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INTRODUÇÃO

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CENTRO DE ENSINO UNIFICADO DE TERESINA- CEUT
MARISA OLIVEIRA PEREIRA
DO DIREITO DE MORRER: POLÊMICAS ACERCA DA EUTANÁSIA
TERESINA
2014
MARISA OLIVEIRA PEREIRA
DO DIREITO DE MORRER: POLÊMICAS ACERCA DA EUTANÁSIA
Apresentado a disciplina de Antropologia Jurídica do centro de Ensino Unificado- CEUT, para atribuição da 2ª e 3ª nota. Professor: Marcondes Brito.
 
TERESINA
2014
INTRODUÇÃO 
 Diante da evolução mundial e médica percebemos um fator interessante: o aumento do número da expectativa de vida mundial. Por conta disso um grande debate acerca da eutanásia surgiu. É uma pratica que gera polêmicas em diversos setores, como o jurídico, religioso e político. Os esforços e métodos usados para manter um paciente vivo são inúmeros, mas casos específicos onde pessoas optam pela morte chamam a atenção. Há quem não queira mais passar por diversos tratamentos para se manter vivo. Mas por que isso ocorre? No texto de Maud Mannoni “O nomeável e o inominável: a última palavra de vida” esses aspectos serão expostos e discutidos e é sobre isso que passaremos a falar durante este trabalho.
 A palavra eutanásia derivada do grego EU (bom) e THANATOS (morte), a boa morte, a morte calma, a morte doce, indolor e tranquila. Essa expressão teve origem no século XVII, quando Francis Bacon a criou como designação da função do médico, quando este proporcionava ao enfermo morte indolor, calma, doce. Era justificada como a forma de se libertar de um grande sofrimento causado por um longo período de doença.
 Descoberta em 1950, era usada como anestésico, tinha o objetivo exclusivo de evitar choques operatórios nos pacientes graves. Somente em 1975 os hospitais passaram a usa-la para fins de eutanásia. Durante 10 anos a pratica se desenvolveu em silencio. 
 Existe uma divisão na pratica da eutanásia, eutanásia ativa - É ativa quando o agente ministra substância capaz de provocar a morte instantânea e indolor; eutanásia passiva ou ortotanásia - Opõe-se à ativa. O doente já se encontra em processo natural de morte, e o médico contribui apenas para que esse estado se desenvolva em seu curso natural. Somente o médico, portanto, pode promover a ortotanásia como diz Roxana Cardoso Borges. A ortotanásia serve para evitar a chamada distanásia, que é o prolongamento artificial do processo morte, com sofrimento para o paciente terminal, mesmo que não exista mais possibilidade de cura ou melhora.
 Existe ainda um outro conceito que difere do conceito de eutanásia, é o chamado suicídio assistido consiste no auxílio para a morte de uma pessoa, que pratica pessoalmente o ato que conduz à sua morte. 
A MEDICALIZAÇÃO DA MORTE
 Dados alarmantes mostram que grande parte dos idosos que ingressam nos hospitais em busca da cura morrem cerca de 6 meses depois. Pesquisas mostram também que a taxa de suicídios depois dos 55 anos corresponde a quase metade de todos os suicídios cometidos na França. E depois dos 85 anos essa taxa é 10 vezes superior à taxa de suicídio entre jovens de 15 a 24 anos. Isso mostra a determinação que se tem em pôr fim a vida, diante da perca da autonomia em que se encontram os idosos. Os camponeses tendem a se suicidarem 3 vezes mais. A pergunta que fica é: por que tantos idosos tendem a cometer o suicídio na França?
 Isso ocorre como uma forma de grito de socorro, como uma recusa ao envelhecer, e a solidão. Ressalta também a precariedade da saúde e a forma como são tratados pacientes com doenças graves. François Mitterand expressou sua vontade de que a nossa sociedade saiba abordar a morte de outra maneira. Vamos colocar em questão agora a medicina voltada apenas para a cura, o que resta a fazer quando se crê que não a mais nada a fazer? Se a medicina em alguns caso é incapaz de curar, então ela poderia aliviar a dor e o sofrimento dos pacientes, permitindo a este ter uma morte digna junto de pessoas que o fazem bem. Porem isso raramente acontece, nas sociedades ocidentais 70% das pessoas morrem hoje nos hospitais, em comparação com o século passado onde 90% morriam em casa esse percentual é elevadíssimo. A medicina com suas tentativas de cura até o total desgaste dos pacientes acaba por impor a morte no hospital. Os médicos não aceitam a morte do seu paciente, e usam de todas as técnicas possíveis para esconder sua impotência quando a questão é lutar contra a morte. Diante disso muitas vezes acabam por esconder a verdade dos familiares, e os deixam nos hospitais até chegar o seu fim, dificilmente passara por sua cabeça a ideia de deixar o paciente ir para casa para que este tenha um fim da vida digno e tranquilo, rara são as pessoas idosas que conhecem a tranquilidade no fim de sua vida. Devemos saber o momento onde o tratamento já não é mais a melhor solução, o melhor é deixa-lo ter um fim de vida menos sofrido. 
 Brillat-Savarin conta como o fim da vida de sua tia-avó foi sereno. “Ela havia conservado todas as suas faculdades, e só se percebia seu estado devido à redução de seu apetite e o enfraquecimento de sua voz. Você está ai meu sobrinho? Sim, minha tia, estou às suas ordens, e acho que faria bem em tomar um pouco de vinho velho. Pois me dê, meu amigo, o liquido sempre cai bem. Fiz com que ela tomasse meio copo do meu melhor vinho. Ela se reanima num instante e, voltando para mim os olhos que tinham sido muito bonitos, diz: Muito obrigada por este último favor: se algum dia chegar à minha idade, verá como a morte se torna uma necessidade, assim como o sono. Estas foram suas últimas palavras e meia hora depois ela adormecia para sempre.” Freud diz que no nível de fantasia inconsciente se tem o desejo de manter o sono. Na fase terminal encontra-se o desejo de dormir, é o corpo que pede para voltar a dormir e permanecer sempre nesse estado.
 Em contraste com a morte da tia-avó de Brillat-Savarin vemos o caso da morte do pai de Italo Svevo, que para nós infelizmente é mais comum, a família cega as orientações medicas, deixa de ouvir o doente ao pensar que seguir rígida e fielmente as palavras do médico estará fazendo o melhor e o certo. Italo Svevo descreve que o médico havia proibido seu pai de se levantar, e um rodizio era feito para obrigar seu pai a permanecer deitado mesmo contra sua vontade. Ele descreve a cena de quando seu pai tenta se levantar da cama e ele usando de muita força impede seu pai de se levantar fazendo pressão sobre seus ombros ao mesmo tempo que gritava com seu pai para que ele não se mexesse. Seu pai de início assustado obedeceu mais em seguida gritou: Estou morrendo, depois disso com muito esforço levantou-se e como última ação deu um tapa na cara de seu filho, depois disso caiu aos poucos no chão, sem vida. Por uma cega crença medica de que fazer seu pai ficar deitado lhe pouparia a vida ele perdeu seu pai de uma forma dolorosa. 
 É triste a forma como quotidianamente os doentes em especial os idosos são tratados em hospitais, e esses tratamentos são levados para dentro de suas casas. O bem-estar do paciente não é levado em conta. São tratados de forma infantil, e tratamentos muitas vezes lhes são impostos. Essa relação de força é inútil e degradante. Nos hospitais os idosos são deixados no abandono. O hospital se torna a última escolha possível, e lá o desprezo ao idoso é constante, muitos ficam sem receber alimentação devida e os tratamentos médicos são inúteis para as situações que se encontram. Isso acaba por acarretar por consequência o suicídio.
O BRASIL E A EUTANÁSIA 
 No Brasil eutanásia ainda é uma pratica proibida pelo Código de Ética Médica e também pelo Código Penal, porém o novo Código de Ética Médica traz uma norma legitimando a prática da ortotanásia. Reforçando dessa forma a tendência da sociedade na construção de um direito à morte
digna.
 Art. 41 do Novo Código de Ética Medica: 
Art. 41. Abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal.
Parágrafo único. Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal.
 O código penal brasileiro trás o seguinte texto em seu Art.122- induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxilio para que o faça:
 Pena- reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão de um a três anos se a tentativa de suicídio resulta lesão corporal de grave natureza.
 Já o código de Ética Medica expressa em seu Art.6° - O médico deve guardar absoluto respeito pela vida humana, atuando sempre em benefício do paciente. Jamais utilizará seus conhecimentos para gerar sofrimento físico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permitir e acobertar a tentativa contra a dignidade e integridade.
 O Código de Ética juntamente com o Código Penal reforçam argumentos contra a eutanásia em todo o Brasil. Mas e a liberdade de quem já não consegue mais viver passando por diversos tratamentos inúteis e espera unicamente o momento de sua morte? Não devemos tentar aplicar a eutanásia a todos os casos, mas existem casos que faze-la é o mais piedoso gesto que se possa ter. O Código Penal brasileiro trata a eutanásia como homicídio, mas será mesmo que podemos considera-la como um? Como já dito anteriormente cada caso é um caso e muitos deles contrariam esse posicionamento e todos esses dispositivos legais. 
CONCLUSÃO
 Embora a eutanásia seja tratada como crime contra a vida muitos acreditam que ela apenas assegura um fim de vida digno. Mesmo este discurso se estendendo a todas as partes da vida, ele ganha mais destaque quando se trata de idosos em estados terminais, ou portadores de doenças em um estado avançado onde a cura já não é mais possível. O direito de morrer também deve ser um direito conquistado. O que justifica a pratica da eutanásia são motivos individuais e os profissionais da saúde são peças chaves, estes deveriam ter uma melhor preparação para casos onde o paciente deseja apenas uma morte tranquila, pois o que é imposto pelo Código de Ética é uma luta sem fim pela vida mesmo quando esta seja inútil. Um passo importante com a permissão da realização da ortotanásia foi tomado, cabe agora aos juristas, filósofos, religiosos, políticos e médicos repensar esse caso, pois não estamos tratando de exigir que a morte seja aceita, e sim que seja aceito que cada cidadão possa ter uma vida digna até o seu último suspiro. A demanda é por qualidade de vida que o sistema de saúde já não é mais capaz de assegurar, infelizmente não possuímos essa qualidade atualmente. 
 
REFERÊNCIAS:
MANNONI, Maud. O nomeável e o inominável: a ultima palavra da vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/decreto-lei-2848-7-dezembro-1940-412868-norma-pe.html> Acessado em 11.dez.2014
<http://www.conjur.com.br/2013-set-17/carlos-martins-ortotanasia-aceita-nosso-ordenamento-juridico>: Acessado em 11.dez.2014
<http://www.ibccrim.org.br/artigo/10507-A-ortotan%C3%A1sia-e-o-direito-penal-brasileiro> Acessado em 12.dez.2014
<http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/42016/quais-as-diferencas-entre-eutanasia-morte-assistida-ortotanasia-e-sedacao-paliativa-patricia-donati-de-almeida> Acessado em 12.dez.2014
<http://jus.com.br/artigos/1861/a-eutanasia> Acessado em 12.dez.2014

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