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1 PROBLEMA 4: HÁ O QUE FAZER TEMA CENTRAL: DOR ONCOLÓGICA OBJETIVOS 1. Descrever a dor oncológica (fisiopatologia, aspectos clínicos); 2. Conhecer as escalas para dor oncológica; 3. Entender a escala analgésica da dor segundo OMS; 4. Compreender o mecanismo de ação dos opioides (fracos, moderado e fortes) e suas indicações; 5. Diferenciar tolerância e dependência dos analgésicos opioides; 6. Conhecer as medidas intervencionistas para o controle da dor refratária; 7. Elucidar a necessidade dos cuidados paliativos no tratamento da dor crônica (oncológica) e a necessidade de indicação precoce. FECHAMENTO – OBJETIVOS 1. DESCREVER A DOR ONCOLÓGICA (FISIOPATOLOGIA, ASPECTOS CLÍNICOS); • De acordo com a International Association for the Study of Pain, a dor é uma experiencia sensitiva e emocional desagradável devido uma lesão tecidual. • É um sintoma que acomete aproximadamente 50 a 70% dos pacientes oncológicos em qualquer estágio da doença, sendo um dos sintomas mais prevalentes e incapacitantes. • A avaliação é difícil, pois a sensação é multifatorial e subjetiva, envolvendo experiências e aspectos individuais como: emoções, espiritualidade, cultura e psicológico. • A maior parte dos pacientes oncológicos sofrem com a dor crônica (maior que três meses) contínua, podendo ter episódios de melhora ou piora. • A dor do câncer é descrita como “dor total”, pois é uma síndrome em que, além da nocicepção, outros fatores físicos, emocionais, sociais e espirituais influem na gênese e na expressão da queixa. o Dimensão física: presença da dor física e dos efeitos indesejáveis, sendo agravada pela insônia e fadiga crônica. o Dimensão psíquica: é afetada já pelo atraso do diagnóstico no início da doença, pelo insucesso terapêutico esperado ou declarado, desfiguração causada pelo avanço da doença, medo da dor e/ou da morte, sentimento de desamparo. o dimensão psicológica: é afetada pelas evidentes preocupações familiares e econômicas, perda do emprego, do prestígio e dos rendimentos. o Dimensão espiritual: diz respeito às questões mais íntimas do ser humano e é retratada pelas questões que ele faz a si e aos amigos/parentes próximos, incluindo a crença em Deus. • Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor atinge de 60% a 80% das pessoas com câncer. Desse grupo, de 25% a 30% das pessoas sentem dor já na fase de diagnóstico, e de 70% a 90% em fases mais avançadas da doença. 2 FISIOPATOLOGIA • Trato paleoespinotalâmico - transmissor das dores lentas e crônicas § Transmite a dor em sua maioria a partir das fibras de dor lenta-crônica (fibras C), mas também estimula as fibras de dor rápida-aguda (fibras Aδ); § As fibras tipo C vão terminar basicamente na lâmina II e III dos cornos dorsais, chamada substância gelatinosa, o sinal vai para os neurônios adicionais de fibras curtas, que a partir da lâmina V vão dar origem a axônios longos > Esses se juntam as fibras da dor aguda, passando para o lado oposto da medula, subindo pela via anterolateral. E termina difusamente no tronco-encefálico > A partir das áreas de dor do tronco encefálico, múltiplos neurônios de fibras curtas retransmitem os sinais da dor para cima, para os núcleos intralaminares e ventrolateral do tálamo e para certas porções do hipotálamo e outras regiões adjacentes do encéfalo basal § As fibras C entram na medula espinhal e secretam transmissores (glutamato e substância P), sendo que o transmissor glutamato atua instantaneamente e dura alguns milissegundos. § Já a substância P é liberada muito mais lentamente, aumentando sua concentração com o tempo. DE ACORDO COM O TRATADO DE DOR • A dor oncológica segue o mesmo processo neurofisiológico da dor não oncológica. • Este processo de nocicepção envolve a ativação dos aferentes sensoriais por estímulos nociceptivos persistentes, transdução, transmissão, modulação e percepção. • Os estímulos causados pela lesão tecidual ativam os neurônios aferentes primários chamados nociceptores, encontrados na pele, músculos, articulações e alguns órgãos viscerais. • Os nociceptores são receptores de alto limiar que permanecem silenciosos até serem significativamente estimulados. • A maioria dos nociceptores é polimodal, e responde a estímulos térmicos, físicos e químicos. • Os corpos das células neuronais estão localizados dentro das lâminas superficiais dos gânglios da raiz dorsal e dos gânglios trigeminais. • Uma vez despolarizada, a transmissão ocorre proximalmente através das fibras mielinizadas A-d (rápidas) ou pelas fibras C não mielinizadas (lentas). • lnterneurônios dentro das lâminas I e II do corno dorsal amplificam ou atenuam a neurotransmissão. • Os axônios aferentes terminam na lâmina I ou lI e os neurônios aferentes de segunda ordem atravessam a linha média, e ascendem até o tronco encefálico e o tálamo no quadrante anterolateral da metade contralateral da medula espinhal. • Juntamente com os axônios dos neurônios de segunda ordem da lâmina I, estas fibras formam o trato espinotalâmico, que é a principal via ascendente que permite obter informações sobre a dor e a temperatura. • As fibras sensoriais associadas a respostas afetivas também ascendem na medula dorsolateral contralateral ao tálamo mediano ou tronco cerebral, e então, ao córtex • cingulado e ao lobo límbico. 3 • Já a modulação descendente ocorre através da medula cinzenta periaquedutal e da medula ventral rostral com axônios que atravessam o funículo lateral dorsal. • Estas estruturas modulam a dor diretamente por conexões dos neurônios aferentes secundários no corno dorsal ou através de conexões com interneurônios nas lâminas I ou II. • A neuroquímica de todos estes processos envolve múltiplos neurotransmissores incluindo endorfinas, prostaglandinas, ácido y-aminobutírico (GABA), canabinoides e muitos outros, que são alvos para fármacos analgésicos. • A complexidade dos processos neurofisiológicos e neuroquímicos envolvidos na dor oncológica exige que a anamnese, exame físico completo e exames subsidiários sejam usados para avaliar os mecanismos fisiopatológicos e etiológicos envolvidos. ASPECTOS CLÍNICOS CAUSAS DA DOR ONCOLÓGICA DE ACORDO COM O TRATADO DA DOR • A dor oncológica é um dos principais sintomas relatados pelos pacientes. • Ela pode ser dividida em três categorias: causada pelo próprio tumor (sendo ele primário ou suas metástases), causada pelo tratamento ou métodos de investigação, ou ainda não relacionado à neoplasia. o Sabe-se que a intensidade álgica varia com a localização do tumor primário e de suas metástases, da evolução da doença e dos aspectos individuais de cada paciente citados anteriormente. • O paciente oncológico pode apresentar dor originada de qualquer uma das seguintes condições: • A dor do câncer está associada a várias alterações dos neuromoduladores da dor. • A compressão do tumor e a lise das membranas ocasionam a liberação de substâncias captadas pelo SNC > provoca desequilíbrio entre excitatórios e inibitórios > desse 4 processo pode haver lesões nas próprias fibras de condução da dor > vai acarretar alterações sensíveis a resposta ao tratamento antiálgico farmacológico escolhido. CLASSIFICAÇÃO DA DOR ONCOLÓGICA - DE ACORDO COM O TEMPO • A dor pode ser classificada de acordo com a periodicidade dos sintomas e com a fisiopatologia envolvida. Classicamente, a dor relacionada ao tempo de início dos sintomas é dividida em aguda e crônica, e também pode ser disruptiva: • Dor aguda: é autolimitada e está relacionada ao dano tecidual direto por determinada intervenção, como pelo trauma do pós-operatório. o Também envolve a via nociceptiva que é estimulada diretamente pelos receptores da dor. o A dor aguda costuma ser bem controlada com a resolução da causa base. o É aquela de início recente (dias ou poucos meses), tendo a duração inferior a 30 dias, geralmenterelacionada à inflamação (traumatismos ou cirurgias) e que cessa com a cicatrização dos tecidos. Ela é o sintoma da doença, o que significa que, ao ser identificada e removida, cessará a dor. • Dor crônica: também chamada de dor persistente, é caracterizada por duração indeterminada e, frequentemente, está associada à inflamação crônica ou lesão neuropática, induzindo alterações permanentes no sistema nervoso central e periférico. o é a dor que tem duração superior a 30 dias e não cessou após o término do processo de cicatrização, ou aquela que persiste por meses. • Além disso, pode ser uma dor disruptiva: é classificada como um pico de dor incidental, de forte intensidade, limitante e com duração estimada de até 60 minutos, sendo mais frequente em pacientes com doença avançada e em vigência de tratamento paliativo. o Cerca de 75% dos pacientes com dor crônica apresentam também esse tipo de dor. o Ela pode ser desencadeada por efeito adverso de medicamentos para tratamento oncológico ou por atividades corriqueiras, porém, na maioria das vezes, ela é de caráter idiopático. o A dor disruptiva rotineiramente exige dose adicional de analgésicos “de resgate”, ou seja, uma dose caso haja piora inesperada da dor não controlada pela analgesia de base. É importante que a equipe de cuidado do paciente oncológico contabilize a dor disruptiva como parte do tratamento para a prescrição adequada da analgesia. DE ACORDO COM O TRATADO DA DOR • A dor relacionada ao câncer deve ser entendida como um fenômeno complexo, dinâmico e multidimensional, que envolve diversos mecanismos (inflamatórios, isquêmicos, neuropáticos e compressivos) em múltiplos locais, de forma heterogênea e flutuante, e que é modificado pelo humor, expectativas, aspectos históricos, genéticos e culturais - além de ser um dos sintomas mais comuns e temidos na doença avançada. • O paciente oncológico com frequência apresenta mais de um tipo de dor ao mesmo tempo. • Alguns tipos de dor podem ou não ter relação temporal direta com um evento desencadeante (por exemplo, uma cirurgia ou constipação intestinal), outros tipos surgem dias ou meses após um evento inicial e agravam-se com o passar do tempo (por exemplo, nas neuropatias induzidas por quimioterapias), outros podem ser constantes, 5 intermitentes, ou relacionados a movimentos ou situações específicas, e até mesmo resultar de fatores fisiológicos específicos. o Estas informações são importantes e devem constar na anamnese do paciente. • Quando presentes, a dor psíquica e o sofrimento psíquico existencial não podem ser ignorados. • O controle adequado da dor oncológica é um dos pontos cruciais do tratamento do câncer, contribuindo para a paliação de outros sintomas de ordem física ou psicológica. • A dor não controlada torna-se incapacitante e interfere sobre os processos de enfrentamento, adaptação e qualidade de vida. • A relação entre dor e bem-estar psicológico é complexa e recíproca, e deve ser valorizada no cuidado global ao paciente. CLASSIFICAÇÃO DA DOR ONCOLÓGICA – CONFORME O MECANISMO DA DOR • As fisiopatologias comumente inferidas na dor oncológica são a nociceptiva, a neuropática, psicogênica e mista. o Os distúrbios que não podem ser categorizados são considerados idiopáticos. • A dor nociceptiva é decorrente de lesão aguda ou persistente dos tecidos somáticos ou viscerais. Pode ser dividida em visceral e somática: o A dor nociceptiva somática como "dolorida", em "punhalada" e "latejante". § Este tipo de dor costuma envolver lesões em regiões dos ossos, articulações e músculos. o Já a dor nociceptiva visceral resulta da lesão de vísceras, é pobremente localizada e é caracterizada como em cólicas ou como em "roendo" caso envolva uma víscera oca, como por exemplo, na obstrução intestinal. § Este tipo de dor pode ser descrito também como dolorida, em punhalada ou "roendo" de forma semelhante à dor somática nociceptiva, caso envolva outras estruturas viscerais como órgãos capsulares e o miocárdio. § A dor do tipo visceral é frequentemente referida para regiões somáticas, devido à convergência sobre aferências somáticas dentro dos gânglios da raiz dorsal e corno dorsal. • As síndromes de dor neuropática são variadas e sugerem lesões ao sistema nervoso periférico ou central. o Periférica: causada por injúria e dor ao longo dos nervos periféricos. Caracteriza-se frequentemente por sensação de adormecimento e formigamento das áreas afetadas; o Central: causada pela sensação de irradiação e pontada acompanhada de queimação e dor; o Simpática: dor central generalizada, causada por desregulação autonômica, referida como síndrome da dor regional complexa. o Estas síndromes de dor neuropática são frequentemente associadas com dor referida (a dor é percebida em um local que não é a fonte da dor), alodínea (dor induzida por estímulo não doloroso), hiperpatia (resposta exagerada à dor causada por estímulo nociceptivo), ou disestesia (sensação anormal desagradável em uma área de déficit neurológico). o A dor segue a distribuição de nervos motores, sensoriais ou autonômicos, exceto quando a dor é funicular ou central, causando dor em queimação ou lancinante 6 em uma área de sensibilidade reduzida ou ausente - como ocorre, por exemplo, em pacientes com lesões da medula espinhal. • A dor psicogênica refere-se à dor predominantemente sustentada por fatores psicológicos, e, embora rara em pacientes oncológicos, sua investigação exige avaliação detalhada da saúde mental. o As questões psicológicas e psiquiátricas contribuem na experiência da dor e podem agravar não apenas a dor, mas também ao sofrimento relacionado à dor. • Mista: possui componentes de dor neuropática e nociceptiva. o Um exemplo de dor mista é a dor oncológica, casos em que não há somente compressão de nervos e raízes (gerando dor neuropática), mas também de ossos, facetas, articulações e ligamentos (estruturas musculoesqueléticas), gerando a dor nociceptiva. QUADRO CLÍNICO Pode ser compreendido através de síndromes de dor aguda e de dor crônica SÍNDROME DE DOR AGUDA • Quando a causa está relacionada a terapias antineoplásicas, como quimioterapia, tratamentos hormonais, imunoterapia e radioterapia, os possíveis desdobramentos são: mucosite, neuropatias, enterites, proctite, cistite, artralgia, mialgia, angina, dor óssea difusa, Síndrome Flare e eritrodisestesia palmo-plantas (Síndrome mão-pé). • Já quando a causa está associada a procedimentos, o paciente pode ter uma cefaleia após punção lombar, uma dor após a realização de uma biópsia, ou, por exemplo, uma dor secundária a intervenções terapêuticas, como uma paracentese, uma passagem de tubo torácico, uma passagem de stent ou uma embolização vascular. • Por fim, a dor aguda pode estar associada ao próprio câncer quando ocorre uma hemorragia intramural, uma fratura patológica, uma obstrução ou perfuração de víscera oca ou um tromboembolismo venoso. 7 SÍNDROME DA DOR CRÔNICA • Uma das causas é a dor nociceptiva somática devido à metástases ósseas que pode-se desdobrar com dor óssea multifocal, com síndrome da dor vertebral na compressão peridural da medula espinal, com síndrome dolorosa relacionada à pelve e ao quadril e à própria base do crânio. • A dor nociceptiva somática pode ocorrer também devido ao envolvimento de partes moles como uma dor facial e cefaléia, dor nos ouvidos, dor nos olhos, dor pleural e câimbras musculares. • Já a dor nociceptiva visceral devido à neoplasia tem como possíveis desdobramentos a síndrome de distensão hepática, a obstrução intestinal crônica, a síndrome retroperitoneal da linha média, a dor perineal maligna e a obstrução uretérica. • Outra dor crônica que pode ocorrer devido à neoplasia, é a dor neuropática que tem como possível desdobramento as radiculopatias, as mononeuropatias, as plexopatias, as neuralgias eas neuropatias periféricas. • Por fim, é importante lembrar que as próprias terapias antineoplásicas, como quimioterapia, radioterapia, tratamento hormonais e cirurgias, além de serem causas de síndromes de dor aguda, também pode ser causas de síndromes de dor crônica e podem ter a neuropatia periférica, a dor do membro fantasma, a dor crônica pós-cirúrgica, a mielopatia, a plexopatia, a enterite e proctite crônicas por radiação, a dor do linfedema e a osteorradionecrose como possíveis desdobramentos. 2. CONHECER AS ESCALAS PARA DOR ONCOLÓGICA; DE ACORDO COM O LIVRO – DOR - LANGE • Em geral, a avaliação da dor começa com a triagem, que utiliza uma das ferramentas unidimensionais disponíveis, como a Escala de 0 a 10 de Intensidade da Dor. • Se os pacientes não conseguirem utilizar essa escala, as opções disponíveis são as escalas de termos descritivos verbais (dor ausente, leve, dor moderada ou dor intensa grave). • Todos os pacientes que sentem dor, mesmo que leve, devem passar por uma avaliação cuidadosa. • O INVENTÁRIO SUCINTO/BREVE DA DOR (BRIEF PAIN INVENTORY) é um instrumento de avaliação da dor válido e clinicamente útil e tem sido amplamente utilizado em pacientes com câncer. Esse instrumento inclui um diagrama para assinalar a localização da dor, perguntas referentes à intensidade da dor (atual, média e pior, com base em uma escala de 0 a 10) e também itens que aferem o grau de limitação causada pela dor. • Inventário Breve de Dor (Brief Pain Inventory – BPI): instrumento multidimensional, que faz uso de uma escala de 0-10 para graduar os seguintes itens: intensidade, interferência da dor na habilidade para caminhar, atividades diárias do paciente, no trabalho, atividades sociais, humor e sono. • A dor avaliada pelo paciente é aquela presenciada no momento do questionário e também a mais intensa, a menos intensa e a média da dor das últimas 24 horas. 8 • Como a dor não existe isoladamente e é comum encontrar um conjunto de sinais e sintomas nos pacientes com câncer, a abordagem abrangente deve incluir mais do que a própria dor. • Foram desenvolvidos vários instrumentos para avaliação clínica de diversos sinais e sintomas, inclusive a Escala de Edmonton de Avaliação dos Sintomas (Edmonton Symptom Assessment Scale), o Inventário dos Sintomas de MD Anderson (MD Anderson Symptom Inventory), a Escala de Avaliação Memorial dos Sintomas (Memorial Symptom Assessment Scale) e outros. • O instrumento recém-desenvolvido conhecido como “Termômetro de Sofrimento” é uma escala analógica visual vertical desenhada para parecer um termômetro, no qual 0 significa “sem sofrimento” e 10 (na parte superior do termômetro) indica “sofrimento extremo”. • Junto com o termômetro, há uma lista de verificação que inclui vários aspectos físicos, psicológicos, práticos, de suporte familiar e espirituais/religiosos. • Esses são instrumentos sucintos e clinicamente úteis que quantificam a intensidade de vários sinais e sintomas comuns nos pacientes que têm câncer. • Esses instrumentos facilitam a avaliação sistemática da dor e dos outros sintomas e, ao mesmo tempo, ajudam o médico a desenvolver um plano de tratamento. ___________________ As escalas de dor dão subsídios para que os profissionais identifiquem as alterações presentes nos pacientes usando assim a intervenção adequada. É um instrumento que norteia as ações, objetivando melhorar a condição do paciente, segundos estudos, as escalas mais usadas em oncologia são as seguintes: • ESCALA VISUAL VERBAL NUMÉRICA (EVN) o Esta escala mensura a intensidade da algia que o indivíduo sente, em valores numéricos. O paciente nesta fase deve estar consciente, além de saber referir sua dor em uma escala de zero a dez, sendo que zero é "sem dor", e dez “dor máxima imaginável". • ESCALA VISUAL ANALÓGICA (EVA) o É semelhante à EVN; mas, deve ter o contato visual do paciente diretamente com a escala, o paciente tem que ter a capacidade de sinalizar ao profissional da saúde, o grau que está a sua dor. Pode utilizar uma régua numérica com dez centímetros, apresentada de forma simples ou ter um apelo visual, com cores, porém é importante a percepção do paciente, para que ele entenda que uma “0” significa "sem dor" e “10” indica "dor máxima" conforme figura abaixo, segundo estudos realizados com pacientes de unidades de terapias intensiva, essa escala também exige que todo paciente esteja sempre orientado e com boa capacidade cognitiva e acuidade visual. • LEEDS ASSESSMENT OF NEUROPATHIC SYMPTOMS AND SIGNS – LANSS E o É um instrumento capaz de distinguir com boa confiabilidade o tipo da dor podendo ser de predomínio nociceptivo, neuropático ou misto, já existindo validação para o português do Brasil. A escala vai de zero (0) a vinte e quatro (24) pontos e consta de duas seções: uma que explora os aspectos qualitativos e outra os aspectos sensitivos da dor. 9 • A escala EVA e a LANSS são usualmente aplicadas uma semana após o início do tratamento e antes da troca do medicamento. • ESCALA FACES DE DOR (EFD) o Nesta escala, se avalia as expressões faciais que o paciente apresenta e reflete a intensidade da dor sentida. O paciente precisa ser orientado para indicar qual figura está relacionada com a dor sentida. Sendo de zero a cinco, sendo que zero é "sem dor", e cinco é "dor insuportável” • ESCALA PAIN ASSESSMENT IN ADVANCED DEMENTIA - PAINAD o É uma escala baseada no estado comportamental e fisiológico do paciente, na avaliação desses fatores que engloba a vocalização e respiração, linguagem corporal, expressão facial e necessidade de consolabilidade, com uma pontuação que pode variar entre 0 a 2 para cada área (que são cinco a serem avaliadas), sendo que 0 (zero) é a menor intensidade e 2 (dois) é a maior. Baseada em uma escala, que varia de 0 a 10 pontos o total. De acordo com estudos realizados, se interpreta da seguinte maneira: 1 a 3 pontos é considerada dor leve, 4 a 6 pontos é considerada dor moderada, e 7 a 10 pontos é considerada dor severa. 10 • ESCALA MCGILL o É classificada como uma escala multidimensional, é a junção da escala de dor, com fatores unidimensionais, possui no total 78 descritores, ela classifica a dor em 3 dimensões: avaliativa, afetiva e sensorial e inclui a localização e a intensidade da algia relatada pelo paciente. o Na dimensão afetiva se avalia a experiência e qualidade da dor (como a tensão, medo), dimensão sensorial é descrito a dor em termos temporais (temperatura, pressão). A avaliativa descreve a dor de forma holística. Para utilizar o questionário McGill é preciso que o paciente seja orientado, o profissional deve ler as opções e o paciente deve escolher a que represente sua dor, no final é preciso realizar a soma e descrever. 3. ENTENDER A ESCALA ANALGÉSICA DA DOR SEGUNDO OMS; • É composta por 3 degraus e preconiza o uso combinado de medicamentos em cada degrau. • E sugere a organização e padronização do tratamento analgésico da dor. o 1° degrau: Recomenda uso de medicamentos analgésicos simples e anti- inflamatórios - Dipirona, Paracetamol, AINES; § consiste na primeira linha da analgesia, e deverá ser sempre constituído pelos analgésicos não opioides. São normalmente suficientes para o controle da dor com intensidade leve a moderada e poderão ser reforçados pela utilização concomitante de fármacos adjuvantes. 11 o 2° degrau: Opioides fracos – tramadol. Codeína, que podem ser associados a analgésicos simples ou anti-inflamatórios para dores moderadas. § é utilizado perante a persistência de dor, ou insucesso da terapêutica instituída no primeiro passo e, neste caso, deverão ser iniciados os opioide de menor potência analgésica, que poderão ser associados aos não opioide e aos fármacos adjuvantes. o 3° degrau: Opioides fortes – morfina, metadona, fentanil, oxicodona-, associadosou não aos analgésicos simples ou antiinflamatórios para dores fortes § é utilizado persistindo a situação de dor, resta o recurso aos opioides de maior potência analgésica, mantendo-se a possibilidade de se associarem os não-opioides e os fármacos adjuvantes. o Observação: Opções para titulação dose opióide em pacientes com dor aguda: Morfina 2mg EV ou SC ou morfina 5 mg VO a cada reavaliação (tempo para reavaliação : 10 a 20 minutos; tempo máximo: 60 minutos) até alívio da dor ou Escala de Sedação ≥ 2. • Os adjuvantes podem ser usados nos 3 degraus da escada • A escada de três degraus indica classes de medicamentos e não fármacos específicos, proporcionando ao médico flexibilidade e possibilidade de adaptação de acordo com as particularidades de seu paciente. • Curiosidade: • Aproximadamente 20% dos pacientes não respondem à terapia farmacológica. • Segundo a OMS, o uso de opioides está associado com um número elevado de Reações Adversas ao Medicamento (RAM ́s). • Por este motivo, para estes pacientes existem propostas de criação de um quarto degrau que inclui, entre outras opções terapêuticas, a neuromodulação, como por exemplo, estimulação medular, implante de bomba de infusão de fármacos, rizotomia por radiofrequência, estimulação cortical motora e magnética transcraniana. PRINCÍPIOS DA ESCADA ANALGÉSICA DA OMS • Pela Escada: • Para dores agudas e dor crônica agudizada: usar a escada de forma descendente, ou seja, usar o terceiro ou segundo degrau nos primeiros dias de hospitalização ou após cirurgias/procedimentos dolorosos de acordo e as escalas de mensuração de dor e associados a técnicas de analgesia ou anestesia regional em princípios de analgesia multimodal. Nos dias subsequentes ao trauma tecidual, descer a escada analgésica da OMS. • Para dores crônicas: Inicia-se pelo primeiro degrau para dores fracas. Quando não ocorre alívio da dor, adiciona-se um opioide fraco para a dor de intensidade leve a moderada (segundo degrau). Quando esta combinação é insuficiente deve-se substituir este opioide fraco por um opioide forte. Somente um medicamento de cada categoria deve ser usado por vez. Os medicamentos adjuvantes devem ser associados em todos os degraus da escada, de acordo com as indicações específicas (antidepressivos, anticonvulsivantes, neurolépticos, bifosfonados, corticosteróides, etc.). • Via oral o De preferência via oral 12 • Vias alternativas - retal, transdérmica ou parenteral podem ser uteis em pacientes com disfagia, vômitos incoercíveis ou obstrução intestinal • intervalos fixos o Os analgésicos devem ser administrados a intervalos regulares de tempo. A dose subseqüente precisa ser administrada antes que o efeito da dose anterior tenha terminado. o A dose do analgésico precisa ser condicionada à dor do paciente, ou seja, inicia-se com doses pequenas, sendo progressivamente aumentada até que ele receba alívio completo, ou seja, titulação da dose opióide. INDIVIDUALIZAÇÃO • A dose correta dos opióides é a que causa alívio da dor com o mínimo de efeitos adversos. • Se a analgesia é insuficiente, o paciente deve ser reavaliado e deve-se subir um degrau da escada analgésica e não prescrever medicamento da mesma categoria. • A principal característica desta escada é a recomendação de prescrever analgésicos, basicamente, em função da sua potência analgésica e tipo de dor que o paciente acusa, assumindo, assim, uma utilização mais racional e individualizada no tratamento MEDICAMENTOS ADJUVANTES • Grupo heterogêneo de medicamentos que contribuem para o alívio da dor, tratam os efeitos adversos dos analgésicos e melhoram distúrbios psicológicos associados ao quadro clínico. RECOMENDAÇÕES • Não combinar 2 antiinflamatorios e não usá-los isoladamente por mais de 7 dias • Não associar dois opioides fracos • Dois opioides fortes só podem ser prescritos associados se um deles for utilizado como resgate 13 4. COMPREENDER O MECANISMO DE AÇÃO DOS OPIOIDES (FRACOS, MODERADO E FORTES) E SUAS INDICAÇÕES; MECANISMO DE AÇÃO • Os opióides atuam a nível celular ligando-se aos receptores opióides presentes em todo sistema nervoso central (SNC), especialmente no núcleo do trato solitário, área cinzenta periaquedutal, córtex cerebral, tálamo e substância gelatinosa da medula espinhal. • Receptores opióides podem também estar presentes em terminações nervosas aferentes periféricas e em diversos outros órgãos. • A eficácia de opióides administrados diretamente ao compartimento central é evidente, porém em caso de administração periférica em situações de pós-trauma ou estado inflamatório sua eficácia não é tão confiável. • Os receptores opióides são ligados às proteínas G inibitórias. • A ativação dessa proteína desencadeia uma cascata de eventos: fechamento de canais de cálcio voltagem dependentes, redução na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPs) e estímulo ao efluxo de potássio resultando em hiperpolarização celular. • Assim, o efeito final é a redução da excitabilidade neuronal, resultando em redução da neurotransmissão de impulsos nociceptivos. • Agonistas opióides puros (morfina, diamorfina, petidina, fentanil) apresentam alta afinidade com os receptores opióides e elevada atividade intrínseca a nível celular. • Agonistas parciais (buprenorfina, pentazocina) ao ligarem-se aos receptores opióides produzem efeito submáximo quando comparados aos agonistas puros. • Antagonistas opióides (naloxone, naltrexone) possuem afinidade com os receptores, porém nenhuma atividade intrínseca. __________ • A maioria dos opioides age pelo mesmo mecanismo de ação, a única exceção é o Tramadol (descrito logo adiante no texto). • Esse mecanismo consiste, basicamente, na ativação de receptores localizados no Sistema Nervoso Central (SNC): Mu – principal responsável pela ação analgésica -, Kappa e Delta. Esses receptores são acoplados à proteína G inibitória, que irá inibir a enzima adenilato ciclase e, por consequência, diminuirá a quantidade intracelular disponível de 3′,5′-monofosfato cíclico (AMPc). A redução do AMPc será a responsável por afetar significativamente a função celular do neurônio, pois causará abertura de canais de potássio, o que, por sua vez, irá hiperpolarizar os neurônios, deixando-os “inativos”. O efeito disso é a redução de sinapses e é isso o que paralisa a passagem de informações referente à dor. • Ressalta-se, ainda, que os opioides atuam em várias funções fisiológicas, como na modulação do Trato Gastrointestinal (TGI), no sistema endócrino e na aprendizagem e memória. • Os fármacos derivados do ópio atuam também no sistema de recompensa do SNC, causando euforia; uma vez que liberam dopamina no núcleo accumbens, inibindo a secreção de ácido gama- aminobutílico (GABA) pelos neurônios da área tegmentar ventral. 14 • Existe, também, um outro mecanismo descrito a nível celular, no qual os opioides promovem a inibição da transmissão GABAérgica em um circuito local, como o tronco cerebral, onde o GABA age inibindo o neurônio inibitório da dor. Essa ação inibitória do opioide tem o efeito de excitar o circuito inibitório descendente. RECEPTORES DE OPIOIDES • Os receptores são responsáveis pela maioria dos efeitos analgésicos dos opioides e por alguns dos principais efeitos adversos (p. ex., depressão respiratória, constipação intestinal, euforia, sedação e dependência) • A ativação dos receptores δ resulta em analgesia, mas também pode ser pró- convulsivante • Os receptores contribuem para a analgesia em nível espinal e podem causar sedação, disforia e alucinações. Alguns analgésicos são mistura de agonistas /antagonistas • Os receptores NOP também são membros da família de receptores opioides. A ativação resulta em efeito antiopioide (supraespinal), analgesia(espinal), imobilidade e dificuldade de aprendizagem • Os receptores não são receptores de opioides verdadeiros, mas são o local de alguns fármacos psicotomiméticos, com os quais alguns opioides também interagem • Todos os receptores opioides são ligados por intermédio de proteínas Gi/Go e, portanto, abrem os canais de potássio (causando hiperpolarização) e inibem a abertura dos canais de cálcio (inibem a liberação do transmissor). Além disso, eles inibem a adenilato ciclase e ativam a via das MAP quinases (EKR) • Os heterômeros funcionais, formados pela combinação de diferentes tipos de receptores opioides ou com outros tipos de receptor acoplado à proteína G, podem ocorrer e dar origem a uma futura diversidade farmacológica. • Os receptores opioides fazem parte do sistema opioide endógeno, que inclui um grande número de peptídeos opioides ligantes (encefalinas, endorfinas e dinorfinas) que parecem possuir o papel fisiológico de neurotransmissores, neuromoduladores e neurormônios. • Foi denominado mu (µ) àquele ativado pela Morfina, Kappa (k) ao estimulado pela Cetociclazocina e Sigma (σ) àquele ativado pela substância SKF 10047, sendo que mais tarde o receptor Sigma não foi considerado como receptor opioide. • Os receptores Kappa (k) tem como antagonista a Norbinaltorfimina, com potente ação. § receptores Kapa (k) possuem a função de nocicepção, termorregulação, controle da diurese e secreção neuroendócrina. Estão presentes no Hipotálamo, substância cinzenta periaquedutal, substância gelatinosa e no trato gastrointestinal. • Por outro lado, os receptores mu (µ) possui como antagonista a Naloxona. § receptores mu (µ), que regulam funções como a nocicepção, o ciclo respiratório e o trânsito gastrintestinal, estando localizados nas lâminas III e V do córtex cerebral, no tálamo, substância cinzenta periaquedutal, substância gelatinosa e trato gastrintestinal. • Posteriormente, um novo receptor foi identificado e foi chamado de Delta (δ), que possui como agonistas principais a Deltorfina (uma Endorfina), que tem baixa seletividade, mas alta especificidade, e o SIOM, derivado da Naltrexona – mais seletivo e potente. 15 § Os receptores Delta (δ) são responsáveis pela analgesia e por modular funções cognitivas e de dependência física. Localizam-se nos núcleos pontinhos, amígdalas, bulbo olfatório, córtex cerebral profundo e nos neurônios sensitivos periféricos. • Como antagonista da última substância, encontra-se o Naltridiol, sendo também oriundo da Naltrexona e sintetizado em laboratório. CLASSIFICAÇÃO DOS OPIÓIDES Existem diversas classificações para os opióides: • Tradicional: baseada na potência analgésica. o O grupo mais potente é composto por agonistas opióides puros, enquanto o grupo intermediário é composto por agonistas parciais. • Origem da droga: quanto à etiologia natural ou sintética. • Funcional: quanto à ação no receptor opióide. TERMINOLOGIA • Opioide: qualquer substância, endógena ou sintética, que produza efeitos semelhantes aos da morfina e que sejam bloqueados por antagonistas como a naloxona • Opiáceos: compostos como a morfina e a codeína que são encontrados na papoula • Analgésicos narcóticos: termo antigo para opioides; o termo narcótico refere-se à capacidade de induzir o sono. Infelizmente, esse termo foi subsequentemente sequestrado e inadequadamente utilizado por alguns para se referir aos fármacos com potencial abusivo. • Os agonistas estruturalmente relacionados mais importantes incluem diamorfina, oxicodona e codeína • Análogos sintéticos incluem petidina, fentanila, metadona, buprenorfina • Os analgésicos opioides podem ser administrados por via oral, parenteral ou intratecal, para produzir analgesia. 16 INDICAÇÕES São indicados para alívio de dores moderadas a intensas, particularmente de origem visceral. • Em cólica renal, tanto opioides quanto anti-inflamatórios não-esteroides (AINE) são recomendados para seu tratamento por induzirem significantes reduções de dor. • Dor: o Dor nociceptiva moderada a severa: § Cirúrgica § Dor oncológica § Crise de células falciformes o Enfarte agudo do miocárdio o Geralmente, a terapia com opioides só é indicada após a falha de medidas analgésicas mais conservadoras. o Dispneia (particularmente nos cuidados de fim de vida) o Tosse (codeína) o Diarreia (loperamida) o Anestesia antes da cirurgia o Tremor perioperatório 5. DIFERENCIAR TOLERÂNCIA E DEPENDÊNCIA DOS ANALGÉSICOS OPIOIDES; DE ACORDO COM RANG & DALE • Tolerância: Com a administração frequente e repetida de doses terapêuticas de morfina ou seus substitutos, observa-se uma perda gradual da eficiência, fenômeno conhecido como tolerância. • Quando isto ocorre, as tentativas de reproduzir a resposta analgésica original requerem a administração de uma dose maior (com sucesso variável). o Juntamente com a tolerância, ocorre desenvolvimento de dependência física. o A tolerância aos opioides é o fenômeno pelo qual doses repetidas de opioides apresentam uma dimiuição no efeito analgésico. o Clinicamente, tem sido descrita como uma necessidade de doses crescentes de opioides para obter a analgesia observada no início da administração de opioides. o Embora o desenvolvimento de tolerância já comece com a primeira dose de um opioide, ela pode só se tornar clinicamente manifesta depois de 2 a 3 semanas de exposição frequente a doses terapêuticas habituais. o Entretanto, foi constatado que o uso de analgésicos opioides ultrapotentes, como a remifentanila, em cuidados críticos e no perioperatório, provoca tolerância aos opioides dentro de poucas horas. o A tolerância desenvolve-se mais rapidamente quando são administradas altas doses a intervalos curtos, enquanto é minimizada pela administração de baixas doses a intervalos maiores. • A tolerância cruzada constitui uma característica extremamente importante dos opioides, isto é, pacientes com tolerância à morfina com frequência exibem redução da resposta analgésica a outros opioides agonistas. • Isso é particularmente verdadeiro no caso de fármacos com atividade agonista sobretudo nos receptores μ. 17 • A morfina e seus congêneres exibem tolerância cruzada não apenas em relação às suas ações analgésicas, mas também a seus efeitos euforizantes, sedativos e respiratórios. • Entretanto, a tolerância cruzada observada entre os agonistas dos receptores μ pode ser parcial ou incompleta. • Essa observação clínica levou ao conceito de “revezamento de opioides”, que tem sido utilizado durante muitos anos no tratamento da dor causada pelo câncer. • Assim, em um paciente que apresenta redução da eficiência de um esquema de analgésicos opioides, efetua-se um “revezamento” para um analgésico opioide diferente (p. ex., morfina substituída pela hidromorfona; hidromorfona substituída pela metadona); como resultado, o paciente normalmente exibe uma melhora significativa da analgesia com uma dose total equivalente reduzida. • Outra abordagem consiste em reacoplar a função dos receptores de opioides, conforme descrito anteriormente, por meio do uso de fármacos não opioides adjuvantes. • Antagonistas dos receptores NMDA (p. ex., cetamina) parecem promissores na prevenção ou reversão da hiperalgesia e da tolerância induzida por opioides em animais e humanos. • O uso da cetamina está aumentando, pois estudos bem controlados demonstraram uma eficácia clínica na redução da dor no pós-operatório e das necessidades de opioides em pacientes com tolerância a esses fármacos. • Os fármacos que aumentam independentemente a reciclagem dos receptores μ também podem ser promissores na melhora da analgesia em pacientes com tolerância a opioides. • A dependência física é definida por uma síndrome de abstinência característica quando o fármaco é interrompido ou quando se administra um antagonista. o O desenvolvimento de dependênciafísica acompanha invariavelmente a tolerância à administração repetida de um opioide do tipo μ. o A interrupção da administração do fármaco resulta em uma síndrome de abstinência característica, a qual reflete um efeito rebote exagerado dos efeitos farmacológicos agudos do opioide. o Os sinais e sintomas de abstinência consistem em rinorreia, lacrimejamento, bocejos, calafrios, arrepios (piloereção), hiperventilação, hipertermia, midríase, dores musculares, vômitos, diarreia, ansiedade e hostilidade. o O número e a intensidade dos sinais e sintomas dependem, em grande parte, do grau de dependência física que se desenvolveu. o A administração de um opioide nessa ocasião suprime quase que de imediato os sinais e sintomas de abstinência. o O momento de início, a intensidade e a duração da síndrome de abstinência dependem do fármaco previamente usado e podem estar relacionados com a sua meia-vida biológica. o No caso da morfina ou da heroína, os sinais de abstinência surgem geralmente dentro de 6 a 10 horas após a última dose. o Os efeitos máximos são observados em 36 a 48 horas, quando a maior parte dos sinais e sintomas começam a regredir de modo gradual. o Em 5 dias, a maioria dos efeitos já desapareceu, porém alguns podem persistir por vários meses. o No caso da petidina, a síndrome de abstinência regride, em grande parte, em 24 horas, ao passo que, com a metadona, são necessários vários dias para se alcançar o pico da síndrome de abstinência, cuja duração pode estender-se por até 2 semanas. 18 o O desaparecimento mais lento dos efeitos da metadona está associado a uma síndrome imediata de menor intensidade, que constitui a base de seu uso na desintoxicação de adictos de heroína. o Todavia, apesar da perda da dependência física do opioide, o desejo compulsivo pode persistir. o Além da metadona, a buprenorfina e a clonidina, um α2-agonista, constituem tratamentos aprovados pela FDA para desintoxicação de analgésicos opioides. o É possível induzir uma síndrome de abstinência explosiva transitória – abstinência precipitada por antagonistas – em um indivíduo com dependência física de opioides por meio da administração de naloxona ou outro antagonista. o Em 3 minutos após a injeção do antagonista, surgem sinais e sintomas semelhantes àqueles observados após a suspensão abrupta. o Esses sinais e sintomas tornam-se máximos em 10 a 20 minutos e desaparecem, em grande parte, depois de 1 hora. o Mesmo com a metadona, a síndrome de abstinência precipitada por antagonistas pode ser grave. o No caso de fármacos com efeitos mistos, os sinais e sintomas de abstinência podem ser induzidos após administração reduzida seguida de interrupção abrupta . o Isso vale para a pentazocina, ciclazocina ou nalorfina, cujos sintomas de abstinência são um pouco distintos daqueles conferidos pela morfina e outros agonistas e incluem: sintomas de ansiedade, perda do apetite e peso corporal, taquicardia, calafrios, aumento da temperatura corporal e cólicas abdominais. MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO DA TOLERÂNCIA E DA DEPENDÊNCIA O mecanismo de desenvolvimento da tolerância e da dependência física não está bem elucidado, porém a ativação persistente dos receptores μ(mu), como a que ocorre com o tratamento da dor crônica intensa, parece desempenhar uma função primária na sua indução e manutenção. • Os conceitos atuais afastaram-se da ideia de a tolerância ser impulsionada por uma simples regulação positiva do sistema de monofosfato de adenosina cíclico (AMPc). § Embora esteja associado à tolerância, esse processo não é suficiente para explicá-la. • Uma segunda hipótese para o desenvolvimento de tolerância e dependência aos opioides baseia-se no conceito de reciclagem do receptor. • Normalmente, a ativação dos receptores μ por ligantes endógenos resulta em endocitose, seguida de ressensibilização e reciclagem do receptor para a membrana plasmática. • Entretanto, com o uso de camundongos geneticamente modificados, as pesquisas mostram que a incapacidade da morfina de induzir a endocitose do receptor opioide μ constitui um importante componente da tolerância e da dependência. • Para sustentar essa ideia, a metadona, um agonista dos receptores μ usado para o tratamento da tolerância e dependência de opioides, induz a endocitose dos receptores. • Isso sugere que a manutenção da sensibilidade normal dos receptores μ exige uma reativação por endocitose e reciclagem. • O conceito de desacoplamento do receptor também adquiriu uma posição de destaque. 19 • De acordo com essa hipótese, a tolerância resulta de uma disfunção das interações estruturais entre o receptor μ e as proteínas G, os sistemas de segundos mensageiros e seus canais iônicos-alvo. • O desacoplamento e o reacoplamento do receptor µ estão provavelmente ligados à reciclagem do receptor. • Além disso, o complexo de canais iônicos-receptor NMDA parece exercer uma importante função no desenvolvimento e na manutenção da tolerância. • De acordo com essa hipótese, os antagonistas dos receptores NMDA, como a cetamina, poderiam bloquear o desenvolvimento de tolerância. • Embora não se tenha ainda definido com clareza um papel na endocitose, o desenvolvimento de novos antagonistas do receptor NMDA ou de outras estratégias para reacoplar os receptores μ a seus canais iônicos-alvo proporciona a esperança de se obter um meio clinicamente efetivo para impedir ou reverter a tolerância aos analgésicos opioides. 6. CONHECER AS MEDIDAS INTERVENCIONISTAS PARA O CONTROLE DA DOR REFRATÁRIA; • O tratamento intervencionista da dor é indicado quando os do tipo farmacológico não promovem analgesia eficaz, com base na Escada Analgésica da OMS, ou quando os efeitos adversos se tornam intoleráveis. • Os tratamentos intervencionistas consistem em diversas técnicas minimamente invasivas para a dor, realizadas por meio da aplicação de técnicas percutâneas (por exemplo: neuroablativas e neuromoduladoras), independentemente ou em conjunto com outras modalidades de tratamento. • Existem duas categorias principais de procedimentos minimamente invasivos para o controle das dores oncológicas: as técnicas neuroablativas e as não ablativas. o Nas neuroablativas, o sistema nervoso não é preservado, sendo realizadas interrupções das vias nociceptivas, seja por meios cirúrgicos, químicos ou térmicos. o Nas neuromoduladoras ou não ablalativas, o sistema nervoso é preservado. • A neuromodulação é a inibição dinâmica das vias nociceptivas pela administração de opioides e outros fármacos, por via espinhal, ou por técnicas de estimulação. • Os benefícios desses procedimentos são o aumento da qualidade de vida e a satisfação do paciente. • Além da não resposta efetiva a outros tratamentos preconizados pela Escala Analgésica da OMS, fatores como localização, tipo de dor, causa, evolução da doença, aspectos emocionais e tempo de sobrevida são critérios importantes para definição das técnicas intervencionistas a serem utilizadas, visando maximizar sua eficácia. TIPOS DE INTERVENÇÕES • INTERVENÇÕES ÚNICA § Bloqueios de nervos periféricos: Uma única injeção ou serie de injeções de anestésico local com ou sem corticosteroides, é uma forma de tratar a dor relacionada ao câncer. O aumento do conforto do paciente, apesar da redução da dose de medicação oral e intravenosa, reduz os efeitos colaterais dessas medicações, como o prejuizo na cognição, fadiga, comprometimento respiratório e constipação. Uma 20 agulha é avançada para a bainha neural e anestésico local é injetado de forma direcionada com posterior analgesia na distribuição neurossensorial. As injeções podem ser repetidas. Entretanto, os resultados no controle da dor tendem a ser progressivamente menores § Neurolise com agentes químicos ou físicos: Uma agulha é avançada para a bainha neural e anestésico local é injetado de forma direcionadacom posterior analgesia na distribuição da via neurossensorial. As injeções podem ser repetidas. Entretanto, os resultados no controle da dor tendem a ser progressivamente menores. • INTERVENÇÕES NEUROAXIAIS CONTÍNUAS • A administração de medicamentos neuroaxiais através de cateteres epidurais e intratecais tem como vantagem a redução da dose de analgésicos opioides em comparação com a dose via oral necessária para obter analgesia equivalente. • Essa redução propcia a diminuição dos efeitos secundários desagradáveis, incluindo desaceleração cognitiva, transtornos gastrointestinais, constipação e depressão respiratória. • Atualmente sabe-se que três medicamentos são aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) para a via intratecal: morfina, ziconotida e baclofeno. o reabastecimento de bomba intratecal de infusão de fármacos o bloqueios anestésicos N o radiofrequência convencional ou pulsada o neurólises químicas o implantação de sistemas implantáveis para analgesia o rizotomia § consiste em interromper a função dos nervos sensitivos da dor, de modo definitivo ou temporário, reduzindo as sensações de dor e desconforto. o anestesia intratecal o cordotomia percutânea o estimulação elétrica o mielotomia comissural 7. ELUCIDAR A NECESSIDADE DOS CUIDADOS PALIATIVOS NO TRATAMENTO DA DOR CRÔNICA (ONCOLÓGICA) E A NECESSIDADE DE INDICAÇÃO PRECOCE. • Segundo a definição da Organização Mundial de Saúde – OMS, revista em 2002, “Cuidado Paliativo é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameacem a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento. Requer a identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicos- social e espiritual”. • O Cuidado Paliativo não se baseia em protocolos, mas sim em princípios. • Não se fala mais em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida. • Indica-se o cuidado desde o diagnóstico, expandindo nosso campo de atuação. • Não falaremos também em impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou não de tratamento modificador da doença, desta forma afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”. • Pela primeira vez, uma abordagem inclui a espiritualidade dentre as dimensões do ser humano. 21 o A família é lembrada, portanto, assistida também após a morte do paciente, no período de luto. PRINCÍPIOS DOS CUIDADOS PALIATIVOS 1. Promover o alívio da dor e outros sintomas desagradáveis 2. Afirmar a vida e considerar a morte como um processo normal da vida 3. Não acelerar nem adiar a morte 4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente 5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite o paciente viver tão ativamente quanto possível, até o momento da sua morte 6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e a enfrentar o luto 7. Abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto 8. Melhorar a qualidade de vida e influencia positivamente o curso da doença 9. Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento de vida, como quimio e radio PILARES DO CUIDADO PALIATIVO • Controle dos sistemas • Trabalho interdisciplinar • Comunicação • Apoio à familia INDICAÇÃO PRECOCE • Deve ser iniciado o mais precocemente possível, juntamente com outras medidas de prolongamento da vida, como a quimioterapia e a radioterapia e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes • Pela própria definição de Cuidados Paliativos da OMS, esses devem ser iniciados desde o diagnóstico da doença potencialmente mortal. • Desta forma iremos cuidar do paciente em diferentes momentos da evolução da sua doença, portanto não devemos privá-lo dos recursos diagnósticos e terapêuticos que o conhecimento médico pode oferecer. • Devemos utilizá-los de forma hierarquizada, levando-se em consideração os benefícios que podem trazer e os malefícios que devem ser evitados. • Uma abordagem precoce também permite a prevenção dos sintomas e de complicações inerentes à doença de base, além de propiciar o diagnóstico e tratamento adequados de doenças que possam cursar paralelamente à doença principal. • Uma boa avaliação embasada nos exames necessários, além da definição da capacidade funcional do paciente são indispensáveis para a elaboração de um plano integral de cuidados, adequado a cada caso e adaptado a cada momento da evolução da doença.