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IMPACTO DA REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER NA PERCEPÇÃO DO PACIENTE

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL – ULBRA 
CAMPUS CACHOEIRA DO SUL
CURSO DE PSICOLOGIA
CAMILA DA SILVA ESTRÁZULAS
IMPACTO DA REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER NA PERCEPÇÃO DO PACIENTE
							
Cachoeira do sul
2015
CAMILA DA SILVA ESTRÁZULAS
IMPACTO DA REVELAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER NA PERCEPÇÃO DO PACIENTE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – Campus Cachoeira do Sul.
Orientadora: Profª. Ms. Gisele Trommer Martines
							
		
Cachoeira do Sul
2015
		
DEDICATÓRIA
 Dedico este trabalho ao Centro Regional de Oncologia do município de Cachoeira do Sul e a Liga Feminina de Combate ao Câncer, pelo comprometimento em ajudar e defender os interesses dos pacientes. 
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pelas oportunidades e por estar concluindo esta etapa tão importante na minha vida. 
Aos meus pais João Altamir Estrázulas e Rosângela da Silva Estrázulas, aos quais me espelho e que tanto amo, por todos os ensinamentos, que nos momentos difíceis e de angústia, estiveram comigo me dando forças para continuar lutando pelos meus objetivos. A minha amada Vó Odila da Silva (in memorian) e minha tia Rosalva da Silva, por toda ajuda que me deram sempre.
Agradeço às minhas professoras, Gisele, Ana Carina, Marcele e Laura, mestres que levarei para sempre no coração, obrigada por toda ajuda, dedicação e carinho com que exercem a profissão. Em especial a minha Orientadora Gisele Trommer Martines, pelo apoio, experiências compartilhadas e atenção.
A toda Equipe do Hospital de Caridade e Beneficência, pelo acolhimento no meu período de estágio. Especialmente a psicóloga e amiga Camila Ribeiro Santos pela confiança que depositou em mim, por acreditar na minha capacidade, pela dedicação, pelo imenso aprendizado que obtive, fazendo com que eu me apaixonasse ainda mais pela nossa profissão, também deixo meu agradecimento as amigas, assistente social Mariana Torres da Silva Nazar e Tatiane Heidemann Damiani, pelas manhãs divertidas no HCB. 
Agradecer imensamente aos amigos que participaram desta caminhada incansável, que amo, admiro e que me deram total apoio, quero-os sempre comigo. Amigas que a faculdade me deu, que levarei para a vida toda, as PSICOGATAS e o meu melhor amigo Guilherme. A minha melhor amiga de infância, Priscila, que está comigo há 22 anos; as amigas e colegas de profissão Augusta, Angela, Regina, Carol, Liliam, Etiele; e ao Leonardo pelo carinho. E tantos outros que sabem o quanto são importantes para mim. 
E, por fim e não menos importante, os demais que direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho, que fizeram parte da minha carreira acadêmica, muito obrigada. 
À todos, deixo aqui, meus sinceros agradecimentos. 
RESUMO
A atuação do psicólogo no tratamento a pacientes oncológicos é de extrema importância tendo em vista o sofrimento que esta doença causa. A alta incidência do câncer gera temor entre as pessoas, pois sua dimensão histórica denota, ainda nos dias atuais, ser uma doença incurável associada à morte, desencadeando assim, sofrimentos psicológicos, ansiedades e angústias. O câncer possui um significado ameaçador para o paciente, visto que está associado à interrupção da vida. Este estudo teve como objetivo investigar a experiência do processo de revelação do diagnóstico de câncer, analisar as diferentes reações dos pacientes no momento da revelação do diagnóstico de câncer, identificar as alternativas utilizadas para o suporte após o diagnóstico bem como, verificar como foi à adesão ao tratamento, após a confirmação do diagnóstico. Para a realização desta pesquisa, a partir dos objetivos propostos, considerou-se pertinente utilizar um estudo qualitativo descritivo, de caráter exploratório, considerando o delineamento mais adequado para a investigação sobre o impacto da revelação do diagnóstico de câncer na percepção do paciente. O instrumento utilizado para a realização desta pesquisa foi uma entrevista semi-estruturada. As entrevistas realizadas foram gravadas e transcritas. Os resultados desta pesquisa serão apresentados em duas partes: Primeiramente serão descritos os dados demográficos dos participantes e após serão apresentadas as categorias que foram construídas a partir dos relatos dos participantes. Portanto, através dessa pesquisa foi possível a compreensão de que cada indivíduo receberá o diagnóstico de câncer da sua maneira e que se faz necessário o acompanhamento psicológico no momento da revelação, para que desde o início do processo o indivíduo esteja preparado para enfrentar as limitações que a patologia pode lhe trazer, o que dependerá do estágio que se encontra e do procedimento a ser adotado pelo profissional de saúde.
Palavras-chaves:
CÂNCER, PSICO-ONCOLOGIA, IMPACTO PSICOLÓGICO, APOIO.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO	..................................................................................................... 06
1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA	08
1.1 O QUE É CÂNCER 	08
1.2 ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE COM CÂNCER 	09
1.3 A RELAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE COM O PACIENTE ONCOLÓGICO 	11
1.4 CONVIVENDO COM O CÂNCER 	13
2 OBJETIVOS	16
2.1 OBJETIVO GERAL	16
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS	16
3 METODOLOGIA ............................................................................................... 17
3.1 DELIENAMENTO DA PESQUISA ..................................................................17
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA ................................................................. 18
3.3 INSTRUMENTOS .......................................................................................... 19
3.4 COLETA DE DADOS ..................................................................................... 19
3.5 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................. 19
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSAO DOS RESULTADOS	21
4.1 DESCRIÇÃO DOS PARTICIPANTES 	21
4.2 CATEGORIAS CONSTRUIDAS A PARTIR DAS ENTREVISTAS 	22
4.2.1 O enfrentamento do diagnóstico: o impacto da revelação ................... 22
4.2.2 Os recursos utilizados como apoio para o enfrentamento 
do diagnóstico ................................................................................................... 25
4.2.3 O tratamento e os efeitos colaterais/psicológicos no paciente ........... 28
CONSIDERAÇÕES FINAIS	32
REFERÊNCIAS	 34
APÊNDICES	37
ANEXOS	40
INTRODUÇÃO
A atuação do psicólogo no tratamento a pacientes oncológicos é de extrema importância tendo em vista o sofrimento que esta doença causa.
O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA, 2014), caracteriza câncer sendo o nome dado a um conjunto de mais de cem tipos diferentes de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células anormais com potencial invasivo. Além disso, sua origem se dá por condições multifatoriais. Esses fatores causais podem agir em conjunto ou em sequência para iniciar ou promover o câncer (carcinogênese). Na década de 30 o INCA iniciou a caminhada no combate ao câncer, que se estende até os dias atuais. 
A alta incidência do câncer gera temor entre as pessoas, pois sua dimensão histórica denota, ainda, nos dias atuais, ser uma doença incurável associada à morte, desencadeando, assim, sofrimentos psicológicos, ansiedades e angústias. Dessa forma, o momento da revelação do diagnóstico é crucial para o paciente e a forma como o profissional de saúde dá esta notícia interfere diretamente na relação do paciente com seu diagnóstico. O câncer ainda hoje é considerado um grande problema de saúde pública pelos elevados números de estimativas quanto
a diagnósticos futuros, mantendo-se ainda como a mais importante causa de mortes e mobilidades e sendo a doença que gera mais temor entre as pessoas. 
Por trás do diagnóstico “câncer" oculta-se um grande padrão sob a forma de fantasma que nos assombra desde os tempos antigos, atingindo não apenas aqueles diretamente afetados, mas familiares e a sociedade entorno. A palavra Câncer muitas vezes não é mencionada pelas pessoas por medo de um dia serem vítimas dele. A forma de enfrentar e conviver com este diagnóstico depende exclusivamente de cada pessoa e de como vai reagir seu organismo. Os tratamentos mais fortes e usados como a quimioterapia e radioterapia mexem muito com o organismo e o psíquico do indivíduo, podendo causar alterações no humor fazendo com que os relacionamentos interpessoais sejam afetados muitas vezes. Os familiares destes pacientes não estão preparados também para lidarem com isso, portanto sofrem junto, sendo indispensável e de muita importância o apoio dos mesmos neste momento. 
Apesar, de hoje, haver grandes avanços na tecnologia quanto à pré-diagnósticos e prevenção do câncer, este mal ainda pode levar à morte e o ser humano não tende a encarar abertamente seu fim na vida. Sendo assim, o paciente com câncer, angustiado pelo medo da morte, ficará voltado para si mesmo podendo desencadear outras doenças emocionais como a depressão que é a mais comum. 
Com a finalidade de possibilitar uma melhor compreensão da temática, este trabalho apresenta no primeiro capítulo, quatro fundamentos teóricos sobre a definição do Câncer, aspectos emocionais do paciente, a relação do profissional de saúde com o paciente oncológico e também, a questão de conviver com o câncer. No segundo capítulo deste trabalho, apresentam-se os objetivos e a metodologia utilizada está descrita no terceiro capítulo. Já o quarto capítulo está reservado à apresentação dos resultados obtidos. No quinto capitulo, apresenta-se a discussão dos resultados juntamente com aspectos teóricos. E, por fim, encontram-se as considerações finais deste trabalho. 
Tendo em vista estas considerações, o presente estudo teve por objetivo investigar a experiência do processo de revelação do diagnóstico de câncer na percepção do paciente. Os resultados foram obtidos através de uma entrevista semi-estruturada e os dados foram analisados através do método de Bardin (2010), que permitiu um maior entendimento sobre o que se buscou investigar. Os entrevistados tinham entre 56 e 59 anos e três deles ainda estavam em tratamento reincidente. 
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
1.1 O QUE É O CÂNCER? 
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de cem doenças que têm em comum o crescimento desordenado (maligno) de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se (metástase) para outras regiões do corpo. Dividindo-se rapidamente, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. Por outro lado, um tumor benigno significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um risco de vida. Os diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo. Por exemplo, existem diversos tipos de câncer de pele, pois, a pele é formada de mais de um tipo de célula. Se o câncer tem início em tecidos epiteliais como pele ou mucosas ele é denominado carcinoma. Se começa em tecidos conjuntivos como osso, músculo ou cartilagem é chamado de sarcoma (INCA, 2014).
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2014), outras características que diferenciam os diversos tipos de câncer entre si são a velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos vizinhos ou distantes (metástases). As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais.
De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Alguns deles são bem conhecidos: o cigarro pode causar câncer de pulmão, a exposição excessiva ao sol pode causar câncer de pele, e alguns vírus podem causar leucemia. Outros estão em estudo, como alguns componentes dos alimentos que ingerimos, e muitos são ainda completamente desconhecidos (INCA, 2014).
O tratamento do câncer pode ser feito através de cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou transplante de medula óssea. Em muitos casos, é necessário combinar mais de uma modalidade. A radioterapia é um tratamento no qual se utilizam radiações para destruir um tumor ou impedir que suas células aumentem. Estas radiações não são vistas e durante a aplicação o paciente não sente nada. A radioterapia pode ser usada em combinação com a quimioterapia ou outros recursos usados no tratamento dos tumores. Metade dos pacientes com câncer são tratados com radiações, e é cada vez maior o número de pessoas que ficam curadas com este tratamento. Para muitos pacientes, é um meio bastante eficaz, fazendo com que o tumor desapareça e a doença fique controlada, ou até mesmo curada.
	O tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes que formam um tumor é a quimioterapia. Dentro do corpo humano, cada medicamento age de uma maneira diferente. Por este motivo são utilizados vários tipos a cada vez que o paciente recebe o tratamento. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se espalhem pelo corpo. Geralmente, o tratamento do câncer requer a combinação de mais de um método terapêutico, o que aumenta a possibilidade de cura, diminui as perdas anatômicas, preserva a estética e a função dos órgãos comprometidos (INCA, 2014).
1.2 ASPECTOS EMOCIONAIS DO PACIENTE COM CÂNCER 
Conforme Silva et al., (2008), o câncer desencadeia reações devastadoras tanto no âmbito orgânico como no emocional, provocando sentimentos, desequilíbrios e conflitos internos, além de causar um sofrimento tão intenso capaz de resultar em desorganização psíquica, consequências estas que, de acordo com Penna (apud SILVA& RODRIGUES et al., 2008), vão depender da localização, do estágio da doença e do tratamento. Apesar do avanço tecnológico da medicina, o seu diagnóstico ainda é encarado, muitas vezes, como sentença de morte. Desse modo, embora seja comprovado que 50% dos casos são passíveis de cura ou controle, esta imagem persiste principalmente pelo rótulo “terminal” (KOVÁCS, 1992).
Segundo Borges & Silvaet al. (2006), para o paciente, o câncer traz em si a consciência da possibilidade de morte. Essa ideia vem acompanhada de angústia e temores que perpassam o desenrolar do tratamento. De acordo com Kovács (1992) citado pelo autor acima, o medo é a resposta psicológica mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos.
Com relação a sobrevivência ao câncer de mama, Silva & Santos (2010) consideram, por exemplo, que é um processo que se inicia no momento do diagnóstico e não cessa, prolongando-se até o final da vida. No entanto, estudos têm evidenciado que a sobrevivência está associada a diversas mudanças que impactam a vida da mulher em diferentes fases, cada qual com suas demandas específicas, que afetam o ajustamento psicossocial de forma singular. Após esse período, o paciente precisa continuar se submetendo a exames periódicos a fim de monitorar sua condição clínica. Do segundo ao quinto ano, período aqui denominado pós-tratamento, os retornos médicos, embora menos frequentes,
se mantêm a fim de rastrear a possibilidade de metástase, ou eventual recidiva da doença. 
A vivência do período pós-tratamento do câncer expõe o paciente a inúmeros estressores, compatíveis com o enfrentamento de doença crônica complexa, que ameaça sua integridade física e que exige cuidados intensivos (SILVA & SANTOS, 2010).
Em muitos casos, Volpato & Santos (2007) ressaltam que, o paciente com diagnóstico de câncer precisa de uma ajuda contínua em sua vida diária, surge a necessidade de um familiar se dedicar a esses cuidados, que são essenciais não apenas no momento de doença, mas ao longo da vida do ser humano. Assim o cuidado é parte integrante da vida. A denominação cuidar está na maioria das vezes associada à relação de dependência do paciente ou pessoas que precisam de cuidado. Por esse motivo, o cuidado faz parte de um processo de interação interpessoal. Por cuidadores, podemos definir todas as pessoas envolvidas no atendimento das necessidades dos pacientes, sejam elas físicas e/ou psicossociais. Dessa forma, Carvalho (apud VOLPATO & SANTOS, 2007) enfatizasobre os cuidadores que, podem ser tanto a equipe de saúde como os familiares do próprio paciente. 
De acordo com Borges & Silva et at., (2006) sabe-se que, sob o aspecto psicológico, os enfermos experimentam reações de reajustamento que podem ser chamadas de estágios do processo de morrer, formulados por E. Kübler-Ross (apud BORGES & SILVA et al., 2006). Os cinco estágios são denominados como: 1) negação; 2) raiva; 3) barganha; 4) depressão e 5) aceitação. Nem todos passam pelos estágios nesta ordem e nem todos completam o processo. 
O autor ainda ressalta que a morte em si não é um problema para o paciente, mas sim, o medo de morrer, que nasce do sentimento de desesperança, de desamparo e isolamento que o acompanha. Por isso, o profissional que está em contato com o paciente considerado terminal precisa estar em paz com a vida e com a morte, sabendo que a morte é parte da vida e que por isso precisa ser cuidada. O paciente precisa ser ouvido e se sentir acolhido em seu sofrimento, para auxiliar no enfrentamento do medo da própria morte deflagrada pela doença e/ou terminalidade. O processo psicoterápico de pacientes abre um espaço para estes falarem daquilo que for de sua necessidade. A ênfase é na qualidade de vida e em sua ressignificação (BORGES& SILVA et al., 2006).
1.3 A RELAÇÃO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE COM O PACIENTE ONCOLÓGICO
Segundo Silva & Aquino et al., (2008) a relação médico-paciente é uma temática que, atualmente, encontra um renovado interesse na comunidade científica, na formação e na prática médica. Trata-se de uma aprendizagem indispensável para uma intervenção médica eficaz, que perceba o processo do adoecer sob a ótica daquele paciente que se insere em uma experiência de fragilidade e de ameaça ao seu estado de ser saudável e ativo. Diversos trabalhos mostram que a maioria das queixas dos pacientes faz referência a dificuldades comunicacionais com o médico e não a sua competência clínica, apontando que um bom relacionamento aumenta a satisfação do paciente e a qualidade do serviço de saúde, além de influenciar positivamente o estado de saúde do paciente. Sob a perspectiva da oncologia, nota-se que esta relação carrega peculiaridades que lhe são próprias. Por se tratar de uma doença percebida como traumatizante, perante o imaginário pessoal e coletivo, sua abordagem torna-se especialmente difícil. Angústias, medos e sofrimentos apresentam-se na vida dos pacientes e de suas famílias, necessitando estabelecer um vínculo com o profissional como coadjuvante terapêutico.
Segundo Recco & Luiz et al., (2005) a enfermagem se preocupa com o cuidado à pessoa em uma variedade de situações relacionadas à saúde. Assim, vemos a medicina envolvida com a cura e a enfermagem com o cuidado daquele paciente. Este cuidado inclui papéis significativos na educação para a saúde e a prevenção de doenças, bem como o cuidado individual. A enfermeira deve estar pronta para dar apoio ao paciente e sua família durante uma diversidade de crises físicas, emocionais, sociais, culturais e espirituais. O cuidado de enfermagem possibilita que a dor e o sofrimento sejam evitados, atenuados ou reforçados, através do cuidado e conforto, visando o bem-estar do cliente. Na pessoa com câncer a experiência de sofrimento é exacerbada, talvez pela doença ser conhecida culturalmente, não só pelos pacientes, mas também pelos profissionais, como a doença que aproxima o ser humano da morte. Este conceito pode promover tanto um desequilíbrio naquele que está doente e sua família, como um sentimento de medo e insegurança na equipe de enfermagem. O medo e a insegurança, muitas vezes, levam o profissional a negar sentimentos e a distanciar-se do paciente como uma estratégia de auto-proteção, o profissional não quer sofrer.
Assim, esses profissionais acabam apresentando reações diversas em relação ao sofrimento do paciente oncológico, Recco & Luiz et al., (2005) salientam que isso tem haver tanto à doença como ao tratamento, o que exige do profissional controle constante das emoções, para isso é preciso conhecimento, preparo psicológico e habilidade. 
Segundo Schütz (apud POPIM & BOEMER, 2005), somente uma pequena parte de nosso conhecimento origina-se de nossas experiências pessoais. A maior parte tem origem social, transmitida pelos nossos contemporâneos e antecessores. Do mesmo modo, os enfermeiros, durante a vida profissional, vão adquirindo experiências no trato com o paciente oncológico, constituindo em suas mentes um típico de pessoa, no caso, a pessoa doente.
Dificuldades no campo da comunicação de diagnósticos e prognósticos de câncer contribuíram para a disseminação da “mentira piedosa” ou da “falsidade benevolente”, termos empregados para sustentar, apesar da difícil justificação moral, o engano na relação médico-paciente. Entre as principais consequências éticas desencadeadas estão o estímulo a atitudes paternalistas e protetoras para com o paciente e a conseqüente interferência no pleno exercício da autonomia do paciente (GEOVANINI & BRAZ, 2013).
A Psicologia da Saúde tem como objetivo compreender como os fatores biológicos, comportamentais e sociais influenciam na saúde e na doença. Ainda é valido ressaltar que a Psicologia da Saúde tem o propósito de aplicar seus conhecimentos e técnicas para a promoção e manutenção da saúde individual, coletiva e de toda a população, pautando-se em atividades nos níveis primário, secundário e terciário. No caso do câncer, os psicólogos da saúde, objetivam atuar no nível primário, a fim de criar medidas preventivas para evitar o surgimento da doença (MIRANDA, 2012).
A Psico-Oncologia representa a área de interface entre a Psicologia e a Oncologia e utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico proveniente da Psicologia da Saúde para aplicá-lo: 1º) Na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de Saúde envolvidos com a prevenção, o tratamento, a reabilitação e a fase terminal da doença; 2º) Na pesquisa e no estudo de variáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer; 3º) Na organização de serviços oncológicos que visem ao atendimento integral do paciente, enfatizando de modo especial a formação e o aprimoramento dos profissionais da Saúde envolvidos nas diferentes etapas do tratamento (MIRANDA,2012).
	
1.4 CONVIVENDO COM O CÂNCER
Segundo Salci & Marcon (2010), destacam que o vivenciar de um câncer desencadeia uma nova reflexão sobre a vida, pois, uma vez instalada a doença, a pessoa necessita de uma série de mudanças nos hábitos de vida e entre elas um acompanhamento rigoroso de seu estado de saúde, afinal as recidivas da doença são inevitáveis em alguns casos. A descoberta deste diagnóstico ocorre dentro de um contexto familiar, desencadeando mudanças na família como um todo, de forma que os familiares, em maior ou menor grau, são afetados pelas situações decorrentes
da doença. A trajetória percorrida após o diagnóstico de câncer envolve inicialmente uma fase de conflito emocional desencadeada pela descoberta da doença; as fases seguintes são acompanhadas de percepções sobre mudanças e alterações relacionadas a vários aspectos da vida, decorrentes da doença e dos tratamentos e por fim, uma fase de adaptação para viver no mundo como portador de câncer, o que implica a adoção de um novo estilo de vida. 
Conviver com o câncer implica continuar a trajetória de vida sabendo que já foi portadora de uma doença grave. Assim, os pacientes ficam mais atentos a tudo o que acontece de diferente em seu corpo, buscando ajuda médica mais rapidamente. As famílias também ficam mais atentas e em “estado de alerta” em relação às queixas de problemas de saúde em seus membros (SALCI & MARCON, 2010). 
Os autores ainda colocam que é interessante observar que após serem submetidos aos diferentes tratamentos para o câncer, as pessoas tendem a mudar o significado que atribuíam ao câncer, o qual deixa de ser percebido única e exclusivamente como sinônimo de morte. No entanto, um estudo realizado com mulheres com metástase e em tratamento quimioterápico pela segunda vez, pontua que a repetição representa para elas algo amedrontador e que o medo da morte é vivenciado de forma tão significativa que a mulher tem grande possibilidade de apresentar alterações psicossomáticas (SALCI & MARCON, 2010).
Os autores Salci & Marcon (2010), ressaltam que nessa nova fase de suas vidas, em que sobreviveram ao diagnóstico de câncer e aos efeitos indesejáveis dos tratamentos antineoplásicos, o significado do surgimento de alterações no corpo acaba sendo mais valorizado pelos pacientes e seus familiares, uma vez que se tornaram mais atentos aos problemas de saúde, pois, quando surge algo diferente, não ficam à espera de uma evolução e rapidamente procuram um médico para esclarecer o problema que suscita-lhes preocupações e angústia. Entretanto, sendo inevitável deparar-se, em algum momento, com casos de pessoas que não obtiveram o mesmo sucesso que e morreram, os pacientes tentam arrumar estratégias para não pensarem na doença. Procuram não lembrar o fato, e exercitam mentalmente para focalizarem os pensamentos em um futuro promissor e não no passado. 
De acordo com Simões (2009), a reação de cada paciente frente à sua doença dependerá de fatores intrínsecos e extrínsecos que apóiam a formação psíquica de cada ser, como também suas experiências passadas e como elas afetam a percepção atual da enfermidade (BIANCHINI & DELL’AGLIO, 2006). Essa capacidade de enfrentamento se encaixa com o conceito de resiliência que segundo Laranjeiras (2007) é a adaptação do indivíduo a situações adversas, conseguindo superá-las através de fatores internos e externos para uma construção psíquica saudável. 
Utilizando o termo “resiliência” voltado de forma específica para o enfrentamento do câncer, “a resiliência, seria a capacidade de um individuo lidar com a doença, aceitando suas limitações, colaborando com aderência ao tratamento, readaptando-se e sobrevivendo de forma positiva” (BIANCHINI & DELL’AGLIO, 2006).
Para Rodrigues & Polidori (2012) o processo de enfrentamento não garante a solução do problema. Para tal, é necessário que o indivíduo seja resiliente, pois resiliência implica em ações de confronto e superação. Em pacientes oncológicos, resiliência é definida como a capacidade de superar e ressignificar positivamente as situações adversas, manejando a doença e o tratamento ao longo do tempo. Conhecer a capacidade de enfrentamento e resiliência dos pacientes possibilita o desenvolvimento de ações que envolvem educação em saúde, além de influenciar o nível de adesão ao tratamento, de modo que cada fator, envolvido positivamente no processo de reabilitação, seja um alvo de intervenção da equipe multiprofissional.
OBJETIVOS
2.1 OBJETIVOS GERAIS
Investigar a experiência do processo de revelação do diagnóstico de câncer. 
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Analisar as diferentes reações dos pacientes no momento da revelação do diagnóstico de câncer;
Identificar as alternativas utilizadas para o suporte após o diagnóstico;
Verificar como foi à adesão do tratamento, após a confirmação do diagnóstico.
3 METODOLOGIA
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
Para a realização desta pesquisa, a partir dos objetivos propostos para o trabalho, considerou-se pertinente utilizar um estudo qualitativo descritivo, de caráter exploratório (GIL, 2010), considerando o delineamento mais adequado para a investigação sobre o impacto da revelação do diagnóstico de câncer na percepção do paciente. Salienta-se que as pesquisas exploratórias são aquelas que têm por objetivo explicitar e proporcionar maior entendimento de um determinado problema. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisar procura um maior conhecimento sobre o tema estudado (GIL, 2010). 
A pesquisa classifica-se, ainda, qualitativa uma vez que não se vale de instrumentos estatísticos no processo de análise do seu problema. Acerca desse tipo de pesquisa, Minayo (2002) assevera que é uma forma adequada para o conhecimento da natureza de um fenômeno social, haja vista o pesquisador coletar os dados na realidade pesquisada para, posteriormente, analisá-los de forma indutiva. 
Além disso, a pesquisa qualitativa, conforme Minayo (2002) aprofunda-se nos significados das ações e relações humanas, um lado não perceptível e captável em modelos lógicos. Tal abordagem é capaz de propiciar uma compreensão detalhada de um evento possibilitando explicações de comportamento. Nesta, ainda, a representatividade amostral não é numérica, ou seja, a amostra torna-se ideal quando consegue refletir a totalidade nas suas múltiplas dimensões privilegiando os sujeitos que detêm os atributos que o entrevistador pretende conhecer. 
Os participantes foram selecionados por conveniência e o critério utilizado foi ter passado pelo processo de câncer. 
O instrumento utilizado para coleta de dados foi uma entrevista semi-estruturada que, de acordo com Minayo (2010), caracteriza-se por um roteiro combinando questões abertas de maneira a tornar-se mais flexível para a abordagem do tema. Efetivou-se um convite a pacientes oncológicos, que foram marcados dias separados para cada entrevista. A autorização dos participantes foi formalizada mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido a fim de atingir os parâmetros de pesquisa com seres humanos. 
As entrevistas gravadas e transcritas na íntegra foram analisadas através do método proposto por Bardin (2010) e a partir daí levantadas três categorias a serem discutidas juntamente com a fundamentação teórica. 
3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA
Para compor este estudo, participaram quatro pessoas do município de Cachoeira do Sul/RS, usuárias do Centro Regional de Oncologia. Todos os participantes já passaram pela doença, sendo que, três deles ainda permaneciam em tratamento. 
Para identificação dos sujeitos e com o intuito de preservar as suas identidades foram denominados os nomes Participante 1 (P1), Participante 2 (P2), Participante 3 (P3) e Participante 4 (P4) (QUADRO 1). 
Quadro 1
Identificação dos participantes
	PARTICIPANTE
	IDADE
	
	DIAGNÓSTICO DE CÂNCER (CA)
	
	NÍVEL SOCIO ECONOMICO
	P1 (Feminino)
	58
	
	Ca de mama Metástase óssea 
	
	Médio
	P2 (feminino)
	56
	
	Ca mama seguida de Ca pulmonar 
	
	Médio
	P3 (feminino)
	56
	
	Ca de mama bilateral, seguida de metástase no fígado. 
	
	Médio alto
	P4 (masculino)
	59
	
	Melanoma
	
	Médio alto
3.3 INSTRUMENTOS
	Como instrumentos de coleta de dados foram utilizados, uma entrevista semi-estruturada, (APÊNDICE I), um gravador e utilizou-se também a ficha de dados demográficos, a fim de coletar informações pessoais dos participantes. (APÊNDICE II). Para Cunha (2002), a entrevista semi-estruturada caracteriza-se por perguntas abertas realizadas, verbalmente, em uma
ordem prevista. Segundo ela, há a possibilidade do entrevistador acrescentar perguntas de esclarecimento e estas podem ser reformuladas, para atender as necessidades do entrevistado. Na entrevista semi-estruturada, pode-se introduzir outras questões que surgem, de acordo com o que acontece no processo, em relação às informações que se deseja. 
3.4 COLETA DE DADOS
Após a aprovação do trabalho pelo Comitê de Ética de Pesquisa da Universidade Luterana do Brasil (ANEXO I), foi feito o contato com o Centro Regional de Oncologia (CRO) e após obtido a autorização do responsável pelo local (ANEXO II), por conveniência, realizou-se o convite há pacientes que utilizam o Centro Regional de Oncologia(CRO) do município de Cachoeira do Sul. Após buscou-se marcar os encontros para a realização das entrevistas com os participantes, marcando dias separados para cada uma das entrevistas, que foram realizadas no CRO. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO III) foi devidamente explicado, entregue e assinado a todos os participantes no momento da entrevista.
	
3.5 ANÁLISE DE DADOS
	As entrevistas realizadas foram gravadas e transcritas na íntegra, após isto, foram analisadas de acordo com o método de análise de conteúdo, descrito por Bardin (2010). Esta abordagem, segundo a autora, é um método qualitativo que consiste em um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, permite a descrição dos conteúdos das mensagens. 
	Para a organização da análise de conteúdo proposta nesse estudo, foram adotadas as cinco etapas sugeridas por Bardin (2010), sendo elas: preparação das informações, transformação do conteúdo em unidades, classificação das unidades em categorias, descrição e interpretação. 
A primeira fase denominada pré-análise, ocorreu com a transcrição das gravações das entrevistas realizadas. A partir de uma leitura fluente, os relatos foram submetidos à análise, possibilitando a partir desse momento, a formulação de hipóteses preliminares, de acordo com os objetivos propostos pela pesquisa (BARDIN, 2010).
A seguinte etapa foi a de exploração do material, que segundo Bardin (2010) consiste na enumeração das frases no relato das entrevistas. Esta fase consistiu na seleção de unidades significativas no texto, que foram enumeradas, possibilitando agrupá-las de acordo com o seu conteúdo. Estas unidades foram posteriormente submetidas à classificação. 
A próxima etapa se configurou na transformação das unidades de registro organizadas em categorias mais amplas, conforme os critérios de similaridade de conteúdos ou temas. O objetivo foi o de sintetizar os dados brutos obtidos através da entrevista, em uma representação mais simplificada dos mesmos. Para tal, foi realizada a desconstrução do texto para reconstituí-lo analiticamente em categorias que obedecem as seguintes regras: 1) exclusividade: esta condição indica que um mesmo elemento do conteúdo não pode ser classificado em duas categorias diferentes; 2) homogeneidade: estipula que um único princípio de classificação deve governar a organização; 3) escolhido e em relação ao estabelecimento dos objetivos proposto; 4) objetividade: as diferentes partes de um mesmo material ao qual se aplica a mesma categoria serão codificados da mesma forma; 5) produtividade: um conjunto de categorias oferece resultados férteis (BARDIN, 2010). 
Outra fase distinta da análise, de acordo com Bardin (2010), foi o tratamento dos resultados obtidos, que consiste na apresentação dos dados das categorias, através de um texto síntese, que expressará o conjunto de significados presentes nas diversas unidades de registros incluídas em cada uma delas. É o momento de mostrar os significados captados e lidos nas mensagens analisadas. 
A interpretação aconteceu na última fase, e considerou-se as interpretações dos objetivos propostos por este estudo, ou mesmo, que digam respeito a descobertas inesperadas, com a finalidade de atingir uma compreensão profunda sobre o conteúdo proposto (BARDIN, 2010). 
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSAO DOS RESULTADOS
Os resultados desta pesquisa serão apresentados em duas partes: Primeiramente serão descritos os dados demográficos dos participantes (idade, estado civil, filhos, com quem residem, profissão, ano do diagnóstico e renda familiar). Na segunda parte, serão apresentadas as categorias que foram construídas a partir dos relatos dos participantes.
4.1 DESCRIÇÃO DOS PARTICIPANTES 
.
	a) Participante 1: Sexo feminino, têm 58 anos, casada, tem um casal de filhos, reside com marido e a filha, é professora aposentada, diagnóstico de Câncer de mama em outubro de 2013, e em outubro de 2014 descobriu metástase óssea. Tem renda familiar de nível médio.
	b) Participante 2: Sexo feminino, tem 56 anos, casada, tem duas filhas, reside com marido, uma das filhas e uma irmã, é concursada do município, diagnóstico de Câncer de mama seguido de metástase pulmonar em Março de 2015. Tem renda familiar de nível médio.
	c) Participante 3: Sexo feminino, tem 56 anos, casada, reside com o marido tem dois filhos homens, é empregada domestica aposentada, diagnóstico de câncer de mama bilateral (mama E) 2009, (mama D) 2013 e metástase no fígado em 2015.Tem renda familiar de nível médio alto.
	d) Participante 4: Sexo masculino, tem 59 anos, casado, reside com esposa, tem dois filhos homens, é funcionário público aposentado, diagnóstico de melanoma em 2001.Tem renda familiar de nível médio alto. 
4.2 CATEGORIAS CONSTRUÍDAS A PARTIR DAS ENTREVISTAS
	Através da análise das entrevistas, foram construídas três categorias: 
	a) O enfrentamento do diagnóstico: o impacto da revelação;
	b)Os recursos utilizados como apoio para o enfrentamento do diagnóstico;
	c) O tratamento e os efeitos colaterais/psicológicos no paciente.
4.2.1 O enfrentamento do diagnóstico: o impacto da revelação
Essa categoria busca mostrar, através das verbalizações dos entrevistados o quanto foi difícil receber o diagnóstico de câncer e, em alguns casos, ainda, é difícil para eles aceitarem este diagnóstico que modifica a vida do paciente acometido. A P1 relatou que seu seio estava criando feridas, pois já suspeitava que estivesse com problemas e optou em não fazer nada naquele momento; a P2 que buscou tratamento para pneumonia, relatou o choque após receber o diagnóstico; a P3 relatou o momento e seu pensamento suicida relacionado ao impacto dos diagnósticos; e o P4 relatou o abalo que sentiu quanto ao diagnóstico por ter relação a sofrimentos já vivenciados na família.
O câncer ainda hoje é considerado um grande temor pelos elevados números de estimativas quanto aos diagnósticos futuros, mantendo-se ainda como a mais importante causa de mortes e mobilidades e sendo a doença que gera mais abalo entre as pessoas. Segundo Silva (2005) citado por Silva& Aquinoet al,. (2008), em um estudo realizado com pacientes oncológicos sobre o impacto do diagnóstico de câncer, o momento do diagnóstico é um dos momentos mais críticos na vida de uma pessoa, isso pelo fato de girar em torno do câncer fantasias que o associam com o fim da vida, fato este que foi verbalizado pela P1: 
“O meu câncer, quando eu achei que estava com câncer, eu não fiz nada, eu não estava bem psicologicamente e eu achei que aquilo ali era uma resposta de Deus pra mim me ir. Eu fiquei feliz, até”.
 Conforme Kubler-Ross (1998), uma das reações do paciente diante do diagnóstico de uma doença como o câncer é, em princípio, o choque temporário que, aos poucos, vai sendo substituído pelo pensamento de que isso não pode estar acontecendo, o que, segundo Kaplan et al., (apud SILVA& AQUINO et al,. (2008), seria uma forma de negação em que o paciente pode mostrar-se perplexo, primeiramente, e depois recusar-se a acreditar o diagnóstico ou negar que algo esteja errado, conforme relatou a P3:
“Foi horrível, a primeira vez eu me senti mal, mal mesmo. Quase entrei em depressão. Vontade até de me matar (risos). Maior tristeza do mundo na minha
vida. Não fiz por causa dos meus filhos e os netos né, do marido também, mas foi horrível. Me deu um desespero, quase morri chorando”.
Este sofrimento atribuível à doença oncológica é, em grande parte, adequado à situação e envolve mecanismos de adaptação. Deste processo pode depender um maior ou menor risco de desenvolver uma perturbação psiquiátrica, que venha tornar necessária uma intervenção terapêutica, conforme explica Cardoso & Luengo et al., (2009), sendo possível notar este aspecto na verbalização de P4: 
“Olha, no momento abalou, abalou bastante mesmo. Tanto é que antes de eu ver o resultado da biópsia eu falei com a médica e ela disse o seguinte: tomara que não seja melanoma, entendeu. E quando eu peguei o envelope lá pra ver o resultado da biópsia, abri tenho mania de ver o que que é né, abri e dei de cara com aquela palavra, melanoma. Ai vou te contar, estremeceu foi um terremoto, (...)porque só vêm a morte na tua cabeça. É a única coisa que tu pensa e pra combinar com a situação eu cai em depressão”. 
O relato acima comprova que os achados de Zozaya (apud Santos &Sebastiani, 2003) ao afirmar que o diagnóstico pode gerar algumas reações emocionais como depressão, tristeza, que são freqüentes entre os pacientes, e podem ocorrer desde o momento da descoberta do diagnóstico, bem como ao longo do tratamento.
A perda do controle sobre a vida causa sofrimento e faz surgirem sentimentos de impotência, angústia e isolamento, conforme explica Oliveira & Ribeiro (2011) de acordo com o relato da P2:
“Ah não foi fácil, assim... tu leva um choque porque, eu tava me tratando pra uma coisa, e era outra muito diferente né. E ai foi uma correria, até descobrir e ai faz exame aqui faz exame ali e até tu saber o resultado tu fica naquela coisa né, ou é ou não é. (...) Muda muito, muda a vida da pessoa de uma hora pra outra.”
Segundo Silva (2005) o diagnóstico de câncer traz consigo o significado de doença terminal, que leva a muito sofrimento, portanto, ser diagnosticado por câncer é compreendido pelos pacientes como uma experiência dramática, inesperada e chocante, conforme segue o relato da P3 sobre este mesmo significado: 		
“Ah, o meu primeiro pensamento sabe o que foi?! Porque primeiro eu baixei por Pneumonia, e ai eu tava me tratando como pneumonia. Ai fui fazer os exame e ai deu, né, nódulo no seio e nos pulmões. E daí o meu primeiro impacto, que eu tive, primeiro pensamento, eu pensei no meu pai. Porque o meu pai teve né, e a irmã do meu pai também teve. E ai, a primeira coisa assim que tu pensa:, “bah fulana já passou trabalho né”! 
	
	Conforme Cardoso & Luengo et al., (2012) cada doente lida com a doença oncológica de forma pessoal e individual, contudo, o fato de alguns doentes oncológicos tenderem a suprimir a expressão das suas emoções, pode contribuir para o aumento dos níveis de ansiedade e depressão. Pelo contrário, os doentes que utilizam estratégias focadas no problema e que procuram apoio psicossocial, conseguem manter uma auto-estima elevada.
	O câncer é visto por muitos pacientes, como uma doença silenciosa, sendo relacionada até mesmo com um vulcão, que a qualquer momento pode entrar em erupção e mudar suas vidas. Independente do prognóstico, o diagnóstico de câncer ainda é entendido pelos indivíduos como uma doença que põe suas vidas em risco, e que após a confirmação estão sem chão. Junto com este impacto, iniciasse uma dura e longa corrida contra o tempo, o que gerará ao paciente mais dúvida e incerteza acerca da possibilidade de cura. 
	
4.2.2 Os recursos utilizados como apoio para o enfrentamento do diagnóstico
Esta categoria representou, através da verbalização dos entrevistados, os recursos que os mesmos buscaram para enfrentar o diagnóstico bem como o tratamento para o câncer. 
De acordo com Rodrigues & Polidori (2012), explicam que o processo de enfrentamento não garante a solução do problema. Para tal, é necessário que o indivíduo seja resiliente, pois resiliência implica em ações de confronto e superação. Em pacientes oncológicos, resiliência é definida como a capacidade de superar e ressignificar positivamente as situações adversas, manejando a doença e o tratamento ao longo do tempo.
Conforme Costa & Leite (2009) todo contexto da doença propriamente dita e do tratamento podem gerar estresse, trazendo sinais e sintomas como: apatia, depressão, desânimo, sensação de desalento, hipersensibilidade emotiva, raiva, ansiedade, irritabilidade. Diante disso, o que pode fazer a diferença no resultado de adaptação do indivíduo é o enfrentamento. Realizar estratégias de enfrentamento significa que o indivíduo está tentando superar o que lhe está causando estresse. O P4 buscou, após passar também pela depressão, alternativas como o dom da poesia, para enfrentar o melanoma, conforme segue na verbalização: 
“Ai depois, com o passar do tempo, daí foi que eu comecei ah..., e ai, me veio na cabeça de começar a escrever tudo aquilo que me acontecia ali, ai comecei a escrever em verso rimado. Por que a gente gostava final de semana eu e meus irmãos, um deles principalmente, a tocar violão, e eu cantava, mas compor eu nunca tinha composto né, nunca tinha; nunca tinha feito, era só na brincadeira, e cantava musica dos outros, dos artistas, mas música minha não, até nunca escrevi nenhum verso antes, ai comecei a escrever aquilo, mas no inicio era aquelas coisas de arrepiar os cabelos né, só pensando em morte, coisa ruim, em suicídio. (...)”
	Os autores citados acima, explicam também que a religião, em sentido stricto sensu, ocupa um importante espaço na vida das pessoas, e a religiosidade pode ajudá-las a encontrar o significado e a coerência no mundo. Revisões sistemáticas têm confirmado quantitativamente que a religião é epidemiologicamente um fator de proteção, conforme foi possível notar na verbalização de P3, que por instantes perdeu até mesmo a fé: 
“Tive na outra mama, na outra mama sim eu tinha vontade de pegar o doutor e matar, é, eu fazendo os exames todo o ano direitinho que eu tinha que fazer né, bom eu sai de la de dentro desesperada, chorando que nem uma criança, dizendo que eu tinha vontade me de matar e eu dizia pro A.(marido), que que adianta rezar e tudo? É uma frescura esse negocio de reza, mais do que eu rezo não adianta nada, ai depois mais passou.. Ai fiz tudo de novo, tudo direitinho de novo.”
O apoio da família é um dos principais recursos externos do paciente para o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Enquanto o paciente trava uma luta contra a doença, tentando lidar melhor com o estresse, a família tem um importante papel em apoiar ou não as mudanças que ocorrem com ele, evitando os fatores desnecessários de estresse ou ajudando-o a lidar com ele, explicam Costa & Leite (2009), conforme foi possível notar no relato da P2:
“To tendo todo o apoio da família, tudo, não posso me queixar. A maninha (filha), que tava comigo né, junto ali, o J. (marido), o apoio dos vizinhos, também, amigos, e eu não tenho do que me queixar. Claro que, como vou dizer assim, queria receber as visitas em outros momentos, e não só por doença, é que nós somos assim de receber sempre bastante visita.”
De acordo com Barreto & Amorim (2010) o câncer é uma doença familiar, não só sob o ponto de vista genético, mas pelo impacto que provoca. Quando um membro da família é diagnosticado, todos os familiares são tocados.
Para Girardon, Fagundes & Ienerich (2013) a família ter, um de seus integrantes com diagnóstico de câncer, quase sempre repercute em necessidade de mudanças e readaptação, provocando alterações na rotina, no gerenciamento do tempo e nas responsabilidades dos membros da família. O cotidiano torna-se diferente daquele de antes de o familiar adoecer. Nessa perspectiva, a família tenta reconstruir uma “vida normal”, embora esta reconstrução ocorra, muitas vezes, em função da pessoa doente, do significado social atribuído a doença e das dificuldades encontradas no decorrer da experiência. 
Corroborando Souza & Gomes (2012) também
explicam que, o processo de adoecer não é apenas um acontecimento individual, pois abrange não só a dimensão corporal, mas também as relações familiares e sociais. De acordo com as famílias que acompanham o doente, o câncer gera desequilíbrios que vão além do aspecto corporal do doente, exigindo reorganização em diferentes dimensões da vida da família. Esse processo tem influências traumáticas no doente e em seus familiares, que, ao se depararem com a doença e sua dura realidade, são acometidos por diversos tipos de sentimentos, entre eles o de medo, de solidão, de autopunição e de insegurança.
	Pôde-se analisar a partir desta categoria que, assim como cada indivíduo enfrenta o diagnóstico de uma maneira, o tratamento também é entendido diferentemente para cada paciente, visto que, dos quatro participantes o P4 somente, buscou a poesia como estratégia de enfrentar o diagnóstico. Desse modo, para P1, P2 e P3, a estratégia de enfrentamento foi à companhia dos familiares como apoio. 
	Foi possível analisar que a opção de não fazer nada como estratégias de amenizar o impacto se da pela defesa do ego, a negação, pois este é um mecanismo psicológico podendo ser positivo em determinada situação, permitindo que o indivíduo amorteça melhor feridas psicológicas. 
4.2.3 O tratamento e os efeitos psicológicos no paciente 
Esta categoria apresenta, concomitantemente com os relatos dos participantes, os efeitos,tanto físicos quanto psicológicos, causados pelo tratamento.
De acordo com Nicolussi&Sawada et al. (2014), ressaltam que o objetivo do tratamento do câncer é a cura, prolongar a vida quando não há cura e proporcionar cuidados paliativos. Quando o tratamento não pode resultar em cura, ele deve levar a uma melhora do bem-estar e da qualidade de vida. A quimioterapia anti-neoplásica tem-se tornado uma das mais importantes e promissoras maneiras de combater o câncer, e pode ser empregada tanto com fins curativos como paliativos. O avanço tecnológico, no âmbito das ciências médicas, tem proporcionado um enorme otimismo no tratamento do câncer e no aumento da taxa de sobrevivência dos pacientes; portanto, faz-se necessário avaliar a qualidade de vida destes pacientes, enquanto esta se constitui um importante indicador do bem-estar.
De acordo com Moura& Silva et al.,(2010) explicam que a radioterapia e a quimioterapia são tratamentos indicados em casos mais avançados. A escolha do método terapêutico apropriado irá depender de vários fatores. Além das implicações relacionadas ao tratamento, devem-se considerar também os efeitos deletérios dessa doença como, por exemplo, o medo da morte, da rejeição, de ser estigmatizada, da mutilação, da recidiva, dos efeitos da quimioterapia, incerteza quanto ao futuro e outros.
Segundo Schulze (2007), a quimioterapia é temida pelas pessoas devido aos inúmeros efeitos colaterais que essa pode gerar. Mesmo quando indicada para a melhora dos sintomas ou até mesmo quando para a cura definitiva do tumor, quando lembrada é associada aos efeitos colaterais, sendo assim, responsável pelos medos e recusa ao tratamento, sendo assim, conforme foi possível observar na verbalização da P1: 
“E... descobri outro câncer, que eu estou em tratamento, já fiz 7 quimioterapia, só que esta quimio, ela é bem mais forte que a primeira, ela ta afetando meu organismo. E a minha cabeça, ai, assim, pirou, não só pelo fato eu acho da quimio ou da, claro que acrescentou, mais acontecimentos, ai tudo vem na cabeça.Tu para de trabalhar, tu para!Tu não tem força de fazer as coisas, tu não consegue fazer as coisas em casa, aquilo vai te agitando e aquela quimio tem uma potencia maior, o março agora pra mim não foi legal, inclusive, emagreci 3kg em março, e a doutora até modificou a minha quimio, ela, a potência dela ela diminuiu; ela me deixou muito fraca, mas eu to assim, eu to“lelézinha” mas eu to legal.”
	
	A eclosão do câncer de mama na vida da mulher acarreta efeitos traumáticos, além dessa se deparar com a iminência da perda de um órgão altamente investido de representações, ainda existe o temor com respeito à cura da doença, repleta de sofrimentos e estigmas (SLVA & SILVA et al., 2014). Assim, segue a verbalização da P3, que passou três vezes pelo câncer e seus tratamentos: 
“Dali em diante eu melhorei, comecei o tratamento, fiz tudo direitinho, mesmo não gostando, mas tinha que fazer né. Isso foi em 2009 o primeiro. (...) Ai, fiz tudo de novo, tudo direitinho de novo. Daí depois da outra vez, (CA bilteral) nem... já to acostumada! Agora, nem tive mais aquele medo que tive na primeira, agora to mais tranqüila (CA fígado). Porque é sem cirurgia né, mas espero que não dê algo pior.
De acordo com Mendes & Nunes (2012), as emoções e atitudes negativas de enfrentamento da doença podem ser muito prejudiciais ao tratamento, pois o cérebro registra as emoções positivas e aumenta a capacidade imunológica do combate ao câncer, por isso, o paciente tem papel fundamental no processo de cura. Os pacientes que têm dificuldade em se adaptar ao tratamento representam um claro desafio para a equipe clínica.
	Segundo Pisoni (2012), a queda de cabelo pode causar problemas psicológicos e de estética. Nesta fase, a paciente pode optar em usar lenços, perucas, bonés e chapéus para sair na rua. É importante deixar o couro cabeludo o maior tempo possível ao ar livre. Desta forma é possível evitar o calor, umidade e oleosidade, fatores que dificultam o crescimento. O paciente não deve ficar chateado com a queda de cabelo e o profissional que o acompanha deve lembrá-lo de que ela é temporária (PISONI, 2012). Segundo relatou a P3, para ela a queda do cabelo foi uma imensa tristeza: 
	“Uma tristeza! Tu não vê né, algo assim, eu só passava a mão assim, (passava a mão nos cabelos) e enchia a mão de cabelo, saia assim. Ai já mandei rapar logo, a coitada da cabeleireira chorava, dizia que era a pior coisa que ela tava sentindo na vida dela, num sentimento ter que rapar meu cabelo, mas eu pensava que, mil vezes aquilo ali, do que aquele cabelo que caia, no banho enchia as mãos de cabelo, no travesseiro caindo por tudo, ai não adianta nada né.”
Os autores Salci&Marcon (2010), ressaltam que nessa nova fase de suas vidas, em que sobreviveram ao diagnóstico de câncer e aos efeitos indesejáveis dos tratamentos anti-neoplásicos, o significado do surgimento de alterações no corpo acaba sendo mais valorizado pelos pacientes e seus familiares, uma vez que se tornaram mais atentos aos problemas de saúde, pois, quando surge algo diferente, não ficam à espera de uma evolução e rapidamente procuram um médico para esclarecer o problema que suscita-lhes preocupações e angústia. Entretanto, sendo inevitável deparar-se, em algum momento, com casos de pessoas que não obtiveram o mesmo sucesso que o seu e morreram, os pacientes tentam arrumar estratégias para não pensarem na doença. Procuram não lembrar o fato, e exercitam mentalmente para focalizarem os pensamentos em um futuro promissor e não no passado. 
	Pôde-se verificar que, quando mencionada a palavra câncer a primeira associação com a doença é a perda do cabelo pelo tratamento quimioterápico. O cabelo representa principalmente para a mulher, externamente, o estado de saúde do indivíduo, tornando mais doloroso o processo de enfrentamento da doença.
	Os efeitos colaterais são diversos e relativos para cada indivíduo, pois dependem do organismo e da potencialidade quimioterápica. A radioterapia também é mencionada por eles com medo, pois apesar de não trazer reações é um processo cansativo que envolve alguns cuidados a serem tomados. Neste caso, torna-se essencial o acompanhamento psicológico, inclusive no momento da primeira sessão de quimioterapia. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho buscou investigar a reação do impacto do diagnóstico de câncer na percepção do paciente. Esta pesquisa que teve seu caráter metodológico qualitativo obteve a coleta de dados através de uma entrevista
semi-estruturada com pacientes oncológicos entre 56 e 59 anos de idade, juntamente com uma ficha de dados demográficos e um aparelho gravador. E analisados de acordo com o método de análise de conteúdo, descrito por Bardin (2010). 
Deste modo, conclui-se que o câncer é visto ainda hoje, pelos indivíduos como a doença cujo significado é ameaçador, que exige do paciente acometido força para enfrentar as mudanças advindas da doença, que simboliza o estado de terminalidade. O ser humano sabe que um dia chegara o fim para todos, porém o diagnóstico de uma doença como o câncer, aproxima-o desta realidade que parecia distante. 
Segundo Simões (2008), o diagnóstico de câncer leva o paciente a enfrentar diversas mudanças na sua rotina, incluindo visitas mais freqüentes a médicos e ao hospital, adaptação ao tratamento e às dificuldades vindas da readaptação ao cotidiano familiar, e de se relacionar com a sociedade. 
Esta doença muitas vezes não é mencionada pelas pessoas, por trazer a idealização de que serão assombradas por ela. Portanto, é importante e busca-se no momento da revelação do diagnóstico que o profissional de saúde possa explicar a multifatorialidade que envolve o câncer.
Como foi possível observar no decorrer deste trabalho, o primeiro impacto do diagnóstico é o choque temporário. Num primeiro momento o paciente é amontoado pela dúvida, pela angústia, pelo medo do que o acompanhará a partir dali. Porém, considerando a subjetividade de cada indivíduo, nem todos reagem dessa maneira. 
	O processo de enfrentamento do câncer é talvez, mais complexo que receber o diagnóstico. De acordo com a entrevista apresentada nesta pesquisa, apenas um dos participantes utilizou alguma estratégia de enfrentamento, sendo esta a poesia. O mesmo buscou em versos amenizar o momento de sofrimento que passava pela depressão e o surgimento do melanoma. 
	Ao analisar a categoria sobre os recursos utilizados como apoio para o enfrentamento do diagnóstico, pode-se constatar que a família tem papel extremamente importante como apoio, apresentando neste momento grande influência, pois proporciona ao familiar proteção e amparo para enfrentar a doença, que de acordo com os autores Sanchez, Ferreira, Dupas e Costa (2010), a família do doente com câncer é apontada como a principal fonte de apoio para o paciente e o binômio paciente cuidador considerado uma unidade de atenção, por ser um “invisível sistema de cuidado da saúde”, onde o câncer deve ser tratado como problema e questão familiar. O cuidador pode ser o cônjuge, outros membros familiares e amigos próximos que, participando ativamente, dão forma à experiência com a doença. Sobre o aspecto apoiador, os participantes ressaltaram sobre esta importância e o quanto foi melhor para eles receber essa ajuda.
	Em relação aos efeitos colaterais do tratamento, a companhia da família também se torna importante, tendo em vista alguns efeitos que podem causar dependência de cuidadores. Neste momento o indivíduo com câncer poderá sofrer dos efeitos físicos e psicológicos tanto da quimioterapia quanto da radioterapia. De acordo com o levantamento dos resultados desta pesquisa, P1, P2 e P3 realizaram tratamento quimioterápico, sendo necessária a atenção e ajuda dos familiares para recuperação. 
	Portanto, através dessa pesquisa foi possível a compreensão de que cada indivíduo receberá o diagnóstico de câncer da sua maneira, fazendo-se necessário o auxilio psicológico no momento da revelação, para que desde o início do processo o indivíduo esteja preparado para enfrentar as limitações que a patologia pode lhe trazer, o que dependerá do estágio que se encontra e do procedimento a ser adotado pelo profissional de saúde. Contudo, ainda, sugere-se novas pesquisas nesta área por se tratar o câncer, uma doença do século. 
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APÊNDICES
APÊNDICE A - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
1. SOBRE O DIAGNÓSTICO
	
Qual sua reação no momento em que recebeu o diagnóstico?
Qual a primeira pessoa que você contou quando soube do diagnóstico? Porque escolheu esta pessoa?
Como foi a reação da sua família? De quem você mais recebeu apoio?
Você pensou em buscar apoio psicológico? Algum outro tipo de apoio alternativo?
APÊNDICE B - FICHA DE DADOS DEMOGRÁFICOS 
1- Identificação
Nome:__________________________________________ Idade:____________
Sexo ( ) F ( )M Município:_______________________Religião:__________ 
Estado Civil: ( ) Solteiro ( ) Casado ( )Viúvo ( ) Separado ( ) Outro________
Profissão:__________________
Com quem reside: ( )pais ( ) cônjuge ( )só ( )outros____________________
2- Diagnóstico
Câncer:_________________________ Cirurgia:_________________________
Início do tratamento:____________________ ( )Quimioterapia:____________
( )Radioterapia:_________________________
3- Limitações
Patologia limitante: ( )Não ( )Sim Qual?:______________________________
ANEXOS
ANEXO A - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA COM SERESE HUMANOS - Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da ULBRA/RS
ANEXO B - AUTORIZAÇÃO DO LOCAL PARA COLETA DE DADOS
ANEXO C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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