Prévia do material em texto
Fotojornalismo Breve histórico do Fotojornalismo e a importância das guerras para sua consolidação Apresentação Nesta aula, apresentaremos um breve histórico do Fotojornalismo, desde sua base positivista, quando era vista apenas como reprodução da realidade, à fotogra�a moderna, passando pelo pictorialismo e pela fotogra�a documental. Neste percurso, investigaremos as razões pelas quais os jornais não adotaram de imediato a fotogra�a em suas páginas e como as Guerras da Crimeia e da Secessão, em meados do século XIX, foram decisivas para a mudança de ideia e a consolidação do Fotojornalismo como modalidade permanente do Jornalismo. Objetivos Descrever um breve histórico do Fotojornalismo; Identi�car os motivos pelos quais houve resistência em se adotar de imediato a fotogra�a no jornalismo; Analisar a importância das guerras na consolidação do Fotojornalismo; Breve histórico do Fotojornalismo Assim como outras descobertas e inventos, a fotogra�a surgiu no ambiente positivista do século XIX. O Positivismo é a corrente de pensamento marcada pelo apreço à verdade, ao comprovável, ao racionalismo, em oposição ao pensamento místico e religioso dominante na Idade Média. O aparecimento da fotogra�a imediatamente colocou em xeque a validade da pintura como mecanismo único de reprodução da realidade. Não por acaso, entre os primeiros fotógrafos havia diversos pintores ou artistas, que impuseram ao novo meio algumas convenções próprias da pintura. Deste modo, ao lado das demonstrações puramente técnicas, os primeiros usos da fotogra�a buscavam igualar a nova tecnologia à pintura, com exploração de efeitos naturais (chuva, névoa etc.) e da luz, e eram voltados majoritariamente para produção de retratos e imagens posadas. Saiba mais Deu-se o nome de pictorialismo a este movimento que visava aproximar a fotogra�a da arte. Fotografia pictorialista de Leonard Misonne (Fonte: Mott). Fotogra�a informativa Jorge Pedro Sousa (1998) precisa que foi em 1842 que a fotogra�a passou a ser usada com �nalidade mais referencial, quando a câmera buscou enquadrar acontecimentos. Foi neste ano que se registrou uma das primeiras fotogra�as informativas, a de um incêndio em um bairro de Hamburgo, na Alemanha, através do daguerreótipo de Carl Fiedrich Stelzner, vista abaixo: Livro-proprietário da disciplina Fotojornalismo da Faculdade Estácio, de Ana Nascimento Nos dizeres de Erivam de Oliveira e Ari Vicentini (2010), o trabalho de Stelzner signi�cou o prenúncio da �nalidade informativa da fotogra�a, pois pela primeira vez o valor da imagem não estava em si mesma, mas no que ela continha. Saiba mais Nos Estados Unidos, a primeira fotogra�a de um acontecimento público foi tirada na Filadél�a, em 1844, mostrando uma multidão reunida por conta de motins anti-imigração. Nesta mesma década, surgem as revistas ilustradas, ou seja, com imagens, com destaque para a The Illustrated London News, de Londres, e a Illustration, de Paris. Documentação da cultura O desenvolvimento da Antropologia Cultural e dos estudos etnográ�cos, como proposta cientí�ca de investigação de fenômenos tradicionais e típicos de regiões remotas, contribuiu para a produção fotográ�ca de europeus na Ásia, Oceania e África. Embora com mentalidade eurocentrista, muitas dessas pesquisas ajudaram a documentar a cultura dessas regiões, seja para estudo, seja pelo gosto pelo “exótico” e “diferente”. Da mesma forma, as fotogra�as de paisagem foram disseminadas nos anos 1850, especialmente no Mediterrâneo, por fotógrafos franceses e ingleses. Antropólogo Bronislaw Malinowski com os nativos das Ilhas Trobiand, na Oceania: Antropólogo Bronislaw Malinowski com os nativos das Ilhas Trobiand. (Fonte: Wikimedia). Atenção Nesses primórdios, o daguerreótipo era o equipamento dominante, e esta técnica não permitia a reprodução ou cópia das imagens, trocas de lentes nem fotos com tempo de exposição rápida. A adoção do colódio úmido, em 1851, com a consequente possibilidade de cópia de negativos, contribuiu para a mudança nas convenções fotográ�cas, principalmente na ideia da foto como “obra de arte” única. Com a diminuição do tempo de exposição, as imagens também deixariam de sair borradas. Noção de realidade Mais velozes, as câmeras permitiram ao fotógrafo “congelar” o movimento e dar à imagem uma noção de realidade quase perfeita, aproximando-se da tão sonhada “verdade” pregada pelo Positivismo. Coube ao fotógrafo francês Félix Nadar (1820-1910) o pioneirismo nas fotos que ressaltavam a expressão no rosto das pessoas; na fotogra�a aérea, em 1858; no uso de iluminação arti�cial; e nas fotogra�as de uma entrevista, com o químico Marie Eugène Chevreul (que completava 100 anos de idade), em 1886. Retrato de Emile Littré (Fonte: Wikipedia). Primeira fotogra�a aérea (1858) (Fonte: franciscojaviertostado). Fotogra�a de Chevreul em 1886 (Fonte: IHP). Fotogra�a documental A prática da fotogra�a de acontecimentos fez esta expressão superar as fases de demonstração técnica e de adoção de convenções da pintura. O passo seguinte seria a adoção de formas mais engajadas de produção fotográ�ca. Nesse sentido, a fotogra�a documental ou Fotodocumentalismo nasce no �nal do século XIX e início do século XX, com os trabalhos de Jacob Riis (1849-1914) e Lewis Hine (1874-1940), que impuseram às imagens um caráter mais social. As fotogra�as consistiam em instrumento de transformação da realidade, com denúncias sobre a miséria dos trabalhadores e a má condição de vida nas periferias das grandes cidades norte-americanas, entre outros temas. Desta forma, a fotogra�a passou a ser considerada uma expressão de denúncia e uma fonte de estudo para problemas sociais. A fotogra�a documental se desenvolveu com produções fotográ�cas das viagens colonizadoras à África e ao Oriente, por parte dos europeus, mas também da conquista do Oeste norte-americano e de fotogra�as humanizadas de vendedores de rua, prostitutas, trabalhadores e da cultura dos povos. Foto de Jacob Riis no trabalho documental Como vive a outra metade, de 1890. (Fonte: Library of Congress). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Fotojornalismo X Fotodocumentalismo Desta forma, Jorge Pedro Sousa (2002) diferencia o Fotojornalismo, em sua concepção mais imediata, do Fotodocumentalismo: Fotojornalismo Fotografa assuntos de importância momentânea, que dizem respeito a pautas factuais ou do dia-a-dia. Fotodocumentalismo Fotografa assuntos atemporais, relacionados às condições de vida; possui compromisso social. Saiba mais Após a Primeira Guerra Mundial, a evolução tecnológica permitiu mais recursos para o fotógrafo. As invenções do �ash de lâmpada em 1925 e de câmeras com lentes intercambiáveis e com mais absorção da luz facilitaram a presença do pro�ssional em locais em que ele passava despercebido. Isso foi crucial para a consolidação do Fotojornalismo moderno, marcado pela objetividade e “imparcialidade” do fotógrafo como mero observador dos fatos. Erich Salomon Erich Salomon (1896-1944) é considerado o pai do Fotojornalismo moderno, ao fazer imagens de uma sessão em um tribunal alemão, o que era proibido. O sucesso desse trabalho tornou Salomon o “fotógrafo dos grandes acontecimentos”. Ele criou o estilo batizado de candid photography, ou seja, a fotogra�a não posada, produzida à revelia do fotografado. Sua importância foi tamanha que, em uma reunião, um ministro britânico teria perguntado: “Onde está o Doutor Salomon? Não podemos começar sem ele, pois o público vai pensar que esta reunião não tem importância.” Salomon também criou a primeira agência fotográ�ca, a Dephot, em 1930. Foto de Erich Salomon registrando conversa entre o físico Albert Einstein e o Primeiro-Ministro britânico Ramsay MacDonald. (Fonte: Flickr). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A resistência inicial do Jornalismo em relação à fotogra�a O daguerreótipo foi inventado por Louis Daguerrena década de 1830, mas as fotogra�as chegaram aos jornais somente na década de 1850, com a cobertura da Guerra da Crimeia. Por que houve este hiato de tempo entre estes dois momentos históricos? Há várias razões que justi�cam a resistência inicial do Jornalismo em adotar a fotogra�a nas suas narrativas. Razões ligadas ao aprimoramento das câmeras e aos processos de reprodução e impressão nos jornais e revistas. Di�culdades e Pictorialismo Clique no botão acima. Di�culdades e Pictorialismo Di�culdades As fotogra�as produzidas pelo daguerreótipo não eram reproduzíveis. Isso signi�ca que criavam imagens únicas, que �cavam em posse do fotógrafo ou do cliente. Tecnicamente, a prensagem em papel era inviável e, portanto, o uso nos jornais também. As câmeras possuíam longo tempo de exposição, que passavam de um minuto, o que exigia do fotografado �car parado por todo esse tempo, para que a imagem não �casse borrada. Dessa forma, era pouco interessante ao Jornalismo a publicação de fotogra�as sem dinamismo, de cenas sem movimento, que não retratassem a realidade como ela era. O daguerreótipo e as primeiras câmeras subsequentes eram grandes e pesadas, restringindo a mobilidade do fotógrafo para coberturas externas. Mais uma vez, essas condições alteravam o sentido presencial do Jornalismo, de estar diante dos fatos. Além disso, as lentes absorviam pouca luz, os �lmes eram menos sensíveis e a imagem tinha grau de de�nição muito pequeno. Os primeiros �ashes, de magnésio, podiam ser usados somente em um disparo e causavam mal-estar em quem estava ao redor, devido ao forte odor dispensado pelo magnésio queimado. Outra di�culdade era o fato de os jornais não possuírem laboratórios de fotogra�a. As imagens eram produzidas e reveladas fora dos veículos, o que atrasava a preparação e a edição da página. Pictorialismo Do ponto de vista dos editores, a fotogra�a tinha pouco a acrescentar ao texto. A prática do pictorialismo por muitos dos pioneiros levou os pro�ssionais de imprensa a descon�ar da seriedade da imagem fotográ�ca. Além disso, estas não se enquadravam nas convenções jornalísticas daqueles primeiros tempos, voltadas tão somente às narrativas textuais. Como consequência, os desenhos eram utilizados como principal imagem dos jornais e gravuristas eram chamados para “cobrir” os traços da fotogra�a, ou seja, publicavam-se desenhos das mesmas. Foto da cidade de Bogotá (Colômbia) publicada em 1897, com a técnica da gravura: Aos poucos, apesar dessas limitações, a fotogra�a foi ganhando espaço nos periódicos, primeiro na década de 1850, pela cobertura de guerras, depois pelos registros de eventos sociais, a exemplo de casamentos. A impressão em halftone (meio-tom), a partir de 1882, permitiu melhor visualização das imagens. Esta técnica permitia que a imagem original fosse reproduzida com o uso de uma retícula fragmentada em pequenos pontos, cujo tamanho variava em função dos tons. Bogotá, Colômbia. (Fonte: Free images). Foto da região de Shanty Town, em Nova York. Primeira fotogra�a em halftone publicada em jornal (New York Daily Graphic, 1880): Shanty Town, em Nova York. (Fonte: Wikipedia). Consolidação do Fotojornalismo Jorge Pedro Sousa (1998) situa em 1904, com o surgimento do primeiro tabloide fotográ�co, o Daily Mirror, o período em que as fotogra�as passaram a ser categoria importante de informação nos jornais. As revistas já as vinham publicando regularmente desde a década de 1880, mas somente entre as décadas de 1920 e 1930 o Fotojornalismo se consolidou de�nitivamente em ambos os veículos. Observação A criação das câmeras Leica com �lmes de 35mm, na década de 1930, foi importante para otimizar o trabalho diário do fotojornalista. Portátil, esse equipamento possuía maior qualidade nas lentes e con�gurações que permitiam ao fotógrafo ajustar foco, valor de exposição e enquadramento. Como a�rma Ana Nascimento (2016), o pro�ssional da fotogra�a deixaria de ser um mero carregador de daguerreótipo para ser uma testemunha ocular dos acontecimentos. A diminuição do tempo de exposição, a melhoria das lentes e a maior portabilidade dos equipamentos permitiram ao fotógrafo ter mais proximidade com os objetos retratados, abandonando os estúdios e passando a documentar o mundo com o “realismo” que a pintura não conseguia obter. Câmera Leica Autofocal Model G (1935-1938): Câmera Leica Autofocal Model G (1935-1938). (Fonte: KenRockwell). Fotojornalismo no Brasil No Brasil, situa-se o nascimento do Fotojornalismo na década de 1910, através de fotogra�as publicadas nas revistas Fon-Fon, Ilustração Brasileira e Revista da Semana e nos jornais O Malho e Jornal do Brasil, entre outros. Antes, de caráter documental, destacam-se os trabalhos de Militão Augusto de Azevedo e Marc Ferrez. Militão fez fotos da cidade de São Paulo entre 1875 e 1900, inclusive comparando as mesmas ruas e casas no intervalo desses 25 anos, e Ferrez registrou o início da ferrovia no Brasil. A revista O Cruzeiro (1928-1975) instituiu novos padrões para o Fotojornalismo nacional, através do fotógrafo francês Jean Manzon, ao publicar imagens de índios xavantes em 1944 e pautar fotogra�camente problemas sociais, trabalhadores, tipos regionais, políticos e artistas. Da mesma forma, a revista abriu espaço para as produções antropológicas do também francês Pierre Verger, que registrou costumes culturais e religiosos de diversas partes do país. Trabalho de Jean Manzon sobre povos indígenas publicado em O Cruzeiro: Trabalho de Jean Manzon sobre povos indígenas. (Fonte: Povos Indígenas). Atenção Entre as décadas de 1950 e 1970, o Fotojornalismo se consolidou na imprensa brasileira através de periódicos como a revista Manchete (1952), que tinha proposta de privilegiar a fotogra�a sobre o texto; o Jornal da Tarde (1965); a revista Realidade (1966), com suas extensas fotorreportagens ao estilo jornalismo literário e abordagem de temas-tabu como racismo, aborto e emancipação da mulher; e a revista Veja (1968). Evandro Teixeira Durante a Ditadura Militar, especialmente nos chamados “anos de chumbo”, entre 1964 e 1973, o Jornal do Brasil desempenhou papel importante no Fotojornalismo brasileiro, principalmente com o trabalho do fotógrafo Evandro Teixeira. Embora o jornal em si não fosse opositor ao Regime, também não se furtava a tecer comentários críticos quanto considerava necessário. Neste aspecto, as reportagens fotográ�cas de Teixeira foram fundamentais. Muitas vezes, denunciavam a arbitrariedade dos militares ou os expunham a situações constrangedoras, como na imagem em que um soldado cai de uma moto. Mas, provavelmente, a fotogra�a mais conhecida de Evandro Teixeira seja esta tirada na Passeata dos Cem Mil, em 1968, que mostra a perseguição de dois soldados a um manifestante: Perseguição de dois soldados a um manifestante. (Fonte: Carta Maior). A importância das guerras na consolidação do Fotojornalismo A noção positivista da “verdade” e do “real” marcou o cenário das coberturas fotográ�cas de duas das maiores guerras ocorridas no século XIX: A Guerra da Crimeia (1853-1856) e a Guerra da Secessão ou Guerra Civil Americana (1861-1865). A curiosidade do público por detalhes de informação e imagens da Guerra da Crimeia incentivou o empresário Thomas Agnew a enviar o fotógrafo Roger Fenton para registrar o con�ito. As imagens foram publicadas em forma de gravura pela revista The Illustrated London News e são consideradas o primeiro trabalho fotojornalístico publicado da história. Da mesma forma, Fenton é considerado o primeiro repórter fotográ�co. Foto de Roger Fenton da Guerra da Crimeia. (Fonte: Hi7). Observação Por orientação da Coroa Britânica, de cujo museu era fotógrafo o�cial, Fenton foi instruído a não fotografar corpos ou fazer imagens explícitas de batalhas. Além da falta de condições técnicas de fotografar objetos e pessoas em movimento, havia um componente moral que se quis respeitar. Assim, as cerca de 300 fotogra�as tiradas porele mostram soldados em momentos de folga, sorrindo para a câmera, ou no máximo de instantes pós-batalha, com os locais devidamente limpos e preparados para as fotos. Curiosamente, os relatos escritos do con�ito na Crimeia eram contrastantes com o teor das fotos. Poupadas pelas imagens, as famílias dos soldados e a sociedade inglesa como um todo tinham conhecimento das barbáries da guerra através dos textos do jornal Times, assinados por William Howard Russell. As próprias cartas enviadas por Fenton eram mais aterrorizantes que suas fotos. Guerra da Secessão Já a Guerra da Secessão, nos Estados Unidos, foi coberta por diversos fotógrafos, entre eles Matthew Brady, Alexander Gardner, Timothy O’Sullivan, George N. Barnard e Don McCullin. As imagens eram mais cruas do que as da Guerra da Crimeia, não raras vezes mostrando o drama dos soldados e a dor da guerra para entes queridos e pessoas inocentes. Elas �zeram a sociedade norte-americana se questionar sobre a validade de con�itos como esses. Uma das fotogra�as célebres da Guerra Civil Americana, intitulada “Casa de um atirador de elite rebelde”, no entanto, foi “montada” com o manuseio, para outra posição, do corpo de um soldado morto. A imagem, de autoria de Alexander Gardner, em 1865, segue abaixo: Foto de Alexander Gardner em 1865. (Fonte: Moma). Fotogra�a como referencial de realidade As coberturas fotográ�cas das guerras da Crimeia e da Secessão foram decisivas para a consolidação do uso da fotogra�a no Jornalismo, ao despertarem nos leitores, a partir das imagens, a necessidade de se informar sobre os horrores dos con�itos. Neste sentido, a fotogra�a, vista com tantas ressalvas pelos editores, passou a ser considerada elemento fundamental de referenciação da realidade, capaz de persuadir graças ao seu realismo. Nas palavras de Ana Nascimento (2016), a fotogra�a de guerra ganharia carga dramática superior à da pintura, pelo fato de a câmera registrar o que realmente ocorreu, fazendo o leitor intuir que, se estivesse no campo de batalha, veria exatamente o mesmo. Reconhecia-se, como a�rmam Erivam de Oliveira e Ari Vicentini (2010), a supremacia da fotogra�a em relação ao texto quanto à dramaticidade da mensagem. Importante Foram as fotogra�as da Guerra Civil Americana que despertaram nos jornais a preocupação em se diminuir ao máximo o tempo entre a produção e a publicação, visto que a concorrência entre os jornais havia aumentado. Da mesma forma que as tropas tinham urgência no relocamento de soldados, envio de munições e mantimentos, os jornais organizavam comboios para transportar as fotogra�as do con�ito o mais rapidamente possível para as redações. Essa rotina ajudou inclusive a efetivar a atualidade como um importante valor-notícia. A partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1919), a produção de fotogra�as em grandes jornais já �cava quase sempre a cargo de equipes especializadas. Mas, segundo Jorge Pedro Sousa (1998), ainda eram fotos sem características de reportagem fotográ�ca. Não havia unidade entre elas, todas eram impressas com o mesmo tamanho e a maioria em planos abertos. Os fotógrafos ainda tinham que lidar com a censura e o uso propagandístico de suas fotos a favor ou contra políticas de governo. Fotogra�a de combate da Primeira Guerra Mundial: Fotografia de combate da Primeira Guerra Mundial. (Fonte: O Globo). Saiba mais Para dar mais credibilidade às imagens, a cobertura de guerras fez surgir a ideia de que o fotógrafo tinha que estar o mais perto possível dos fatos. A ideia trazia consigo o consequente risco que marcaria a pro�ssão de fotojornalista, o de ser atingido por bombardeios ou entrar em campos minados. Esses pressupostos estiveram presentes na cobertura fotográ�ca das demais guerras marcantes do século XX. Guerra Civil Espanhola, Segunda Guerra Mundial, Guerra do Vietinã e Guerra do Golfo. Um das mais reconhecidos fotógrafos da história, Robert Capa, morreu em ação em 1954, ao pisar em uma mina na Indochina Francesa. Importante A cobertura da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) teve como diferencial, em relação à Primeira Guerra, maior di�culdade de logística − por ter sido um con�ito mais descentralizado −, bem como o caráter mais autoral das imagens, o que já vinha sendo notado desde a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). O engajamento de fotógrafos ao lado de países ou causas especí�cas acentuou a prática fotográ�ca dotada de pontos de vista bem de�nidos. Ao mesmo tempo, porém, assim como na Primeira Guerra, e de forma ainda mais perceptível, as fotogra�as jornalísticas da Segunda Grande Guerra muitas vezes foram usadas para �ns propagandísticos, e a censura impediu que se mostrasse a face mais cruel do con�ito. Para se ter uma ideia, o fornecimento de fotogra�as para os jornais e revistas norte-americanos era feito pelo Exército Alemão, o que limitava bastante a liberdade de informação e opinião. Exército Alemão durante a Segunda Guerra Mundial: Exército Alemão durante a Segunda Guerra Mundial. (Fonte: History Conflicts). De todo modo, Jorge Pedro Sousa (1998) salienta que foi a partir da Segunda Guerra Mundial que os fotógrafos de cobertura jornalística passaram a ser reconhecidos como fotojornalistas, pois a sociedade havia percebido o poder das imagens, em certas ocasiões maior que o do texto. Momentos históricos capturados em imagens Apesar das di�culdades, a proximidade e o engajamento dos fotógrafos também proporcionaram momentos históricos para o Fotojornalismo. Eugène Smith se notabilizou pela cobertura da ofensiva norte-americana sobre o Japão, na batalha de Iwo Jima, na Segunda Guerra Mundial, ao fazer fotos bem próximas dos combates. A execução do militar vietcong Nguyen Van Leme por um general vietnamita foi registrada de perto por Eddie Adams, na Guerra do Vietnã, em 1968. Essa imagem se tornou uma das mais famosas fotogra�as jornalísticas da história: Foto de Eddie Adams, na Guerra do Vietnã, em 1968. (Fonte:100 Photos). Observação A Guerra do Vietnã (1955-1975) foi marcada por uma cobertura fotográ�ca mais livre, a ponto de fazer a sociedade ocidental se questionar sobre a validade do con�ito. Fotogra�as coloridas em revistas disseminavam o drama da guerra e contribuíram para a formação de mais pro�ssionais interessados. Nos Estados Unidos, o número de fotojornalistas subiu de dez mil para vinte mil durante o con�ito no país asiático. Conscientes do poder da fotogra�a em provocar opiniões contrárias a con�itos, as guerras dos anos 1980 em diante, notadamente a Guerra do Golfo (1990-1991), foram objeto de estratégias militares no sentido de limitar o trabalho dos fotógrafos. Apesar da espetacularização das imagens, pouco se permitiu ser mostrado além de coletivas de militares e explicações de autoridades. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Atividade 1. Assim como outras descobertas e inventos, a fotogra�a surge no ambiente positivista do século XIX. Esta a�rmação signi�ca que: a) Desde o princípio, compreendeu-se a fotografia como interpretação dos fatos. b) As imagens fotográficas retratavam os conflitos e os contrastes sociais. c) As técnicas fotográficas eram rudimentares. d) As imagens fotográficas eram vistas como o “espelho” da realidade. e) A fotografia não possuía valor informativo. 2. Apesar de seu caráter referencial, a fotogra�a não foi imediatamente adotada pelo Jornalismo. Assinale a alternativa que contém um motivo para essa resistência inicial: a) A ausência de fotógrafos qualificados. b) A ausência de lentes nas câmeras. c) A ausência de laboratórios fotográficos nos jornais. d) O desconhecimento das técnicas fotográficas por parte dos editores. e) A não-descoberta da fotografia colorida. 3. Qual a contribuição de Roger Fenton para a história do Fotojornalismo? a) Ele criou a câmera portátil. b) Ele produziu a primeira fotografia documental, em 1842, de um incêndio na Alemanha. c) Ele criou o conceito de candid photography, em que o fotógrafo passoua produzir imagens despercebido do fotografado. d) Ele registrou tradições culturais brasileiras nos anos 1940. e) Ele cobriu a Guerra da Crimeia e é considerado o primeiro repórter fotográfico da história. Notas Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Título modal 1 Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Lorem Ipsum é simplesmente uma simulação de texto da indústria tipográ�ca e de impressos. Referências NASCIMENTO, Ana Claudia. Fotojornalismo. Rio de Janeiro: Seses, 2016. OLIVEIRA, Erivam Morais de; VICENTINI, Ari. Fotojornalismo: Uma viagem entre o analógico e o digital. São Paulo: Cengage Learning, 2010. SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: Uma introdução à história, às técnicas e à linguagem da fotogra�a na imprensa. Porto: Letras Contemporaneas, 2002. SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do Fotojornalismo ocidental. Porto: Argos, 1998. Próxima aula O surgimento das agências fotográ�cas; A importância da Agência Magnum; Nomes importantes do Fotojornalismo de autor; Agências fotográ�cas brasileiras de destaque. Explore mais Leia o texto Fotogra�a documental: A arte de um olhar atento. Disponível em: Obvious Mag. Acesso em: 14 jan. 2020. Leia a matéria sobre Chamavam-lhe o rei dos indiscretos, sobre Erich Salomon (1826-1944). Disponível em: Público. Acesso em: 14 jan. 2020. Veja Fotos da Guerra da Crimeia, por Roger Fenton. Disponível em: Crimean War Photographs by Roger Fenton, 1855. Acesso em: 14 jan. 2020. Leia o artigo A fotogra�a como resistência política: Evandro Teixeira e ditadura brasileira, por Francisco Carlos Teixeira. Disponível em: Carta Maior. Acesso em 14 jan. 2020. javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);