambos gerados pelo mesmo equipamento (Figura 24). O fluorímetro é um aparelho que não pode realizar espectro de absorção, sendo indicado para rotinas laboratoriais da medida de fluorescência. Através da construção dos espectros de absorção e emissão pode-se assim identificar uma substância, caracterizando então essa metodologia, como qualitativa. A construção de uma curva- padrão permitirá a determinação da concentração desconhecida de soluções amostrais, caracterizando a espectrofluorimetria como metodologia quantitativa. A espectrofluorimetria é muito utilizada na caracterização de compostos orgânicos fluorescentes como neurotransmissores e vitaminas, principalmente. III.2.b. FOTOMETRIA DE CHAMA Esta metodologia avalia a radiação emitida por substâncias quando excitadas por umachama, sendo metais alcalinos ou alcalinos terrosos. São especialmente usados para a determinação e identificação de sódio, potássio, lítio e cálcio. A fluorescência de substâncias excitadas pela chama é direcionada por espelhos, colimada e selecionada por filtros e fendas, incidindo sobre a célula fotoelétrica e, finalmente, quantificada pelo galvanômetro (Figura 25). Figura 22 – Princípio geral da medida da fluorescência (www.chemicool.com/img1/graphics/fluor- schematic.gif). Figura 23 – Espectrofluorímetro (www.jobinyvon.es/Fluorescence). Figura 24 – Espectro de excitação (à esquerda) e de emissão (à direita) de várias substâncias indicadas nas curvas (http://www.bio.unc.edu/faculty/jones/lab/2010Project/background.htm). 13 Essa fluorescência é típica da substância, identificando-a. Fazendo uma curva-padrão do elemento de interesse, é possível quantificá-lo, tornando essa metodologia de grande importância na determinação dos metais alcalinos mais abundantes nos organismos. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS DE BAIXA PRESSÃO Os métodos cromatográficos permitem a separação (fracionamento) de componentes de amostras biológicas em geral. A identificação ou a quantificação de substâncias não fazem parte dos seus objetivos principais. A separação é efetuada em sistemas bifásicos, onde os componentes da amostra são colocados para interagir com a fase fixa (onde o processo ocorrerá) e acelerados pela fase móvel (Figura 26). A cromatografia pode ser feita de vários modos. Os mais comuns utilizam as Colunas e as Placas. As primeiras são tubos rígidos (geralmente de vidro) de diversas alturas e diâmetros (Figura 27) que irão conter a fase fixa. As placas são retângulos de papel especial (cromatográfico) ou de material sintético polimerizado sobre um suporte de vidro (sílica, poliacrilamida) (Figura 28). O papel cromatográfico tem a aparência do papel de filtro, mas, é mais puro que este, para impedir a interferência de impurezas na migração dos componentes da amostra. Figura 25 – Esquema do fotômetro de chama (http://www.resonancepub.com/images/section701.gif). Fase fixa, suporte ou matriz Sólido ou gel Fase móvel, solvente ou eluente Líquido Figura 26 – Esquema geral da cromatografia de baixa pressão. Figura 27 – Diversos modelos de colunas cromatográficas (http://www.buchi.com/typo3t emp/pics/Glass_column_progra m_2051a1e6e3.jpg). Figura 28 – Placa cromatográfica indicando a fase móvel (eluent) (http://www.instructables.com/file s/deriv/FWZ/46WE/F4S6BR39/FW Z46WEF4S6BR39.MEDIUM.jpg) 14 Nos dois casos, a amostra é arrastada pela fase móvel e os seus componentes são retardados seletivamente na fase fixa, podendo ou não haver ligação entre ambos, definindo dois grandes grupos de métodos cromatográficos: com e sem aderência. De acordo com as forças atuantes nesse retardamento, essa metodologia pode ser agrupados em 5 classes: a) Com aderência: obrigatoriamente ocorre uma ligação entre componentes da amostra e da fase fixa: adsorção, afinidade e troca-iônica; b) Sem aderência: não há ligação entre componentes da amostra e da fase fixa: partição e filtração As colunas podem ser adquiridas pré-fabricadas, ou podem ser manufaturadas pelo próprio pesquisador. As colunas são fixadas em suportes comuns de laboratório e conectadas ao reservatório da fase móvel, com uma torneira para controlar o fluxo. Esse reservatório deve estar em nível superior ao da coluna para que se estabeleça o fluxo apenas pela ação da gravidade. Na saída da coluna é colocada uma torneira para auxiliar no controle do fluxo da fase móvel. Abaixo da coluna, são colocados vários tubos que receberão as frações obtidas. O conteúdo das frações será avaliado para completar as informações necessárias através de métodos qualitativos e/ou quantitativos. O fluxo que atravessa a coluna obedece à força da gravidade (dada pela diferença de altura entre o reservatório e a coluna), e é influenciado pelos diâmetros das tubulações, conexões, coluna, torneiras, além da viscosidade das soluções (Figura 29). I. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS COM ADERÊNCIA I.a. ADSORÇÃO Na adsorção, ocorrem ligações inespecíficas e superficiais, em diferentes graus, entre os componentes da fase fixa e os constituintes da amostra, mantidas por pontes de hidrogênio, forças de Van der Waals, dipolo e outras. O número de pontes formado por molécula resulta na força de ligação, em diferentes graus: o separando com mais pontos de ligação estará mais fortemente ligado. Esta metodologia é muito empregada para fracionar substâncias orgânicas, mas principalmente para remover corantes em solução, naquelas determinações em que a cor pode interferir nos resultados (urina, meios de cultivo celular, etc.) além de odores desagradáveis em coleções de água e ambientes úmidos. As matrizes mais usadas são: carvão ativado, sílica, celulose, caolim, hidroxiapatita, etc., sendo a primeira, a mais vantajosa quanto ao custo-benefício. Suas qualidades se resumem em alta eficiência, não repasse da poluição (odor em águas) e baixo custo operacional. O carvão ativado (Figura 30) é obtido através de pirólise (carbonização) controlada de materiais carbonáceos de origem vegetal, animal ou mineral com posterior ativação termoquímica. A pirólise controlada propicia a cristalização do carbono, formando poros dentro do carvão comum. A porosidade aumenta Figura 29 – Esquema geral da cromatografia de baixa pressão em coluna; observar que o fluxo pode ser determinado pela diferença de altura entre o reservatório e a coluna, pelos diâmetros dos tubos, conexões, coluna e torneira, além da viscosidade da solução (http://www.chembook.co.uk/fig23- 6.jpg). 15 significativamente a área de interação entre a fase fixa (carvão ativado) e os componentes da amostra. A fase móvel é geralmente a solução-tampão onde estão dissolvidas as substâncias a serem fracionadas. A forma mais simples de realizar a cromatografia de adsorção no laboratório é a remoção de corantes em solução. Nesse caso, não se deseja utilizar o corante e, por isso, não se utiliza a coluna (Figura 31). Faz-se da seguinte forma: em um recipiente, coloca-se a solução colorida e o carvão ativado; após um tempo variável, a solução estará transparente e poderá ser vertida sobre papel de filtro, restando a solução desejada. A fase fixa pode ser montada em coluna para fracionamento mais completo. Sai primeiro o menos fortemente ligado, removido simplesmente pela força de arrasto da fase móvel (fluxo), ou podem ser retirados seletivamente por solventes especiais. Na Figura 31 encontra-se a seqüência para o fracionamento da mistura de 3 sustâncias, usando coluna cromatográfica e carvão ativado. T T: tempo para as ligações ocorrerem Figura 30 – Carvão ativado em diferentes ampliações; observar à direita, a grande quantidade de poros, que aumentam a superfície de interação (http://aguapurificada.kit.net/info-produtos.htm), tempo Figura 30 – Remoção de corantes por adsorção. O carvão ativado é colocado dentro do recipiente da solução; após um tempo variável, a solução estará transparente. faz 3 pontes inespecíficas faz 1 ponte inespecífica não faz ponte inespecífica 1 Fase Móvel 2 Fase Móvel 3 Fase MóvelLENTO MÉDIO RÁPIDO FLUXOS: 16 I.b. AFINIDADE Princípio: ligação superficial, mas específica, que ocorre entre a fase fixa e os componentes da amostra, baseada em forças de atração e repulsão de cargas elétricas fracas, mas numerosas, formando complexos estáveis. Mecanismo: a fase fixa é preparada previamente, recebendo substâncias a ela ligadas covalentemente (ligação estável e duradoura) que serão capazes de reconhecer um dos componentes da amostra. As ligações que ocorrerem entre a fase fixa e o separando serão do mesmo grau. Aplicação: quando se quer isolar um dos componentes de reações específicas, como: Enzima - Substrato; Anticorpo - Antígeno e Receptor – Mensageiro (complexos mantidos por forças fracas como pontes de H, forças de van der Waals, etc.) Matriz: atualmente, há vários tipos, mas, a técnica foi descrita para a SEPHAROSE (Amersham - Pharmacia). Todas fundamentam-se na agarose polimerizada em condições especiais. A matriz é preparada em condições laboratoriais, onde se coloca o ligante adequado para o experimento. Por ex.: se pretende-se isolar anticorpos a partir de soro imune, o antígeno será o ligante; se pretende-se isolar uma enzima, o seu substrato será o ligante. Essas moléculas substituirão o R indicado na figura ao lado, via ligação covalente. Procedimento: uso obrigatório de coluna antes ou depois da seleção. A matriz contendo o ligante pode ser colocada em contato com a amostra dentro ou fora da coluna. O ligante selecionará a sua molécula complementar contida na amostra. Após lavar bem para remover os não selecionados faz-se a eluição por competição. No final, ligante e selecionado estarão unidos e será necessária outra metodologia para separá-los. Veja abaixo o esquema da seqüência do procedimento. T T: tempo para as reações ocorrerem Fase Móvel Fase Móvel anticorpo antígeno outras substâncias 17 I.c. TROCA-IÔNICA Princípio: ligação superficial entre as fases fixa e móvel sustentada por cargas elétricas opostas. Mecanismo: as partículas da fase fixa chamam-se RESINAS e podem ser ANIÔNICAS (retém e trocam ânions e são positivas), CATIÔNICAS (retém e trocam cátions e são negativas) e MISTAS (retém e trocam ânions e cátions). Poderão coexistir diferentes graus de interação, dependentes dos valores da carga elétrica das substâncias em solução. Aplicação: produção de água deionizada (ou desionizada) e separação de qualquer mistura que contenha proteínas e seus constituintes (aminoácidos e polipeptídeos), pois são substâncias anfóteras: mudam a carga conforme o pH. pH < pI: proteína tem carga positiva pI: pH onde a proteína está neutra pH > pI: proteína tem carga negativa Para a produção de água deionizada, a água destilada passa pela coluna de resina mista e tem seus íons removidos: há retirada de todas as substâncias carregadas eletricamente (essa resina retém cátions e ânions). Para separação protéica e seus constituintes, escolhe-se resina catiônica ou aniônica. Procedimento: preenche-se uma coluna com a resina apropriada; coloca-se a solução e deixa-se interagir por algum tempo; lava-se com tampão de pH apropriado (fase móvel); elui-se com outro tampão de pH apropriado. Veja o esquema abaixo e a descrição a seguir: T T: tempo para as reações ocorrerem pH 4,0 ovoalbumina hemoglobina citocromo c Fase Móvel pH 4,6 Fase Móvel pH 6,8 Fase Móvel pH 10,7 pH4,0 18 Para melhor entender o procedimento, supor a mistura de proteínas contendo: ovoalbumina (pI 4,6), hemoglobina (pI 6,8) e citocromo c (pI 10,7) em solução tampão pH 4,0 (inicial ou de trabalho). Nesse valor de pH, todas as proteínas da mistura estarão com carga positiva (abaixo do pI), sendo que a mais carregada é a citocromo c e a menos carregada é a ovoalbumina. Usando resina catiônica, todas as proteínas ficarão aderidas à fase fixa. A primeira eluição é feita com tampão no pH 4,6, quando a ovoalbumina estará neutra e se soltará da resina. A segunda eluição é feita com tampão no pH 6,8, quando a hemoglobina estará neutra e se soltará na resina. A terceira eluição será realizada em pH 10,7 quando a citocromo c se solta por estar neutra. II. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS COM ADERÊNCIA II.a. PARTIÇÃO Princípio: explora o fato de que as substâncias em solução apresentam diferentes Coeficientes de Partilha (Solubilidade) em solventes orgânicos ou não. Na cromatografia de baixa pressão, a partição é realizada em placas. É o único método cromatográfico de baixa pressão que é qualitativo, quantitativo, além de ser fracionário. Mecanismo: uma mistura de substâncias com diferentes solubilidades em determinado solvente é aplicada em uma placa (papel cromatográfico ou gel, que é a fase fixa) e depois é arrastada de forma diferenciada pela fase móvel (o solvente faz parte dessa fase). Os componentes irão se distribuir assimetricamente na fase fixa, segundo sua solubilidade. A substância mais solúvel migrará mais e o opsto se dá com a menos solúvel. A presença do separando é identificada pela revelação que é feita por uma substância que, ao interagir com o separando, dá origem a uma nova substância que é colorida e identifica o separando, por ser uma reação específica. Além disso, a determinação do Rf (Relação à frente) confirma a qualificação da substância, pois é único para cada separando. A Rf é calculada pela relação: Rf = A quantificação do separando é realizada pela determinação da área da mancha, em um analisador de imagens, comparando-se os valores obtidos com uma curva padrão. Aplicação: identificação e quantificação de pequenos compostos, particularmente carboidratos. Matrizes mais usadas: papel, sílica e poliacrilamida. Procedimento: a placa, após a aplicação da amostra, é fixada em um suporte e, sua porção inferior é mergulhada na solução eluente/fase móvel (sem cobrir a origem). Na mistura A + B + C, A se posiciona mais embaixo que B e este mais abaixo de C, se a solubilidade de C for maior que a de B e esta maior que A. A origem (onde se aplica a amostra) e a linha limite da migração da fase móvel deverão ser marcadas a lápis. Depois da corrida, a placa deve ser secada e revelada. O Rf é calculado a partir das medidas obtidas de migração da fase móvel e do separando. O Rf da substância B valerá 0,5 pois: Rf = O Rf de B valerá sempre 0,5 nas mesmas condições experimentais e o identificará. 5 10 Distância percorrida pela substância Distância percorrida pela fase móvel 5 cm 10 cm Origem 19 A figura ao lado mostra uma situação bastante freqüente: se a amostra for muito complexa, contendo várias substâncias, pode ser necessário fazer duas corridas cromatográficas, uma perpendicular à outra. Assim aplica-se a amostra no canto inferior direito (a), faz-se a corrida (b) e, antes de secar, faz-se outra corrida, girando 900 o papel (c). Nesse caso, o Rf é calculado ao final da segunda corrida. Em determinações quantitativas, faz-se uma relação entre área da mancha e concentração de um padrão puro da substância de interesse (curva-padrão). A quantificação da área da mancha pode ser obtida pelo densitômetro. Nesse aparelho,um feixe de luz atravessa a preparação e cria uma curva proporcional à intensidade de cor das frações impregnadas de corante (ou substância reveladora). II. b. FILTRAÇÃO OU FILTRAÇÃO EM GEL Princípio: a separação se dá por diferenças na massa e volume molecular. Mecanismo: a fase fixa é formada por partículas que possuem cavidades de tamanho molecular, tendo o aspecto de esferas feitas de esponja. As moléculas maiores da amostra, não penetram nessas cavidades e saem primeiro da coluna. Dá-se o contrário de uma peneira. As partículas esféricas variam no diâmetro externo bem como quanto ao diâmetro dos poros (Ver quadro abaixo). A escolha de uma das várias combinações depende da amostra: grandes diferenças de PM (por ex: desde 5.000 até 100.000) ou não (por ex: de 5.000 a 7.000). No quadro abaixo, tem-se exemplos de géis para Cromatografia de Filtração que deverão ser escolhidos, conforme a necessidade: Produto Proteínas Globulares (PM) DNA Sephadex G-10 Até 7 x 102 --- Sephadex G-15 Até 1,5 x 103 --- Sephadex LH - 20 < 5 x 103 --- Sephacryl S-100HR 1 x 103 – 1 x 105 --- Sephacryl S – 400 HR 2 x 104 – 8 x 106 --- Sephacryl S – 200 HR --- 118 bp Sephacryl S – 1000 SF --- 20.000 bp Aplicações: o procedimento pode ser realizado apenas para a separação dos constituintes da amostra ou ainda, para a determinação da Massa Molecular de macromoléculas. 20 Procedimento: principalmente realizado em colunas, mas aplica-se também em placas de gel. Passos: preenche-se a coluna com o gel (fase denominada empacotamento); coloca-se a amostra; abre-se a torneira da coluna e a da fase móvel e, imediatamente começa-se a colher amostras de pequeno volume (0,1 - 1 mL, geralmente) em tubos individualizados; durante todo o processo o tampão eluente deve ocupar todo o volume da coluna. Caso se deseja obter o PM das substâncias, é necessário obter o coeficiente de partição médio (Kav), através da determinação do VOLUME MORTO (Vo) - com o auxílio do BLUE DEXTRAN - os VOLUMES DE ELUIÇÃO para cada componente de mistura (VE1, VE2, VE3...) e o VOLUME TOTAL, que é o volume da coluna de gel (equivale a um cilindro). O PM do Blue Dextran vale 2.000.000, a maior molécula conhecida, sendo azul e obtida por polimerização. Em todos os procedimentos em que se acrescentar o Blue Dextran, ele será sempre a primeira molécula a sair da coluna cromatográfica, justamente por ser maior. As frações obtidas e numeradas (no coletor de frações, como na foto ao lado) (nos dois casos) são lidas por espectrofotometria ou espectrofluorimetria, dependendo do caso. Assim, aquelas frações que tiverem valores significativos de absorbância ou de emissão, conterão uma das substâncias fracionadas. O percurso da substância de menor PM, será o maior (ela penetra no maior número de poros) e, por isso, ela será a última a sair da coluna. Ao lado, resultado típico dessa cromatografia. O primeiro pico (na figura ao lado, seria o da esquerda) corresponde ao Blue Dextran e o segundo pico (o da direita), seria a substância que se quer determinar o PM. 21 O V0 é calculado pelo número do tubo que saiu o Blue Dextran, vezes o valor de cada fração, em mL. Os VE serão calculados para cada substância, da mesma forma: o número do tubo vezes o valor de cada fração, em mL. O VT é calculado conforme a se calcula o volume de um cilindro: VC = VT = Ab x h = r 2 x h Com esses valores, calculam-se os Kav para cada substância: Kav = A obtenção do PM será realizada ao se jogar o valor do Kav obtido em gráficos semelhantes ao abaixo, que utiliza um papel semi-log. Cada reta foi obtida com uma fase fixa diferente (G-25, G- 100, G-200, conforme quadro anterior, variando o diâmetro externo e o diâmetro do poro) e, por isso, deve-se utilizar a mesma em que realizamos o processo cromatográfico. III. COMATOGRAFIA DE ALTA EFICIÊNCIA As tentativas para se tornar os procedimentos cromatográficos de baixa pressão mais rápidos, resultaram também em maior eficiência, pela introdução de uma bomba peristáltica, que cria um fluxo constante e contínuo, sem, no entanto, alterar a pressão. A bomba peristáltica possui uma peça triangular giratória que empurra quantidades padronizadas de líquido do interior do tubo (Figura ao lado http://img.photobucket.com/albums/v702/Pinatubo/ peristalticpump.jpg) O aparelho de alta eficiência já pode vir montado com o suporte, a coluna, a bomba, o coletor de frações, o detector, o analisador e o registrador (Foto ao lado); não há necessidade de se ter diferença de altura entre a coluna e o reservatório de fase móvel. (http://www.egr.msu.edu/pel/pictures/AKTAUPC100.jpg) VE – V0 VT – V0 22 Abaixo, há um esquema das instalações de um cromatógrafo de alta eficiência (http://www.york.ac.uk/depts/biol/tf/images/AKTA_100_Path.jpg). Os princípios de separação são os mesmos que os anteriores com a exceção da partição, ou seja, todos os procedimentos que podem ser efetuados em coluna podem ser melhorados pela adição da bomba peristáltica. O computador acoplado em todos os sistemas criará um perfil para ser avaliado pelo pesquisador. Esse perfil é denominado cromatograma e, para se ter uma boa separação, deve-se ter uma boa resolução. Isso quer dizer que as substâncias foram bem separadas e deram origem a picos distintos. Na cromatografia de alta eficiência, há a tendência de se obter melhor resolução na separação do que na cromatografia de baixa pressão convencional. Ao lado, está um cromatograma de péssima resolução por ter os picos sobrepostos. Para melhorar a resolução, deve-se alterar de imediato o fluxo da fase móvel. Ao lado, há dois cromatogramas da mesma amostra, onde se variou o fluxo da fase móvel: à esquerda, fluxo mais rápido, e, à direita, fluxo mais lento. A situação ideal é quando se obtém um cromatograma como o da figura ao lado: os picos estão bem separados (há uma boa distância entre eles, permitindo a visualização de quando termina e quando começa a outra substância), além de todos terem uma base estreita (isso significa que a substância saiu em um número mínimo de tubos). A resolução é um parâmetro que depende também dos componentes da fase móvel e, por último, da composição da fase fixa e, nessa ordem, devem ser alterados para se melhorar a resolução. Se as frações não estiverem bem delimitadas, os componentes fracionados não estarão totalmente isolados e haverá contaminação de uma substância na fração da outra. Na cromatografia de alta eficiência, é possível a identificação da substância pelo período que ela demora em atravessar o sistema: é o tempo de retenção, que a caracteriza. Assim, essa metodologia se torna qualitativa. Se for construída uma curva com um padrão, será possível obter a concentração desconhecida de uma solução amostral, de forma semelhante ao que foi demonstrado para os métodos fotométricos (veja a seguir). 23 (http://www.scielo.br/img/revistas/cta/v27n1/02f2.gif) Na figura da direita, tem-se o resultado experimental e, à esquerda, a curva-padrão. O próprio aparelho dá a altura dos picos obtidos (1, 2, 3, 4, 5 e 6) e, sendo de interesse o de número 4 (correspondente ao licopeno), leva-se esse valor à curva-padrão e se obtém o valor em concentração. MÉTODOS CROMATOGRÁFICOS DE ALTA PRESSÃO Nos métodos cromatográficosde alta pressão (CAP) a separação ocorre mais rapidamente que nos de baixa pressão, por que o procedimento é acelerado pela passagem da fase móvel com maior pressão (acima da atmosférica). Essa elevação da pressão é obtida pela redução da seção de corte da coluna que se torna então bem fina associada à movimentação da fase móvel, que se estabelece com maior pressão, induzida pela ação de uma bomba compressora. Na grande maioria dos CAP, o fracionamento entretanto, não é destinado ao isolamento de substâncias e sim, para poder caracterizá-las (teste qualitativo) e quantificá-las (teste quantitativo), lacuna deixada pelos métodos cromatográficos de baixa pressão (CBP). A inviabilidade do seu uso como método fracionador ocorre por duas razões: 1) a fase móvel geralmente é constituída por solventes orgânicos e as substâncias analisadas acabam perdendo a sua atividade biológica e 2) o volume aplicado da amostra é pequeno (varia de 20 a 100 µL) gerando frações menores ainda. Por outro lado, já existem no mercado, aparelhos CAP que permitem o aproveitamento das frações obtidas a partir de amostras de maior volume, associadas a formulações de fases móveis que não inativem os constituintes moleculares. Dependendo do estado físico da fase móvel, a CAP pode ser cromatografia líquida de alta pressão (H.P.L.C. derivado do inglês: High Pressure Liquid Chromatography – esquema abaixo à esquerda) ou cromatografia gasosa de alta pressão (H.P.G.C. derivado do inglês: High Pressure Gas Chromatography – esquema abaixo à direita). A vazão da fase móvel se mantém constante com auxílio de uma bomba na HPLC, e na HPGC, a fase móvel estará pressurizada dentro de cilindros de aço. A amostra hidro ou lipossolúvel deve ser aplicada bem diluída por que o método é muito sensível. Assim, não se deve usar essa metodologia para derivados totais, complexos, ainda por purificar. Concentração do padrão de licopeno Altura ou área do pico 24 FASE FIXA As colunas não podem ser produzidas no laboratório e já vêm empacotadas com a fase fixa. A coluna tem diâmetro médio máximo de 1cm e comprimento médio máximo de 40cm. A fase fixa pode separar a amostra por dois princípios: ADSORÇÃO e PARTIÇÃO. Mecanismos e separação: 1) Partição: baseia-se na solubilidade diferente dos elementos da solução, tanto em relação à fase fixa, quanto em relação à fase móvel. Sairá primeiro aquele elemento menos solúvel na fase fixa e mais solúvel na fase móvel. Exemplos de fases fixas: a) Substâncias orgânicas ligadas quimicamente à sílica gel: octadecil sílica (ODS), octil sílica, alquilhidroxi sílica; b) Líquidos de baixa pressão de vapor e alta estabilidade química: esqualano, Carbowax 1500, Carbowax 20M, siliconas, metilsiliconas. 2) Adsorção: baseia-se nas ligações entre os elementos da solução e a fase fixa, que ocorrerão de forma inespecífica e em diferentes graus de intensidade. A fase móvel competirá por essas ligações, forçando a saída daquele elemento mais fracamente ligado e retardando a saída da molécula mais fortemente ligada. Podem ser materiais adsorventes sintéticos, como: carvão ativado, sílica gel, alumina ou polímeros porosos insolúveis nos solventes usuais e de alta área superficial, como: poli (estireno-codivinilbenzeno-co-cianovinilbenzeno), poli (estireno- co-divinilbenzeno), poli (estireno-co-divinilbenzeno-co-etilvinilbenzeno). O tipo da ligação, sempre superficial, nomeará a cromatografia: a) Ligações iônicas: IEX Chromatography. b) Dipolo – Dipolo: Normal Phase, onde as porções de cargas opostas se atraem. c) Dipolo – Dipolo Induzido: (Normal Phase), quando um dipolo é induzido temporariamente em um dos componentes da amostra. d) Ligações Hidrofóbicas: Reversed Phase. e) Ligações Estereoespecíficas: Chiral. FASE MÓVEL Basicamente diferencia HPLC e HPGC. A composição da fase móvel líquida tem enorme influência na separação dos compostos, porém, na gasosa, pouco interfere. As CAP são complementares e suas ações podem ser vistas no quadro abaixo: HPLC HPGC Ambas Alguns gases Todos os gases Líquidos e sólidos voláteis Compostos de MM maior (30 até 2 x 107) Compostos de MM menor (2 a 8 x 102) Compostos não voláteis e iônicos TEMPO DE RETENÇÃO É o período de tempo (s ou min) que a substância gasta para atravessar a coluna. A primeira a sair é a mais solúvel na fase móvel e pouco solúvel na fase fixa (partição) ou então, é a mais fracamente ligada (adsorção). Ao saírem da coluna, as substâncias são analisadas por absorção ou emissão de luz, pois há sempre um fotômetro ou um fluorímetro, respectivamente, associados ao cromatógrafo, obtendo-se o cromatograma. Nele, cada substância terá um registro de tempo de saída da coluna (tempo de retenção) e seu pico associados. A aparência do cromatograma é o resultado, basicamente, da eficiência das fases fixa e móvel, e do sistema analisador e registrador, dando origem a figuras que podem ter boa ou má resolução. 25 A boa resolução permite a identificação de substâncias individualmente, ou seja, os picos de cada uma estão bem separados. Nos cromatogramas abaixo, observe que a boa resolução não depende somente da distância entre picos, mas da concentração da substância: Boa resolução para os dois picos. Se o objetivo for dosar o ácido acrílico, então, a amostra deverá ser mais diluída: observe que o pico 2 está “achatado” porque ultrapassou a escala do aparelho. Boa resolução para os picos números 1, 2, 6 e 7. Má resolução para os picos números 3, 4 e 5. Em outras palavras, a coluna CGS 2007.07 (à direita) é excelente para dosar noradrenalina, adrenalina, metadrenalina e metildopa. Para as outras substâncias (dopamina, normetadrenalina e L-dopa) deve-se tentar melhorar a resolução, para se obter uma avaliação quantitativa mais precisa. Para se melhorar a resolução, devemos seguir a seqüência: 1º.) diminuir o fluxo da fase móvel: é conseguido diminuindo a pressão; 2º.) alterar a fase móvel: tanto na proporção como nos seus constituintes, 3º.) trocar a coluna: dentro do mesmo princípio (adsorção ou partição) inicialmente e depois princípios diferentes. O tempo de retenção é típico de cada substância e serve para identificá-la se as condições de corrida forem mantidas (fluxo, temperatura, fases fixa e móvel). Graças a ele que essa metodologia é qualitativa. O ideal é que se obtenha picos de base estreita e bem separados: compare o pico 1 do ácido acético (CGS 2162.07) e o pico 7 do metildopa (CGS 2007.07) nos cromatogramas acima. Nesse caso, o pico do ácido acético é melhor que o do metildopa. Isso ocorre porque alguns sistemas processadores de dados só informam a altura do pico, e, fica claro que, se o pico for muito alargado, a sua altura diminui muito. Entretanto, os sistemas mais modernos podem informar dois parâmetros relacionados à concentração da substância: a altura do pico e a área abaixo da curva (integral da curva). A medida da altura ou da área do pico permite a determinação da concentração da substância, tornando o método quantitativo. Para tanto, devemos ter o padrão da mesma, obtendo uma relação entre concentrações diferentes e alturas de picos ou áreas abaixo da curva. Veja a seguir (http://www.ijpr-online.com/Docs/20033/Image70.gif e http://www.brynmawr.edu/Acads/Chem/gchemlab/103/Expt2week2_files/image006.gif): Equação da reta obtida ÁREA ALTURA Com os valores obtidos nas determinações experimentais, é só jogar no gráfico e obter a concentração desconhecida (melhor usar papel milimetrado). Se forem muitas determinações, é possível obtera equação da reta para sistematizar as medidas. A partir do valor da altura ou área do pico (ordenada, Y), obtém-se o valor de X (abscissa). 26 TEMPERATURA É imprescindível que haja o controle da temperatura e sua padronização, pois, ela interfere na constante de equilíbrio das ligações e, conseqüentemente, nas interações entre fase fixa e substâncias da amostra, e entre fase móvel e substâncias da amostra. K = K0 x e -∆H/RT K0, R e T são constantes químicas ∆H: calor de dissociação ou adsorção Os equipamentos mantêm a coluna dentro de um compartimento cuja temperatura pode ser controlada. A maioria deles refrigera a coluna (temperaturas abaixo da ambiente), mas, os melhores, acertam e mantém a temperatura de trabalho, independente da ambiente. PRESSÃO Determina a velocidade do fluxo. Em geral, perde-se em eficiência (resolução) quando se aumenta demais a velocidade da fase móvel. Geralmente os aparelhos fornecem uma variação razoável de pressão: entre 100 a 500 atm. Convém iniciar qualquer estudo, entretanto, padronizando a pressão para se obter um fluxo de 1 ml/min. Para tanto, liga-se o equipamento, sem entretanto colocar a amostra. Na saída da fase móvel, proveniente da coluna, coloca-se uma proveta de 10 ml e deixa-se por 5 min. O fluxo estará ótimo se, ao final desse período, tivermos apenas 5 ml na proveta. SISTEMAS DE DETECÇÃO Os mais usados são os fotométricos (U.V., Vis, I.V.) de absorção e emissão, como já explicado. Mas, existem também sistemas que avaliam a condutividade elétrica e o índice de refração. O importante é que realizem o monitoramento contínuo dos efluentes da coluna. Essas medidas serão enviadas ao sistema de aquisição e processamento de dados (gerenciados por um computador), que fornecerá a altura e/ou a área do pico. A análise final é enviada à impressora que registra o cromatograma. CONSIDERAÇÕES FINAIS É imprescindível que a amostra esteja diluída e livre de particulados: a coluna, por suas características, fica obstruída com facilidade. Por isso, todo equipamento possui um filtro e, às vezes, um pré-filtro, para eliminar os particulados. A diluição deve ser aumentada sempre que o pico ficar achatado, por sair fora da área de plotagem. Para a HPLC, é importante que a fase móvel seja degaseificada por ultra-som: se uma bolha de ar permanecer dentro da coluna, sua eficiência estará comprometida. É claro que esse é um procedimento desnecessário para a HPGC. A remoção das bolhas por ultra-som ocorre porque as ondas mecânicas geradas pelo aparelho agitam fortemente o líquido promovendo a saída de gases. O volume morto é o menor possível, conseguido pela tecnologia de se aumentar ao máximo as superfícies de interação: de 3 a 8 µL. Como V0 é sempre constante para a mesma coluna de alta pressão, não há necessidade de ser calculado. Há autores que preferem o uso da sigla HPLC para High Performance Liquid Chromatography. Tome cuidado! Fotômetro Fluorímetro Integralizador acoplado ao computador Recipiente que contém a coluna e mantém a temperatura constante Bomba compressora Recipiente da fase móvel 27 ELETROFORESE Introdução Essa técnica, amplamente utilizada na atualidade, foi o tema da tese de doutorado de Arne Tiselius, defendida em 1.930. Nessa oportunidade, um campo elétrico foi aplicado em uma solução, sem pista de separação, e, sete anos após, o autor descreveu a técnica como até hoje utilizamos, com pequenas modificações. Devido a grande repercussão conseguida e à aplicabilidade dessa metodologia, Tiselius recebeu o Prêmio Nobel de Química em 1.948. As diferentes e diversas variações introduzidas aos métodos eletroforéticos possuem o mesmo princípio geral descrito por Tiselius e auxiliam o desenvolvimento do conhecimento em várias áreas: da zoologia à genética, da bioquímica à imunologia, da embriologia à fisiologia, da taxonomia ao diagnóstico laboratorial, seja de material obtido de vegetais, animais ou humanos. Nas diversas áreas de aplicação, a eletroforese permite: Determinar a mobilidade, o pI e quantidade de ânfions presentes na amostra; Determinar a massa molecular, isolar e identificar os componentes de uma solução de substâncias que possuam carga; Caracterizar quadros patológicos, auxiliando no diagnóstico clínico de patologias vegetais e animais, incluindo o ser humano. Definição Os métodos eletroforéticos baseiam-se na separação dos componentes de uma solução, através da aplicação de um campo elétrico. O local da aplicação é denominado origem e o fracionamento ocorre na pista de separação ou meio suporte. Antes da eletroforese, todas as moléculas estarão no ponto de aplicação (ou origem): Ao final da eletroforese, as substâncias terão migrado conforme a sua carga, atraídas pela carga oposta a sua e, aquelas sem carga livre, não migrarão, permanecendo na origem: Inicialmente, a origem era colocada no meio da pista de separação. Atualmente, procura- se deixar todas as moléculas ou com carga negativa ou positiva, aumentando a extensão da pista de separação. Princípio Geral As moléculas a serem separadas devem ter carga elétrica nas condições de trabalho. Por isso, basicamente, a eletroforese presta-se para separação de proteínas e ácidos nucléicos, incluindo seus componentes menores (aminoácidos e nucleotídeos). PÓLO PÓLO MEIO SUPORTE AMOSTRA (CATÓDIO) (ANÓDIO) ORIGEM (ANÓDIO) (CATÓDIO) MEIO SUPORTE PÓLO PÓLO AMOSTRA ORIGEM 28 Segundo a Lei de Coulomb, cargas opostas se atraem movidas por forças proporcionais aos seus valores. Na eletroforese, as moléculas se movem em um meio líquido associado a uma substância sólida ou semi-sólida (meio suporte) obedecendo à corrente iônica gerada pelo campo elétrico externo ao sistema. O meio suporte deve ser inerte, não interferindo na migração. É possível até, calcular a velocidade de migração (V), cuja unidade é cms-1 e é constante para uma mesma substância, em condições padronizadas. Depende, basicamente, das características intrínsecas da molécula e do valor do campo elétrico aplicado. V = E onde: E = ddp em Volts e = mobilidade eletroforética A velocidade de migração (V) então é diretamente proporcional à mobilidade eletroforética () e ao campo aplicado (E), que são constantes para a mesma molécula. Na prática, a velocidade de migração pode ser obtida pela medição do espaço percorrido dividido pelo tempo decorrido, conforme as leis da Cinemática. Sabendo-se o valor de V, pode-se obter o valor da mobilidade eletroforética: Cálculo de = = = sendo = cm2 V-1 s-1 As moléculas neutras apresentam = 0 e V = 0. Fatores que condicionam a mobilidade eletroforética a) carga livre da molécula: nas condições experimentais, a mobilidade é tanto maior quanto maior for a carga livre ( Q). Se for proteína ou seus constituintes (aminoácidos e polipeptídios), a carga dependente do pH, pela diferença até o valor do pI. Se o pH da solução é menor que o pI, a proteína tem carga positiva; se pH da solução é maior que o pI, a proteína tem carga negativa, sendo que o pI é o pH onde a proteína está neutra, ou seja, sem carga. Considerar ainda que quanto maior for a diferença entre pH e pI, maior será a carga líquida. Se for ácido nucléico depende do comprimento da fita, pois os radicais fosfato se ionizam em solução aquosa e conferem carga negativa à molécula: Radicais fosfatoA carga dos ácidos nucléicos depende do seu próprio tamanho: os radicais fosfato em solução aquosa e pH neutro apresentam-se ionizados formando como que um esqueleto negativo que é o responsável pela carga da molécula. b) a ddp gerada para a corrida ou o campo eletroforético: nas condições experimentais, a mobilidade será tanto maior quanto maior for o campo elétrico ( E). O valor da ddp é crítico, pois, se pequena, favorece a difusão, e, se alta, induz aquecimento do meio suporte, pois, a força elétrica resultante que moverá a molécula no sentido do pólo oposto à sua carga, é também proporcional à carga e ao campo elétrico (Q e E). V’ V’’ V’’’ E’ E’’ E’’’ 29 c) força de atrito viscoso: é exercida pelo meio suporte; depende da viscosidade do meio, do tamanho e forma da molécula. Se a força elétrica for igual à força de atrito viscoso, não há movimento: d) eletromose: é o movimento da fase líquida (água) no sentido oposto ao da migração das moléculas em separação. Isso ocorre nos dois sentidos, pois, no meio líquido, há cátions e ânions que também migrarão para o pólo oposto e carrearão as moléculas de água (ela é um dipolo!). A eletrosmose se torna prejudicial quando se desloca contra a migração da amostra, e intensamente. A adição de substâncias não ionizáveis e coloridas permite visualizar esse fenômeno. A eletrosmose pode ser diminuída com a participação do meio suporte (ver adiante, em meios semi- sólidos) e também pode ser favorável à separação das substâncias (ver Imunoeletroforese Cruzada, em Métodos Eletroforéticos Especiais). Na situação acima, haverá movimento de íons Cl- no mesmo sentido das proteínas e cátions (K+ e Na+ principalmente), no sentido inverso. Os dois movimentos carreiam água (eletrosmose) e, dependendo de qual seja o mais intenso, poderá prejudicar a migração das proteínas. e) efeito Joule: a diferença de potencial gerada cria uma corrente elétrica que, na solução onde ocorre a corrida, transforma-se em corrente iônica; uma parte da corrente iônica que passa pelo meio suporte é transformada em calor. Esse aquecimento induz a evaporação da água, que altera as condições de corrida e pode induzir resultados não confiáveis. A Potência térmica, dissipada, em Watts, pode ser calculada (P = Vi; onde V é a ddp aplicada e i representa a intensidade da corrente resultante). Quanto mais concentrado for o tampão (fase líquida), maior será a intensidade de corrente. Pode-se diminuir o efeito Joule colocando a aparelhagem sob refrigeração. f) adsorção: dependendo da pureza do material que constitui a matriz (meio suporte), resíduos aniônicos e/ou catiônicos podem se ligar às moléculas migrantes retardando-as. Ao se fazer a coloração para visualização das frações, serão observadas “caudas”. Separação com adsorção Separação sem adsorção g) força iônica: será a fonte de íons que constituirão a corrente iônica que auxiliará a movimentação dos constituintes da solução e fechará o circuito da ddp gerada pela fonte eletroforética (ver adiante); a força iônica pode ser calculada a partir da concentração iônica do tampão e das valências dos seus íons, pela fórmula: J = 2 1 n i 1 C1 Z1 2 onde C é a concentração do íon e Z, a sua valência FORÇA DE ATRITO VISCOSO FORÇA ELÉTRICA (+QE) FORÇA DE ATRITO VISCOSO FORÇA ELÉTRICA (-QE) Q- Q+ ANÓDIO CATÓDIO Na+ K+ H2O K + Na+ Na+ H2O K + Na+ K+ Cl- Cl- Cl- H2O H2O Cl - Cl- Cl- Cl- Cl- H2O Prot - Prot - Prot - Prot - Prot - 30 Instrumental da Eletroforese a) Fonte de Voltagem e/ou Corrente Contínua: é necessário criar um campo contínuo para que as moléculas possam migrar em apenas um sentido. A fonte transforma a corrente alternada da rede, em corrente contínua. Há modelos de alta e baixa voltagem e/ou amperagem. b) Cuba Eletroforética: é onde se coloca o meio suporte e se cria condições de ocorrer a corrida eletroforética. Dependendo da posição do meio suporte, pode ser horizontal e vertical. Apresenta dois reservatórios que conterão a solução-tampão e os eletrodos de platina. A tampa deve ser feita de tal forma que impeça a evaporação e não permita que a água caia sobre a matriz, sendo geralmente, inclinada. Para cuba horizontal, muitas vezes é necessária a colocação de uma ponte (papel, tecido ou Perflex) que fecha o circuito de corrente. c) Meios suporte: é onde a separação em frações ocorre, onde as moléculas podem se deslocar. Subdividem-se em sólidos (papel e acetato de celulose) e semi-sólidos ou géis (ágar, agarose, amido e poliacrilamida). O mesmo material, em matrizes diferentes, poderá apresentar número diferente de frações. SÓLIDOS Papel: foi introduzido na década de 50, proveniente da Cromatografia de partição, substituindo o papel de filtro comum. É barato, mas oferece pouca resolução e não impede a eletrosmose. Pode ser utilizado em cubas vertical ou horizontal. Acetato de Celulose: foi introduzida por Khohn em 1957. Ele esterificou os grupos hidroxila da celulose, por acetilação e, com isso, reduziu a adsorção e a eletrosmose. Permite análise densitométrica, porque é passível de sofrer diafanização. Esse procedimento permite que o eletroferograma (resultado da eletroforese) possa ser quantificado pela análise das frações. A diafanização ocorre quando o eletroferograma está sendo processado (coloração e descoloração – ver adiante). É muito usada no Laboratório Clínico permitindo a análise comparativa de amostras de pacientes http://www.hemoglobinopatias.com.br/d-falciforme/img03.jpg Cuba horizontal Fonte Cuba vertical Meio Suporte ou matriz Eletrodo Reservatório da solução-tampão 31 GÉIS Foram desenvolvidos para aplicação na cromatrografia de partição, mas o auge foi alcançado na eletroforese. Os géis são uma rede polimérica tridimensional, inerte, que pode ter sua malha mais larga, ou mais fina, dependendo da concentração do gel (quanto mais concentrado, menor o poro). A molécula migra por dentro do gel, e, por isso, há um novo fator para a separação: o tamanho molecular. Ex: 2 proteínas A e B, com o mesmo equilíbrio entre carga efetiva e massa molecular, sendo que a massa molecular de A é maior que B. Se a separação ocorresse em meio sólido: Se a corrida ocorresse em gel de poliacrilamida: Mesmo assim, amostras complexas separadas na poliacrilamida não terão sempre a correspondência 1 fração = 1 proteína. Nesse caso, podem ser realizadas várias corridas em diferentes pH e o poro do gel ou então, utilizar o Sódio Duodecil Sulfato, que será visto no próximo capítulo. Amido: foi desenvolvido por POULIK e SMITHIES em 1958, sendo obtido da batata e do milho. É próprio para cuba horizontal e a amostra é aplicada em papel de filtro. O gel é espesso e, ao final da corrida, são tiradas fatias que se coram de forma diferenciada para revelar isoenzimas. É metodologia barata, de fácil manuseio, apresenta pouca eletrosmose, mas, baixa resolução para amostras complexas. Antes da eletroforese Depois da eletroforese 32 Agarose: foi introduzida nos anos 70, sendo um polímero linear
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