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Universidade Presbiteriana Mackenzie “DIREITO EMPRESARIAL” DIREITOS EMPRESARIAL FERNANDO CÉSAR BATISTA FILHO Resumo: Breve síntese sobre a evolução histórica do direito comercial e empresarial, ressaltando a importância da evolução de tais institutos para a composição e especificidade do direito comercial e sua tutela no mundo contemporâneo. INTRODUÇÃO Necessitando de maior segurança, as sociedades da antiguidade passaram a abandonar o estilo de vida nômade para se estabelecer de forma a conquistar formas de garantir a manutenção à vida. Sua subsistência passa a ser angariada através de atividades comerciais especificas que inicialmente não visavam lucro, pois eram meramente atividades de troca que ocorriam entre os povos egípcios, troianos, sírios, fenícios, babilônios e cretenses. Cronologicamente surgiram normas jurídicas, tal como o Código de Hamurábi da Babilônia e parte do texto contido em Digesto, que se dispunham a indicar preceitos necessários para que ocorressem formas de se praticar atividades comerciais. Entretanto, tais preceitos não atribuíam quaisquer aspectos de um direito especificamente comercial, vez que estas não se tratavam de, nas palavras de Waldirio Bulgarelli, “um conjunto ordenado e cientifico de regras destinadas a reger a prática do comércio”. Apesar da massiva atividade comercial, o império romano atribuía sua força no âmbito politico de forma a não prevalecer a cobiça por extensas fortunas oriundas do comércio. Especificamente, o comércio era confiado aos escravos e os negócios entre os romanos eram decididos por meio do jus gentium – direito das gentes, confiado somente aos cidadãos romanos. Assim, surgem diversos institutos que regulam o direito comercial, ou as relações entre os cidadãos romanos, dentro do próprio direito civil. Após sua queda, o comércio passa a ser controlado pelos árabes e boa parte da atividade se desloca para a Ásia, fato este que enclausurou os povos ocidentais e sua atividade econômica. Surge então a economica artesanal e a organização burguesa, onde o centro de consumo se afasta do interior e das grandes proporções de terra e passa para as cidades, onde se encontram os mercadores e artesãos e suas respectivas associações e feiras. Na luta contra as antigas instituições políticas e contra o direito romano-canônico as instituições comerciais passam a adotar costumes do comércio e depois fixam regras escritas em estatutos e regulamentos. Surge assim, os primeiros indícios de um direito comercial próprio. Dotados de uma série de regras, os comerciantes passaram a solucionar as divergências oriundas de suas atividades através do míster dos cônsules eleitos das corporações que, mais tarde, deram origem aos Tribunais de Comércio e a uma espécie de jurisdição consular embasada nas regras estatutária e nos costumes empregados. Assim, tais tribunais exerciam tanto um poder legislativo quanto um poder judicial, ambos destinados a dirimir e solucionar todo e qualquer tipo de conflito ligado ao comércio. As decisões dos tribunais foram recolhidas e compiladas em diversos instrumentos cuja finalidade era suprir as necessidades legislativas e costumeiras de diversos povos e nações. No entanto, devido à falta de cunho cientifico diversos juristas italianos buscaram, com base nas teorias romanas, ensejar a criação de um direito comercial cientifico. Após a formação dos Estados Nacionais, toda e qualquer sistematização de normas, costumeiras ou cientificas, caem por terra devido o fato de que quem as elabora, segundo a própria vontade e necessidade, é o soberano. Agora, aplicadas a nível nacional, por mais que não efetivassem o desenvolvimento da nação, as normas soberanas fizeram surgir diversos dispositivos tratando do direito comercial, tais como as ordenações francesas ou o Act of Navigation da Inglaterra. Com as transformações do séc. XVIII, onde insurgem como consequências das revoluções liberais os princípios de igualdade e liberdade, Napoleão cria um sistema onde as relações civis se baseiam ora em direito privado civil ora em direito privado comercial, prevalecendo para cada regime regras diferentes sobre contratos, obrigações, responsabilidades e outros institutos. No campo comercial, sempre que alguém exercia alguma atividade economica considerada comercial, estaria sujeito às obrigações que o código comercial havia estipulado. Devido a insuficiência da teoria dos atos de comércio que regiam o sistema comercial, a doutrina evoluiu e passou a adotar o critério da teoria da empresa como identificador do Direito Comercial. No Brasil, apesar de haver comércio desde sua “descoberta”, não há que se dizer na existência de um direito comercial regulando as atividades da coroa. A existência de um direito comercial brasileiro, além de se dividir em três lapsos temporais, somente se concretizou por volta de 1850 com a promulgação do Código Comercial Brasileiro e a derrocada da colônia portuguesa a partir da independência do país. Embora a constituição do império não tivesse sido clara sobre o fato de existir a necessidade de elaboração de um código comercial, mas sim somente civil e criminal, os conselheiros da coroa já incitavam a elaboração de um código, o que, infelizmente, nunca aconteceu. Somente por volta do ano de 1834 é que surge, dividido em três partes (pessoas do comércio, contratos e obrigações; comércio marítimo; administração da justiça nas causas comerciais), o código comercial, somente promulgado no ano de 1850 e, devido sua complexidade, com entrada de vigor em 1851. Ao período republicano, diversas leis foram promulgadas no intuito de complementar as lacunas do código vigente, fato este que se estendeu até a revolução de 1930 (período do intervencionismo estatal). Nesse ponto, diversas legislações foram reformuladas alcançando todos os setores da sociedade. Após diversas mutilações, o código de 1850 passou por diversas reformas culminando com sua total alteração e unificação ao direito civil por volta do ano de 1961. Seguindo os passos do código comercial Francês, o código comercial brasileiro adotou a teoria dos atos de comércio (atividades econômicas civis ou mercantis) de forma estritamente objetiva. Assim, passando o cerne do sistema mercantil da figura do comerciante para os atos de comércio, os juristas passaram a tentar distinguir cientificamente o que seria, legislativamente, um ou mais atos de comércio: “I) Os magistrados deveriam aplicar nos casos concretos a definição dos atos de comércio. II) Deveria haver uma especificação numérica de quais seriam os atos de comércio, antes de serem aplicados aos casos concretos”. Justamente os conceitos que se divergiam foram os que fizeram surgir a teoria mais aceita no que diz respeito ao direito comercial. Agora, saindo do escopo do comerciante e do ato de comércio, surge a teoria da atividade, separando ambas as teorias anteriores. Esta se caracteriza como uma série de atos coordenados pelo comerciante visando uma finalidade comum. Assim, mantendo a figura do comerciante, utiliza-se as atividades isoladas de cada para dar ensejo à reiteração da mesma atividade, passando a ciência do direito comercial para o campo das atividades organizadas que dão origem ao conceito de empresa. EMPRESA Oriundo da doutrina italiana surge um sistema onde as atividades privadas passam a ser organizadas através das normasque atingem um mesmo campo. Agora, o direito comercial deixa de abranger as atividades de mercancia, isto é, à pratica dos atos de comércio profissionais ou de natureza e passa a disciplinar as atividades empresariais, estas como instrumento de produção ou circulação bens e serviços. Vê-se que a teoria da empresa alterou o foco do direito comercial, uma vez que fez com que as normas organizadas passassem a administrar as atividades empresariais e não as atividades de mercancia, necessárias à obtenção de lucro próprio pelo comerciante. Assim, pode-se dizer que empresa é a própria atividade a ser desempenhada de forma continua e, dessa forma, regida sob o prisma jurídico, qual seja, o código civil que regulou tanto o direito civil quanto o comercial. Há também, regida pelo direito civil, a Empresa de responsabilidade limitada, denominada de EIRELI. EMPRESÁRIO Como o enfoque do direito comercial passa a se situar nas atividades conjuntas e organizadas, os comerciantes, aqueles que exerciam um determinado ato, passam a ser denominados de empresários. Fábio Ulhoa Coelho cita o dispositivo legal que o empresário é aquele definido por lei como “profissional exercente de atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de serviços”. Ora, se empresa é a atividade abstrata, formada de pessoas e bens competentes para que ocorra a produção de bens e serviços, então, empresário é aquele órgão/pessoa que adquire personalidade intrínseca da empresa, cuja função é exercer a própria atividade a que se destina a empresa. O livro II, título I, parágrafo único do artigo 966 da lei 10.406 de 2002 caracteriza, como dito supra, e também expõe aqueles que não se enquadram na categoria de empresário: “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”. A doutrina considera que não são empresários os citados no dispositivo acima, devido o fato de não produzirem habitualmente uma determinada tarefa ou de não contratarem empregados destinados à produção de bens e serviços a serem distribuídos. Legalmente, para que possa exercer as atividades a que se destina a empresa, o empresário deve ser registrado no Registro Público de Empresas da respectiva sede e esta deve conter uma série de requisitos formais para identificação: nome; capital; objeto e sede da empresa. O empresário pode ser classificado como pessoa jurídica ou pessoa física, respectivamente, sociedade empresária e empresário individual. Cumpre-se salientar que para que a pessoa física possa exercer as atividades enquanto empresária, esta deve cumprir a formalidade instituída ao artigo 972 usque 980 do código civil. Tais dispositivos se referem à capacidade das pessoas aptas a exercerem a atividade de empresa. Assim, para ser empresário individual a pessoa deve, primeiramente, estar em pleno gozo da capacidade civil. Há que se dizer que há uma exceção àqueles que não dispõem de capacidade plena: autorização judicial que se dá mediante o instrumento denominado por alvará, somente podendo ser concedido para o incapaz continuar exercendo empresa que ele mesmo constituiu enquanto era capaz, ou que fora constituída por seu pais. Dessa forma, o incapaz irá exercer a atividade empresarial mediante representação ou assistência. Por outro lado, há também a existência da sociedade empresária, que ocorre quando há a união de duas ou mais pessoas em sociedade para ganhar dinheiro decorrente de uma atividade econômica a ser explorada. Assim, formada a sociedade, surge uma pessoa jurídica com personalidade autônoma – esta sim empresária, cujos sócios são empreendedores ou investidores de acordo com a colaboração dada à sociedade. Regulados pelo título II, Livro II, artigo 981, a sociedade empresaria é formada por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens e serviços para o exercício da atividade economica (atividade de empresa) e partilhar entre só os resultados desse exercício. REGISTRO DE EMPRESA Conforme citado supra, para que o empresário possa exercer a empresa à fundo, é necessário que este se inscreva no registro das empresas que está regulamentado pela lei n° 8.934/94 que trata de um sistema integrado por dois órgãos: o primeiro, no âmbito federal, nominado por Departamento Nacional de Registro do Comércio e o segundo, no âmbito estadual, nomeado de Junta Comercial, ambos com uma relação hierárquica. A função do DNRC é supervisionar a execução dos registros de empresa, expedindo normas e instruções dirigidas às juntas comerciais, ou seja, além de exercer uma atividade administrativa, também age como um poder legislativo e executor de sua própria legislação e instruções. No entanto, esse órgão somente pode interferir se autoridades competentes estaduais se comprometerem em concordar com as alterações suscitadas por este órgão. No que tange à competência das juntas comerciais, estas assentam o uso e práticas mercantis, habilitam tradutores públicos e intérpretes comerciais, expedem carteiras de exercício profissional de empresários e demais indivíduos inscritos no registro de empresa. No que diz respeito aos atos de registro, estes se resumem em matricula, arquivamento e autenticação. A matrícula é o ato de inscrição de profissionais que desenvolvem atividades paracomerciais. O arquivamento faz jus à inscrição do empresário individual que exerce suas atividades como pessoa física, bem como daqueles que possuem sociedade empresaria constituída e, por fim, a autenticação está ligada aos instrumentos de escrituração, que nada mais são do que livros comerciais e suas fichas. Legalmente, ficam inatas as atividades empresariais que não constituírem registro e arquivamento por conta de erro formal ou material, por conta de não designarem o respectivo capital, os atos de empresa, alteração contratual, descrição do imóvel etc. documentos estes que devem ser apresentados pelo prazo de trinta dias a contar da assinatura, a cuja data retroagirão os efeitos do arquivamento. Havendo erro sanável, pode ser requisitada a reconsideração, sob o prazo de três a cinco dias, visando a revisão de despachos para o deferimento de arquivamento, bem como a reconsideração de decisões definitivas no prazo de trinta dias. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL “O complexo de bens reunidos pelo empresário para o desenvolvimento de sua atividade econômica é o estabelecimento empresarial.” Não há previsão legal no que tange especificamente à forma do estabelecimento empresarial, no entanto, a doutrina considera como estabelecimento a reunião de bens necessários ao desenvolvimento da atividade econômica. Havendo a união destes bens, mercadorias, maquinários, instalações, tecnologias, prédio etc. há o “aviamento” – aumento do preço destes bens enquanto permanecerem unidos. Como dito anteriormente, devido o fato de não haver um instituto jurídico próprio que proteja tais bens, estes são resguardados por uma proteção jurídica especifica. O patrimônio do empresário resume-se, portanto, no estabelecimento empresarial que se divide em bens corpóreos, isto é, mercadorias, instalações, equipamentos etc. e também de bens incorpóreos, tais como marcas, patentes, direitos, ponto etc. Assim, o direito civil e penal visa a proteção dos bens corpóreos e o direito industrial,específico, diga-se de passagem, visa a proteção aos bens incorpóreos.
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