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0 CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA ADRIELE RIBEIRO DE GOES MARTA MARIA BARROS TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO: prevenção, diagnóstico e tratamento Londrina 2012 1 ADRIELE RIBEIRO DE GOES MARTA MARIA BARROS TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO: prevenção, diagnóstico e tratamento Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário Filadélfia – UniFil, como requisito para obtenção do título de especialista. Orientadora Profª Ms. Evanira L. J. Chiquetti. Londrina-Pr 2012 2 ADRIELE RIBEIRO DE GOES MARTA MARIA BARROS TOXOPLASMOSE NA GESTAÇÃO: prevenção, diagnóstico e tratamento Monografia apresentada ao Centro Universitário Filadélfia – UniFil, como requisito para obtenção do título de Especialista em Enfermagem Obstétrica, com nota final igual a______, conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores: Prof.Ms. Evanira Luiza JanjacomoChiquetti Orientadora Prof. Dra. DamaresTomasinBiazin Membro da Banca Examinadora Londrina, 25 de setembro de 2012. 3 Dedicamos este trabalho às nossas famílias e a todos aqueles que de alguma forma estiveram e estão próximos de nós, fazendo a vida valer cada vez mais a pena. 4 AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus por iluminar nossos caminhos e por termos conquistado essa etapa de nossas vidas. À nossa orientadora, Profª. Ms. Evanira L. J. Chiquetti, por toda ajuda e contribuição na realização desta monografia. Aos professores e colegas, por todo apoio recebido durante este curso. 5 GOES, Adriele Ribeiro de; BARROS, Marta Maria. Toxoplasmose na gestação:prevenção, diagnóstico e tratamento, 2012, 43 p. Monografia (Especialização em Enfermagem Obstétrica)- Centro Universitário Filadélfia – UniFil, Londrina, Pr,2012. RESUMO A infecção aguda pelo Toxoplasma gondiiem gestantes pode determinar infecção fetal através da passagem transplacentária. As crianças afetadas podem desenvolver coriorretinite e déficit neurológico, na ausência de tratamento adequado. Com o objetivo de discutir a produção científica relacionada ao diagnóstico, tratamento e prevenção da toxoplasmose congênita, foi realizada uma revisão bibliográfica de natureza exploratória, que utilizou a base de dados eletrônica SCIELO em parceria com a BIREME que contém artigos indexados específicos da área de saúde. A partir dos descritores toxoplasmose, toxoplasmose congênita, diagnóstico, foram encontrados 123 artigos que, após leitura e seleção, foram mantidos 8, que corresponderam a todos os critérios de inclusão e foram apresentados na sequência da revisão de literatura. O conhecimento das características epidemiológicas de cada região é muito importante para planejar programas de prevenção e assistência pré-natal e neonatal da toxoplasmose. Sendo assim, entende-se que é necessária a integração entre os diversos níveis de atendimento do sistema público de saúde para que possa atingir a máxima eficiência no controle da toxoplasmose gestacional e congênita. Dessa forma, será possível atingir, no futuro, um maior grau de evidência na abordagem preventiva da toxoplasmose congênita com critérios bem definidos para implementação destas estratégias, conforme a realidade de cada local. Descritores:toxoplasmose; toxoplasmose congênita; diagnóstico. ABSTRACT Acute infection by Toxoplasma gondii in pregnant women can determine fetal infection via transplacentaltransfer.Affected children may develop chorioretinitis and neurologic deficits in the absence of adequate treatment.In order to discuss the scientific production related to diagnosis, treatment and prevention of congenital toxoplasmosis, a literature review was exploratory in nature, which used the database eletrônia SCIELO in partnership with BIREME indexed articles containing specific health care .From the descriptors toxoplasmosis, toxoplasmosis, congenital diagnosis, 123 articles were found that after reading and selection, were maintained 8, which correspond to all the inclusion criteria and were presented in the following literature review.The knowledge of the epidemiological characteristics of each region is very important for planning prevention programs and prenatal and neonatal toxoplasmosis.Thus, it is understood that integration is necessary between the various levels of care the public health system so that you can achieve maximum efficiency in the control of pregnancy and congenital toxoplasmosis this way you can achieve in the future, a greater degree of evidence the preventive approach of congenital toxoplasmosis with well defined criteria for implementation of these strategiesas the reality of each place. Keywords: toxoplasmosis, toxoplasmosis, congenital ,diagnosis . 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 7 2 METODOLOGIA .......................................................................................... 10 3 REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................ 12 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 36 REFERÊNCIAS ................................................................................................ 38 ANEXOS .......................................................................................................... 41 ANEXO A - Fluxograma de diagnóstico e conduta em Toxoplasmose congênita ......................................................................... 42 ANEXO B - Conduta Obstétrica ............................................................... 43 7 1INTRODUÇÃO A toxoplasmose é uma protozoose de ampla distribuição geográfica e a transmissão congênita pode ocorrer quando a mulher adquire a primoinfecção durante a gestação. Destes casos, 90% são assintomáticos ou oligossintomáticos (PESSANHA et al., 2011). Segundo os referidos autores, a infecção pelo Toxoplasma gondiina gestante pode causar danos fetais, como abortamento, crescimento intrauterino retardado, prematuridade e acometimento neurológico e oftálmico. No Brasil, diversos estudos em pacientes grávidas evidenciam uma soroprevalência que varia de 42 a 90%. Após a infecção na gestante, o risco geral de infecção fetal é de 40%. Porém esse risco varia de acordo com a idade gestacional em que a mulher adquiriu a infecção, sendo menor no primeiro trimestre e maior no terceiro trimestre gestacional . O parasita atinge o conceptor por via transplacentária causando danos de diferentes graus de gravidade, dependendo da virulência da cepa do parasita, da capacidade da resposta imune da mãe e do período gestacional em que a mulher se encontra, podendo resultar, inclusive, em morte fetal ou em graves manifestações clínicas (DUNN et al, 1999 apud MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010, p.9). A infecção fetal poderia ser atenuada ou prevenida quando há tratamento materno após um diagnóstico precoce. Em diferentes países, a freqüência de aquisição de toxoplasmose durante a gravidez varia de 1 a 14 casos por 1000 gestações; no entanto, a infecção congênita ocorre em 0,2 a 2 recém-nascidos por 1000 nascimentos. Em alguns países como França e Áustria, a pesquisa sorológica é, por lei, obrigatória. Tal procedimento reduziu a incidência da toxoplasmose fetal de 40% a 7% (SPALDING et al., 2003). Segundo Couto e Leite (2004) no Brasil, entrede pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 2002. • INAGAKI, A.D.M.; SCHIMER, J. Toxoplasmose na gestação. Revista Científica de enfermagem, v. 7, n. 22, 2009. • LOPES-MORI, Fabiana Maria Ruiz et al. Programas de controle da toxoplasmose congênita. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 57, n. 5, out. 2011. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0104_42302011000500021& Ing=pt&nrm=iso. Acesso em 29 jan. 2012. • MITSUKA-BREGANÓ, R.; LOPES-MÓRI,F.M.; NAVARRO, I.T. Toxoplasmose Adquirida naGestação e Congênita: vigilância em saúde, diagnóstico, tratamento e condutas. Londrina: EDUEL, 2010. • PARANÁ. Secretaria de Estado da Saúde. Protocolo de Diretrizes Clínicas, Laboratoriais e Terapêuticas da Toxoplasmose Congênita do Programa de Gestaçãode Alto Risco. Curitiba, SESA, 2006, 18 p. Disponível em: 4 meses IgG(-) e IgM (-) Infecção ausente IgM (+) e IgG (-) ou IgG (+) Infecção aguda 25 e 40% das gestantes são soronegativas para a toxoplasmose. O risco de infecção aguda durante a gestação é de aproximadamente 1% e a transmissão fetal ocorre em 30% dos casos, levando a infecção fetal de gravidade variável. As crianças podem ser gravemente comprometidas ou assintomáticas ao nascer. Os riscos estimados de desenvolvimento de hidrocefalia, coriorretinite e 8 calcificação intracraniana isolada são de 61% quando a infecção ocorre até a 13ª semana, 25% na 26ª semana e 9% na 36ª semana. O prognóstico é, portanto, mais favorável quanto mais tardiamente ocorre a infecção primária (REIS; TESSARO; D’AZEVEDO, 2006). A inclusão da toxoplasmose no programa de Triagem Neonatal, complementar à triagem materna, no Brasil, foi sugerida por vários especialistas. No estudo de Lopes-Mori et al.,( 2011)foram encontrados 190 casos de infecção confirmada em neonatos de Minas Gerais, o que corresponde a uma prevalência de 1 em 770 nascidos vivos nessa população. A avaliação oftalmológica foi decisiva em 28 crianças (15,7%) que tiveram suspeita de toxoplasmose, permitindo a confirmação de que tinham sido, de fato, infectadas congenitamente. Os autores ressaltam, ainda, que a triagem neonatal oferece outras vantagens, como menor custo e relativa simplicidade, além de permitir o estudo de grandes amostras. A utilização da biologia molecular revolucionou o acompanhamento pré-natal da toxoplasmose, pois, além de permitir a identificação dos fetos infectados, possibilitou que a terapia antiparasitária fosse iniciada precocemente, ainda na gestação. O diagnóstico pré-natal da toxoplasmose congênita apresenta importantes implicações para o prognóstico fetal, assim como para a evolução neonatal, possibilitando o acompanhamento por uma equipe multidisciplinar, com identificação precoce de alterações durante a gestação, parto e no período pós-natal imediato, permitindo que os cuidados ao recém-nascido sejam otimizados a fim de melhorar o prognóstico dessas crianças (COUTO; LEITE, 2004). O toxoplasma gondiié um dos parasitas mais bem sucedidos de que se tem conhecimento, podendo infectar praticamente todo animal de sangue quente, em qualquer parte do planeta. De acordo comMitsuka-Breganó; Lopes-Móri; Navarro, (2010) estima-se que a infecção pelo T. gondii ocorra em pelo menos um terço da população humana mundial, com taxas mais altas de prevalência em locais quentes e úmidos. A via vertical foi a primeira a ser reconhecida como transmissora da toxoplasmose em humanos. Quando uma mulher soronegativa se infecta durante a gestação, parasitas presentes no sangue podem atingir a circulação fetal, após atravessarem a placenta. Apesar de o risco de transmissão transplacentária ser menor quando a gestante se infecta no início da gravidez, nessa fase a repercussão da infecção fetal é potencialmente mais grave, em um espectro que se estende 9 desde má formação profunda que pode levar ao aborto, até quadros sistêmicos e neurológicos graves com retardo mental e cegueira. Diante do exposto, foi realizado este estudo com objetivo de buscar na literatura fatores relacionados à prevenção, diagnóstico e tratamento da toxoplasmose congênita, além disso, buscar contribuições para a realização de uma assistência otimizada às pacientes em gestação. 10 2 METODOLOGIA 2.1 Tipo de pesquisa Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, exploratória realizada em periódicos relacionados à saúde. Foram encontrados artigos relacionados ao tema a partir de todos os descritores. Os descritores foram: toxoplasmose; toxoplasmose congênita e diagnóstico. Dessa forma, foram selecionados artigos com estudos relevantes sobre o tema. De acordo com Biazin& Scalco (2008) a revisão bibliográfica constitui uma pesquisa de estudos para análise e discussão de textos importantes já publicados na área a ser apresentada e, portanto, deve trazer contribuições de vários autores relacionando problemas e fundamentos sobre o tema. Segundo Gil (2002, p. 66) os periódicos científicos “constituem o meio mais importante para a comunicação científica.” Desta forma, os periódicos possibilitam a comunicação formal dos resultados de pesquisa e mantém a qualidade na investigação científica. 2.2Universo da pesquisa Foi considerada para o levantamento das publicações, a base de dados eletrônica ScientificElectronic Library Online (SCIELO), onde buscou-se por artigos originais publicados em periódicos científicos que corresponderam ao tema proposto. A SCIELO é o resultado de um projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em parceria com o Centro Latino Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde (BIREME), sendo que, a partir de 2002, o projeto conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 2.3Critérios de Inclusão • Artigos publicados nos últimos 15 anos • Artigos publicados na íntegra em língua portuguesa • Artigos que corresponderam ao objetivo proposto. 11 2.4Procedimento de análise de dados A partir dos descritores, foram encontrados 123 artigos que, após passarem pelos critérios de inclusão, leitura e seleção, foram mantidos 8 artigos para discussão neste estudo. Os artigos selecionados foram apresentados na revisão de literatura. 12 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1Toxoplasmose Congênita A toxoplasmose é uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasmagondii (T. gondii), um parasita intracelular obrigatório. A infecção possui distribuição geográfica mundial e alta prevalência sorológica. No entanto, 90% das infecções são assintomáticas e os casos de doença clínica são menos frequentes. Nos Estados Unidos da América (EUA) e no Reino Unido (UK), estima-se que 16 a 40% da população humana adulta apresenta sorologia positiva para a toxoplasmose. Nas Américas Central e do Sul esses números estão entre 50 a 80%.(HILL; DUBEY, 2002 apud MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). O toxoplasma foi descoberto por Splendore em 1908, num coelho de laboratório em São Paulo, no Brasil, e por Nicolle e Monceaux no gondii, roedor africano então usado na pesquisa de leishmaniose no instituto Pasteur de Túnis (capital da Tunísia, na República Africana, antiga colônia francesa). Em seres humanos, Jankus, em 1923, observou o parasita no olho de uma criança na Tchecoslováquia. Em 1927, no Rio de Janeiro, Torres, descreve-o como causa de meningoencefalite congênita, miocardite e miosite. A partir de 1937, Wolf e Cowan relataram vários casos da doença em crianças pequenas. Em adulto, a primeira infecção bem documentada de toxoplasmose foi descrita por Pinkerton e Weinman em um peruano, nos Estados Unidos, em 1940. Posteriormente, em 1942, Pinkerton e Henderson, no mesmo país, descreveram-na em um paciente com doença exantemática aguda e febril (INAGAKI; SCHIMER, 2009). Em 1948, Sabin e Feldman desenvolveram valiosa técnica para o diagnóstico da toxoplasmose, o Teste do Corante. Esse teste também é conhecido como Day Test ou Reação de Sabim Feldman. Em 1967, Hutchson foi o primeiro a demonstrar que gatos podiam eliminar Toxoplasma pelas fezes. Finalmenteem 1969 Frenkel e colaboradores comprovaram ser o gato o hospedeiro definitivo do Toxoplasma gondii, identificando-o como um protozoário, parasita, coccídeo, encontrado sob diversas formas ou estágios, sendo as três principais os oocistos, taquizoítos e bradizoítos (INAGAKI; SCHIMER, 2009). 13 3.1.1 Ciclo Biológico Felinos jovens, não imunes, infectam-se por meio da ingestão de presas contendo cistos teciduais ou ao ingerirem oocistos esporulados de ambientes contaminados. São considerados hospedeiros definitivosou completos, pois, em seu epitélio intestinal ocorre o ciclo sexuado do parasita, com a eliminação de milhões de oocistos nas fezes que contaminam o meio ambiente (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). A eliminação dos oocistos, tem início entre o terceiro e o vigésimo dia após a infecção e permanece por 7 a 15 dias. Os oocistos, quando eliminados, estão na forma de esporoblastos não infectantes e, na presença de oxigênio e temperatura entre 20°C e 30°C, esporulam em até três dias, tornando-se infectantes para mamíferos, incluindo o homem, e aves. Após sua maturação (esporulação), o oocisto é capaz de se manter viável por, pelo menos, um ano, resistindo à temperatura ambiente entre 20°C a 37,5°C (FRENKEL ,1971 apud MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). Para os referidos autores, a evolução do T. gondii nos tecidos, tanto nos felídeos quanto nos hospedeiros intermediários, ocorre pelo processo de multiplicação assexuada e extraintestinal do parasita, formando os cistos teciduais Os oocistos ou cistos teciduais ingeridos pelos hospedeiros suscetíveis liberam os esporozoítas ou bradizoítas, respectivamente, que penetram em células nucleadas, onde se transformam em taquizoítas. Os taquizoítas reproduzem-se e disseminam- se por via hematogênica e localizam-se nos mais variados órgãos e tecidos, como o sistema nervoso central, olhos, músculos esqueléticos, coração e placenta. Soroepidemiologia da toxoplasmose em gestantes a partir da implantação do Programa de Vigilância da Toxoplasmose Adquirida e Congênita em municípios da região oeste do Paraná (BITTENCOURT etal., 2012). O objetivo deste estudo foi avaliar a suscetibilidade das gestantes à toxoplasmose em serviço público de saúde de dois municípios da região oeste do Paraná. Foram avaliadas 422 gestantes por meio da pesquisa sorológica de anticorpos IgG e IgManti-Toxoplasmagondii (ELISA e MEIA). As soronegativas repetiram a sorologia no segundo e terceiro trimestre da gestação. Em um dos 14 municípios, também foi realizada a triagem neonatal em 27 recém-nascidos para detecção de IgManti-Toxoplasmagondii pelo teste de fluorometria. Todas as gestantes responderam a um questionário epidemiológico, para análise dos fatores associados ao risco da infecção pelo Toxoplasma gondii. Para análise estatística, foram consideradas a variável dependente da presença de IgGanti- Toxoplasmagondii e as variáveis independentes contidas no questionário epidemiológico. A prevalência de anticorpos IgGanti-Toxoplasmagondii nas gestantes foi de 59,8% e 60,6%. A presença de imunoglobulina do tipo IgG significa que estas mulheres já apresentaram infecção prévia pelo Toxoplasma gondii e foram curadas e apresentando anticorpos circulantes nos seus organismos. Em um dos municípios, as variáveis associadas à presença de anticorpos IgG foram baixo nível de escolaridade e mais de uma gestação. Não houve associação com os outros fatores investigados, como a ingestão de carnes cruas ou mal cozidas, vegetais crus, salames coloniais, manipulação de terra ou areia, horta em casa e gatos em casa. No outro município, não foi observada associação estatística com nenhuma das variáveis estudadas. Não foi confirmado nenhum caso de infecção aguda nem de soroconversão em ambos os municípios. Nenhum dos recém-nascidos avaliados apresentou positividade para toxoplasmose. Por se tratar de um estudo de prevalência, os fatores estudados foram associados à presença de anticorpos IgGanti-T. gondii. Como esses anticorpos permanecem presentes anos após a infecção, estas variáveis de comportamento e hábitos podem ter sido alteradas. O estudo ideal para analisar fatores de risco à infecção é o de coortes; no entanto, pelo fato de se tratar de uma doença de baixa incidência na gestação aliado ao alto custo, esse delineamento foi impossibilitado. Apesar disso, o conhecimento das características epidemiológicas da toxoplasmose, em cada região, é de extrema importância para traçar programas de controle adequados a cada realidade. A toxoplasmose é comum nas gestantes atendidas pelo serviço público de saúde da região estudada e há 40% delas suscetíveis à infecção. Esses dados reforçam a necessidade de manter o programa implantado nesses municípios. 15 3.1.2Transmissão A infecção por T. gondii, segundo Mitsuka-Breganó; Lopes-Móri; Navarro (2010) pode ocorrer por três vias principais: Fecal-oral: ingestão de oocistos eliminados nas fezes de gatos, presentes na água contaminada,no solo, areia, frutas e verduras. Os oocistos podem ser disseminados pelo ambiente por meio de baratas, moscas e formigas; Carnivorismo: pelo consumo de carnes e produtos de origem animal (principalmente de suínos, caprinos e ovinos) crus ou mal cozidos contendo cistos teciduais; Transplacentária: via circulação materno-fetal, com a passagem de taquizoítas presentes em grande número, na circulação materna durante a fase aguda da infecção. De acordo com Inagaki eSchimer (2009) alguns autores consideram transmissão através do leite cru não pasteurizado, principalmente de cabra, e através de ovo cru. Relatam também a presença de toxoplasma no colostro e na saliva, todavia, no ser humano, embora tenha sido encontrado o toxoplasmagondii na saliva, durante a fase aguda da infecção, não existem evidências de transmissão através do beijo ou por gotículas salivares. No homem, o período de incubação varia de 10 a 23 dias após a ingestão de carne mal cozida, e de 5 a 20 dias após ingestão de oocistos. O parasita pode causar uma grande destruição de células devido à sua própria ação ou pela hipersensibilidade apresentada pelo hospedeiro. As manifestações da doença no homem estão, geralmente, relacionadas a uma vulnerabilidade tissular especial associada à regeneração lenta ou ausente. A infecção materna, embora inaparente, pode determinar lesões destrutivas no feto (FRENKEL, 2002). Estudo prospectivo de gestantes e seus bebês com risco de transmissão de toxoplasmose congênita em município do Rio Grande do Sul (SPALDING et al., 2003). A população estudada foi composta por 2.126 gestantes atendidas em unidades do Sistema Único de Saúde da região noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. Após o screening sorológico inicial ocorreu o acompanhamento das 16 gestantes, durante o pré-natal, e de seus bebês. Foram realizadas dosagens de IgG, IgM, IgA, avidez de IgG, inoculação em camundongos, PCR e coleta de placenta e de cordões umbilicais para realizar a técnica de imuno-histoquímica além de avaliações clínicas. Das gestantes avaliadas, 74,5% eram IgG reagentes e 3,6% IgM reagentes. Nas avaliações oftalmológicas, foi observada lesão em dez gestantes e uma criança apresentou lesões oftalmológicas e calcificações cerebrais. A presença de IgM específico anti- T. gondii, durante toda a gestação não caracterizou a fase aguda recente da infecção, fazendo-se necessária a realização de testes complementares. Levando-se em conta a população examinada e analisando-se os dados de presença de anticorpos IgA na amostragem cujo acompanhamento foi efetuado, observou-se que 28 (56%) gestantes apresentaram IgA reagente. Essas pacientes, provavelmente, estavam na fase aguda da infecção por T. gondii durante a gestação. Isto representa 2% da população avaliada com possibilidade de transmissão congênita da toxoplasmose, por estar na fase aguda da infecção. Essa taxa é considerada alta se comparada à observada nos EUA e França, de 0,2 a 1%, na Noruega, de 0,2%, e na Dinamarca, onde 0,2% de mulheres soroconverteram na gestação e tiveram 19% de transmissão ao feto. No presente trabalho, das 51 crianças do grupo II acompanhadas, somente 28 eram nascidas de mães com IgA reagente, provavelmente na fase aguda e com risco de transmissão congênita. Destas crianças, três (10,7%) apresentaram a transmissãocongênita, sendo que uma (3,6%) apresentou sintomatologia característica. Inferindo-se tais dados à população do estudo, encontra-se uma taxa de transmissão de 2,2 em 1.000 nascimentos e de 0,7 em 1.000 nascidos vivos apresentando sintomatologia. As taxas de transmissão congênita e as manifestações clínicas variam de forma acentuada entre os indivíduos com infecção por T. gondii. Dentre os fatores envolvidos, estão variações da resposta imune e idade do hospedeiro, variações étnicas, cepa do parasita, quantidade de inoculo, condições socioeconômicas, hábitos culturais e clima da região envolvida. Os resultados deste trabalho ressaltam a importância do acompanhamento de neonatos de mães com sorologia compatível com a infecção, ainda que não apresentem sinais e sintomas sugestivos de toxoplasmose congênita. Também 17 mostraram a importância das medidas profiláticas primárias na redução da transmissão congênita do T. gondii. 3.1.3 Aspectos Clínicos A maioria dos casos de toxoplasmose em indivíduos imunocompetentes é assintomática. No entanto, de 10% a 20% dos adultos infectados apresentam, na fase aguda da doença, as seguintes formas clínicas: linfoglandular (mais frequente), meningoencefalite, pneumonite, hepatite, miosite, erupção cutânea e retinocoroidite (AMATO NETO; MARCHI, 2002). De acordo com Mitsuka-Breganó; Lopes-Móri; Navarro (2010) as manifestações clínicas mais comuns são a linfadenopatia e a astenia sem febre. A linfadenopatia pode ocasionalmente vir acompanhada de febre, mal estar, cefaléia, astenia, mialgia, exantema máculo-papular, odinofagia e hepatoesplenomegalia. Estes sintomas geralmente duram algumas semanas, porém, a adenomegalia e hepatoesplenomegalia podem durar meses. A forma congênita da doença apresenta-se de maneira muito severa, podendo causar abortamento e parto prematuro. As sequelas mais frequentes são hidrocefalia, microcefalia, calcificação cerebral, coriorretinite, retardo do desenvolvimento psicomotor, hepatoesplenomegalia, anencefalia, convulsão, catarata, cegueira, surdez, icterícia, febre, trombocitopenia, exantema maculo- papular, anemia, linfadenopatia, crescimento intrauterino retardado e baixo peso ao nascer. Mesmo fetos de mulheres que tiveram toxoplasmose na gestação que nascem aparentemente normais, podem posteriormente desenvolver sequelas da toxoplasmose congênita (INAGAKI; SCHIMER, 2009). 3.1.4Patogenia da Toxoplasmose Congênita Na toxoplasmose congênita, o parasita atinge o concepto por via transplacentária causando danos com diferentes graus de gravidade dependendo dos fatores como virulência, cepa do parasita, da capacidade da resposta imune da mãe e também do período gestacional em que a mulher se encontra, podendo resultar em morte fetal ou em graves sintomas clínicos (DUNN et al., 1999 apud 18 MITSUKA-BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). Assim sendo, o acompanhamento sorológico deveria ser periódico durante toda a gestação nas mulheres soronegativas, buscando o diagnóstico de uma possível primoinfecção (VIDIGAL et al, 2002apud MITSUKA-BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). Segundo os referidos autores, vários estudos demonstraram que o risco de infecção fetal aumenta com a idade gestacional, porém, a gravidade das sequelas diminui com ela, sendo as formas subclínicas neonatais próprias da infecção no terceiro trimestre da gestação. Portanto, a gravidade é inversamente proporcional ao tempo de gestação e a facilidade de transmissão é diretamente proporcional ao mesmo tempo. Como resultado da infecção intrauterina, a toxoplasmose neonatal varia em severidade no quadro clínico apresentado, do assintomático ao fatal. De acordo com Frenkel (2002) a patogenicidade varia segundo o trimestre gestacional da primoinfecção materna: a) infecção materna no primeiro trimestre de gestação: normalmente ocorre morte fetal; e b) infecção materna no segundo e terceiro trimestre de gestação: pode ocorrer prematuridade e ocasionar a chamada tétrade de Sabin: microcefalia, retinocoroidite, calcificações cerebrais e deficiência mental. O feto pode apresentar hidrocefalia, necrose periventricular com macro ou microcefalia (em 50% dos casos), acentuada destruição da retina, retinocoroidite (em 90% dos pacientes com infecção), calcificações cerebrais (em 69%) e retardo mental ou perturbações neurológicas (em 60% dos casos), com sinais de encefalite com convulsões. Na maioria das vezes, no momento do nascimento, as infecções congênitas são assintomáticas, porém, podem apresentar sequelas que se manifestam em algum momento da vida, principalmente complicações oculares e do sistema nervoso central (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). 3.1.5 Diagnóstico materno A determinação do período em que a infecção ocorreu na gestante é importante pois a infecção antes da concepção apresenta baixo risco de transmissão para o feto, ao contrário do que ocorre quando a primoinfecção ocorre durante a gravidez. O diagnóstico clínico é pouco fidedigno, pois os sintomas, quando 19 referidos, são inespecíficos e semelhantes a um quadro gripal. A linfadenopatia e a febre são as queixas mais frequentes e podem estar a companhadas de cefaléia, coriza mialgia e astenia. Cerca de 80 a 90% dos casos são assintomáticos (SANTANA; ANDRADE; MORON, 2003). No diagnóstico laboratorial, os métodos indiretos, baseados na pesquisa de anticorpos específicos anti-T.gondii, são os mais utilizados para o diagnóstico da toxoplasmose. As curvas de ascenção e queda de títulos dos anticorpos específicos de diferentes isotipos (IgM, IgA, IgE e, principalmente, IgG) obedecem ritmos diversos e refletem a evolução da infecção (CAMARGO, 2001). Para melhor compreensão é preciso entender o papel dos anticorpos na toxoplasmose (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010): Anticorpos IgG: surgem em 1 a 2 semanas chegando ao pico em 1 a 2 meses; caem variavelmente, podendo persistir por toda a vida. Valores elevados de IgG, com IgM negativo não significam maior probabilidade de infecção recente. Anticorpos IgM: aparecem dentro de 5 dias, desaparecendo depois de semanas ou meses e em alguns casos até por 1 ou 2 anos, não significando necessariamente infecção recente. Um resultado de IgM negativo ou positivo na gravidez não diagnostica ou afasta a infecção aguda, sendo necessária complementação diagnóstica. Não ultrapassa a placenta, sendo útil no diagnóstico da infecção congênita em recém-nascido. Normalmente, o exame positivo de toxoplasmose IgG revela que esta gestante teve contato no passado com o T. gondii, mas o sistema de defesa desta pessoa pode ter funcionado muito bem e nenhum problema maior ou sintoma tenha aparecido. No caso da toxoplasmose IgM negativo, revela que a gestante não está infectada, a negatividade no exame IgM indica que a pessoa não está com a doença nesse momento e, neste caso, o bebê não corre risco de contrair essa infecção. Anticorpos IgA: detectados em infecções agudas e na doença congênita. Podem persistir por meses, até mais de 1 ano. Maior sensibilidade que IgM na infecção congênita. Teste de avidez IgG – Avidez baixa (menor que 0,30%) sugere infecção recente adquirida hà menos de 4 meses; avidez moderada(0,30% a 0, 35%)não exclui uma infecção recente; e avidez elevada (igual ou maior que 0, 35%) sugere que a infecção tenha ocorrido há mais de 4 meses. 20 Perfil sorológico para toxoplasmose em gestantes de um hospital público de Porto Alegre (REIS; TESSARO; D’AZEVEDO, 2006). O objetivo do estudo foi analisar os resultados da sorologia convencional para toxoplasmose em gestantes acompanhadas pelo pré-natal do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas em Porto Alegre. IgG e IgM específicas foram processadas por testes fluorométricos sendo a IgM de captura. Na coleta em duas a três semanas foi solicitada às gestantesIgM positivas e as que estavam no início da gestação tiveram realizada a avidez de IgG. igM neonatal foi obtida nos partos realizados na instituição. A análise foi baseada na distribuição binominal, por meio do cálculo de uma proporção simples para estimar a prevalência de soropositividade e suscetibilidade à infecção pelo Toxoplasma gondii. A prevalência da infecção em 10.468 gestantes foi de 61,1 e 38,7% das gestantes eram suscetíveis. Entre as 272 gestantes IgG e IgM positivas, 87 retornaram para nova coleta e em 84 os níveis de anticorpos permaneceram inalterados. De nove gestantes com avidez, houve apenas uma gestante com avidez baixa e a IgM neonatal do recém-nascido foi positiva. Monitoramento de gestantes com toxoplasmose em serviços públicos de saúde (CASTILHO-PELLOSO et al., 2005). Este trabalho teve como objetivo discutir as dificuldades no monitoramento dado às gestantes com suspeita de toxoplasmose aguda, atendidas em serviços públicos de saúde do noroeste do Estado do Paraná. O estudo foi observacional, longitudinal e retrospectivo, de janeiro de 2001 a dezembro de 2003. Foram incluídas mulheres em qualquer idade gestacional com imunoglobulina m (IgM) anti- T. gondii reagente, atendidas nos serviços públicos da 15ª Regional de Saúde do Paraná (15ª RS), que compreende 30 municípios do noroeste do Estado. Foram detectadas 290 gestantes IgManti-T. gondii reagentes, sendo que 264 apresentaram informação sobre o pré-natal após busca ativa em seis diferentes serviços. Em 222 (76,5%) registros ambulatoriais e hospitalares os dados clínicos e laboratoriais estavam incompletos. Na maioria dos casos, uma única sorologia foi utilizada para a conduta terapêutica, indicando que o protocolo não estava sendo seguido na rotina de pré-natal dos serviços públicos. Na época do estudo, o 21 protocolo estadual de gestação de alto risco preconizava o acompanhamento da gestante com duas ou três amostras, seguidas de pesquisa de IgA. O perfil sorológico detectado evidenciou a existência do risco de toxoplasmose aguda entre as gestantes da região estudada, semelhante ao observado em estudos nacionais de soroprevalência. Destaca-se que 78 (69,6%) das 112 gestantes tratadas não tiveram seguimento laboratorial algum após a primeira reação sorológica IgM reagente. Neste trabalho evidenciou-se a necessidade de investimento em melhoria de técnicas laboratoriais, a fim de otimizar a assistência às gestantes e filhos expostos, uma vez que a indicação terapêutica pode ser onerosa ao serviço, apesar de saber- se que a utilização de quimioprofilático pode reduzir a transmissão ou as sequelas ao feto. É necessário também intervir na qualidade das informações obtidas bem como sistematizá-las para facilitar a tomada de decisões. É importante integrar e agilizar os serviços prestados às gestantes por parte dos diferentes profissionais de saúde. A falta de consenso, a fragmentação da assistência e o não seguimento do protocolo dificultam a caracterização do risco gestacional e o andamento das ações de monitoramento pela equipe multiprofissional de saúde que acompanha o pré-natal , o que influencia, sobretudo, no acompanhamento da saúde da criança exposta à possível transmissão vertical. Segundo o Protocolo de Diretrizes Clínicas, Laboratoriais e Terapêuticas da Toxoplasmose Congênita do Programa de Gestação de Alto Risco da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, os cuidados com a gestante são (PARANÁ, 2006): 1º Grupo – IgG e IgM não reagente (negativos): Gestante não infectada. Susceptível. Instituir cuidados profiláticos (prevenção primária da Toxoplasmose) e repetir exames (IgG e IgM) a cada trimestre nas gestantes de alto risco de contaminação ou entre a 24ª e 28ª semanas nas gestantes de baixo risco de contaminação; 2º Grupo – IgG reagente (positivo) e IgM não reagente (negativo): Gestante com infecção pregressa, considerado como doença crônica, ou seja, IMUNE. Gestantes com risco de imunossupressão: manter prevenção primária da Toxoplasmose. 22 3º Grupo – IgM reagente (positivo) e IgG não reagente (negativo) Considera-se infecção aguda recente, orientando-se iniciar tratamento imediatamente (ver esquema de tratamento na pg. 29). IgM reagente (positivo) e IgG reagente (positivo): Solicitar avidez de IgG específico para Toxoplasmose: • Avidez fraca (Baixa Avidez) = Infecção aguda ( 4 meses): • Gestaçãode toxoplasmose congênita foram encontradas em todas as crianças infectadas. Todas as crianças não infectadas apresentaram declínio de IgG específica para toxoplasmose ao longo do acompanhamento ambulatorial; a idade média de IgG comprovadamente negativa nessas crianças foi de 5, 4 meses. 24 Em conclusão, os resultados da pesquisa sugerem que, para o diagnóstico de infecção aguda pelo T. gondii na gestação, deve-se sempre considerar a realização do teste de avidez de IgG no primeiro trimestre nas gestantes com sorologia IgM positiva. A presença de sorologia positiva para IgM, como exame isolado, tem um valor limitado para detectar infecção recente e deve ser utilizada em associação com outros exames complementares para o diagnóstico de infecção aguda. Tal estratégia poderia reduzir a necessidade do tratamento das gestantes e do acompanhamento ambulatorial das crianças suspeitas. Toxoplasmose aguda: estudo da frequência, taxa de transmissão vertical e relação entre os testes diagnósticos materno-fetais em gestantes em estado da Região Centro-Oeste do Brasil (FIGUEIRÓ-FILHO etal., 2005) Este estudo objetivou estabelecer a frequência da toxoplasmose aguda em gestantes, a taxa de transmissão vertical e o resultado perinatal dos fetos infectados. Objetivou-se ainda, avaliar a relação entre os principais testes materno-fetais de diagnóstico da toxoplasmose durante a gestação, bem como a relação entre faixa etária e a infecção aguda pelo Toxoplasma gondii. Foi utilizado como método um estudo prospectivo longitudinal com 32.512 gestantes submetidas à triagem pré- natal pelo Programa de Proteção à Gestante de Mato Grosso do Sul, no período de novembro de 2002 a outubro de 2003. Utilizaram-se método ELISA (IgG e IgM) e teste de avidez de anticorpos IgG para diagnóstico da toxoplasmose materna, e PCR no líquido amniótico, para diagnóstico de infecção fetal. A avaliação das variáveis foi feita pelas médias, ao passo que a correlação entre algumas variáveis foi avaliada pelo teste de Fisher bicaudado em tabelas de contingência de dupla entrada. Nos resultados encontrou-se uma frequência de 0,42% para a infecção aguda pelo T. gondii na população de gestantes, sendo 92% delas expostas previamente à infecção e 8% suscetíveis. Nas gestantes com sorologia IgM reagente, a faixa etária variou de 14 a 39 anos, com média de 23 anos. Não houve relação significativa estatisticamente entre faixa etária e infecção materna aguda pelo T. gondii (p=0,73). Verificou-se taxa de transmissão vertical de 3,9%. Houve relação estatisticamente significativa (p=0,001) entre o teste de avidez (IgG) baixo (60%). Houve associação significativa estatisticamente (p=0,001) entre infecção fetal (PCR em líquido amniótico) e infecção neonatal. Concluiu-se que a frequência da toxoplasmose aguda materna apresentou-se abaixo do observado em outras investigações no Brasil. Entretanto a taxa de transmissão vertical não foi discordante do encontrado em outros estudos. O teste de avidez dos anticorpos IgG, quando associado à idade gestacional e data de realização do exame, mostrou-se útil para orientar a terapêutica e avaliar o risco de transmissão vertical, permitindo afastá-lo quando havia avidez elevada previamente a 12 semanas. O PCR positivo foi associado à pior prognóstico neonatal, demonstrando-se método específico para diagnóstico intra-útero da infecção fetal. 3.1.6 Diagnóstico pós-natal da infecção congênita Todas as gestantes com diagnóstico confirmado ou suspeito de infecção aguda devem ter seus filhos avaliados ainda na maternidade para se proceder a confirmação da infecção congênita e instituir o tratamento. Devido ao pleomorfismo da toxoplasmose congênita, da infecção subclínica ser mais frequente e da infecção se assemelhar a outras infecções congênitas ou perinatais, o diagnóstico da toxoplasmose congênita é mais complicado que o diagnóstico da infecção adquirida (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). De acordo com os mesmos autores, esta avaliação deve ser realizada por infectopediatras, neurologistas, ofatlmologistas e fonoaudiólogos para determinar possíveis manifestações e sequelas da infecção. A confirmação da infecção congênita é feita com a realização de testes sorológicos em amostras de sangue do recém-nascido. O diagnóstico sorológico do recém-nascido é particularmente difícil devido à alta concentração de anticorpos igG maternos que atravessam a barreira transplacentária e atingem o sangue dos recém-nascidos. A presença de anticorpos IgM e/ou IgA no sangue do recém-nascido revela infecção congênita, pois estas duas classes de imunoglobulinas não atravessam a barreira transplacentária, embora a ausência de IgM e IgA não exclua a infecção na criança. Nestes casos, deve-se continuar o monitoramento sorológico por até um ano de vida. Detecção de IgM e/ou IgA específicos anti-T.gondii: a presença dessasduas classes de anticorpos depende do período em que ocorre a soroconversão materna. 26 Anticorpos IgM específicos são mais frequentemente detectados em sangue de recém-nascido quando a soroconversão materna ocorre no terceiro trimestre da gestação e a detecção de anticorpos IgA quando a soroconversão ocorre no primeiro ou segundo trimestre. A presença desses anticorpos confirma infecção congênita. Detecção de IgG: anticorpos da classe IgG presentes no soro do recém- nascido podem ser próprios ou adquiridos da mãe por via transplacentária. Os níveis séricos de IgG materna adquirida passivamente diminuem gradativamente e desaparecem entre seis a 12 meses, enquanto os níveis séricos de IgG endógeno, produzidos pela criança infectada, persistem ou aumentam após o nascimento. No entanto, nos primeiros meses de vida, esses números diminuem. Assim, no lactente que não está em tratamento, só se pode excluir a infecção congênita quando os anticorpos IgG negativarem completamente. Comparação dos métodos para diagnóstico da toxoplasmose congênita. (CASTRO etal., 2001) O artigo selecionado teve como objetivo avaliar a eficácia da reação em cadeia da polimerase (PCR) no líquido amniótico para a detecção da contaminação fetal pelo Toxoplasma gondii em gestantes com infecção aguda e correlacionar com a técnica de inoculação e a histologia da placenta. Trinta e sete pacientes foram estudadas prospectivamente e o diagnóstico foi baseado na identificação da infecção aguda materna, seguido pela amniocentese, guiada pela ultra-sonografia para obtenção de líquido aminiótico para a realização de PCR e inoculação em camundongo. As pacientes foram tratadas com espiramicina durante a gestação; se a infecção fetal era demonstrada, primetamina e sulfadiazina eram acrescentadas ao esquema. As placentas foram encaminhadas para exame histológico. As crianças foram acompanhadas durante um período que variou de três a 23 meses para a confirmação ou exclusão da toxoplasmose congênita. Medidas de associação como sensibilidade, especificidade e valores preditivos foram calculadas para a PCR no líquido amniótico, a inoculação em camundongo e a histologia da placenta, mostrando os seguintes resultados: para a PCR, uma sensibilidade de 66,7% e especificidade de 87,1%; os respectivos valores 27 para a inoculação em camundongo foram 50 e 100% e para a histologia da placenta foram 80 e 66,7%. Tabela 1- Idade gestacional do diagnóstico da infecção materna, início do tratamento e dados dos RNs depacientes com resultados de PCR positivo. Casos IG_Infecção IG-Início do Sinais de infecçãoEvolução Materna(sem.) tratamento (sem.) ao nascimento 1 8 32 (regular) Nenhum TC descartada-7 meses negativação IgG 2 1527(regular) Nenhum TC descartada- 12 meses 3 4 não utilizou Nenhum TC descartada- 7 meses 4 12 26(irregular) Nenhum TC descartada – 6 meses 5 15não utilizou NeomortoNecrópsia; coriorretinite, encefalite toxoplásmica, ventriculomegalia 6 15 18 (regular) hidrocefalia, coriorretinite DVP aos 2 meses Proteinorraquia 7 16 27 (regular) calcificações cerebrais 11 meses/ IgG positivo 8 18 não utilizou Nenhum 23 meses IgG e IgM positivos exame clínico normal IG = idade gestacional; RN = recém-nascido; PCR = reação em cadeia da polimerase; TC = toxoplasmose congênita; DVP = derivação ventrículo-peritoneal Fonte: Comparação dos métodos para diagnóstico da toxoplasmose Congênita (CASTRO et al., 2001, p. 280). De acordo com a tabela 1, entre os oito casos em que a PCR foi positiva, o diagnóstico pós-natal confirmou quatro e excluiu a doença em outros quatro. A inoculação de líquido amniótico em camundongo foi positiva em dois casos, dos quais em um a PCR foi negativa. O exame anatomopatológico da placenta foi alterado em dez casos, sendo concordante coma PCR em quatro. Esse exame também confirmou a presença de toxoplasmose congênita em dois casos cujo resultado da PCR foi negativo. Conclui-se que o diagnóstico pré-natal é de importância fundamental no acompanhamento de uma gestante com toxoplasmose aguda, no entanto,o método da PCR no líquido amniótico para diagnóstico antenatal de toxoplasmose congênita ainda apresenta dificuldades técnicas, não devendo ser utilizada, isoladamente, na prática clínica, porém, é um método promissor e necessita de maiores estudos para melhorar sua eficácia. 3.1.7 Tratamento materno As drogas mais utilizadas no tratamento da toxoplasmose são: 28 Espiramicina: é indicada no primeiro trimestre da gestação para o tratamento de gestantes com infecção aguda, devido ao fato de não atravessar a barreira placentária e, portanto, não oferecer risco iatrogênico para o feto. Esquema tríplice: a combinação de sulfadiazina e pirimetamina, associada ao ácido folínico, é indicada para gestantes de idade gestacional superior a 18 semanas. Esta associação deve ser evitada no primeiro trimestre da gravidez, devido ao efeito potencialmente teratogênico da pirimetamina (FRENKEL, 2002). Esquema de tratamento de toxoplasmose na gestante segundo o Protocolo de Diretrizes Clínicas, Laboratoriais e Terapêuticas da Toxoplasmose Congênita do Programa de Gestação de Alto Risco da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 7): Fonte:Protocolo de diretrizes clínicas, laboratoriais e terapêuticas da toxoplasmose congênita do Programa de Gestação de Alto Risco da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. Espiramicina 35ª s Sulfadiazina + Pirimetamina + Ác.folínico 32 Espiramicina 29ª a 31ª semana Sulfadiazina + Pirimetamina + Ác.folínico 26ª a 28ª semana Espiramicina 23ª a 25ª semana Sulfadiazina + Pirimetamina + Ác.folínico 20ª a 22ª semana Espiramicina 17ª a 19ª semana Sulfadiazina + Pirimetamina + Ác.folínico 14ª a 16ª semana Espiramicina Diagnóstico até a 13ª semana Esquema terapêutico Semanas de gestação 29 Medicamentos utilizados e Doses recomendadas para Tratamento da Toxoplasmose na Gestante segundo o Protocolo de Diretrizes Clínicas, Laboratoriais e Terapêuticas da Toxoplasmose Congênita do Programa de Gestação de Alto Risco da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná (PARANÁ, 2006, p. 8): Fonte:Protocolo de diretrizes clínicas, laboratoriais e terapêuticas da toxoplasmose congênita do Programa de Gestação de Alto Risco da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. Existem diversos protocolos de tratamento da toxoplasmose adquirida na gestação, porém, a efetividade em prevenir a transmissão para o feto e a eficácia no tratamento intraútero devem ser melhor avaliadas. Parece haver um consenso de que só um grande estudo caso-controle, multicêntrico e randomizado seriam capazes de comparar a eficácia do tratamento materno (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). 3.1.8 Tratamento da criança O tratamento da criança com toxoplasmose congênita, suspeita ou confirmada, deve ser realizado desde o nascimento, utilizando-se o esquema tríplice. Nos casos confirmados de toxoplasmose congênita o tratamento deve se estender até um ano de idade. 1 comp. ao dia 15 mg Ácido Folínico (15mg) 2 comp. em dose únicadiária 50 mg Pirimetamina (25 mg) (Manutenção = outros 18 dias) 2 comp. de 12/12 h 100 mg Pirimetamina (25 mg) (Inicio = 3primeiros dias) 2 cp. de 8/8 h ou 3 cp. de 12/12 h 3.000 mg(3,0g) Sulfadiazina (500 mg) 2 comp. de 8/8 h 3.000 mg(3,0g) Espiramicina (500 mg) Posologia Dose diária Medicamento 30 SegundoVarella (2007) os efeitos colaterais que podem surgir com o uso de medicamentos não podem ser desprezados. Portanto, o manejo adequado dos recém-nascidos exige discriminar com maior precisão possível os bebês doentes entre os não doentes. Este cenário predispõe a maioria dos pediatras e neonatologistas a enfrentarem um dilema diante destas situações inconclusivas exigindo uma análise criteriosa na interpretação dos testes diagnósticos em toxoplasmose congênita. 3.1.9 Profilaxia A profilaxia deve ser baseada em medidas que reduzam ao máximo o risco de infecção, tendo em vista as três formas de T. gondiirelacionadas com a transmissão: taquizoítas que podem ser transmitidos congenitamente, por via transplacentária, por tranfusões de sangue, transplantes de órgãos, acidentes em laboratórios e ingestão de leite de cabra; cistos de T. gondii presentes em carnes cruas ou mal cozidas; e oocistos presentes no solo, os vegetais, nos tanques de areia, podendo ser disseminados pelo ambiente por hospedeiros transportadores, como moscas, baratas, minhocas e pelo de cães (FRENKEL, 2002). Os gatos são hospedeiros fundamentais para a manutenção do ciclo do T. gondiipor serem os únicos que apresentam todas as fases do ciclo evolutivo do parasita. Os gatos tornam-se infectados pela ingestão de cistos presentes em tecidos de animais infectados ou oocistos no meio ambiente. A infecção de gatos por meio da ingestão de cistos é muito importante, principalmente para os gatos de rua ou gatos domésticos que possuam hábitos de caçar para se alimentar. Como esses animais defecam no solo sem serem vistos, a contaminação dificilmente é controlada. (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). Medidas profiláticas de acordo com Paraná (2006): • alimentar gatos com ração ou carne bem cozida; • usar luvas ou lavar bem as mãos após manipular a terra; • lavar bem as frutas e vegetais com água corrente, esfregando mecanicamente; • limpar , DIARIAMENTE, as caixas sanitárias dos gatos – gestantes não devem realizar esta tarefa; 31 • controlar moscas e baratas; • proteger as caixas de areia em áreas de recreação infantil para que gatos não defequem nelas; • ingerir apenas água tratada ou fervida; • ingerir carne bem cozida (67°C por 10 minutos); • o congelamento de carnes evita a maioria dos cistos teciduais (-18°C por 7 dias);lavar as mãos e a superfície de preparação (tábuas e facas) após manusear carne crua; • não experimentar carne crua; Quanto à gestante, é importante que os testes sorológicos para pesquisa de anticorpos específicos anti-T. gondiisejam realizados na primeira consulta de pré- natal e, caso a gestante não apresente estes anticorpos, além de repetir a sorologia no segundo e terceiro trimestre de gestação,deve receber orientações sobre as medidas preventivas. A efetiva prevenção da toxoplasmose congênita consiste na prevenção da infecção durante a gestação. Estudo realizado na Bélgica demonstrou que a educação em saúde estava associada a uma redução de 63% de soroconversão materna (MITSUKA- BREGANÓ; LOPES-MÓRI; NAVARRO, 2010). 3.1.10Diagnóstico Precoce O diagnóstico precoce assim como o tratamento antiparasitário adequado da mãe tem demonstrado ser capaz de reduzir a taxa de transmissão para o feto e por consequência o número de sequelas nos casos em que a infecção intra-uterina já ocorreu. A fim de providenciar tratamento apropriado para todas as crianças com risco de embriopatia pelo toxoplasma, diagnóstico definitivo da infecção congênita é obrigatório e deve ser prontamente realizado (CASTRO etal., 2001). Para os referidos autores, os testes convencionais para o estabelecimento do diagnóstico fetal da toxoplasmose incluem a identificação direta do parasita ou a inoculação de líquido amniótico em camundongo assim como em culturas de células e, apesar de apresentarem uma boa especificidade, requerem maior tempo para a obtenção do resultado e demonstram baixa sensibilidade. De acordo com Castilho-Pellosoet al. (2005) o diagnóstico laboratorial constitui um desafio para os profissionais de saúde envolvidos na assistência à gestante e ao 32 concepto com suspeita de infecção pelo T. gondii. Além da complexidade de interpretação de marcadores de fase aguda, as modernas técnicas laboratoriais nem sempre estão disponíveis nos serviços e saúde pública do país. Programas de controle da toxoplasmose congênita (LOPES-MÓRI etal., 2011). Desde que a Áustria e a França estabeleceram triagem pré-natal, a prevalência da toxoplasmose caiu de 50% para 35% e de 84% para 44%, respectivamente. Outros países, como o Reino Unido, adotam práticas educativas para reduzir o risco de infecção em gestantes soronegativas. No Brasi, a triagem pré-natal é realizada nos estados do Mato Grosso do Sul e Minas Gerais e nas cidades de Curitiba e Porto Alegre. Em Londrina, Paraná, foi implantado o “Programa de Vigilância da Toxoplasmose Adquirida na Gestação e Congênita”, que se baseia na triagem sorológica, com orientação sobre as medidas de prevenção e monitoramento sorológico trimestral nas gestantes inicialmente soronegativas, além do acompanhamento das gestantes e crianças com infecção aguda e notificação dos casos. Nos primeiros quatro anos de implantação, a avaliação do programa demonstrou uma redução de 63% no número de gestantes e 42% no número de crianças encaminhadas aos serviços de referência, resultando na liberação de vagas para o atendimento de pacientes com outras doenças. Quanto aos medicamentos, houve redução de 62% no consumo de ácido folínico e de 67% de sulfadiazina. Atualmente, o programa está implantado em outros municípios do Estado do Paraná, como Rolândia, Cambé, Cascavel, Palotina e Jesuítas, e está em fase de implantação em Ibiporã e Maringá. Em Rolândia, foi observada prevalência de 54,4% de anticorpos IgGanti-T. gondiie associação significativa com a residência na zona rural, mais de uma gestação, baixo nível de escolaridade, baixa renda per capitae uma tendência àassociação estatística com o consumo de água não tratada; em Palotina, foi encontrada 61,3% de prevalência de anticorposIgGanti-T.gondiie associação entre o baixo nível de escolaridade, mais de uma gestação, presença de gato na residência e o hábito de comer salame colonial ; em Cambé, foi observada uma uma prevalência de 46, 4% de anticorpos IgGanti-T.gondiie associação apenas entre o baixo nível de escolaridade e baixa renda per capitae, em Cascavel, foi observada 33 prevalência de 53,0% de prevalência de anticorpos IgGanti-T. gondiie associação significativa com a faixa etária, mais de uma gestação e baixa renda per capita. A definição dos protocolos resultou na padronização do atendimento e segurança para a tomada de decisões por parte dos médicos. Portanto, como existem diversos protocolos individualizados nos diversos serviços e regiões, o estabelecimento de uma conduta ideal e consensual, com respaldo técnico, implicará na adoção de medidas que, certamente, ocasionarão economia aos cofres públicos, com a diminuição da toxoplasmose congênita. 3.1.11Prevenção A prevenção da toxoplasmose congênita e das sequelas pode ser obtida por meio de uma ou de combinações das seguintes estratégias: educação das gestantes não imunes ou suscetíveis sobre comportamentos preventivos; tratamentos das gestantes com infecção aguda; tratamento dos fetos infectados e tratamento precoce dos recém-nascidos infectados, mesmo que assintomáticos. A estratégia mais adequada para prevenir toxoplasmose congênita em determinada população depende de inúmeros fatores e é difícil de definir (REIS; TESSARO; D’AZEVEDO, 2006). Os programas de prevenção primária devem ser baseados nas características epidemiológicas e culturais de cada região. Desse modo, determinar os fatores de risco em cada população é de fundamental importância para determinar as estratégias de promoção à saúde que devem ser baseadas no conhecimento dos fatores que afetam o comportamento das gestantes (LOPES-MORI etal., 2011). Para os referidos autores, as orientações feitas pelos profissionais às gestantes de risco são mais eficazes que orientações impressas (revistas, folders, cartazes), as quais são insuficientes para a mudança dos comportamentos de risco para a toxoplasmose. Assim é fundamental que os profissionais da área de saúde possam se capacitar quanto às medidas de prevenção, a fim de orientar as gestantes corretamente. A triagem sorológica materna para detecção da toxoplasmose é uma importante ferramenta que permite a adoção de medidas profiláticas e terapêuticas precocemente e, assim, a diminuição da taxa de transmissão vertical e/ou danos ao desenvolvimento fetal. Dessa forma, torna-se fundamental o início do pré-natal no 34 primeiro trimestre de gestação, com a realização da sorologia, possibilitando a identificação precoce dos casos agudos de toxoplasmose gestacional. Nos casos de sorologia negativa, deve-se refazer o teste no segundo e terceiro trimestres da gravidez (LOPES-MORI etal., 2011). Segundo os referidos autores, a triagem pré-natal, embora defendida por alguns especialistas como essencial para a redução da toxoplasmose congênita, apresenta algumas limitações. Os exames sorológicos que detectam anticorpos da classe IgM, presentes nas infecções recentes, são os mais utilizados para diagnóstico de toxoplasmose aguda, porém os métodos mais modernos detectam quantidades mínimas por mais de um ano após a infecção inicial (IgM residual), limitando sua utilização. Um resultado de anticorpos IgM (IgM residual) falso-positivo causa muita ansiedade na mãe e sua família e reduz as expectativas positivas com relação à nova criança. Assim sendo, esse anticorpo não deve ser utilizado como único marcador de infecção aguda, a fim de não expor a mãe e o feto a um risco desnecessário para o procedimento de diagnóstico fetal e tratamento. Para Castilho-Pellosoet al (2005) a primoinfecção pelo T. gondii é detectada pela pesquisa laboratorial de marcadores sorológicos durante o acompanhamento pré-natal ou em estudos de soroprevalência. A importância de estabelecer o perfi sorológico de gestantes reside na possibilidade de adoção de medidas profiláticas e terapêuticas para minimizar a transmissão vertical e a ocorrência de danos ao desenvolvimento fetal. De acordo com Varella (2007) as medidas adotadas para a prevenção da toxoplasmose congênita podem variar de acordo com diferentes países, entretanto, as estratégias têm como base quatro objetivos: • identificar mulheres suscetíveis e limitar o risco de contaminação durante a gravidez;• identificar o mais precocemente possível o diagnóstico na gravidez e evitar ou limitar a transmissão ao feto; • após o diagnóstico de soroconversão materna realizar o diagnóstico de toxoplasmose fetal e tratar o feto intra-útero; e • diagnosticar e tratar ao nascimento os casos de toxoplasmose congênita, mesmo clinicamente inaparentes, para prevenir o risco de reativação e complicações tardias. 35 No Brasil, a triagem pré-natal é sugerida como política pública não obrigatória devido à elevada prevalência de toxoplasmose materna (superior a 40%), sendo oferecida gratuitamente em algumas regiões, com experiência isolada e protocolos próprios, mas sem uniformidade nas ações, como nos estados de Mato Grosso do Sul, minas Gerais, São Paulo e Goiás e nas cidades de Curitiba, no Paraná, e Porto Alegre, no Rio Grande do Sul(LOPES-MORI et al., 2011). De acordo com os referidos autores, o programa “Mãe Curitibana”, um dos primeiros implantados no Brasil, pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, Paraná, garante uma atenção especial à gestante, efetivando seu vínculo à maternidade onde realizará seu parto desde a sua primeira consulta no pré-natal na UBS. A sorologia para IgG e IgM é realizada na primeira consulta e repetida no segundo e terceiro trimestre caso o resultado do exame anterior seja não reagente e se a paciente for de alto risco para a aquisição da infecção. Se a gestante for considerada de baixo risco, a sorologia é repetida entre a 26ª e 28ª semana de gestação. Nos casos de sorologia reagente para IgG e IgM, o resultado é confirmado pelo teste de avidez de IgG. A triagem neonatal é considerada alternativa prática e de baixo custo quando a incidência da infecção primária na gestante é baixa. Foi adotada na Dinamarca e em outros países com o objetivo de identificar os recém-nascidos infectados e tratá- los precocemente. Na Dinamarca, a presença de IgM neonatal por captura identificou 70-80% dos casos de infecção congênita. Em estudos recentes, as duas abordagens, triagem pré-natal e neonatal, têm sido comparadas, na tentativa de buscar relação custo-benefício favorável em regiões com alta prevalência da infecção (REIS; TESSARO; D’AZEVEDO, 2006). Contudo, de acordo com Lopes-Mori etal. (2011) a triagem neonatal, quando adotada como medida única, é responsável apenas pelo tratamento do neonato, deixando de tratar a mãe, mas esta estratégia, quando complementar à triagem materna, torna-se uma ferramenta vantajosa para ambos. 36 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A prevalência e a incidência de toxoplasmose em gestantes variam muito de um país para o outro, e entre as regiões de um mesmo país. O conhecimento da taxa de gestantes soronegativas e das características de cada região é muito importante para planejar programas de prevenção e assistência pré-natal e neonatal da toxoplasmose. No Paraná, na cidade de Londrina, a soropositividadefoi de 49,2% de anticorpos IgGanti-T. gondii; em Rolândia, foi observada prevalência de 54,4% de anticorpos IgGanti-T. gondiie associação com a residência na zona rural; em Cambé foi observada uma prevalência de 46,4% de anticorpos IgGanti-T. gondiie associação apenas entre o baixo nível de escolaridade e baixa renda per capitae em Palotina, foi encontrada 61,3% de prevalência de anticorpos IgGanti-T.gondii e associação entre o baixo nível de escolaridade, mais de uma gestação, a presença de gato na residência e o hábito de comer salame colonial, hábito típico dessa região (LOPES-MÓRI et al., 2011). Existe diversos protocolos individualizados, emdiferentes serviços e regiões, com a adoção de medidas diagnósticas e terapêuticas diferentes, sem avaliação dos resultados, e como não existe um conjunto padronizado de medidas que objetive a orientação preventiva com capilaridade tal que atinja a porta de entrada do sistema assistencial, o estabelecimento de uma conduta ideal e consensual, com respaldo técnico, implicaria na adoção de medidas que, certamente, ocasionariam economia aos cofres públicos, com a diminuição da toxoplasmose congênita. Entende-se que é necessária a integração entre os diversos níveis de atendimento do sistema público de saúde para que possa atingir a máxima eficiência no controle da toxoplasmose gestacional e congênita. Recentemente, o Ministério da Saúde aprovou a portaria 2.472, de 31 de agosto de 2010, anexo III, que estabelece a Lista de Notificação Compulsória em Unidades Sentinelas (LNCS), incluindo a Notificação da toxoplasmose aguda gestacional e congênita, que permitirá avaliar os programas de controle existentes e fornecerá dados para a implantação de um programa em nível nacional. É importante ressaltar que o conhecimento sobre aspectos epidemiológicos da doença como incidência em diferentes regiões, a forma predominante de contaminação, bem como a padronização e qualidade dos métodos diagnósticos, a 37 centralização em serviços de referência e a necessidade de desenvolvimento de pesquisas específicas são aspectos fundamentais para o manejo e a otimização da assistência. Dessa forma será possível atingir, no futuro, um maior grau de evidência na abordagem preventiva da toxoplasmose congênita com critérios bem definidos para implementação destas estratégias conforme a realidade de cada local. 38 REFERÊNCIAS • AMATO NETO, V.; MARCHI, C.R. Toxoplasmose. In: CIMERMAN,B.; CIMERMAN, S. Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais. 2ª ed. São Paulo: Editora Atheneu,2002, cap. 12, p. 159-178. • BIAZIN, DamaresTomasin; SCALCO, Thais Fauro. Normas da ABNT &Padronização para Trabalhos Acadêmicos. Londrina: Ed. Unifil, 2008. • BITTENCOURT, L.H.F.B. et al. Soroepidemiologia da toxoplasmose em gestantes a partir da implantação do Programa de Vigilância da Toxoplasmose Adquirida e Congênita em municípios da região oeste do Paraná. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. Nº 34, n. 2, Rio de Janeiro, fev. 2012. Disponível em . Acesso em 29 jan. 2012. • FIGUEIRÓ-FILHO, Ernesto Antonioet al. Toxoplasmose aguda: estudo da freqüência, taxa de transmissão vertical e relação entre os testes diagnósticos materno-fetais em gestantes em estado da Região Centro-Oeste no Brasil. Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 27, n. 8, ago. 2005. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0100_72032005000800002& Ing=pt&nrm=iso. Acesso em 29 jan. 2012. 39 • FRENKEL, J.K. Toxoplasmose. In: VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia, São Paulo: Guanabara Koogan,2002, cap. 99, p. 1310-1324. • GIL, Antonio Carlos, Como elaborar projetos