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UNIVERSIDADE FEEVALE - Instituto de Ciências da Saúde Embriologia e Histologia Professora: Andréia M. I. Sopelsa FERTILIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO INICIAL PRIMEIRA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO A primeira semana de desenvolvimento é caracterizada por vários eventos importantes que incluem a fertilização, a clivagem do zigoto, a formação de um blastocisto e sua implantação no útero. FERTILIZAÇÃO Através da fertilização ocorre o encontro do gameta masculino (espermatozóide) com o feminino (ovócito), o que resulta na formação do zigoto ou célula-ovo (2n). O material genético das duas células haplóides se unem, formando um único núcleo diplóide no zigoto. Esta célula altamente especializada, chamada de célula-tronco totipotente, possui a capacidade de se diferenciar em todas as nossas células, desta forma ocorre o início do desenvolvimento do embrião. Cultura de células-tronco embrionárias totipotentes - zigoto e mórula. Blastocisto - células-tronco embrionárias pluripotentes. Fonte: http://www.lance-ufrj.org/ceacutelulas-tronco.html Apesar do desenvolvimento ter início com a fertilização, os estágios e a duração da gravidez são calculados a partir do início do último período menstrual normal da mãe, que ocorre cerca de 14 dias antes da concepção. Esta é a idade da gestação, que superestima o momento da fertilização, ou idade do embrião, em 2 semanas. cerca de 200 milhões de espermatozóides são introduzidos na vagina (ejaculado) menos de 2 milhões (1%) chegam ao colo do útero somente cerca de 200 espermatozóides alcançam o ovócito secundário Viabilidade dos espermatozóides: até 48 horas após a deposição na vagina Viabilidade do ovócito secundário: até 24 horas após a ovulação A fertilização normalmente ocorre na região da tuba uterina chamada de ampola, no período de 12 a 24 horas após a ovulação. Se não houver fertilização, ele avança pela tuba até chegar ao útero, onde degenera e é reabsorvido. Microfotografias mostrando vários espermatozóides tentando penetrar o ovócito (à esquerda) e o ovócito envolvido pela corona radiata (células foliculares), à direita. Fonte: http://biologiainterativa.files.wordpress.com/2009/05/ovulo.jpg Fonte:http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/foto/0,,32697297-EX,00.jpg Fases da fertilização: a) Penetração do espermatozóide: passagem do espermatozóide através da corona radiata, camadas de células que circundam o ovócito secundário, e depois através da zona pelúcida, uma camada transparente de glicoproteínas. Estas glicoproteínas auxiliam na liberação de enzimas (especialmente a hialuronidase e a acrosina) contidas no acrossomo, situado na cabeça do espermatozóide, para que ele possa alcançar a membrana plasmática do ovócito. As enzimas da camada mucosa da tuba e os movimentos da cauda do espermatozóide também são muito importantes durante a penetração. Quando um espermatozóide penetra na zona pelúcida, ocorre uma reação (ação de enzimas lisossômicas) que impede a passagem de outros espermatozóides. b) Fusão das membranas plasmáticas: as membranas do ovócito e do espermatozóide se fundem. A cabeça e a cauda do espermatozóide penetram no citoplasma do ovócito. c) Término da segunda divisão meiótica do ovócito e formação do pronúcleo feminino: após a entrada do espermatozóide, o ovócito secundário, que estava parado na metáfase da segunda divisão meiótica, completa esta divisão, formando um óvulo maduro e um segundo corpúsculo polar, que se fragmenta e desintegra. Após a descondensação dos cromossomos maternos, o núcleo do óvulo maduro torna-se o pronúcleo feminino. d) Formação do pronúcleo masculino: no citoplasma do ovócito, o núcleo do espermatozóide aumenta, formando o pronúcleo masculino, e a cauda do espermatozóide degenera. Morfologicamente os dois pronúcleos são indistinguíveis. e) Primeira divisão de clivagem: as membranas dos pronúcleos se dissolvem, os cromossomas se condensam e se preparam para a mitose. O ovócito fertilizado passa a ser chamado de zigoto, é um embrião unicelular. A combinação dos 23 cromossomas de cada pronúcleo resulta em um zigoto com 46 cromossomos. Fertilização. Fonte: Tortora & Grabowski, 2006. Diagramas ilustrando a reação do acrossoma e espermatozóide penetrando em um ovócito. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Diagramas ilustrando a fertilização, sequência de eventos que começa com o contato do espermatozóide com a membrana plasmática do ovócito secundário e, termina com o embaralhamento dos cromossomas maternos e paternos, na metáfase da primeira divisão mitótica do zigoto. Fonte: Moore & Persaud, 2000. CLIVAGEM DO ZIGOTO Após a fertilização o desenvolvimento embrionário apresenta as etapas de clivagem ou segmentação, que consiste em repetidas divisões mitóticas do zigoto, que levam a um rápido aumento do número de células, os blastômeros, que ficam menores a cada divisão de clivagem. A primeira divisão do zigoto começa em torno de 24-30 horas após a fertilização e se completa cerca de 6 horas mais tarde, quando o zigoto se divide em dois blastômeros, mais tarde estas células se dividem em quatro blastômeros, oito blastômeros, e assim por diante. Durante estas etapas, o zigoto avança pelas trompas em direção ao útero. Após o estágio de nove células, os blastômeros mudam de forma e se ajustam firmemente uns aos outros, formando uma bola compacta (compactação). Clivagens sucessivas produzem uma massa sólida de células (12 a 15 blastômeros), denominada mórula, ainda circundada pela zona pelúcida. Entre o terceiro e quarto dia após a fertilização, a mórula entra na cavidade uterina. Formação da mórula. Fonte: Elsevier Science, 2003. Clivagem do zigoto e a formação do blastocisto. Fonte: http://www.oocities.org/fertilmontes/fiv.htm. Clivagem do zigoto e a formação do blastocisto: A. primeiro dia; B. segundo dia; C. terceiro dia; D. quarto dia; E e F. quinto dia. Fonte: Moore & Persaud, 2000. FORMAÇÃO DO BLASTOCISTO Entre o quarto e quinto dia pós-fertilização, uma secreção rica em glicogênio das glândulas uterinas penetra na mórula, acumula-se entre os blastômeros, formando uma cavidade cheia de líquido, a cavidade blastocística ou blastocele. Com a formação desta cavidade a massa celular em desenvolvimento passa a ser chamada de blastocisto. Um rearranjo dos blastômeros resulta na formação de duas estruturas distintas: 1) embrioblasto ou massa celular interna: localiza-se internamente e irá se transformar no embrião. 2) trofoblasto: camada externa de células que forma a parede do blastocisto. Irá dar origem à parte embrionária da placenta (troca de nutrientes e resíduos entre a mãe e o feto). O blastocisto permanece livre no interior do útero durante cerca de dois dias. Após este período a zona pelúcida do blastocisto degenera e desaparece, permitindo que ele aumente rapidamente de tamanho e se fixe à parede uterina (endométrio) - implantação -, em torno de seis dias após a fertilização. Durante a implantação, o blastocisto se orienta com a massa celular interna voltada para o endométrio. Blastocistos. Fonte: http://maymartosbio.blogspot.com.br/2011/01/o-que-e-embriologia.html e http://maisemmim.blogspot.com.br/2010/06/4-semana-implantacao.html. Logo que adere ao endométrio, o trofoblasto começaa proliferar rapidamente e se diferencia em duas camadas: citotrofoblasto: camada interna de células; sinciciotrofoblasto: massa multinucleada externa em rápida expansão (fusão de células), onde não podem ser observados os limites celulares. Ligação do blastocisto ao epitélio do endométrio e os estágios iniciais da implantação. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Em torno de 6 dias, durante a implantação, surgem prolongamentos digitiformes do sinciciotrofoblasto que alcançam o epitélio endometrial e, com a ajuda de enzimas secretadas fazem uma espécie de erosão, invadindo o tecido conjuntivo do endométrio (estroma). Em torno de 7 dias, surge uma camada de células na superfície do embrioblasto chamada de hipoblasto. No final da primeira semana o blastocisto encontra-se superficialmente implantado, obtendo nutrição dos tecidos maternos invadidos. Resumo do ciclo ovariano, fertilização e desenvolvimento humano durante a primeira semana. Fonte: Moore & Persaud, 2000. SEGUNDA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO Durante a fase final da implantação, as células do estroma (tecido conjuntivo endometrial) ao redor do local de implantação acumulam glicogênio e lipídios e adquirem um aspecto poliédrico. Algumas destas células - células da decídua - degeneram nas adjacências e o sinciciotrofoblasto captura-as para a nutrição do embrião. O sinciciotrofoblasto começa a produzir o hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG) e uma quantidade deste hormônio penetra no sangue materno. A hCG serve para manter a atividade endócrina do corpo lúteo durante a gravidez, fazendo com que ele produza progesterona e estrogênio, para manter o endométrio em estado secretor, impedindo a menstruação. Por volta da nona semana de gestação, a placenta é que passará a produzir estes hormônios, para sustentar a gravidez. Além disso, a hCG constitui a base dos testes de gravidez. No final da segunda semana, já é produzida uma quantidade suficiente de hCG para dar um resultado positivo para um teste de gravidez, embora, geralmente, a mulher ainda nem sabe que está grávida. Durante a segunda semana do desenvolvimento embrionário termina o processo de implantação e ocorrem grandes transformações morfológicas na massa celular interna (embrioblasto), que se diferencia em duas camadas: o epiblasto (ectoderma primitivo); o hipoblasto (endoderma primitivo). As células destas camadas formam, em conjunto, um disco embrionário bilaminar (formado por duas camadas), que dá origem às camadas germinativas que irão formar todos os órgãos e tecidos do embrião. Um embrião de 14 dias tem a forma de um disco embrionário bilaminar, mas, em uma área localizada, as células endodérmicas são colunares e formam uma área circular e mais espessa chamada de placa precordal. Esta placa indica o futuro local da boca e a futura região cranial do embrião. As estruturas extra-embrionárias que se formam durante esta semana, são: a cavidade amniótica, o saco vitelino, o pedículo do embrião e o córion. Formação da cavidade amniótica Com o avanço da implantação do blastocisto, surge uma pequena cavidade no interior do epiblasto, que cresce posteriormente, formando a cavidade amniótica. À medida que esta cavidade aumenta, desenvolve-se, do epiblasto, uma fina membrana protetora, chamada de âmnion. Com o crescimento do embrião o âmnion irá circundar todo o embrião, revestindo a cavidade amniótica, que será preenchida pelo líquido amniótico. Este funciona como um absorvente de choques para o feto, ajuda a regular a temperatura corporal do feto e a evitar o ressecamento e as adesões da pele do feto com os tecidos circundantes. Correlação clínica: Amniocentese: exame em que se retira parte do líquido amniótico por punção para se analisar algumas células, que naturalmente se desprendem do embrião, auxilia no diagnóstico de algumas anomalias. Formação do saco vitelino Posteriormente, as células do hipoblasto migram e recobrem a superfície interna da parede do blastocisto, formando o saco vitelino, antes denominada blastocele. O saco vitelino tem as seguintes funções: fornece nutrientes ao embrião durante a segunda e terceira semanas de desenvolvimento; é a fonte de células sanguíneas da terceira à sexta semanas; contém as primeiras células (germinativas primordiais) que posteriormente migrarão para as gônadas em desenvolvimento; forma parte do intestino (trato gastrointestinal); funciona como um absorvente de impactos; ajuda a evitar o ressecamento do embrião. Formação do córion e do pedículo do embrião Mais tarde, o blastocisto torna-se completamente mergulhado no endométrio e, no interior do trofoblasto, se desenvolvem pequenos espaços, chamados de lacunas. Posteriormente as lacunas se fundem, formando espaços maiores, as redes lacunares. O sangue materno e as secreções das glândulas uterinas penetram nas redes lacunares, que servem tanto como uma fonte de materiais para a nutrição do embrião quanto como um local disponível para os resíduos embrionários (início da circulação uteroplacentária). O concepto humano (embrião e membranas associadas) de 10 dias já encontra-se completamente no interior do endométrio, um local imunologicamente privilegiado. As células mesodérmicas derivadas do saco vitelino formam um tecido conjuntivo (mesênquima) em torno do âmnion e do saco vitelino, chamado mesoderma extra-embrionário. A cavidade formada posteriormente nesta região é chamada de celoma extra-embrionário. Em conjunto, o mesoderma extra-embrionário e as duas camadas do trofoblasto formam o córion, que envolve o embrião e, posteriormente, o feto. O córion torna-se a principal parte embrionária da placenta, a estrutura para a troca de materiais entre a mãe e o feto. O córion possui as seguintes funções: protege o embrião e o feto das respostas imunes da mãe; produz hCG, para manter a gestação. No final da segunda semana de desenvolvimento, o disco embrionário bilaminar conecta-se ao trofoblasto por uma faixa do mesoderma extra-embrionário, chamado de pedículo embrionário, o futuro cordão umbilical. Desenhos ilustrando a implantação de um blastocisto no endométrio. O tamanho real do concepto é de cerca de 0,1mm. A) Blastocisto parcialmente implantado no endométrio (cerca de 8 dias); B) Blastocisto um pouco mais velho, após ser removido do endométrio; C) Blastocisto com aproximadamente 9 dias. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Desenhos de cortes através de dois blastocistos implantados. A) 10 dias; B) 12 dias. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Desenhos de secções através de embriões humanos implantados. A) 13 dias; B) 14 dias; C) detalhe da área da placa precordal esboçada em B. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Gravidez ectópica Desenvolvimento de um embrião ou feto fora da cavidade uterina (na tuba uterina, no ovário, na cavidade abdominal ou no colo do útero). A paciente apresenta muito sangramento e fortes dores abdominais. Este quadro pode levar à morte da mãe. Desenho do útero e tubas uterinas ilustrando os vários locais de implantação do blastocisto. O local usual na parede posterior do útero está indicado por um X. Fonte: Moore & Persaud, 2000. Técnicas de micromanipulação e análise do DNA A aplicação destastécnicas atualmente permitem que se faça o diagnóstico, antes mesmo da implantação (a partir de um zigoto em divisão), para que se possa avaliar a possibilidade do futuro bebê, de apresentar um distúrbio genético específico (ex. distrofia muscular de Duchenne). Dispermia e Triploidia (anormalidades) A dispermia ocorre quando dois espermatozóides fertilizam o ovócito, resultando em um conjunto extra de cromossomas. Estes conceptos triplóides (69 cromossomos) são responsáveis por cerca de 20% dos abortos cromossomicamente anormais, apresentam graves alterações no crescimento e desenvolvimento do sistema nervoso e, raramente sobrevivem após o nascimento. Gêmeos monozigóticos (idênticos) e dizigóticos (fraternos) Os gêmeos monozigóticos (idênticos) são formados a partir de um único óvulo fertilizado, que se separa em dois embriões, cerca de 8 dias após a fertilização (99% dos casos). Ambos contém o mesmo material genético e são sempre do mesmo sexo. As separações que ocorrem após os 8 dias, levam à provável formação dos gêmeos siameses, onde ambos encontram-se unidos e compartilhando algumas estruturas corporais. Os gêmeos dizigóticos (fraternos) são formados a partir da liberação de dois ovócitos secundários, e da subsequente fertilização de cada um por espermatozóides diferentes. Ambos tem a mesma idade e se implantam no útero ao mesmo tempo, porém são diferentes geneticamente, como quaisquer outros irmãos, podendo ou não ser do mesmo sexo. Formação de gêmeos. Fonte:http://biologiacesaresezar.editorasaraiva.com.br/navitacontent_/userFiles/File/Biologia_Cesar_Sezar/Bio3_040. jpg Fonte: http://frescurasdecrianca.files.wordpress.com/2007/10/gemeas.jpg Fertilização in vitro e transferência de embriões O primeiro “bebê de proveta” nasceu em 1978. Esta técnica permite que a fertilização seja feita em uma placa de laboratório. Inicialmente é administrado à futura mãe um hormônio folículo estimulante (FSH), após a menstruação, para que sejam produzidos vários ovócitos secundários, em vez de apenas um. Quando os folículos alcançam o tamanho adequado, é feita uma incisão próxima do umbigo e os ovócitos são então aspirados dos folículos estimulados (laparoscopia). A seguir, são transferidos para uma solução (meio de cultura) que contém espermatozóides capacitados, onde irá ocorrer a fertilização dos ovócitos e a clivagem dos zigotos. Estas etapas são acompanhadas ao microscópio. Os zigotos em divisão (embriões em clivagem) nos estágios de 4 a 8 células são transferidos para o útero, introduzindo-se um cateter através da vagina e do canal cervical. A probabilidade de haver uma gravidez é aumentada pela inserção de até 3 embriões. A chance de ocorrer uma gravidez múltipla é muito maior que o normal quando se utiliza esta técnica, bem como, a incidência de abortos espontâneos de embriões transferidos. Procedimentos para fertilização in vitro e transferência de embriões. Fonte: http://clubedasaude.no.sapo.pt/Infertilidade/fertilizacao_in_vitro.jpg. Procedimentos para fertilização in vitro e transferência de embriões. Fontes: Moore & Persaud, 2000. FERTILIZAÇÃO E O DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO INICIAL PRIMEIRA SEMANA DE DESENVOLVIMENTO FERTILIZAÇÃO
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