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ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO ESPORTE Adriana Lacerda – Serviço de Psicologia Clube de Regatas do Flamengo 1) INTRODUÇÃO: O esporte é um fenômeno social que vem ocupando um espaço cada vez maior na vida das pessoas. Segundo Rubio (2003), ele é reconhecido como uma oportunidade para as pessoas se enganjarem reflexivamente na discussão sobre valores e relações sociais. É considerado, como o lazer e o turismo, a terceira maior indústria do globo, perdendo apenas para o petróleo e a indústria automobilística. “As expectativas geradas em torno da prática esportiva levam a determinados padrões de comportamento que irão, de certa forma, influenciar, e por vezes determinar, a conduta daqueles que escolheram o esporte como profissão e opção de vida.” (Rubio, 2003, p. 28). A carreira de um atleta depende de muito mais do que a disposição e talento individuais, da afirmação de uma vontade latente ou da determinação em perseguir objetivos. A transformação de um aspirante em atleta é influenciada ou determinada por vários fatores externos como a influência parental, políticas institucionais, papel dos formadores, sejam eles professores de educação física ou técnicos (Rubio, 2003). Um aspecto de natureza filosófica no esporte são as causas da desumana pressão que os desportistas sofrem. O que gera essa pressão? “A influência dos eventos esportivos divulgados com freqüência pelos meios de comunicação, a identificação com ídolos, a pressão dos pais e dos amigos e a esperança de obter sucesso e status fazem com que um número crescente de crianças inicie sua prática cada vez mais cedo.” (De Rose Jr. e cols. 2002, p. 67). Hoje, o esporte, como qualquer atividade do ser humano, também pode ser um gerador potencial de estresse se não for adequado às necessidades e potencialidades do praticante (De Rose Jr. e cols., 2002, p. 67). De acordo com Cunha (2003), cada vez mais, crianças e jovens estão em evidência no esporte competitivo. Considerando a idade que essas “crianças” estão chegando ao topo do esporte nacional e internacional, levanta-se uma questão muito importante: será que o treinamento aplicado aos jovens atletas está de acordo com sua maturação biológica, sem prejudicar a sua carreira futura? As crianças e adolescentes, em comparação com os adultos, ainda se encontram em fase de crescimento, onde surgem inúmeras alterações físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam conseqüências para a atividade corporal ou esportiva (Weineck; Astrand; Tourinho apud Cunha, 2003). O potencial esportivo de uma criança depende de seu desenvolvimento físico e mental (Bompa apud Cunha, 2003). Para Gonçalves (apud Cunha, 2003), os principais fatores que devem ser considerados no programa de preparação física para o futebol, são: Aumentar a capacidade do sistema respiratório (aeróbio e anaeróbio); Aumentar o volume de bombeamento sanguíneo pelo coração e o sistema circulatório; Hipertrofiar os músculos necessários; Aumentar a força dos grupos musculares necessários e suas relações com tendões e ligamentos; Diminuir a presença do ácido lático muscular durante e depois da atividade do futebol. Atualmente, os temas iniciação precoce e especialização precoce geram inúmeras indagações. Para muitos, a especialização precoce é a grande “vilã da história”, mas alguns estudos já a vêem como possível e compreensível quando é respaldada por um treinamento adequado à maturação biológica e psicológica de cada atleta. Já a iniciação precoce é incentivada pela grande maioria dos estudiosos, com a recomendação de que a criança participe de um processo de ensino aprendizagem mais lúdico, que priorize atividades que exijam uma movimentação completa do corpo e que faça da competição uma atividade prazerosa e divertida, que funcione também como ferramenta para afirmar valores morais e sociais. 2) INICIAÇÃO PRECOCE: A iniciação precoce se trata apenas de dar início a um processo de formação esportiva, com o objetivo, segundo Antunes (acesso em 2007), de incentivar o lazer, valorizar a cultura esportiva e formar um indivíduo consciente de seu papel na sociedade. O processo de formação esportiva consiste em uma fase onde se pode optar pelo direcionamento da vida esportiva do indivíduo. O principal objetivo é a orientação com os processos, os meios a serem seguidos para contribuir na delimitação, conformação da personalidade do indivíduo e na busca de um referencial da cultura de movimento (Greco apud Antunes, acesso em 2007). O caso de Gustavo Küerten, o Guga, por exemplo. Ele ama futebol, adora surfar, praticou os dois esportes na infância, mas acabou se tornando um atleta de ponta no tênis. Conseguiu unir perseverança e um conjunto de capacidades físicas especiais. Além do corpo longilíneo, Guga mostra uma capacidade impressionante de assimilar os movimentos específicos do jogo. Sua facilidade para flexionar o corpo em busca da bola também é algo raro de se encontrar (Leite Neto apud Marini, acesso em 2007). 3) ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE: A preocupação com a especialização precoce, se deve à aplicação constante de uma metodologia imediatista, que busca resultados a curto prazo e pula etapas importantes no desenvolvimento do atleta, com treinamentos físicos e muito específicos para sua faixa etária (Negrão apud Magliano, acesso em 2007), que trazem conseqüências negativas como lesões, queda da motivação, evasão, etc. Não é difícil encontrar exemplos negativos desse contexto imediatista. Julia Spina teve que se afastar do tênis por um ano pelo mesmo problema (uma ruptura parcial do manguito rotador – tendão do ombro) que quase tirou o capitão Nalbert (31 anos de idade) da seleção de vôlei campeã dos Jogos de Atenas. A diferença é que Julia sofreu o trauma quando tinha 11 anos de idade. Estudos sugerem que as crianças e os adolescentes, antes de atingir a especialização em uma modalidade esportiva, percorram a fase de formação básica geral com o objetivo de desenvolver capacidades e habilidades motoras básicas (Antunes, acesso em 2007). Como habilidades motoras básicas entende-se exercícios como correr, saltar, girar, se equilibrar, lançar, etc. Para Antunes (acesso em 2007), após a fase de formação básica geral seria adequado dar início à fase de refinamento dessas capacidades e habilidades, respeitando rigorosamente o grau de desenvolvimento de cada sujeito, com relação à prontidão motora, psicológica, social e cognitiva. A questão da especialização precoce trata-se então de um grave problema de pedagogia do esporte, tanto na educação formal quanto na educação não-formal. Essa especialização acaba resultando em problemas de diferentes dimensões: físicas, técnicas, táticas, psicológicas e filosóficas (Paes apud De Rose Jr. e cols., 2002). Iremos abordar mais adiante estas diferentes dimensões, mas cabe adiantar que dimensões filosóficas tem a ver com a relação esporte e ser humano. Feijó (1998) esta relação dentro de uma definição psico-filosófica que mostra mais um aspecto da nossa descrição de energia: além de consciente e funcional, ela é também recreativa, causadora de bem-estar, de satisfação, de felicidade. Para não ocorrer uma especialização prematura prejudicial, devem ser considerados os aspectos do treinamento adequado à idade e ao desenvolvimento, ou seja, a capacidade da criança suportar carga é limitada, podendo ocorrer desgaste prematuro de cartilagem, ossos, tendões e ligamentos. Superexigência funcional pode acarretar em redução da amplitude da articulação, com respectiva sobrecarga dos segmentos articulares, ocasionando prejuízo no processo de treinamento (WEINECK apud Cunha, 2003). A especificidade excessiva no treinamento pode resultar em lesões por overuse. Para ALMEIDA (apud Cunha, 2003), as lesões por overuse são características de esportes anaeróbios que requerem períodos de atividade de potência máxima ou quase máxima. Outro riscoque pode ocorrer na especificidade excessiva, segundo BOMPA (2002), é o desequilíbrio entre os músculos agonistas e antagonistas do movimento específico. 4) COMPETIÇÕES ESPORTIVAS: De Rose Jr. (2002) expõe que as exigências de competições geram efeitos negativos no aparelho locomotor e cardiorrespiratório, na coluna vertebral, no crescimento e na maturação sexual. O autor também coloca que nas fases em que há um desequilíbrio entre estes fatores, geralmente entre 12 e 14 anos de idade, é recomendável que as atividades competitivas sejam adequadas ao nível dos atletas, sem cobranças exageradas. Talvez seja importante considerar que se trata de níveis biológicos, psicológicos e sociais. Ideal seria que a tarefa competitiva tivesse a conotação de desafio, possível de ser enfrentado com os recursos de que o atleta dispõe, condizente com seu nível de desenvolvimento motor e esportivo (De Rose Jr. e cols., 2002). Para se analisar o momento que a criança pode estar preparada para a competição esportiva deve-se considerar o conceito de prontidão. Prontidão seriam os pré- requisitos necessários para um novo aprendizado ou novas experiências (Ferraz apud Antunes, acesso em 2007). Está relacionado com um período ótimo de aprendizagem, ou seja, antes disso a aprendizagem é prejudicada e, após, perde-se a oportunidade de explorar o melhor potencial do indivíduo. Não existe um período ótimo para todos os domínios, pois cada um tem suas especificidades (Antunes, acesso em 2007). 4.1) Prontidão Esportiva: A noção de “prontidão esportiva”, desenvolvida por Robert Malina, caracteriza o equilíbrio entre o nível de crescimento, de desenvolvimento e de maturação e o nível da demanda competitiva. Quando a demanda for maior que as características individuais, então o indivíduo não estará pronto para competir. De acordo com Ferraz (De Rose Jr. e cols., 2002, p. 35), é importante fixar que, “sob o ponto de vista do desenvolvimento, não há necessidade de envolvimento de crianças antes dos 12 anos de idade em atividades competitivas altamente organizadas nos moldes das federações esportivas. 4.2) Prontidão Social e Psicológica: No entanto, atividades competitivas prazerosas e divertidas para crianças até esta idade pode ser válido. “Para Piaget, o social se traduz em um conjunto de relações interindividuais e a “qualidade” dessa influência vai depender do tipo de relação que acontece” (coersão ou cooperação). “Na relação de coerção, a legitimidade da regra vai depender da autoridade de quem ela provém, e na relação de cooperação, dependerá do acordo firmado entre as partes” (Ferraz in: De Rose Jr. e cols., 2002, p. 35). “A compreensão das relações sociais é fundamental para que a criança e o adolescente possam beneficiar-se do processo de competição no esporte. Reconhecer que a competição é um processo de comparação social implica existência de estruturas cognitivas complexas que não estão presentes nas crianças antes dos sete anos de idade, aproximadamente.” (Ferraz in: De Rose Jr. e cols., 2002, p. 33). Na teoria de Piaget, a mudança de qualidade da moralidade infantil para uma moralidade adulta, levando a comportamentos manifestos na responsabilidade subjetiva (consideração da intencionalidade) e na obrigatoriedade da regra devido a consentimento mútuo, se deve a uma forma superior de relação social, que é a de cooperação (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002). 4.2.1) Atribuição de causalidade e sua implicação na motivação e na emoção: Até aproximadamente os 10 anos persiste a dificuldade em perceber a complexa relação causal entre os vários fatores que regulam seu desempenho: habilidade, esforço, dificuldade, condições, etc. Assim, atribuir aos resultados causas incorretas pode gerar sentimentos de incompetência ou impotência levando à desmotivação e ao abandono (Ferraz, 2002; Nascimento, 2000 apud Antunes, acesso em 2007). A atribuição de causalidade é um fenômeno muito estudado por psicólogos sociais. Existem critérios utilizados neste processo de atribuição, tendenciosidades cognitivas que interferem neste processo e conseqüências psicológicas deste fenômeno. Trata-se de uma atividade cognitiva desencadeada pelo desejo de conhecer as causas dos fenômenos psicossociais. Possui singular importância em nosso relacionamento interpessoal e na maneira como formamos impressões sobre as pessoas, sobre o mundo e sobre nosso próprio comportamento (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999). Não cabe aqui o aprofundamento deste conceito, mas vale a pena tentar explicar um pouco da teoria atribucional de motivação e emoção de Bernard Weiner (1986), bem como sua extensão aos indagamentos de responsabilidade. Weiner propõe uma taxonomia de dimensões causais (lócus, estabilidade e controlabilidade) e o estabelecimento das ligações existentes entre tais dimensões e determinadas emoções e comportamentos. “A dimensão lócus, segundo Weiner, está ligada à emoção de orgulho e à auto-estima; a dimensão estabilidade influi na expectativa de acontecimento igual no futuro; e a dimensão controlabilidade está associada às emoções de vergonha, culpa e, quando em relação à outra pessoa, às emoções de raiva ou gratidão e pena. Conforme a análise causal conduzida, comportamentos de ajuda ou agressão, punição ou elogio, etc. se seguirão.” (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999, p. 93). O autor aplica sua teoria ao fenômeno específico de julgamentos de responsabilidade. Portanto, “sempre que um evento negativo ou positivo ocorre, determinadas emoções o acompanham. Se o acontecimento é positivo, sentimos prazer, alegria, etc.; se negativo, sentimos tristeza, frustração, etc. estas emoções dependem exclusivamente da característica positiva ou negativa do evento.” (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999, p. 92). Suponhamos que um menino jogue muito mal uma partida de futebol. Diante este acontecimento negativo é de esperar-se que ele se sinta frustrado, triste, etc. estas emoções independem de atribuição causal. Sendo um evento negativo, importante e inesperado, ele procura estabelecer a causa de sua má atuação. Se ele chega à conclusão de que fracassou por falta de habilidade para o esporte (uma causa interna, estável e incontrolável), é de se esperar, segundo a teoria de Weiner, que ele sinta sua auto-estima diminuída e, dada a estabilidade e incontrolabilidade da causa, desista de jogar futebol. Se todavia, ele atribui seu fraco desempenho à falta de esforço (uma causa interna, instável e controlável) a teoria prevê que ele sinta culpa e remorso, que sua auto-estima seja diminuída, mas que, dada a instabilidade e controlabilidade da causa, ele procure treinar mais e esforçar-se bastante no próximo jogo (Rodrigues, Assmar & Jablonski, 1999). 4.3) Prontidão motora: Pode ser observada em dois aspectos: forma e performance; aspectos que representam a capacidade de movimento do ser humano. A forma diz respeito às características espaço-temporais dos seguimentos do corpo que definem um padrão de movimento. A performance refere-se aos resultados obtidos pelo movimento, tais como distância, força e velocidade, entre outros (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002, p. 36). Pesquisas em desenvolvimento motor têm demonstrado que esse é um processo ordenado e seqüêncial, sendo que até os 7 anos de idade, aproximadamente, o desenvolvimento motor da criança se caracteriza pela aquisição e pela diversificação das habilidades básicas de locomoção, de manipulação e de estabilização. Após esse período, o desenvolvimento caracteriza-se pela combinação dessas habilidades e seu aprimoramento. Por exemplo, a bandeja do basquete é a combinação das habilidades básicas de correr, de saltar e de arremessar (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002, p. 36). O refinamento e a especialização dessas combinações só são indicados a partir dos 10 anos de idade, para que o ser humano possa explorar as várias categorias de movimento(locomoção, manipulação e estabilização). O prejuízo que frequentemente ocorre quando a modalidade esportiva não explora estas habilidades básicas pode ser a diminuição do repertório motor (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002, p. 36). 4.4) Competição: boa ou má? Em si, não é boa ou má, ela é o que fazem dela (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002; Feijó, 1998). Pode-se encontrar efeitos negativos em quaisquer idades, dependendo das condições em que é realizada e de seu contexto (Ferraz in De Rose Jr. e cols., 2002). 5) O ESPORTE E O LÚDICO: O esporte é uma expressão específica, organizada, intencional, do movimento humano. Por isso, ele não deve causar exageros, desfiguramentos, tensão, angústia, desequilíbrios, desarmonias (Feijó, 1998). O esporte apresenta uma natureza lúdica. “Nem todo lúdico é esporte, mas todo esporte deve ser integrado no lúdico.” (Feijó, 1998, p. 65). O lúdico (origem na palavra latina “ludus” – quer dizer “jogo”) se refere também ao jogar, ao brincar, ao movimento espontâneo. Porém, ele passou a ser reconhecido como traço essencial da psicofisiologia do comportamento humano, o que significa dizer que o lúdico é uma das necessidades básicas da personalidade, do corpo e da mente (Feijó, 1998, p. 67). A atividade lúdica é espontânea, funcional e satisfatória. A qualidade espontânea do lúdico coloca a atividade lúdica no mesmo grupo de todas as outras necessidades da pessoa, é tão essencial quanto respirar e receber afeto e nada tem a ver com a ação automática. Portanto, o movimento lúdico pode ser espontaneamente positivo e construtivo, mas também pode ser integrado pelo comportamento negativo. Isso porque o lúdico se aplica a auto-expressão do indivíduo e, como tal, pode expressar alegria, mas também ódio e inveja (Feijó, 1998, p. 67-68). Na Psicologia do Esporte, o esporte define-se também pela manifestação da necessidade lúdica do corpo. E sugere-se que o esporte seja baseado nesta dimensão de espontaneidade construtiva (movimento espontâneo de auto- expressão construtiva) do lúdico (Feijó, 1998, p. 68). Lúdico será o esporte que for ao encontro dos traços motores do educando, levando-os em consideração quanto às exigências musculares dos jogos, seus aspectos educacionais de desenvolvimento, o ambiente de espontaneidade e bem-estar. Isso não significa jogos “difíceis” ou “bobos”, que não contribuem para a auto-expressão. Significa tornar o esporte uma forma de, espontaneamente, confirmar e encorajar a qualidade social de cooperação, desenvolvendo um saudável espírito de equipe (Feijó, 1998, p. 68). Alguns treinadores têm usado jogos populares e vêm observando mais liberdade e participação, da parte dos atletas (Feijó, 1998, p. 69). O caráter funcional do lúdico evidencia a essência da atividade produtiva da pessoa, proporciona eficácia. Assim, o lúdico não desperdiça movimento, visando produzir o máximo, com o mínimo de dispêndio de energia (Feijó, 1998, p. 69). O movimento satisfatório do lúdico vai além do prazer imediato e gera felicidade. Por isso, o mandamento primeiro, para o preparo psicológico do competidor infantil, é fazer todo o possível, constantemente, para cultivar na criança a felicidade do jogar. A falta do satisfatório do lúdico pode transformar a vida de um atleta criança em um verdadeiro mundo trágico, sem significado (Feijó, 1998, p. 70). 6) FASES – ETAPAS – FAIXAS ETÁRIAS: 6.1) Idade biológica: A classificação pela idade biológica se faz necessária, pois possibilita distinguir, de forma mais clara, as adaptações morfológicas e funcionais resultantes de um programa de treinamento das modificações observadas no organismo, decorrentes do processo de maturação, principalmente intensificado na puberdade (Tourinho Filho; Tourinho apud Cunha, 2003). A idade biológica refere-se ao desenvolvimento fisiológico dos órgãos e dos sistemas no corpo, que ajuda a determinar o potencial fisiológico, tanto no treinamento como na competição, para a obtenção de alto nível de performance”. Deve-se levar em consideração a idade biológica na classificação, seleção e treinamento de atletas (Bompa apud Cunha, 2003). 6.2) Idade motora: A idade cronológica em muitos casos não coincide com a motora. Os ritmos de amadurecimento são muito individuais (Golomazov & Shirva; Rowland apud Cunha, 2003), De acordo com Clark, citado por Isayma e Gallardo (apud Cunha, 2003), o desenvolimento motor possui seis estágios: 1 – reflexivo; 2 – pré-adaptativo; 3 – de habilidades motoras fundamentais; 4 – de habilidades motoras específicas do contexto; 5 – habilidosa; 6 – compensatória. “Cada faixa etária tem suas tarefas didáticas especiais, bem como particularidades específicas do desenvolvimento. A oferta de estímulos e aprendizagens deve ser regulada pela fase sensitiva”. Deve ser salientado que coordenação (técnica) e condição devem ser sempre desenvolvidas paralelamente, mas com o peso correspondente (Weineck apud Cunha acesso em 2007). A fase sensitiva é um período ótimo de assimilação e adaptação dos novos comportamentos adquiridos. No processo de formação esportiva deve-se respeitar as etapas de desenvolvimento, lembrando que este período ocorre até para os fatores psicossociais (Galdino in: DOBRANSZKY & MACHADO (Orgs.), 2000, p. 75). “... as habilidades e as experiências adquiridas no período anterior servem como base para a aquisição de habilidades posteriores. No entanto, para esse modelo, as idades dadas para cada período são apenas estimativas; a ordem dos períodos é que é significante, e não a idade proposta.” (Cunha, 2003). “As crianças são quanto ao seu desenvolvimento imaturas e, por isso, faz-se necessário estruturar experiências motoras significativas apropriadas para seus níveis desenvolvimentistas particulares” (Gallahue; Ozmun apud Cunha, 2003). Só não está claro se a diversificação das ações motoras deve ocorrer apenas na fase de aquisição e desenvolvimento das habilidades motoras básicas (saltar, correr de várias formas, rolar, lançar, receber, trepar, rebater, etc) ou também na fase de aprendizagem das habilidades esportivas (fundamentos técnicos das modalidades esportivas) e do jogo propriamente dito (Galdino in: DOBRANSZKY & MACHADO (Orgs.), 2000, p. 74). 6.3) Habilidades da infância, da pubescência e da adolescência: Segundo Haubenstricker e Seefeldt (apud Cunha, 2003), existe uma melhora sistemática na velocidade de corrida de crianças no período médio e no final dos anos da infância. Essa melhora na velocidade de corrida continua na adolescência. A literatura (Bompa; Greco; Weineck9; Zakharov apud Antunes, acesso em 2007) aponta para um processo preocupado em priorizar um trabalho multilateral e variado até aproximadamente 11/12 anos de idade (início da primeira fase puberal – pubescência). A partir dos 13 anos de idade aproximadamente (segunda fase puberal), a especialização ou formação específica seria iniciada, consistindo em treinamento físico, técnico e tático específico. O período pubertário será o ideal para proporcionar o desenvolvimento da força rápida e da potência. Cuidados devem ser tomados, pois o exercício anaeróbio exige uma elevada solicitação de ossos, articulações e tecidos moles (músculos, tendões etc.). Isso pode ocasionar lesões nos jovens em desenvolvimento (Almeida apud Cunha, 2003). Com a queda no aprendizado de novas habilidades coordenativas na pubescência, devido a fatores de crescimento e desenvolvimento, deveria ser dada ênfase no aperfeiçoamento e fixação de seqüências motoras já dominadas e técnicas esportivas (Meinel apud Cunha, 2003). Apesar das dificuldades de mensuração, é possível concluir que o equilíbrio melhora com a idade na infância e adolescência. A aptidão relacionada à saúde e ao desempenho do adolescente passa por grandes alterações desde o início do período adolescente até o final da adolescência (de 11 até 21 anos) (Gallahue;Ozmun apud Cunha, 2003). “O comportamento adolescente é essencialmente exploratório e não deve ser considerado sem importância porque ajuda o indivíduo a encontrar o seu lugar na sociedade”. Não se deve esperar que os adolescentes demonstrem uma obediência cega à autoridade. Entretanto, uma liderança adulta sensata, modelos positivos de papéis a desempenhar e uma orientação que desenvolva a coragem são essenciais para um processo psicossocial saudável e produtivo de desenvolvimento desses anos tumultuados (Gallahue; Ozmun apud Cunha, 2003). “... alguns comportamentos modelares de mentores respeitados são promissores como técnicas eficientes para inspirar alterações comportamentais em adolescentes” (Caegie Reporte apud Cunha, 2003). Para Weineck (apud Cunha, 2003), a adolescência começa normalmente aos 14/15 anos nos meninos e vai até 18/19 anos. A adolescência forma o fim do desenvolvimento da criança para o adulto, caracterizada pela diminuição de todos os parâmetros de crescimento e desenvolvimento. Ocorre uma harmonização das proporções, o que é favorável em relação a uma melhora das capacidades coordenativas. Na adolescência ocorre uma estabilização geral da condução de movimentos, uma melhora da capacidade de controle, de adaptação, de reorganização e de combinação (Meinel apud Cunha, 2003). A fase de alto rendimento, recomendado à fase final da adolescência, seria a estabilização e aprimoramento dos aspectos desenvolvidos na fase anterior com o objetivo de performance (Bompa; Greco; Weineck; Zakharov apud Antunes, acesso em 2007). Pode ser treinada nessa fase com máxima intensidade as capacidades condicionais e coordenativas, apresentando uma fase de melhoras elevadas no desempenho motor (Weineck apud Cunha, 2003). Para o treinamento, essa fase apresenta melhoras, pois ocorre um equilíbrio psicológico. Ele deve ser atribuído à estabilização da regulação hormonal que ainda mostrava turbulentas alterações na fase anterior: os mecanismos de controle neurohumorais hipotálamo- hipofisários sofrem um acerto definitivo. Ao contrário da fase anterior, agora apenas quantidades grandes de hormônios acionam os receptores do centro de regulação do hipotálamo (Demeter apud Cunha, 2003). Com as proporções equilibradas, a psique estabilizada, a maior intelectualidade e a melhor capacidade de observação fazem da adolescência a segunda “idade de ouro” da aprendizagem (Weineck apud Cunha, 2003). No conjunto, esta fase apresenta um bom período para a aprendizagem motora – nos jovens do sexo masculino é mais acentuada que nas jovens –, que possibilita um treinamento coordenativo ilimitado em todas as modalidades esportivas (Weineck apud Cunha, 2003). No estágio da especialização (15 - 18 anos), deve-se monitorar o volume e a intensidade do treinamento, para que os jovens evoluam com pequeno risco de lesões. Alguns aspectos são importantes nesta fase (Bompa apud Cunha, 2003): Aumentar o volume de treinamento para repetições e exercícios específicos a fim de facilitar o aprimoramento do desempenho; Envolver sempre que possível os atletas no processo de tomada de decisões; O desenvolvimento da força deve começar a atingir os objetivos da modalidade específica; Aumentar progressivamente o volume e a intensidade do treinamento anaeróbio; Prática do treinamento mental. Exercícios que desenvolvam concentração, atenção, pensamento positivo, auto-regulação, visualização e motivação, a fim de melhorar o desempenho na modalidade. 7) ASPECTOS DO TREINAMENTO: 7.1) Implicações e responsabilidades: O treinamento deve objetivar causar adaptações biopsicossociais destinadas a aprimorar o desempenho numa tarefa específica. “Um erro muito comum encontrado em treinamentos em equipes de competição relaciona-se ao fornecimento da mesma carga e intensidade para todos os atletas, isso é um erro muito grave que poderá acarretar problemas futuros aos jovens atletas.” (Cunha, 2003) As crianças evoluem de forma diversa. A proporção de crescimento de ossos, músculos, órgãos e sistema nervosos é diferente em cada estágio maturacional, e esses desenvolvimentos determinam a capacidade fisiológica e de desempenho. Portanto, o programa de treinamento precisa levar em consideração essas diferenças individuais e o potencial de treinamento (Bompa apud Cunha, 2003). Segundo Bompa & Bar-Or (apud Cunha, 2003), os programas de treinamento devem ser elaborados de acordo com o estágio de maturação da criança e não de acordo com a idade cronológica, pois as exigências e necessidades individuais variam bastante. Crianças de mesma idade cronológica podem diferir em anos com relação à maturação biológica. Estudo realizado por Cunha (2003) com equipes de futebol da categoria juvenil, compostas de meninos na faixa etária entre 15 e 17 anos, identificou que apenas 43% das equipes estudadas realizam uma avaliação maturacional nos atletas dessa categoria. A avaliação maturacional pode ser usada para identificar períodos de crescimento rápido e para justificar reduções no regime de treinamento em longo prazo. Pode auxiliar na redução de lesões, servindo como base na preparação (Gallahue; Ozmun apud Cunha, 2003). 7.2) Processo de ensino-aprendizagem: A demonstração facilita o aprendizado, pois instruir e depois demonstrar minimiza instruções mais complexas. A demonstração apresenta particularidades que reduzem a incerteza na execução de uma habilidade motora (Tonello; Pellegrini, apud Cunha, 2003). Landers (apud Cunha, 2003) realizou um estudo comprovando que a demonstração deve ser apresentada antes e durante a execução da tarefa. Tonello e Pellegrini (apud Cunha, 2003) afirmam ainda que a informação visual tem uma importância fundamental no comportamento motor humano e, em específico, no processo de ensino-aprendizagem de habilidades motoras. Os atletas aprendem mais a ver e fazer, do que a ouvir (Mcgown apud Cunha, 2003). A aprendizagem é mais eficiente ao se utilizarem várias demonstrações, mas somente a demonstração não é suficiente, por isso, se utiliza palavras-chave. Esse recurso tem quatro funções a desempenhar: concentrar a informação; reduzir o número de palavras, diminuindo a exigência de processamento de informação; focalizar a atenção do praticante no que é importante, e auxiliar a memória. Isso conclui que o ideal é fazer uma perfeita combinação entre a demonstração e a utilização de palavras-chave (Mcgown apud Cunha, 2003). O processo de aprendizagem é influenciado por um conjunto de variáveis, sendo a prática do indivíduo uma das mais importantes. Para Godinho, Mendes e Barreiros (apud Cunha, 2003), uma dessas variáveis que tem importância fundamental ao aprendizado, além da prática, é o feedback. Segundo Scaglia (1996), a metodologia adequada é aquela que prioriza a comunicação, considerando a necessidade de utilizar uma linguagem própria às diferentes faixas etárias. 7.3) Vias energéticas: Para executar um exercício necessitamos da energia conseguida por diferentes vias metabólicas, de acordo com a intensidade e a duração do exercício. Em atividades intensas de curtíssima duração, a via utilizada para a produção de energia é a via anaeróbia aláctica, ou seja, a energia armazenada nas moléculas de ATP (trifosfato de adenosina) e de CP (creatina-fosfato). Em atividades intensas e mais prolongadas, a via anaeróbica láctica (glicose) passa a ser predominantemente utilizada. Porém, se o exercício é de intensidade leve a moderada e por um prolongado período de tempo, a via é a aeróbia (Forjaz apud De Rose Jr e cols., 2002, p. 103). Parece que a capacidade de realizar atividades intensas e curtas (utilizando a via aneróbia aláctica) é bem desenvolvida em crianças (Forjaz apud De Rose Jr e cols., 2002, p. 103). Alguns dados indicam também que as crianças apresentam menor capacidade de gerar energia pela via aneróbia láctica, resultando numa menorcapacidade de realizar atividades intensas de duração intermediária a longa. Além disso, há um alerta de que a criança precisa de um tempo de recuperação maior do que o adulto em atividades lácticas porque elas têm dificuldade no reaproveitamento do lactato produzido durante essas atividades (Forjaz apud De Rose Jr e cols., 2002, p. 103). Sobre a elevada condição aeróbia antes da puberdade, pesquisadores têm sugerido que apenas um treinamento mais intenso é capaz de trazer efeitos expressivos. Já durante a puberdade, a resposta ao treinamento aumenta, fazendo com que o treinamento aeróbio tenha um maior efeito após essas fase da vida (Forjaz apud De Rose Jr e cols., 2002, p. 105). 7.4) Cargas de treinamento: Após o levantamento das características biológicas e psicológicas de cada indivíduo, inicia-se o planejamento das atividades. De acordo com Bompa (apud Cunha, 2003) as cargas de treinamento devem aumentar gradativamente com a idade e com a progressão dos treinamentos. A duração das sessões de treino pode aumentar do início até o fim da temporada, quando atingirem por volta de noventa minutos; os treinamentos devem ser variados para se evitar um desgaste psicológico e a fadiga prematura. O aumento progressivo da carga inclui um aumento do número e da repetição dos exercícios, porém, é importante observar o tempo de descanso após o aumento das repetições. Outro aspecto relevante é o aumento da freqüência de treinamento: o ideal é de duas a quatro sessões para cada jogo, pois assim haverá um desenvolvimento maior dos atletas durante os treinamentos do que nos jogos, isso no caso específico do futebol. Conforme o estudo realizado por Cunha (2003), as equipes de futebol juvenil paulistas realizaram, cinco ou seis sessões de treino por semana e com relação à preparação física, a sessão de treino dura em média 62 minutos. Mas ainda estamos verificando os resultados desse estudo. Segundo McArdle, Katch e Katch (apud Cunha, 2003), “ainda não foi identificada uma duração limiar por sessão capaz de induzir aprimoramentos cardiovasculares ideais. Esse limiar depende de muitos fatores, que incluem o trabalho total realizado, a intensidade do exercício, a freqüência do treinamento e o nível inicial de aptidão”. 7.5) Frequência de treinamento: Com relação à freqüência do treinamento, alguns investigadores, citados por McArdle, Katch e Katch (apud Cunha, 2003), relatam que constitui um fator importante capaz de induzir a aprimoramentos cardiovasculares, porém outros afirmam que esse fator é menos importante que a intensidade e a duração do exercício. Treinar menos de dois dias por semana, em geral não produz alterações adequadas na capacidade aeróbia ou anaeróbia e na composição corporal. 7.6) Etapas de trainamento: De acordo com Arena e Böhme (2000) o processo de treinamento a longo prazo associado à seleção e promoção de talentos esportivos, realizados através de uma preparação planejada e sistematizada, visando um rendimento contínuo e a longo prazo, é defendido por estudiosos do treinamento infanto-juvenil. Este pode ser dividido em três etapas: a) Etapa de iniciação e formação básica geral, normalmente desenvolvida na fase dos sete aos 12-13 anos de idade; b) Etapa de treinamento específico, período destinado ao aprimoramento dos gestos específicos da modalidade, ou quando inicia-se a organização e sistematização do treinamento, a partir dos 13 anos de idade; c) Etapa de treinamento de alto rendimento, que compreende a fase de estabilização das capacidades coordenativas com aumento otimizado das capacidades condicionais, recomendado para a fase final da adolescência, a partir dos 17-18 anos de idade (Arena, 1998; Böhme, 1994, 2000; Bompa, 1999; Filin, 1996; Fisher & Borms, 1990; Greco & Benda, 1998; Martens, 1988; Matsudo, 1995, 1996; Rowland, 1996; Weineck, 1999; Zakharov, 1992). 7.7) Planificação a Longo Prazo: Parte-se da premissa que o importante não é chegar antes, mas sim o mais longe possível (Bauelos apud Paixão Miguel, 2007). 8) CONSIDERAÇÕES FINAIS: É impossível prever com absoluta precisão o futuro esportivo de uma criança, mas um profissional da área esportiva bem preparado pode identificar o conjunto de aptidões de uma criança e, pelo menos, orientar para um caminho. Pelo visto, somente uma observação criteriosa dos vários fatores que ocorrem durante o treinamento poderá proporcionar o máximo rendimento de um jovem desportista, sem prejudicar a harmonia do seu desenvolvimento biopsicossocial e conseqüentemente sem prejudicar sua carreira. O treinamento individualizado é importante, mas deveria começar após a maturidade completa (DI Salvo; Pigozi apud Cunha, 2003), pois após a puberdade inicia a etapa de preparação física intensa e desenvolvimento das capacidades individuais (Golomazov; Shirva apud Cunha, 2003). A especialização no esporte de alto nível é necessária, mas ela deveria ocorrer o mais tarde possível e com base numa estrutura de treinamento adequada ao desenvolvimento, que propiciará uma aquisição adequada das habilidades e um desenvolvimento harmonioso do jovem (Weineck apud Cunha, 2003). Na maioria dos esportes de potência e velocidade, a especialização deve ocorrer no final do período de estirão de crescimento na adolescência (BOMPA apud Cunha, 2003). Devido ao grande número de exercícios e ao excessivo número de repetições, a introdução de uma variabilidade de atividades e habilidades no processo de aprendizagem e treinamento não só contribuirá para a prevenção de lesões, como para evitar o tédio e o desgaste psicológico dos jovens (BOMPA apud Cunha, 2003). Cargas intensas e monótonas podem ocasionar um desgaste psicológico, como na utilização acentuada de treinamentos não adequados à idade - grande motivo de desistência do esporte. A falta de formação múltipla do organismo acarretará em prejuízo para a obtenção de habilidades futuras (WEINECK apud Cunha, 2003). Segundo MEDLER (apud Cunha, 2003), deve-se ter cuidado no treinamento ministrado para crianças e adolescentes para serem evitados os momentos de monotonia e enfado, assim como os momentos de dor e de sofrimento que se relacionam com o treinamento da resistência aeróbia. A especialização precoce nas categorias menores (infantil e juvenil), apesar de se obterem bons resultados no princípio, deve ser observada com cuidado, pois poderá levar ao encurtamento da vida profissional do atleta. O uso de cargas específicas antes do momento oportuno gera estresse físico e emocional acentuado, podendo afastar os jovens dos treinamentos e competições (FILIN e VOLKOV apud Cunha, 2003). MATVEEV (apud Cunha, 2003) também concorda que a especialização precoce fará que o jovem, ao chegar à fase adulta, não será mais capaz de desenvolver e atingir os bons resultados que obteve durante a infância. A utilização de novos exercícios poderá desenvolver agilidade e coordenação, auxiliando no processo de aquisição de novas habilidades e evitando lesões por esforços repetitivos. Deve ser priorizado a oportunidade de jogar (participação), o jogar bem, divertir- se, fazer o melhor que se pode. Visando o bem-estar de todos, praticado voluntariamente e com conexões com os movimentos de educação permanente e com a saúde (Rubio, 2003). Jogar futebol tem sido uma das maiores diversões do brasileiro. Aprender o jogo de maneira mais lúdica e prazerosa pode ser uma ferramenta útil no processo de ensino-aprendizagem para a transmissão das técnicas de futebol. Scaglia (apud Santos, 2006) vê o jogo como uma categoria lúdica que manifesta nossas disposições para realizar atos que não atendem compromissos objetivos. Scaglia (1996) sugere que, para crianças e púlberes, as aulas tematizadas podem ser bastante eficientes, ou seja, cada unidade de ensino tem um tema, que pode ser, por exemplo: passe, drible, cobrançade falta, zagueiros. Estes temas são escolhidos e organizados por meio de uma tabela de organização dos fundamentos e habilidades para o futebol. Assim, o desenvolvimento da aula pode se dar através de sua divisão em 5 partes: I. Conversa inicial; II. Exploração do tema; III. Exploração técnica do tema; IV. Jogo, síntese do tema; V. Conversa final. A aula pode iniciar e terminar com uma conversa, onde, no começo, estimula-se o aluno a recordar o tema e as atividades da aula anterior, para depois explicar o tema da aula atual, possibilitando que o aluno perceba e se conscientize da seqüência de seu aprendizado (Scaglia, 1996). Ainda em Scaglia (1996) verificamos que existem formas mais divertidas de exercitar os principais fundamentos do futebol: domínio, passe, drible, chute e cabeceio. Como exemplo de um jogo que se pode trabalhar o domínio, podemos citar o fut- vôlei. Esse jogo consiste em dividir a turma em vários grupos tipo: 2 com 2, 3 com 3, 4 com 4, etc. Formando um espaço retangular e com algo que sirva de divisória para ficar entre os grupos (ex: corda, barbantes). O início do jogo seda quando o jogador joga a bola com as mãos para o outro lado. Os que vão receber a bola podem deixar que ela dê um toque no chão, daí por diante ela deve ser passada para o companheiro que a passará para o outro sem deixa-la tocar novamente em seu campo. O passe pode ser exercitado com um jogo chamado “jogo dos quatro gols”. Consiste em dividir a turma em dois grupos num espaço quadrado. As quatro metas, localizadas nos quatro cantos do quadrado, podem ser feitas de cones, garrafas de plástico, etc. O professor inicia jogando a bola pro alto e os participantes fazem gols nas quatro metas através de passes. Termina quando um grupo faz gols nas quatro metas. No exercício para o drible o grupo é dividido em duas equipes, o professor joga a bola para o alto e o aluno que tiver a posse da bola só poderá passa-la após executar um drible. Obs.: para que o ponto seja considerado válido, a equipe que tem a posse de bola deverá fazer os passes determinados sem a outra equipe possa ter a posse de bola. Para trabalhar o chute, o grupo poderá trabalhar o “jogo dos cones”. Após o grupo ser separado em dois, são colocados cinco cones num espaço retangular. O professor joga a bola pro alto e uma equipe tem que derrubar os cones da outra com um chute na bola, tomando cuidado com os cones da sua equipe. O cabeceio pode ser treinado através do jogo “cabeçagol”. Divide-se o grupo em dois, cada um com um gol e um goleiro. A equipe com a posse de bola vai passando entre si até chegar próximo ao gol adversário. Aí a bola deve ser jogada para que um membro da equipe possa fazer o gol através de um cabeceio. Só valerá o gol feito de cabeça. 9) BIBLIOGRAFIA: ANTUNES, A. C. Formação esportiva: privilégio de alguns ou oportunidade para todos. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd83/esport.htm>. Acesso em: 05 de Jan de 2007. ARENA, S. S.; BÖHME, M. T. S. Programas de iniciação e especialização esportiva na grande São Paulo. Disponível em: <http://www.usp.br/eef/rpef/v14n22000/v14n2p184.pdf.>. Acesso em: 05 de Jan de 2007. CUNHA, F. A. Treinamento para crianças e jovens. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/futebol9.htm>. 2003. DE ROSE JR., D. e cols. Esporte e Atividade Física na Infância e na Adolescência: Uma abordagem multidisciplinar. Porto Alegre: Artmed, 2002. DOBRANSZKY, I. A.; MACHADO, A. A. (Orgs.). Pontos e Contrapontos acerca da especialização precoce nos esportes. Delineamento da Psicologia do Esporte: evolução e aplicação. Campinas: Tecnograf, 2000, p. 67-85. FEIJÓ, OLAVO G. Esporte me função do lúdico. Psicologia para o esporte: corpo & movimento. 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