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1 Como é ser escritor em Moçambique? Fonte da Imagem: http://paginaglobal.blogspot.com/ Vou contar um pequeno episódio que pode ajudar a responder a essa questão. Um dia eu estava chegando em casa e já estava escuro, já eram umas seis da tarde. Havia um menino sentado no muro à minha espera. Quando cheguei, ele se apresentou, mas estava com uma mão atrás das costas. Eu senti medo e a primeira coisa que pensei é que aquele menino ia me assaltar. Pareceu quase cruel pensar que no mundo que vivemos hoje nós podemos ter medo de uma criança de dez anos, que era a idade daquele menino. Então ele mostrou o que estava escondendo. Era um livro, um livro meu. Ele mostrou o livro e disse: "Eu vim aqui devolver uma coisa que você deve ter perdido”. Então ele explicou a história. Disse que estava no átrio de uma escola, onde vendia amendoins, e de repente viu uma estudante entrando na escola com esse livro. Na capa do livro, havia uma foto minha e ele me reconheceu. Então ele pensou: “Essa moça roubou o livro daquele fulano”. Porque como eu apareço na televisão, as pessoas me conhecem. Então ele perguntou: Esse livro que você tem não é do Mia Couto?”. E ela respondeu: “Sim, é do Mia Couto”. Então ele pegou o livro da menina e fugiu. Essa história é para dizer que, para uma parte dos moçambicanos, a relação com o livro é uma coisa nova. É a primeira geração que está lidando com a escrita, com o escritor, com o livro. Fonte: http://esquerda.net/artigo/onze-perguntas-para-mia-couto-uma-entrevista-inspiradora 1 Raciocínio Argumentativo Dedutivo Vamos, agora, analisar um texto, a fim de identificar um raciocínio argumentativo dedutivo mais complexo. Selecionamos o poema XXVIII da obra “O Guardador de Rebanhos”, de Alberto Caeiro, ¹heterônimo do poeta português Fernando Pessoa1. Após a leitura, destacaremos o argumento a partir das deduções propostas pelo autor. XXVIII Li hoje quase duas páginas Do livro dum poeta místico, E ri como quem tem chorado muito. Os poetas místicos são filósofos doentes, E os filósofos são homens doidos. Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem E dizem que as pedras têm alma E que os rios têm êxtases ao luar. Mas flores, se sentissem, não eram flores, Eram gente; E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não eram pedras; E se os rios tivessem êxtases ao luar, Os rios seriam homens doentes. É preciso não saber o que são flores e pedras e rios Para falar dos sentimentos deles. Falar da alma das pedras, das flores, dos rios, É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos. Graças a Deus que as pedras são só pedras, E que os rios não são senão rios, 1Heteronímia (heteros = diferente; + ónoma = nome) é o estudo dos heterônimos, isto é, estudo de autores fictícios (ou pseudoautores) que possuem personalidade. Ao contrário de pseudônimos, os heterônimos constituem uma personalidade. O criador do heterônimo é chamado de "ortônimo". O maior e mais famoso exemplo da produção de heterônimos é do poeta português Fernando Pessoa. Ele criou os heterônimos Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro, entre muitos outros. Também criou o semi-heterônimo Bernardo Soares. Fonte: http://pt.wikipedia.org/ 2 E que as flores são apenas flores. Por mim, escrevo a prosa dos meus versos E fico contente, Porque sei que compreendo a Natureza por fora; E não a compreendo por dentro Porque a Natureza não tem dentro; Senão não era a Natureza. (PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998.) Como podemos verificar, o poema de Alberto Caeiro apresenta um argumento contrário ao dos poetas místicos e filósofos que atribuem sentimentos à natureza. Para comprovar sua tese, o autor apresenta algumas premissas que levam a uma conclusão por dedução. Veja: Premissa 1: As flores, as pedras e os rios não são pessoas. (Premissa maior) Premissa 2: As flores, as pedras e os rios são elementos da natureza, portanto, não possuem sentimentos. (Premissa menor) Conclusão: Logo, se os poetas místicos e os filósofos afirmam que as flores, as pedras e os rios possuem sentimentos, eles são “doentes” e “homens doidos”. Há uma compreensão de que flores, pedras e rios não pertencem à espécie humana. Também é aceito como verdade que somente os seres humanos têm sentimentos. Assim, deduz-se que todos os que acreditam que flores, pedras e rios possuem sentimentos não merecem credibilidade. screenshot.1 screenshot.2 screenshot.3 screenshot.4 screenshot.5 screenshot.6 screenshot.7 screenshot.8 screenshot.9 screenshot.10 screenshot.11 screenshot.11 screenshot.12 screenshot.13 screenshot.14 screenshot.14 screenshot.15 screenshot.16 screenshot.17 screenshot.18 screenshot.19 screenshot.20 screenshot.21 screenshot.22 screenshot.23 screenshot.24
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