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Aula 5 - Tratamento e Conduta Terapêutica em Toxicologia

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Instituto Federal Catarinense – Campus Araquari 
Alberto Gonçalves Evangelista 
Toxicologia Veterinária e Plantas Tóxicas 
 
 
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TRATAMENTO E CONDUTA TERAPÊUTICA 
O atendimento é de emergência, e o diagnóstico é difícil, pois demanda muito tempo. O primeiro 
contado geralmente ocorre por telefone, e o profissional deve passar as primeiras instruções 
claras para tentar salvar a vida do animal. A conduta na hora que o animal chegar na clínica deve 
focar em estabilizar o animal, antes da análise clínica. Com essa estabilização, faz-se o 
diagnóstico clínico, para uso de uma terapia racional, geralmente envolvendo antídotos ou os 
recursos adequados. Deve-se determinar qual foi o agente para evitar novos casos. 
Na urgência deve-se eliminar a substância do organismo o mais rápido possível. Isso pode ser 
feito com o uso de sondas gástricas ou endotraqueais, com o uso de seringas, pêras de borracha 
e instrumentos cirúrgicos. Ainda podem ser utilizados cateteres intravenosos e uretrais, 
dependendo da forma de contato do agente. 
Em um atendimento de emergência, é muito importante que o veterinário possua seringas com 
agulha, termômetro, estetoscópio, dispositivos de contenção, recipientes para coleta de vômito 
e excretas, além de um respirador mecânico. 
O exame físico consiste em desobstruir as vias aéreas. Deve-se atentar a presença de hálito 
diferente do normal e úlceras na cavidade nasal. Constata-se se existe algum material aderido 
ao pelo, a cor e aspecto das fezes e urina, e mede-se os parâmetros vitais. 
Quando a intoxicação se tratar de uma exposição cutânea, uma medida para evitar uma maior 
absorção consiste em um banho em água corrente morna ou gelada, por pelo menos 15 
minutos. Isso só pode ser feito com o animal estabilizado clinicamente, e deve-se limpar muito 
bom os olhos, focinhos e cavidade bucal. No caso de intoxicação por substâncias lipossolúveis 
na pele, usa-se sabões neutros para retirar. Se a substância for ácida ou básica, não se deve 
tentar neutralizar, pois o acumulo de outra substância pode gerar maior dano. No caso de 
substâncias aderidas ao pelo, recomenda-se a tosa. 
Em uma exposição ocular, deve ser feita a lavagem do olho de 20 a 30 minutos com água ou 
solução fisiológica, em sentido mediolateral, com a cabeça lateralizada, afim de diminuir a 
absorção. Para facilitar a lavagem, pode ser utilizado um colírio anestésico. Para diminuir a 
absorção de substâncias tóxicas no sistema respiratória, primeiramente deve-se levar o animal 
para local arejado, fornecendo oxigênio e suporte ventilatório. Deve-se atentar com 
broncoespasmos e edema pulmonar, que prejudicariam a respiração. 
No caso de uma exposição gastrointestinal, recomenda-se a êmese até 1 hora após a ingestão, 
sendo que essa amostra pode ser levada para análise. A êmese é contraindicada no caso de 
ingestão do agente há mais de 1 hora, no caso de a substância ser cáustica, destilada de 
petróleo, depressora de SNC, volátil ou convulsivante. Se a origem do tóxico for desconhecida, 
não se recomenda a êmese, e também não se pode realiza-la em um paciente inconsciente ou 
severamente deprimido, pois ele pode fazer falsa via e acabar indo parar no trato respiratório. 
A êmese pode ser induzida por apomorfina (pode levar a depressão de SNC), xilazina (pode levar 
a depressão respiratória), perôxido de hidrogênio (animal não pode aspirar a espuma), xarope 
de ipeca (pode irritar a mucosa gástrica e estimular o SNC), etc. 
Quando a êmese não for indicada ou não for eficaz, pode-se fazer lavagens gástricas, em até 2 
horas da ingestão. As vantagens seriam a diluição das substâncias tóxicas, com rápida remoção 
do conteúdo, não fazendo a exposição das mucosas novamente ao agente tóxico. Porém 
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necessita-se de uma anestesia geral e intubação orotraqueal, com risco de traumatismo em 
esôfago e estômago. Essa lavagem é ineficaz para partículas sólidas grandes e deve-se tomar 
cuidado com propulsão de fluídos para o intestino. Essa lavagem deve ser feita com água ou 
solução salina morna, com o líquido sendo introduzido com leve pressão e retirado por 
gravidade, de 15 a 40 vezes. 
No caso de impossibilidade da êmese e lavagem, pode-se transformar o tóxico em uma forma 
não absorvível. Isso pode ser feito com o uso de substâncias que evitam a dissolução do agente 
tóxico, como cálcio, sulfato de magnésio e quelantes. Também pode-se manipular o pH para 
manter a substância na sua forma ionizada. Outra possibilidade é o uso de adsorvertes que 
captam fisicamente as moléculas do tóxico, como por exemplo o carvão ativado. Além disse 
podem ser utilizados catárticos que favorecem a eliminação do agente tóxico pelas fezes, 
através da retenção de líquidos no intestino (Catárticos osmóticos – sorbitol, manitol, sulfato de 
sódio, etc) ou facilitando a passagem das fezes (Catárticos a base de óleo, que facilitam a 
eliminação de tóxicos lipossolúveis). Com o agente já nas últimas porções do intestino grosso, 
pode-se fazer o uso de enema para a eliminação. Uma eliminação direta seriam as cirurgias de 
gastrotomia e enterotomia. 
O uso de antídotos inativa agentes tóxicos, pois são antagonistas, ligando-se ao agente tóxico e 
impedindo seu metabolismo. 
Para eliminar um agente do organismo através da urina, pode-se utilizar diuréticos, mas o animal 
deve estar suficientemente hidratado e com a função renal não comprometida. Os diuréticos 
mais usados são o manitol e a furosemida, sendo que deve atentar-se aos possíveis 
desequilíbrios hídricos. Pode-se também alterar o pH da urina, através de ácidos fracos (cloreto 
de amônia) e bases fracas (bicarbonato de sódio). 
Para eliminar agentes, também pode ser feita a diálise, com o uso de uma solução aquecida, 
aplicada na cavidade peritoneal e retirada de 30 a 60 minutos, com repetição de 12 a 24 horas. 
Isso deve ser feito se os rins não estiverem funcionando, e deve ser feito até que eles voltem a 
funcionar. 
Aliado a esses tratamentos, sempre deve-se tomar medidas para aliviar os sintomas 
apresentados, como por exemplo reduzir/aumentar a temperatura corporal do animal, 
administração de anticonvulsivantes, respiração mecânica, aumentar/reduzir a pressão arterial, 
uso de tranquilizantes, etc.

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