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AAllffaabbeettiizzaaççããoo Módulo II Parabéns por participar de um curso dos Cursos 24 Horas. Você está investindo no seu futuro! Esperamos que este seja o começo de um grande sucesso em sua carreira. Desejamos boa sorte e bom estudo! Em caso de dúvidas, contate-nos pelo site www.Cursos24Horas.com.br Atenciosamente, Equipe Cursos 24 Horas Sumário Unidade 3 – Prática da Alfabetização ............................................................................ 3 3.1 - Prática e Avaliação em Sala de Aula ................................................................. 4 3.2 - Escolha de Conteúdos ....................................................................................... 9 3.3 - Recursos e Instrumentos .................................................................................. 12 3.4 - Consciência Fonológica na Alfabetização ....................................................... 15 3.5 – Dificuldades de aprendizagem ........................................................................ 18 3.6 - Uso de Tecnologia na Alfabetização ............................................................... 32 3.7 – Como trabalhar com projetos didáticos na alfabetização? ............................... 34 Unidade 4 – Alfabetização de Jovens e Adultos .......................................................... 37 4.1 – História da Alfabetização ............................................................................... 38 4.2 – Saberes Necessários à Prática Docente ........................................................... 42 4.3 – Direito à Alfabetização ................................................................................... 45 4.4 – Organização e uso da biblioteca escolar e das salas de leitura ......................... 51 4.5 – O desenvolvimento cognitivo ......................................................................... 58 Conclusão do Curso .................................................................................................... 65 Bibliografia ................................................................................................................. 66 3 Unidade 3 – Prática da Alfabetização Olá, Chegamos à unidade três do Curso Alfabetização! Agora falaremos um pouco para você sobre práticas e avaliação em sala de aula. A parte teórica em um processo de aprendizagem sempre culmina em avaliações que por sua vez precisam ser revistas e analisadas, já que para alguns teóricos é inconcebível julgar os conhecimentos do aluno sem levar em consideração seu desempenho no decorrer da aplicação do conteúdo. Está em discussão também o emprego e condições do uso do livro didático como ferramenta de auxílio para professores e alunos. Outro fator abordado nesta unidade é o da responsabilidade da escolha, produção e desenvolvimento de conteúdos de modo adequado, para que ao ser aplicado em sala de aula possa render curiosidade e consequentes pesquisas e debates. Outros assuntos de interesse educacional que ainda poderão ser vistos nesta unidade: Recursos e instrumentos para a educação, A consciência fonológica na alfabetização, A oralidade, O uso da tecnologia na alfabetização de crianças, jovens e adultos e Como trabalhar com projetos didáticos na alfabetização. Além de tudo isso, outro assunto muito importante, que será abordado aqui, diz respeito às dificuldades de aprendizagem encontradas por educadores em função de alunos com transtornos muitas vezes confundidos com indisciplina ou preguiça. Você aprenderá como identificá-los, se for preciso. Bom estudo! 4 3.1 - Prática e Avaliação em Sala de Aula Em determinado momento, principalmente no ensino fundamental, os educadores certamente já se perguntaram: “Qual a melhor forma de se avaliar os textos dos alunos?” O que se costuma avaliar é a capacidade que a criança possui em saber escrever corretamente as palavras, de forma que os erros de português sejam avaliados e corrigidos. É uma fase que não se costuma avaliar a criatividade do aluno em suas produções de textos. É preciso que seja incentivado nesta fase a ter autonomia mesmo que, carregado de erros ortográficos. O processo de produção de textos poderá ter seu potencial reduzido caso isso lhe seja podado. Já a aprendizagem ortográfica não passa de um processo de memorização e poderá ser revisto a qualquer tempo. A avaliação aplicada aos alunos tenta definir parâmetros que identifiquem se a intenção do que se queria ensinar atingiu êxitos em relação ao processo que foi efetivamente aplicado. Cada conceito de avaliação não manifesta, mas deixa implícito as ações e resultados provenientes de uma educação que tenha sido aplicada a alguém ou a um grupo. A pedagogia pode ser apresentada em modelos conservadores ou transformadores. A escola tradicional, adepta da pedagogia conservadora, prioriza as avaliações em função dos conteúdos didáticos (tudo aquilo que se viu e aprendeu em livros). Já a escolanovista, prioriza relações afetivas e a tecnicista, os meios de se fazer. 5 A pedagogia conservadora costuma dar importância aos aspectos quantificáveis e considera importante avaliações periódicas com registro de resultados em finais de unidade, semestre, séries, cursos, etc. É de caráter classificatório e julga valores baseados em padrões estipulados. Já para a pedagogia transformadora, as avaliações de aprendizagem são feitas para se chegar a resultados de aspectos qualitativos sobre os quantitativos. As avaliações têm como função diagnosticar as dificuldades dos alunos, visando a reformulação didática ou de objetivos, se for necessário. Não existe a intenção de avaliações punitivas. Neste processo, o professor deve ter conhecimento de seus alunos, bem como seus avanços e dificuldades. Observe alguns conceitos utilizados para a elaboração de sistemas avaliativos aplicados pela pedagogia transformadora com a avaliação formativa: � Avaliação tradicional: • Prova: O aluno assiste às aulas expositivas aplicadas pelo professor durante o período letivo. Ao final do curso, é aplicada uma prova ao aluno para que possa demonstrar os seus conhecimentos. Se essa for a única forma de avaliação, significa que é tudo ou nada para o aluno. Ele só terá duas opções: Aprovação ou Reprovação - sem chance de poder reformular as suas ideias a respeito do tema cobrado na prova. � Avaliação Formativa: • Pré-Prova: as atividades executadas anteriores à prova são utilizadas tanto para compor a nota do aluno quanto para que ele aprenda diferentes formas possíveis de diálogo e exposição de ideias junto àquele professor. 6 • Prova: Geralmente costuma ser antecipada em relação à avaliação tradicional, feita só ao final do semestre. Muitas vezes o aluno tem a chance de poder reformular os conceitos que não aprendeu ou ainda sugerir outras formas. • Autoavaliação e Feedback: Em uma avaliação formativa, parte da nota do aluno pode ser atribuída por ele próprio de acordo com o que ele acha que aprendeu durante aquele curso. O professor tem a possibilidade de oferecer ao aluno um panorama mais detalhado a respeito do aprendizado desenvolvido sem se resumir a uma nota apenas. Diante de todas as considerações acerca das avaliações, pode-se ressaltar que ela não deve representar o fim de um processo de aprendizagem nem tampouco um instrumento avaliativo que remeta dados sobre a metodologia de ensino. Ela deve servir sim, como parâmetro na busca de caminhos em busca do aperfeiçoamento educacional, seja conservadorou transformador. O livro didático (LD) em sala de aula: A relação livro didático e ensino interativo pode realmente existir? Será que a aplicação dos livros didáticos em sala de aula em muitos casos não mascara o despreparo de muitos professores que utilizam-se apenas deles como ferramenta de trabalho? É preciso que se repense nesta influência, pois as implicações sofridas pelo aluno guiado exclusivamente pela aprendizagem didática são muitas, entre elas, a ausência de espaço para contestações, interferências e construções, principalmente quando o professor torna-se apenas um reprodutor do que está inserido no livro. 7 Os livros têm a função de orientar a prática pedagógica do sistema de ensino e são utilizados como ferramentas de suporte e organização. Porém, não devem ser vistos como “manuais de ensino”, pois acabarão fazendo o papel das antigas e ultrapassadas cartilhas. Algumas pesquisas apontam que os livros didáticos deveriam ser utilizados pelos educadores apenas como norteadores de conteúdos. Alunos e professores precisam dinamizar e questionar os conteúdos, reconstruindo materiais que já se encontram prontos e inquestionáveis. O que levaria um professor a assumir uma postura inadequada quanto à utilização de um LD? Seria o despreparo, desvalorização da profissão ou falta de criatividade? E quais seriam as implicações ao aluno? Primeiro, é necessário que se entenda que a diversificação de materiais para o aluno é imprescindível. Só assim ele poderá ter acesso e conhecimento das inúmeras maneiras de se trabalhar um tema e poderá escolher a que mais lhe agrada. Com isso, ele passará a interagir no espaço escolar, deixando de ser um mero coadjuvante. Por sua vez, o professor não poderá fazer uso exclusivamente dos LD. Poderá haver a inserção de jornais, revistas, artigos, filmes e documentários que poderão ser utilizados paralelamente, complementando o conteúdo dos livros didáticos. Certamente, as aulas se tornarão mais dinâmicas e produtivas. Por isso, o ensino interativo possibilita ao aluno o espaço necessário para que possa criar ou interferir nas práticas pedagógicas e objetos de estudos adquirindo com isso, conhecimentos formados e construídos por ele próprio. No entanto, o êxito da educação interativa ainda está na capacitação do educador, sua metodologia e prática de ensino. Apesar de receber inúmeras críticas quanto ao seu uso, o livro didático ainda tem defensores. Alguns doutores, mestres e professores em educação rebatem essa avaliação 8 desfavorável, embora sejam unânimes em dizer que ele não pode ser a única fonte de direção, pois isso seria a renúncia à liberdade que o professor pode e deve ter. Os LD não são materiais indefinidos e em fase de experimento, são ferramentas de trabalho. Ao longo da história, os livros sempre foram vinculados aos livros de escola, feitos para ensinar e aprender. E o aluno sente falta deles. Uma das críticas controversas é a de que o LD tira a autonomia e liberdade do professor. Não seria o inverso? Não seria o professor que está se deixando levar exclusivamente pelo LD renunciando à autonomia e liberdade que tem? As atividades propostas nos livros didáticos podem e devem ser utilizadas. O professor deve poupar seu tempo na elaboração de exercícios em função de pesquisas para serem apresentadas em sala de aula. Os autores dos livros didáticos procuram facilitar o trabalho do professor oferecendo suportes para a realização das tarefas. E qual seria o critério utilizado para uma escolha certa? Os critérios para avaliação da escolha de um livro didático podem ser constatados em guias publicados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). O guia também possui uma relação de livros já avaliados e recomendados. Livros que não atendam às considerações exigidas não fazem parte da lista, ou seja: � Um livro didático não pode conter conceitos ou informações incorretas; � Não pode veicular nenhum tipo de preconceito de classe, etnia, cor, gênero, etc.; � Ter coerência com a concepção do professor em relação ao conteúdo; � Ter coerência com os objetivos de ensino; � Ser adequado às características dos alunos; � Ser adequado ao projeto político-pedagógico da escola. Alguns títulos de LD permanecem durante décadas no mercado. Apesar deste período se tornar cada vez mais curto, algumas edições já atingiram de 40 a 50 anos 9 presentes em salas de aula (ex.: Antologia Nacional de Fausto Barreto e Carlos de Laet). Ultimamente não ultrapassam o período de permanência superior a cinco ou seis anos. Isso acontece pela expansão do número de escolas, alunos, professores e consumidores, aumentando consequentemente o número de autores, editores e novas obras. Outro fator para explicar a diminuição da permanência de um mesmo livro didático por períodos acima de seis anos é justificado pelos avanços contemporâneos. Às vezes o que se ensina hoje poderá estar ultrapassado no próximo semestre. 3.2 - Escolha de Conteúdos A escolha de conteúdos no processo de aprendizagem e alfabetização precisa ser correta. É preciso que haja continuidade e lógica. O conhecimento cognitivo é alcançado com o desenvolvimento fisiológico, por isso, o conteúdo deve se adequar e obedecer à idade do aluno para que o processo de entendimento se estabeleça. O aluno precisa ter interesse pelo que lhe está sendo oferecido, caso contrário, não aprenderá o conteúdo. E para que isso ocorra o contexto precisa estar vinculado a sua realidade. Sem um conteúdo apropriado e escolhido de modo que desperte no aluno interesse e curiosidade, as aulas expositivas serão monótonas e sequer despertarão discussões em grupo. Não existe também a possibilidade de se desvincular conteúdo e metodologia na escola. O importante é saber em que lugar o educador deseja chegar, o caminho a ser percorrido e o transporte para se chegar lá. Toda criança e todo cidadão brasileiro tem direito à educação básica, incluindo- se o seu acesso, permanência e qualidade. O acesso e permanência estão garantidos em 10 grande parte de nosso país, porém a qualidade é lamentavelmente diferenciada em todo o território, seja no âmbito nacional, estadual ou municipal. A desproporção e desigualdade poderiam ser equiparadas se houvesse um sério planejamento de trabalho pedagógico, partindo-se de uma reforma curricular como condição primaz para uma maior qualidade de ensino. O planejamento do ensino é a base para a escolha de conteúdos para o currículo escolar. A isso deve ser acrescentado novas diretrizes, parâmetros, planos anuais, planos de aula, planos de atividade, enfim cada um em seu momento certo para ser aplicado. Planejar é ser autor do conhecimento, pensamento, história e destino dos aprendizes e do educador. Na educação infantil não suscita dúvidas de que o planejamento de conteúdo é o primeiro passo para o ensino-aprendizagem. E para isso é preciso que ele siga algumas variáveis para elaborar seu planejamento, tais como: � Propósito educativo: Expor suas intenções e metas educativas; � Metas educacionais: Definir as intenções da instituição de ensino em função de seu programa ou ação educativa determinada. � Objetivos gerais: Definir os resultados esperados da metodologia de ensino- aprendizagem. Por ter um elevado grau de dependência em função de outros parâmetros a sua volta, não oferecem diretrizes claras e precisas, tornando necessária a formulação de outros objetivos, como: • Objetivos concretos (ou objetivos de aprendizagem): expõem as mudanças desejáveis relacionadas ao comportamento dos alunos. •Objetivo específico (ou operacional): expõe a divisão do objetivo geral caso seja necessário para o sucesso do programa. 11 • Objetivo instrucional: expõe a designação precisa sobre as intenções. Essas variáveis são tão importantes para o planejamento que originam vias diferentes de acesso sobre as intenções educativas: • Via de acesso pelos conteúdos: Presume que os objetivos educativos aconteçam a partir de uma análise dos conteúdos de ensino, escolhendo- se os de maior valor significativo. • Via de acesso pelas atividades de ensino: Caracterizada pelo currículo aberto, a ideia é a de que as atividades sejam de valor educativo sem haver preocupação com o conteúdo e origem. Deve haver a preocupação e o favorecimento para que todos os alunos possam participar das atividades educacionais, já que o conteúdo não é imprescindível. O ideal é que as duas vias de acesso se aproximem e caminhem em paralelo: Conteúdo + Atividades. Como questionador, cabe ao professor se apoiar em instrumentos metodológicos disponíveis para alicerçar sua experiência, seja ele qual for. Conteúdos e categorias: Existem três categorias fundamentais de conteúdos de ensino ao se falar sobre determinado assunto, algo, objeto, acontecimento ou situação: • Conceitos: Determina o conjunto de objetos, acontecimentos ou situações que apresentem certas características comuns. • Princípios: Exposição das mudanças ocorridas em algo, seja um objeto, acontecimento ou situação em relação a outro. As causas, efeitos ou outras relações são descritas. • Procedimentos: Podem ser chamados de regras, técnicas, métodos, destrezas ou habilidades. 12 Conteúdos e características: Existem sete tipos de conteúdos: • Factuais, conceituais e de princípios: Correspondem ao compromisso científico da escola que é o de transmitir informações produzidas pela sociedade. • Atitudinais, de normas e valores: Correspondem ao compromisso filosófico da escola que é o de promover pontos de vista que nos complementam, nos dão razão e dimensão como seres humanos, além de sentido para o conhecimento científico. • Procedimentais: Correspondem aos resultados e meios utilizados para alcance dos objetivos, bem como as articulações por ações, passos e procedimentos implantados e aprendidos. Portanto, a escola deve dispor métodos que coordenem valores éticos e científicos para estruturar-se na teoria e prática da aprendizagem. 3.3 - Recursos e Instrumentos A inserção de jogos didático-pedagógicos em salas de aula, além de facilitar o trabalho do professor no processo de aprendizagem é uma alternativa que consegue aliar divertimento e aprendizagem. Sem contar nas inúmeras possibilidades de trabalhar em sala de aula com a participação de todos os alunos. É de relevada importância os resultados obtidos no processo de educação relacionados à evolução do aluno em sala de aula ao se valorizar esse sistema para aquisição de conhecimento. O êxito pode ser atribuído por instigar os aspectos cognitivos do educando. 13 Hoje, o lúdico deixou de ser praticado apenas na educação infantil. Atingiu todos os níveis de ensino sendo uma das formas mais utilizadas como recurso pedagógico por despertar interesse e curiosidade – aspectos fundamentais para a aprendizagem. A escola que envolve atividades lúdicas como metodologia de ensino pode ser considerada mais importante que as demais, pois mostra às crianças outros valores e caminhos às brincadeiras, possibilitando à criança olhar e pensar sobre o brinquedo de formas diferentes. A brincadeira em ambiente escolar tem intenções diferentes àquela de casa. O objetivo é sempre de caráter educativo, seja para de alfabetizar, ensinar boas maneiras e adequar as crianças ao convívio social. Nas primeiras séries, a aplicação do lúdico faz com que a criança desperte interesses sobre questões infantis e estudar alguns assuntos de forma mais divertida e agradável. Por meio de brincadeiras o educador consegue explorar a criatividade da criança, valorizar alguns movimentos e gestos, ensinar na prática conceitos sobre solidariedade, camaradagem, relações de sociedade e outros valores. Materiais e Métodos: Os brinquedos oferecem prazer e fazem com que as crianças pensem. Esse fato pode ser comprovado pela facilidade que elas apresentam em aprender as regras dos jogos. Concomitantemente elas acabam aprendendo português e matemática. O lúdico tem enorme influência no desenvolvimento infantil. Sua curiosidade é estimulada, ela adquire autoconfiança, desenvolve a linguagem, pensamento e 14 concentração. Alguns elementos caracterizam os tipos de jogos que correspondem às três fases do desenvolvimento infantil e que podem ser utilizados com crianças. Veja a classificação conforme Jean Piaget: • Fase sensório-motora (vai aproximadamente até os 2 anos): a criança brinca sozinha, não tem noção de regras. • Fase pré-operatória (entre 2 e 5/6 anos aproximadamente): a criança adquire noção da existência de regras e começa a jogar com outras crianças alguns jogos de faz de conta. • Fase das operações concretas (entre 7 e 11 anos aproximadamente): as crianças aprendem que os jogos têm regras e jogam em grupos. Podem ser aplicados jogos de damas e futebol, por exemplo. Piaget também classificou os jogos de acordo com os tipos de estrutura mental das crianças: • Jogo de exercício sensório-motor: Oferecem exercícios com repetição de gestos e movimentações simples como: agitar os braços, sacudir objetos, andar de triciclos, caminhar, pular e correr. São jogos que começam na fase maternal e se estendem até aproximadamente os 2 anos de idade. Mantém-se durante toda a infância e às vezes até a fase adulta, quando optamos por andar de bicicletas, correr e andar de moto ou carro. • Jogo simbólico: Surge na fase compreendida entre 2 e 6 ano e consiste em satisfazer o “eu” por intermédio de transformações da realidade em função de desejos. Os jogos acabam reproduzindo as relações que predominam em seu meio ambiente. Inserem os jogos de faz de conta em sua rotina – que possibilitam a realização de sonhos e fantasias, revela conflitos existentes com elas mesmas e em seu ambiente familiar, além de seus medos, angústias,tensões e frustrações. 15 • Jogo de regras: Aparecem entre 7 e 11/12 anos. Surge nesta fase os desenhos, trabalho manuais, construções com materiais didáticos e representações teatrais. É uma fase em que o uso do computador pode ser uma ferramenta muito útil. A fase do jogo de regras, geralmente começa a se manifestar ainda na fase de jogo simbólico, quando a criança está em torno dos 5 anos, mas até os 12 ela irá manifestar interesse por esportes, xadrez e baralho. O jogo como recurso pedagógico é uma atividade que tem valor educacional e traz inúmeras vantagens para o processo de aprendizagem. Outros tipos de jogos conhecidos também por adultos, podem ser utilizados, adaptando-os para que a criança possa utilizar como ferramenta didática no processo de aprendizagem. É o caso do Bingo que inserindo-se letras do alfabeto nas cartelas pode ser utilizado para o ensino do alfabeto. Outra adaptação proveitosa é o caso do Jogo da Memória. Nesse caso, ao invés da utilização de pares de figuras idênticas, a adaptação requer uma cartela com a figura e outra cartela com o nome. Ainda utilizando-se o jogo da memória, outro recurso para acelerar o processo de alfabetização é o jogo com palavras para serem completadas. Existem inúmeros tipos de jogos encontrados com facilidade a preços acessíveisque, adaptados podem facilitar o ensino e transformar monótonas aulas em momentos agradáveis e extremamente produtivos. Basta apenas um pouco de criatividade e dedicação. 3.4 - Consciência Fonológica na Alfabetização A criança começa a distinguir os sons que compõem a fala e a maneira como são correspondidos por escrito por meio da consciência fonológica - uma descoberta recente 16 da Psicologia da Aprendizagem que pode contribuir para que os professores obtenham melhor desempenho das crianças na etapa da alfabetização. A consciência fonológica é a consciência de que nossa língua possui características formais e que os sons das letras correspondem aos mesmos da fala. É a percepção de que as palavras são construídas por sons. Essa consciência é caracterizada por níveis que podem ser observados da seguinte forma: • Segmentação da língua: a frase pode ser fracionada em palavras, as palavras em sílabas e as sílabas em fonemas. • As unidades fracionadas repetem-se em diferentes frases, palavras e sílabas. A palavra fonologia significa literalmente estudo dos sons ou estudo dos sons da voz. Ao falar, o indivíduo emite sons e cada um tem uma maneira específica de realizar esses sons no ato da fala. A pronúncia específica produzida por cada falante é estuda pela fonética. Ao menor elemento sonoro de uma palavra que se consegue estabelecer um significado distinto dá-se o nome de fonema. Trata-se da imagem acústica que guardamos na memória como falantes do português. Os fonemas formam os signos linguísticos. Geralmente são representados entre barras. Assim: /m/, /a/, /v/. A consciência fonológica nos traz ainda outras habilidades que o cérebro consegue perceber e estabelecer distinções: • Rimas: É a correspondência fonética entre duas palavras em função da vogal da sílaba tônica. Não é necessário que se estabeleça uma igualdade gráfica. • Aliteração: É a repetição da mesma sílaba ou fonema das palavras na posição inicial (também chamadas de trava-língua). 17 Os educadores devem estimular e auxiliar as crianças a encontrarem formas para que consigam notar os fonemas e as maneiras de separá-los. Algumas atividades podem ajudar neste processo de consciência fonológica como a aplicação de poemas para serem recitados, brincadeiras com trava-língua, músicas, adivinhas, ditados populares e alguns jogos de linguagem como: • Chico, chicote, nariz de bodoque. • Lé com lé, cré com cré, um sapato em cada pé. Estudos apontam que a consciência fonética é imprescindível para o início do processo de alfabetização, no momento da compreensão e entendimento do alfabeto e sua lógica de decodificação, já que os fonemas são as unidades de sons representadas pelas letras. Sem tal capacidade, a compreensão ortográfica de qualquer língua alfabética se torna mais difícil. As pesquisas também demonstram que são necessárias habilidades de processamento fonológico para a alfabetização, e que o envolvimento com práticas do mundo letrado fará com que a criança acostume-se à forma culta da língua. Para isso, basta que se trabalhe com ela, textos de conteúdo literário significativo antes mesmo de adquirir a leitura e a escrita de maneira formal. A oralidade As crianças emitem as primeiras manifestações verbais por meio de sons produzidos pelo simples prazer de brincar – são as chamadas vocalizações. Com o passar do tempo, essa brincadeira se torna em tentativas de comunicação influenciadas pelo meio que vive. 18 A consciência fonológica faz com que a criança consiga perceber os sons da fala, independentemente do que possa significar. Este processo envolve a manipulação auditiva e oral dos sons. Antes de compreender os princípios do alfabeto, as crianças precisam saber que os sons das letras são os mesmos sons da fala, o treinamento da consciência fonológica é benéfico para crianças a partir de 4 anos. Isso pode se inserido por meio de atividades que estimulem a escuta, atenção auditiva, percepção e manipulação dos sons. Geralmente é um tipo de trabalho acompanhado por fonoaudiólogos que desenvolve atividades cuidadosamente planejadas para serem repassadas aos educadores em suas aulas. Em casa, também é possível que esse trabalho seja feito: músicas, cantigas de roda e jogos orais podem ser inseridos às práticas diárias que explorem a percepção dos sons. A atenção voltada aos sons do ambiente também é válida. As crianças começam a demonstrar retorno dos trabalhos quando passam a gostar de rimas ou sons parecidos em palavras diferentes. Tudo isso ajudará na transição das fases que levam ao último processo para a alfabetização: o som das letras. O final da alfabetização consiste no desenvolvimento e prática de habilidades para o maior objetivo de todo o processo – a produção e interpretação de textos. 3.5 – Dificuldades de aprendizagem Algumas dificuldades provenientes de fatores orgânicos ou emocionais podem afetar o desempenho do aluno bem como o sucesso do programa de alfabetização. É importante que esses problemas sejam descobertos e investigados com o intuito de sabermos se estão ou não, associados à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, 19 dentre outros possíveis; que consideradas as causas, desmotivem o aluno ao aprendizado. É preciso que pais, familiares, professores e colegas observem se os problemas são dificuldades momentâneas ou persistentes. Alguns dos obstáculos que mais têm tido repercussão na área da educação são chamados de: • Acalculia A acalculia é diagnosticada quando um indivíduo perde as habilidades matemáticas anteriormente adquiridas e sabidas, por conta de uma lesão cerebral advinda de um acidente cerebral (AVC) ou traumatismo crânioencefálico. A acalculia não pode ser confundida com a discalculia. • Dislexia A dislexia é um transtorno da leitura que impede que o aluno seja fluente, pois troca, omite e inverte sílabas, pula linhas ao ler um texto e lê com lentidão. Alguns estudiosos garantem que seja um problema genético causado por alterações que ocorreriam em um gene do cromossomo 6, mas até agora nada foi comprovado. O problema afeta a aprendizagem primária tais como a leitura, escrita e soletração e pode apresentar uma combinação das dificuldades. A dislexia é caracterizada por alterações em caráter quantitativos, qualitativos, total ou parcialmente irreversíveis e é responsável por aproximadamente 15% das reprovações escolares e reflete em um déficit cognitivo-linguístico do módulo fonológico implicando no processamento dos sons da fala. Observe alguns sintomas: � Fala tardia; � Pronúncia de algumas sílabas constantemente erradas; � Crescimento de vocabulário lento; 20 � Dificuldades para seguir rotinas; � Dificuldade na assimilação de cores, números e para copiar seu próprio nome; � Falta de habilidades motoras finas (abotoar e amarrar sapatos, por exemplo); � Incapacidade para narrar uma história na sequência correta; � Dificuldade para memorizar nomes ou símbolos; � Falta de habilidades para pegar uma bola. Dificuldades identificadas no ensino fundamental: � Fala; � Aprendizagem do alfabeto; � Relação e execução de letras e números; � Preensão (pega) do lápis totalmente inadequada; � Falta de orientação temporal (ontem, hoje, amanhã, dias semana); � Dificuldades de orientação espacial (esquerda, direita, embaixo, em cima); � Dificuldades com a escrita cursiva. Tratamento após o diagnóstico de Dislexia. � Assim que diagnosticada, a orientaçãopara encaminhamento fará com que a abordagem ao aluno seja mais produtiva, pois o profissional que acompanhará o 21 aluno não perderá tempo no diagnóstico e já terá acesso a informações e pareceres importantes sobre o mesmo. � O profissional, ao saber das causas das dificuldades do paciente, terá condições de achar a linha terapêutica mais conveniente ao caso. Os resultados aparecerão de forma progressiva e constante. � Assim que iniciar o tratamento, o disléxico começará a conseguir contornar suas dificuldades e será responsável por encontrar seu caminho. � O resultado do tratamento pode ser potencializado se houver uma harmonia entre o profissional, paciente e família. � A família deve ter consciência que existe um mecanismo de programação do tratamento que é feito por etapas que serão transpostas somente quando a anterior for devidamente absorvida. Caso seja necessário, poderá haver um retorno às etapas anteriores e isso precisa ser aceito e bem entendido pelo paciente e familiares. É bom lembrar que os dislexos podem ser excelentes matemáticos, tendo habilidade de visualização em três dimensões, que os ajudam a assimilar conceitos, podendo resolver cálculos mentalmente mesmo sem decompor o cálculo. Podem apresentar dificuldade na leitura do problema, mas não na interpretação. • Disgrafia: Geralmente está associada à dislexia, pois o aluno troca e inverte letras e consequentemente encontra dificuldades na escrita. As letras apresentam-se mal traçadas, ilegíveis, muito próximas e o aluno apresenta desorganização na produção de textos. A disgrafia - também chamada de letra feia acontece devido ao esquecimento da grafia da letra. Não está associada a nenhum tipo de comprometimento intelectual e pode ser encontrada sob dois aspectos: 22 A disgrafia motora (discaligrafia): é quando a criança consegue falar e ler, porém encontra dificuldades na coordenação motora fina ao escrever letras, palavras e números. Ela consegue observar a grafia, mas não consegue efetuar movimentos para escrevê-la. A disgrafia perceptiva: é quando a criança não consegue relacionar o símbolo à grafia que representa o som, a palavra ou a frase. Características: O disgráfico não apresenta uma característica isolada, mas sim, um conjunto delas: � O aluno apresenta lentidão para escrever (pois esquece a grafia); � Possui a letra ilegível e escrita desorganizada; � Apresenta traços irregulares: muito fortes que marcam o papel ou muito leves; � Desorganização geral na folha por falta de orientação espacial; � Desorganização do texto: Não se atenta às margens parando muito antes ou ultrapassando-as amontoando letras na borda da folha; � Desorganização das letras: letras, palavras e números retocados, atrofiados e omissos; � Formas distorcidas e movimentos contrários à escrita: Ao escrever o número 5 acabam por escrever um S; � Desorganização das formas: Tamanhos extremamente pequenos ou grandes e � escrita alongada ou comprida; 23 � Espaço irregular dado entre linhas, palavras e letras. Tratamento: � Estimulação linguística global; � Atendimento individualizado e complementar na escola; � Pais e professores devem evitar repreender a criança; � Sempre que conseguir uma conquista, o aluno deve ser reforçado de forma positiva; � Na avaliação escolar ele deverá receber mais ênfase à expressão oral; � Evitar a correção de seus cadernos e provas com canetas vermelhas; � Conscientizá-lo de seu problema e de todos estão ajudando-o de forma positiva. • Disartria: A disartria de origem muscular é resultante de paresia, paralisia ou ataxia dos músculos presentes nesta articulação. Já a disartria originada por lesões do sistema nervoso faz com que o controle dos nervos seja alterado provocando, consequentemente alterações das articulações. Característica principal: � Fala lenta e arrastada por alterações dos mecanismos nervosos responsáveis pela coordenação dos órgãos da fonação. 24 • Discalculia A discalculia é um problema diagnosticado pela dificuldade em lidar com cálculos e números. Na maioria das vezes o problema consiste na incapacidade do aluno em identificar os sinais das quatro operações, não saber usá-los, não entender o enunciado dos problemas, não conseguir fazer comparações quantitativas e não entender sequências lógicas. Embora a Matemática ainda seja a disciplina mais temida e rejeitada por boa parte dos alunos em uma sala de aula, todos conseguem assimilar o propósito do que lhes é exposto e compreendem ao menos, o que se pede em um problema. Mesmo não conseguindo chegar às conclusões corretas ao raciocínio é lógico é certo. A identificação mais fácil para a discalculia é quando o educador percebe que o aluno perde muito tempo na tentativa de entender se o problema é passivo de soma, diminuição, multiplicação ou divisão. A criança não consegue entender o que está sendo pedido no problema e não entende os sinais das operações básicas. A dificuldade em fazer contas é muito grande e quando faz, utiliza os dedos. O papel do educador em um primeiro instante é o de tentar mudar o enunciado do problema. Às vezes a capacidade cognitiva da criança não acompanha enunciados possivelmente inadequados para a idade. Sabemos que crianças com disgrafia apresentam dificuldades em escrever letras e números e que isso certamente dificulta no aprendizado, principalmente da matemática, já que números ilegíveis determinam resultados inexatos, porém, a criança com discalculia é incapaz de compreender os processos matemáticos. 25 E não se trata de deficiência mental, auditiva, visual, ou ensino escolar insatisfatório. A criança portadora de discalculia não consegue elaborar resultados. Ela é incapaz de elaborar contagem, compreender números e atividades computacionais. Além das habilidades matemáticas ficarem comprometidas, as crianças com esse transtorno podem ter também um sério comprometimento de suas habilidades linguísticas. Mas atenção: Muitas crianças realmente não gostam da matemática por a acharem difícil e chata. Se algum tipo de problema nessa ordem for percebido, deve-se em primeiro lugar verificar se não se trata de apenas falta de adaptação à metodologia ou ao educador. Se outras disciplinas estiverem sendo desenvolvidas normalmente, os pais devem manter-se calmos e atentos. Se possível, deverá buscar ajuda para uma avaliação. A discalculia é classificada em seis subtipos que podem ocorrer de forma combinada, inclusive com outros transtornos. Observe: � Discalculia Verbal – a criança tem dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações. � Discalculia Practognóstica – a criança não consegue enumerar, comparar e manipular objetos ou em imagens matematicamente. � Discalculia Léxica – a criança apresenta dificuldades na leitura dos símbolos matemáticos. � Discalculia Gráfica - a criança apresenta dificuldades na escrita de símbolos matemáticos. � Discalculia Ideognóstica – a criança apresenta dificuldades em fazer operações mentais e dificilmente compreende os conceitos matemáticos. 26 � Discalculia Operacional – a criança apresenta dificuldades na execução de operações e cálculos numéricos. A criança com discalculia tem dificuldades ou é incapaz de: � Observar conjuntos menores dentro de um conjunto maior; � Compreender a relação de quantidade. Não entendem que 1 quilo é iguala dois pacotes de 500g; � Dar sequência aos números, tanto na ordem crescente quanto decrescente (ou seja, o que vem antes ou depois de determinado número); � Classificar números; � Compreender os sinais +, - , ÷, ×; � Montar operações matemáticas; � Assimilar e entender os princípios dos sistemas de peso/medida/métrico; � Dar sequência na realização de operações matemáticas; � Estabelecer relação um a um: quantidade de cadeiras para cada passageiro em um ônibus; � Contar utilizando-se dos números cardinais e ordinais; � Não consegue aprender tabuadas. 27 Tratamento por parte do educador: � O educador não deve diferenciar o aluno, ressaltando sua dificuldade perante os demais; � Não demonstrar impaciência interrompendo-a para tentar adivinhar o que ela quer dizer ou completar sua fala; � Não o corrigir diante da classe; � Não ignorar a criança; � Não forçar a criança a executar a lição quando estiver nervosa por não conseguir; � Deixar claro para o aluno que ele tem uma dificuldade, mas que pode procurá-lo sempre que precisar, pois está ali para ajudá-lo; � Não corrigir as lições da criança com caneta vermelha. Tratamento profissional específico (no mínimo 3 vezes por semana): � A criança deverá ser acompanhada por um psicopedagogo que a ajudará valorizando suas atividades e consequentemente elevando sua autoestima; � O psicopedagogo deverá trabalhar com a criança até descobrir qual o processo de aprendizagem que condiz melhor com seu entendimento; � A aplicação de jogos ajudará com problemas de seriação, classificação, habilidades psicomotoras, espaciais e contagem; � O acompanhamento da criança por um neurologista ajudará, por meio de exames apropriados que confirmarão qual a dificuldade específica da criança; 28 � Um neuropsicologista também é de significativa importância, pois conseguirá diagnosticar quais as áreas do cérebro psicologicamente alteradas. • Dislalia A dislalia é uma dificuldade encontrada pela criança na emissão da fala. Ela não consegue pronunciar nem articular adequadamente as palavras, além disso, faz troca de letras (como o Cebolinha da Turma da Mônica), omite fonemas e pronuncia sons errados, tornando tudo muito confuso. É um transtorno causado por problemas no palato, flacidez na língua ou lábio leporino. Ocorre com muita frequência, principalmente na idade entre 3 e 4 anos, quando a criança está no início do processo da fala. As principais causas estão relacionadas aos fatores emocionais, que podem interferir na aprendizagem da escrita mesmo sendo um transtorno da fala. Ao nos depararmos com um paciente dislálico, devemos encaminhá-lo para especialistas que possam identificar possíveis problemas nos órgãos da fala, audição ou neurológicos e que possam caracterizar a dislalia como orgânica. Caso nenhuma alteração física se apresente ela será caracterizada como funcional. A principal recomendação para evitar o desenvolvimento da dislalia é para que os pais, familiares, amigos e demais pessoas que estejam inseridas em seu meio não incentivem o dislálico, achando engraçadinho e bonitinho quando a criança pronunciar as palavras erradas. Em alguns casos, por falta de motilidade do palato mole, a criança omite alguns fonemas, como as letras “G” e “R”. Algumas trocas de letras também são corriqueiras como: 29 “B” por “P” “CAPELO” = CABELO "V" por "F", “FIDA” = VIDA “D" por "T", “ATEUS” = ADEUS “R" por "L", “CALO” = CARRO “J" por "Z" “FEIZÃO” = FEIJÃO "X" por "S” “SINGAR” = XINGAR “C” por “T” “TOTATOLA” = COCA COLA Veja um exemplo de omissão feita pelo dislálico: G A T O = “A T O” ou ainda: M A C A C O = “ MA’ A’ O” Para tratamento da dislalia, costuma-se gravar a fala da criança e fazer com que ela ouça suas trocas. Existe uma diferença marcante quando ouvimos nossa fala por via aérea (vinda de fora). Além disso, o dislélico deve ser corrigido para que os maus hábitos não se instalem. Às vezes esse procedimento já é suficiente para corrigir o transtorno. • Disortografia A disortografia é um transtorno de aprendizagem que consiste na dificuldade da linguagem escrita e pode aparecer como consequência da dislexia. Tem como principal característica a troca de grafemas, desmotivação para a escrita, aglutinação ou separação indevida das palavras, incompreensão quanto ao uso dos sinais de pontuação e acentos. É fato corriqueiro que crianças até aproximadamente 8 anos se confundam com a ortografia por inexperiência com a relação som/palavras impressas. Após esse período, caso as trocas persistam, é necessário uma avaliação psicopedagógica do aluno. Características principais do aluno que apresenta distúrbios de disortografia: 30 � Troca de letras das sílabas de palavras sonoramente iguais: faca/vaca, chinelo/jinelo, porta/borta. � Confusão de sílabas como: encontraram/encontrarão. � Adições de sílabas em uma palavra: ventitilador. � Omissões de consoantes ou vogais em uma palavra: cadeira/cadera, prato/pato. � Fragmentações indevidas de alguns termos: en saiar, a noitecer. � Inversões de sílabas de algumas palavras: pipoca/picoca. � Junções: No diaseguinte, sairei maistarde. Tratamentos: � Trabalhar com estímulos da memória visual do aluno por meio de quadros distribuídos com as letras do alfabeto, números e algumas sílabas; � Nunca reprimir a criança; � Auxiliá-la e incentivá-la a obter resultados positivos; � Não oferecer exercícios de repetição de palavras para a criança, pois não adiantará. • TDAH – Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade O TDAH é um transtorno de ordem neurológica que tem como característica principal crianças inquietas, desatentas, impulsivas e com problemas de falta de concentração. O TDAH só pode ser diagnosticado por médicos e profissionais especializados. 31 Geralmente são crianças muito distraídas, mas para haver um diagnóstico preciso, já que pessoas normais possuem sintomas muito parecidos, os sintomas deverão interferir no desenvolvimento da criança ou em suas atividades do dia a dia. Alguns estudos responsabilizam a TDAH em 75% dos casos a problemas genéticos e fatores orgânicos (como atraso no amadurecimento em determinadas áreas do cérebro ou alterações em seus circuitos). A TDAH se manifesta por grupos distintos que apresentam desatenção, impulsividade ou desatenção + impulsividade. Os sintomas precisam ter ocorrência tanto na escola como em casa, tais como: � A criança se remexe na cadeira ou agita as mãos e pés frequentemente; � A criança tem o costume de abandonar a cadeira em sala de aula ou em situações que deveria estar sentado; � A criança tem o hábito de viver correndo ou escalando, ocorrendo esse tipo de situação em momentos inapropriados; � Não brinca nem faz nenhum outro tipo de atividade em silêncio; � Está sempre “a mil” e “a todo vapor”; � Fala demais; � Antecipa respostas antes mesmo que as perguntas tenham sido completadas; � Tem problemas em aguardar sua vez; � Interrompe conversas ou brincadeiras alheias. 32 Importância do tratamento para os portadores de TDAH: � O tratamento evita que a criança cresça com o conceito de ser bagunceiro ou um "terror"; � Permite que a criança não tenha seu desenvolvimento educacional e social prejudicado; � Evita consequências futuras do problema, como a propensão ao uso de drogas,transtornos do humor (depressão) e transtornos de conduta. Tratamento: � Medicação específica para o sistema nervoso central; � Terapia (concomitante com a família e escola); � Psicoterapia; � Punir a criança adequadamente baseando-se em terapias comportamentais com acompanhamento de psicólogos e psicopedagogos. 3.6 - Uso de Tecnologia na Alfabetização A inserção da tecnologia no dia a dia do ser humano já se tornou algo tão imprescindível que não poderíamos mais nos imaginar sem nossas ferramentas digitais para nos auxiliar no trabalho, controles, pagamentos, arquivos pessoais e até mesmo sem as redes sociais. Pensando nisso, até que ponto seria necessário (ou cabível) a utilização do computador para facilitar o 33 desenvolvimento da leitura e escrita no processo de alfabetização e letramento? Muitos ainda são unânimes em determinar que o uso da tecnologia (computador e internet) na fase de desenvolvimento da criança é prejudicial e que interfere de forma negativa quando o assunto é alfabetizar. Outros ressaltam a importância desses tipos de ferramentas, alegando que as crianças de hoje não têm dificuldades para se concentrar quando precisam aprender e estão envolvidas com esse tipo de tecnologia. Hoje, já existem os chamados nativos digitais – que nasceram tão envolvidos com a virtualidade que nem sequer podem se imaginar assistindo um vídeo, conversando ou escrevendo de outra forma, que não seja pelo computador. Para essa geração isso é tão natural quanto era há algumas décadas atrás, escrever cartas, datilografar textos ou enviar um telegrama. Alguns estudiosos apontam que metodologias renovadoras que objetivam alfabetizar por intermédio da utilização de computadores não podem mais serem descartadas. Esses novos métodos devem complementar o ensino tradicional e caminhar ao lado do lápis e caderno. Não podemos ser hipócritas e tentar fingir que os equipamentos não estão aí. As crianças anseiam por eles, mesmo porque, já se incorporaram às nossas vidas e repudiar essa ideia só irá acarretar prejuízos à aprendizagem. São inúmeras as vantagens para o desenvolvimento do raciocínio utilizando-se os meios de tecnologia disponíveis hoje. Sem levar em consideração que o computador torna mais fácil a compreensão dos símbolos e sinais 34 para a criança. O único cuidado que se deve tomar é a relação tempo de uso X aprendizagem. As atividades propostas deverão ser fundamentadas em limites (começo, desenvolvimento e fim) para que a criança não crie dependência da máquina. E isso é cabível também para o uso da internet. Outro receio que paira sobre a decisão de pais e educadores em deixar ou não que as crianças conversem (teclem) assiduamente pela internet é a preocupação com a utilização de palavras escritas de forma abreviada e a inserção de novos signos nas conversas instantâneas, fazendo com que a linguagem tradicional seja substituída por termos pobres e desconexos. Seria isso apenas uma questão de adaptação? Ou será que as técnicas antigas de leitura e escrita ficaram obsoletas? Muitos acham que não. Segundo, educadores e psicopedagogos as ferramentas servem apenas como complementação. Se fosse assim, o cinema teria sido substituído pela TV e o livro pelo computador. E não é isso que vimos. 3.7 – Como trabalhar com projetos didáticos na alfabetização? Para o ensino da alfabetização, são necessários projetos didáticos que estimulem o aluno a refletir sobre a leitura e a escrita. As crianças precisam atingir os objetivos propostos pelo educador. O professor precisa saber definir o que quer com clareza, colocando em primeiro plano a aprendizagem do grupo, sem se importar em receber méritos e condecorações. Ao definir um tema, o educador garante a interação com o grupo, utilizando a fala e a escrita presentes no contexto por um determinado período, permitindo que se habituem aos 35 termos e sintam-se instigados em explorá-lo com o intuito de obterem novos saberes. Para isso, é preciso saber discernir na escolha do assunto, para que possam se sentir incentivados para a pesquisa e apresentar novos vocabulários, além de informações vinculadas ao material proposto. Isto só é possível partindo-se da seleção de uma leitura específica que fará com que o aluno tenha contato constante com o gênero apresentado fazendo com que consiga ampliar seu repertório literário. A capacidade de se aprender a ler e escrever só é possível, lendo e escrevendo. Ver outras pessoas escrevendo, ajudando pessoas a escrever e receber ajuda para escrever faz parte da busca pelo significado ou necessidade de se produzir algo com sentido – coeso. Ao se admirar o resultado final, obtido pela contextualização de todo um processo de aprendizagem, o educador pode ter a certeza de que obteve êxito ao desenvolver um projeto. Haverá a certeza de que seu projeto conseguiu impulsionar as quatro situações didáticas específicas para análise, reflexão do sistema de escrita e aquisição da linguagem usada para se escrever. São elas: As quatro situações didáticas próprias para análise: � A leitura feita pelo professor; � A leitura feita pelo aluno; � A escrita feita pelo aluno; � Produção de texto – com o educador segurando o aluno pela mão. Reflexão sobre a escrita: Na reflexão sobre a escrita, o aluno enfrenta o desafio na tomada de decisões, tais como: 36 � Quais letras usar; � Quantidade de letras a serem utilizadas; � Em que ordem deve ficar – o educador deve propor que sejam escritos textos já familiarizados e que leiam o material para ele ouvir. Desta forma, o professor conseguirá perceber a relação do que dizem e o que escrevem. E ao apontarem para letrinhas utilizadas para representar determinado som, revelam possíveis conflitos que têm ou a capacidade do que já conseguem dominar. Aquisição da linguagem utilizada para a escrita: Analisar a língua nos parâmetros da comunicação é pressupor que a linguagem usada para escrevê-la tenha sido amplamente utilizada. Uma técnica que pode ser usada para aumentar o vocabulário do grupo é aquela na qual os alunos ditam as palavras relacionadas a um contexto sugerido e o professor é quem as escreve no quadro para a formação de um texto. Isso favorece o desenvolvimento, planejamento e revisão até que a versão final do que se quer seja alcançada. Embora a versão final deva ser alcançada como meta do projeto proposto, ao se trabalhar com turmas de alfabetização, a atenção deve ser priorizada para o fato de que as crianças devam avançar na escrita e na leitura, independente do produto final atingido. É preciso disciplina, clareza e variedade na organização dos conteúdos. Desta forma, as aulas de conteúdo proposto se tornarão momentos altamente produtivos e diversificados, embora que não bastem. É fundamental ainda leituras e escritas diárias (chamadas de atividades permanentes) e constantes atividades didáticas com dificuldades de trabalho crescentes. Desta forma, consegue-se interagir as três modalidades que ao proporcionarem desafios diferenciados se complementam. 37 Unidade 4 - Alfabetização de Jovens e Adultos Olá, Chegamos à unidade quatro do Curso Alfabetização! Você aprenderá sobre a evolução do processo de alfabetização de jovens e adultos no Brasil, e o que nossa história nos informa a respeito dos métodos aplicados e medidas cabíveis para tentar frearmos o índice de analfabetismo crônico, apresentado estatisticamente comprovado em um quadro desanimador se comparadoaos nossos países vizinhos da América do Sul. Você também conhecerá alguns saberes necessários para a prática docente. O que um professor precisa saber ou ter para se tornar um diferencial. Como adequar-se às diferentes fases das crianças e adolescentes por meio de uma comunicação integrada a deles, sem, no entanto, perder o respeito e autoridade? Por que motivo a didática é tão indispensável e até que ponto ela pode interferir na aplicação de conteúdos em sala de aula. E acima de tudo, qual a importância da formação pedagógica universitária do professor para o ensino fundamental, médio e superior? Outros assuntos ainda poderão ser vistos ao final desta última unidade do curso, como a organização e uso da biblioteca escolar e salas de leitura, que trará a você algumas dicas de como proceder para que os alunos possam se ambientar e fazer da biblioteca a extensão da sala de aula. E para encerrar será passado à você a definição do que é desenvolvimento cognitivo e sua importância no processo de aprendizagem. Bom estudo! 38 4.1 – História da Alfabetização Ao chegar ao final do Império Brasileiro, por volta de 1889, o ensino se apresentava desorganizado com salas adaptadas que faziam a função de escolas, abrigando alunos de todos os níveis, que dependia unicamente da capacidade e empenho do professor e alunos para se manter. O material disponível para a alfabetização nesta época era precário e o processo de ensino da escrita e leitura era iniciado com as Cartas de ABC. Cartas de ABC As Cartas de ABC são constituídas por cartas contendo o alfabeto; cartas de sílabas compostas com segmentos de uma, duas ou três letras e cartas de nomes, em que são apresentadas palavras cujas sílabas são separadas por hífen. As Cartas de ABC sustentaram-se tradicionalmente na história da escola primária brasileira com as chamadas cartilhas. Mesmo sendo um método com características tradicionais de alfabetização, resistiram às inovações e continuaram sendo editadas até os anos 50 do século XX. As primeiras cartilhas brasileiras foram produzidas ao final do século XIX, elaboradas por professores fluminenses e paulistas, baseavam-se em métodos de soletração, fônico e silabação, e permaneceram por inúmeras décadas. Por volta de 1876, em Portugal, foi publicada a Cartilha Maternal de autoria do poeta português João de Deus e em 1880 foi adotada pelas províncias de São Paulo e Espírito Santo. 39 O método João de Deus – ou da palavração era diferente dos até então utilizados. Ele tinha como princípio a moderna linguística adotada na época, dando início ao ensino da leitura pela palavra para depois analisá-la a partir dos valores fonéticos das letras. Foi considerado como uma fase científica e marcante para a alfabetização e modelo social. A partir de 1890 tem início uma competição entre os adeptos do método João de Deus e os tradicionalistas, que defendiam a utilização dos métodos da soletração, fônico e da silabação. Essa disputa deu margem à certeza de que o ensino da leitura tem que ter necessariamente um método, ou seja, o nascimento da metodologia em função do ensino. Neste mesmo período, foi instalada a reforma da instrução pública no estado de São Paulo com o intuito de servir de modelo ao resto do país. Essa reforma deu início também à reorganização do ensino da Escola Normal de São Paulo e a fundação da Escola Modelo Anexa, onde mais tarde criou-se o primeiro jardim de infância. A base da reforma, sob o ponto de vista didático, estava nas novidades apresentadas pelos métodos de ensino – tais como o revolucionário método analítico aplicado ao ensino da leitura pela Escola Modelo Anexa. Lá, os estudantes do antigo Normal (magistério) se empenhavam no desenvolvimento de atividades práticas, que eram copiadas e levadas como modelo de ensino pelos professores de grupos escolares (implantados em1893) da capital e interior. Foi nesse período que os professores formados na escola normal se puseram a defender o método analítico para ensino da leitura e formaram seguidores em todos os 40 outros estados. Passaram a ocupar cargos da administração pública e normatizaram as cartilhas instituindo e tornando obrigatório esse método nas escolas públicas. O método analítico, influenciado pela pedagogia americana, era baseado em conceitos didáticos que derivavam da concepção da criança com uma apreensão do mundo entendida como sincrética. A maioria dos educadores de escolas primárias contestava a demora em obter resultados com o método, porém, seu uso foi obrigatório no estado de São Paulo, quando a autonomia didática despontou por meio da proposta de reforma Sampaio Dória (1920). As disputas sobre os diferentes processos que formavam o método analítico continuaram, porém havia um ponto em comum entre todos os educadores: a necessidade de adaptar a leitura às novas concepções da criança. O método analítico partia do princípio que o ensino da leitura deveria ter como base inicial o todo, e somente depois se procederia à análise das partes que constituíam esse todo. Mas, seus próprios seguidores foram tomando rumos diferentes quanto à aplicação do método, já que para uns o todo era uma historieta apresentada, para outros, a sentença e para outros, a palavra. O processo analítico, baseado na historieta foi institucionalizado em São Paulo, em 1915, pela Diretoria Geral da Instrução Pública/SP, onde se priorizava a historieta como o conjunto de frases relacionadas entre si por meio de nexos lógicos e fundamentação para o ponto de partida para o ensino da leitura. E assim as cartilhas foram instituídas como marcha analítica – processo de palavração e sentenciação. O método contemplava ainda, que o ensino inicial da leitura também deveria impor questões de caligrafia e tipos de letra (maiúscula, minúscula, manuscrita ou de forma). E para isso os alunos eram sobrecarregados com cópias e ditados. 41 Os adeptos do ensino de leitura sintética continuavam a defender a silabação como o melhor método para o início da alfabetização, e as disputas continuaram a se estender, até meados dos anos de 1920. Em decorrência da imposição do método analítico e de novas reformas políticas e sociais, após 1920 a resistência pelo uso do método aumentou e novas propostas começaram a ser buscadas para solucionar os problemas do ensino. Passaram então a conciliar os dois métodos (sintéticos e analíticos), porém a disputa entre seus defensores individuais não cessou. Por volta de 1934, as cartilhas passaram a se fundamentar em métodos mistos (chamados também de ecléticos) e os educadores começaram a ter como ferramenta de apoio os manuais do professor para acompanhar as cartilhas. Nesta fase começa uma visão de que o processo e o conceito são importantes para a alfabetização e que para o aprendizado da leitura e escrita é preciso que haja uma relação do método em função da maturidade da criança. A escrita, por sua vez, continuou sendo vista como habilidades caligráficas e ortográficas, que deveria ser inserida ao contexto do ensino da leitura, sendo que, ambas precisam de um tempo adequado ao aluno. Foi no início de 1980 que todo o processo tradicional de alfabetização começou a ser questionado; era necessária uma nova política social e educacional, pois as escolas estavam passando por um fracasso no processo de alfabetização de crianças. Foi então que tentando achar uma solução para o problema teórico e metodológico que o sistema passava, foi introduzido o pensamentoconstrutivista, baseado na pesquisa de Emília Ferreiro e seus colaboradores. E então todas as teorias e práticas tradicionais foram abandonadas, a alfabetização foi desmetodizada e as cartilhas questionadas. 42 Outra disputa entre os construtivistas e conservadores foi travada, porém, houve uma conscientização sobre as cartilhas que passaram a ser produzidas, levando para a criança conceitos construtivistas ou sócio-construtivistas e que poderiam ser utilizadas como base de metodologia por aqueles educadores mais conservadores. Qualquer necessidade de mudança ou modernização no contexto educacional do ensino sempre foi marcada por tensão e disputa entre modernos e antigos. A identificação do que é antigo causa a sensação de indesejável, decadente e obstáculo para o progresso, por isso busca-se definir sempre algo novo – melhor e mais desejável. Em relação ao que está ultrapassado, conseguimos construir metodologias que ora vão contra, ora vão a favor em relação ao antigo – porém sempre a partir dele. /4.2 – Saberes Necessários à Prática Docente O bom profissional é aquele que no decorrer de sua formação adquire conteúdo teórico e prático necessários para o exercício da profissão. A prática docente vai além disso, o bom professor afora a formação de qualidade e domínio do conteúdo, precisa saber a melhor maneira de passar adiante as informações que lhe forem atribuídas para ensinar. Houve o tempo que para ensinar bastava “passar” a matéria na lousa enquanto os alunos copiavam para que depois pudessem decorar o conteúdo. Hoje, é preciso que o professor tenha domínio de algumas técnicas de ensino – chamadas de didática, além de familiarização com a tecnologia presente a todo o momento. Destaca-se a importância de que o preparo do educador não fique limitado a conteúdos e informações teóricas. Ele precisa aprender como ensinar, ou seja, ele precisa ter uma formação pedagógica. E a fase inicial de sua carreira é um fator 43 determinante para seu preparo. É preciso que ele tenha contato com outros professores, fazer estágio e ser monitorado durante este período prático. Ao começar a lecionar ainda é preciso que receba orientações permanentes por meio de profissionais mais experientes, como gestores e outros professores. É o chamado período probatório, que deve ser visto como um período de adaptação e aperfeiçoamento da prática – atribuição mais importante para a função. Portanto, a formação universitária é fator predominante para a qualidade e preparo do educador. O problema é que algumas pesquisas apontam que apenas 46% (aproximadamente) dos profissionais da área da educação infantil são portadores de diploma universitário. O percentual sobe para 85% na faixa da 5ª a 8ª séries. Para o ensino superior, cerca de 95% dos professores têm o nível superior completo. Por conta desses dados pode-se perceber o despreparo e a falta de importância dada à função docente quando o assunto é alfabetização. Outro aspecto relevante para a formação e capacitação do professor é o incentivo à formação ininterrupta docente. É importante que haja interesse pela atualização de novas metodologias e demais novidades pertinentes à área – o educador não para nunca de estudar e se aperfeiçoar. Isso garante a sua valorização. Infelizmente, a capacitação adquirida por intermédio da educação continuada (atividades extracurricular, cursos presenciais, semipresenciais ou a distância), não é prática habitual de nossos educadores. E isso vai além. Como agravante, nossos educadores têm também, baixíssima participação em atividades culturais, como teatros, cinemas e museus, sendo que estas atividades são elementares para a produção e transmissão de conhecimentos e cultura para os alunos. 44 Todo professor deve ser capaz de ensinar, assim como todo aluno deve ser capaz de aprender. A didática, tolerância, sensibilidade e percepção para entender as diferenças entre os alunos são requisitos mínimos que se espera do educador. Já, as técnicas de aprendizagem devem ser ferramentas para que o educador facilite a absorção de conteúdo pelos alunos. A produção de materiais produzidos individualmente por cada educador, o incentivo para trabalhos em grupo, ajuda dos alunos entre si e oferecimento de exercícios de reforço são ferramentas e recursos passíveis de serem utilizados pelo professor em sala de aula na expectativa de que nenhum aluno fique “para trás”– tornando o nível da turma sempre homogêneo. Um bom professor consegue motivar e inspirar seus alunos por meio de uma relação positiva durante o período de convivência e trabalho. O educador que consegue estabelecer uma relação de conforto e segurança com a classe estimula e facilita o trabalho para ambos – para quem ensina e para quem aprende. A empatia e receptividade do professor para com os alunos são atitudes que facilitam a condução da classe e favorecem o respeito, desde que dosados de maneira que não comprometam a autoridade do professor – que tem muito mais valor quando conquistada e não imposta. Uma prática habitual para que os alunos consigam interagir de imediato com o educador é o cuidado que o professor deve ter em reconhecer a fase dos mesmos. Reconhecer o que é infância e o que é adolescência e saber respeitar esses períodos de amadurecimento e diferenças. Agindo assim, é possível adentrar na cultura com a qual os jovens estão inseridos ou o que acham importante, evitando inevitáveis choques de geração, cultura e valores. É o reconhecimento da realidade do aluno. A partir daí, o professor deverá ter didática para conseguir estimular a curiosidade do aluno, visto que ela é responsável por impulsionar o conhecimento. 45 Quando o assunto apresentado à classe causar interesse, certamente será investigado e pesquisado, fazendo com que o aluno adquira o conhecimento. Certamente a pesquisa por novas informações atrairá dúvidas, que promoverão debates em sala de aula beneficiando a assimilação do conteúdo. Para que as dúvidas sejam expressas o aluno precisa sentir-se à vontade – e cabe ao professor lidar com essa dificuldade, pois assuntos não solucionados geram atraso e comprometimento de desempenho. É preciso que haja uma intensa relação de dar e receber entre educadores e alunos. Professores que não motivam as aulas e seguem à risca a grade curricular, tão impessoal, imposta pela unidade de ensino, certamente sairão perdendo também, pois mesmo estando na função de aprendizes, os alunos têm muito a oferecer. A valorização do aluno é o estímulo que ele precisa para pesquisar, contestar e aprender. Mas o bom professor também precisa ser valorizado para que também se sinta estimulado. E isso só é possível quando ele passa a ter melhores salários, cargas horárias adequadas e direito à bonificações. Certamente esses recursos aplicados por gestores das escolas serão revertidos em dedicação e desempenho em sala de aula. Cabe aos pais colaborarem com esse reconhecimento, conhecendo os incentivos e planos de carreira propostos aos profissionais das unidades de ensino às quais seus filhos pertencem. Desta forma, saberão a realidade e condições a que os professores se sujeitam para conseguirem transmitir aos seus filhos tudo aquilo que precisam saber. 4.3 - Direito à Alfabetização Pesquisas e estudos feitos para elaborar dados sobre o papel da alfabetização em relação à pobreza, revelam que quanto maior o índice de pessoas que sabem ler e escrever em uma comunidade ou grupo social, menor o índice de pobreza. Portanto, a alfabetização é sim, um fator essencial para sua erradicação, por oferecer ao indivíduomais oportunidades de emprego e melhorar a sua qualidade de vida. 46 Além disso, grupos e comunidades com índices de alfabetização satisfatórios tendem a observar a sua volta e passam a se preocupar mais com a proteção ambiental, assuntos políticos e socioculturais elevando as condições de vida e bem-estar social da população. Segundo dados disponibilizados no portal ODM, que insere informações sobre objetivos de desenvolvimento do milênio, em 2010, o Brasil ocupava a sétima maior taxa de analfabetismo entre os países da região, sendo proporcionalmente maior à média registrada em toda a América Latina. O índice de porcentagem apontado pelo Brasil é o de 9,6%. Encontra-se apenas à frente da Jamaica (9,8%), República Dominicana (12,9%) e El Salvador (16,6%), Honduras (19,4%), Guatemala (25,2%), Nicarágua (30,3%) e Haiti (41,1%). A maioria dos países da América do Sul está à frente do Brasil quando o quesito analfabetismo é apontado: Uruguai (1,7%), Argentina (2,4%), Chile (2,95%), Paraguai (4,7%) e Colômbia (5,9%). Isso, sem levarmos em consideração os analfabetos funcionais – pessoas que têm a capacidade de decodificar frases, sentenças, textos e números, mas não conseguem interpretar o texto, ou seja, leem, mas não entendem o proposto passado no conteúdo. Existem analfabetos funcionais, inclusive nas esferas de nível superior de escolaridade. O índice de 9,6% apontado pelo Brasil é equivalente a aproximadamente 16 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever. Se levarmos em consideração os analfabetos funcionais este número salta para 33 milhões. 47 Para que o índice de analfabetismo no Brasil possa diminuir é preciso que a educação de crianças, jovens e adultos seja valorizada pela sociedade e principalmente por nossos governantes. O indivíduo analfabeto precisa ser visto como um ser pensante (ao contrário do que muitos não acreditam). Ele tem uma identidade – é um cidadão, e não pode ser posto de lado, desconsiderado e visto como se não pudesse expressar suas opiniões. A sociedade letrada faz com que esse indivíduo seja inferiorizado ou o considera como doente. É preciso que esse problema social possa ser revisto por políticos e dirigentes de nossa nação fazendo com que aqueles que não tiveram a chance de uma educação digna possam ao menos viver dignamente e como cidadãos que são. A educação fundamental é um direito de todos, estabelecida na Constituição Federal Brasileira em 1988 (artigo 208) e é imprescindível para o desenvolvimento da pessoa, seu preparo, exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. A este assunto cabe ainda a análise e questionamentos sobre alguns parâmetros e aspectos: Se o analfabetismo é fator determinante para o baixo posicionamento educacional, social, cultural e político de um povo, por que considerar a alfabetização como um direito fundamental? A alfabetização deveria estar inserida em campanhas, programas e políticas muito além do estigma fundamental. O governo não consegue ter a percepção do quanto um plano de erradicação do analfabetismo traria um salto para o país. Ainda que previsto em constituição, a educação está sempre inserida em planos secundários e sem importância na pauta dos governantes. Por que isso? Seria um trabalho cujos resultados demandariam muito tempo e o governo precisa de projetos imediatistas ou os resultados obtidos por intermédio da erradicação do analfabetismo e letramento do povo não seriam convenientes? 48 A democracia prioriza a educação como meta absoluta. A evolução social só é possível com a concretização de projetos que se empenhem em construção de mais escolas, maior reconhecimento e melhor qualificação para os profissionais da educação, incentivo aos estudantes com disponibilização de bolsas de estudo e incentivo à pesquisa. Programa antimiséria: O plano antimiséria é uma promessa de campanha da presidenta Dilma Rousseff que pretende transformá-lo como marca de seu mandato. Atualmente, de acordo com o ministro Gilberto de Carvalho, um dos pontos mais importantes para o programa antimiséria é a passagem dele pelo programa de alfabetização, já que o analfabetismo entre os adultos continua sendo o maior obstáculo para a qualificação e aperfeiçoamento profissional da classe trabalhadora. O programa pretende amenizar essa vergonha para o Brasil. O analfabetismo no país é um mal que chegou a receber medidas paliativas no período de governos militares, quando foi instituído o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, que após a democratização foi extinto. O ministro estima que o programa possa abordar patamares mais amplos com ações que propiciem o indivíduo a ir além de aprender a escrita, como a qualificação profissional, por exemplo. Os programas de combate ao analfabetismo são medidas que possuem como fundamento principal fazer com que as pessoas se tornem autônomas. 49 MOBRAL: O Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL como mencionado anteriormente, foi elaborado no período da ditadura militar pelo governo federal com o intuito de tornar o cidadão apto para que pudesse exercer sua cidadania. O programa tinha como metodologia a alfabetização funcional e não oferecia nenhum outro tipo de formação além do tradicional e básico bê-a-bá. Não havia sequer controle de frequência que consequentemente fez estabelecer- se alto índice de evasão e as avaliações eram feitas em duas etapas, uma ao final do módulo e outra pelo sistema de educação. A continuidade do programa, de altíssimo custo para se manter, foi inviabilizada por conta da recessão dos anos 80, mesmo porque foi alvo de várias denúncias, culminando em uma CPI para apurar o destino dos recursos e a manipulação dos dados referentes ao índice de analfabetismo emitido pelo programa. Foi extinto em 1985. Desde então a educação autônoma começou a surgir, e logo o governo instituiu o ensino supletivo, o MOVA e PAS. EJA – Educação de jovens e adultos: O EJA – Educação de jovens e adultos, antigamente, conhecido como Supletivo é uma alternativa que até então vem trazendo benefícios àqueles que por algum motivo não tiveram acesso ao ensino ou precisaram abandonar os estudos em alguma etapa do processo. É preciso que o aluno tenha 15 anos para ingressar Fase I do Ensino Fundamental e 18 50 anos para ingressar Fase II do Ensino Médio. Divide-se em ensino fundamental e médio, que correspondem aos antigos supletivos de 1° e 2° graus respectivamente. Tem validade em todo o território nacional e o certificado é reconhecido pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura). A Secretaria Estadual da Educação é quem define as especificações das provas, que geralmente são aplicadas uma ou duas vezes ao ano dependendo de cada estado. O aluno precisa se preparar para avaliações de conhecimentos gerais e específicos (Português, Matemática, etc). O interessante é que os estudos podem ser feitos pelo próprio aluno ou em escolas preparatórias, grupos de estudo, associações, etc. Para ser aprovado, o aluno precisa obter no mínimo 50% dos pontos atribuídos a cada prova e acaso não consiga aprovação em todas, poderá em um próximo exame, inscrever-se apenas na área que foi reprovado. É uma modalidade educativa que pode ser utilizada para suprir ciclos ou lacunas educacionais que estejam pendentes por adolescentes ou adultos, de forma que obtenham a chance de dar continuidade aos seus estudos. Não é necessariamente um programa de combate ao analfabetismo. MOVA – Movimento de alfabetização de jovens
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