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04 - Domicílio, Bem de Família

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�LFG – CIVIL – Aula 04 – Prof. Pablo Stolze – Intensivo I – 19/02/2009
6.6		Questões especiais envolvendo a teoria da desconsideração
a)	“É firme a jurisprudência no STJ no sentido de que a desconsideração é possível no curso da execução (RESP 920.602/DF).” 
Vc pode no curso da execução instaurar o incidente da desconsideração da pessoa jurídica, desde que se garanta o contraditório, desde que se resguarde a ampla defesa deste sócio a quem se dirige o ato. Mas o sócio deveria ter participado como réu no processo de conhecimento? Não. Isso não é necessário. Vc pode garantir o contraditório na própria execução. 
Expressão usada na ementa: “A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a desconsideração da personalidade jurídica é medida cabível diretamente no curso da execução.”
b)	“O que é desconsideração inversa?”
Como funciona o mecanismo da desconsideração comum? O ato judicial (que é a regra) afasta temporariamente a personalidade da pessoa jurídica que não cumpriu sua obrigação ou era insolvente para atingir o patrimônio da pessoa física que está por trás. Vc é titular de um direito e eu sou sócio de uma sociedade empresária. Cometi um ato abusivo e a sociedade é insolvente. Desconsidera-se a personalidade da empresa para atingir o patrimônio do sócio que está por trás.
Isso não se confunde com responsabilidade subsidiária que aprendemos no direito tributário que é outra coisa. Aqui, vc levanta o véu, afasta a personalidade e atinge quem está por trás. 
Na desconsideração inversa acontece exatamente o contrário. “Eu estou tranquilo porque estou devendo. Tudo está em nome da empresa.” Quando a pessoa física comete um ato abusivo, o credor pode não encontrar nada no nome dela. Mas se essa pessoa retirou bens do seu patrimônio para blindá-los na pessoa jurídica, o juiz atinge a pessoa jurídica diretamente para pegar o fraudador.
“Na desconsideração inversa, o juiz não afasta a pessoa jurídica. Pelo contrário: Verificando que o sócio se valeu da pessoa jurídica para ocultar bens, atinge o patrimônio desta para alcançar o agente causador do dano.”
Interessantíssima aplicação disso, se dá no direito de família. O professor Rolf Madaleno narra a situação de um cidadão que era casado foi esvaziando o patrimônio do casal e o transformou em ações da empresa da família dele. O juiz determinou a partilha percebeu que ele não tinha nada em nome dele porque estava ocultando os bens. O juiz, inversamente, atacou o patrimônio da empresa para pegar ele. Lógico que atingiu o patrimônio na medida do que era devido. 
Enunciado 283 da IV Jornada de Direito Civil firmou esse entendimento.
“283 – Art. 50. É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros.”
 
(Pausa no tema da aula: STJ: SÚMULAS NOVÍSSIMAS:
Súmula 369: "no contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do arrendatário para constituí-lo em mora".
Não traz novidade. Só acaba com a polêmica. No contrato de leasing, ainda que haja um inadimplemento relativo, a empresa arrendadora tem que notificar o devedor. Isso tem conexão no chamado dever de informação aliado à boa-fé objetiva.
Súmula 370: “caracteriza dano moral a apresentação antecipada do cheque pré-datado”.
 Acaba com a confusão do cheque pré-datado. Acaba com a velha discussão: “cheque é ordem de pagamento à vista”. Mas se o credor aceita a data de apresentação, ele não pode apresentar fora do prazo. A teoria do venire contra factum proprium (veremos em aula futura) protege a quebra da confiança, alguém adotar comportamentos contraditórios. Ninguém pode, na linha do tempo adotar comportamentos incompatíveis. Então, se eu passo um cheque pré-datado e a empresa se compromete a apresentá-lo no futuro, não pode fazê-lo hoje. 
LIVRO I - DAS PESSOAS
TÍTULO III – DO DOMICÍLIO 
1.	DO DOMICÍLIO
1.1.	Análise Etimológica do termo domicílio
A palavra “domus” traduz a noção de casa. Vem do direito romano onde o domus era, inclusive o local de culto aos antepassados. A família romana não era simplesmente uma unidade doméstica. Era política, religiosa, militar, inclusive. De lá para cá, o direito se modificou muito. Foi na França que surgiu a complicação teórica sobre a noção de domicílio. 
A noção do direito moderno do domicílio não se aprende de uma leitura simples. Não dá para decorar o que é domicílio. É importante entender. Os autores não se entendem na conceituação porque é difícil compreender. Para compreender, é preciso passar por etapas cognitivas sobre a matéria. Para se chegar à noção de domicílio, é preciso passar pela noção de residência e, inicialmente pela noção de morada, numa espécie de gradação: morada, residência e domicílio. 
Morada – Alguns autores italianos falam em estada, estadia. “A morada é o lugar em que a pessoa física se estabelece temporariamente.” Ela não desloca seu domicílio. É temporária. Exemplo: Alguém recebe uma bolsa para morar seis meses em outro lugar. 
Residência – É mais do que morada. É o lugar onde a pessoa física se estabelece com habitualidade (esse é o segredo!). Residência é habitual. Tem o caráter de fixidez. Casa de praia é um bom exemplo. Uma pessoa pode ter duas residências. O lugar onde a pessoa é encontrada com habitualidade é residência. Vc pode perfeitamente ter residência em SP e em Campos do Jordão. Qual seria a diferença do domicílio? A noção de domicílio abrange a de residência, mas possui um plus. Por quê?
Domicílio – O domicílio da pessoa física, nos termos do art. 70, do Código Civil é um lugar em que fixa residência com ânimo definitivo (animus manendi), transformando-o em centro de sua vida jurídica e social. O que vai diferenciar a residência do domicílio é a intenção de permanência. É o animus de definitividade. O domicílio é o centro da vida, a residência, não. “Eu adoro Campos do Jordão, lá tenho residência, vou sempre, mas em São Paulo está a minha vida.” Essa expressão “está a minha vida”, significa que é o domicílio porque no local da pessoa onde tem residência e, além disso, tem intenção de permanência, é o domicílio. O art. 70, do Código Civil traduz isso que falamos agora.
“Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo.” 
1.2.	A pluralidade de domicílios e residências
Admite-se a pluralidade de residências e domicílios no art. 71:
“Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.” 
 	
É possível que uma pessoa tenha na cidade A: residência, negócios, família; na cidade B, residência, comércio, negócios, família. É possível. Então, nesse caso, qualquer delas será considerada domicílio. Isso a gente aprende quando estuda Competência no direito processual civil. 
A regra de domicílio tanto nos interessa porque uma das regras definidoras da competência é que a demanda deverá ser proposta no domicílio do réu. Por isso há tanto interesse na fixação do domicílio.
1.3.	Domicílio profissional
OBS.: Refere-se a uma norma que o código velho não tinha: “Na vereda do art. 83, do Código de Portugal, o art. 72, do Código Civil, consagrou o domicílio profissional (pegadinha de concurso): trata-se de uma forma especial de domicílio, restrita a aspectos da relação profissional.”
	Item I, do art. 83, do Código de Portugal: “A pessoa que exerce uma profissão tem quanto às relações a que esta se refere, domicílio profissional no lugar onde a profissão é exercida.”
	O primeiro erro que vc não vai cometer é imaginar que esse domicílio profissional é o domicílio geral. Ele não é o domicílio geral. Ele é um domicílio específico para relações profissionais. No campo trabalhista, a competência para a demanda,é o local onde o empregado presta atividade laboral. O Código Civil absorveu essa influência, mas para o direito civil esse não é o domicílio geral da pessoa física. É um domicílio limitado a aspectos da profissão. 
	O domicílio profissional só interessa quando está sendo discutido em juízo aspectos da relação profissional. Qualquer outro aspecto vai cair na regra geral e não na regra do domicílio profissional. Art. 72, para entender isso:
“Art. 72. É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida.” 
“Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.” 
 
Exemplo: médico recém-formado em São Paulo. São Paulo é o seu domicílio. Esse médico recebe um convite e, de 15 em 15 dias se desloca para Araçatuba porque foi contratado por uma clínica. Quinzenalmente é encontrado lá. Por conta dessa relação que tem com essa clínica, a clínica tem um crédito contra ele. Por conta dessa relação profissional, pode demandá-lo em Araçatuba, não importando que ele tenha domicílio em São Paulo. O domicílio profissional é para aspectos da profissão. Se, por outro lado, uma moça de Araçatuba com quem ele namorou quiser entrar com uma ação de dano moral contra ele (responsabilidade civil por fim de namoro), vai ter que observar a regra geral: terá que demandar em São Paulo.
Curiosidade: A ruptura da afetividade fazendo com que alguém termine um namoro de 10 anos não gera dano moral de per si. Muito embora a dor neste caso, seja maior do que a dor de ver o nome indevidamente colocado no SPC. Mas nem todo dano é indenizável. 
1.4.	Mudança de Domicílio
	O artigo que cuida da mudança de domicílio é inusitado:
“Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção manifesta de o mudar.” 
 
	O que ele disse aqui? Quase nada.
“Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a acompanharem.” 
	
Então, vc pode provar sua mudança de domicílio de duas maneiras: ou circunstancialmente (testemunhas, etc.), ou por meio de declaração expressa feita à prefeitura. Alguém que mora em Salvador vai se mudar para Barreiras. Vai à Prefeitura e protocola um comunicado na forma do art. 74, § único o Código Civil, que está de mudança para Barreiras. O funcionário vai pensar que vc é doido. Pior é chegar em Barreiras fazer o mesmo. Na Alemanha isso é comum, até recomendado. Mas isso não é típico do nosso sistema. É uma norma jurídica perfeita desprovida de função porque se vc não comunicar à municipalidade não haverá nenhum tipo de reprimenda.
1.5.	Domicílio aparente ou ocasional
	O que se entende por domicílio aparente ou ocasional? Pegadinha de concurso. É a teoria desenvolvida pelo civilista Belga Henri de Page. O que se entende por isso? 
	“É uma aplicação da teoria da aparência, uma ficção jurídica. Aplica-se o domicílio aparente para pessoas que não tenham domicílio certo, a exemplo dos profissionais do circo, ciganos, considerando-as domiciliadas no lugar onde forem encontradas.” É o que diz o art. 73:
“Art. 73. Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada.” 
 
1.6.	O domicílio da pessoa jurídica
	
O tema, domicílio da pessoa jurídica, tem vários desdobramentos interessantes, contudo, são processuais. Na questão prática, uma sociedade empresária que tem sede em SP e filiar do RJ, não diz respeito à nossa matéria. Esse tema, para o Código Civil, não tem muitos desdobramentos. O domicílio da pessoa jurídica, no Código Civil, está no art. 75 (mas o desdobramento é processual):
“Art. 75. Quanto às pessoas jurídicas, o domicílio é:
I - da União, o Distrito Federal; 
II - dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; 
III - do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; 
IV - das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos.” 
	A sede da prefeitura é o lugar onde o município está domiciliado, mesmo porque um domicílio pode se desdobrar em distritos.
“§ 1º Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados.” 
“§ 2º Se a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que ela corresponder.”
1.7.	Classificação do domicílio
	Esse é o ponto mais importante para concurso público.
	O domicílio pode se desdobrar ou se subdividir em:
Domicílio VOLUNTÁRIO – “é o comum, fixado por simples manifestação de vontade.” Vc resolve se mudar de Salvador para Aracaju e lá fixa o seu domicílio. 
OBS.: “Qual a natureza jurídica do ato de fixação do domicílio voluntário? Resposta: trata-se de ato jurídico em sentido estrito.” Veremos isso mais adiante.
Domicílio de ELEIÇÃO – “é aquele estipulado pelas próprias partes no contrato (art. 78, do Código Civil)”
“Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações deles resultantes.” 
	O grande questionamento quanto a isso é: até onde vai a autonomia da iniciativa privada, que há muito deixou de ser uma manifestação privatística absoluta para ser um conceito condicionado aos parâmetros constitucionais? Se há uma ordem social harmônica (que exige uma autonomia privada limitada aos parâmetros constitucionais), a autonomia privada é limitada pelo princípio da função social, pelo princípio da boa-fé objetiva, pela eficácia horizontal dos direitos fundamentais. O direito civil não é mais a ilha recôndita, escondida de tudo e de todos. Então, uma boa resposta em concurso público sobre o domicílio de eleição teria que ser que a autonomia privada é condicionada por parâmetros constitucionais, e isso não permite que uma cláusula de foro de eleição em contrato de adesão, especialmente para o consumidor, lhe seja prejudicial. Esse tipo de cláusula, em sendo prejudicial ao aderente, especialmente ao consumidor é nula de pleno direito. O CPC foi modificado para que, diante de uma cláusula que prejudique o aderente possa, de ofício declinar de sua competência. E todo mundo sabe que competência territorial envolvendo domicílio exige exceção de competência, mas essa modificação do CPC, dada a gravidade dessa cláusula abusiva, se o juiz verifica que o contrato prejudica o aderente (ou consumidor em especial) ele, de oficio, declina de sua competência em respeito, em ultima ratio, ao princípio matricial da dignidade da pessoa humana. 
	“A autonomia privada não pode traduzir expressão de autoridade econômica. Com isso, o exercício da autonomia negocial e da livre iniciativa suporta parâmetros constitucionais de contenção, especialmente em decorrência da função social e da boa-fé objetiva. Por isso, existe forte entendimento no sentido de ser nula a cláusula de eleição que prejudique o aderente, especialmente o consumidor, podendo o juiz declinar de ofício da sua competência (art. 112, do CPC)”.
“Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa.
Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu.(Incluído pela Lei nº 11.280/06)”
	Essa é hoje a idéia assentada no direito brasileiro em respeito à vulnerabilidade técnica, jurídica e econômica do aderente.
Domicílio LEGAL ou NECESSÁRIO – encontra guarida em dois artigos do Código Civil: o art. 77, que tem importânciamaior no direito internacional e oart. 76 que, para muitos autores é a base do domicílio legal. O art. 77 também manifestação do domicílio legal, mas o artigo chave é o 76. Comecemos pelo art. 77:
“Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.” 
	É como se fosse uma regra de domicílio legal supletiva. 
 
“Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso”. 
 	Aqui é a lei que determina: tem domicílio legal (tem que memorizar!! Dica: pegar as iniciais de todos os citados e formar uma frase, como essa para o caso em comento: inês sempre paquerou muito mas parou):
	
O incapaz
O servidor público
O militar
O marítimo (marinheiro da marinha mercante, privada)
O preso
Quem explica os detalhes é o parágrafo único:
“Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença”. 
	DOMICÍLIO LEGAL OU NECESSÁRIO
	Incapaz
	Domicílio do seu representante ou assistente
	Servidor Público (só cargo efetivo)
	Lugar onde exerce permanentemente suas funções
	Militar
	Onde servir
	Militar da Marinha/Aeronáutica
	Sede do comando ao qual se subordina
	Marítimo (marinha mercante)
	Onde o navio estiver matriculado
	Preso
	Lugar em que cumprir a sentença
	Inês Sempre Paquerou Muito Mas Parou
Servidor público que tem domicílio legal é somente aquele que exerce função permanente. Fulano tem a vida jurídica em São Paulo, mas tem uma função de confiança em Campinas. A função que não é permanente não gera domicílio legal do servidor público. O sujeito passou em concurso público para exercer as funções em Osasco e continua morando em São Paulo. Osasco será o domicílio legal dele. Por força de lei, ele é domiciliado onde exerce função permanente e não simplesmente comissionada.
LIVRO II - DOS BENS
TÍTULO ÚNICO - DAS DIFERENTES CLASSES DE BENS
CAPÍTULO I - DOS BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS 
Seção I - Dos Bens Imóveis 
Seção II - Dos Bens Móveis 
Seção III - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis 
Seção IV - Dos Bens Divisíveis 
Seção V - Dos Bens Singulares e Coletivos 
 
CAPÍTULO II - DOS BENS RECIPROCAMENTE CONSIDERADOS 
CAPÍTULO III - DOS BENS PÚBLICOS
1.	BEM DE FAMÍLIA
1.1.	Referencial histórico
O referencial histórico mais importante do bem de família foi o instituto texano do “Homestead Act”, de 1839. A lei do “HOMESTEAD” (cuja tradução literal é “lugar do lar”)acabou influenciando a codificação do projeto de 1916 no Brasil.
Entre 1837 e 1839, em dois anos, ocorreram 33 mil falências nos Estados Unidos. 959 bancos fecharam. O governo texano começou a perceber que os proprietários do Texas começaram a se retrair e a economia ficou desaquecida. Por essa razão, o governo do Texas passou a considerar impenhorável a pequena propriedade urbana e rural. Isso foi uma forma de proteção da pequena propriedade. Foi dessa lei que derivou esse importante instituto “bem de família” no direito brasileiro.
(Fim da 1ª parte da aula)
1.2.	Bem de família voluntário (arts. 1.711 e ss. do Código Civil)
É a primeira espécie de bem de família que estudaremos. Depois veremos o bem de família legal. 
Conceito – O bem de família voluntário é instituído por ato de vontade do casal (casado ou em união estável – unidade familiar) ou por ato de terceiro e registrado no Cartório de Imóveis (art. 167, I, 1, da LRP).
Para vc instituir o bem de família voluntário na forma do Código Civil vc deve lavrar um instrumento constituindo aquele apartamento como bem de família e levar o registro ao cartório de imóveis. Exige, pois: 
1) manifestação de vontade e 
2) registro.
Efeitos - Feita essa inscrição no cartório de imóveis, dois efeitos decorrem do bem de família voluntário: 
impenhorabilidade	
						relativas					
inalienabilidade 
	A partir do momento que os instituidores registram o bem de família voluntário, ele se torna, a partir dali, inalienável. Perde-se a liberdade de vendê-lo ou doa-lo como antes. Agora, para fazer isso, é a observância a certas formalidades que antes não havia. Isso porque existe uma restrição para preservar a finalidade do bem de família. A inalienabilidade está prevista no art. 1.717, do Código Civil:
“Art. 1.717. O prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem da família, não podem ter destino diverso do previsto no art. 1.712 ou serem alienados sem o consentimento dos interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.”
	Então, para vender o bem de família, tem que colher a manifestação de todos os interessados, não só da minha vontade, mas também da minha esposa e, se houver incapazes, há intervenção do MP. Para poder vender, é preciso cancelar o registro do bem de família.
	“Registrado o bem de família voluntário, ele se torna impenhorável por dívidas futuras, com as ressalvas do art. 1.715.” Instituído o apartamento como bem de família voluntário, ele passa a ser impenhorável por dívidas futuras (é a proteção maior), mas há exceções:
“Art. 1.715. O bem de família é isento de execução por dívidas posteriores à sua instituição, salvo as que provierem de tributos relativos ao prédio, ou de despesas de condomínio.”
“Parágrafo único. No caso de execução pelas dívidas referidas neste artigo, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem outra solução, a critério do juiz.”
	
A impenhorabilidade que deriva da instituição do bem de família voluntário, como se vê, não é absoluta.
Características especiais do bem de família voluntário – O novo Código Civil trouxe duas grandes inovações no tratamento do bem de família voluntário.
“Nos termos dos artigos 1.711 e 1.712, no novo Código Civil, o bem de família voluntário tem duas características especiais:”
a)	O bem de família não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores.
b)	O bem de família poderá abranger valores mobiliários (inclusive rendas).”
O bem de família pode ser usado para cometer fraudes. Fraudes contra credores, por exemplo. O devedor pode praticar fraudes, reúne seu patrimônio, compra um apartamento e inscreve como bem de família voluntário. Se alguém transforma todo seu patrimônio em um bem de família voluntário, blindando-o por dívidas futuras, tornando-o impenhorável, isso prejudicará muita gente. Por isso, o legislador permite que qualquer um possa instituir bem de família. Mas para fazer isso voluntariamente, o instituidor não pode ultrapassar 1/3 do seu patrimônio líquido, para que haja uma sobra razoável com relação aos credores. Há, pois, um teto não matemático, mas se alguém quiser inscrever bem de família voluntário, terá que ficar no limite do terço do patrimônio líquido do instituidor. A lei criou esse teto. Como aferir isso? Quando vc inscreve o bem de família, vc declara, sob as penas da lei, que aquele bem de família não ultrapassa o terço do patrimônio líquido. Mas se os credores provarem que ultrapassa, aquela instituição poderá ser invalidada. Cabe responsabilização penal por falsidade ideológica. O Código Civil deixa claro: não pode bem de família voluntário ultrapassar 1/3 do patrimônio dos instituidores.
“Art. 1.711. Podem os cônjuges, ou a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terçodo patrimônio líquido existente ao tempo da instituição, mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial.” 
“Parágrafo único. O terceiro poderá igualmente instituir bem de família por testamento ou doação, dependendo a eficácia do ato da aceitação expressa de ambos os cônjuges beneficiados ou da entidade familiar beneficiada.”
O terceiro aí é um avô, por exemplo, dizer que deixa um apartamento e que esse apartamento será seu bem de família voluntário, isso se vc aceitar, lógico.
O codificador permitiu, por outro lado, que quando vc e sua esposa fossem inscrever o bem de família em cartório, vc pode, na escritura em que especializa o bem, determinar que está também afetando como bem de família, valores mobiliários. Na mesma escritura e no mesmo ato, ao tempo em que institui em cartório o apartamento como bem de família o instituidor pode, na mesma escritura e no mesmo ato tornar protegido como bem de família um valor que tem depositado em caderneta de poupança. Com isso eu pago condomínio, água, luz e IPTU. O Código permite que na mesma escritura que afeta o apartamento, afeta um valor mobiliário, uma renda que mantém o imóvel. Não é qualquer renda, mas uma renda que prova que conserva o imóvel. 
“Art. 1.712. O bem de família consistirá em prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários, cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família.”
Então, o valor que eu tenho depositado em fundo de investimento é valor mobiliário. A renda que ele produz, se mantiver o apartamento, eu posso dizer na escritura que transformo em bem de família o apartamento e a renda que o mantém. Isso é uma grande novidade.
OBS.: “Situação diversa pode ocorrer: por necessidade econômica, o casal poderá ser compelido a alugar o seu único imóvel residencial. Pergunta-se: neste caso, a renda proveniente do aluguel é impenhorável pelas regras do bem de família?
É uma situação diferente. Por necessidade econômica, o casal teve que sair do imóvel. Alugou a única casa que tinha e passou a viver na casa de parentes, vivendo da renda de aluguel do seu único imóvel residencial. Aqui, vc sai do seu imóvel para viver na renda que ele produz. A renda de aluguel que seu imóvel produz e que mantém vc é impenhorável?
“O STJ já pacificou entendimento no sentido de ser impenhorável a renda produzida pelo único imóvel residencial locado a terceiros.(REsp 439.920/SP, AGRG 975.858/SP)”
Se o sujeito tem três ou quatro ou cinco, aí complica. Vira casuística.
Complementar a leitura em casa:
Administração do bem de família voluntário – art. 1.1720.
“Art. 1.720. Salvo disposição em contrário do ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz em caso de divergência.
Parágrafo único. Com o falecimento de ambos os cônjuges, a administração passará ao filho mais velho, se for maior, e, do contrário, a seu tutor.”
Extinção do bem de família voluntário – art. 1.722
“Art. 1.722. Extingue-se, igualmente, o bem de família com a morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela.”
1.3.	Bem de família legal (regulado pela Lei nº 8.009/90) 
Esse sim, diferentemente do voluntário, protege a todos nós. O BFL é disciplinado pela Lei n.º 8.009/90 que tirou muita gente da forca. Tirou muito devedor da iminência de perder sua casa própria.
Essa lei significa, no dizer de Gustavo Tepedino, a promoção da pessoa humana. O homem não deve servir ao patrimônio. Essa lei resguarda o bem de família de uma forma muito mais ampla do que o bem de família voluntário que com ela convive.
Essa lei que entrou em vigor em 1990 se aplicaria a devedores cuja penhora de seu imóvel residencial se deu antes de sua entrada em vigor? Essa lei que consagrou o bem de família legal poderia ser aplicada para situações de penhora anteriores a ela? Sabemos que lei civil não retroage. Caio Mário disse que é um desvio de perspectiva se imaginar que norma civil retroage. O que retroage é norma penal benéfica. O STJ, em uma interpretação social de resgate à dignidade da pessoa humana, a despeito de todos nos sabermos que o ato jurídico perfeito deve ser preservador, sumulou que a Lei 8009 poderia ser aplicada para situações anteriores à sua vigência.
“A Súmula 205, do STJ, resguardando o âmbito existencial mínimo da pessoa do devedor, admite a aplicação da Lei 8009/90 para penhoras realizadas antes da sua vigência.”
A lei 8009 resguarda o bem de família de todos, independentemente de registro cartorário.
“A grande vantagem da Lei 8009 foi consagrar uma impenhorabilidade legal independentemente da constituição formal e do registro do bem de família.”
Na forma desta lei que não traz nenhum tipo de restrição à alienabilidade. O único objetivo é proteger o imóvel por dívidas futuras. O único efeito é tornar o imóvel blindado pela impenhorabilidade legal. Vc não precisa ir ao cartório, lavrar escritura, fazer testamento. Nada! A proteção decorre somente do registro.
Alcance do bem de família legal:
“Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.”
“Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.”
Todo imóvel, na forma desta lei, está protegido. A proteção é ampla. Envolve o imóvel, plantações, benfeitorias, equipamentos, bens móveis. Qual é a hermenêutica do STJ em relação a essa interpretação do parágrafo único? A proteção atinge vários bens. É ampla. Contudo, em mais de um julgado, interpretando o alcance do bem de família legal, o imóvel, em algumas hipóteses, pode ser desmembrado para efeito de penhora. Isso é limitar o alcance da norma.
“O STJ, em mais de uma oportunidade (REsp 206.693/SC, REsp 510.643/DF, REsp 501.122/RS), bem como no noticiário de 15/05/2007, tem admitido o desmembramento do imóvel para efeito de penhora.”
Noticiário: Desmembramento do bem de família legal para efeito de penhora: “É possível a penhora da piscina e da churrasqueira desde que preservada a residência. A impenhorabilidade da residência não se presta a proteger área de lazer da casa. Por isso, o devedor terá penhorados os lotes onde ficam a piscina e a churrasqueira, contíguos à casa.”
Quais são os bens móveis protegidos pela Lei 8.009?
“Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.”
“Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.”
A lei não diz o que está protegido. Diz o que não está protegido. No caso do parágrafo único: O locatário é o dono do imóvel? Não. Uma dívida que ele tenha não resultará na penhora do imóvel que não é dele. Incide nos bem móveis que guarnecem a casa. Essa proteção dada ao locatário se estende ao usufrutuário, lógico. A pessoa que não é proprietária tem a proteção quanto aos móveis que guarnecem a residência.
“Exemplos, na jurisprudência brasileira e doutrina, de bens móveis protegidos pela Lei 8.009: Freezer, máquina de lavar, máquina de secar, computador, televisão, ar-condicionado. No REsp 218.882/SP o STJ entendeu que a proteção se estende a instrumento musical (teclado): A música é essencial em uma sociedade marcadamente violenta como a nossa. E não seria um simples teclado que iria reequilibraras finanças do banco. O teclado fica.” 
Antes, a proteção era rigorosa: a cama, a tv, a geladeira e acabou! Hoje, não. Houve uma flexibilização, análise das circunstâncias concretas.
Vaga de garagem é protegida pela Lei 8009? Cuidado com Cespe porque STJ tem firmado entendimento a respeito disso: 
“O STJ já consolidou que vaga de garagem com matrícula e registro próprios é penhorável (agravo regimental do agravo 1.058.070).”
A garagem, se tiver registro separado, vai ser penhorada. Se estiver conjugada com a área privativa do apartamento, está protegida. A questão é investigar se há matrícula e registros separados ou não para efeito de penhora. 
STJ: “Está consolidado nesta corte, o entendimento de que a vaga de garagem desde que com matrícula e registro próprios pode ser objeto de constrição não se lhe aplicando a impenhorabilidade da lei 8009/90.”
O teto de 1/3 do patrimônio líquido é instituído para o bem de família voluntário. A lei 8009 protege o seu apartamento independentemente de teto. Na prática, o bem de família voluntário está morto porque não se vê utilidade nele. Se temos a proteção do bem de família legal que decorre diretamente da lei 8009/90 por que cargas d’água eu vou com minha esposa pagar taxas ou emolumentos se a lei 8009/90 já me protege.
Mas cuidado com isso. Não diga na prova que o bem de família voluntário desapareceu porque as formas convivem e pode haver interesse na instituição voluntária do bem de família conforme o professor vai exemplificar agora: pode ser que numa situação concreta haja interesse em se instituir o bem de família voluntária, senão vejamos:
“O art. 5º, da Lei 8009 estabelece que caso o casal ou a entidade familiar seja possuidora de mais de um imóvel residencial, a proteção automática do bem de família legal recairá no de menor valor, salvo se outro imóvel houver sido inscrito como bem de família voluntário.”
O cidadão tem um mega apartamento nos Jardins em SP e uma casa simples, na periferia, onde morou na infância. Ele está se endividado. Mal sabe ele que a proteção do bem de família recai sobre o imóvel de menor valor, se ele residir em ambos. Salvo se tiver inscrito o outro como bem de família voluntário. 
Essa impenhorabilidade do bem de família legal não é absoluta, é relativa.
Exceções à impenhorabilidade do bem de família legal (ponto mais importante)
São aquelas trazidas pelo art. 3º. Doutrinariamente, entende-se que essas exceções à impenhorabilidade do bem de família da lei 8009/90, que são de ordem pública, devem ser aplicadas também ao bem de família voluntário, sob pena de se abrir uma grande brecha para fraudes no direito brasileiro:
“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:”
“I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;”
 	Ou seja, não haverá proteção do bem de família, se o processo for motivo em razão de crédito de trabalhadores do mestiços das próprias residências e das contribuições previdenciárias. Se vc não paga o salário ou a contribuição de sua empregada, ela ajuíza uma ação trabalhista, o seu apartamento pode ser penhorado.
	“OBS.: Ficou assentado no REsp 644.733/SC, no que tange à interpretação do inciso I, do art. 3º, que trabalhadores ou empregados eventuais, como pedreiro, eletricista ou pintor não estão abrangidos pela exceção legal.”
	O trabalhador que fez uma mini reforma em sua casa, pintura, vc não pagou, ele pode a penhora do seu apartamento. Não pode. O inciso I refere-se a empregados que tem permanência. Trabalhadores meramente eventuais, não estão abrangidos pela exceção legal.
“II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;”
	Isso é muito claro. Se o agente financeiro financiou a construção ou a aquisição de usa casa própria não dá par ao por contra ele um bem de família. 
“III -- pelo credor de pensão alimentícia;”
	Não haverá proteção contra bem de família se o processo foi movido pelo credor de pensão alimentícia. A esposa ingressou com execução, o apartamento do ex-marido devedor pode ser penhorado.
“IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;”
	É o caso do processo movido para cobrança de impostos (predial ou territorial), taxas e contribuições devidas em função do imóvel. Esse inciso IV se baseou no conceito de tributo (imposto, taxa e contribuição) e diz que não há proteção do bem de família se o processo foi movido para pagamento de imposto devido em função do imóvel (IPTU, ITR, etc.). A exceção da lei refere-se à cobrança de tributos vinculados ao imóvel. 
	OBS.: “O Supremo Tribunal Federal já firmou entendimento, seguido pelo STJ, no sentido de que a cobrança de taxa de condomínio resulta também na penhora do imóvel (RE 439.003/SP)”.
	Condomínio não é tributo, mas o STF deu uma interpretação extensiva pelo fundamento de política social. 
	Eros Grau em RE: “A relação condominial é tipicamente relação de comunhão de escopo. O pagamento de contribuição condominial, obrigação propter rem, é essencial à conservação da propriedade, vale dizer, à garantia da subsistência individual e familiar à dignidade da pessoa humana. Não há razão para, no caso, cogitar-se de impenhorabilidade.”
	Ou seja, se não pagou a taxa de condomínio, penhora o imóvel.
“V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;”
	Então, se o casal ou entidade familiar, voluntariamente foi ao Bradesco pactuar um contrato de empréstimo, voluntariamente hipotecou o imóvel. Não pode vir, depois, dizer que se trata de bem de família. Isso viola o princípio do venire contra factum proprium. Na literalidade da norma, se o casal vai ao banco e hipoteca voluntariamente o apartamento não podem depois, contraditoriamente a isso, invocar a proteção do bem de família.
	OBS.: “O STJ, por outro lado, como se lê no agravo regimental REsp 813.546/DF, tem entendido que a simples indicação do bem à penhora não implica renúncia ao benefício da lei 8009/90.”
	Está flexibilizando. Se o devedor numa execução indicou à penhora a casa dele, ele pode, depois, em embargos, desdizer o que disse antes. Parece ferimento ao venire, mas o STJ vem entendendo que é uma simples indicação de bem. Mas se vc hipotecou, é mais difícil porque a lei é muito clara. 
“VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.”
	
Os efeitos civis da sentença penal condenatória podem atingir a sua casa.
“VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.” 
Este é o inciso mais polêmico. Fiador em contrato locatício não tem bem de família no Brasil. É de chorar. O professor ficou muito triste com a decisão do Supremo. Carlos Veloso disse que esse inciso é inconstitucional. Mesmo que ele renuncie o benefício de ordem, cabe ação de regresso, mas ele não é o devedor principal. 
“O Supremo Tribunal Federal, por seu plenário, já afirmou ser constitucional a penhora do imóvel residencial do fiador na locação (RE 352.940-4/SP).”
“A Súmula 364, do STJ, firmou entendimento no sentido de que a proteção do bem de família alcança, inclusive, devedores solteiros, separados e viúvos.” Ou seja, a pessoa que vive só também goza da proteção do direito de família. Há ementa de um recurso do STJ que trata disso: “A interpretação da lei 8.009/93 revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu propósito é proteger o direito fundamental da pessoa humana. Não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos, a solidão. É impenhorávelo imóvel que reside sozinho o devedor celibatário.”
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