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Equac¸o˜es com Coeficientes Constantes: Equac¸o˜es de Cauchy-Euler O estudo de EDOs lineares de ordem 2 ou superior foi feito com equac¸o˜es de coeficien- tes constantes. Trabalharemos agora um tipo de equac¸a˜o linear que possui coeficientes varia´veis, chamada equac¸a˜o de Cauchy-Euler. Equac¸o˜es de Cauchy - Euler Forma geral dessas equac¸o˜es: anx n dy n dxn + an−1xn−1 dn−1y dxn−1 + · · ·+ a1xdy dx + a0y = g(x) (1) com an, an−1, . . . , a1, a0 ∈ R (constantes). Observe que o grau dos monoˆmios coincide com a ordem das suas derivadas. Faremos um estudo particularizado para equac¸o˜es (1) de 2a ordem: (pore´m, para ordem superior e´ equivalente). ax2 d2y dx2 + bx dy dx + cy = g(x) (2) com a 6= 0, x 6= 0, portanto as soluc¸o˜es y(x) esta˜o em (−∞, 0) ou (0,∞). 1 Me´todo de resoluc¸a˜o Trabalharemos primeiro com equac¸o˜es de Cauchy-Euler do tipo homogeˆnea (g ≡ 0): ax2y′′ + bxy′ + cy = 0 (3) Procuremos soluc¸o˜es da forma y(x) = xm, em que m devera´ ser determinado. Substituindo na equac¸a˜o, temos y′(x) = mxm−1 e y′′(x) = m(m− 1)xm−2. Assim, ax2(m(m− 1)xm−2) + bx(mxm−1) + cxm = 0 am(m− 1)xm + bmxm + cxm = 0 xm(am(m− 1) + bm+ c) = 0, e como x 6= 0, enta˜o podemos concluir am(m−1)+bm+c = 0, ou de forma equivalente, am2 + (b− a)m+ c = 0 (4) chamada de Equac¸a˜o Caracter´ıstica ou Equac¸a˜o Auxiliar da equac¸a˜o de Cauchy- Euler. Para determinar o valor de m, precisaremos fazer o estudo do descriminante: • ∆ > 0: Ra´ızes reais e distintas: teremos duas ra´ızes m1 e m2, com m1 6= m2. Assim, teremos duas soluc¸o˜es y1(x) = x m1 e y2(x) = x m2 que sa˜o L.I. (verificar!), e pelo Teorema da Soluc¸a˜o Geral de equac¸o˜es lineares homogeˆneas, temos a soluc¸a˜o y(x) = C1x m1 + C2x m2 . Exemplo 1 Resolva a equac¸a˜o x2 d2y dx2 − 2xdy dx − 4y = 0. Resp: y(x) = C1x 4 + C2x −1. 2 • ∆ = 0: Ra´ızes reais e iguais. Enta˜o m1 = m2. Como ∆ = 0, enta˜o as ra´ızes da equac¸a˜o caracter´ıstica ficam m1 = m2 = m = −(b− a) 2a , o que implica que uma soluc¸a˜o para a equac¸a˜o (3) e´ y1(x) = x m. Sabendo que estamos trabalhando com uma EDO de 2a ordem, uma soluc¸a˜o e´ gerada pela combinac¸a˜o linear de duas func¸o˜es. Assim, podemos ir atra´s da outra soluc¸a˜o, a partir de m: primeiro arrumamos a equac¸a˜o (3): ax2y′′ + bxy′ + cy = 0 (÷ ax2) y′′ + b ax y′ + c ax2 y = 0, que e´ uma EDO linear de 2a ordem. Aplicando o me´todo de reduc¸a˜o de ordem de uma EDO linear de 2a ordem, estudada em aulas antetiores, temos uma expressa˜o para determinar a outra soluc¸a˜o: y2(x) = y1(x) ∫ e− ∫ P (x)dx y21(x) dx, em que, neste caso, y1(x) = x m 6= 0, P(x) = b ax . Desta forma, y2(x) fica: y2 = x m ∫ e− ∫ b ax dx (xm)2 dx = xm ∫ e− b a lnx x2m dx = xm ∫ x−b/a · x−2mdx = xm ∫ x−b/a−2mdx = xm ∫ x−b/a+ 2(b−a) 2a dx uma vez que m = −(b− a) 2a . Fazendo as contas, temos y2(x) = x m ∫ x−1dx = xm lnx 3 e portanto, y2(x) = x m lnx. Assim, temos a soluc¸a˜o geral: y(x) = C1x m + C2x m lnx. Exerc´ıcio 1 Resolva 4x2y′′ + 8xy′ + y = 0. Resp: y(x) = C1x −1/2 + C2x−1/2 lnx. Observac¸a˜o 1 Mostra-se que, para equac¸o˜es de ordem superior, se m for ra´ız da equac¸a˜o caracter´ıstica de multiplicidade k, enta˜o a soluc¸a˜o geral e´ a combinac¸a˜o linear das func¸o˜es xm, xm lnx, xm(lnx)2, . . . , xm(lnx)k−1. • ∆ < 0: Ra´ızes complexas e conjugadas. Logo m1 = α + iβ, m2 = α− iβ, em que α, β ∈ R. Enta˜o a soluc¸a˜o geral e´ dada por y(x) = C1x α+iβ + C2x α−iβ. (5) Mas, e´ deseja´vel escrever a soluc¸a˜o como combinac¸a˜o linear de func¸o˜es reais. Para isto, vamos usar algumas identidades: Note que, usando propriedade de logaritmo, xiβ = (elnx)iβ = eiβ lnx. Pela fo´rmula de Euler, xiβ = eiβ lnx = cos(β lnx) + isen(β lnx). Da mesma forma, x−iβ = e−iβ lnx = cos(β lnx)− isen(β lnx). 4 Somando e subtraindo os u´ltimos resultados, temos xiβ + x−iβ = 2 cos(β lnx). (6) e xiβ − x−iβ = 2isen(β lnx). (7) Sabemos que (5) e´ soluc¸a˜o da equac¸a˜o (3). Nela, se C1 = C2 = 1, enta˜o uma soluc¸a˜o e´ y1 = x α(xiβ + x−iβ). E se C1 = 1, C2 = −1, enta˜o outra soluc¸a˜o e´ y2 = x α(xiβ − x−iβ). Usando (6) e (7), concluimos que y1 = 2x α(cos(β lnx)) (8) e y2 = 2ix α(sen(β lnx)). (9) Mostra-se que o Wronskiano das func¸o˜es xα cos(β lnx) e xαsen(β lnx) e´ W = βx2α−1 6= 0, β 6= 0 (Exerc´ıcio) o que prova que as soluc¸o˜es xα cos(β lnx) e xαsen(β lnx) sa˜o L.I. Pelo Teorema da soluc¸a˜o geral para equac¸o˜es de 2a ordem, temos que y(x) = xα(C1 cos(β lnx) + C2sen(β lnx)) e´ soluc¸a˜o geral da equac¸a˜o (3), quando as ra´ızes da Equac¸a˜o Caracter´ıstica (4) sa˜o com- plexas e conjugadas. Exerc´ıcio 2 Resolva a equac¸a˜o x2 d2y dx2 + 3x dy dx + 3y = 0. 5