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Martha Marandino Licenciatura em ciências · USP/ Univesp 9.1 Iniciando a conversa... 9.2 Museus e Escolas: relações possíveis 9.3 A importância da parceria Museu-Escola 9.4 As ações dos museus com foco no público escolar 9.5 A Escola visita o Museu: a importância do planejamento 9.6 Parceria Escola e Museu: desafios e possibilidades 9.7 Conclusão Referências En si no d e Ci ên ci as II9ESCOLA E MUSEUS: AS VISITAS AOS ESPAÇOS DE CULTURA CIENTÍFICA 149 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 9.1 Iniciando a conversa... Nesta aula, finalizamos os conteúdos do curso Ensino de Ciências II. Nela vamos refletir sobre o uso dos museus pelas escolas e as possibilidades de parceria entre essas instituições. Nossa expectativa é a de que você, professor(a), tenha conhecido, nas aulas anteriores, vários aspectos sobre a história dos museus e os elementos que promovem os processos de ensino e aprendizagem nesse local. Munido desse novo olhar sobre esses locais, esperamos que tenha não somente reconhecido o potencial que eles apresentam para o ensino de ciências, mas espe- cialmente possa elaborar atividades, nas aulas de ensino de ciências, que os utilizem de forma a aproveitar suas especificidades e características. Sendo assim, nossos objetivos são: • reconhecer o potencial das visitas aos museus no processo de ensino e aprendizagem de ciências; • perceber algumas ações promovidas pelos museus para receber o público escolar; • refletir sobre o planejamento de visitas a museus considerando as etapas desse processo; • analisar o potencial e os desafios na relação entre escolas e museus. 9.2 Museus e Escolas: relações possíveis O século XX registra a presença intensa das escolas nos museus, que deixam de estar voltados mais para o público universitário e passam a ampliar suas ações para os outros níveis de ensino, no bojo das demandas sociais por democratização da educação. Cada vez mais se acumulam reflexões e propostas para que a parceria escola-museu seja efetiva, tanto nas ações voltadas para o público visitante, quanto na formação de professores (Marandino, 2000; Jacobucci, 2006). Desse modo, os museus vêm estabelecendo, ao longo dos anos, relações diversas com as escolas. Neste processo de ampliação da relação entre escola e museus, está presente a questão da formação do professor e a adequação do discurso institucional para o público, em geral, e o escolar, em particular. É consenso que a relação entre essas duas instituições pode ser muito profícua se professores e educadores de museus estabelecerem uma comunicação efetiva e articularem suas atividades (Martins, 2006). No entanto, essa é ainda uma prática restrita a iniciativas pontuais de escolas, professores e museus e, nesse sentido, é importante discutir melhor quais seriam as vantagens de uma parceria real entre essas instituições no sentido da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem em ciências. 150 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Em geral, a busca da escola pelo museu está ligada às questões de conteúdo, à possibilidade de entrar em contato com objetos e de vivenciar situações e experimentos muitas vezes difíceis de serem reproduzidos em sala de aula, seja pelos desafios estruturais da escola, seja pela própria especificidade dos museus em deter acervos únicos (Martins, 2006; Valente et al., 1998). Por outro lado, o museu muitas vezes espera que a visita aos seus espaços seja uma experiência que transcenda o aspecto do conteúdo conceitual e promova, além de aprendizagens, lazer e ampliação da cultura. Alguns museus têm oferecido programas voltados para o público escolar, muito além das visitas às suas exposições, como cursos para professores, oficinas para escolas, empréstimos de materiais, sessões de bate-papo e visitas de especialistas a escolas, entre outros. Algumas instituições vêm propondo até mesmo ações voltadas aos professores com base em modelos participativos, em que é possível intervir de diversas maneiras na proposta de formação realizada por essas instituições (Jacobucci, 2006). Muitos professores também vêm buscando planejar atividades de ida aos museus, propondo dinâmicas antes, durante e após a visita (allard et al., 1996, Marandino, 2003), tornando essa oportunidade um desdobramento do seu planejamento e não algo desvinculado ou pontual no currículo. Especialmente, no que se refere à aprendizagem de conceitos biológicos, pesquisas apontam que as visitas a ambientes como zoológicos, museus e parques naturais promovem o desenvolvi- mento de competências nos campos da identificação, nomeação e caracterização dos organismos (sápiras, 2007; Garcia, 2006; allen, 2002; tunniclife, 1996). Tais investigações também indicam níveis diferenciados, mas existentes, de elaborações conceituais, especialmente durante as conversas estabelecidas entre os visitantes nas visitas. As interações entre os alunos e o conheci- mento exposto, mediadas pelos monitores e professores – via objeto, placas com informações, folders, aparatos interativos etc. – que ocorrem durante as visitas são facilitadoras de ações que buscam a identificação do grupo, do nome, das características físicas e comportamentais de animais e plantas. Nas situações de interação, evidenciam-se momentos em que ocorre também o estabelecimento de conexões entre os conhecimentos ali vivenciados e a vida cotidiana, havendo referências explícitas a conversas familiares, programas televisivos, conteúdos escolares etc. Por outro lado, alguns desses trabalhos têm evidenciado que as visitas, por si próprias, não são capazes de promover uma compreensão mais integrada no que se refere à relação dos seres vivos com o ambiente (Garcia, 2006). Desse modo, as questões mais voltadas para os aspectos ecológicos e de conservação não emergem naturalmente numa visita a um recinto de animal, em um zoológico ou durante a observação de uma paisagem em uma mata. Nesses casos, 151 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 parece ser fundamental dar um tratamento didático à visita, de forma a voltar o olhar dos alunos para essas questões. A possibilidade de estabelecer conexões entre o que os alunos observam no museu e os elementos do cotidiano ou aspectos já aprendidos em experiências anteriores, como na própria escola, surge durante a atividade, mas deve ser enfaticamente estimulada para aumentar o potencial do aprendizado. Mais uma vez, o planejamento didático torna-se um instrumento importante para ampliar o impacto dessas ações. Do ponto de vista educacional, os museus são espaços importantes para a discussão de elementos relacionados à educação não formal, como a elaboração de estratégias de ensino e de divulgação da ciência e os processos de aprendizagem. Os museus podem ser, assim, grandes parceiros para trabalhos direcionados à formação do professor e aos processos de ensino-aprendizagem dos alunos da escola básica. Iniciativas nessas perspectivas vêm sendo tomadas, tanto por parte dos cursos de licenciatura, via estágios desenvolvidos em espaços não formais, quanto por parte dos museus, oferecendo a possibilidade de exercer monitorias e de trabalhar junto com os setores educativos dessas instituições (Marandino, 2003). 9.3 A importância da parceria Museu-Escola Em Marandino e colaboradores (2008), discutimos vários aspectos sobre a parceria entre escola e museus e sobre a organização das visitas aos museus pelas escolas, que trago aqui para nossa reflexão. O primeiro deles refere-se ao fato de que um dos públicos mais significativos nas visitas aos museus, em todo o mundo, é o escolar, sejapela quantidade, seja pelas ações organizadas para atender a esse grupo. No Brasil, pesquisas mostram que, na maioria das vezes, é somente por meio da escola que crianças e jovens das classes em desvantagens econômicas visitam as instituições culturais (cazelli, 2005). Mas os processos educacionais que ocorrem nos museus e nas escolas são semelhantes? Alguns autores têm procurado apontar as características que diferenciam museus e escolas, enfatizando assim a especificidade de cada um. Como exemplo, citamos os elementos propostos por Allard e colaboradores (1996), e sintetizados no quadro a seguir. 152 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Escola Museu Objeto: instruir e educar Objeto: recolher, conservar, estudar e expor Cliente cativo e estável Cliente livre e passageiro Cliente estruturado em função da idade ou da formação Todos os grupos de idade sem distinção de formação Possui um programa que lhe é imposto, pode fazer diferentes interpretações, mas é fiel a ele Possui exposições próprias ou itinerantes e realiza suas atividades pedagógicas em função de sua coleção Concebida para atividades em grupos (classe) Concebido para atividades geralmente individuais ou de pequenos grupos Tempo: 1 ano Tempo: 1 hora ou 2 horas Atividade fundada no livro e na palavra Atividade fundada no objeto Quadro 9.1: Características que diferenciam museus e escolas Mesmo sendo este um quadro sintético que certamente deixa escapar elementos perten- centes à complexidade estrutural dessas instituições, é possível perceber que museu e escola são universos particulares, onde as relações sociais se processam de forma diferenciada, cada um com uma lógica própria. Entretanto, em muitos casos, as instituições culturais que se preocupam com a educação buscam na escola os referenciais para o desenvolvimento de suas atividades. Os museus são espaços com uma cultura própria e, nesse sentido, acreditamos que ele deva oferecer ao público uma forma de interação com o conhecimento diferenciado da escola. Herrero (1998, p. 151) propõe que o museu pode ser considerado como uma casa da cultura científica, pois o termo cultura é apropriado, já que “engloba fatores como a história de criação do conhecimento científico, seu contexto acadêmico-político e a seleção e priorização do conteúdo científico por uma comunidade que tem um marco interpretativo particular”. A autora afirma então que todos esses fatores irão “produzir uma linguagem com a qual se transmite a cultura científica em um museu: o discurso museográfico”. Podemos reconhecer assim que o museu, sendo um espaço social particular e diferente da escola, possui ritos próprios, com códigos específicos, sendo considerado então como um espaço com uma cultura particular. Nele, a cultura científica em especial irá se manifestar, fazendo parte, nesse contexto, de uma cultura mais ampla – a cultura museal. Os museus são espaços sociais com sistemas de códigos particulares e, apesar de guardarem relação com o saber de referência, este não se manifesta nas exposições da mesma forma que é produzido. Este saber passa por mecanismos transpositivos específicos nesse espaço, que confi- guram a produção de um saber próprio – o saber museal. Assim, levando em conta as diferenças entre a escola e o museu, pode-se afirmar que a relação do sujeito com o conhecimento e com 153 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 os demais sujeitos nesse ambiente também se diferencia, o que aponta para rotinas particulares de produção e aquisição do saber no museu, que são diferentes das da escola. É importante estabelecer as diferenças entre museus e escolas, a fim de não repetir a escola no museu, mas sim propor modelos pedagógicos específicos para espaços como esse. 9.4 As ações dos museus com foco no público escolar São vários os programas educacionais proporcionados pelos museus voltados ao público escolar e poderíamos agrupá-los em alguns tipos (Marandino, 2000). Em São Paulo, podemos citar alguns museus com potencial de visita, como: • O Museu de Anatomia Veterinária da USP; • Museu de Oceanografia da USP; • Museu de Zoologia da USP; • Museu de Anatomia Humana da USP; • Museu de Microbiologia do Instituto Butantan; • Museu Biológico do Instituto Butantan; • Catavento Cultural; • Estação Ciência. Em geral, em todos os museus, o púbico escolar é o mais presente, e os museus desenvolvem formas diferenciadas de atendimento às visitas, de acordo com seus projetos e suas especificidades e possibilidades. Figura 9.1: Crianças interagindo com o aparato Frotage de micróbios na exposição “O Mundo Gigante dos Micróbios” do Museu de Microbiologia do Instituto Butantan. / Fonte: Camilla Carvalho, Instituto Butantan. Programas de Atendimentos a Visitas Escolares São os programas oferecidos pelos museus onde as turmas das escolas, tendo agendado ou não com antecedência, podem visitar as exposições, os espaços ou realizar atividades propostas no museu. Muitas vezes essas visitas, quando agendadas anteriormente, são acompanhadas por monitores que orientam os visitantes no museu. Em geral, todos os museus estão abertos à visitação pelo público. 154 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 É interessante perceber que alguns dos cursos oferecidos pelos museus aos professores possuem uma proposta pedagógica alinhada com as perspectivas hegemônicas de educação e de ensino de ciências. Essas experiências, ainda que não extensamente anali- sadas aqui, apontam, em um primeiro momento, para a existência de uma forte preocupação dos museus em sua relação com a escola. Apesar de essa preocupação se manifestar com diferentes intensidades, de acordo com a perspectiva de trabalho de cada um, é difícil encontrar um museu de ciência que receba somente visitas de escolas. Programas de Formação de Professores Alguns museus oferecem programas específicos, periódicos ou esporádicos, de formação de professores. Também são variadas as propostas que fundamentam os cursos oferecidos aos professores, que podem ser de curta duração (oficinas oferecidas em eventos especiais) ou com carga horária média ou grande. Além disso, essas ações podem ser feitas em parceria com escolas e com cursos de formação de professores, com secretarias de educação nos três níveis governamentais, com universidades em cursos de licenciatura ou mesmo em projetos organizados por órgãos financiadores de programas educacionais. Figura 9.2: Palestra do curso de formação de profes- sores do Museu de Zoologia da USP. / Fonte: Márcia F. Lourenço, MZUSP. Programas de Produção de Material didático Entre as variadas ações educativas realizadas pelos museus encontramos a produção de materiais educativos, na forma de impressos, objetos tridimensionais, jogos, materiais on-line etc. Muitas vezes, esses materiais são doados, vendidos ou emprestados a alunos, professores, escolas e ao público em geral. Essas experiências têm sido muito presentes nos museus, entre os quais podemos citar os Museus de Zoologia, de Anatomia Veterinária e de Oceanografia, da Universidade de São Paulo, que possuem kits com objetos para empréstimo: seres vivos conservados representantes da maioria dos grupos taxonômicos, peças anatômicas de diferentes animais, seres humanos inclusive, entre outros. Alguns desses kits vêm acompanhados de orientações para serem utilizadas pelo professor. 155 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Para disponibilizar alguns desses materiais para professores e educadores, criamoso Acervo de Materiais Didático-Culturais, que tem como objetivo identificar e organizar essas produções, criando a possibilidade de esses materiais serem analisados em diferentes aspectos, como aqueles relacionados aos conteúdos científicos, pedagógicos e comunicacionais. Também se espera com esse acervo estabelecer um banco de referência, que permita inspirar novas práticas e promover a reflexão sobre parâmetros de produção de materiais didático-culturais em espaços não formais. 9.5 A Escola visita o Museu: a importância do planejamento Conforme discutimos em Marandino e colaboradores (2008), entre museus e escolas existem múltiplas formas de cooperação e de interação. Para compreendê-las é preciso uma análise mais aprofundada acerca dos objetivos das instituições envolvidas. Estabelecer uma parceria entre museus e escolas, portanto, passa pela sistematização dos objetivos e pela explicitação das bases que determinam as ações específicas de cada uma dessas instituições (Jacobi; coppey, 1996; Martins, 2006). A formação dos educadores envolvidos nesse processo é passo fundamental para o estabele- cimento dessa parceria, tanto no que se refere às suas práticas específicas, como também ao bali- zamento das expectativas desses parceiros. Desse modo, é necessária a formação dos professores, oriundos das escolas, nas linguagens e práticas específicas do espaço museal, tanto quanto dos educadores de museus acerca dos objetivos e necessidades das escolas ao visitarem o espaço museal. Não se trata de subordinação de um ao outro, mas da possibilidade de interação pedagógica entre as duas instituições, que respeite as missões e exigências particulares de cada uma. Figura 9.3: Kit com animais conservados para emprés- timo do Museu de Zoologia da USP. / Fonte: Márcia F. Lourenço, MZUSP. Para saber mais, acesse o link http://www.cienciaemrede.com.br/acervomaterialdidatico/ e navegue pelo acervo de materiais didáticos disponíveis no site. Escolha um material a partir do suporte ou instituição e conheça suas características. 156 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Espera-se, do desenvolvimento de uma parceria entre museus e escolas, a possibilidade de os alunos estabelecerem uma atitude positiva e uma prática autônoma de visita a museus. Para isso, os professores devem ter participação efetiva na estruturação do processo pedagó- gico da visita, que preferencialmente parta de uma negociação com a equipe de educadores do museu e que passe pela explicitação e concordância a partir de objetivos mútuos. Nesse processo, é importante a percepção das características diferenciadas entre as duas insti- tuições (KöptKe, 2003). Conhecer o “outro” e aprender a dialogar, mediando as diferenças, são alguns dos caminhos pelos quais passa o sucesso dessa parceria educativa. Para a construção dessa parceria, existem alguns modelos didáticos que trabalham as diferenças entre museus e escolas, possibilitando a ambas as instituições dotar de uma base científica para suas ações. Esse é o caso do modelo proposto pelos autores Allard e Boucher (1991), que explica as diferenças e negocia os conflitos a partir da estruturação de um método de trabalho comum. Esse modelo é dividido em três fases: diagnóstico, execução e avaliação. Em todas essas etapas, as equipes pedagógicas do museu e da escola trabalham em conjunto na construção de objetivos e estratégias de interação que permitam a elaboração de um plano de trabalho comum. Contudo, mesmo que essa parceria não seja possível, é fundamental que o professor fique atento a essas etapas. Para efeito de formação dos professores com foco na visita ao museu, vamos deter-nos aqui à fase da execução, que é também a da realização do programa educacional propriamente dito, a qual é dividida em três momentos: antes, durante e depois da visita ao museu. Antes da visita são feitas as atividades de preparação. Elas servirão para motivar o aluno à visita, favorecendo o domínio dos conhecimentos escolares sobre o tema que será abordado e as ferramentas necessárias à interpretação e compreensão do museu. Dessa forma, na atividade de preparação, os alunos investigarão o tema da visita. A partir de questionamentos dirigidos, eles deverão coletar o maior número de dados possível sobre o assunto escolhido. O objetivo da proposta é despertar sua curiosidade e interesse sobre o assunto da visita, motivando-os a se engajarem em uma investigação, cuja resposta só se completará no próprio museu. No momento da preparação, também é importante trabalhar aspectos técnicos, como a definição de museu, para que serve essa instituição e quais as características da instituição a ser visitada. Os professores devem se deter, nessa etapa, a informações organizacionais como: a descrição, o horário das atividades e a organização material do museu, de forma a responder aos questionamentos e dúvidas dos alunos. 157 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Depois dessa preparação, realiza-se a visita propriamente dita. Esse é o ápice de todo o processo. Para sua boa organização e aproveitamento pedagógico, alguns princípios gerais devem ser considerados. A visita inicia-se com a acolhida do grupo. A forma como é organizado e realizado esse momento terá impactos sobre o comportamento dos alunos durante toda a visita. Esse é o momento das boas-vindas e da apresentação do educador e/ou mediador do museu, que fornecerá uma série de informações: o que irá acontecer durante a visita, como serão feitos os deslocamentos, quais as regras de comportamento adequadas, qual o papel que ele e os alunos desempenharão durante as atividades e quais conteúdos serão abordados. O acolhimento é também um momento em que o educador do museu pode coletar informações acerca das expectativas dos alunos e levantar hipóteses sobre os conteúdos da visita à exposição. Caso o museu não ofereça o serviço de monitoria ou não tenha uma atividade específica de recepção ao grupo, o professor deve assumir esse papel, reforçando as atitudes e os objetivos da visita. Dando continuidade à atividade de investigação proposta em sala de aula, deve-se entender a visita como um momento de coleta de informações. Dessa forma, ela não deve ser sobrecarre- gada de conteúdos. Pelo contrário, é necessário selecionar o que deve ser visto, tendo em vista o programa escolar estabelecido, por um lado, e as coleções do museu, por outro. Aqui o papel do planejamento do professor é essencial para que o aluno possa, a partir do que foi proposto na atividade, selecionar as inúmeras informações que serão relevantes para ele naquele momento. As atividades propostas devem ter aspecto lúdico e divertido. Também é necessário prever momentos de relaxamento durante as visitas guiadas, nos quais os alunos possam circular livremente pela exposição, apropriando-se eles mesmos dos conteúdos expressos e do próprio museu, ou para que possam descansar ou brincar. Um aspecto crucial da visita é o de que todas as atividades previstas devem ser específicas de museus. A observação de objetos, o estímulo à curiosidade sob ângulos diversos e o toque nos objetos, quando possível, devem ser estratégias recorrentes dentro de uma prática pedagógica no museu. É sempre importante considerar que não existe necessidade de sair da escola para fazer uma atividade que poderia ser muito bem desenvolvida dentro da sala de aula. As visitas aos museus podem visar a objetivos pedagógicos diversificados, com o estímulo aos aspectos afetivos e psicomotores, relacionados ao aprendizado de atitudes, conceitos ou habilidades. Mais do que a memorização de fatos, a visita ao museudeve ser um momento de aprendizagens diferenciadas. 158 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 No momento pós-visita, os alunos deverão proceder à análise e síntese dos dados coletados. Na análise, eles deverão organizar os dados, comparando os anteriormente obtidos com aqueles adquiridos durante a visita, no intuito de responder aos questionamentos propostos. Na síntese, os dados serão integrados em um todo coerente que apresentará as respostas aos questionamentos prévios. Inserindo os dados coletados no museu dentro do processo de formação dos alunos, a visita perde seu caráter isolado e episódico, passando a integrar as atividades escolares em um todo contínuo e permanente de aprendizagem. A seguir encontra-se o esquema do “Modelo Didático de Utilização dos Museus com Fins Educativos” proposto por Allard e colaboradores (1996): ANTES → Escola → Preparação → Interrogação → Questionamento sobre o objeto ↓ DURANTE → Museu → Realização → Coleta de dados e análise → Observação do objeto ↓ DEPOIS → Escola → Prolongamento → Análise e Síntese → Apropriação do objeto Quadro 9.2: Modelo Didático de Utilização dos Museus com Fins Educativos. Como vimos, o planejamento da visita ao museu em seus aspectos pedagógicos pelo professor é um passo fundamental para o incremento da qualidade dessa atividade. É muito importante que o aluno compreenda o sentido da visita e tenha conhecimento do que se espera dele nessa experi- ência. Para que isso ocorra, é preciso que o professor conheça bem o local onde será desenvolvida a atividade e, na medida do possível, possa planejar a ação junto com a equipe do museu. Como exemplo, apresentamos uma experiência de trabalho desenvolvido por nós na disciplina de Metodologia do Ensino de Ciências Biológicas I e II da Faculdade de Educação da USP, por meio do estágio dos alunos nos serviços educativos de vários museus de ciências paulistas. Esse trabalho foi feito em 2002 em parceria com o Museu de Zoologia da USP (MZUSP) e com adesão de um grupo de alunos-estagiários formado por cinco integrantes, sendo que quatro estagiaram no MZUSP e um na escola pública onde foi realizada a intervenção. Nesta primeira fase, foi desenvolvido um projeto de intervenção que garantia a relação entre a Universidade, o Museu e a Escola, englobando diferentes etapas, tais como: conhecimento do MZUSP através de observação e reuniões com entrevistas à equipe de educação do museu; descrição detalhada da exposição e das demais ações educativas do museu; leitura e “fichamento” de textos sobre o tema; 159 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 planejamento da visita da turma de ensino fundamental ao museu, a partir de metodologia com etapas “antes, durante e depois” da visita (allard et al., 1996); elaboração de relatórios; e reuniões com a professora da disciplina de Metodologia. O trabalho realizado foi sistematizado pelos alunos e apresentado durante o II Encontro Regional de Ensino de Biologia, evento promovido pela Regional RJ/ES da Sociedade Brasileira de Ensino de Biologia (chelini et al., 2003). O museu na formação inicial do professor: uma experiência de estágio Maria Júlia E. Chelini, Carla Mello, Mark Hubbe, Ricardo L. Pinto, Laura Cardeal (Instituto de Biociências – USP, SP), Martha Marandino (Faculdade de Educação – USP, SP) Introdução: O curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da Universidade de São Paulo oferece duas disciplinas de Metodologia de Ensino. A ementa destas disciplinas menciona que elas devem “propiciar a integração entre a didática específica do conteúdo a ser ensinado com a sua prática nas escolas da comunidade, através dos estágios supervisionados”. Esta disciplina estabeleceu uma parceria para que seus alunos pudessem desenvolver seu estágio sob supervisão da Divisão de Difusão Cultural do Museu de Zoologia da USP (MZUSP). Tentados pela novidade, decidimos participar deste projeto piloto de estágio. Para tanto buscamos maior integração com a Divisão de Difusão Cultural do MZUSP através da Profª Drª Mirian Marques e da Profª Márcia Françoso. Este contato nos permitiu conhecer alguns projetos desenvolvidos tanto para a antiga exposição (informativos para professores e alunos, apostilas de atividades) quanto para a nova (cursos de extensão com objetivo de apresentar a exposição). Esta, intitulada “Pesquisa em Zoologia a biodiversidade sob o olhar do zoólogo” está dividida em quatro módulos, cada um referindo-se a um subtema da exposição: apresentação e história do MZUSP (Módulo I); origem das espécies e dos grandes grupos zoológicos (Módulo II); evolução, diversidade e filogenia – atividades do zoólogo (Módulo III); fauna Neotropical e ambiente marinho (Módulo IV). 160 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 O tema diversidade de formas animais logo chamou nossa atenção e decidimos então trabalhá-lo, focando a relação da morfologia com o ambiente (exemplos: arborícola, aquático) ou com algum comportamento específico (exemplos: hábito alimentar, forma de locomoção). Outro aspecto trabalhado foi a classificação de animais em grupos baseando-se em características comuns. Baseados em Allard et al. (1996), optamos por realizar nossa intervenção em três etapas: preparação, na escola; questionamento, no Museu de Zoologia; e prolonga- mento, novamente na escola. Segundo esses autores, a preparação tem como base a interrogação, o questionamento do objeto; a realização baseia-se na coleta de dados e análise; e o prolongamento visa à análise e síntese (apropriação do objeto); a visita ao museu complementaria assim o ensino escolar. Paralelamente, buscamos uma escola que aceitasse nossa proposta como um todo. Maria Lúcia Nogueira de Sá, coordenadora pedagógica do 2º ciclo da Escola Municipal de Ensino Fundamental Pedro Nava (bairro Jardim Ester Yolanda, São Paulo), autorizou a aplicação de nosso projeto em seis turmas (de 30 a 35 alunos), três de 5ª série e três de 6ª série. A intervenção foi realizada sob a supervisão das Profªs Márcia Cerqueira Souza Bastos (5ªs e 6ªB) e Vera Lúcia Cunha Sales (6ªs A e C). Primeira etapa: Preparação A primeira atividade tinha como objetivos avaliar o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema e auxiliar na preparação do roteiro de visitação. Para tanto, preparamos uma gincana, desenvolvida no pátio da escola no dia 30 de outubro. Cada turma foi dividida em dois ou três times organizados em fila. Em frente a cada uma posicionamos um saco, contendo 46 cartões representando animais brasileiros. O “coordenador” iniciava a brincadeira fazendo um pedido (exemplos: “eu quero um mamífero”, “um animal que voa”). O primeiro aluno de cada fila corria até o saco do seu time e procurava por um cartão que correspondesse ao animal pedido, trazendo-o para o coordenador da gincana. Este checava os cartões e comunicava a pontuação. A atividade se repetia, então, com o próximo aluno da fila. A pontuação foi dada de acordo com a resposta: ao primeiro cartão correto correspondiam 2 pontos; um cartão correto, mesmo que não fosse o primeiro cartão correto entregue, valia 1 ponto e um cartão incorreto não valia ponto algum. 161 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Durante a atividade, um monitor ficou responsável pela anotação das respostas e dos pontos ganhos por cada grupo para posterior análise. Os demais monitores ficaram responsáveis pela documentação da atividade e manutenção dos cartões em ordem. Cada monitor realizou todas as funções num sistemade rotatividade. Segunda etapa: Realização Para a visita ao Museu optamos pela monitoria, pois acreditamos que o diálogo é fundamental para o melhor aproveitamento da atividade. O diálogo estabelecido pelos monitores visava ao desenvolvimento dos conceitos trabalhados, numa perspectiva construtivista de ensino-aprendizagem, como proposto por Marandino (2001). Uma vez que museu e escola são instituições diferentes, com características próprias (Marandino 2000), a nossa ideia era não repetir a situação professor-aluno, comum em grande parte das escolas, em que o primeiro passa as informações, cabendo ao segundo apenas escutar. Foram previstos dois dias para a visitação (5 e 6 de novembro), um para cada série. Três professores da escola acompanharam cada dia de visita, atuando essen- cialmente na manutenção da disciplina dos alunos. A visita começava no Módulo I com todos os alunos. Nele, foram passadas informações sobre o MZUSP e suas normas, bem como informações sobre a exposição. Os alunos foram então divididos em quatro grupos, cada um acompanhado por um monitor. Um quinto monitor ficou responsável pela documentação em vídeo, fotos e registro escrito. É importante observar que um único roteiro foi elaborado para as duas séries. Terceira etapa: Prolongamento Para o prolongamento elaboramos duas atividades. Para os alunos da 6ª série foi solicitado, como primeira atividade, que desenhassem algo que viram e/ou escrevessem uma frase sobre a sua visita ao MZUSP, a ser entregue ao professor de Ciências na semana seguinte à visita. A Profª Márcia Bastos propôs como exercício aos alunos da 5ª série que desenhassem um animal (visto ou não no Museu) por tipo de ambiente (Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga) e, em outra folha, os alunos deveriam responder a cinco das trinta perguntas propostas por ela. 162 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 A outra atividade, proposta por nós, consistia em um questionário, elaborado com base nos conceitos trabalhados durante a visitação. Esse questionário foi aplicado, na Sala de Leitura da escola, no dia 13 de novembro. Os alunos se dividiram em grupos de quatro ou cinco, cada grupo tendo de responder a quatro perguntas para cada um dos quatro animais designados pelos monitores. Os animais escolhidos para esta etapa foram aqueles menos utilizados pelos alunos na primeira dinâmica e isso porque acreditamos que os cartões mais escolhidos tenham sido os referentes a animais focados pela mídia e conhecidos pelos alunos. Tentamos assim evitar respostas mecânicas, retiradas do conhecimento geral. As respostas aos questionários bem como os exercícios foram todos analisados. Resultados: No geral, os alunos mostraram-se muito excitados com as atividades. Houve um estranhamento inicial, uma certa desconfiança. Mas, em cada dia, à medida que a dinâmica se desenrolava, os alunos iam ficando mais e mais interessados e participativos. O registro das respostas dadas ao longo da primeira atividade nos auxiliou a desenvolver o roteiro para a visita. A análise das proporções de respostas certas e erradas para cada turma e para cada tema mostrou que a principal diferença entre as séries ocorreu em relação à definição dos grandes grupos. Assim, decidimos elaborar um roteiro único e trabalhar um pouco mais esse conceito com as 5ªs séries. Em relação à visitação, vale ressaltar que algumas restrições foram impostas pela escola: a coordenação proibiu alguns alunos (em especial aqueles em liberdade condicional da Febem) de acompanhar seus colegas na excursão. Esse fato prejudicou um pouco a última atividade, pois os grupos formados eram, em muitos casos, mistos de alunos que acompanharam e não acompanharam a visita ao MZUSP. Quanto ao exercício proposto pela Profª Márcia, foi interessante perceber que, com raras exceções, quase todos os alunos desenharam animais observados no MZUSP, a maioria com muita riqueza de detalhes. Conclusão: Não podemos afirmar que a visita ao MZUSP tenha realmente influenciado no aprendizado de conceitos. Percebemos, porém, que ela abriu os olhos dos alunos 163 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 para a existência de um grande número de formas animais, com as quais não estavam familiarizados. Esse mesmo resultado foi obtido por Marandino (2001), que evidenciou, em um trabalho semelhante, “que apesar do estímulo afetivo que a visita provocou na turma, este fato não se refletiu diretamente nos resultados das avaliações que tiveram como ênfase os conceitos e conteúdos de física trabalhados”. Assim como a autora, acreditamos que este fato “aponta para a necessidade de uma análise mais aprofundada sobre o tema”. No que se refere à formação de professores, acreditamos que o estágio no Museu pode enriquecê-la por apresentar dificuldades e aprendizados diferentes daqueles proporcionados pelo ambiente escolar. Além disso, este estágio não deixa de cumprir o objetivo proposto pela disciplina, trabalhando o conteúdo específico e diferentes metodologias de ensino. Diante disso, este ano foram estabelecidas outras parcerias para que um número maior de alunos pudesse optar por esta nova forma de estágio em sua formação. 9.6 Parceria Escola e Museu: desafios e possibilidades A história dos museus e das escolas sempre esteve, de alguma forma, relacionada. Em Marandino (2000), afirmamos que as ações entre essas duas instituições são frequentes e vêm se ampliando ainda mais desde então, seja numa perspectiva de cooperação, seja pela simples visita da escola ao museu, sem nenhum vínculo de parceria ou de trabalho articulado. Do ponto de vista da escola, as visitas aos museus são geralmente consideradas bastante positivas. Em pesquisa realizada por Cazelli e colaboradores (1998:7), ao analisar os objetivos dos professores ao buscar os museus, verificou-se que essa procura está relacionada, primeiramente, com uma alternativa à prática peda- gógica, já que entendem essa instituição como um local alternativo de aprendizagem. Em segundo lugar, os professores consideram a dimensão do conteúdo científico, chamando atenção para o fato de que os temas apresentados no museu podem ser abordados de uma forma interdisciplinar ou enfatizando a relação com o cotidiano dos estudantes. Alguns professores, em menor quantidade, se preocupam com a ampliação da cultura como objetivo da visita. 164 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 Esses dados indicam que a escola, na figura do professor, possui objetivos próprios ao visitar os museus e, nem sempre, esses objetivos são compartilhados pelos museus. Como afirmam Van-Praet e Poucet (1992, p. 23): “Frente à instituição escolar, habituada a conceber suas atividades em termos de performances dos alunos, os museus parecem ser às vezes <complexados> na definição e nas formas de suas ações culturais, a ponto de reduzir até seus objetivos de sensibilização, de prazer e de educação não-formal. Existe uma certa propensão deste fato nos serviços educativos dos museus a reproduzir, erroneamente, a escola no museu. Trata-se de uma tendência a copiar nos temas das exposições os programas escolares, transformar certos lugares de animação em sala de aula, algumas prospectos de visita em uma página de leitura ou substituir o papel de um animador por um professor, enquanto que a solução é a busca em termos de complementaridade e de parceria.” Para esses autores, então, a relação entre museu e escola deve se dar em termos de parceria. Afirmam que, em mais de um século, a prática socialdo museu, apesar de ter crescido quanto ao número de visitantes, não evoluiu como categoria social. As dificuldades da prática escolar nos museus têm seus fundamentos na história das práticas distintas da escola e dos museus. Desde o início do século, as pesquisas de avaliação dos visitantes ao museu são feitas em termos de eficácia em relação à aprendizagem escolar. Contudo, os estudos recentes mostram a multipli- cidade de parâmetros a serem considerados para verificar a razão do efeito positivo, mas às vezes indiferente, das visitas escolares aos museus. Segundo Van-Praet e Poucet (1992), uma parte essencial dessa dificuldade reside nas especificidades do lugar, do tempo e da importância dos objetos nos museus. No entanto, essa especificidade, apesar de ser um trunfo para a sensibilização do público, pode, se exacerbada, tornar-se um obstáculo nas visitas escolares pouco ou mal preparadas. Tais dificuldades, para os autores, têm também um fundo histórico. Assim, deve-se levar em conta a história e a especificidade pedagógica dos museus para otimizar as visitas escolares. A preparação dos professores para a utilização dos museus é uma preocupação internacional, e os estudos mostram a necessidade desse processo na saída da escola para o museu, para melhorar a eficácia das visitas. Do ponto de vista do museu, a formação de professores deverá contemplar 165 Ensino de Ciências II Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 não só elementos descritivos das exposições, mas também a perspectiva de compreensão do que seria uma pedagogia particular de museu, prestando atenção também para a própria história da instituição museal. Assim, não se trata de opor o museu à escola, mas de analisar, objetivando o aprimoramento, as especificidades das exposições e das ações culturais no museu em relação às atividades do espaço escolar. Essa matriz de especificidades relacionadas ao lugar, ao tempo e aos objetos no espaço do museu é essencial e deve ser incluída na formação de educadores numa didática de museu. 9.7 Conclusão Caro(a) aluno(a), com esta aula, finalizamos os conteúdos do curso Ensino de Ciências II. Nela você foi capaz de perceber o quanto é importante planejar uma visita escolar a um museu considerando suas características. Após discutir, nas aulas anteriores, aspectos sobre as tendências teóricas e metodológicas do ensino de ciências, as especificidades dos museus, o papel dos textos, imagens e objetos na aprendizagem de ciências, é possível reconhecer todo o potencial que os museus podem oferecer para o ensino de ciências. Mas é igualmente importante reconhecer que, para que as visitas possam ser realmente promotoras de aprendizagem, há a necessidade de que os alunos sejam instigados a observar, interagir, analisar, ler, discutir e refletir sobre os conteúdos veiculados por meio de textos, imagens e objetos existentes tanto nos espaços museais quanto na sala de aula, por meio dos vários materiais didáticos e estratégias desenvolvidas pelos professores. Nesse sentido, é essencial o planejamento das várias etapas de visita aos museus! É imperativo que o professor de ciências hoje, fora e dentro de sua sala de aula, promova a relação de seus alunos com os diversos materiais, meios de comunicação e espaços culturais. Contudo, é necessário que o professor ensine também a seus alunos a analisar essas experiências de forma crítica e instruída. Para isso, ele mesmo, em sua formação, deve desenvolver um olhar crítico sobre esses materiais, meios e espaços! A compreensão do processo de transformação e adaptação dos conhecimentos científicos veiculados pelas diferentes mídias, materiais didáticos e espaços de cultura científica auxilia a promover essa formação crítica no professor. Mas desejamos mais do que isso: entendendo o seu papel como mediador das informações junto aos seus alunos e colocando-se como protagonista na função de transposição dos conhecimentos, a partir da produção e adaptação de seus próprios materiais e estratégias, apostamos no desenvolvimento 166 9 Escola e Museus: as visitas aos espaços de cultura científica Licenciatura em Ciências · USP/Univesp · Módulo 6 da autonomia pedagógica do professor de ciências. Esperamos que este curso tenha auxiliado você a se perceber como ator fundamental desse processo. Na aula 10 iremos realizar uma revisão dos conteúdos trabalhados no curso, buscando auxiliá-lo na preparação para a realização da avaliação final! Referências allard, M.; all., e. La visite au Musée. 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