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O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 1 Introdução • Devemos entender os fatores sociais e comportamentais que afetam a percepção da dor e o seu tratamento no paciente. • Importante conhecer as escalas de dor disponíveis para avaliação. • Conhecer os tratamentos medicamentosos e não medicamentosos que podem ser utilizados. • Impacto da doença/dor no paciente o A dor está muito conectada com a saúde mental do paciente, quando você não tem nenhum problema o futuro é certo, você espera o futuro. o Porém, quando há uma doença/dor o futuro para ser incerto ou ruim e você começa a ter problemas sociais e psicológicos decorrentes disso. o A dor pode ser considerada um 5ª sinal vital, ela nos faz perceber que estamos vivos e ela é um sinal de que algo está errado com nosso corpo. o Imagina um paciente que não sente dor? Essa condição existe, é rara, mas esse paciente muitas vezes não possui grande expectativa de vida, pois ele não reage ao principal sinal de alerta do nosso organismo, a DOR. o A dor gera tanto consequências físicas/funcional, gerais e alterações psicossociais no paciente. • “Dor total” – Foi um conceito definido para dizer exatamente o efeito que a DOR tem sistemicamente no corpo humano, abrangendo não somente seu componente físico ou mental, mas o corpo todo em si, afetando o físico, psicológico, social e espiritual. Instrumentos para avaliação da dor • Unidimensionais o VAS ▪ Escala analógica visual ▪ Escala muito utilizada na pediatria e para pacientes analfabetos onde a dor é representada por faces que vão desde um sorriso até uma de “muita dor”. o ENV ▪ Escala numérica verbal ▪ Mais comumente utilizada onde colocamos a dor do paciente de 1 a 10 sendo 1 sem dor e 10 o O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 2 paciente basicamente não estaria nem falando com a gente no consultório. o Adjetival • Multidimensionais o Escala de Mcgill – Tabela complexa onde o paciente e o medico preenchem dados para tentar estabelecer o grau de dor do paciente. • Outros artifícios utilizados o Analogia com copos ▪ “Mais cheio, mais dor” o Analogia com peso/balança ▪ “pesar a dor do paciente”, gramas ou quilogramas de “dor”. o Analogia com porcentagem ▪ Intensidade da dor ▪ Mais utilizada para avaliar a melhora da dor, ou seja, pedimos para o paciente quantos porcento melhorou a dor dele após o tratamento. ▪ Exemplo: Quantos porcento melhorou a sua dor? 50% doutor. Investigação da dor (decálogo da dor) • História da dor • Localização • Qualidade • Severidade • Duração • Fatores de exacerbação e alívio • Tratamentos realizados • Psicossocial do paciente: Impacto na mobilidade do paciente, no sono do paciente, apetite, humor e na sua vida social. • Pacientes pediátricos e idosos não contactantes (Parkinson, Alzheimer...) o Alteração do comportamento. o Agitação o Inquietude o Gemidos o Mudanças de atividade e apetite do paciente o Irritabilidade Fatores que alteram a percepção da dor • Atenção focada na dor a torna pior • Pacientes com baixo limiar a dor, referem como ela sendo pior do que na realidade é. • A dor pode ser aprendida, mostrando um problema puramente psicológico. • Problemas psicossociais fazem o pacienta acreditar na dor, decorando os questionários e se envolvendo no ciclo da doença. Fisiopatologia da dor • O estímulo da dor percorre todo os nervos responsáveis pela condução do estímulo da dor, até chegar na região dorsal da medula onde ele parte para o 2ª neurônio, cruzando a linha média da medula e passa a ascender para o tálamo onde passa para o 3ª neurônio e posteriormente chega ao córtex para ser interpretado como estímulo doloroso. • Após o recebimento do estímulo da dor no córtex cerebral, é normal que ocorra liberação de endorfinas e substâncias analgésicas para reduzir essa dor, pois o importante é deixar nosso corpo em alerta de que algo está errado. O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 3 • Uma vez que esta informação sensorial atinge o SNC chama-se de “sensação” a qual leva em seguida a “percepção” da dor que permite não só que a dor seja sentida, mas também percebida quanto à sua localização específica ou região. • Vias da dor o Para simplificar o aprendizado, diz-se que a dor é conduzida ao longo de vias de 3 neurônios, que transmitem os estímulos nocivos da periferia até o córtex cerebral. o 1ª neurônio aferente primário – localizados nos gânglios da raiz dorsal, em cada forame vertebral a cada nível da medula espinhal. o 2ª neurônio de segunda ordem – localizado no corno dorsal da medula. Os axônios cruzam a linha media e ascendem pelo trato espino- talamico até o tálamo. o 3ª neurônio aferente primário – localizado no tálamo, enviando axônio até o córtex somato- sensorial. ▪ Envia fibras para as áreas somatossensoriais 1 e 2 no giro pós-central do córtex cerebral parietal e da parede superior da fissura de silvius. ▪ Também fazem projeção para o giro do cíngulo anterior. o Obs: TRATO de lissauer é o nome dado aos feixes de axônios que sobem e desce até 2 níveis da medula, dando o aspecto “difuso” da dor. Exemplo: Paciente sente fura a mão, mas sente a dor no braço todo, isso é por conta desse trato que distribui o estímulo em diversos níveis da medula. • Lâminas de Rexed o Na medula espinhal temos algumas lâminas que separam as estruturas da medula. o Dessas 10 lâminas presentes na medula, em questão de dor, a lâmina 2 é a que mais interessa, essa se localiza na substância gelatinosa. ▪ É o sítio de ação dos opioides. ▪ Recebe estímulos cutâneos e contém muitos interneurônios. ▪ É a mais importante para o tratamento da dor quando utiliza-se opioides. O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 4 o Lâminas 1 e 4 são os locais de convergência central entre os estímulos somáticos e viscerais. Isso manifestado clinicamente como dor referida. • Tratos da medula: o Trato espinotalâmico lateral ▪ Liga como núcleo póstero-lateral ventral do tálamo: informações discriminativas da dor (local, intensidade e duração). o Trato espinotalâmico medial ▪ Liga como núcleo medial do tálamo: percepções autonômicas e emocionais desagradáveis da dor. • Nociceptores o São os receptores que estão localizados nas periferias responsáveis por identificar e repassar os estímulos que serão interpretados no córtex cerebral. o Traduzem os estímulos nocivos ao nosso corpo e podem ser divididos em: o Mecanonociptores: ▪ Respondem à preensão e alfinetada. o Nociceptores silenciosos: ▪ Respondem a inflamação apenas, desencadeiam a liberação de interleucinas. o Nociceptores mecanotérmicos polimodais: ▪ São os prevalecentes e respondem à pressão excessiva, aos extremos de temperatura e a halógenos (bradicinina, histamina, serotonina, ATP, H+, e prostaglandinas). Tipos de dor • Relação da origem da dor: o Dor nociceptiva ▪ Dor relacionada ao estímulo dos nociceptores. ▪ Decorre de uma estimulação físico/química de terminações nervosas que estão normais. ▪ A dor nociceptiva pode ser classificada ainda em: • Dor somática quando ocorre no sistema osteomuscular, pele ou mucosas, sendo nestes casos o estímulo doloroso facilmente identificado. • Dor visceral que costuma ser uma dor referida e mal localizada. O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 5 o Dor neuropática ▪ Dor neuropático ocorre sempre que há lesão de algum nervo das vias periféricas ou centrais. ▪ Com isso, esta dor se irradia pelo território do nervo lesado, podendo ser percebida superficial ou profundamente (o paciente pode referir parestesia, queimação, hiperalgesia ou até mesmo alodínia quando a dor decorre de um estímulo não nocivo). ▪Exemplo: Neuropatia do trigêmio ocorre quando há lesão do trigêmio. o Dor mista ▪ Quando envolve os 2 componentes anteriores, normalmente definida como a dor oncológica que apresenta tanto componente nociceptivo quanto acometimento nervoso. • Tempo de surgimento da dor o Dor aguda ▪ Resolve normalmente em dias, com um evento que a originou identificado, sendo geralmente de origem nociceptiva. o Dor crônica ▪ Possui uma duração indeterminada, podendo ter tanto origem nociceptiva quanto neuropática. ▪ A definição de dor crônica como sendo dor > 3 meses não é mais aceita, pois temos alguns tipos de dor como por exemplo de uma incisão cirúrgica que depois de 1 mês não passou podemos considerar como crônica já. O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 6 Tratamento • O tratamento da dor sempre será melhor se for feito de forma combinada e não apenas medicamentoso, devemos abordar todos os aspectos relacionados a dor. o Medicamentoso. o Terapia física, psicossocial e educacional. o Terapias complementares. • Terapia medicamentosa o Mecanismo de ação dos medicamentos ▪ Nível central: • Opioides ▪ Nível do corno dorsal da medula • Anestésicos locais • Opioides ▪ Nociceptores periféricos • Anestésicos locais • Anti-inflamatórios • Escada analgésica da OMS o Ajuda a orientar o tratamento mais adequado para o paciente, onde podemos “graduar” a intensidade do meu tratamento para a dor do paciente. ▪ 1 – Dor fraca • Dipirona, paracetamol, AINES. ▪ 2 – Dor moderada • Dipirona, paracetamol, AINES, tramadol e codeína, ▪ 3 – Intensa • Morfina, fentanil Transdérmica o Medicações adjuvantes da dor: ▪ Anticonvulsivantes, antidepressivos. ▪ Podem entrar a qualquer momento do tratamento se o médico achar necessário. • Fármacos o Paracetamol ▪ Tipo de analgésico não-opioide ▪ Tem dose analgésica teto: 4mg/dia O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 7 ▪ Tem apenas apresentação via oral, sendo associado com muitas medicações, por isso sempre prestar atenção se o paciente já não toma paracetamol em casa para não haver superdosagem. ▪ Possui hepatotoxicidade. o AINES ▪ Inibem a síntese de prostaglandinas. ▪ Uso de curto período, de 5 – 7 dias. ▪ Todos tem dose teto ▪ Risco de sangramento intestinal, lesão renal, disfunção plaquetária. ▪ Uso tópico para osteoartrose. o Opioides ▪ Agem no receptor opioide UM, KAPPA e delta. ▪ O receptor UM é acoplado a proteína G. ▪ Usados para dor nociceptiva e neuropática. ▪ Não tem dose teto, mais importante, os parâmetros que temos que utilizar são seus efeitos colaterais. ▪ Idosos são mais sensíveis a sua atividade analgésica. ▪ Força dos opioides • Fracos o Tramadol o Codeína o Hidrocodona • Gold standard o Morfina • Fortes o Fentanil ▪ Farmacocinética • Hidrofílicos o Morfina, oxi e hidrocodona. o Possuem volume de distribuição menor, ou seja, quando para a infusão, o efeito fica por menos tempo no paciente. • Lipofílicos o Fentanil e metadona o Possuem maior volume de distribuição, ou seja, quando para a infusão o paciente fica mais tempo sob a ação do medicamento. ▪ A escolha do opióide depende da via de administração disponível e da necessidade de ser contínuo ou intermitente, exemplo da MORFINA: • Via oral o 60-90 min. • Via EV o 6-10 min • Via IM o 30 min ▪ Morfina • Disponível via oral (comprimido e liquido), tópico, sublingual parenteral, intratecal, epidural e retal. • Metabolismo hepático e excreção renal. • Não dialisável. • Biodisponibilidade 30-40% via oral, devemos pensar nessa biodisponibilidade da via oral do paciente quando vamos passar a morfina do EV para a via oral, pois temos O CIRCO RESUMO ANESTESIOLOGIA Assunto: Dor 8 que aumentar 3x a dose da via oral em comparação com a dose EV para ter a mesma quantidade no sangue do paciente. • M6G é o metabólito ativo com atividade analgésica. • M3G é o metabolito que causa neurotoxicidade e euforia. • Altas doses podem causar mioclonia e hiperalgesia. ▪ Fentanil • Sem metabolitos ativos. • Não dialisável • Idoso são mais sensíveis aos efeitos (lipofílicos) • Não está claro como a via Transdérmica é afetada pela diminuição da gordura. o Efeitos colaterais dos opioides ▪ Náusea ▪ Depressão do SNC/sedação ▪ Prurido ▪ Delírio ▪ Constipação • Outras medicações associadas ao tratamento da dor o Antidepressivos tricíclicos ▪ O ideal é evitar utilizar eles por conta dos efeitos colaterais importantes. ▪ Utilizar preferencialmente a nortriptilina. ▪ Observar os efeitos colinérgicos. ▪ Ciclobenzaprina deve ser usada com cuidado!! • Ele tem efeito de sedação, tem que usar com cuidado, ainda pois é vendido sem receita na farmácia. o Inibidores da recaptação de serotonina ▪ Duloxetina, Sertralina, Venlafaxina, fluoxetina ▪ Efeitos colaterais: Aumento da PA, tontura, perda cognitiva e ataxia ▪ CUIDADO: Crise serotoninérgica se associado com tramadol. o Anticonvulsivantes ▪ Gabapentina (bloqueador de canal de cálcio) • Pode dar sedação, ataxia, edema periférico • Cuidar com o clearance de creatinina do paciente: o 30-50 – 600mg/2x ao dia. o 15-29 – 300mg/2x ao dia. o