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RESUMO: Reforma Política em Perspectiva Comparada na América do Sul, de Carlos Ranulfo Melo.

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RESUMO: Reforma Política em Perspectiva Comparada na América do Sul, de Carlos Ranulfo Melo.
Democracia- incerteza institucionalizada. Arranjos podem descartar ou limitar desfechos. Quanto mais consolidado o arranjo, mais provável é que a previsão se concretize. A questão das reformas é que os resultados são de difícil previsão: não se pode prever como reagirá o conjunto de atores à medida que todos se familiarizem com as novidades, não se sabe exatamente como se combinarão as novas e antigas instituições. É um tipo de investimento de longo prazo. Na Nova Zelândia, a transição entre o sistema majoritário e o sistema misto obteve êxito (alcançou seus objetivos), enquanto que na Itália, a substituição do sistema proporcional pelo sistema misto foi um fracasso em relação aos objetivos de reduzir a fragmentação partidária e aumentar o grau de estabilidade governamental. Apesar de cercadas de incertezas, reformas eleitorais tem sido frequentes nos últimos 20 anos.
Argentina
Impulsionada pelo presidente Carlos Menem, a reforma argentina. realizada em 1994, passou a permitir a reeleição, o mandato presidencial foi reduzido de 6 para 4 anos, o presidente passou a ser eleito de forma direta e por um sistema de dois turnos (não mais por um turno e por um colégio eleitoral), no senado cada província passou a contar três senadores eleitos diretamente para mandatos de seis anos (sendo antes dois senadores eleitos por nove anos de forma indireta -assembleias provinciais). Além disso Buenos Aires adquiriu autonomia administrativa e passou a ter seu prefeito eleito (antes o cargo era ocupado por indicação do presidente).
Uruguai
A reforma no Uruguai também partiu do governo, em 1996, e a motivação imediata foi dificultar o acesso da Frente Ampla (FA) ao governo (esquerda). A reforma foi aprovada e submetida a referendo, vencendo com pouco mais do que era exigido pela constituição (50,4%). Por ela, foi adotada a regra de dois turnos para eleições presidenciais, o estabelecimento de candidatura única por partido e a obrigatoriedade de que os candidatos presidenciais fossem escolhidos por meio de eleições internas abertas, além de uma modificação no calendário na qual eleições municipais passaram a ocorrer seis meses após a presidencial.
Argentina e Uruguai são exemplos de reformas que se restringiram a elite política e portanto deram a essa elite maior liberdade de desenhar instituições que as beneficiasse em detrimento de outros interesses. Os objetivos de curtíssimo prazo foram alcançados: Menem foi reeleito em 1995 e o candidato da FA perdeu as eleições no segundo turno. Entretanto, as mudanças realizadas na argentina contribuíram para a ampliação do espaço institucional da oposição e ajudou que um terceiro partido se destacasse e pela 1a vez ultrapassasse um tradicional, o que acabou culminando uma grande derrota do partido de Menem em 1999. As mudanças fizeram também com que o sistema político argentino ganhasse em representatividade, assim como o uruguaiano. No Uruguai a reforma aumentou o grau de inclusividade do sistema político, e apesar de ter colaborado para a derrota do candidato da FA no 2o turno, não impediu que na eleição seguinte o mesmo candidato saísse vitorioso no primeiro turno.
Venezuela
Na década de 80, a economia entrou em declínio, a inflação subiu, o perfil da sociedade havia se alterado e os casos de corrupção passaram a se tornar mais frequentes. Tudo isso fez com que a sociedade passasse a reivindicar mais poderes para os cidadãos e menos para os partidos, uma vez que os partidos não estavam sendo capazes de lidar com o problema. A primeira resposta oficial ao descontentamento crescente veio em 1984 quando o presidente Jaime Lusinchi criou uma comissão presidencial para a reforma do estado, e as principais mudanças realizadas em 2988 foram: eleições diretas para governadores e prefeitos, substituição do sistema proporcional pelo misto e a alteração do calendário eleitoral. A dinâmica da reforma foi interrompida pela eleição de Hugo Chávez em 1998. Uma vez eleito, Chávez deu origem a outro processo de reforma mais radical que o anterior dissolvendo o senado, reduzindo o numero de membros do congresso nacional, alterando o mandato de presidente de 5 para 6 anos e introduzindo a reeleição. O regime de Chávez foi marcado pela concentração dos poderes e pela desestruturação do sistema partidário.
Bolívia
O processo de reforma política teve seu momento decisivo em 94. O país saiu em 1982 de uma sucessão de golpes militares, e a grande competição entre os partidos permitiu que um processo de democratização fosse conduzido paralelamente a introdução de medidas de austeridade econômica. Mas a política neoliberal não foi capaz de evitar a queda das condições de vida da grande maioria da população, resultando em uma crise interna com grandes revoltas. Em 94 foi apresentado um amplo e ambicioso projeto de modernização, e as modificações efetivamente realizadas foram: ampliação do mandato presidencial de 4 para 5 anos; introdução de eleições diretas para prefeito no primeiro turno (e ampliação p 5 anos); introdução do sistema misto em substituição do proporcional e o estabelecimento de cláusula de barreira. 
Venezuela e Bolívia são exemplos em que um movimento na opinião pública foi forte o suficiente para exigir mudanças e os representantes tentaram assumir a dianteira desse processo, mas acabaram perdendo o controle.
Brasil
O Brasil possuia a princípio duas agendas de reforma: uma mais ambiciosa, que propunha a introdução do parlamentarismo, de um sistema distrital misto com cláusula de barreira para a Câmara dos deputados e o voto facultativo. A segunda era centrada no aperfeiçoamento da representação proporcional, e propunha entre outras coisas a instituição de um mecanismo de fidelidade partidária, coibição das coligações e a substituição do sistema de lista aberta. A proposta do parlamentarismo foi derrotada por plebiscito em 1993 e a única proposta adotada da primeira agenda foi à instituição de uma cláusula de barreira na Câmara. 18 anos após a constituição de 88, as modificações eram: redução do mandato do presidente de 5 para 4 anos, exclusão dos votos brancos do cálculo do quociente eleitoral, a reeleição para o executivo e a aprovação de regras mais rígidas para o financiamento de campanhas. São modificações pontuais que nada permitem dizer que alguma agenda foi efetivada.
As propostas no Brasil geralmente tem origem em iniciativas individuais dos congressistas e raramente chega ao plenário. O executivo brasileiro é que apresenta cerca de 85% das proposições legislativas aprovadas no congresso nacional. Isso ajuda a entender porque a reforma não foi pra frente: não foi prioridade para os presidentes (Lula e FHC).
Chile
É o pais de maior estabilidade institucional da América Latina. A constituição ditatorial ainda se mostra muito forte no país, o que se explica pela força eleitoral da direita chilena. A existência de distritos binominais é responsável pelo viés acentuadamente majoritário do sistema eleitoral chileno. Apenas duas alterações podem ser citadas como significativas: a redução do mandato presidencial de 6 para 4 anos e a extinção de vagas reservadas aos senadores designados ou vitalícios.
Chile e Brasil são exemplos de ausência de pressões sociais e incapacidade dos atores políticos em construir uma coalizão estável. A agenda reformista se mantém em pauta, mas as reformas não se viabilizam.

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