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CARGAS GERAL, GRANEL E ESPECIAIS O modal aquaviário consolida-se em todo o mundo com a construção e modernização de portos em diversos países, visando aumentar sua integração no comércio internacional. O grande fluxo mundial de mercadorias, interrompido pela crise de 2008, voltou a crescer e está próximo de retomar o patamar anterior à crise. Isso significa a retomada da construção de embarcações de grande porte para atender a todos os tipos de carga hoje movimentadas pelo modal. Navios maiores demandam portos maiores ou mais ágeis, com investimentos vultuosos em equipamentos portuários de todos os tipos. Há uma enorme indústria por trás disto tudo, que mantém milhões de postos de trabalho e gera riqueza para todos os países que dela usufruem. A escolha correta de equipamentos, e seu dimensionamento para cada trabalho a ser feito, devem focar na redução do tempo gasto em cada tarefa, para minimizar seus custos. Quando se pensa no comércio exterior atual, uma referência é o livro A Caixa, de Marc Levinson, que relata detalhadamente a história do contêiner, desde sua criação até sua disseminação mundial, que o tornaram um dos inventos mais importantes do século XX, o vetor tecnológico da globalização, que revolucionou a logística do transporte internacional. Este material foi preparado exclusivamente para uso na disciplina Cargas Geral e Especiais, do curso de Gestão Portuária da Fatec RL – Baixada Santista. Espero que o material seja útil aos alunos. Aceito críticas e sugestões para melhorar a qualidade para turmas futuras. Agradeço ao amigo e professor de Engenharia de Transportes, Creso de Franco Peixoto, que permitiu a utilização de material por ele pesquisado e desenvolvido para sua apostila Introdução à Engenharia Portuária, utilizada nos cursos em que leciona. Álvaro Camargo Prado Fevereiro de 2015 1. COMPARAÇÃO ECONÔMICA DO TRANSPORTE MARÍTIMO E FLUVIAL COM OUTROS SISTEMAS DE TRANSPORTES Vários são os fatores determinantes para a escolha dos modais de transporte, como capacidade, velocidade e custos, entre outros. A capacidade de carga influencia diretamente cons custos de transporte, conforme vemos a seguir. 1.1. Capacidade de carga A Capacidade de Carga (Cc) é a relação entre a carga transportada e o peso total do veículo carregado. Aquaviário: a partir do calado e de um fator de segurança definido pela Capitania dos Portos, tem-se: 𝐶𝑐 = 𝐷𝑐 𝐷𝑐 +𝐷𝑝𝑝 Onde: Dc: deslocamento devido à carga. Dpp: deslocamento devido ao peso próprio. Aquaviário: Cc vai de 0,75 a 0,85. Ferroviário: Vagão de carga CP: lotação de 48000 kg, tara de 17500 kg, o que resulta em Cc = 0,73. Rodoviário: Caminhão de 6 ton: lotação de 6000 kg e tara de 2000 kg, resultando Cc = 0,75. 1.2. Peso morto É o peso deslocado pelo veículo para transportar uma tonelada de carga líquida, conforme mostra a Tabela 1: Tabela 1: Peso morto de veículos de transporte. Peso morto Barco 300 kg Trem de carga 800 kg Caminhão 700 kg 1.3. Força necessária ao deslocamento: Para obter a força de deslocamento os fatores considerados são: Potência do motor. Transmissão mecânica. Atrito. Concentração de esforços estruturais devido ao peso próprio: barcos – cargas distribuídas ao longo de toda estrutura; caminhões e ferrovias – cargas aplicadas em poucos pontos. 1.4. Capacidade de carga por viagem: Aquaviário: utilização de menor número de unidades de transporte pela alta capacidade de carga por viagem. Fluvial: 150 a 3000 ton Marítima: 10000 a 450000 ton (mais os superpetroleiros) Ferroviário: de 12 ton a 100 ton Rodoviário: 1 ton a 40 ton. 1.5. Custos de equipamentos para transportar 1000 toneladas úteis: Rodoviário: 50 caminhões de 20 ton com reboque – US$ 1 milhão (vida útil de 10 anos). Ferroviário: 50 vagões e uma locomotiva ̶ US$ 0,83 milhões (vida útil de 30 anos). Aquaviário: 1 barco automotor – US$ 0,25 milhões (vida útil de 50 anos). Desvantagens: transporte lento, exige transporte auxiliar e inviável para pequenas distâncias ( < 200 km). A comparação mostra que, com exceção da aplicação em pequenas distâncias, o modal aquaviário apresenta grande vantagem em relação aos custos. A questão das curtas distâncias recaem, em parte, sobre o tempo total gasto com o ciclo de carregamento e descarregamento, formado pelas ações de atracação – descarregamento – carregamento – saída. Portos rápidos, com grande disponobilidade de equipamentos de alta velocidade podem minimizar o tempo do ciclo, tornando o modal mais atrativo. 2. EMBARCAÇÕES Este capítulo traz informações técnicas sobre as diferentes embarcações de carga. 2.1. Estabilidade das embarcações. As principais diferenças entre as embarcações fluviais e marítimas referem-se à estabilidade destas em suas aquavias. Os barcos fluviais têm pequenao calado para adequar-se aos canais navegáveis. As embarcações marítimas tem grande calado para garantir estabilidade com ondas e outros fenômenos dos oceanos. As figuras 1 e 2 mostram a diferença de estabilidade entre as embarcações. Figura 1: Embarcação fluvial. Figura 2: Embarcação marítima. As formas das embarcações não são excludentes, entretanto em transporte marítimo as fluviais não são recomendadas para mar aberto, podendo ser utilizadas em canais de navegação ao até mesmo em portos internos, sem a criação de ondulações de superfície. 2.2. Dimensões das embarcações. As dimensões básicas das embarcações para uso marítimo são mostradas na figura 3 e a explicação dos termos está na tabela 2. Figura 3: Dimensões das embarcações. Tabela 2: Dimensões típicas das embarcações. Dimensões típicas Código Significado Depende do peso LOA Comprimento total Não LPP Comprimento entre perpendiculares Sim* B Boca Sim** T Calado Sim P Pontal Não A Altura da superestrutura Não BL Borda Livre Sim * Se considerado igual ao comprimento do nível d’água. ** Se considerada igual à largura total da embarcação. 2.3. Nomenclatura dos pesos Peso da embarcação vazia (PV): estrutura, equipamentos de propulsão e acessórios necessários. Peso bruto (TPB): peso máximo que a embarcação pode transportar, excetuando seu peso vazio. Define-se também o Porte Útil (PU), que é o máximo peso de carga paga que a embarcação pode transportar. Peso operacional (PO): peso de combustível, água potável, tripulação e pertences lubrificantes, material de bordo e de consumo. Peso total deslocado (Pdesl): peso total da embrcação. Assim, tem-se: TPB = PU + PO Pdesl = PV + TPB 2.4. Coeficiente de Bloco: caracteriza a eficiência mais eficiente das formas do casco. A figura 4 mostra as dimensões consideradas no cálculo do coeficiente. Figura 4: Dimensões do Bloco Coeficiente de bloco = Volume imerso/(LxCxB) L: comprimento total C: Calado B: Boca Valores típicos do coeficiente de bloco: Ideal: 0,8 a 0,85 Porta-contêiner: 0,7 Chata: 1,0 2.5. Estabilidade: função do calado. Calado mínimo: garantia do hélice e do leme atuarem plenamente na massa líquida; redução do empuxo de vento na parte exposta, que poderia tombar a embarcação. Calado máximo: segurança de operação. A carga pode ser colocada até a “marca de carga”. A figura 5 mostra a marca de carga. Figura 5: Marca de carga 3. Porto Comercial. Compreende-se por porto comercial aquele que está em uma área protegida e que conta com equipamentos de transbordo de cargas.4. Terminologia de marés. Preamar: cheias de maré, ocorre duas vezes por dia. Baixamar: vazante da maré. 5. Estabelecimento do porto: horário em que ocorre a preamar e que permite o acesso de embarcações com calado pouco menor que a profundidade local, com segurança. Define-se a folga de segurança (pé do piloto) como sendo a diferença entre a profundidade e o calado (H – C). A folga de segurança em caso estático assume os seguintes valores: Fundo de lama: 0,6 m. Fundo rochoso: 1,5 m. 6. CARGA GERAL 6.1. Navios Os navios cargueiros dedicados ao transporte de carga geral hoje são considerados navios de 2ª classe. Foram gradativamente substituídos pelos graneleiros e pelos porta- contêineres, mas ainda são utilizados na maioria dos portos. Dimensões: Dimensões típicas das embarcações Carga geral Porte bruto (TPB) Deslocamento (t) Comprimento0A (m) Comprimentopp (m) Boca (m) Calado (m) Coeficiente de bloco 40000 54500 209 199 30,0 12,5 0,73 35000 48000 199 189 28,9 12,0 0,73 30000 41000 188 179 27,7 11,3 0,73 25000 34500 178 169 26,4 10,7 0,72 20000 28000 166 158 24,8 10,0 0,71 15000 21500 152 145 22,6 9,2 0,71 10000 14500 133 127 19,8 8,0 0,72 5000 7500 105 100 15,8 6,4 0,74 2500 4000 85 80 13,0 5,0 0,77 6.2. Instalações Portuárias para Carga Geral 6.2.1. Berços Cota: combinação de preamar (nível máximo diário da maré) e ação de agitação de ondas. Até oscilações de nível de 2 m pode-se usar guindastes das embarcações, mas para oscilações maiores deve-se usar os guindastes portuários. Largura de plataforma (praça de movimentação de carga): distância da frente do cais à faixa de trânsito (área de pátio de armazenagem): Antigo: combinação de via de rodagem, ferrovia, espaço para guindastes portuários em trilhos dirtamente para as embarcações, sem deslocamento horizontal – satisfatória: 13m, sendo 5,5 m para pista de rodagem; 4,5 m para ferrovia; 2x0,75m para as pernas do guindaste; 1,5 m para os cabeços do cais. Atual: mais uma via de rodagem entre embarcação e estocagem em trânsito nos veículos e área de estocagem pulmão; largura média entre 20 e 40 m. Comprimento do berço: um comprimento mais uma boca. 6.2.2. Armazenamento coberto. Cargas gerais (sacarias, caixas, pequenos volumes) exigem cobertura, como galpões (1 m2/tonelada). Os armazéns devem ter portas de 5 a 6 m de largura com 5 m de altura mínima, para passagem de 2 empilhadeiras, ventilação e iluminação. O peso da carga por área de estocagem depende de: Fator de estiva (m3/tonelada) para diferentes produtos e unidades de carga. Altura média de empilhamento (fundação e altura disponível dos equipamentos). Espaço requerido para movimentação e acesso de carga. 6.2.3. Pátios de estocagem. Cargas que não sofrem danos por intempéries e difíceis de roubar (veículos, máquinas encaixotadas, produtos siderúrgicos, etc.). Deve ser prevista iluminação para operação noturna. 6.2.4. Equipamentos para movimentação de carga. Princípios: Os sistemas de movimentação não podem ser planejados de modo que um componente deva aguardar por outro. Por exemplo, o guindaste da embarcação não deve movimentar carga diretamente da empilhadeira. A carga deve ser colocada na plataforma e ser movimentada a partir dela, para economizar tempo de operação. Equipamentos versáteis: aumenta a capacidade e disponibilidade; reduz custos de investimento, operação e manutenção. Assistência técnica e peças sobressalentes são recomendáveis. 6.2.5. Movimentação entre embarcação e plataforma: utilizados guindastes de pórtico entre trilhos, guindastes das embarcações ou guindastes sobre pneus. Taxas de movimentação: carga geral variada → menos de 10 ton/hora; carga geral unitizada → mais de 30 toneladas/hora. A movimentação anual de um cais de carga geral pode chegar entre 600 a 800 toneladas por metro de cais. Utiliza-se muito a combinação entre guindastes de embarcação e guindastes móveis sobre pneus, porque estes podem movimentar-se por toda a área portuária, sendo mais versáteis que os guindastes sobre trilho. 6.2.6. Movimentação entre plataforma e área de estocagem: a escolha do equipamento depende das unidades de carga, da altura de empilhamento e de considerações sobre o maior uso de equipmanetos ou de mão de obra. Distâncias menores que 100 m: empilhadeiras. Distâncias maiores que 100 m: carretas. 6.2.7. Movimentação nas áreas de estocagem em trânsito: Áreas cobertas: predominam empilhadeiras, esteiras transportadoras e trabalho manual. Pátios a céu aberto: guindastes móveis e empilhadeiras. 6.2.8. Características de operação dos equipamentos. Equipamento para movimentação de carga geral Tipo Características gerais Vantagens Desvantagens Empilhadeiras Capacidade: 2 – 45 t Erguimento: 2.5 – 5 m Indicada para erguimento, transporte a curta distância, carga e empilhamento. Altas cargas nas rodas dianteiras. Acionamento: Gasolina Aceleração. CO nos gases de escapamento. Diesel Longa vida útil. Elétrica Não polui; ideal para porões dos navios. Recarga de baterias demorada. Guindastes móveis sobre pneus Capacidade: 2 – 40 t Versátil: pode ser usado em todo o terminal e para todos tipos de carga. Somente para erguimento estacionário, não usado para transporte. São normalmente patolados. Cabine muito baixa impede visão do operador do porão do navio, seguindo sinalização da tripulação. Cavalos motores e trailers Capacidade: 10 – 20 t Potência: 50 – 100 HP Barato e de manutenção simples. Somente para transporte horizontal, deve trabalhar combinado com equipamento de erguimento. Exemplo de planejamento de carga geral: 1. Um terminal de carga geral recebe um navio de 30000 ton com 6 porões. O terminal opera com dois guindastes sobre trilhos com produtividade de 20 ciclos por hora e capacidade máxima de erguimento de 30 ton. Pede-se: a. Quantas horas são necessárias para carregar o navio? b. Sabendo que o terminal opera com empilhadeiras de 20 ton, na velocidade de 5 km/h, que a distância da embarcação até o armazém é de 40 m e que o tempo total de carga e descarga é de 1 min, qual é a quantidade de empilhadeiras necessária? c. Qual é o comprimento do berço para acomodar dois navios de 30000 ton e mais um de 20000 ton?
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