Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ROCHA, R. M. ; TAVARES, Y.A G. ; SILVA, G. S. ; METRI, R. 2006. Origem e Evolução de Deuterostomia. In: E. L A Monteiro Filho; J. M. da R.Aranha. (Org.). Revisões em Zoologia I. 1 ed. Curitiba: SEMA, p. 199-215. ORIGEM E EVOLUÇÃO DE DEUTEROSTOMIA1 Rosana Moreira da Rocha2 Yara A. GarciaTavares3, 4 Gustavo Sene Silva3 Rafael Metri3 Introdução Ao longo da história da Zoologia diferentes subdivisões já foram propostas para Bilateria: Protostomia e Deuterostomia (GOBBEN 1908), Zygoneura e Ambulacraria+Chordonia (HATSCHEK 1888), Ecterocoelia e Enterocoelia (HATSCHEK 1911), Hyponeuralia e Epineuralia (CUÉNOT 1940) e Gastroneuralia e Notoneuralia (ULRICH 1951). Nestas classificações, os autores parecem ter se inspirado nos caracteres que julgavam ser mais importantes nas definições destes táxons e, particularmente com relação a GROBBEN (1908), o destino funcional do blastóporo – ânus ou boca – foi o caráter determinante para a justificação de sua proposta de classificação dos animais bilaterais, permanecendo nos textos didáticos até hoje. A caracterização tradicional de Deuterostomia inclui clivagem radial, blastóporo originando o ânus, aparecimento da boca como abertura secundária, mesoderme derivada da parede do arquênteron, celoma do tipo enterocélico e um corpo tipicamente tripartido, formado por três regiões – prossoma, mesossoma e metassoma – cada uma delas correspondendo a um compartimento celômico – protocele, mesocele e metacele (BRUSCA & BRUSCA, 1990). Seguindo esta caracterização, apenas Echinodermata, Hemichordata (=Pterobranchia+Enteropneusta) e Chordata estariam incluídos em Deuterostomia. Por outro lado, vários outros filos que apresentam algumas das características listadas acima já foram incluídos na base de Deuterostomia como filos de “posicionamento problemático”, os quais serão discutidos mais adiante. NIELSEN (2001), por exemplo, inclui entre os deuterostômios (Notoneuralia) os filos Phoronida, Brachiopoda, Pterobranchia, Echinodermata, Enteropneusta e Chordata. Ao discutir as apomorfias do grupo o autor comenta que nestes animais o blastóporo ___________ 1 1. Contribuição 1595 do Departamento de Zoologia. A ordem dos autores foi decidida por sorteio. 2. Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná; rmrocha@ufpr.br 3. Programa de Pós Graduação em Zoologia – Doutorado, Universidade Federal do Paraná 4. Centro de Estudos do Mar – CEM, Universidade Federal do Paraná geralmente origina o ânus no adulto (entretanto com grande variação entre e mesmo dentro dos filos); na maioria dos grupos a primeira clivagem é mediana, separando o lados direito e esquerdo e depois torna-se radial, mas existem casos aberrantes geralmente associados ao grande acúmulo de vitelo em alguns ovos; as primeiras células resultantes da clivagem são pouco determinadas e podem regenerar um embrião completo; as larvas são do tipo diplêurula e apresentam células monociliadas com tipo de coleta “upstream”; as larvas apresentam um pequeno órgão apical com células sensoriais providas de longos cílios (com exceção dos Chordata), mas este nunca é incorporado ao cérebro adulto, ao contrário dos protostômios; o corpo apresenta-se dividido em três regiões correspondentes às cavidades celomáticas. De acordo com estas características, o autor propõe um ancestral com ciclo de vida pelágico- bêntico, larva diplêurula, adulto com corpo trimérico, provido de tentáculos ciliados, com trato digestivo linear (NIELSEN 2001). As tradicionais reconstruções das relações entre os grupos de Metazoa, utilizando caracteres morfológicos e embriológicos, vêm sofrendo, nos últimos anos, uma profunda reorganização como resultado do aparecimento de análises filogenéticas baseadas em dados moleculares. A comparação de moléculas razoavelmente bem conservadas é útil para estabelecer a relação entre grupos evolutivamente distantes, para os quais o estabelecimento de homologias de caracteres morfológicos é muito difícil. Desta forma, caracteres moleculares constituem fonte independente de informação que levam os cientistas a re-analisarem caracteres morfológicos e descobrirem sutilezas antes despercebidas. Filogenias baseadas em dados moleculares também apontam para a monofilia de Deuterostomia, incluindo apenas Echinodermata, Hemichordata e Chordata (= Deuterostomia sensu stricto) (HALANYCH et al. 1995, TUBERVILLE et al. 1994, WADA & SATOH 1994, CASESTRANA et al, 1998, ZRZAVY et al. 1998, ADOUTE et al. 2000, CAMERON et al. 2000, GIRIBET et al. 2000, GRAHAM, 2000, PETERSON & EERNISSE 2001, GLENNER et al. 2005). Análises dos mecanismos envolvidos nos sistemas imunes de várias espécies também confirmam este padrão, assegurando que os deuterostômios são formados apenas pelos filos supracitados. LAIRD et al. (2000), ZARKADIS et al. (2001) e NONAKA (2001) propõem a origem do sistema complemento (para o reconhecimento celular) no ancestral deuterostômio, uma vez que este mecanismo foi identificado apenas em ouriços (Echinodermata), ascídias (Chordata Tunicata), lampréias (Chodata Vertebrata) e outros vertebrados. Apesar dos genes utilizados nos sistemas 2 complemento serem encontrados em protostômios, apenas nos deuterostômios eles adquiriram funções nos sistemas imunes. Recentemente foi proposto um quarto filo deuterostômio formado pela espécie Xenoturbella bocki Westblad, 1949, anteriormente considerada no Filo Platyhelminthes (BOURLAT et al. 2003). Trata-se de um verme marinho ciliado com plano corporal muito simples sem tubo digestório, gônadas organizadas, estruturas excretoras ou cavidade celomática, cujas relações com deuterostômios só puderam ser compreendidas pelo estudo de 3 diferentes genes (SSU, Citocromo Oxidase 1 e 2). Por outro lado, existem controvérsias sobre o posicionamento de Deuterostomia em relação aos outros grupos de Bilateria. As hipóteses atualmente mais difundidas apontam para uma dicotomia basal em Bilateria, originando Protostomia e Deuterostomia. Estas hipóteses baseiam-se tanto em caracteres morfológicos (NIELSEN 2001, BRUSCA & BRUSCA 1990), como moleculares (FIELD et al. 1988, AGUINALDO et al. 1997, ZRZAVÝ et al. 1998, WINNEPENNINCKX et al. 1998, ADOUTTE et al. 2000). Naturalmente, contudo, existem hipóteses alternativas que propõem a derivação dos deuterostômios a partir de algum táxon protostômio. Para LØVTRUP (1975), por exemplo, os deuterostômios (nominalmente Echinodermata e Vertebrata) compartilham um ancestral comum com Mollusca. SALVINI- PLAWEN (1982) também indica a parafilia de Protostomia, sendo, desta vez, um ancestral de Sipuncula o “ponto de derivação” dos Deuterostomia+Lophophorata. Mais recentemente, CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA (1994) e ALMEIDA et al. (2003), baseados principalmente em morfologia, defenderam que Deuterostomia é grupo-irmão de um subgrupo de anelídeos poliquetas. Considerando Deuterostomia sensu stricto, existem algumas propostas para características gerais do ancestral. CAMERON (2005) propõe um organismo vermiforme bêntico, com desenvolvimento direto, boca e ânus em extremidades terminais, musculatura circular e longitudinal bem desenvolvida, plexo nervoso simples com pouca regionalização, faringe com fendas separadas por barras de colágeno, capaz de produzir iodotirosina. Enteropneusta atuais ainda apresentam a maioria destas características, sugerindo que eles possam constituir um modelo adequado do ancestral mais próximo dos deuterostômios, enquanto que os Pterobranchia as teriam perdido devido ao tamanho reduzido e à vida séssil em tubos. Segundo esta proposta, a larva diplêurula teria aparecido no ancestral direto de Ambulacraria (Echinodermata+Hemichordata). Uma hipótese alternativa é aquela apresentada por LACALLI (1997) que propõe um organismo colonial como ancestral de Deuterostomia, de modo que boca e ânus seriam originados das aberturas de dois zoóides adjacentesda colônia, 3 um deles com sua orientação antero-posterior invertida. O autor indica que a flexibilidade de desenvolvimento presente em equinodermos e tunicados, e o fato de que ouriços-do-mar não apresentam domínios distintos de expressão gênica ao longo do eixo anterior-posterior seriam evidências a favor desta hipótese. De acordo com a idéia de uma dicotomia basal em Bilateria, devido às várias características compartilhadas entre Protostomia e Deuterostomia, postula-se que o ancestral mais próximo de Bilateria seria razoavelmente complexo, com desenvolvimento de um sistema nervoso já centralizado e corpo metamérico (DEWELL 2000). O próprio controle de segmentação tanto em protostômios quanto em deuterostômios mostra a homologia de genes Hox entre os dois grupos (HOLLAND et al. 1997, PETERSON & DAVIDSON 2000). Por outro lado, os defensores de que deuterostômios derivaram a partir de um grupo de protostômios indicam a possibilidade de um desenvolvimento mais gradual destes caracteres compartilhados ao longo dos grupos basais de Bilateria e que seriam herdados como caracteres plesiomórficos pelos deuterostômios. Filos de Posicionamento incerto Pogonophora Os Pogonophora têm sido geralmente considerados como anelídeos poliquetas muito modificados, ou pelo menos como um táxon filogeneticamente muito próximo a eles (MCHUGH 1997, ROUSE & FAUCHALD 1997). Além de dados moleculares (MCHUGH 1997), algumas características morfológicas sugerem outras afinidades estruturais com o citado grupo: (1) a presença de cerdas quitinosas distribuídas em ramos transversais ao longo do corpo, (2) corpo com segmentos seriados na região mais posterior (opistossoma), (3) clivagem espiral, (4) celoma esquizocélico (em parte, vide adiante) e (5) um sistema nervoso constituído de um anel peri-esofágico (observado em juvenis; SOUTHWARD 1993) e um cordão nervoso ventral. As afinidades dos pogonóforos com os protostômios poderiam ser muito pouco contrariadas, não fossem certos caracteres que também apontassem possíveis inter-relações com grupos deuterostômios. De fato, quando descobertos ainda na primeira metade do século XX, estes animais foram primeiramente coletados sem o opistossoma, sendo classificados dentre os Deuterostomia, tanto por causa do padrão trimérico de suas cavidades celomáticas, quanto por sua aparência com enteropneustos (Ivanov 1963). A ausência do tubo digestivo 4 também deixava dúvidas quanto ao sentido ventral/dorsal dos pogonóforos, dando margem a duas interpretações: (1) de que o cordão nervoso seria dorsal, o que caracterizaria uma afinidade deuterostômica, e (2) de que tal cordão seria ventral, numa disposição muito semelhante a grupos protostômios. Com o passar dos anos, ao se conseguir finalmente coletar um pogonóforo completo (com opistossoma) e observar seus estádios mais juvenis (formação efêmera de tubo digestório que possibilitou então entender que o posicionamento de seu cordão nervoso seria de fato ventral), as hipóteses quanto ao um parentesco poliquetóide ganharam mais argumentação, aumentando o número de adeptos que concordavam com o posicionamento dos Pogonophora dentre os Protostomia. Entretanto, pesquisadores de uma (aqui tratada como) ‘escola russa’ de taxonomia (que inclui cientistas como A. Ivanov, M. Gureeva e O. Ivanova-Kazas) não conseguiram detectar clivagem espiral (reportaram padrões de clivagem radial) e propuseram que a formação esquizocélica dos pacotes celômicos do opistossoma seria uma convergência com outros protostômios, uma vez que as três partes mais anteriores do corpo cilíndrico dos pogonóforos (corpo trimérico) são formadas por enterocelia (GUREEVA 1979, GUREEVA & IVANOV 1986, IVANOV 1988, 1994). Ainda que atualmente grande parte da literatura proponha que os Pogonophora sejam Polychaeta modificados, a dúvida ainda persiste, já que um número similar de homoplasias/convergências seria encontrado no grupo, esteja ele dentro de Deuterostomia ou de Protostomia (SALVINI-PLAWEN 2000). Hipóteses alternativas já foram apresentadas com os pogonóforos em uma posição filogenética intermediária entre Protostomia e Deuterostomia, dando suporte à idéia do surgimento dos deuterostômios a partir de protostômios (CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA 1994, ALMEIDA et al. 2003). Chaetognatha Os Chaetognatha são por vezes classificados como Deuterostomia pelo fato de serem enterocélicos, pela divisão trimérica do corpo e por apresentarem o ânus como destino final do blastóporo (BRUSCA & BRUSCA 1990, RUPPERT & BARNES 1996). Alguns autores chegaram até propor um posicionamento como grupo-irmão de Vertebrata (CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA 1994), mas tal posicionamento filogenético parece ser questionável uma vez que os próprios autores reconhecem que, para chegar a este resultado, tiveram que 5 aceitar 10 reversões, incluindo a perda de notocorda, somitos, endóstilo e cordão nervoso dorsal. NIELSEN (1995), ao criticar a homologia entre os celomas laterais dos Chaetognatha e dos deuterostômios, argumenta que os Chaetognatha não são verdadeiramente triméricos, não possuem tentáculos no mesossoma e a divisão do celoma posterior em duas partes não encontra semelhança com a metacele dos deuterostômios, representando então uma apomorfia do grupo. O epitélio com várias camadas, algumas vezes citado como um caráter deuterostômio, é somente encontrado em vertebrados e este claramente não é grupo-irmão dos Chaetognatha. Este autor classifica os Chaetognatha dentre os protostômios asquelmintos baseado na ausência de fase larval, na presença de órgão apical larval que formaria o cérebro, e na cutícula da cabeça e do aparelho mastigatório comparáveis ao mástax de rotíferos. Recentes estudos moleculares indicaram que Chaetognatha não é proximamente relacionado aos deuterostômios (TELFORD & HOLLAND 1993, WADA & SATOH 1994, HALANYCH 1996a, GIRIBET et al. 2000) e que talvez tenham surgido de uma linhagem previamente ramificada antes da radiação dos maiores grupos de celomados (TELFORD & HOLLAND 1993). Os resultados de HENRY et al. (2001) indicaram que Chaetognatha seria um grupo externo ou um grupo-irmão de Protostomia. Novos estudos comparativos de caracteres moleculares e embriológicos entre Chaetognatha e os outros grupos de celomados são ainda necessários para demonstrar as afinidades dos mesmos (NIELSEN 2001). Lofoforados HATSCHEK (1888) foi o primeiro autor a reunir braquiópodes, foronídeos, briozoários e entoproctos em um filo por ele denominado Tentaculata. Posteriormente, entoproctos foram excluídos do grupo e HYMAN (1959) cunhou o termo Lophophorata para o novo táxon formado. Phoronida e Brachiopoda são grupos consensualmente naturais e normalmente mencionados na literatura como membros do grupo Lophophorata ou Tentaculata, com ou sem os Bryozoa (HYMAN 1959, EMIG 1982, BRUSCA & BRUSCA 1990, RUPPERT & BARNES 1996). Várias filogenias aproximam briozoários aos outros lofoforados, mesmo quando tal grupo não é considerado necessariamente como monofilético (SALVIGNI-PLAWEN 1982, EMIG, 1984, BRUSCA & BRUSCA 1990, SCHRAM 1991, CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA 1994). Isso provavelmente decorre do fato de briozoários apresentarem características tanto de protostômios (desenvolvimento determinado, blastóporo originando a boca da larva, 6 presença do órgão apical na larva, celoma esquizocélico, ânus oposto ao blastóporo, larva com uma ou duas coroas ciliadas) como de deuterostômios (clivagem igual, mesoderme de origem exclusiva endodérmica, musculatura de origem exclusiva mesodérmica, boca do adulto secundariamente formada na face aboral, desaparecimento do gânglio nervoso larval, nervos subepidérmicos) (D’HONT 1997). Uma interpretação diferente das relações históricas dos Bryozoa é encontrada em NIELSEN (2001). Este autor propôs que os Ectoprocta seriam grupo-irmãode Entoprocta num grupo natural chamado Bryozoa, inserido dentre os Spiralia. As justificativas para tal proposta seriam (1) a semelhança entre etapas da metamorfose entre espécies dos dois grupos, (2) a presença de células mioepiteliais no órgão apical das larvas, e (3) a semelhança ultraestrutural de fotorreceptores encontrados também nas larvas. Além disso, o tradicional posicionamento deuterostômico dos Ectoprocta não é considerado plausível pelo autor, uma vez que este grupo não compartilha características típicas do grupo, como corpo trimérico e presença de células monociliadas com coleta de alimento do tipo “upstream”. Alguns autores (como, por exemplo, BRUSCA & BRUSCA 1990) apóiam-se no fato de que somente Phoronida, Brachiopoda e Bryozoa possuem um lofóforo (tentáculos que circundam somente a boca) para justificar a monofilia dos lofoforados. Se tal situação é verdadeira para estes filos, por outro lado não invalida uma hipótese de homologia entre os lofóforos propriamente ditos e órgãos tentaculares (também originários da mesocele) presentes em deuterostômios como nos Pterobranchia e nos Echinodermata (CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA 1994, HALANYCH 1996b, NIELSEN 2001). Em muitas filogenias reconstruídas a partir de informações morfológicas, Lophophorata aproxima-se dos outros filos deuterostômios, embora nem sempre como um grupo monofilético (EMIG, 1984, BRUSCA & BRUSCA 1990, SCHRAM 1991, CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA 1994). Os Phoronida compartilham muitas características com os “verdadeiros” deuterostômios, como a monociliaridade, o corpo tripartido, a clivagem radial, o órgão alimentar (lofóforo) associado à mesocele, as correntes ‘upstream’ de coleta de alimento e a enterocelia (NIELSEN 2001). Todavia, tais caracteres não necessariamente os tornam Deuterostomia sensu GROBBEN (1908), mas sim um grupo historicamente relacionado a estes. Uma evidência para esta posição é a inexistência de trimeria em todos os lofoforados. Uma reavaliação ultraestrutural do celoma em Phoronis muelleri Selys-Longchamps, 1903 e a revisão da literatura mostraram que a suposta cavidade anterior é na realidade um alargamento subepidérmico de matriz extracelular preenchida por uma substância amorfa gelatinosa e que, portanto, a procele não existe (BARTOLOMAEUS 2001). O estudo do desenvolvimento da 7 mesoderme em larvas de duas espécies de Brachiopoda mostrou que a mesma é formada inicialmente por uma massa compacta de células a partir do arquênteron, comprovando a origem enterocélica do celoma (LÜTER 2000). Por outro lado, ocorre a formação de uma única massa de células o que também torna questionável a organização tripartida do celoma em Brachiopoda. A idéia de um posicionamento mais basal dos Phoronida em relação aos Deuterostomia abre precedentes para teorias que afirmam que os mesmos sejam o elo entre os Deuterostomia e um ancestral protostômio, como proposto por SALVINI-PLAWEN (1982). No entanto, NIELSEN (2001) contesta tal hipótese, argumentando que muitas das justificativas de SALVINI-PLAWEN (1982) tratam-se de simplesiomorfias ou mesmo de características sujeitas a muitas variações intrafiléticas, como a origem do ânus dos Phoronida. Trabalhos com dados moleculares (FIELD et al. 1988, ERWIN 1991, HALANYCH et al. 1995) têm apontado os lofoforados como um grupo protostômio, incluído entre os Lophotrochozoa, grupo proposto por AGUINALDO et al. (1997). DE ROSA et al. (1999) e DE ROSA (2001) identificaram os genes Hox de Brachiopoda (e outros animais) e encontraram genes tipicamente protostômios nos mesmos. Os genes Hox têm um papel chave na definição do padrão do eixo antero-posterior de Bilateria e a reconstrução da história evolutiva desta família de genes é central no entendimento da evolução dos planos corpóreos dos animais bilaterais e a relação entre a complexidade genética e morfológica. Baseados nestas afirmações, os autores propõem que os caracteres que supostamente uniam Brachiopoda a deuterostômios foram mal-interpretados, sendo na realidade plesiomorfias para Bilateria ou ainda sujeitos à convergência. Deuterostomia sensu stricto Echinodermata Os equinodermos são bem aceitos como um grupo monofilético baseado principalmente na presença do sistema aqüífero, endoesqueleto, simetria pentarradial e tecido conectivo mutável (BRUSCA & BRUSCA 1990, NIELSEN 2001). Neste filo todas as características deuterostômicas estão presentes, não havendo dúvida sobre esta condição. O primeiro equinodermo fóssil conhecido foi o Helicoplacoide, com placas ósseas dispostas em espiral e simetria trirradial. Os grupos viventes estão agrupados em dois ramos: Pelmatazoa (representados pelos crinóides) e Eleutherozoa (ofiúros, estrelas, ouriços e 8 pepinos do mar) (BRUSCA & BRUSCA 1990, RUPPERT & BARNES 1996). Os Pelmatozoa possuem apêndices para fixação na região aboral, são suspensívoros, orientando a região oral para cima e levando os alimentos para a boca com os pequenos e numerosos pódios ambulacrais dos braços (provavelmente a condição ancestral). Os Eleutherozoa adotaram outros modos de alimentação, com a boca orientada para o substrato e os pés ambulacrais participando ativamente da locomoção. A filogenia interna de Eleutherozoa sofre modificações significativas, quando comparadas propostas resultantes de distintos recursos, como dados moleculares, morfologia larval e de adultos e, mesmo, pelos registros fósseis (NIELSEN 1995). É largamente aceito que Echinoidea e Holothuroidea são clados irmãos. A maior dúvida recai sobre a posição de Ophiuroidea, se grupo-irmão de Asteroidea ou de Echinoidea + Holothuroidea. Sobre o relacionamento filogenético de Echinodermata com os outros deuterostômios, existem também hipóteses alternativas. Podem ser encontrados como grupo-irmão de Chordata (JEFFERIES 1986, CRIPPS 1991), de Hemichordata (JOLLIE 1982), ou mesmo inseridos entre os subgrupos de Hemichordata (SCHRAM 1991, CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE- ALMEIDA 1994, NIELSEN 2001). JEFFERIES (1986) baseou-se em interpretações detalhadas dos fósseis carpóides não pentaméricos, tidos como pré-equinodermos, para sugerir que Echinodermata e Chordata são grupos-irmãos e propôs o nome Calcichordata para este grupo ancestral. O autor julgou que a série de aberturas observadas neste fóssil assimétrico é homóloga às fendas faringeanas dos cordados e que o longo apêndice de fixação seria uma cauda, com corda e tubo nervoso. Esta teoria não considera em nenhum momento a similaridade entre as fendas faringeanas de Enteropneusta e Chordata (NIELSEN 1995) e propõe algumas hipóteses funcionalmente inaceitáveis: o sistema nervoso proposto destes fósseis é altamente complexo, assemelhando- se mais ao de animais craniados do que ao de um animal simples, semi-séssil e filtrador como supostamente deveriam ser (BONE 1987); o número de fendas destes animais seria muito pequeno, tendo uma área de filtragem desproporcionalmente pequena em relação ao tamanho da faringe e do animal todo (NIELSEN 1995). Além disso, JEFFERIES (1986) baseou-se em fósseis de apenas alguns grupos de Carpoides para formular esta hipótese, deixando outros de lado (PAUL & SMITH 1984), o que deve ser visto com precaução. O posicionamento de Echinodermata entre Pterobranchia e Enteropneusta (nas hipóteses que assumem Hemichordata como não monofilético) ocorre devido tanto ao compartilhamento do complexo axial com Pterobranchia e Cyrtotreta (Enteropneusta + Chordata, sensu NIELSEN 1995) como pela ausência (simplesiomórfica) de fendas faringeanas 9 em forma de U em pterobrânquios e equinodermos. O cenário evolutivo criado para explicar o surgimento de equinodermos, baseado na hipótese filogenética descrita, propõe que os equinodermos teriam surgido a partir de um ancestral “cefalodisciforme” (GROBBEN 1923, in NIELSEN 2001, JEFFERIES 1986, HOLLAND 1988). De acordocom a mesma, um deuterostômio cefalodisciforme (semelhante a Cephalodiscus, um dos gêneros de Pterobranchia) iniciou um hábito rastejador sobre seu lado direito, deixando os braços tentaculares de seu lado esquerdo livres para a captura de partículas alimentares. Com o tempo, os braços do lado direito foram perdidos e o celoma do lado esquerdo desenvolveu-se no sistema aqüífero. A proximidade entre Echinodermata e Hemichordata é cada vez mais aceita e será discutida adiante. Hemichordata Diferentemente de outros grupos deuterostômios, ainda há dúvidas quanto à monofilia de Hemichordata, uma vez que a variação morfológica entre seus subgrupos é considerável e algumas reconstruções apresentam Hemichordata como um grupo polifilético, dividido em Pterobranchia e Enteropneusta com os Echinodermata inseridos entre estes dois (SCHRAM 1991, NIELSEN 1995, 2001). A visão clássica da suposta monofilia de Hemichordata está baseada na presença de: (1) estomocorda, uma estrutura mais ou menos rígida localizada anteriormente nestes animais, tida por muito tempo como homóloga à notocorda dos Chordata, (2) corpo trimérico (probóscide, colar e tronco), e (3) presença de fendas na faringe (JOLLIE 1982, SCHAEFFER 1987, BRUSCA & BRUSCA 1990, RUPPERT & BARNES 1996). No entanto, algumas destas características são plesiomórficas, como por exemplo, os três compartimentos celomáticos que são compartilhados pelos deuterostômios. O complexo axial, estrutura de ultra-filtração formada pela cavidade pericárdica é compartilhado pelos equinodermos, o que justifica seu posicionamento dentro de Hemichordata em algumas filogenias (NIELSEN 1995, 2001). A monofilia de Pterobranchia foi também colocada em dúvida algumas vezes, como por exemplo, pelos resultados de JEFFERIES (1991) e CRIPPS (1991) nos quais os pterobrânquios aparecem divididos nos gêneros Rhabdopleura e Cephalodiscus. CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO- DE-ALMEIDA (1994) também adotaram postura semelhante, separando os pterobrânquios em dois diferentes táxons basais a Echinodermata: Rhabdopleurida e Cephalodiscida. Para estes autores, Rhabdopleurida tem um posicionamento mais basal que Cephalodiscida e alguns dos caracteres que justificam esta separação (e conseqüentemente maior relação dos 10 Cephalodiscida com outros deuterostômios) são: (1) o pedúnculo na região posterior não mais usado para fixação no substrato, (2) a presença de mais de um par de braços tentaculares dispostos no lado dorsal do mesossoma, e (3) as brânquias faringeanas que se abrem exteriormente. Por outro lado, estudos recentes usando a molécula rDNA 18S de muitas espécies e uma variedade de métodos analíticos mostram os hemicordados como sendo monofiléticos e mais relacionados com os equinodermos do que com os cordados (WADA & SATOH, 1994, 2001, TUBERVILLE et al 1994, HALANYCH 1995, ZRZAVÝ et al. 1998, BROMHAM & DEGNAN 1999, CAMERON et al. 2000, FURLONG & HOLLAND 2002, WINCHELL et al. 2002, GLENNER et al. 2005). CAMERON et al. (2000) encontraram resultados que sugerem que um ancestral complexo deu origem a uma das famílias de Enteropneusta (Ptychoderidae) e, em outra linhagem, sofreu redução de tamanho e simplificação morfológica, originando Pterobranchia e Harrimatiidae, a outra família de Enteropneusta, ou seja, Pterobranchia parece ter evoluído de Enteropneusta. WINCHELL et al. (2002), entretanto, analisando seqüências de 28S e 5.8S rDNA de várias espécies, rejeitam esta hipótese, mas mantém Hemichordata como um grupo monofilético. Recente revisão morfológica dos 15 gêneros de Enteropneusta e dos dois de Pterobranchia, utilizando 105 caracteres, reafirma a monofilia do grupo, considerando Pterobranchia e Enteropneusta como grupos-irmãos (CAMERON 2005). A posição filogenética do grupo também vem sendo debatida desde que os primeiros animais foram descritos. Os estudos do embriologista BATESON (1884, 1885 in CAMERON 2005), indicavam a proximidade entre enteropneustas e cordados pela existência da “notocorda”, fendas na faringe, cordão nervoso dorsal no colar e desenvolvimento da mesocele comparável ao do anfioxo. Por outro lado, anteriormente METSCHNIKOFF (1869, in CAMERON 2005) havia estudado o desenvolvimento ontogenético do gênero Balanoglossus e notado as similaridades com a larva tornária dos equinodermos, propondo que Hemichordata seria grupo-irmão de Echinodermata e criando o grupo suprafilético Ambulacraria. Corroborando a primeira hipótese, verificou-se que a homologia das fendas faringeanas em hemicordados e cordados é suportada pela expressão de genes Pax-1/9 (OGASAWARA et al. 1999, LOWE et al. 2003), que a região dorsal da faringe de hemicordados é histologicamente bastante semelhante ao endóstilo dos cordados (RUPPERT et al. 1999), e que algumas espécies apresentam uma cauda muscular pós-anal, com expressão gênica semelhante à dos cordados (LOWE et al. 2003, PETERSON 2004, GERHART et al. 2005). Forma- se também uma massa de células vacuolizadas com miofilamentos, grande quantidade de matriz extracelular e de espaços extracelulares a partir da região mediana-dorsal da parede do 11 arquênteron, provavelmente a estrutura que originou tanto a estomocorda dos hemicordados como a notocorda dos cordados (BALSER & RUPPERT 1990). No entanto, o cordão nervoso dorsal presente na região do colar dos hemicordados não é homólogo ao tubo nervoso dorsal de cordados (CAMERON & MACKIE 1996). Mesmo assim, foi possível determinar que toda a ectoderme dos hemicordados expressa genes neurais típicos dos vertebrados, indicando sua potencialidade para formar tecido neural; ainda, genes que se expressam anteriormente no cérebro dos vertebrados também expressam-se na probóscide dos hemicordados, aqueles que se expressam na região mediana do cérebro de vertebrados, estão presentes no colar e aqueles do cérebro posterior se expressam no tronco dos hemicordados (LOWE et al. 2003). Além da similaridade morfológica da larva diplêurula de equinodermos e hemicordados (RUPPERT & BALSER 1986, BALSER & RUPPERT 1990, NIELSEN 2001, NAKANO et al. 2003), Ambulacraria é também suportado pela afinidade dos padrões de expressão protéica e de DNA mitocondriais (CASTRESANA et al. 1998), similaridades do celoma tripartido e presença do complexo axial (NIELSEN 2001). A expressão do gene Brachyury durante a invaginação da boca é uma característica compartilhada por Hemichordata e Echinodermata que parece constituir uma sinapomorfia de Ambulacraria (PETERSON et al. 1999). Os genes Hox posteriores dos hemicordados compartilham organização seqüencial semelhante à de equinodermos, mas não a outros deuterostômios, indicando que estes dois grupos estão mais próximos entre si do que Hemichordata está de Chordata (PETERSON 2004). A ausência da terminação N nos genes de actina em Saccoglossus kowalevskii (Hemichordata) também indica sua posição externa aos Chordata, pois se verificou que esta terminação ocorre apenas em urocordados, cefalocordados e vertebrados (BOVENSCHULTE & WEBER 1997). É esta a proposta filogenética que vem se consolidando em função dos muitos resultados provenientes da combinação de dados morfológicos e moleculares (TUBERVILLE et al. 1994, PETERSON & EERNISSE 2001, GLENNER et al. 2005). Estes resultados indicam que grande parte das características compartilhadas entre enteropneustos e cordados já deveriam estar presentes no ancestral dos deuterostômios e que foram perdidas por equinodermos e pterobrânquios em função da adoção de um plano corporal adulto bastante particular. Com isso, também se rejeita a hipótese de JEFFERIES et al. (1996) de um ancestral Calcichordata originando equinodermos e cordados e sugere-se que as fendas faringeanas ciliadas e o tubo nervoso dorsal são caracteres plesiomórficos dos deuterostômios (GERHART et al. 2005). Chordata 12 Os Chordata compreendem os tunicados, cefalocordados e vertebrados.Aparecem nas diferentes reconstruções filogenéticas como um grupo monofilético, com exceção de algumas reconstruções moleculares baseadas em 28S rDNA e 5.8S rDNA que apresentaram resultados ambíguos, com Tunicata na base de Ambulacraria + (Cephalochordata + Vertebrata) (WINCHELL et al. 2002). Sua principal sinapomorfia, a notocorda, ainda que degenerada em tunicados adultos, tem papel marcante na definição do grupo. Ainda assim, hipóteses como a de CHRISTOFFERSEN & ARAÚJO-DE-ALMEIDA (1994) desconsideram a notocorda e inserem outros grupos animais dentre os cordados; neste caso, os Chaetognatha. Como já discutido anteriormente, o posicionamento filogenético proposto por estes autores para os quetognatos envolve a aceitação de algumas apomorfias questionáveis e de 10 reversões, dentre elas a da própria notocorda. A justificativa dos autores foi de que a perda desta estrutura ocorreu em decorrência da adoção de hábitos holoplanctônicos. Esta hipótese, entretanto, não ganhou aceitação desde sua proposição e os cordados são ainda mantidos como um grupo monofilético de difícil contestação. Outras apomorfias de Chordata incluem a presença de um tubo nervoso dorsal e margem ventral da faringe formada por tecido glandular (endóstilo nos invertebrados e tiróide nos vertebrados) (BRUSCA & BRUSCA 1990, RUPPERT 1997, NIELSEN 2001). Os genes envolvidos nos “placodes” (centros neurogênicos presentes no embrião) dos vertebrados (Pax 2/5/8, XAG, Pax6, Pitx) bem como na diferenciação da crista neural (Pax3/7, Distal-less, Msx, Bmp2/4, Snail) também são expressos em regiões correspondentes nas ascídias e anfioxos (HOLLAND & HOLLAND 2001, MEINERTZHAGEN & OKAMURA 2001) e sugerem que a organização do sistema nervoso é uma característica compartilhada por todos os embriões de cordados (MANNI et al. 2004). Informações bioquímicas, morfológicas e de expressão gênica indicam que os anfioxos e as ascídias apresentam estruturas homólogas à adenohipófise dos vertebrados, um dos poucos órgãos derivados de “placodes” não neurogênicos (HOLLAND & HOLLAND 2001). O posicionamento interno dos subgrupos de Chordata ainda é objeto de polêmica e sofre alterações entre os estudos. Todas as possíveis combinações já foram defendidas: Vertebrata como grupo-irmão de Tunicata+Cephalochordata (JOLLIE 1973), Cephalochordata como grupo-irmão de Tunicata+Vertebrata (JEFFERIES et al. 1996, GIRIBET et al. 2000, GLENNER et al. 2005, RUPPERT 2005), ou Tunicata como grupo-irmão de Cephalochordata+Vertebrata (SWALLA et al. 2000, NIELSEN 2001, STACH & TURBEVILLE 2002, SHIMELD & HOLLAND 2005, ZENG & SWALLA 2005). Esta última é a mais aceita entre os autores. 13 Tunicata é um táxon também conhecido como Urochordata, nome cunhado por BALFOUR (1881, in ZENG & SWALLA 2005) para enfatizar a presença da notocorda na cauda, mas o termo Tunicata tem precedência e deve ser utilizado. O grupo compreende os Appendicularia (Larvacea é um nome mais recente), Thaliacea (salpas, doliolos e pirosomas), ambos os grupos de animais planctônicos, e Ascidiacea, classe formada por animais exclusivamente bênticos, solitários ou coloniais. Em 1975, MONNIOT et al. propuseram uma nova classe, Sorberacea, mas que é entendida por muitos autores como um grupo de ascídias bastante especializadas para vida em grandes profundidades. Tunicata é um grupo monofilético, cujas sinapomorfias são (1) a presença da túnica, uma espécie de tecido conjuntivo externo formado por uma extensa matriz, diferentes tipos celulares e fibras protéicas, contento um polissacarídeo semelhante à celulose chamado tunicina; (2) hermafroditismo e (3) fluxo sanguíneo bidirecional. Várias análises moleculares também indicam a monofilia de Tunicata (SWALLA et al. 2000, STACH & TURBEVILLE 2002, WINCHELL et al. 2002, TURON & LOPEZ-LEGENTIL 2004 e ZENG & SWALLA 2005). As relações entre as três classes de Tunicata ainda não foram totalmente esclarecidas. SWALLA et al. (2000), STACH & TURBEVILLE (2002) e ZENG & SWALLA (2005) apresentaram reconstruções filogenéticas para os tunicados com base em seqüências de 18S rDNA de várias espécies e também da análise combinada de dados moleculares e morfológicos. Os trabalhos demonstraram que Thaliacea é provavelmente grupo–irmão de Phlebobranchia, uma das ordens de Ascidiacea, indicando que esta última não é monofilética em sua atual composição. Appendicularia, classe de animais planctônicos que secretam um invólucro mucoso semelhante à túnica dos demais tunicados, constitui o grupo-irmão dos mesmos, mas esta posição é controversa, pois pode ser resultado da atração de ramos longos (ZENG & SWALLA 2005), artefato comum em reconstruções baseadas em genes com alta taxa de evolução. Estudos morfológicos anteriores já haviam reconhecido a proximidade entre ascídias Phlebobranchia e Thaliacea (TOKIOKA 1971). O plano corporal dos tunicados é tão distinto dos demais cordados que CAMERON et al. (2000) propuseram que os mesmos fossem elevados à condição de Filo, restringindo o Filo Chordata aos Cephalochordata+Vertebrata. Os Cephalochordata compreendem apenas 30 espécies conhecidas de modo genérico como anfioxos. Também se trata de um grupo monofilético, formado por animais marinhos bênticos alongados, cuja notocorda estende-se até a região cefálica, que apresentam cavidade atrial localizada ventralmente (RUPPERT 1997). Cephalochordata e Vertebrata aparecem como grupos-irmãos na maioria das filogenias moleculares (WADA & SATOH 1994, CAMERON et al. 2000, WINCHELL et al. 2002). As 14 principais justificativas morfológicas para esta configuração são a notocorda estendendo-se desde a região anterior até a cauda dos organismos e a formação de miótomos (musculatura em blocos). Durante o desenvolvimento embrionário, anfioxos e vertebrados têm seu plano corporal estabelecido por mecanismos muito similares (HOLLAND et al. 2001). Comparações de informações sobre expressão gênica durante o desenvolvimento embrionário sugerem que a ectoderme anterior dos anfioxos seja homóloga ao “placode” olfativo dos vertebrados (HOLLAND & HOLLAND 2001). Por outro lado, os vertebrados diferenciam-se dos cefalocordados por uma série de características genéticas e bioquímicas. Apesar de todos os deuterostômios possuírem o sistema complemento como mecanismo imune (NONAKA & YOSHIZAKI 2004), o sistema imune adaptativo (com células especializadas e anticorpos) foi estabelecido nos primeiros estágios da evolução dos vertebrados mandibulados, na divergência entre os Agnata e Chondrichthyes (LAIRD et al. 2000, ZARKADIS et al. 2001) e parece ter envolvido, entre outros, processos de duplicação intensa de genes (NONAKA 2001). Acredita-se que na evolução dos vertebrados ocorreram duas duplicações gênicas independentes do genoma completo, tornando-os octaploides (HOLLAND et al. 1994). A família de Hox genes também sofreu processo semelhante. Tunicados, anfioxos e vertebrados apresentam vários genes Hox agrupados em clusters, mas enquanto os cordados invertebrados apresentam um único cluster, vertebrados apresentam vários (HOLLAND & GARCIA-FERNANDEZ 1996). Outro aspecto interessante relatado por estes autores é que o cluster de anfioxos apresenta uma organização extremamente similar àquela inferida para o ancestral de vertebrados. O papel primitivo destes genes Hox nos cordados seria a formação de padrões regionais específicos no tubo neural. Sobre a origem de Chordata várias hipóteses já foram lançadas, entre elas, uma das mais influentes desde a época de sua apresentação é a de GARSTANG (1928 in LACALLI 2005), segundo a qual os deuterostômios ancestrais seriam animais sedentários providos de tentáculos, cujos estágios larvais móveis (larva diplêurula) deram origem aos cordados por pedomorfose, uma forma de heterocronia na qual a larva adquire gônadas e substitui os adultos. O processo ocorreria novamente com as larvas de tunicadospara a formação do clado Cephalochordata+Vertebrata. O novo adulto deveria então incorporar características originalmente desenvolvidas como adaptações do estágio larval. Infelizmente, dados moleculares têm fornecido forte evidência de que cordados adultos e larvas do tipo diplêurula não compartilham todo um grupo de regiões corporais o que enfraquece sobremaneira a tentativa de derivar o adulto a partir destas larvas (LACALLI 2005). 15 Desde o século XIX os zoólogos já haviam percebido que artrópodes e cordados apresentam uma organização dorso-ventral inversa. O padrão dos artrópodes é compartilhado por todos os protostômios e também pelos hemicordados e consiste na presença de cordões nervosos ventrais, coração dorsal e circulação sanguínea no sentido posterior-anterior no vaso dorsal. Nos cordados por sua vez, o tubo nervoso é dorsal, o coração é ventral e o fluxo sanguíneo apresenta sentido inverso, sugerindo a possibilidade de uma inversão do eixo dorso-ventral no ancestral de Chordata. Novas evidências sugerindo esta inversão foram apresentadas nos últimos anos. A comparação dos mapas de destino das células na blástula e gástrula de anelídeos, artrópodes e cordados mostra que a região neurogênica tem mesma posição em relação à assimetria inicial dos ovos nos três grupos e que as células da linha ventral dos insetos correspondem às células da linha média dorsal dos vertebrados (ARENDT & NUBLE-JUNG 1997). A região dorsal da faringe do hemicordado Schizocardium brasiliense apresenta correspondência anatômica e histológica com o endóstilo ventral dos cordados (RUPPERT et al. 1999). Dados de expressão gênica também indicam que a ectoderme em moscas e a mesoderme em sapos segregam dois domínios dorso-ventrais invertidos (HOLLEY et al. 1995, DE ROBERTIS & SASAI 1996, HOLLEY & FERGUSON 1997). As células de um domínio secretam um certo tipo de fator de crescimento β (Bmp-2, Bmp-4, Bmp-7 em cordados; Dpp em Drosophila), enquanto células do domínio oposto não, mas secretam antagonistas destes fatores (Chordin em cordados; Sog em Drosophila). Estes genes parecem particularmente significativos porque seus domínios servem como compartimentos dorso- ventrais do eixo corporal (como os compartimentos Hox do eixo antero-posterior). Desta forma eles devem estar mais relacionados à organização geral do corpo do que unicamente à diferenciação celular localizada. Estas idéias não são totalmente aceitas e GERHART (2000) apresenta uma hipótese alternativa em que o ancestral comum de protostômios e deuterostômios teria uma organização dorso-ventral ambígua, com sistema nervoso difuso ou com vários cordões e um coração anterior. A partir deste ancestral protostômios e deuterostômios poderiam ter evoluído em direções opostas, com expressões gênicas invertidas em relação ao plano dorso-ventral, sem necessariamente ter ocorrido qualquer inversão deste plano ao longo da evolução dos animais. A hipótese de que os vertebrados seriam descendentes de um ancestral pré- equinodermo carpóide, independente dos urocordados e cefalocordados foi rejeitada por vários autores no campo morfológico e funcional (BONE 1984, BRUSCA & BRUSCA 1990, NIELSEN 1995). Análises moleculares também rejeitam esta hipótese, indicando que tunicados, cefalocordados e vertebrados pertencem ao mesmo clado. Os cordados formam o 16 grupo-irmão, mas estão claramente separados do clado que inclui equinodermos e hemicordados. Conclusões Uma enorme quantidade de informações sobre os deuterostômios foi produzida nos últimos 10 anos e parece que o conhecimento acumulado começa a solidificar-se em torno de alguns resultados recorrentes: 1. Deuterostomia sensu stricto é um grupo monofilético que inclui Ambulacraria+Chordata; 2. Ambulacraria é formado por Echinodermata+Hemichordata e Chordata é formado por Tunicata+(Cephalochordata+Vertebrata) (Figura 1); 3. as apomorfias de Deuterostomia incluem corpo trimérico, sistema nervoso em forma de rede subepidérmica e presença de fendas na faringe; 4. Enteropneusta parece ter mantido o plano corporal mais próximo de um possível ancestral de Deuterostomia; 5. o ancestral dos deuterostômios deve ter sido um organismo marinho, vermiforme, com faringe perfurada capaz de filtração do alimento e sistema nervoso em forma de rede subepidérmica. Echinodermata Hemichordata Tunicata Cephalochordata Vertebrata Ambulacraria Chordata Fig. 1. Posição filogenética atualmente mais aceita para os táxons deuterostômios, baseada tanto em caracteres morfológicos quanto moleculares. Referências Bibliográficas 17 ADOUTTE, A., G. BALAVOINE; N. LARTILLOT; O. LESPINET; B. PRUD’HOME & R. DE ROSA 2000. The new animal phylogeny: reliability and implications. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 97(9): 4453-4456. AGUINALDO, A.M.A., J.M. TURBEVILLE, L.S. LINFORD, M.C. RIVERA, J.R. GAREY, R.A. RAFF & J.A. LAKE. 1997. Evidence for a clade of nematodes, arthropods and other moulting animals. Nature, London, 387: 489-493. ALMEIDA, W.O., M.L. CHRISTOFFERSEN, D.S. AMORIM, A.R.S. GARRAFFONI & G.S. SILVA. 2003. Polychaeta, Annelida and Articulata are not monophyletic: articulating the Metameria (Metazoa, Coelomata). Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 20 (1): 23- 57. ARENDT, D. & K. NÜBLER-JUNG. 1997. Dorsal or ventral: Similarities in fate maps and gastrulation patterns in annelids, arthropods and chordates. Mechanisms of Development, Shannon, 61 (1-2): 7-21. BALFOUR, F.M. 1881. A treatise of comparative embryology. Vol. 2. Macmillan, London. BALSER, E.J. & E.E. RUPPERT. 1990. Structure, ultrastructure, and function of the pre-oral heart-kidney in Saccoglossus kowalevskii (Hemichordata, Enteropneusta) including new data on the stomochord. Acta Zoologica, Stockholm, 71: 235-249. BARTOLOMAEUS, T. 2001. Ultrastructure and formation of the body cavity lining in Phoronis muelleri (Phoronida, Lophophorata). Zoomorphology, Berlin, 120 (3): 135-148. BONE, Q. 1987. The origin of chordates. V. 18. Carolina Biological Supply Company. 16pp. BOURLAT, S.J.; C. NIELSEN; A.E. LOCKYER; D.T. LITTLEWOOD & M.J. TELFORD. 2003. Xenoturbella is a deuterostome that eats molluscs. Nature, London, 424: 925–8. BOVENSCHULTE, M. & K. WEBER. 1997. Deuterostomic actin genes and the definition of the Chordates: cDNA cloning and gene organization for Cephalochordates and Hemichordates. Journal of Molecular Evolution, New York, 45 (6): 653-660. BROMHAM, L.D & B.M. DEGNAN. 1999. Hemichordates and deuterostome evolution: robust molecular phylogenetic support for a hemichordate + echinoderm clade. Evolution & Development, Malden, 1 (3): 166-171. BRUSCA, R.C. & G.J. BRUSCA. 1990. Invertebrates. Sinauer Associates, Sunderland, 922pp. CAMERON, C.B. 2005. A phylogeny of the hemichordates based on morphological characters. Canadian Journal of Zoology, Ottawa, 83: 196–215. CAMERON, C.B. & G.O. MACKIE. 1996. Conduction pathways in the nervous system of Saccoglossus sp. (Enteropneusta). Canadian Journal of Zoology, Ottawa, 74: 15–19. 18 CAMERON, C.B.; J.R. GAREY & B.J. SWALLA 2000. Evolution of the chordate body plan: new insights from phylogenetic analyses of deuterostome phyla. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 97 (9): 4469-4474. CASTRESANA, J.; G. FELDMAIER-FUCHS; S. YOKOBORI; N. SATOH & S. PAABO. 1998. The mitochondrial genome of the hemichordate Balanoglossus carnosus and the evolution of deuterostome mitochondria. Genetics, Bethesda, 150 (3): 1115–1123. CHRISTOFFERSEN, M.L. & E. ARAÚJO-DE-ALMEIDA. 1994. A phylogenetic framework of the Enterocoela (Metameria: Coelomata). Revista Nordestina de Biologia, João Pessoa, 9 (2): 173-208. CRIPPS, A.P. 1991. Cladistic analysis of the cornutes (stem chordates). Zoological Journal of the Linnean Society, London, 102: 333-366. CUÉNOT,L. 1940. Essai d’arbre généalogique du règne animal. Comptes Rendus hebdomadaire Séances de l’Academie de Sciences, Paris, 210: 196-199. DE ROBERTIS, E.M. & Y. SASAI. 1996. A common plan for dorsoventral patterning in Bilateria. Nature, London, 380, 37-40. DE ROSA, R. 2001. Molecular data indicate the protostome affinity of brachiopods. Systematic Biology, London, 50 (6): 848–859. DE ROSA, R.; J.K. GRENIER; T. ANDREEVA; C.E. COOK; A. ADOUTTE; M. AKAM; S.B. CAROLL & G. BALAVOINE. 1999. Hox genes in brachiopods and priapulids and protostome evolution. Nature, London, 399: 772-776. DEWELL, R.A. 2000. Colonial origin for Eumetazoa: Major morphological transitions and the origin of Bilaterian complexity. Journal of Morphology, New York, 243: 35-74. D’HONDT, J.-L. 1997. Les bryozoaires sont-ils des protostomiens ou des deuterostomiens? Bulletin de la Societé Zoologique de France, Paris, 122 (3): 261-268. EMIG, C.C. 1982. The biology of Phoronida. Advances in Marine Biology, San Diego, 19: 1- 89. EMIG, C.C. 1984. On the origin of the Lophophorates. Zatschrift fuer Zoologische Systematik und Evolution forschung, Hamburg, 22: 91-94. ERWIN, D.H. 1991. Metazoan phylogeny and the Cambrian radiation. Trends in Ecology and Evolution, Limerick, 6: 131-134. FIELD, K.G., G.J. OLSEN, D.J. LANE, S.J. GIOVANNONI, M.T. GHISELIN, E.C. RAFF, N.R. PACE & R.A RAFF. 1988. Molecular phylogeny of the animal kingdom. Science, Washington, 239: 748-753. 19 FURLONG, R.F. & P.W.H. HOLLAND. 2002. Bayesian phylogenetic analysis supports monophyly of ambulacraria and of cyclostomes Zoological Science, Tokyo, 9(5): 593- 599. GARSTANG, W. 1928. The morphology of the Tunicata, and its bearing on the phylogeny of the Chordata. Quarterly Journal of Microscopical Science, Oxford, 72: 51–187. GERHART, J. 2000. Inversion of the chordate body axis: Are there alternatives? Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 97 (9): 4445-4448. GERHART, J.; C. LOWE & M. KIRSCHNER. 2005. Hemichordates and the origin of chordates. Current Opinion in Genetics & Development, London, 15: 1-7. GIRIBET, G.; D.L. DISTEL; M. POLZ; W. STERRER & W.C. WHEELER. 2000. Triploblastic Relationships with Emphasis on the Acoelomates and the Position of Gnathostomulida, Cycliophora, Plathyelminthes, and Chaetognatha: A combined approach of 18S rDNA sequences and morphology. Systematic Biology, London, 49 (3): 539 - 562. GLENNER, H.; A.J. HANSEN; M.V. SØRENSEN; F. RONQUIST; J.P. HUELSENBECK & E. WILLERSLEV. 2005. Bayesian inference of the metazoan phylogeny. A combined molecular and morphological approach. Current Biology, Kidlington, 15 (4): 392- 393. GRAHAM, A. 2000. Animal Phylogeny: root and branch surgery. Current Biology, Kidlington, 10 (1): 36-38. GROBBEN, K. 1908. Die systematische Einteilung des Tierreiches. Verhandlungen der Zoologische Botanischen Gesellschaft, Wien, 58:491-511. GROBBEN, K. 1923. Theoretische Erorterungen betreffend diephylogenetische Ableitung der Echinodermen. Sber Akademie du Wissenschaften, Wien, 132 (1): 263-290. GUREEVA, M.A. 1979. A contribution to the study of the early development of Nereilinum murmanicum Ivanov, 1961 (Pogonophora). Proceedings of the Zoological Institute and Academy of Science USSR, St. Petersburg, 84: 63-72. GUREEVA, M. A. & A. IVANOV. 1986. On the coelomic mesoderm formation in embryos of Oligobrachia mashikoi (Pogonophora). Zoologicheskii Zhurnal, Moscow, 65: 780-788. HALANYCH, K.M.1995. The phylogenetic position of the pterobranch hemichordates based on 18S rDNA sequence data. Molecular Phylogenetics and Evolution, Orlando, 4 (1): 72- 76. HALANYCH, K.M. 1996a. Testing hypothesis of chaetognat origins: long branches revealed by 18S rDNA. Systematic Biology, London, 45: 223-246. 20 HALANYCH, K.M. 1996b. Convergence in the feeding apparatuses of lophophorates and pterobranch hemichordates revealed by 18S rDNA: An interpretation. Biological Bulletin, Woods Hole, 190:1–5. HALANYCH, K.M.; J.D. BACHELLER; A.M.A. AGUINALDO; S.M. LIVA; D.M. HILLIS & J.A. LAKE. 1995. Evidence from 18S ribosomal DNA that the lophophorates are protostome animals. Science, Washington, 267:1641–1643. HATSCHEK, B. 1888. Lehrbuch der Speziellen Zoologie, 1. Lieferung. Gustav Fischer, Jena. HATSCHEK, B. 1911. Das neue zoologisches System. W. Engelmann, Leipzig. HENRY, J.Q.; K. TAGAWA & M.Q. MARTINDALE. 2001. Deuterostome evolution: early development in the enteropneust hemichordata, Ptychodera flava. Evolution and Development, Malden, 3 (6): 375-390. HOLLAND, L.Z. 1988. The meaning of developmental asymmetry for echinoderm evolution: a new interpretation, p.13-25. In: PAUL, C. & A. SMITH (eds). Echinoderm phylogeny and evolutionary biology. Clarendon Press, Oxford. HOLLAND, L.Z. & N.D. HOLLAND. 2001. Evolution of neural crest and placodes: amphioxus as a model for the ancestral vertebrate? Journal of Anatomy, Cambridge, 199: 85–98. HOLLAND, L.Z.; M. KENE; N.A. WILLIAMS & N. HOLLAND. 1997. Sequence and embryonic expression of the amphioxus engrailed gene (AmphiEn): the metameric pattern of transcription resembles that of its segment-polarity homolog in Drosophila. Development, Cambridge, 124: 1723-1732. HOLLAND, L.Z; L.A RACHED; R. TAMME; N.D. HOLLAND; H. INOKO; T. SHIINA, C. BURGTORF & M. LARDELLI. 2001. Characterization and developmental expression of the amphioxus homolog of Notch (AmphiNotch): Evolutionary conservation of multiple expression domains in amphioxus and vertebrates Developmental Biology, Orlando, 232 (2): 493– 507. HOLLAND, P.W.H & J. GARCIA-FERNANDEZ. 1996. Hox Genes and Chordate Evolution. Developmental Biology, Orlando, 173: 382–395. HOLLAND, P.W.H.; J. GARCIA-FERNANDEZ; N.A. WILLIAMS & A. SIDOW. 1994. Gene duplications and the origins of vertebrate development. Development, Cambridge, 120 (Suppl.), 125–133. HOLLEY, S.A.; P.D. JACKSON; Y. SASAI; B. LU; E.M. DE ROBERTIS; F.M. HOFFMANN & E.L. FERGUSON. 1995. A conserved system for dorsal-ventral patterning in insects and vertebrates involving Sog and Chordin. Nature, London, 376: 249-253. 21 HOLLEY, S.A. & E.L. FERGUSON. 1997. Fish are like flies are like frogs: Conservation of dorsal-ventral patterning mechanisms .BioEssays, New York, 19 (4): 281–284. HYMAN, L.H. 1955. The invertebrates: Echinodermata. The coelomate Bilateria. Vol 4, McGraw-Hill, New York, 763 pp. HYMAN, L.H. 1959. The invertebrates: smaller coelomate groups. Vol 5, McGraw-Hill, New York, 783 pp. IVANOV, A. 1988. Analysis of the embryonic development of Pogonophora in connection with the problems of phylogenetics. Zatschrift fuer Zoologische Systematik und Evolution forschung, Hamburg, 26: 161-185. IVANOV, A. 1994. On the systematic position of the Vestimentifera. Zoologische Jahrbucher Abteilung fuer Systematik Oekologie und Geographieder Tiere, Jena, 121: 409-456. JEFFERIES, R.P.S. 1986. The ancestry of vertebrates. British Museum (Natural History) & CambridgeUniversity Press, London. JEFFERIES, R.P.S 1991. Two types of bilateral symmetry in the Metazoa: chordate and bilaterian. Pp 44-127. Ciba Foundation Symposium 162 – Biological asymmetry and handedness. Wiley, Chichester. JEFFERIES, R.P.S; N.A BROWN & P.E.DALEY.1996. The early phylogeny of chordates and echinoderms and the origin of chordate left-right asymmetry and bilateral symmetry. Acta Zoologica, Stockholm, 77 (2): 101–122. JOLLIE, M. 1973. The origin of the chordates. Acta Zoologica, Stockholm, 54: 81-100. JOLLIE, M. 1982. What are Calcichordata? And the larger question of the origin of chordates. Zoological Journal of the Linnean Society, London, 75: 167-188. LACALLI, T.C. 1997. The nature and origin of deuterostomes: some unresolved issues. Invertebrate Biology, Lawrence, 116 (4): 363-370. LACALLI, T.C. 2005. Protochordate body plan and the evolutionary role of larvae: old controversies resolved? CanadianJournal of Zoology, Ottawa, 83: 216–224. LAIRD D.J.; A.W. DE TOMASO; M.D. COOPER & I.L. WEISSMAN. 2000. 50 million years of chordate evolution: seeking the origins of adaptive immunity. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 97 (13): 6924-6926. LØVTRUP, S. 1975. Validity of the Protostomia-Deuterostomia theory. Systematic Zoology, London, 24: 96-108. LOWE, C.; M. WU; A. SALIC; L. EVANS; E. LANDER; N. STANGE-THOMANN; C.E. GRUBER; J. GERHART & M. KIRSCHNER. 2003. Anteroposterior patterning in hemichordates and the origins of the chordate nervous system. Cell, Cambridge, 113: 853–865. 22 LÜTER, C. 2000. The origin of the coelom in Brachiopoda and its phylogenetic significance. Zoomorphology, Berlin, 120 (1): 15-28. MANNI, L.; N.J. LANE, J.-S. JOLY; F. GASPARINI; S. TIOZZO; F. CAICCI; G. ZANIOLO & P. BURIGHEL. 2004. Neurogenic and non-neurogenic placodes in ascidians Journal of Experimental Zoology (Mol. Dev. Evol.), NewYork, 302B: 483–504. MCHUGH, D. 1997. Molecular evidence that echiurans and pogonophorans are derived annelids. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 94 (15): 8006-8009. MEINERTZHAGEN, I.A. & Y. OKAMURA. 2001. The larval ascidian nervous system: the chordate brain from its small beginnings. Trends in Neuroscience, Kidlington, 24: 401–410. MONNIOT, C; F. MONNIOT & F. GAILL. 1975. Les Sorberecea: Une nouvelle classe de Tuniciers. Archives de Zoologie Expérimentale et Génerale, Paris, 166: 77-122. NAKANO, H.; T. HIBINO; T. OJI; Y. HARA & S. AMEMIYA. 2003. Larval stages of a living sea lily (stalked crinoid echinoderm). Nature, London, 421: 158–160. NIELSEN, C. 1995. Animal evolution: Interrelationships of the living phyla. Oxford University Press, Oxford, 467 pp. NIELSEN, C. 2001. Animal evolution. Interrelationships of the living phyla. 2nd edition. Oxford University Press, Oxford, 563 pp. NONAKA, M. 2001. Evolution of the complement system. Current Opinion in Immunology, London, 13: 69-73. NONAKA, M. & F. YOSHIZAKI. 2004. Evolution of the complement system. Molecular Immunology, Kidlington, 40: 897–902. OGASAWARA, M.; H. WADA; H. PETERS & N. SATOH. 1999. Developmental expression of Pax1/9 genes in urochordate and hemichordate gills: insight into function and evolution of the pharyngeal epithelium. Development, Cambridge, 126: 2539–2550. PAUL, C.R.C. & A.B. SMITH. 1984. The early radiation and phylogeny of echinoderms. Biological Reviews, Cambridge, 59: 443-481. PETERSON, K.J. 2004. Isolation of Hox and ParaHox genes in the hemichordate Ptychodera flava and the evolution of deuterostome Hox genes. Molecular Phylogenetics and Evolution, Orlando, 31: 1208–1215. PETERSON, K.J. & E.H. DAVIDSON. 2000. Regulatory evolution and the origin of the bilaterians. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 97 (9): 4430-4433. 23 PETERSON, K.J. & D.J. EERNISSE. 2001. Animal phylogeny and the ancestry of bilaterians: inferences from morphology and 18S rDNA gene sequences. Evolution and Development, Malden, 3 (3): 170-205. PETERSON, K.J.; R.A. CAMERON; K. TAGAWA; N. SATOH & E.H. DAVIDSON. 1999. A comparative molecular approach to mesodermal patterning in basal deuterostomes: the expression pattern of Brachyury in the enteropneust hemichordate Ptychodera flava. Development, Cambridge, 126:85-95. ROUSE, G.W. & K. FAUCHALD. 1997. Cladistics and polychaetes. Zoologica Scripta, Kidlington, 26 (2): 139-204. RUPPERT, E.E. 1997. Cephachordata (Acrania). p. 349-504. In: HARRISON, F. W. (ed.) Microscopic Anatomy of Invertebrates. Vol. 15, Wiley-Liss, New York. RUPPERT, E.E. 2005. Key characters uniting hemichordates and chordates: homologies or homoplasies? Canadian Journal of Zology, Ottawa, 83: 8–23. RUPPERT, E.E. & E.J. BALSER. 1986. Nephridia in the larvae of Hemichordates and Echinoderms. Biological Bulletin, Woods Hole, 171: 188-186. RUPPERT, E.E. & R.D. BARNES 1996. Zoologia dos invertebrados. Editora Rocca LTDA. São Paulo, SP. 1029 pp. RUPPERT, E.E; C.B CAMERON & J.E. FRICK. 1999. Morphological evidence for dorsal–ventral axis inversion of chordates: an endostyle-like organ in the dorsal pharynx of Enteropneusta. Invertebrate Biology, Lawrence, 118(2): 202–212. SALVINI-PLAWEN, L.V. 1982. A paedomorphic origin of oligomerous animals? Zoologica Scripta, Kidlington, 11 (2): 77-81. SALVINI-PLAWEN, L.V. 2000. What is convergent/homoplastic in Pogonophora? Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research, Berlin, 38 (3): 133-147. SCHAEFFER, B. 1987. Deuterostome monophyly and phylogeny, p 179-235. In: Hecht, M.K., B. Wallace & G. Prance (Eds.) Evolutionary Biology. Vol 21. New York, Plenum Press. SHIMELD, S.M. & N.D. HOLLAND. 2005. Amphioxus molecular biology: insights into vertebrate evolution and developmental mechanisms. Canadian Journal of Zoology, Ottawa, 83: 90–100. SCHRAM, F.R. 1991. Cladistic analysis of metazoan phyla and the placement of fossil problematica, p. 35-46. In: A SIMONETA & S. CONWAY MORRIS (Eds.). The early evolution of Metazoa and the significance of problematic taxa. Cambridge University Press, Cambridge. 24 SOUTHWARD, E.C. 1993. Pogonophora, p. 327-369. In: F.W. HARRISON & M.E. RICE (Eds.). Microscopic anatomy of invertebrates, volume 12. Onychophora, Chilopoda and lesser Protostomia. Wiley-Liss, New York. STACH, T. & J.M. TURBEVILLE. 2002. Phylogeny of Tunicata inferred from molecular and morphological characters. Molecular Phylogenetics and Evolution, Orlando, 25 (3): 408-428. SWALLA, B.J.; C.B. CAMERON; L.S. CORLEY & J.R. GAREY. 2000. Urochordates are monophylethic within the deuterostomes. Systematic Biology, London, 49 (1): 52-64. TELFORD, M.J. & P.W.H. HOLLAND. 1993. The phylogenetic affinities of the chaetognats: a molecular analysis. Molecular Biology and Evolution, Lawrence, 10: 660–676. TOKIOKA, T. 1971. Phylogenetic speculation of the Tunicata. Publications of the Seto Marine Biological Laboratory, Shirahama, 19: 43–63. TURBEVILLE, J. M.; J.R. SCHULZ; R.A. RAFF. 1994. Deuterostome phylogeny and the sister group of the chordates: evidence for molecules and morphology. Molecular Biology and Evolution, Lawrence, 11: 648–655. TURON, X. & S. LÓPEZ-LEGENTIL. 2004. Ascidian molecular phylogeny inferred from mtDNA data with emphasis on the Aplousobranchiata. Molecular Phylogenetics and Evolution, Orlando, 33(2): 309–320. ULRICH, W. 1951. Vörschlage zu einer revision der Grosseinteilung des Tierreichs. Zoologischer Anzeiger, Jena, 15 (suppl.): 244-271. WADA, H. & N. SATOH. 1994. Details of the evolutionary history from invertebrates to vertebrates, as deduced from the sequences of 18S rDNA. Proceedings of the National Academy of Science, Washington, 91: 1801-1804. WADA, H. & N. SATOH. 2001. Patterning the protochordate neural tube. Current Opinion in Neurobiology, London, 11: 16-21. WINCHELL, C.J.; J. SULLIVAN; C.B. CAMERON; B.J. SWALLA & J. MALLAT. 2002. Evaluating hypothesis of deuterostome phylogeny. Molecular Biology and Evolution, Lawrence, 19 (5): 762-776. WINNEPENNINCKX, B.; T. BACKELJAU & R.M. KRISTENSEN. 1998. Relationships of the new phylum Cycliophora. Nature, London, 393: 636-638. ZARKADIS, I.K.; D. MASTELLOS & J.D. LAMBRIS. 2001. Phylogenetic aspects of complement system. Developmental and Comparative Immunology, Kidlington, 25: 745-762. ZENG, L. & B.J. SWALLA. 2005. Molecular Phylogeny of the Protochordates: Chordate Evolution. Canadian Journal of Zoology, Ottawa, 8: 24-33. 25 ZRZAVÝ, J.; S. MIHULKA; P. KEPKA; A. BEZDEK & D. TIEZ. 1998. Phylogeny of Metazoa based on morphological and 18S ribossomal DNA evidence. Cladistics, San Diego, 14 (3): 249- 286. 26 Yara A. GarciaTavares3, 4 Rafael Metri3 Introdução Chaetognatha Lofoforados Echinodermata Hemichordata Chordata
Compartilhar