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HIDRÁULICA – CCE-0187 Capítulo I: Conceitos Iniciais ENGENHARIA / UNESA 1 CONCEITOS INICIAIS Mecânica é a ciência física mais antiga que trata dos corpos tanto estacionários (Estática) como em movimento sob a influência de forças (Dinâmica). Mecânica dos fluidos é a ciência que trata do comportamento físico dos fluidos em repouso (Estática dos fluidos) ou em movimento (Dinâmica dos fluidos) e da interação entre fluidos e sólidos ou outros fluidos. Exemplos de aplicação: escoamento em canais e condutos; esforços em barragens; lubrificação; máquinas hidráulicas; ventilação; etc. Hidrodinâmica: é o estudo do movimento dos fluidos que são praticamente incompressíveis (líquidos, especialmente a água, e gases em baixa velocidade). Hidráulica: é a análise do escoamento dos líquidos em tubulações e canais abertos. Os três estados físicos ou fases fundamentais são sólido, líquido e gás. A definição de fluido é introduzida, normalmente, pela comparação dessa substância com um sólido. A definição mais elementar diz: “Fluido é uma substância que não têm forma própria, assume o formato do recipiente”. ENGENHARIA / UNESA 2 CONCEITOS INICIAIS ENGENHARIA / UNESA 3 Sólido Líquido Gás Fluidos Os fluidos são, portanto, os líquidos e os gases, sendo que estes ainda se distinguem dos primeiros por ocuparem todo o recipiente, enquanto os líquidos apresentam uma superfície livre. Gás: substância acima da temperatura crítica Vapor: a substância não está muito distante da condensação CONCEITOS INICIAIS Se o problema fundamental fosse apenas reconhecer os fluidos, a definição apresentada seria perfeitamente suficiente para essa finalidade. Entretanto, é possível introduzir uma outra que, apesar de ser mais complexa, permite construir uma estrutura lógica que será de grande utilidade para o desenvolvimento da Mecânica dos Fluidos. Essa definição está novamente ligada à comparação de comportamento entre um sólido e um fluido, por uma observação prática denominada “Experiência das Duas Placas”. ENGENHARIA / UNESA 4 CONCEITOS INICIAIS ENGENHARIA / UNESA 5 Ft cte Ft cte Um sólido preso entre duas placas planas, uma inferior fixa e outra superior solicitada por uma força tangencial Ft (na direção do plano da placa). Mantida a força Ft constante, nota-se que o sólido se deforma angularmente até alcançar uma nova posição de equilíbrio estático. Nessa posição, as tensões internas equilibram a força externa aplicada e somente uma variação da força Ft faria com que houvesse uma modificação da nova configuração do sólido. A tensão de cisalhamento: τ = 𝐹𝑡 𝐴 A = área de contato A deformação de cisalhamento () é recuperável dentro da região elástica. CONCEITOS INICIAIS ENGENHARIA / UNESA 6 A mesma experiência pode ser realizada com um fluido colocado entre as placas. Suponha que seja possível, por exemplo, por meio de um corante, visualizar um certo volume ABCD do fluido. Sendo a placa inferior fixa e a superior móvel, ao se aplicar uma força tangencial Ft na placa superior, está irá se deslocar não importando o quão pequena seja Ft. A primeira observação importante nessa experiência é o chamado princípio da aderência: Os pontos de um fluido, em contato com uma superfície sólida, aderem aos pontos dela, com os quais estão em contato. Os pontos do fluido em contato com a placa superior irão adquirir a mesma velocidade da placa; enquanto os pontos do fluido em contato com a placa fixa ficarão parados junto dela. Então, o que se observa é que o volume ABCD de fluido, sob ação da força Ft, deforma-se continuamente, não alcançando uma nova posição de equilíbrio estático, supondo-se as placas de comprimento infinito. Ft cte Ft cte Ft cte A B C D A A B B C C D D CONCEITOS INICIAIS Pode-se então dizer que: Fluido é uma substância que se deforma continuamente, quando submetida a uma força tangencial constante qualquer ou, em outras palavras, fluido é uma substância que, submetida a uma força tangencial constante, não atinge uma nova configuração de equilíbrio estático. Tensão de cisalhamento (): Seja uma força aplicada sobre uma superfície de área A. Essa força pode ser decomposta segundo a direção normal à superfície (componente normal) e segundo a direção tangente à superfície (componente tangencial). ENGENHARIA / UNESA 7 A 𝜍 = 𝐹 𝑛/𝑑𝐴 𝜏 = 𝐹 𝑡/𝑑𝐴 Para um fluido em repouso: = ; Pressão P é a tensão normal CONCEITOS INICIAIS Define-se a tensão de cisalhamento média como sendo o quociente entre o módulo da componente tangencial da força e a área sobre a qual está aplicada. Em outras palavras, a tensão de cisalhamento é a força tangencial por unidade de área. As unidades mais utilizadas para essa grandeza são: kgf/m2 (MKS), dyn/cm2 (CGS) e N/m2 ou Pa (pascal) (SI). Unidades de conversão: 1 N/m2 (Pa) = 10 dyn/cm2 1 N/m2 (Pa) 1,4504 x 10-4 lbf/in2 (psi) 1 N/m2 (Pa) 9,8692 x 10-6 atm 1 N/m2 (Pa) 9,8067 kgf/m2 ENGENHARIA / UNESA 8 CONCEITOS INICIAIS Há grande variedade de problemas de escoamento de fluidos encontrados na prática, em geral, é conveniente classificá-los com base em algumas características comuns para estudá-los em grupos. Algumas categorias gerais: Regiões de escoamento viscoso versus não viscoso: Quando duas camadas fluidas movem-se uma relação à outra, desenvolve-se uma força de atrito entre elas e a camada mais lenta tenta reduzir a velocidade da camada mais rápida. Tal resistência interna ao escoamento é quantificada pela propriedade do fluido chamada viscosidade, que é uma medida da aderência interna do fluido. A viscosidade é causada por forças coesivas entre as moléculas em um líquido e por colisões moleculares nos gases. Não existe fluido com viscosidade nula e, assim, todo o escoamento de fluidos envolve efeitos viscosos de algum grau. O escoamento em que os efeitos do atrito são significativos chamam-se escoamentos viscosos. Entretanto, em muitos escoamentos de interesse prático, há regiões (tipicamente regiões afastadas de superfícies sólidas) onde as forças viscosas são desprezivelmente pequenas quando comparadas às forças inerciais e de pressão. Desprezar os termos viscosos em regiões de escoamento não viscoso simplifica bastante a análise, sem muita perda de precisão. ENGENHARIA / UNESA 9 O escoamento de uma correnteza de fluido originalmente uniforme sobre uma placa plana e as regiões de escoamento viscoso (próximos à placa, de ambos os lados) e escoamento não viscoso (afastado da placa) CONCEITOS INICIAIS Escoamento interno versus escoamento externo: O escoamento dos fluidos é classificado como interno ou externo, dependendo do fato de o fluido ser forçado a escoar em um canal confinado ou sobre uma superfície. O escoamento sem limitação de um fluido sobre uma superfície, tal como uma placa, um arame ou um cano, é um escoamento externo. O escoamento em um tubo ou ducto é um escoamento interno se o fluido estiver inteiramente limitado por superfícies sólidas. O escoamento de água em um cano, por exemplo, é um escoamento interno, e o escoamento de ar sobre uma bola ou sobre um tubo exposto durante uma ventania é um escoamento externo. O escoamento de líquidos em um ducto é chamado de escoamento de canal aberto se o ducto estiver apenas parcialmente cheio com o líquido e houver uma superfície livre. Os escoamentos de água em rios ou valas de irrigação são exemplos de tais escoamentos. Os escoamentos internos são dominados pela influência da viscosidadeem todo o campo do escoamento. Nos escoamentos externos, os efeitos viscosos estão restritos às camadas-limites próximos das superfícies sólidas e às regiões de esteira a jusante dos corpos. ENGENHARIA / UNESA 10 CONCEITOS INICIAIS Escoamento compressível versus incompressível: Um escoamento é classificado como compressível ou incompressível dependendo do nível de variação da densidade durante o escoamento. A incompressibilidade é uma aproximação, e um escoamento é dito ser incompressível se a densidade permanecer aproximadamente constante em todos os lugares. Portanto, o volume de cada porção do fluido permanece inalterado durante o decorrer de seu movimento quando o escoamento (ou o fluido) for incompressível. As densidades dos líquidos são essencialmente constantes e desse modo o escoamento dos líquidos é tipicamente incompressível. Portanto, os líquidos são usualmente designados como substâncias incompressíveis. Escoamento laminar versus turbulento: Alguns escoamentos são suaves e ordenados enquanto outros são um tanto caóticos. O movimento altamente ordenado dos fluidos caracterizado por camadas suaves do fluido é denominado laminar. A palavra laminar origina-se do movimento de partículas adjacentes do fluido agrupadas em “lâminas”. O movimento altamente desordenado dos fluidos que ocorre em velocidades altas e é caracterizado por flutuações de velocidade é chamado de turbulento. Um escoamento que se alterna entre laminar e turbulento é chamado de transitório. ENGENHARIA / UNESA 11 CONCEITOS INICIAIS Escoamento natural (ou não forçado) versus forçado: Um escoamento de fluidos é dito ser natural ou forçado, dependendo de como o movimento do fluido foi iniciado. No escoamento forçado, o fluido é obrigado a fluir sobre uma superfície ou em um tubo com o uso de meios externos como uma bomba ou ventoinha. Nos escoamentos naturais, qualquer movimento do fluido é devido a meios naturais tal como o efeito de flutuação. Escoamento em regime permanente versus em regime não permanente: O termo em regime permanente implica não haver mudança com o passar do tempo. O oposto de regime permanente é em regime não permanente. O termo uniforme implica não haver mudança com a localização em uma região específica. O termos em regime não permanente e transiente são usados, com frequência como intercambiáveis. Entretanto, não são sinônimos. Em mecânica dos fluidos, em regime não permanente é o termo mais genérico que se aplica a qualquer escoamento que não seja em regime permanente, mas transiente é usado tipicamente para escoamentos que estão se desenvolvendo. O termo periódico refere-se ao tipo de escoamento em regime não permanente no qual o escoamento oscila em torno de um valor médio em regime permanente. Escoamento uni, bi e tridimensional: Um campo de escoamento é melhor caracterizado pela distribuição de velocidade e desse modo o escoamento é dito ser uni, bi ou tridimensional se a velocidade do escoamento varia basicamente em uma, duas ou três dimensões, respectivamente. ENGENHARIA / UNESA 12 CONCEITOS INICIAIS Sistema e volume de controle Um sistema é definido como uma quantidade de matéria ou região do espaço escolhida para estudo. A massa ou região fora do sistema é denominada vizinhança. A superfície real ou imaginária que separa o sistema de sua vizinhança é chamada de fronteira. A fronteira de um sistema pode ser fixa ou móvel. A fronteira é a superfície de contato compartilhada tanto pelo sistema como pela vizinhança. Matematicamente falando, a fronteira tem espessura nula e assim não contém qualquer massa nem ocupa volume no espaço. Os sistemas são considerados fechados ou abertos, dependendo se uma massa fixa ou um volume no espaço forem escolhidos para estudo. Um sistema fechado (também conhecido por massa de controle) consiste em uma quantidade fixa de massa, e nenhuma quantidade de massa pode cruzar sua fronteira. Porém, a energia sob a forma de calor ou de trabalho pode cruzar sua fronteira, e o volume de um sistema fechado não precisa ser fixo. Se, como um caso especial, nem a energia puder cruzar a fronteira, o sistema é chamado sistema isolado. Um sistema aberto ou volume de controle, como é denominado frequentemente, é uma região do espaço selecionada apropriadamente. Em geral compreende um dispositivo que inclui escoamento de massa, tal como um compressor, turbina ou bocal. Ambas, massa e energia, podem cruzar a fronteira do volume de controle. ENGENHARIA / UNESA 13 CONCEITOS INICIAIS Unidades do SI e Inglesas ENGENHARIA / UNESA 14 CONCEITOS INICIAIS Unidades do SI e Inglesas ENGENHARIA / UNESA 15 HIDRÁULICA – CCE-0187 Capítulo II: Propriedades dos Fluidos ENGENHARIA / UNESA 16 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Qualquer característica de um sistema é denominada propriedade. Algumas propriedades familiares são pressão (P), temperatura (T), volume (V) e massa (m). As propriedades são consideradas intensivas ou extensivas. As propriedades intensivas são as independentes da massa de um sistema, tais como temperatura, pressão e densidade. As propriedades extensivas são aquelas cujos valores dependem do tamanho – ou extensão – do sistema. Massa total, volume total e momento total são alguns exemplos de propriedades extensivas. Geralmente, são usadas letras maiúsculas para indicar propriedades extensivas (exceção principal sendo a massa, m). As letras minúsculas são usadas para as propriedades intensivas (sendo a pressão P e a temperatura T as exceções óbvias). Propriedades extensivas por unidade de massa são chamadas de propriedades específicas. Alguns exemplos de propriedades específicas são volume específico (v = V/m) e energia total específica (e = E / m). O estado de um sistema é descrito por suas propriedades. ENGENHARIA / UNESA 17 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Densidade e gravidade específica: Densidade é definida como massa por unidade de volume. Isto é: 𝜌 = 𝑚 𝑉 ( 𝑘𝑔 𝑚3 ) O inverso da densidade é o volume específico: = 𝑉 𝑚 = 1 𝜌 (𝑚 3 𝑘𝑔 ) A densidade de uma substância depende, em geral, da temperatura e da pressão. A densidade da maioria dos gases é proporcional à pressão e inversamente proporcional à temperatura. Líquidos e sólidos, por outro lado, são substâncias essencialmente incompressíveis e a variação de sua densidade com a pressão é usualmente desprezível. Algumas vezes, a densidade de uma substância é dada em relação à densidade de uma substância muito conhecida. É, então, chamada de gravidade específica ou densidade relativa e é definida como a razão entre a densidade de uma substância e a densidade de alguma substância padrão a uma temperatura especificada (usualmente água a 4C, para a qual (H20) = 1 g/cm 3 = 1 kg/L = 1000 kg/m3). 𝐺𝐸 = 𝜌 𝜌𝐻2𝑂 O peso de uma unidade de volume de uma substância é chamado de peso específico e é expresso como: 𝛾 = 𝜌𝑔 (𝑁/𝑚3) g = aceleração da gravidade ENGENHARIA / UNESA 18 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Densidade dos gases ideais ou perfeitos: As tabelas oferecem geralmente informações exatas e precisas sobre as propriedades, mas certas vezes é conveniente ter algumas relações simples entre as propriedades, que sejam suficientemente gerais e precisas. Qualquer equação que relacione pressão, temperatura e densidade (ou volume específico) de uma substância é chamada de equação de estado. A equação de estado mais simples e melhor conhecida para substâncias na fase gasosa é a equação de estado dos gases ideais ou perfeitos expressa como:𝑃𝑉 = 𝑛𝑅𝑇 𝑜𝑢 𝑃 = 𝜌𝑅𝑢𝑇 P = pressão absoluta; = densidade; T = temperatura absoluta (K). A constante Ru é diferente para cada gás e determinada pela relação Ru = R / MM, onde R é a constante universal dos gases e MM é a massa molar da substância. ENGENHARIA / UNESA 19 𝑃𝑉 𝑇 1 = 𝑃𝑉 𝑇 2 Propriedades de um gás ideal em dois estados diferentes – para uma massa fixa m PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Pressão de vapor e cavitação: Sob dada pressão, a temperatura em que uma substância pura muda de fase é chamada de temperatura de saturação, Tsat. De maneira semelhante, numa dada temperatura, a pressão sob a qual uma substância pura muda de fase é denominada pressão de saturação, Psat. Sob uma pressão absoluta de 1 atmosfera (1 atm ou 101,325 kPa), por exemplo, a temperatura de saturação da água é 100C. Reciprocamente, a uma temperatura de 100C, a pressão de saturação da água é 1 atm. A pressão de vapor, Pv, de uma substância pura é definida como a pressão exercida por seu vapor em equilíbrio de fase com seu líquido numa dada temperatura. Pv é uma propriedade da substância pura e é idêntica à pressão de saturação Psat do líquido (Pv = Psat). A pressão parcial é definida como a pressão de um gás ou vapor em uma mistura com outros gases. Por exemplo, o ar atmosférico é uma mistura de ar seco e vapor de água, e a pressão atmosférica é a soma da pressão parcial do ar seco e da pressão parcial do vapor de água. A taxa de evaporação de corpos de água abertos, tais como lagos, é controlada pala diferença entre a pressão de vapor e a pressão parcial. Por exemplo, a pressão de vapor da água a 20C é 2,34 kPa. Portanto, um balde de água a 20C deixado em um compartimento com ar seco sob 1 atm continuará a evaporar até que uma de duas coisas aconteça: a água evapora completamente (não há água suficiente para estabelecer o equilíbrio de fase no compartimento; ou, ocorre evaporação até que a pressão parcial do vapor de água no compartimento aumente para 2,34 kPa, ponto em que é estabelecido o equilíbrio de fase. ENGENHARIA / UNESA 20 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Pressão de vapor e cavitação: ENGENHARIA / UNESA 21 Pressão de vapor é a pressão exercida por um vapor quando este está em equilíbrio termodinâmico com o líquido que lhe deu origem, ou seja, a quantidade de líquido (solução) que evapora é a mesma que se condensa. A pressão de vapor é uma medida da tendência de evaporação de um líquido. Esboço do equilíbrio líquido-vapor da água ao nível do mar. Quanto mais se aumenta a temperatura, maior será a taxa de ebulição da água, mas, enquanto a pressão exercida pelo vapor for menor do que a pressão exercida pela atmosfera, a quantidade de moléculas que se condensa aumenta a medida que compensa a quantidade de moléculas que vaporiza, restabelecendo assim o equilíbrio dinâmico. Quando a temperatura atinge 100C (temperatura de ebulição da água no nível do mar), a taxa de vaporização vence a taxa de condensação: ocorre assim a mudança de fase da água. A pressão de vapor aumenta com a temperatura. PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Pressão de vapor e cavitação: ENGENHARIA / UNESA 22 A cavitação é um fenômeno originado em quedas repentinas de pressão, geralmente observado em sistemas hidráulicos. A combinação entre a pressão, temperatura e velocidade resulta na liberação de ondas de choque e micro-jatos altamente energéticos, causando a aparição de altas tensões mecânicas e elevação da temperatura, provocando danos na superfície atingida. Para todo fluido no estado líquido pode ser estabelecida uma curva que relaciona a pressão à temperatura em que ocorre a vaporização Na engenharia hidráulica e na engenharia mecânica é grande a preocupação com a cavitação, assim como com a abrasão das areias e demais sedimentos transportados pela água no interior de bombas e turbinas, sobretudo devido aos prejuízos que podem causar nas estações elevatórias e nas turbinas e vertedores das usinas hidrelétricas. Não se deve confundir o fenômeno químico da corrosão com os fenômenos físicos da cavitação e da abrasão, embora os efeitos nas pás de bombas e de turbinas sejam parecidos, assim como nas superfícies de concreto dos canais dos vertedore. PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Coeficiente de compressibilidade e coeficiente de expansão volumétrica: Os fluidos, geralmente, expandem-se quando são aquecidos ou despressurizados e contraem-se quando resfriados ou pressurizados. Porém, a quantidade de variação de volume é diferente para fluidos diferentes e precisamos definir propriedades que relacionem as variações de volume às variações de pressões e temperatura. Duas de tais propriedades são o coeficiente de compressibilidade e o coeficiente de expansão volumétrica . = −𝑉 𝜕𝑃 𝜕𝑉 𝑇 = 𝜌 𝜕𝑃 𝜕𝜌 𝑇 (𝑃𝑎) ≅ − ∆𝑃 ∆𝑉/𝑉 ≅ ∆𝑃 ∆𝜌/𝜌 (T = constante) Um valor grande de significa que é preciso uma grande mudança de pressão para causar uma pequena variação relativa no volume e, portanto, o fluido com grande é essencialmente incompressível. No caso específico de um gás ideal: ∆𝜌 𝜌 = ∆𝑃 𝑃 (T constante) “O aumento percentual da densidade de um gás ideal durante uma compressão isotérmica é igual ao aumento percentual da pressão”. Obs: o inverso do coeficiente de compressibilidade é chamado de compressibilidade isotérmica e é expresso como 𝛼 = 1 = 1 𝜌 𝜕𝜌 𝜕𝑃 𝑇 (1 𝑃𝑎 ) ENGENHARIA / UNESA 23 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Coeficiente de compressibilidade e coeficiente de expansão volumétrica: A densidade de um fluido, em geral, depende mais intensamente da temperatura do que da pressão, e a variação da densidade com a temperatura é responsável por inúmeros fenômenos naturais como ventos, correntes nos oceanos, fumaça nas chaminés, a operação dos balões de ar quente, transferência de calor por convecção natural e até mesmo a subida de ar quente. A propriedade que representa a variação da densidade de um fluido com a temperatura, a pressão constante, é o coeficiente de expansão de volume (ou expansividade do volume), . 𝛽 = 1 𝑉 𝜕𝑉 𝜕𝑇 𝑃 = − 1 𝜌 𝜕𝜌 𝜕𝑇 𝑃 1 𝐾 𝛽 ≈ ∆𝑉 𝑉 ∆𝑇 = − ∆𝜌 𝜌 ∆𝑇 (em P constante) Um valore grande de para o fluido significa uma variação grande da densidade com a temperatura, e o produto T representa a fração de variação do volume de um fluido que corresponde a uma variação de temperatura de T sob pressão constante. Para o caso específico de um gás ideal: 𝛽𝑔á𝑠 𝑖𝑑𝑒𝑎𝑙 = 1 𝑇 ( 1 𝐾 ) A variação relativa de volume (ou densidade) devido a mudanças na pressão e temperatura pode ser expressa aproximadamente por: ∆𝑉 𝑉 = − ∆𝜌 𝜌 ≅ 𝛽∆𝑇 − 𝛼∆𝑃 ENGENHARIA / UNESA 24 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Viscosidade: é o atrito interno em um fluido. As forças viscosas se opõem ao movimento de uma parte do fluido em relação à outra. A viscosidade é a propriedade que indica a maior ou a menor dificuldade de o fluido escoar (escorrer). Os efeitos da viscosidade são importantes para o escoamento através de tubos, para o escoamento do sangue, para a lubrificação de diversas partes de uma máquina, e para muitas outras situações. O exemplo mais simples de um escoamento com viscosidade é fornecido pelo escoamento de um fluido entre duas placas paralelas quando a placa superior move-secom velocidade constante. ENGENHARIA / UNESA 25 v1 v2 v1 v2 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS A placa superior é inicialmente acelerada pela força tangencial Ft, fato esse observável, já que a passa da velocidade nula para uma velocidade finita. Nota-se, porém, que a partir de um certo instante a placa superior adquire uma velocidade v constante. Isso demonstra que a força externa Ft aplicada na placa é equilibrada por forças internas ao fluido, visto que, não existindo aceleração, pela segunda lei de Newton da dinâmica, a resultante das forças deverá ser nula (equilíbrio dinâmico). De acordo com o princípio da aderência,o fluido junto à placa superior irá se deslocar com velocidade v, enquanto aquele junto à placa inferior estará com velocidade nula. As camadas intermediárias deverão se adaptar às extremas, adquirindo velocidades que variam desde v até zero. Forma-se um diagrama de velocidades, onde cada camada do fluido desliza sobre a adjacente com uma certa velocidade relativa. Esse fato cria uma espécie de atrito entre as diversas camadas do fluido. ENGENHARIA / UNESA 26 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Tal deslizamento entre as camadas origina tensões de cisalhamento, que, multiplicadas pela área da placa, originam uma força tangencial interna ao fluido, responsável pelo equilíbrio da força Ft externa, o que fará com que a placa superior assuma uma velocidade constante v. Newton descobriu que em muitos fluidos a tensão de cisalhamento é proporcional ao gradiente de velocidade, isto é, à variação da velocidade com y. ENGENHARIA / UNESA 27 y Disso pode-se traduzir a lei de Newton da viscosidade: Os fluidos que obedecem a essa lei são ditos fluidos newtonianos. A maioria dos fluidos comuns tais como água, ar, gasolina e óleos são fluido newtonianos. Os fluidos restantes são chamados de não newtonianos como, por exemplo, sangue e plásticos fundidos. x 𝑃𝑒𝑟𝑓𝑖𝑙 𝑑𝑒 𝑣𝑒𝑙𝑜𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒: 𝑢 𝑦 = 𝑦 𝑙 𝑣 Gradiente de velocidade: 𝑑𝑢 𝑑𝑦 = 𝑣 𝑙 𝓵 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS A lei de Newton da viscosidade impõe uma proporcionalidade entre a tensão de cisalhamento e o gradiente da velocidade. Tal fato leva à introdução de um coeficiente de proporcionalidade. Tal coeficiente será indicado por e denomina-se viscosidade dinâmica ou absoluta. Essa grandeza é uma propriedade de cada fluido e das condições dele como, por exemplo, a pressão e, principalmente, a temperatura. A viscosidade não uma propriedade observável num fluido em repouso, pois, qualquer que seja a força tangencial, ele se deforma. Com o movimento do fluido, porém, ela faz sentir seu efeito, criando condições para equilibrar a força Ft externa. ENGENHARIA / UNESA 28 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS As unidades da viscosidade dinâmica são: MKS: = kgf.s/m2 (1 P = 10,197 kgf.s/m2) SI: = N.s/m2 (1 P = 0,1 N.s/m2) CGS: = dyn.s/cm2 ou poise (P) Observações: 1. Utiliza-se ainda o centipoise (cP), 1 cP = 0,01 P; 2. A viscosidade dinâmica possui um valor diferente para cada fluido e, varia, para um mesmo fluido, principalmente em relação à temperatura. Os gases e os líquidos comportam-se de maneiras diferentes quanto a esse aspecto. 3. Nos líquidos, a viscosidade diminui com o aumento da temperatura, enquanto nos gases a viscosidade aumenta com o aumento da temperatura. ENGENHARIA / UNESA 29 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Simplificação prática: Viu-se que a lei de Newton da viscosidade é escrita da seguinte forma: onde dv/dy é o gradiente de velocidade ou variação de v com y. ENGENHARIA / UNESA 30 y v1 v2 ε dy dv Um deslocamento dy, na direção do eixo y, corresponde à uma variação dv na velocidade. Quando a distância ε for pequena, pode-se considerar, sem muito erro, que a variação de v com y seja linear. Pela semelhança de triângulos: dv/dy = vo/ε Assim, a lei de Newton torna-se: vo 𝐹𝑡 = 𝜏𝐴 = 𝜇𝐴 𝑣𝑜 𝜀 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Viscosidade cinemática () Na mecânica dos fluidos e na transferência de calor, a razão entre viscosidade dinâmica e densidade aparece frequentemente. Por conveniência, essa razão é denominada viscosidade cinemática, . Assim: Duas unidades comuns: m2/s, cm2/s (stoke, St) Observação: utiliza-se ainda o centistoke, 1 cSt = 0,01 St. Em geral, a viscosidade de um fluido depende da temperatura e da pressão, embora a dependência da pressão seja bastante fraca. Para líquidos, tanto a viscosidade dinâmica como a cinemática são praticamente independentes da pressão e qualquer variação pequena de pressão é normalmente desprezada, exceto nos casos de pressões extremamente altas. Para gases, este também é o caso para a viscosidade dinâmica (para pressões baixas e moderadas), mas não é o caso para a viscosidade cinemática, uma vez que a densidade de um gás é proporcional à sua pressão. ENGENHARIA / UNESA 31 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS A viscosidade dos gases pode ser expressa em função da temperatura pela correlação de Sutherland: 𝜇 = 𝑎𝑇2 1+𝑏 𝑇 ∴ 𝑇 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎; 𝑎 𝑒 𝑏 𝑠ã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑖𝑠 Para líquidos, a viscosidade é aproximada pela expressão: 𝜇 = 𝑎10 𝑏 (𝑇−𝑐) ∴ 𝑇 = 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑒𝑟𝑎𝑡𝑢𝑟𝑎 𝑎𝑏𝑠𝑜𝑙𝑢𝑡𝑎; 𝑎, 𝑏 𝑒 𝑐 𝑠ã𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑠𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑖𝑠 Viscosímetro: dispositivo que mede a viscosidade. Para um mecanismo em que uma camada de fluido de espessura l ocupa uma folga entre dois cilindros concêntricos: 𝑇 = 𝜇 4𝜋2𝑅3𝑛 𝐿 𝑙 T = torque medido (N.m); R = raio do cilindro interno (m); L = comprimento do cilindro (m); 𝑛 = número de rotações por unidade de tempo (s-1); l = espessura (m). ENGENHARIA / UNESA 32 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS Observações finais: Quando o processo é dito adiabático, ou seja, a transformação se processa sem que exista troca de calor, a relação abaixo é útil para a estimativa da densidade de um gás ideal. Onde k é chamada constante adiabática cujo valor depende do gás. Tensão superficial é um efeito físico que ocorre na interface entre duas fases químicas. Ela faz com que a camada superficial de um líquido venha a se comportar como uma membrana elástica. Esta propriedade é causada pelas forças de coesão entre moléculas semelhantes, cuja resultante vetorial é diferente na interface. Enquanto as moléculas situadas no interior de um líquido são atraídas em todas as direções pelas moléculas vizinhas, as moléculas da superfície do líquido sofrem apenas atrações laterais e internas. Este desbalanço de forças de atração que faz a interface se comportar como uma película elástica como um látex. Por causa da tensão superficial, alguns objetos mais densos que o líquido podem flutuar na superfície, caso estes se mantenham secos sobre a interface. Este efeito permite, por exemplo, que alguns insetos caminhem sobre a superfície da água e que poeira fina não afunde. A tensão superficial também é responsável pelo efeito de capilaridade, formação de gotas e bolhas, e imiscibilidade entre líquidos polares e apolares (separação de óleo e água). ENGENHARIA / UNESA 33 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS ENGENHARIA / UNESA 34 PROPRIEDADES DOS FLUIDOS ENGENHARIA / UNESA 35 Capilaridade ou ação capilar é a propriedade física que os fluidos têm de subir ou descer em tubos extremamente finos. Essa ação pode fazer com que líquidos fluammesmo contra a força da gravidade ou à indução de um campo magnético. Se um tubo que está em contato com esse líquido for fino o suficiente, a combinação de tensão superficial, causada pela coesão entre as moléculas do líquido, com a adesão do líquido à superfície desse material, pode fazê-lo subir por ele. Esta capacidade de subir ou descer resulta da capacidade de o líquido "molhar" ou não a superfície do tubo. Ao colocarmos uma das extremidades de um tubo capilar de vidro dentro de um recipiente com água, observa-se que a água sobe no tubo e entra em repouso a uma determinada altura acima da superfície da água no recipiente. Se ao invés de água utilizar mercúrio, observa- se que o nível de mercúrio dentro do tubo capilar se estabiliza a uma distância abaixo do seu nível no recipiente. No primeiro caso, diz-se ter ocorrido uma ascensão capilar e no segundo uma depressão capilar. A explicação destes fenômenos capilares é feita com base numa propriedade associada com a superfície livre de qualquer líquido, denominada tensão superficial. = 2𝜍𝑠 𝜌𝑔𝑅 𝑐𝑜𝑠 h = ascensão capilar (m) s = tensão superficial (N/m) = densidade (kg/m3) g = aceleração da gravidade (9,81 m/s2) R = raio da capilar (m) = ângulo de contato
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