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Princípios da Ciência e Tecnologia dos Materiais CCE 0291 (2 créditos) Fábio Oliveira 2015/2 Unidade 2 – Estrutura Cristalina dos Materiais Revisão – Estrutura Atômica Estrutura Atômica • Número atômico: Z = p. • Número de massa: A = p + n. • Isótopos: átomos de um mesmo elemento químico, com o mesmo número atômico e diferentes números de massa. Prótio Deutério Trítio 1H 1 1H 2 1H 3 Z = 1 Z = 1 Z = 1 n = 0 n = 1 n = 2 Ligações Atômicas • Os átomos podem atingir uma configuração estável através da “doação” ou do “ganho” de elétrons. • Elemento eletronegativo: ganha elétrons (ânions). • Elemento eletropositivo: doa elétrons (cátions). Ligação Iônica • Transferência de elétrons. • Forças interatômicas fortes. • Eletricamente neutros. Ligação Covalente • Compartilhamento de elétrons. • Forças interatômicas fortes. • Elementos químicos não metálicos. Ligação Metálica • “Mar” de elétrons. • Forças interatômicas fortes. • Condução térmica e elétrica. Estrutura Cristalina Introdução Antes de entender fenômenos que determinam as propriedades dos materiais, a partir da MICROESTRUTURA, existe a necessidade de se entender a ESTRUTURA CRISTALINA dos materiais porque estas definem algumas de suas propriedades mais importantes e de interesse tecnológico. Materiais Cristalinos x Amorfos • Um material cristalino é aquele em que os átomos estão situados em um arranjo que se repete, ou é periódico, ao longo de grandes distâncias atômicas, isto é, existe ordem de longo alcance. • Todos os metais, muitos materiais cerâmicos e alguns polímeros possuem esta característica. • Para materiais que não cristalizam, esta ordem atômica de longo alcance está ausente. Estes materiais são conhecidos como não cristalinos ou amorfos. Ordenação dos Átomos Ordem a curto alcanceOrdem a longo alcance Sem ordenamento Cristais Vidros e polímeros Gases Ordenação dos Átomos SiO2 cristalino SiO2 não cristalino Células Unitárias • A ordenação atômica em sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de átomos formam um padrão repetitivo. • Então, ao descrever estruturas cristalinas, torna-se conveniente subdividir a estrutura em pequenas “entidades” que se repetem, chamadas células unitárias. • As células unitárias para a maioria das estruturas são paralelepípedos ou prismas que possuem três conjuntos de faces paralelas. Sistemas Cristalinos • Uma vez que existem muitas estruturas cristalinas diferentes, torna-se conveniente dividi-las em grupos, de acordo com as configurações das células unitárias e/ou arranjos atômicos. Dos 7 sistemas cristalinos podemos identificar 14 tipos diferentes de células unitárias, conhecidas com redes de Bravais. Cada uma destas células unitárias tem certas características que ajudam a diferenciá-las das outras células unitárias. Além do mais, estas características também auxiliam na definição das propriedades de um material particular. Estruturas Cristalinas dos Metais • A ligação metálica é não direcional (“mar de elétrons”), por isso não existem restrições em relação ao número e à posição dos átomos vizinhos. • Isto acarreta em um grande número de vizinhos e empacotamentos densos dos átomos. • Três estruturas cristalinas são encontradas para a maioria dos metais: cúbica de corpo centrado, cúbica de faces centradas e hexagonal compacta. A Estrutura Cristalina Cúbica de Corpo Centrado (CCC) • Átomos dispostos nos vértices e no centro de um cubo. • Ferro (até 910 e acima de 1400° C), cromo, lítio, molibdênio, vanádio, etc. A Estrutura Cristalina Cúbica de Face Centrada (CFC) • Átomos dispostos nos vértices e nos centros das faces de um cubo. • Ferro (entre 910 e 1400°C), alumínio, cobre, chumbo, etc. A Estrutura Cristalina Hexagonal Compacta (HC) • Átomos localizados em cada vértice, no centro das bases de um prisma e três átomos nos centros dos prismas triangulares. • Zinco, magnésio, cobalto, etc. CCC, CFC e HC Número de Átomos por Célula Unitária • O número de átomos por célula unitária é o número específico de pontos da rede que define cada célula unitária. Número de Átomos por Célula Unitária n° pontos da rede = 8*(vértices) * 1 + 1 centro = 2 átomos célula unitária 8 n° pontos da rede = 8*(vértices) * 1 + 6 * 1 centro face = 4 átomos célula unitária 8 2 n° pontos da rede = 12*(vértices) * 1 + 2 * 1 centro face + 3 no centro = 6 átomos célula unitária 6 2 CCC CFC HC Relação entre Raio Atômico e Parâmetro de Rede • A relação entre o raio atômico (r) e o parâmetro de rede (ao) é determinada geometricamente a partir da direção em que os átomos estão em contato (direção de empacotamento fechado, ou de maior empacotamento). Relação entre Raio Atômico e Parâmetro de Rede CCC CFC HC (diagonal cubo)2 = (4 r)2 = ao 2 + ao 2 + ao 2 (diagonal face)2 = (4 r)2 = ao 2 + ao 2 ao = 4r 31/2 ao = 4r 21/2 ao = 2r co = 1,633 ao Relação entre Raio Atômico e Parâmetro de Rede Exemplo: O raio atômico do Fe é 1,24 Å. Calcule o parâmetro de rede do FeCCC e do FeCFC. ao = 4r 31/2 ao = 4 x 1,24 A = 2,86 Å 31/2 CCC ao = 4r 21/2 ao = 4 x 1,24 A = 3,51 Å 21/2 CFC Número de Coordenação (NC) • O número de coordenação é o número de vizinhos mais próximos ou átomos em contato. CCC CFC HC NC = 8 NC = 12 NC = 12 Fator de Empacotamento Atômico (FEA) • O fator de empacotamento atômico representa a fração do volume de uma célula unitária que corresponde a esferas sólidas, assumindo o modelo da esfera atômica rígida. O FEA é calculado de acordo com a equação: FEA = (n° átomos / célula) * volume cada átomo volume da célula unitária Fator de Empacotamento Atômico (FEA) FEACCC = (n° átomos / célula) * volume cada átomo = (2 átomos / célula) * 4/3pr 3 = 2 * 4/3pr3 = 2 . 4/3pr3 = 0,68 ou 68% volume da célula unitária ao 3 (4r/31/2)3 64.r3/(31/2)3 FEACFC = (n° átomos / célula) * volume cada átomo = (4 átomos / célula) * 4/3pr 3 = 4 * 4/3pr3 = 4 . 4/3pr3 = 0,74 ou 74% volume da célula unitária ao 3 (4r/21/2)3 64.r3/(21/2)3 FEAHC = (n° átomos / célula) * volume cada átomo = (6 átomos / célula) * 4/3pr 3 = 6 * 4/3pr3 = 25,12r3 = 0,74 ou 74% volume da célula unitária ao 3 (2r)3.1,633.cos30° 33,94r3 CCC CFC HC Resumo Estrutura Cristalina Átomos por Célula Número de Coordenação Parâmetro de Rede Fator de Empacotamen to CCC 2 8 4r/(3)1/2 0,68 CFC 4 12 4r/(2)1/2 0,74 HC 6 12 ao = 2r co = 1,633 ao 0,74 Polimorfismo e Alotropia • Alguns materiais podem ter mais de uma estrutura cristalina dependendo da temperatura e pressão. São denominados de alotrópicos (elementos químicos) ou polimórficos (compostos em geral). • Geralmente as transformações polimórficas são acompanhadas de mudanças na densidade e mudanças de outras propriedades físicas. Direções Cristalográficas • Uma direção cristalográfica é definida como uma linha entre dois pontos, ou um vetor. • Algumas direções da célula unitária são de particular importância, por exemplo os metais se deformam ao longo da direção de maior empacotamento. Muitas propriedades dos materiais dependem da direção do cristal. • São utilizados os índices de Miller da seguinte forma: 1 - Definir dois pontos por onde passa a direção; 2 - Definir o ponto alvo e origem, fazendo-se: ALVO-ORIGEM; 3 - Eliminar as frações e reduzir ao m.m.c.; 4 - Escreverentre colchetes, e se houver n° negativo o sinal é colocado sobre o n°. Direções Cristalográficas Exemplo 1: Origem: 0, 0, 0 Alvo: 1, 1, 0 1, 1, 0 - 0, 0, 0 = 1 , 1 , 0 Sem frações Direção [1 1 0] Exemplo 2: Origem: 0, 0, 1 Alvo: ½, 1, 0 ½, 1, 0 - 0, 0, 1 = ½ , 1 , -1 2x ½ , 1 , -1 = 1, 2, -2 Direção [1 2 2] Planos Cristalográficos • As orientações dos planos para uma estrutura cristalina são representadas de maneira semelhante à representação das direções cristalográficas, isto é, também são representados pelos índices de Miller. O procedimento utilizado é: 1 - Definir três pontos onde o plano corta as coordenadas x, y e z; 2 – Calcular os recíprocos dos valores obtidos; 3 - Eliminar as frações sem reduzir ao m.m.c.; 4 - Escrever entre parênteses, e se houver n° negativo o sinal é colocado sobre o n°. Obs.: Se o plano passar pela origem, desloque-a. Planos Cristalográficos Exemplo 1: Plano: 1, 1, 1 Inverso: 1/1, 1/1, 1/1 Sem frações Direção (1 1 1) Planos Cristalográficos Exemplo 2: Plano: 1, 2, ∞ Inverso: 1/1, 1/2, 1/∞ Frações: 2, 1, 0 Direção (2 1 0) Imperfeições em Sólidos Introdução • Até o momento, admitiu-se que, em escala atômica, existe uma ordem perfeita ao longo de toda a extensão dos materiais cristalinos. • Entretanto, esse tipo de sólido não existe. • Todos os materiais contêm grandes números de uma variedade de defeitos ou imperfeições. • Na realidade, muitas das propriedades dos materiais são profundamente sensíveis a desvios da perfeição cristalina. • Estas influência nem sempre são adversas. Introdução • Por “defeito cristalino” designa-se uma irregularidade na rede cristalina com uma ou mais das suas dimensões, na ordem de um diâmetro atômico. • A classificação de imperfeições cristalinas é feita de acordo com a geometria ou a dimensão do defeito. • Defeitos pontuais, defeitos lineares, contornos, entre outros serão vistos. Lacunas Deficiência de ligações entre os átomos Distorção na rede cristalina Acúmulo de energia • Ausência de um átomo em uma posição que deveria ser ocupada na estrutura cristalina. • Podem ser formadas durante a solidificação ou como resultado de vibrações atômicas. • Todos os sólidos cristalinos possuem lacunas. Auto-intersticial • O auto-intersticial é um átomo do cristal que se encontra comprimido no interior de um sítio intersticial da estrutura cristalina. • Este tipo de defeito causa uma grande distorção no reticulado cristalino a sua volta, pois o átomo é maior que a posição por ele ocupada. • A ocorrência deste defeito não é muito provável. Impurezas • É impossível existir um metal constituído por apenas um tipo de átomo (metal puro). • As técnicas atuais de refino permitem a obtenção de metais com grau de pureza máxima de 99,9999%. • Podem ser substitucional ou instersticial. Soluções Sólidas • Em uma liga, o elemento em maior concentração denomina-se solvente e o elemento em menor quantidade chama-se soluto. • A solução sólida ocorre quando a adição de átomos de soluto não modifica a estrutura cristalina e nem provoca a formação de novas estruturas. • Solução sólida substitucional: os átomos de soluto substituem uma parte dos átomos de solvente do reticulado. • Solução sólida intersticial: os átomos de soluto ocupam os interstícios existentes no reticulado. Discordâncias • Uma discordância é um defeito linear ou unidimensional em torno do qual alguns dos átomos estão desalinhados. • Todos os materiais cristalinos contêm algumas discordâncias que foram introduzidas durante a solidificação, durante a deformação plástica e como uma consequência das tensões térmicas que resultam de um rápido resfriamento. • A magnitude e a direção da distorção da rede cristalina que está associada com um dos tipos de discordância são expressas em termos de um vetor Burgers, representado por um b. Discordâncias • Na discordância tipo aresta, os átomos acima da linha de discordância são pressionados uns contra os outros e, os átomos abaixo são puxados um para longe do outro. Arranjo dos átomos em torno de uma discordância em aresta (“edge dislocation”). Discordâncias • Na discordância tipo espiral, forma-se uma tensão cisalhante que é aplicada para produzir a distorção mostrada. A região anterior superior do cristal é deslocada uma distância atômica para a direita, em relação à fração inferior. Discordância em hélice Discordância em hélice (vista superior) Discordâncias • As discordâncias podem ser observadas em materiais cristalinos mediante o uso de técnicas de microscopia eletrônica. Contornos de Grão • Contornos de grão são contornos entre dois cristais sólidos da mesma fase. • Quando o desalinhamento entre os grãos vizinhos é grande (maior que ~15°), o contorno formado é chamado contorno de grão de alto ângulo. • Se o desalinhamento é pequeno (menor que 5°), o contorno é chamado contorno de pequeno ângulo, e as regiões que tem essas pequenas diferenças são chamadas de subgrãos. Contornos de Grão Exercícios 1. O que é a célula unitária de uma rede cristalina. 2. Quantos e quais são os sistemas cristalinos? Como diferem entre si? Quais são suas características? 3. O que é parâmetro de rede da célula unitária? 4. Número de coordenação: o que é e do que depende? Quais são os números de coordenação nas células unitárias dos metais? 5. O que é fator de empacotamento em uma célula unitária? Calcule o fator de empacotamento para as células cúbicas para metais. 6. Qual o significado do vetor de Burgers? 7. O que são discordâncias e como podem ocorrer?
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