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Aulas 6 - Processo - Processo Civil (parte)

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Direito Processual Civil
CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE BRASÍLIA – CESB
Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB
Prof.: Diego Herrera
e-mail: diegoherreramoraes@gmail.com 
Processo 
Etimologicamente, processo significa “marcha avante”, “caminhada” (do latim, procedere = seguir adiante)
Para exercer a função jurisdicional, o Estado cria órgãos especializados, os quais se subordinam a um método ou sistema de atuação, que vem a ser o processo. Processo é, pois, por definição, o instrumento por meio do qual a jurisdição opera.
No dizeres de Calamandrei, o processo se apresenta como a “série de atos coordenados regulados pelo direito processual, através dos quais se leva a cabo o exercício da jurisdição”. Esses múltiplos e sucessivos atos se intervinculam e se mantêm coesos graças à relação jurídico-processual que os justifica e lhes dá coerência pela meta final visada: a prestação jurisdicional e a pacificação social.
Concepção clássica do processo - dois aspectos: (i) os atos que lhe dão corpo (seu aspecto formal: o procedimento); e (ii) as relações entre os sujeitos do processo (juiz, autor e réu - intervenientes).
Processo e Procedimento 
Conceitos diversos: processo é o método, isto é, o sistema de compor a lide em juízo, que se realiza por meio de uma relação jurídica vinculativa de direito público, regida por determinado procedimento, que é esta a forma com que o processo se realiza em cada caso concreto.
A noção de procedimento é puramente formal – o conceito de processo é mais amplo, pois não se resume a mera sucessão de atos. assim, procedimento é apenas o meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve e termina o processo. A noção de processo é essencialmente teleológica (exercício do poder jurisdicional). 
E, além do aspecto formal (evidenciado na sucessão de atos coordenados), no processo se interligam Estado-juiz e partes (relação jurídica), por meio de liames jurídicos a partir dos quais a práticas de certos atos do procedimento se lhes impõe (deveres ou sujeição) ou se lhes permite (poderes ou faculdades).
Processo e Procedimento 
O processo não se submete a uma única forma. Exterioriza-se de várias maneiras diferentes, conforme as particularidades da pretensão do autor e da defesa do réu. Daí também o porquê da existência de mais de um procedimento: ordinário, sumário (art. 275), sumaríssimo (juizados especiais), etc.
P. ex.: uma demanda de cobrança não se desenvolve, obviamente, como uma de usucapião e nem muito menos como uma possessória. O modo próprio de se desenvolver o processo, conforme as exigências de cada caso e à luz das normas que o estebelece, é exatamente o procedimento do feito, isto é, seu rito.
NCPC: “Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.” (art. 318 e§único).
Processo e Procedimento 
Art. 250 IV, art. 319 VII c/c art. 334: o NCPC incorpora ao procedimento comum as técnicas de conciliação e mediação típicas dos atuais procedimentos sumário (art. 275 CPC/73) e sumaríssimo (juizados especiais);
Art. 190 e § único NCPC: negócio jurídico processual, antes ou durante o processo, prevendo mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa, desde que verse direitos que admitam autocomposição (disponíveis) e desprovido de nulidade ou de inserção abusiva em contrato de adesão/vulnerável.
Como método de solucionar litígios, convém lembrar que, embora o principal, o processo não é o único, visto que, em determinados casos e circunstâncias, a ordem jurídica permite, p. ex., a autotutela (ex.: legítima defesa) e a arbitragem.
Natureza Jurídica
Historicamente, várias correntes tentaram explicar a natureza do processo, desde as completamente superadas (como as do contrato e do quase contrato) até outras sofisticadas, como as do processo como situação jurídica ou como instituição jurídica. 
De fato, porém, a concepção que permitiu a elaboração científica do direito processual moderno foi, inquestionavelmente, a do processo como relação jurídica de direito público, distinta da relação de direito material, que constitui o seu objeto.
Natureza Jurídica
Enfim, prevalece o entendimento de que “processo” tem a natureza jurídica de relação processual. Diz-se relação processual no sentido: 
(i) da existência de liames jurídicos, de posições jurídicas ao longo do processo, entre autor, réu e Estado-juiz, dos quais decorrem deveres, direitos, poderes, faculdades, obrigações, sujeições e ônus recíprocos. Apenas registre-se, por ora, que tais posições jurídicas variam consoante os diversos tipos de procedimento que podem ser concebidos para melhor adequar o processo às necessidades de cada caso concreto; 
(ii) de que os liames jurídicos descritos têm em vista o atingimento de uma dada finalidade (a noção do processo é eminentemente teleológica).
Sujeitos da Relação Processual
São 3, sendo 2 deles sujeitos parciais (autor e réu), em situação de sujeição ao juiz, e 1 imparcial (Estado-juiz), exercente de poder-dever (jurisdição).
No binômio poder-sujeição é que reside a principal característica da relação jurídico-processual (do ponto de vista subjetivo) e que lhe dá identidade própria, lhe distinguindo da relação de direito material
Relação triangular diante da existência de posições jurídico-processual entre: autor e Estado-juiz; Estado-juiz e réu; e autor e réu (ex.: dever de boa-fé objetiva processual – art. 5º NCPC)
Antes da citação do réu há no processo uma relação linear (entre autor e Estado-juiz). Assim, ajuizada a petição inicial (art. 263), nasce já para o Estado-juiz o dever de natureza processual. 
A citação do réu, assim, não faz surgir a relação processual, mas tão somente angulariza a relação jurídico-processual, que antes disso era linear. Fala-se, assim, em formação gradual e subjetiva da jurídico-processual.
Classificações
Classificadas conforme a espécie/natureza de tutela que se pretende do órgão jurisdicional:
Processo (ou fase) de cognição: acertamento da lide;
Processo (ou fase) de execução: realização do direito acertado, mediante atividade material tendente a obter, coativamente, o resultado prático equivalente àquele que o devedor deveria ter realizado com o adimplemento da obrigação;
Processo cautelar: garantir o resultado útil do processo de cognição ou de execução. Com medidas cautelares não se compõe a lide, mas apenas se afasta o perigo de dano sobre direito subjetivo que se afirma ter e cuja tutela definitiva há que ser requerida no processo principal.
Do conteúdo do ato judicial 
Clássica teoria ternária (trinária) da sentença:
Meramente declaratória: embora seja certo que toda sentença tem um elemento declaratório, nas meramente declaratória, busca-se exclusivamente a declaração da existência (declaração positiva) ou inexistência (declaração negativa) de uma relação de direito material 
Art. 4º: “o interesse do autor pode limitar-se à declaração” da “existência ou da inexistência de relação jurídica”; ou “da autenticidade ou falsidade de documento”
Assim, conclui-se que a certeza jurídica é bem da vida tutelável (interesse processual de agir). A demanda declaratória pode ser manejada em caráter principal ou incidental. Mas, se o autor depois quiser exigir a satisfação do direito que a sentença tornou certo, deverá promover nova demanda, de natureza condenatória.
Do conteúdo do ato judicial 
Admite-se a possibilidade de declaração do “modo de ser” de uma relação de direito material (quando não se tem duvida de que a relação jurídica existe, mas há incerteza quanto à sua natureza – p.ex.: empréstimo ou doação?).
Os efeitos da sentença declaratória são ex tunc/retroperantes (mas há exceções que admitem modulação/limitação temporal de seus efeitos – ex.: art. 27 da Lei 9.868/1999), considerando-se que a declaração somente confirma jurisdicionalmente o que já existia; nada criando de novo a não ser a certeza
jurídica a respeito da relação jurídica que foi objeto da demanda.
Constitutiva: seu conteúdo é a criação (positiva), extinção (negativa) ou modificação (modificativa) de uma relação jurídica, diferente da existente antes de sua prolação.
Em regra, a sentença constitutiva produz efeitos ex nunc, pois é a partir dela que a situação jurídica será efetivamente alterada
Do conteúdo do ato judicial 
Ex.: sentença de procedência na demanda de divórcio tem como conteúdo a extinção do vínculo conjugal e o efeito de modificar o estado civil das partes, que de casadas passarão a divorciadas. Assim, as partes só são consideradas divorciadas após (efeitos ex nunc ) a sentença de procedência que extingue a relação conjugal.
Condenatória: seu conteúdo afirma a existência de um direito (conteúdo declaratório) e reconhece sua violação, aplicando a sanção correspondente, imputando ao réu o cumprimento de uma prestação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa, com o objetivo de resolver a crise jurídica de inadimplemento. 
O efeito é a criação de um título executivo (judicial), o que permitirá a satisfação do direito do autor mediante a prática de atos executivos.
Pressupostos Processuais
A validade do negócio jurídico requer (art. 104 do CC): (i) agente capaz; (ii) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; (iii) forma prescrita ou não defesa em lei. 
Requisitos mínimos de validade da relação de direito material
Dada a autonomia da relação jurídica de direito processual perante a de direito material, conclui-se que, no campo do processo, a relação jurídica processual também tem requisitos de existência, validade e eficácia, e que lhes são próprios, os chamados de pressupostos processuais 
Alegação de inobservância de qualquer dos pressupostos processuais (ou das condições de ação) é matéria preliminar, a ser analisada antes do exame do pedido do autor (mérito)
Início do processo (art. 263) e fim (proc. cognitivo e execução)
Planos: existência, validade e eficácia
- Não se submetem ao plano da validade os fatos jurídicos, tais quais os fatos ilícitos (não se cogita de nulidade de crime), os atos-fatos (não se cogita da nulidade de uma pintura) e os fatos jurídicos naturais (não se invalida a morte).
- PONTES DE MIRANDA: “não há relação jurídica nula nem direito nulo, nem pretensão nula, nem ação nula, como não há relação jurídica anulável, nem direito anulável, nem pretensão anulável, nem ação anulável. Nulo ou anulável é o ato jurídico, inclusive o ato jurídico processual, como a sentença”. Em suma, o ato jurídico, primeiro, é; se é, e somente se é, pode ser nulo ou anulável; se é, e somente se é, pode irradiar efeitos.
Pressupostos Processuais Subjetivos
Investidura (e jurisdição);
Imparcialidade;
Competência;
Capacidade de ser parte;
Capacidade de estar em juízo;
Capacidade postulatória.
Pressupostos Processuais Subjetivos (juiz/juízo)
Investidura (e jurisdição)
O Poder Judiciário, ser inanimado que é, tem a necessidade de escolher determinados sujeitos, investindo-os do poder jurisdicional para que representem o Estado no exercício concreto da atividade jurisdicional. Esse agente público, investido de tal poder, é o juiz de direito, sujeito responsável por representar o Estado na busca de uma solução para o caso concreto. 
No Brasil, são duas as formas admitidas de obtenção da investidura: concurso público (art. 93, I, da CF) e quinto constitucional (art. 94 da CF).
A ausência de juiz (investido de poderes jurisdicionais) é vício de extrema gravidade e, por isso, é considerado pressuposto processual de existência do processo.
Pressupostos Processuais Subjetivos (juiz/juízo)
Imagine-se, p. ex., uma sentença proferida por um juiz aposentado, em nítido caso de inexistência do ato processual sentencial (por falta do pressuposto processual subjetivo da investidura). 
Mas se requer mais. Para existir, o processo deverá se desenvolver perante um órgão jurisdicional, assim entendidos os órgãos criados e admitidos como jurisdicionais pela própria Constituição Federal (art. 92).
Para que se considere existente o processo, é indiferente o fato de ele se desenvolver perante órgão jurisdicional incompetente, ainda que absolutamente. As regras de competência são classificadas como pressupostos processuais de validade - não como existência. 
Pressupostos Processuais Subjetivos (juiz/juízo)
Em suma, ainda que o juízo seja absolutamente incompetente, processo jurisdicional haverá, desde que um dos órgãos do art. 92 da Constituição Federal seja provocado e que o processo se desenvolva sob a condução de sujeito investido de poder jurisdicional (Estado-juiz).
Imparcialidade
Pressuposto processual de validade, pois, por mais parcial que seja o juiz no caso, o processo nunca deixará de existir juridicamente.
Pressupostos Processuais Subjetivos (juiz/juízo)
Competência
Diz respeito não ao juiz, mas ao juízo (mas tradicionalmente incluída como pressuposto subjetivo). 
A competência absoluta é pressuposto processual de validade, dado que os atos decisórios praticados por juízo absolutamente incompetente não se convalidam, são nulos de pleno direito (art. 113, § 2.º, do CPC )
Para parcela da doutrina a competência relativa não é pressuposto processual, porque não gera nulidade, visto que, citado o réu, de duas uma: 
(i) o réu não ingressa com a exceção de incompetência, ocorrendo prorrogação de competência; ou 
(ii) o réu excepciona o juízo, quando a incompetência será afastada no caso concreto.
Pressupostos Processuais Subjetivos (partes)
Capacidade de ser parte
Também chamada de personalidade judiciária ou personalidade jurídica, é pressuposto processual de existência 
Ex.: atos processuais promovidos contra réu morto (sem capacidade de gozo e exercício de direitos e obrigações - art. 1.º do CC)
Art. 12 do CPC: rol de meio de representação em juízo
Obs.: capacidade de ser parte vs. de estar em juízo
Por ex.: os incapazes, que têm capacidade de ser parte, necessitam de um representante processual na demanda por lhes faltar capacidade de estar em juízo.
Capacidade de estar em juízo
Exige-se das partes, para prática atos processuais, capacidade processual (legitimatio ad processum) para a prática de tais atos. 
Pressupostos Processuais Subjetivos (partes)
Capacidade postulatória
Em regra, as partes deverão ser assistidas por um advogado devidamente habilitado regularmente inscrito perante a Ordem dos Advogados do Brasil. 
Por vezes, a capacidade postulatória é dispensada, p. ex.: Juizados Especiais, Justiça Trabalhista, HC e ADIn/Adecon.
Também o art. 36 do CPC permite a exclusão da capacidade postulatória sempre que no local não existir advogado
Natureza jurídica e consequência de sua inobservância
Art. 37, §único, do CPC: atos praticados por advogado sem procuração nos autos, serão havidos por inexistentes. 
Estatuto da OAB (Lei 8.906/1994), art. 4.º: são nulos atos privativos do advogado praticados por não inscrito na OAB
Súmula 115 do STJ: “Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado sem procuração”
Pressupostos Processuais Objetivos
Pressupostos processuais objetivos extrínsecos: são analisados fora da relação jurídica processual. São pressupostos processuais negativos
Coisa julgada;
Litispendência;
Perempção;
Transação;
Convenção de arbitragem;
Ausência de pagamento de custas processuais em demanda idêntica extinta anteriormente por sentença terminativa (art. 267 do CPC).
Pressupostos Processuais Objetivos
A doutrina majoritária entende serem esses pressupostos processuais de validade
Pressupostos processuais objetivos intrínsecos: analisados na própria relação jurídica processual, São de quatro espécies:
Provocação inicial: sem que haja o rompimento da inércia da jurisdição, com o exercício do direito de ação, não há processo. Sem provocação, o Estado-juiz não atua e, como não atua, não há se falar em processo. 
Pressupostos Processuais Objetivos
A ampla maioria da doutrina
aceita o pressuposto da “provocação inicial” (chamado de “pedido” ou “demanda” por outros) como categoria ínsita ao plano da existência do processo.
Petição inicial apta: requisitos formais (art. 282), sob pena de inépcia (art. 295, I, §único – pressuposto de validade)
Pressupostos Processuais Objetivos
Citação válida: com a citação válida do demandado complementa-se a relação jurídica processual, por isso tal ato de essencial importância para a regularidade do processo. 
Existem previsões legais, entretanto, que permitem a extinção do processo antes da citação do réu (arts. 285-A e 295 do CPC), casos em que a citação não é indispensável. 
V. NCPC: “art. 239.  Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido.”
A citação válida é considerada pressuposto processual de validade, mas só nos casos em que ela é necessária.
Pressupostos Processuais Objetivos
Regularidade formal: ainda que praticado em desconformidade com a forma legal, reputa-se válido o ato se atingir sua finalidade e não gerar prejuízo (princípio da instrumentalidade das formas). NCPC:
“Art. 276.  Quando a lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa.
Art. 277.  Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.
Art. 278.  A nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos autos, sob pena de preclusão. Parágrafo único.  Não se aplica o disposto no caput às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a parte legítimo impedimento.
Art. 283.  O erro de forma do processo acarreta unicamente a anulação dos atos que não possam ser aproveitados, devendo ser praticados os que forem necessários a fim de se observarem as prescrições legais. Parágrafo único.  Dar-se-á o aproveitamento dos atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte.”

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