Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.

Prévia do material em texto

1.2 As formas de conhecimento e a ciência
Para se introduzir o tema do método e do objeto da Sociologia, ou seja, o que a torna a ciência da sociedade, temos de abordar antes uma questão fundamental: a existência de diversas formas de conhecimento. Essas diversas formas de conhecimento possuem características próprias, as quais veremos a seguir.
Conhecimento religioso
Esse conhecimento se baseia na fé. Sua origem está na busca de explicações para os mistérios do mundo, que tratam dos fenômenos para os quais não se conhecem as causas naturais, como a criação do Universo e da humanidade. As crenças ou dogmas de uma religião são transmitidas oralmente nos cultos e nas missas, podendo ser encontradas em livros considerados sagrados, como a Bíblia e o Alcorão, que contêm as verdades reveladas por santos ou profetas. Esse tipo de conhecimento não pode ser verificado e, em vista disso, sua validação depende exclusivamente da fé dos seus adeptos. Para os cristãos, por exemplo, Jesus Cristo é o filho de Deus, fato que não pode ser confirmado nem desmentido e, por isso, depende da crença.
 
Ory Gonian/Shutterstock
Conhecimento empírico
Esse conhecimento fundamenta-se na experiência, na observação e nas interações das pessoas com o meio ambiente e com outras pessoas. Chamamos de conhecimento espontâneo ou senso comum o saber resultante das experiências levadas a efeito pela humanidade ao enfrentar os problemas da existência (ARANHA, 2012). Todavia, esse conhecimento espontâneo, muitas vezes, se baseia em aparências enganosas (ARANHA, 2012). Por exemplo, poderíamos afirmar erroneamente que o Sol gira em torno da Terra, a qual permaneceria parada no centro do Universo, pois nos parece que é o Sol que se move quando o observamos nascer ao leste e se pôr ao oeste. Outra característica desse tipo de conhecimento é a não existência de um método sobre o qual ele se funda, há apenas repetições ou valores pessoais, visto que é um saber empírico, baseado em experiências superficiais. Por isso, é uma forma de conhecimento acrítico, no sentido de que as perguntas sobre as razões das coisas raramente são feitas.
 
ELHESHAM/Shutterstock
Conhecimento científico
Esse conhecimento deriva das descobertas da ciência e, assim, permite a formulação de explicações e compreensão de causas e efeitos dos fenômenos observados. Já na Antiguidade se fundaram as bases da matemática, da medicina e da física. Entretanto, foi no século XVII que apareceu um fato novo na história: a Revolução Científica. Convencionalmente, consideramos Galileu Galilei (1564-1642) o primeiro grande cientista moderno, por seu papel na constituição de métodos de investigação rigorosos. Segundo Aranha (2012, p. 158), a utilização de métodos rigorosos permite à ciência que “atinja um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo segundo o qual são descobertas relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e também agir sobre a natureza de forma mais segura”.
 ,
AN Images/Shutterstock
Outra característica do conhecimento científico é a aspiração à objetividade e à impessoalidade, pois, além de não depender das crenças e opiniões do cientista, seus estudos podem ser repetidos por outros membros da comunidade e suas conclusões podem ser validadas por terceiros. Isso não significa que a ciência seja infalível e que o conhecimento gerado por ela não mude; pelo contrário, a ciência evolui e muitos preceitos aceitos podem deixar de sê-lo algum dia.
As ciências se especializam e se tornam campos diferentes de conhecimento (ARANHA, 2012), como a química e a física, que, apesar de estudarem a matéria, têm abordagens inteiramente diferentes, exigindo métodos igualmente distintos.
Essa discussão sobre os tipos de conhecimento e sobre o científico é importante porque introduz a questão do método nas ciências sociais. Como já vimos, a sociologia surgiu no século XIX, proposta por Augusto Comte (1798-1857), que a pensou como a ciência dos fatos sociais, isto é, das instituições, dos costumes e das crenças coletivas. Apesar disso, sua contribuição é compreendida normalmente no campo da filosofia, justamente porque, ao longo de sua obra, distanciou-se dos preceitos científicos e adentrou o terreno especulativo, ou seja, do pensamento puro.
A questão da objetividade da ciência se manteve no horizonte e o primeiro grande cientista social, Émile Durkheim (1858-1917), escreveu um livro clássico sobre isso – As regras do método sociológico (1895) –, em que estabeleceu como regra fundamental do método sociológico a abordagem dos fatos sociais como coisas. Para isso, utiliza-se amplamente o método estatístico.
Weber (1864 -1920) também se interessa pela questão do método nas ciências humanas e, por isso, sublinha a necessidade de se usar o método da compreensão em oposição ao critério da explicação, típico das ciências da natureza.
Assim, embora reconheçamos que existam diversas formas de conhecimento e que essas sejam igualmente válidas, cumprindo papéis sociais importantes, é preciso salientar que o conhecimento advindo da ciência é o que mais contribui para o avanço humano e para a compreensão dos desafios enfrentados pelas diferentes gerações ao longo do tempo.

Mais conteúdos dessa disciplina