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Direito de Empresa I Fernanda Pereira user Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 1 DIREITO DE EMPRESA I -EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL 1. Direito Comercial como Direito de Empresa 2. Fontes do Direito Comercial 2.1 O surgimento da Teoria da Empresa 2.2 A Teoria da Empresa no Brasil e o Código Civil de 2002 2.3 Os Princípios do Direito Empresarial 2.3.1 Princípio da Livre Iniciativa 2.3.2 Princípio da Liberdade de Concorrência 2.3.3 Princípio da Garantia e Defesa da Propriedade Privada 2.3.4 Princípio da Preservação da Empresa II – DIREITO DE EMPRESA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 3. Conceito de Empresa 3.1 Diferença entre empresa e estabelecimento 3.2 Diferença entre empresa e a pessoa do empresário 4. Empresário 4.1 Empresário Individual 4.1.1 Empresário Individual casado 4.2 Pessoas excluídas do conceito de empresário 4.3 O Empresário Rural 4.4 Obrigatoriedade do Registro de Empresário Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 2 4.5 Capacidade para ser empresário 4.5.1 Empresário individual incapaz 4.5.2 Pessoas legalmente impedidas 4.5.3 Empresário casado 4.6 Registro do Empresário 4.6.1 Inscrição do estabelecimento secundário 4.6.2 Inscrição do empresário rural e pequeno empresário 4.7 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI 4.7.1 requisitos e impedimentos 4.7.2 impedimento para ser titular 4.7.3 impedimento para ser titular 4.7.4 impedimentos para ser administrador 4.7.5 Abertura, Registro E Legalização 4.7.6 Registro Na Junta Comercial 5. Estabelecimento 5.1 Alienação do Estabelecimento 5.2 Trespasse 5.3 Bens Incorpóreos do Estabelecimento 5.4 Título do Estabelecimento 5.5 Ponto Comercial 6. Nome Empresarial Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 3 6.1 Natureza Jurídica Do Direito Ao Nome 6.2 Direito De Propriedade 6.3 Direito Pessoal 6.4 Tipos De Nome Empresarial 6.4.1 Firma Individual 6.4.2 Razão Social 6.4.3 Denominação 6.4.4 Princípio da Veracidade 6.4.5 Princípio da Novidade 6.5 Proteção ao nome empresarial 6.6 Extinção Do Direito Ao Nome Empresarial 6.7 Marcas X Nome Empresarial 6.8 Nome Empresarial X Marca 7. Propriedade Intelectual 7.1 Patente 7.2 Registro Industrial 7.2.1 Desenho Industrial 7.2.2 Marca 7.3 Direito Autoral 8. Sociedades Empresarias ( fase complementar da apostila) – P2 Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 4 DIREITO EMPRESARIAL 1. DIREITO COMERCIAL COMO DIREITO DE EMPRESA Originalmente a burguesia sempre foi composta por uma classe de poupadores, de pessoas que honravam seus compromissos e cumpriam a palavra dada, respeitavam as avenças verbais, os contratos e possuíam forte ligação com a família. Preocupava-se mais com o bem-estar de seus filhos, com trabalho e com a produtividade do que com o prazer individual e o lazer. Desenvolveu a burguesia virtudes tradicionais como a prudência, a justiça, a temperança e a fé na força do trabalho. Cada uma dessas virtudes revela um componente econômico que fora primordial a oferecer o impulso empreendedorial que serviu de base para as grandes civilizações humanas. O comércio é mais antigo que o Direito Comercial. Realmente, o comércio existe mesmo desde a mais remota Idade Antiga. E entre os povos mais antigos, onde se se destacaram os fenícios, e até já contavam com leis esparsas que regulavam o comércio, apesar de não existir na época propriamente um direito comercial (entendido como um regime sistematizado com regras e princípios próprios). Durante a Idade Média o comércio desenvolveu um estágio mais avançado, não estando presente apenas em alguns povos, mas nem todos estes. É exatamente na era medieval que situamos as raízes do direito comercial, ou seja, de um regime jurídico específico e disciplinador das relações mercantis. Cogita-se na primeira fase desse ramo do direito quando se deu o ressurgimento das cidades (os burgos) e o renascimento mercantil com substancial fortalecimento do comércio marítimo. Na Idade Média não havia poder político central forte, capaz de impor as regras gerais e aplica-las a todos. Havia a produção feudal, onde vigia forte descentralização que era enfeixada nas mãos da nobreza latifundiária, o que fez surgir diversos “direitos locais” nas diversas regiões da Europa. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 5 Paralelamente ganhava força e poder o Direito canônico que repudiava veemente o lucro e não atendia, portanto, aos interesses da burguesia. Era a classe burguesa efetivamente formada de comerciantes, mercadores que tece que organizar então o seu próprio “direito” a ser aplicado nos diversos conflitos que passaram a surgir com a efervescência da atividade mercantil que se observava, após décadas de estagnação. Portanto, as regras do direito comercial foram timidamente surgindo e se intensificando pela própria dinâmica da atividade negocial. Nesse cenário medieval surgiram as Corporações de Ofício[1] que assumiram relevante função nessa sociedade e, até obteve relativa autonomia em relação à nobreza feudal. Na primeira fase do direito comercial compreendem-se os usos e costumes mercantis observados nas relações jurídico-comerciais. Inicialmente, na elaboração desse “ direito ” não havia ainda nenhuma participação estatal. Cada Corporação de Ofício possuía seus próprios usos e costumes, e os aplicava por meio de cônsules eleitos pelos próprios associados para reger as relações entre seus membros. Em verdade, tais normas são pseudossistematizadas e, alguns doutrinadores usam a expressão “codificação privada” do direito comercial. Também nesse período da formação do direito comercial, surgem seus primeiros institutos jurídicos tais como títulos de crédito (letra de câmbio), as sociedades (comendas), os contratos mercantis (contrato de seguro) e os bancos. Além disso, algumas características próprias do direito comercial começaram a se definir, como o informalismo e a grande influência dos usos e costumes no processo de elaboração de suas regras. Lembremos que em Roma Antiga, os ideais de segurança e estabilidade da classe dominante amarraram o contrato ao instituto da propriedade. Grosso modo, era o contrato apenas um instrumento através do qual se adquiria e transferia a coisa. A inicial concepção estática do contrato bem peculiar do direito romano não se coadunava com os ideais da classe mercantil em franca ascensão. Note-se que cede espaço e a vez a solenidade na celebração das avenças e, surgiu triunfante, o princípio da liberdade na forma de celebração dos contratos. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 6 Enfim, o sistema de jurisdição especial que marca essa primeira fase do direito comercial provoca profunda transformação na teoria do direito posto que o sistema jurídico tradicional venha a ser derrogado por um direito específico, peculiar a certa classe social e disciplinador da nova realidade econômica que surgiu. Após o Renascimento Mercantil, o comércio foi se especificando progressivamente, principalmente em função das feiras e dos navegadores. O mencionado sistema de jurisdição especial surgido e desenvolvido nas cidades italianas e difundiu-se por toda a Europa (chegando em França, Inglaterra, Espanha e Alemanha que nessa época ainda não era um Estado unificado). Com a evolução da atividade mercantil deu-se ipso facto a evolução do direito comercial e,paulatinamente a competência dos tribunais consulares foi ampliando-se e abrangendo negócios realizados entre mercadores matriculados e também não-comerciantes. No declínio da era medieval surgem os grandes Estados nacionais e monárquicos. Tais Estados encarnados e representados pelo monarca absolutista que irá submeter seus súditos, inclusive a classe de comerciantes, impondo um direito posto em contraposição ao direito comercial de outrora focado na autodisciplina das relações comerciais, por parte dos próprios mercadores, através das corporações de ofício e seus juízes consulares. Todas essas radicais mudanças irão provocar inclusive a publicação da primeira grande obra doutrinária de sistematização do direito comercial: “Tratactus de Mercatura seo Mercatore” de Benvenutto Stracca publicada em 1553, que irá influenciar a edição de leis futuras sobre a matéria mercantil. O monopólio da jurisdição mercantil escorrega das mãos das corporações de ofícios principalmente na medida em que o Estado Nacional se fortaleceu e chamou para si o monopólio da jurisdição e, ainda, consagrou a liberdade e a igualdade no exercício das artes e ofícios. Com o tempo, os diversos tribunais de comércio existentes tornaram-se atribuição do poder estatal. No período de 1804 a 1808 são editados em França, o Código Civil e o Código Comercial. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 7 O direito comercial inaugura, pois então, sua segunda fase, podendo-se cogitar num sistema jurídico estatal preocupado em disciplinar as relações jurídico-comerciais. Nesse momento, desaparece o direito comercial como direito profissional e corporativista, surgindo um direito comercial imposto pelo Estado. A codificação napoleônica de 1804 ( o Código Civil francês) e de 1808 ( Código Comercial francês) divide nitidamente o direito privado em direito civil e, de outro lado, o direito comercial. O Código Napoleônico era reconhecidamente um direito que atendia aos interesses da nobreza fiduciária e estava fortemente concentrado no direito de propriedade. Por sua vez, o Código Comercial encarnava o espírito da burguesia comercial e industrial, valorizando a riqueza mobiliária. A divisão do direito privado em civil e comercial em dois grandes corpos de leis a reger as relações jurídicas entre os particulares cria a necessidade de criar critério que delimitasse a incidência de cada um desses ramos. O direito comercial surgiu como um regime jurídico-especial destinado a regular as atividades mercantis. Vindo a doutrina francesa a criar a teoria dos atos de comércio que tinha como uma das principais funções a de atribuir, a quem praticasse os denominados atos de comércio (ou mercancia), a qualidade de comerciante o que era pressuposto para a aplicação das normas do Código Comercial. O direito comercial regularia, portanto, as relações jurídicas que envolvessem a prática de alguns atos definidos em lei como atos de comércio. Não envolvendo a relação à prática destes atos, seria esta regida pelas normas de Direito Civil. A definição dos atos de comércio era tarefa atribuída ao legislador, o qual optava ou por descrever as suas básicas características conforme fez o Código Comercial português de 1833 e o Código Comercial espanhol de 1885 ou por enumerar, num rol de condutas típicas, que atos seriam considerados de atos de mercancia. A teoria dos atos de comércio fora adotada pelo Código Comercial brasileiro de 1850 e teve como proposta alterar o modo de classificar o comerciante de forma subjetivista (aquele que estava matriculado), para um critério objetivista (a atividade comercial). Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 8 Para essa teoria é a atividade que dá origem às relações reguladas pelo direito comercial. Isso resulta que determinados atos encontram-se sujeitos a aplicação do direito comercial enquanto que outros atos não. Na segunda fase do direito comercial há relevante mudança posto que a mercantilidade antes definida apenas pela qualidade do sujeito ( pois o direito comercial era o direito aplicável aos membros das corporações de ofício), passa a ser definido pelo objeto ( pelos atos de comércio). Desta forma, a doutrina afirma que com a codificação napoleônica realizou uma objetivação do direito comercial, realizando uma nítida bipartição do direito privado. Apesar das críticas, a teoria francesa dos atos de comércio, por inspiração da codificação napoleônica fora adotada por quase todas as codificações oitocentistas, inclusive no Brasil. O surgimento de novo critério para aplicação do direito comercial vai ocorrer em 1942, ou seja, mas de cem anos após o código napoleônico e, em plena Segunda Grande Guerra Mundial. O direito comercial teve sua origem na Idade Média e se desenvolveu em face do tráfico mercantil. Foi com o surgimento das Corporações de Ofício que se foram poderosas e investiram no direito de regular por si mesmas seu interesse próprio e o de seus membros. A terceira fase da evolução do direito comercial é chamada de fase moderna, é a fase que se desvincula do sistema francês enquanto o conceito de empresa estava ligado ao critério dos atos de comércio, passando a adotar o conceito de empresa como organização de fatores de produção, para a criação ou oferta de bens ou serviços em massa. 2. FONTES DO DIREITO COMERCIAL São os meios pelos quais as regras ou normas jurídicas se formam. As fontes diretas ou materiais são aquelas que, por si sós, pela sua própria força, são suficientes para gerar a regra jurídica. As fontes diretas são as leis comerciais ou empresariais. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 9 Fontes indiretas ou mediatas são os costumes comerciais, a jurisprudência, a analogia e os princípios gerais de direito. A lei ou a norma jurídica é, a mais importante das fontes formais do Direito, é emanada de autoridade competente, é imposta coativamente, destinada à obediência de todos; As leis comerciais são de competência privativa da União, de acordo com ao art. 22, I da Constituição Federal brasileira vigente. Costume é ordenamento de fatos e práticas que as necessidades e condições sociais desenvolvem e que se tornando geral e duradouro acaba impondo-se psicologicamente aos indivíduos. Há farta projeção dos costumes no direito antigo devida à ausência ou pouca atividade legislativa e o número restrito de leis escritas. Já no direito moderno, entanto, há a prevalência da lei escrita sobre os costumes. Em verdade, o legislador acolhe o costume, vertendo-o em norma escrita. Os costumes são classificados em três categorias: secundum legem (são os previstos na lei expressamente para complementá-la; no direito comercial são aplicados de preferência às leis civis); praeter legem (são oriundos da prática mercantil na falta de texto legal e aplicáveis para suprir as lacunas legislativas); contra legem (são os práticos em sentidos opostos propostos pela lei escrita, e, por essa razão, são inadmissíveis, já que só se admite a revogação ou modificação de uma lei por outra lei). Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 10 Empresa é atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida pelo empresário em caráter profissional, através de um complexo de bens. 2.1 SURGIMENTO DA TEORIA DA EMPRESA. A definição do conceito jurídico de empresa é até hoje um problema para os doutrinadores do direito empresarial. Deve-se ao fato de ser empresa um fenômeno econômico complexo que compreendea organização de vários fatores como a natureza, capital, trabalho e tecnologia. A empresa não adquire apenas um sentido unitário, e, sim, diversas e distintas acepções. A - Por ser poliédrico posto que admita quatro perfis diferentes: a) perfil subjetivo, pelo qual a empresa seria pessoa física ou jurídica, ou seja, o empresário; b) perfil funcional pelo qual a empresa seria uma particular força em movimento, é a atividade empresarial dirigida a um determinado fim produtivo; c) perfil objetivo ou patrimonial pelo qual a empresa seria um conjunto de bens afetados ao exercício da atividade econômica desempenhada, ou seja, o estabelecimento empresarial; d) perfil corporativo pelo qual a empresa seria uma comunidade laboral, uma instituição que reúne o empresário e seus auxiliares ou colaboradores, ou seja, um núcleo social organizado em função de um fim econômico comum. Chamou-se o novo sistema de disciplina das atividades privadas de teoria da empresa. O Direito Comercial, em sua terceira etapa evolutiva, deixa de cuidar de certas atividades (as de mercancia) e passa a disciplinar uma forma específica de produzir ou circular os bens ou serviços, a empresarial. Atente para o local e ano em que a teoria da empresa se expressou no ordenamento jurídico, em plena Itália fascista de Mussolini. Para o fascismo, a luta de classes termina em harmonização patrocinada pelo estado nacional. Burguesia e protelatariado superam seus antagonismos na medida em que se unem em torno dos superiores objetivos da nação, seguindo o líder (duce), que é intérprete e Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 11 guardião destes objetivos. A empresa, no ideário fascista, representa justamente a organização em que se harmonizam as classes sociais em conflito. A teoria da empresa acabou se desvencilhando das raízes ideológicas fascistas. Por seus méritos jurídico-tecnológicos, sobreviveu à redemocratização da Itália e permanece delimitando o Direito Comercial daquele país até hoje. Também por sua operabilidade, adequada aos objetivos da disciplina da exploração de atividades econômicas por particulares no nosso tempo, a teoria da empresa inspirou a reforma da legislação comercial de outros países, como a da Espanha de 1989. De todas as diferentes acepções de empresa, considerava o perfil corporativo (ou hierárquico) ultrapassado, pois só que sustentava a partir da ideologia fascista que predominou na Itália quando da época do Código Civil de 1942. As demais acepções de empresa a partir dos demais perfis se referem a três realidades distintas, porém intimamente relacionados: o empresário, o estabelecimento empresarial e a atividade empresarial. O melhor perfil é o funcional posto que a empresa seja uma atividade econômica organizada. É em torno dessa atividade econômica organizada que vão gravitar todos os demais conceitos fundamentais do direito empresarial, sobretudo o conceito de empresário Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 12 e de estabelecimento empresarial (complexo de bens usados para o exercício de atividade econômica organizada, isto é, para o exercício de uma empresa). 2.2. A TEORIA DA EMPRESA NO BRASIL E O CÓDIGO CIVIL DE 2002 (LEGISLAÇÃO E DOUTRINA). Com a divulgação da teoria da empresa após a edição do Códice Civile de 1942 e com a nítida aproximação do direito brasileiro ao sistema italiano começaram a surgir maior ênfase sobre as vicissitudes da teoria dos atos de comércio e a destacar as vantagens da teoria da empresa. A jurisprudência brasileira também revelava sua insatisfação com a tese dos atos de comércio e sua maior simpatia pela tese da empresa, o que acarretou a decisão de vários juízes no sentido, por exemplo, de conceder concordata aos pecuaristas e concedendo a renovação compulsória de contrato locatício, o reconhecimento das sociedades prestadoras de serviços (tais institutos eram peculiares ao regime jurídico comercial), sendo aplicados aos agentes, não perfeitamente enquadrados no conceito de comerciante então adotado pela legislação da época. Esse grande avanço para a jurisprudência estava se afastando do ultrapassado critério da mercantilidade e passando então a adotar a empresarialidade como base para melhor fundamentar suas decisões. E, nesse sentido destacaram-se diversos julgados do Superior Tribunal de Justiça que, desconsiderando as ultrapassadas previsões do Código Civil Comercial de 1850 e, já atestavam a mercantilidade da negociação imobiliária e da atividade de prestação de serviços. Também na seara legislativa, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei 8.078/1990, trouxe um exemplo claro posto que o conceito de fornecedor seja particularmente amplo, englobando todo e qualquer exercente, de atividade econômica no âmbito da cadeia produtiva. Muito se aproximando do moderno conceito de empresário mais do que do antigo conceito de comerciante. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 13 Porém, mesmo antes do CDC, veio a Lei 4.137/1962 coibir o abuso do poder econômico no Brasil, e, em seu art. 6º in litteris previa: “considera-se empresa toda organização de natureza civil ou mercantil destinada à exploração por pessoa física ou jurídica de qualquer atividade com fins lucrativos”. Evidentemente tal alteração legislativa fora lenta e gradual e, se consolidou finalmente com a vigência do Código Civil brasileiro de 2002. Seguindo fielmente o Código Civil Italiano de 1942, o nosso código civil vigente também derrogou grande parte do Código Comercial de 1850 na busca de unificação ainda que formal de todo direito privado brasileiro. Resta atualmente ainda vigente apenas a segunda parte do Código Comercial, particularmente referente ao comércio marítimo. Também o direito falimentar que já fora antes regulamentado pelo Decreto-Lei 7.661/1945 foi substituído pela Lei 11.101/2005, a Lei de Falência e Recuperação de Empresas assumindo claramente a teoria da empresa. Assim, o Código civil de 2002 previu no seu Livro II, Título I, trata do “Direito da Empresa” vem finalmente desaparecer a figura do comerciante e surge então a figura do empresário (não se cogitando mais em sociedade comercial e, doravante sim, de sociedade empresária). Tendo afinal o Código Civil (de 2002) efetivamente adotado a teoria da empresa restou então completamente superada o deficiente critério traçado pelos atos de comércio. Expressamente em seu art. 2.037 expõe que as diversas normas comerciais até então existentes e que não foram revogadas pelo diploma legal devem ser aplicadas aos empresários, o que comprova que o conceito de empresário veio realmente para substituir o vetusto conceito de comerciante. Ainda persiste a divisão material do direito privado, contrapondo regimes jurídicos distintos para disciplinar as relações civis e empresariais. Verificamos que também o referido Código Civil brasileiro não definiu o que seja empresa, porém, em seu art. 966 esclareceu o que seja empresário (quem exerce profissionalmente a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços). Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 14 Empresa enfim é, portanto, a atividade, algo abstrato. Empresário, por sua vez, é quem exerce a empresa. Assim, a empresa não é sujeito de direito. O sujeito de direito é o titular da empresa, ou seja, o empresário, que pode ser uma pessoa física ou natural (empresário individual) ou pessoa jurídica (sociedade empresária). O grande busilis para se entender o conceito de empresa é que o referido vocábulo é utilizado deforma por vezes atécnica, até mesmo pelo legislador. Na verdade, a empresa é conceito abstrato correspondente à atividade econômica organizada e destinada à produção ou à circulação de bens ou serviços. Porém, não se deve confundir a empresa com a sociedade empresária, apesar de serem conceitos intimamente inter-relacionados. Enfim, a Lei 10.406/2002 que institui o nosso atual Código Civil, completou a tão esperada transição do direito comercial brasileiro, abandonando a teoria francesa dos atos de comércio para enfim adotar a teoria italiana de empresa. 2.3 OS PRINCÍPIOS DO DIREITO EMPRESARIAL. O direito da empresa traz regras especiais para disciplinar o mercado econômico e assentado em principiologia própria principalmente em função da imprescindibilidade da empresa vista como instrumento para o desenvolvimento econômico e social da sociedade contemporânea, na qual a base no capitalismo assenta-se na livre iniciativa, a propriedade privada, autonomia da vontade e valorização do trabalho humano que são valores já enraizados e solidificados como inegáveis para a construção e manutenção da sociedade livre. 2.3.1 – LIVRE INICIATIVA A livre iniciativa é um princípio fundamental do direito empresarial, trata-se de princípio constitucional da ordem econômica conforme prevê o art. 170 da Constituição Federal de 1988. Tal princípio ultimamente vem sendo relativizado principalmente em função do princípio da preservação da dignidade humana. O avanço dirigista do Estado sobre o mercado Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 15 gerando restrições para plena aplicação da livre iniciativa é palpável e visível diante da grande gama de jurisprudência brasileira que propugnam pelos princípios sociais. A livre iniciativa é a expressão da liberdade titulada não apenas da empresa, mas também do trabalho. Por essa razão, a Constituição brasileira ao contemplá-la, cogita também da “iniciativa do Estado” e, não privilegia, portanto, como bem pertinente à empresa. A ideia de que a livre iniciativa é antagônica aos demais princípios ditos sociais é meramente ilusória posto que se requer a ponderação, com fim de diminuir as desigualdades sociais e econômicas e ainda melhorar a qualidade de vida. 2.3.2. LIBERDADE DE CONCORRÊNCIA A liberdade de concorrência é igualmente princípio constitucional da ordem econômica e, o Estado o defende criando órgãos como o CADE ( Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e, ainda as agências reguladoras. É reconhecido que as recentes privatizações ocorridas recentemente no cenário econômico brasileiro melhoraram o fluxo concorrencial nos setores privatizados. Pois o Estado deixou de exercer diretamente uma série de atividades econômicas, nos poupando das usuais ineficiências, desserviços e corrupção, porém, passou a exercer o papel de regulador. As mais variadas agências reguladoras bem como os órgãos antitruste (CADE) são necessários embora criem um emaranhado complexo de regulamentos que se tornam barreiras insuperáveis à participação de novos empreendedores. Quanto maior a regulação estatal, maior será o risco estatal, maior será o risco da chamada “captura regulatória”, portanto, os empresários já estabelecidos, portanto os empresários já estabelecidos se adaptam às regulações e passam depois de usá-las como forma de impedir a entrada de concorrentes. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 16 Portanto, é dessa forma que o Estado contribui a formação de monopólios, duopólios e oligopólios. Conclui-se que a regulação estatal não se coaduna com a liberdade de competição. 2.3.3-GARANTIA E DEFESA DA PROPRIEDADE PRIVADA A garantia e defesa da propriedade privada é também princípio constitucional da ordem econômica formando junto com a livre iniciativa e a livre concorrência, a tríade que dá sustentação ao direito empresarial. Também vem sendo relativizado progressivamente em nosso ordenamento jurídico a partir do conceito de função social. 2.3.4-PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA A preservação da empresa é inspirado na Lei 11.101/2005 ( a Lei de Falências atual) e tem fundamentado diversas decisões judiciais recentes. É importante sua atuação, mas deve limitar-se às situações em que o próprio mercado espontaneamente, encontra soluções para a crise econômica de um agente econômico, em bases consensuais. O projeto de Lei 1.572/2011 (o novo Código Comercial brasileiro) tem sua origem na obra do emérito professor Fábio Ulhoa Coelho é, sem dúvida, um dos mais gabaritados comercialistas brasileiros, intitulada “O Futuro do Direito Comercial” que trouxe o debate sobre a necessidade de edição de novo código comercial que substitua o atual e, ainda revogou a parte da “Direito da Empresa” constante no Código Civil de 2002. Defende Ulhoa que os valores do direito comercial que foram esquecidos pelos operadores de Direito e precisam ser urgentemente resgatados. Seria necessário um novo Código Comercial mais atento à nova realidade econômica do país, o que culminou no PL 1.572/2011 que foi dirigido à Câmara dos Deputados. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 17 Reforça André Luiz Santa Cruz Ramos que a nova codificação comercial é de fato necessária para corrigir os tristes erros do Código Civil de 2002 em relação ao direito empresarial; e, ainda defender o livre mercado. A pretensa unificação legislativa do direito privado trouxe graves problemas para o direito comercial pois os contratos cíveis e mercantis passaram a ter uma mesma “teoria geral” ignorando-se a enorme distinção que existe entre estes; as normas gerais sobre os títulos de crédito estão em descompasso com as leis existentes, notadamente a Lei Uniforme de Genebra que resta incorporada há décadas ao nosso sistema jurídico; a sociedade limitada antes submetida a flexível e enxuto arcabouço normativo, tornou-se a figura societária burocrática e engessada; institutos jurídicos receberam confuso tratamento e atécnico gerando dificuldades interpretativas que promovem a insegurança jurídica, conforme ocorre com a difícil distinção prática entre as sociedades simples e as empresárias; velhos costumes jurídicos consagrados na praxe forense, como a desnecessidade de outorga conjugal para o aval de pessoa casada, e a possibilidade de contratação de sociedade entre os cônjuges independentemente do regime de bens foram injustificadamente alterados; novas figuras já conhecidas pelo direito estrangeiro perderam a chance de serem adotadas, como a sociedade limitada unipessoal e o empresário individual de responsabilidade limitada ( recentemente, a EIRELI – empresa individual de responsabilidade limitada que acabou de ser incorporada ao Código Civil de 2002 pela Lei 12.441/2011). O livre mercado no Brasil e no mundo a fora, infelizmente vem sofrendo duros ataques e golpes na medida em que se desenvolve um estranho capitalismo do Estado. II – DIREITO DE EMPRESA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 3. CONCEITO DE EMPRESA Empresa é a atividade econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços exercida por empresário, em caráter profissional através de complexo de bens. Pressupõe não a prática de ato isolado, mas uma atividade reiterada, uma série de atos vinculados, coordenados e em execução continuada, com vistas a um fim comum equivalendo desse modo, ao que vulgarmente se denomina negócio. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 18 Empresa, que tem seu conceito diferenciado de estabelecimento, e da pessoa do empresário, sinaliza um conjunto de recursos e pessoasorganizados para a produção ou circulação de bens e serviços. Abaixo será conceituada empresa, diferenciando-a de estabelecimento e empresário. Martins (2008) afirma que a principal característica da empresa é o fim econômico, fato que justifica a Economia ser a principal interessada em seu conceito. Perroux (apud Guitton, 1961, p.50) se pronunciou no se sentido de considerar empresa: “[...] uma organização da produção na qual se combinam os preços dos diversos fatores da produção, trazidos por agentes distintos do proprietário da empresa, visando a vender um bem ou serviços no mercado, para obter a diferença entre os dois preços (preço do custo e preço de venda) o maior proveito monetário possível”. Martins (2008) acrescenta que as empresárias voltam-se para a produção, ocorrendo de maneira diversa do que antes ocorria, a respeito das atividades serem mais artesanais ou familiares. E, segundo o autor, numa perspectiva da Economia, empresa seria um conjunto de fatores de produção, em que englobaria terra, capital e trabalho. Para Martins (2008), então, hoje em dia, toda empresa tem suas atividades visando ao mercado. Parece ser consenso entre os autores que empresa é uma atividade de produção toda organizada, visando ao mercado, circulando bens e serviços, com o fito de lucro. O essencial em qualquer empresa, por natureza, é que ela é criada com a finalidade de se obter lucro na atividade. Normalmente, o empresário não tem por objetivo criar empresa que não tenha por finalidade lucro.” No entanto, Martins (2008), apresenta uma exceção a essa regra. Quando se trata de cooperativas, clubes ou entidades beneficentes, fica claro perceber outras finalidades. Outrossim, segundo o autor, o lucro pode existir, mas é possível constatar que seja apenas necessário para manter tais atividades. Nesse sentido, interessante o pensamento de que: [...] religiosos podem prestar serviços educacionais (numa escola ou universidade) sem visar especificamente o lucro. É evidente que, no capitalismo, nenhuma atividade econômica se mantém sem lucratividade e, por isso, o valor total das mensalidades deve superar o das Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 19 despesas também nesses estabelecimentos. Mas a escola ou universidade religiosas podem ter objetivos não lucrativos, como a difusão de valores ou criação de postos de empregos para os seus sacerdotes. Neste caso, o lucro é meio e não fim da atividade econômica. (COELHO, 2009, p. 13) 3.1 Diferença entre empresa e estabelecimento A Empresa seria um centro de decisões, em que as estratégias econômicas são adotadas. Sendo assim considerada, corre-se o risco de confundir empresa com o próprio estabelecimento. Assim, para os efeitos das normas do trabalho, se entende por empresa, a unidade econômica de produção ou distribuição de bens ou serviços, e estabelecimento, a unidade técnica que como sucursal, agência ou outra forma semelhante, seja parte integrante e contribua para a realização dos fins da empresa. Desse modo, esclarece-nos, Coelho (2009), quando exemplifica dizendo que se alguém vem a exclamar que uma empresa esteja pegando fogo ou a afirmar que determinada empresa se submeteu a uma reforma e ficou mais bonita, tal indivíduo utiliza equivocadamente o conceito. O correto seria dizer que o estabelecimento comercial pegou fogo ou foi embelezado. “Não se pode confundir a empresa com o local em que a atividade é desenvolvida”. (COELHO, 2009, p.12). Estabelecimento é apenas uma parte da empresa, e que é o local onde o empresário exerce suas atividades. “O estabelecimento compreende as coisas corpóreas existentes em determinado lugar da empresa, como instalações, máquinas, equipamentos, utensílios etc., e as incorpóreas, como a marca, as patentes, os sinais etc.” (MARTINS, 2008, p. 173). 3.2 Diferença entre empresa e a pessoa do empresário Empresa significa uma ação que o empresário exerce. Desse modo, deve-se ficar claro que tratam-se de duas pessoas: empresa, pessoa jurídica, e empresário, pessoa natural. E para diferenciar os dois conceitos é necessário: “Distingue-se também a empresa da pessoa do proprietário, pois uma empresa bem gerida pode durar anos, enquanto o proprietário falece. É a ideia do conceito de instituição, em que instituição é o que perdura no tempo. O empresário é a pessoa que exercita Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 20 profissionalmente a atividade economicamente organizada, visando à produção ou circulação de bens ou serviços para o mercado (art. 966 do CC)”. (MARTINS, 2008, p. 174). Num sentido protetivo, a legislação proíbe o incapaz de exercer atividades empresariais. No entanto, de acordo com Coelho (2009), sendo importante para o incapaz, e desde que em continuidade da empresa já constituída pelo indivíduo, ou em casos de sucessão, o juiz poderá, amparado em lei, autorizar por meio de um alvará o exercício da atividade de empresa. Acrescenta, ainda, o autor que: “[...] o exercício da empresa por incapaz autorizado é feito mediante representação (se absoluta a incapacidade) ou assistência (se relativa). Se o representante ou o assistido for ou estiver proibido de exercer empresa, nomeia-se, com aprovação do juiz, um gerente. Mesmo não havendo impedimento, se reputar do interesse do incapaz, o juiz pode, ao conceder a autorização, determinar que atue no negócio o gerente. A autorização pode ser revogada pelo juiz, a qualquer tempo, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do incapaz”. (COELHO, 2009, p. 21). 4 EMPRESÁRIO Empresário é quem exerce as atividades da empresa. É necessária a presença de alguns aspectos para considerar a existência de uma empresa. Do mesmo modo, para afirmar que alguém é um empresário alguns elementos são necessários. O empresário é aquele que detém a propriedade dos bens de produção, gozando, diretamente, ou por meio de seus representantes, dos poderes relacionados à gestão da empresa. Empresário é um conceito que vem definido em lei, e se refere ao profissional que exerce uma “[...] atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços (Código Civil, art. 966). Destacam-se da definição as noções de profissionalismo, atividade econômica organizada e produção de bens ou serviços”. É necessário para a compreensão do conceito, revisar cada um dos pontos principais presentes na definição legal. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 21 Exercício profissional se refere a três pontos básicos: habitualidade; pessoalidade; e a informação. Habitualidade se refere ao fato de o empresário exercer as atividades de modo contínuo, não episódico, nem esporádico. Pessoalidade diz respeito à obrigatoriedade de se contratar empregados para a circulação de bens e serviços. Já o aspecto informação obriga o empresário a conhecer os bens e serviços que oferece ao mercado, bem como informar os possíveis consumidores devidamente. Quando se refere a atividade econômica organizada, o Código Civil se refere à própria produção e circulação de bens e serviços. A atividade deve ser organizada pelo empresário, que articulará capital, mão-de-obra, insumos e tecnologia, visando a lucro, mesmo que este seja o objetivo para alcançar outras finalidades. A produção ou circulação de bens ou serviços podem ser consideradas o coração da empresa. Sem bens ou serviços não há o porquê de uma empresa existir. 4.1 Empresário Individual O Empresário Individual é a pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção e circulação de bensou de serviços. Art. 966 do CC. Destaca-se que, muito embora o empresário individual seja equiparado, para fins fiscais às pessoas jurídicas, ao contrário das sociedades empresárias e da empresa individual de responsabilidade limitada que são pessoas jurídicas por determinação legal esculpida no artigo 44, inciso II e VI, do Código Civil, o empresário individual tem natureza jurídica de pessoa natural, pois o empresário individual é a própria pessoa natural, respondendo os seus próprios bens pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis ou comerciais. O Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso Especial nº. 487.995-AP, DJ 22/05/2006, de relatoria da E. Ministra Nancy Andrighi, já se pronunciou no sentido de Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 22 que o empresário individual tem natureza jurídica de pessoa natural. Neste julgamento, a Ministra apresenta a esclarecedora lição de Carvalho de Mendonça: “para quem a firma individual é uma mera ficção jurídica, com fito de habilitar a pessoa física a praticar atos de comércio, concedendo-lhe algumas vantagens de natureza fiscal. Por isso, não há bipartição entre a pessoa natural e a firma por ele constituída. Uma e outra fundem-se, para todos os fins de direito, em um todo único e indivisível. Uma está compreendida pela outra. Logo, quem contratar com uma está contratando com a outra e vice versa... A firma do comerciante singular gira em círculo mais estreito que o nome civil, pois designa simplesmente o sujeito que exerce a profissão mercantil. Existe essa separação abstrata, embora aos dois se aplique a mesma individualidade. Se em sentido particular uma é o desenvolvimento da outra, é, porém, o mesmo homem que vive ao mesmo tempo a vida civil e a vida comercial”. O empresário individual no exercício da empresa utiliza-se de seu patrimônio pessoal e, como leciona o Manoel de Queiroz Pereira Calças, “os bens do que o empresário individual emprega no exercício de sua atividade profissional não formam um patrimônio da empresa, mas integram, com os demais bens, o patrimônio individual do empresário e configuram a garantia de todos os credores de empresário”. E, como adverte Barbosa Filho, “a empresa, em si mesma, não tem personalidade jurídica, de maneira que uma pessoa, o empresário, manifesta a sua vontade e comanda toda a atividade empresarial, assumindo obrigações e auferindo créditos. Esse sujeito de direito ostenta como características primordiais a iniciativa e o risco. É ele quem cria e gerencia toda a atividade empresarial, ditando, conforme suas decisões, seu desenvolvimento e o sucesso ou insucesso resultante, com o qual arcará, suportando os ônus dos prejuízos e nas benesses derivadas dos lucros”. Por essas razões, não existe a alienação de firma individual, pois, por se tratar de mera ficção jurídica, é impossível separar a pessoa natural do empresário individual, e, portanto, impossível que ocorra a alienação, em separado, da empresa individual. A Câmara Especializa em Direito Empresarial do E. Tribunal de Justiça de São Paulo, diante de um caso de alienação de quotas de empresário individual decidiu pela impossibilidade de formalização de contrato de cessão de empresa individual, já que, como referido, ela se confunde com a pessoa natural. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 23 No entanto, importante ressalvar que na hipótese de continuação da empresa por incapaz, existe a possibilidade de cisão do patrimônio do empresário individual e da sociedade na data da interdição desde que autorizado judicialmente, como será tratado mais adiante. Embora não seja objeto deste trabalho, imprescindível destacar a figura da empresa individual de responsabilidade limitada, introduzida em nosso ordenamento jurídico pela Lei 12.470, de 11 de setembro de 2011, que inseriu um novo tipo de pessoa jurídica no ordenamento jurídico, adicionando o inciso VI no artigo 44 do Código Civil. Ao contrário do empresário individual, na empresa individual de responsabilidade limitada – ERELI existe a responsabilidade limitada do titular até o montante do capital subscrito, que deverá ser, no mínimo, de cem vezes o salário mínimo vigente em sua constituição, ou seja, na ERELI ocorre o surgimento de um novo sujeito de direito, a pessoa jurídica, com a constituição de patrimônio autônomo em relação ao seu titular, a pessoa natural. 4.1.. Empresário Individual casado O artigo 978 do Código Civil não exige a outorga uxória para que o empresário individual casado possa alienar ou gravar de ônus real imóveis integrantes do patrimônio da empresa, qualquer que seja o seu regime matrimonial de bens, o que facilita a circulação de bens empresariais permitido uma maior agilidade e racionalidade no desenvolvimento da atividade empresarial. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no Registro Público de Empresas Mercantis, os pactos e declarações antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade. Art. 979, CC. 4.2. Pessoas excluídas do conceito de empresário O artigo 966 do Código Civil, como acima tratado, apresenta o conceito de empresário, mas, ao mesmo tempo, em seu parágrafo único, apresenta um rol de pessoas que não serão empresárias, ao dispor que “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza cientifica, literária ou artística, ainda que com concurso de auxiliares ou colaboradores,...”. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 24 Exemplificando, as pessoas, em especial profissionais liberais, como advogados, médicos, dentistas, engenheiros, artistas etc, mesmo que exerçam a atividade econômica de produção de circulação de bens ou serviços não são considerados empresários, visto que ausente uma organização empresarial nestas atividades. Assim, ocorre a exclusão do conceito de empresário pelo fato de que quem exerce profissão intelectual, mesmo que com auxílio de colaboradores, não obstante produzir serviços, o esforço realizado por estes profissionais resulta exclusivamente e diretamente da mente do autor, de onde advém aquele bem ou serviço sem interferência exterior de fatores de produção, cuja ocorrência é, dada a natureza do objeto alcançado, meramente acidental. Ou seja, a pessoa do profissional prevalece sobre a organização da atividade exercida. Porém, a parte final do parágrafo único do artigo 966, dispõe sobre uma exceção a regra legal, ao dizer que, no caso do exercício da profissão de natureza intelectual ou artística constitua elemento de empresa (“... salvo se o exercício da profissão constitua elemento de empresa”.), aquelas pessoas excluídas do conceito de empresário poderão tornar-se empresárias, pois, nesta hipótese, a organização da atividade ultrapassou a pessoa do profissional, o qual passa, apenas, a integrar a própria organização como um de sues elementos. Mas o que constitui o “elemento de empresa”? Como pondera Alfredo de Assis Gonçalves Neto “ser elemento de atividade organizada em empresa ou, simplesmente elemento de empresa significa ser parcela dessa atividade e não a atividade em si, isoladamente considerada. Evidencia-se, assim, que a única possibilidade de enquadrar a atividade intelectual no regime jurídico empresarial será considerando-a como parte de um todo mais amplo, apto a identificar como empresa – ou, mais, mais precisamente, como um dos vários elementos em que se decompõe determinada atividade.” Destaca-se ainda o enunciado 194 da III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho da Justiça Federal,onde definiu-se que os profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida. Em resumo, pode-se dizer que o elemento de empresa consiste na organização dos fatores de produção para o exercício da atividade e, quando o profissional de atividade intelectual Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 25 ou artística, organiza a sua atividade de forma empresarial e, essa organização empresarial ultrapassa a sua pessoa individual, este passa apenas a integrar um dos elementos da organização empresarial da atividade. 4.3 O Empresário Rural Por força de disposição legal, art. 971 do Código Civil, aquele que exerce uma atividade de natureza rural possui a opção de se sujeitar ou não ao regime empresarial, mas caso deseje, basta que proceda com o seu registro na Junta Comercial de sua sede, tornando, a partir do registro um empresário, devendo cumprir com as obrigações decorrentes do regime jurídico empresarial, tal como a manutenção de escrituração contábil e realização de balanços. Esta faculdade decorre do disposto no artigo 970 que preceitua que a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário, quanto à inscrição e os efeitos daí decorrentes. Assim, o produtor rural, aquele que exerce atividade agrícola, pecuária, extrativa entre outras atividades conexas será considerado empresário rural somente quando esteja devidamente inscrito no registro de comércio, sujeitando-se ao regime falimentar e de recuperação judicial. 4.4 Obrigatoriedade do Registro de Empresário Antes do início de suas atividades, o empresário deve promover a sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, cuja função é das Juntas Comerciais sob fiscalização e supervisão do Departamento Nacional de Registro do Comércio - DNRC. Não é a inscrição do empresário na Junta Comercial que determina se ele é ou não empresário, mas, como acima tratado, a qualidade de empresário decorre da situação fática consistente na organização dos fatores de produção (capital, trabalho, insumo e tecnologia) com a finalidade de produção ou circulação de bens ou serviços. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 26 O registo do empresário na Junta comercial é uma formalidade imposta a todo e qualquer empresário individual ou sociedade empresaria, com exceção daqueles que exercem atividade econômica rural. A ausência de registro nas Juntas Comerciais caracteriza o empresário como empresário irregular ou de fato e, mesmo nesta situação, nos termos da Lei de Falências e Recuperação de empresas estará sujeito a falência, mas não lhe será permitido requerer a benesse da recuperação judicial e tampouco requerer a falência de seus devedores. Daí decorre a distinção entre empresário regular e empresário irregular, sendo que, este último deixa de cumprir com o determinado no artigo 967 do Código Civil e tem como consequência a perda de determinados benefícios que um empresário devidamente inscrito na Junta Comercial possui, como a possibilidade de requerimento de falência ou entrar com pedido de recuperação judicial e limitação de responsabilidade dos sócios nos casos das sociedades limitadas e, agora, no caso do empresário individual de responsabilidade limitada. O empresário regular é aquele que, nos termos dos artigos 967 do Código Civil, procede com a sua inscrição na Junta Comercial competente, cujo requerimento deverá conter a qualificação do empresário, a firma, o capital, o objeto e a sede a empresa. O registro mercantil tem como finalidade dar publicidade aos atos nele registrados, por este motivo tem apenas característica de ato declaratório e não constitutivo[21], uma vez que não consta no artigo 966 do Código Civil a expressão “devidamente inscrito no registro de comércio”, mas apenas que empresário é aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada com a finalidade de produção ou circulação de bens e serviços. Como alhures tratado, o registro do empresário no registro mercantil tem, em regra, natureza declaratória, mas no caso do empresário rural a natureza do registro é constitutiva. Assim, o empresário, mesmo não estando registrado no Registro Público de Empresas Mercantis, estará sujeito à falência e, por estar irregular, haverá indícios de crime falimentar, como ausência de escrituração. Segundo o Conselho da Justiça Federal, enunciado 199, da III Jornada de Direito Civil, o registro do empresário na Junta comercial não é requisito de sua caracterização, mas apenas requisito de sua regularidade. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 27 O empresário individual que pretender abrir sucursal, filial e agência em local sujeito à jurisdição de outro Registro Público de Empresas Mercantis, deverá nele realizar a sua inscrição com prova do registro originário, sendo também obrigatório o registro de estabelecimento secundário no registro da respectiva sede. 4.5 Capacidade para ser empresário Segundo o disposto no artigo 972 do Código Civil podem exercer a atividade empresária quem estiver em pleno gozo de sua capacidade civil e não for legalmente impedido. Este artigo, contido no livro especial do Direito de Empresa, dever ser interpretado em consonância com os artigos iniciais do Código Civil, que tratam da capacidade do sujeito de direito. Pelo artigo 1º do Código Civil, toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil, mas esta capacidade só é absoluta quando atingida a maioridade civil aos dezoito anos de vida ou nos casos de emancipação e, desde que, não se verifique nenhuma hipótese de incapacidade absoluta (menores de 16 anos; os que por enfermidade ou deficiência mental não tiverem o necessário discernimento para a prática de atos da vida civil; por causa transitório não puderem exprimir a sua vontade) ou relativa (maiores de dezesseis anos e menores de dezoito anos; ébrios habituais; viciados em tóxicos; por deficiência mental tenha o discernimento reduzido; os excepcionais sem desenvolvimento mental completo; os pródigos), conforme artigos 3º e 4º do Código Civil. Como referido, além dos maiores de dezoito anos, os emancipados também poderão exercer todos os atos da vida civil, inclusive a atividade empresarial desde que, por força de disposição legal (CC, art. 976), averbado no Registro Público de Empresas Mercantis a prova da emancipação, que pode ocorrer nas seguintes hipóteses: (i) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta de outro, mediante instrumento público, independente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; (ii) pelo exercício de emprego público efetivo; (iii) pela colação em ensino superior; (iv) pelo casamento; Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 28 (v) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. 4.5.1 Empresário individual incapaz Com base no princípio da preservação da empresa, em que a empresa constitui-se como atividade produtiva de geração de empregos e riquezas ao empresário e a coletividade como um todo, o Código Civil, em seu artigo 974, permite que o empresário individual declarado incapaz, por meio de seu representante ou devidamente assistido, continue com a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor da herança.Observa-se que referido artigo engloba tanto pessoa declarada incapaz judicialmente quanto o menor incapaz que herda a empresa individual. Para que isso ocorra é necessário a obtenção de autorização judicial concedida por alvará judicial, que deverá ser devidamente arquivado na Junta Comercial, em que conterá o responsável pela prática de atos em nome do empresário declarado incapaz, como forma de dar publicidade ao ato. O magistrado ao analisar o pedido de autorização levará em conta, além das circunstâncias e os riscos da empresa, a conveniência de sua continuação, sendo lhe permitida a cassação da autorização a qualquer tempo (CC, §1º, art. 973), ante a natureza precária da autorização. Vale destacar que caso o representante ou assistente do incapaz esteja impedido legalmente de exercer atividade empresária, poderá o juiz nomear um ou mais gerentes para o exercício da atividade, contudo, tal nomeação não retira do representante ou assistente do interdito a responsabilidade pelos atos dos gerentes. 4.5.2 Pessoas legalmente impedidas Como acima referido, podem ser empresários aqueles que estiverem no pleno gozo de sua capacidade civil excluídos os que, em razão do cargo que ocupam, estejam legalmente impedidos de exercerem atividade empresária, isso em virtude das incompatibilidades com o exercício da atividade. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 29 A indicação das pessoas impedidas do exercício da empresa não está prevista no Código Civil, mas em disposições esparsas, que conforme destaca Requião, vão desde a Constituição até estatutos do funcionalismo civil e militar. Estão impedidos: (i) os Magistrados e membros do Ministério Público; (ii) os empresários falidos, enquanto não forem reabilitados; (iii) os leiloeiros (art.36 do Decreto n° 21.891/32); (iv) os cônsules; (v) os médicos, para o exercício simultâneo da farmácia, drogaria ou laboratórios farmacêuticos, e os farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina; (vi) as pessoas condenadas à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação; (vii) os servidores públicos civis da ativa (Lei nº 1.711/52) e servidores federais (Lei nº 8.112/90, art. 117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados em geral); (viii) os servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares (Código Penal Militar, arts. 180 e 204, e Decreto-Lei nº 1.029/69; arts. 29 e 35 da Lei nº 6.880/80); (ix) os deputados e senadores não poderão ser proprietários, controladores ou diretores de empresa, que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, nem exercer nela função remunerada ou cargo de confiança, sob pena de perda do mandato - arts. (54 e 55 da Constituição Federal); Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 30 (x) estrangeiros sem visto permanente estão impedidos de serem empresários individuais, porém não estarão impedidos de participar de sociedade empresária no país; (xi) estrangeiro com visto permanente, para o exercício das seguintes atividades: pesquisa ou lavra de recursos minerais ou de aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica; atividade jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, com recursos oriundos do exterior; atividade ligada, direta ou indiretamente, à assistência à saúde no País, salvo nos casos previstos em lei; serem proprietários ou armadores de embarcação nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre, exceto embarcação de pesca; serem proprietários ou exploradores de aeronave brasileira, ressalvado o disposto na legislação específica. As pessoas legalmente impedidas para exercer atividade própria de empresário, se exercerem, responderão, pessoalmente, pelas obrigações contraídas, isso porque, os atos por elas praticados continuam válidos e eficazes. Além da responsabilidade civil, os impedidos estão sujeitos as penalidades administrativas e criminais relativas ao exercício da atividade empresária. Importante frisar que algumas pessoas, embora impedidas, podem ser sócios ou acionistas de sociedades, mas não poderão exercer o cargo de administração. 4.6 Registro do Empresário A inscrição do Empresário no Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial) da respectiva sede é obrigatória e deve ser feita antes do início de sua atividade. A inscrição será feita através de requerimento que deverá conter: Art. 968, CC a) o seu nome, sua nacionalidade, seu domicílio, seu estado civil e, se casado, o regime de bens; b) a firma, com a respectiva assinatura autógrafa; c) o capital; d) o objeto e a sede da empresa. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 31 Com essas indicações, a inscrição será tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes. Não há previsão de punição pela inobservância da obrigatoriedade da inscrição do Empresário, porém a doutrina e a jurisprudência apontam para a desconsideração da personalidade jurídica, fazendo com que os sócios respondam ilimitadamente. 4.6.1 Inscrição do estabelecimento secundário A constituição de estabelecimento secundário, como sucursal, filial ou agência, deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, e se for em lugar sujeito à jurisdição de outro Registro Público, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Em qualquer caso, a constituição de estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede. 4.6.2 Inscrição do empresário rural e pequeno empresário Quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes, a lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresário rural e ao pequeno empresário. Observadas as formalidades de inscrição do empresário, este, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, poderá requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro 4.7 Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI Criada pela Lei 12.441, de 11/07/2011, a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada - EIRELI é aquela constituída por uma única pessoa titular da totalidade do Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 32 capital social, devidamente integralizado, que não poderá ser inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. O titular não responderá com seus bens pessoais pelas dívidas da empresa. A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. Ao nome empresarial deverá ser incluído a expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. A EIRELI também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente dasrazões que motivaram tal concentração. A Empresa individual de responsabilidade limitada será regulada, no que couber, pelas normas aplicáveis às sociedades limitadas. 4.7.1 requisitos e impedimentos Para ser titular de empresa individual de responsabilidade limitada – EIRELI, alguns requisitos legais devem ser preenchidos por aquele que deseja constituir ou abrir uma EIRELI. Seguem abaixo requisitos e impedimentos para ser titular e administrador. 4.7.2 Capacidade para ser titular Pode ser titular de EIRELI a pessoa natural, desde que não haja impedimento legal: a) maior de 18 anos, brasileiro(a) ou estrangeiro(a), que se achar na livre administração de sua pessoa e bens; b) menor emancipado: • por concessão dos pais, ou de um deles na falta de outro se o menor tiver dezesseis anos Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 33 completos. A outorga constará de instrumento público, que deverá ser inscrito no Registro Civil das Pessoas Naturais e arquivado na Junta Comercial. • por sentença do juiz que, também, deverá ser inscrita no Registro Civil das Pessoas Naturais; • pelo casamento; • pelo exercício de emprego público efetivo (servidor ocupante de cargo em órgão da administração direta, autarquia ou fundação pública federal, estadual ou municipal); • pela colação de grau em curso de ensino superior; e • pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha economia própria; Menor de 18 e maior de 16 anos, emancipado A prova da emancipação do menor de 18 anos e maior de 16 anos, anteriormente averbada no registro civil, correspondente a um dos casos a seguir, deverá instruir o processo ou ser arquivada em separado, simultaneamente, com o ato constitutivo: a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, ou por sentença judicial; b) casamento; c) exercício de emprego público efetivo; d) colação de grau em curso de ensino superior; e) estabelecimento civil ou comercial ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 anos completos tenha adquirido economia própria. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 34 4.7.3 Impedimento para ser titular Não pode ser titular de EIRELI a pessoa jurídica, bem assim a pessoa natural impedida por norma constitucional ou por lei especial. 4.7.4 impedimentos para ser administrador Não pode ser administrador de EIRELI a pessoa: a) condenada a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência, contra relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto perduraram os efeitos da condenação; b) impedida por norma constitucional ou por lei especial: • brasileiro naturalizado há menos de 10 anos: - em empresa jornalística e de radiodifusão sonora e radiodifusão de sons e imagens; • estrangeiro sem visto permanente. A indicação de estrangeiro para cargo de administrador poderá ser feita, sem ainda possuir “visto permanente”, desde que haja ressalva expressa no ato constitutivo de que o exercício da função depende da obtenção desse “visto”; • natural de país limítrofe, domiciliado em cidade contígua ao território nacional e que se encontre no Brasil; - em empresa jornalística de qualquer espécie, de radiodifusão sonora e de sons e imagens; - em pessoa jurídica que seja titular de direito real sobre imóvel rural na Faixa de Fronteira (150 Km de largura ao longo das fronteiras terrestres), salvo com assentimento prévio do órgão competente; Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 35 • português, no gozo dos direitos e obrigações previstos no Estatuto da Igualdade, comprovado mediante Portaria do Ministério da Justiça, pode ser administrador de EIRELI, exceto na hipótese de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens; • pessoa jurídica; • o cônsul, no seu distrito, salvo o não remunerado; • o funcionário público federal civil ou militar da ativa. Em relação ao funcionário estadual e municipal, observar as respectivas legislações; • o Chefe do Poder Executivo, federal, estadual ou municipal; • o magistrado; • os membros do Ministério Público da União, que compreende: Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; • os membros do Ministério Público dos Estados, conforme a Constituição respectiva; • o falido, enquanto não for legalmente reabilitado; • o leiloeiro; • a pessoa absolutamente incapaz, tais como: o menor de 16 anos; o que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiver o necessário discernimento para a prática desses atos; o que, mesmo por causa transitória, não puder exprimir sua vontade; • a pessoa relativamente incapaz, quais sejam: o maior de 16 anos e menor de 18 anos (pode ser emancipado e, desde que o seja, pode assumir a administração de empresa); o ébrio habitual, o viciado em tóxicos, e o que, por deficiência mental, tenha o discernimento reduzido e o excepcional, sem desenvolvimento mental completo. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 36 Alerta importante: a capacidade dos índios é regulada por lei especial (Estatuto do Índio). 4.7.4 Abertura, Registro E Legalização Para abertura, registro e legalização do EIRELI, é necessário registro na Junta Comercial e, em função da natureza das atividades constantes do objeto social, inscrições em outros órgãos, como Receita Federal (CNPJ), Secretaria de Fazenda do Estado (inscrição estadual e ICMS) e Prefeitura Municipal (concessão do alvará de funcionamento e autorização de órgãos responsáveis pela saúde, segurança pública, meio ambiente e outros, conforme a natureza da atividade). 4.7.5 Registro Na Junta Comercial Faça o registro de EIRELI e o seu enquadramento como Microempresa (ME) ou Empresa de Pequeno Porte (EPP). Ocasião em que se deve apresentar para arquivamento (registro) o Requerimento de Empresário e o enquadramento como ME ou EPP na Junta Comercial, desde que atenda ao disposto na Lei Complementar 123/2006. A Consulta de Viabilidade do Nome Empresarial deve ser a primeira providência a ser tomada antes do registro (Requerimento de Empresário) da empresa. Essa medida é para certificar-se que não existe outra empresa já registrada com nome igual ou semelhante ao que você escolheu. 5. ESTABELECIMENTO Segundo determina o art. 1.142 do CC – Considera-se o estabelecimento empresarial todo o complexo de bens, corpóreos (mercadorias, mesas, mobílias, imóveis) e incorpóreos (nome comercial, marca, patente, direitos) u t i l i z a d o s para o exercício da empresa (e não da atividade), por empresário, ou por sociedade empresaria. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 37 5.1 Alienação do Estabelecimento Como a alienação do estabelecimento comercial pode repercutir em direitos de terceiros, no caso, credores, que possuem no estabelecimento comercial da empresa a garantia dos seus direitos, há normas específicas que regulam esse tipo de transação.Assim, quando determinado empresário, na pendência de pagar seus credores, decidir alienar seu estabelecimento comercial, é necessária a notificação destes, via judicial ou extrajudicial. Após este aviso os credores poderão manifestar seu consentimento ou contrariedade à alienação do estabelecimento. Em caso de concordância expressa dos credores, ou se os mesmos permanecerem inertes 30 (trinta) dias após a notificação, o empresário está autorizado a alienar seu estabelecimento, pois se entende que houve a concordância tácita. E se o devedor na tiver conhecimento que o estabelecimento foi alienado e ao invés de efetuar o pagamento ao novo proprietário efetuar ao antigo? A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeitos em relação ao respectivos devedores, dede o momento da publicação da transferência, mas o devedor ficara exonerado se de boa-fé pagar ao cedente O estabelecimento é sujeito de direito ou objeto de direito? O estabelecimento não é sujeito de direito. Sujeito de direito é o empresário ou a sociedade empresária. O estabelecimento é objeto de direito. Quando a alienação produzira efeitos quanto a terceiros? depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresaria, no RPEM e da publicação na imprensa oficial Os débitos da sociedade empresaria integra o estabelecimento empresarial? Não E quanto aos débitos existentes antes da alienação? Em relação aos débitos existentes antes da alienação, há regras próprias que tratam do assunto. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 38 Adquirente - aquele que comprou o estabelecimento (adquirente) responde pelos débitos existentes antes da venda do estabelecimento, desde que todo esse passivo(divida) esteja devidamente contabilizado. Vendedor - aquele que vendeu o estabelecimento (devedor primitivo) ainda responderá solidariamente junto com o comprador, pelo prazo de 1 ano. Esse prazo de um ano conta-se de duas maneiras diferentes: 1. Para os créditos já vencidos, conta-se um ano após a publicação do contrato de trespasse na imprensa oficial e 2. Para os créditos ainda não vencidos, conta-se um ano após o vencimento Sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados – a transferência do estabelecimento, salvo disposição em contrário, importa a sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração daquele, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros contratantes rescindirem o contrato em 90 dias, a contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a responsabilidade do alienante Exemplo: Gabriel tem uma sorveteria na qual vende sorvetes artesanais da sua marca Gelados. O imóvel no qual está localizada a empresa, os freezers e as máquinas necessárias para a elaboração dos sorvetes são alugados. Os móveis e o estoque de matéria prima, no entanto, são de propriedade de Pedro Henrique. Ressalta-se que a marca é bastante conhecida na cidade e o seu estabelecimento já tem uma clientela fiel. Considerando os fatos expostos, podemos afirmar que fazem parte do estabelecimento empresarial todos os bens que estão organizados para o desenvolvimento da empresa, isto é, tanto o imóvel, quando os freezers, as máquinas, os móveis, o estoque e a marca Gelados E quanto aos débitos tributários ? Art. 133 CTN. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até a data do ato: Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 39 1. Integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; 2. subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de 6 (seis) meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão Atenção: as regras a cima não se aplica na hipótese de alienação judicial: Em processo de falência - Não se aplica esta regra se o adquirente for: 1. sócio da sociedade falida ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação judicial; 2. parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou 3. identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária. 2. De filial ou unidade produtiva isolada, em processo de recuperação judicial. Cláusula de não restabelecimento - consiste na proibição daquele que vendeu o estabelecimento fazer concorrência em relação ao que adquiriu pelo prazo de 05 anos após à venda, a não ser que haja autorização expressa nesse sentido. Atenção: No caso do estabelecimento comercial não ter sido propriamente vendido, mas ser objeto de usufruto ou arrendamento, o prazo para o antigo proprietário exercer qualquer tipo de concorrência ficará determinado no contrato. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 40 5.2 Trespasse Trespasse é o nome dado ao negócio jurídico (isto é, ao contrato) por meio do qual o estabelecimento empresarial é transferido da esfera patrimonial de um empresário para a de outro. Para que haja trespasse, a essência do estabelecimento deve ser alienada. Isso quer dizer que, pelo trespasse, o conjunto organizado de bens corpóreos e incorpóreos deve ser transferida do patrimônio do empresário para o terceiro. Em regra, o empresário transfere todo o estabelecimento. Até pode haver, no contrato, condição que lhe permita manter consigo um ou outro bem que, embora elemento do estabelecimento, não seja considerado fundamental pelo comprador. Se o empresário vender uma parcela grande e importante da empresa, mas o estabelecimento se mantiver sob seu patrimônio, houve alienação de fato e de direito desses elementos importantes, mas o contrato pelo qual esses elementos foram alienados não é um contrato de trespasse. Relembrando: O contrato de Trespasse é averbado no Registro Público de Empresas Mercantis e publicado na Imprensa Oficial, e só a partir daí produz efeitos perante terceiros. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL X EMPRESA - o conjunto de bens organizados chamado estabelecimento empresarial pertence ao patrimônio do empresário e não deve se confundir com a empresa, que também faz parte do patrimônio do empresário. 5.3 Bens Incorpóreos Do Estabelecimento 1. Ponto comercial - é um bem incorpóreo, elemento do estabelecimento, que indica que a localização da empresa, em si, é um atrativo para a clientela. A proteção jurídica mais importante ao ponto é o direito de renovação compulsória do contrato de locação empresarial, previsto na lei de locações. 2. Marca comercial - os sinais distintivos do estabelecimento, também são bens incorpóreos, bem que identifica a empresa perante o público e os fornecedores. A marca recebe proteção jurídica por meio da Lei de Propriedade Intelectual. Universidade Candido Mendes/ Niterói – Direito de Empresa I 41 3. Contratos em fase de execução, com termo a longo prazo, que conferem uma estrutura de fornecimento de equipamentos, crédito e serviços à disposição do empresário, disposta de modo altamente vantajoso para o desenvolvimento da atividade empresarial. 4. Tecnologia - que considero o bem (corpóreo ou incorpóreo) mais importante de qualquer empresa, representa a capacidade da empresa de atuar
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