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Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Universidade Federal Fluminense Curso de Licenciatura em Letras- UFF / CEDERJ Disciplina: LINGUÍSTICA II AD 2 Aluno(a): _________________________________________________________ Polo: _______________________________ Matrícula _____________________ Nota: _______________ Questão 1 Na perspectiva behaviorista, a mente da criança ao nascer é equivalente a uma tábula rasa, uma página em branco. Qualquer tipo de aprendizado (falar, andar, amarrar os cadarços, abrir uma garrafa...) se dá, na visão behaviorista, a partir do mesmo esquema estímulo-reforço-resposta. Tentativa e erro, correção por parte dos adultos e imitação da fala dos outros seriam os meios pelos quais a criança aprenderia uma língua. Considerando o processo natural de aquisição da linguagem, que problemas podemos apontar nessa explicação? A explicação do processo de aquisição da linguagem nos moldes behavioristas apresenta uma série de problemas. Segundo essa perspectiva, não haveria habilidade inata alguma voltada para o processo de aquisição da linguagem e, portanto, absolutamente tudo o que a criança viesse a adquirir deveria vir de sua experiência com o meio no qual está inserida. Porém, sabemos que criança nenhuma está exposta a todas as possíveis frases da sua língua. Como é então que as crianças conseguem falar e compreender frases (e também palavras, a partir do contexto) que nunca ouviram anteriormente? Temos evidências ainda de que a criança age de acordo com certas regras e estabelece analogias, produzindo coisas do tipo “eu fazi”, por analogia com “eu comi”. Esse tipo de fenômeno não pode ser explicado com base na simples repetição. Além disso, sabemos que o chamado “reforço negativo” (isto é, a correção) não tem um papel relevante na aquisição da linguagem. Muitas vezes, os pais e adultos em geral “corrigem” certas frases da criança pelo seu conteúdo, mas não pela sua gramática. Esse tipo de reforço, resultaria muito pouco eficiente, caso tivesse alguma relevância no processo. Assim, considerando o processo natural de aquisição da linguagem, podemos concluir que a proposta behaviorista não consegue dar conta de uma série de questões centrais. Questão 2 Cada criança segue um percurso individual e único no processo de aquisição da sua língua materna; fatores culturais e idiossincráticos são decisivos e contribuem moldando esse processo. Concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta. Essa afirmação pode ser questionada a partir de um conjunto de evidências que demonstram que o processo de aquisição envolve certos aspectos universais e se organiza em fases razoavelmente bem delimitadas (as fases podem ser definidas como etapas dentro de um quadro maior que a criança deveria cumprir em uma certo período da vida). Em outras, palavras, é possível observar um conjunto de regularidades no processo de aquisição de línguas diversas. As idiossincrasias certamente fazem parte do processo de aquisição, mas mesmo essas “particularidades individuais” são estruturadas de acordo com certas regras. Questão 3 Compare os casos de Genie e Chelsea – previamente estudados – e o de Isabelle, relatado abaixo. Com base em que hipótese – formulada por Lennenberg – podemos explicar as diferenças entre ambos os casos? A mãe de Isabelle era surda e sofria de uma lesão cerebral. Mãe e filha passavam a maior parte do tempo enclausuradas em um quarto escuro na casa do avô (em Ohio, Estados Unidos). Quando finalmente elas foram resgatadas dessa prisão domiciliar em 1930, Isabelle tinha 6 anos e meio, não falava e apenas emitia sons guturais. Uma vez devolvida ao convívio social, o progresso de Isabelle na aquisição da linguagem foi rápido e constante: em dois anos era praticamente impossível distinguir sua fala da fala de crianças da mesma idade que passaram por condições normais de desenvolvimento. As diferenças observadas entre os casos de Genie e Chelsea, de um lado e Isabelle, do outro, podem ser explicadas com base na Hipótese do Período Crítico, formulada por Eric Lennenberg. De acordo com essa hipótese, desde que não haja nenhuma anormalidade biológica ou ambiental, existe um certo prazo pré-estabelecido para que uma (ou mais) línguas possam ser plenamente adquiridas de forma natural e espontânea. Assim, durante esse período considerado “crítico”, a criança deve estar em condições biológicas e ambientais minimamente necessárias para que esse processo dê certo. Se não estiver, a aquisição da linguagem não se dará de forma satisfatória. Estima-se que esse período se estende até o começo da puberdade. Assim, a aquisição de uma primeira língua após esse prazo pode ficar comprometida. Tanto Genie quanto Chelsea começaram a ser expostas ao inglês após o encerramento do período crítico. Já Isabelle tinha pouco mais de 6 anos quando começou a ter contato com a língua, fato que, possivelmente, foi decisivo para sua bem sucedida aquisição do inglês. Questão 4 Algumas pessoas recomendam o uso de línguas de sinais para se comunicar com crianças pequenas e bebés. Embora desde muito cedo as crianças demonstrem ter intenção de se comunicar, até uma certa idade elas não têm a capacidade de fazer isso oralmente. Os defensores da língua de sinais para bebés afirmam que a incapacidade de se comunicar é o que muitas vezes provoca frustrações, irritação e mal-humor nas crianças. A coordenação olho-mão se desenvolve mais cedo do que as habilidades verbais e, assim sendo, as crianças podem aprender sinais simples para palavras como "comer", "dormir", "mais", “brinquedo”, “biscoito”, “agua”, etc. bem antes de serem capazes de falar. Contraste esse uso específico das línguas de sinais e o processo natural de aquisição de uma língua de sinais como por exemplo a LIBRAS. O processo natural de aquisição de uma língua de sinais é semelhante ao processo de aquisição de uma língua oral: nele é possível determinar fases, processos universais e idiossincrasias. Etapas como a do balbucio e os estágios de uma palavra e duas palavras, dentre outros, são encontradas em bebês surdos e ouvintes. Assim, quando expostas de um modo natural a uma língua de sinais, crianças surdas passam por um processo equivalente ao das crianças ouvintes com relação às línguas orais. Já o uso específico de línguas de sinais relatado não faz parte de um processo natural e espontâneo de aquisição, mas pode ser caracterizado como um aprendizado vinculado a um uso “instrumental” da língua. Nesse caso, o bebê é exposto a um conjunto limitado de sinais, não tem contato com uma língua completa nem com falantes nativos dessa língua. Questão 5 Muitos animais usam formas sonoras distintas como chamadas de alarme (alguns macacos, por exemplo, distinguem o tipo de predador: onça, cobra, etc.) e de identificação de alimento, que vão além da expressão de pânico ou outro estado emocional. Que diferenças podemos apontar entre os sistemas de comunicação animal e as línguas humanas? Várias espécies apresentam um conjunto de meios de expressão que podemos definir como “sistemas de comunicação” – sendo alguns deles bastante sofisticados: abelhas fazem uma espécie de “coreografia de voo” para a localização do alimento, golfinhos são capazes de realizar tarefas mediante comandos verbais ou gestuais e alguns tipos de macacos utilizam gritos ou chamadas distintas para identificar os predadores. Há, contudo, diferenças estruturais e sistemáticas entre as linguagens animais e as línguashumanas. Os conceitos de Faculdade de Linguagem em Sentido Amplo (FLA) e restrito (FLR), propostos por Hauser, Chomsky & Fitch (2002), podem nos ajudar a entender melhor essas diferenças. A FLA envolveria os traços que existem em comum entre os sistemas de comunicação animal e as línguas naturais: servem para a comunicação, utilizam algum aparato fisiológico, possuem unidades que transmitem informação. Já a FLR, representaria aquilo que seria único à espécie humana: a capacidade de utilizar a linguagem de forma criativa em virtude da propriedade da recursividade linguística.
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