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1 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br AAPPOOSSTTIILLAA DDEE EESSTTÁÁGGIIOO DDEE PPRRÁÁTTIICCAA JJUURRÍÍDDIICCAA EESSCCRRIITTÓÓRRIIOO II Elaboração: Profº. MSc. Rodrigo Jansen [elaboração e organização] Material de uso pedagógico interno – proibida qualquer tipo de publicação/vinculação na web sem autorização expressa do autor 2 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 4 2 TÉCNICA DA PETIÇÃO ............................................................................................... 5 2.1 MARGENS ................................................................................................................ 5 2.2 RECUO DE PARÁGRAFO ........................................................................................ 6 2.2.1 Numeração dos parágrafos .................................................................................... 6 2.3 FONTE, TAMANHO E COR ...................................................................................... 7 2.4 ESPAÇAMENTO ....................................................................................................... 7 2.5 CITAÇÕES ................................................................................................................ 7 3. LINGUAGEM JURÍDICA ........................................................................................... 09 3.1 FUNÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA .................................................................... 09 3.2 LINGUAGEM UTILIZADA NO PROCESSO ............................................................. 10 3.3 CARACTERÍSTICAS DO TEXTO JURÍDICO .......................................................... 11 3.3.1 Impessoalidade ...........................................................................................................12 3.3.2 Concisão ............................................................................................................. 13 3.3.3 Coesão ................................................................................................................. 13 3.3.4 Coerência ............................................................................................................ 14 3.3.5 Objetividade ......................................................................................................... 14 3.3.6 Vernaculidade e abreviaturas ............................................................................ 14 3.3.7 Clareza ................................................................................................................. 15 3.3.8 Lógica .................................................................................................................. 15 3.3.9 Cortesia ............................................................................................................... 16 3.3.10 Ética ................................................................................................................... 16 3.3.11 Elegância textual .............................................................................................. 17 3.4 COMO REDIGIR UMA PETIÇÃO INICIAL ............................................................... 17 3.5 MÉTODOS PARA IDENTIFICAR O JUÍZO COMPETENTE ....................... ............. 18 3.5.1 A busca pelo juízo competente ......................................................................... 18 3.5.2 Identificação da ação cabível (peça processual a ser elaborada) .....................19 3.6 LINGUAGEM UTILIZADA – TERMINOLOGIA/DENOMINAÇÃO DAS PARTES ..... 20 4 TERMINOLOGIA DAS PARTES NO PROCESSO .................................................... 21 5 TERMINOLOGIA NA REDAÇÃO DA PEÇA .............................................................. 21 6 PETIÇÃO INICIAL ...................................................................................................... 22 6.1 CONCEITO .............................................................................................................. 22 6.2 FINALIDADE ........................................................................................................... 23 3 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 6.3 FORMA E ELABORAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL ................................................... 23 6.4 ESTRUTURA DA PETIÇÃO INICIAL ....................................................................... 24 6.4.1 Preâmbulo ........................................................................................................... 25 6.4.2 Cabeçalho ........................................................................................................... 26 6.4.2.1 Nome da ação.............................................................................................................28 6.4.3 Núcleo ou desenvolvimento ......................................................................................30 6.4.3.1 Títulos e subtítulos - tópicos .............................................................................. 31 6.4.4 Postulação .......................................................................................................... 32 6.4.5 Encerramento/Fechamento ................................................................................ 34 6.5 ORDEM PARA DECLINAR OS REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL ..................... 37 6.6 ORDEM PARA DECLINAR OS PEDIDOS E OS REQUERIMENTOS ..................... 38 6.7 NÚMERO DE CÓPIAS ............................................................................................ 40 6.8 PETIÇÕES NÃO-INICIAIS ....................................................................................... 40 6.8.1 Epígrafe ............................................................................................................... 40 7 DA AÇÃO ................................................................................................................... 42 7.1 DISTRIBUIÇÃO ........................................................................................................ 42 7.2 DISTRIBUIÇÃO POR DEPENDÊNCIA .................................................................... 43 8 DA RESPOSTA .......................................................................................................... 44 8.1 REAÇÕES DO RÉU FRENTE À PETIÇÃO INICIAL ................................................ 44 8.1.1 Contestação ........................................................................................................ 46 8.1.1.1. Estrutura e requisitos da contestação ............................................................... 48 8.1.1.2 Ordem para declinar os requisitos da contestação ............................................ 49 8.1.1.3 Defesa processual (ou formal) ................................................................................50 8.1.1.4 Defesa de mérito ............................................................................................... 51 8.1.1.5 Princípio da eventualidade ................................................................................. 54 8.1.2 Reconvenção ...................................................................................................... 54 8.1.3 Exceção de Incompetência ................................................................................. 56 8.1.4 Impugnação ao valor da causa ..........................................................................59 8.1.5 Ação Declaratória Incidental ..........................................................................................61 9 DA MANIFESTAÇÃO ACERCA DA CONTESTAÇÃO .............................................. 64 10 RECURSOS ............................................................................................................. 65 10.1 APELAÇÃO ........................................................................................................... 66 10.2 AGRAVO ............................................................................................................... 70 APÊNDICES ......................................................................................................................73 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 83 4 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 1 INTRODUÇÃO É com muita satisfação que apresentamos aos acadêmicos esta Apostila de Estágio de Prática Jurídica no semestre letivo de 2012-1. Para otimizar o desenvolvimento da disciplina de Estágio de Prática Jurídica que tem por objetivo, ensinar as técnicas para elaboração da petição inicial, peças intermediárias, respostas e defesas processuais, entre outras atitudes que podem ser tomadas, mediante casos simulados, o Prof. MSc. Rodrigo Diego Jansen, desenvolveu este material pedagógico. As peças processuais, uma vez protocoladas junto à distribuição ou a vara única, passam a ter caráter de documento público. O trâmite de uma ação leva certo tempo de duração, fato que pode ocasionar o desenvolvimento de peças pertinentes ao mesmo processo por vários Acadêmicos. Diante disto, faz-se necessária a padronização das peças processuais desenvolvidas pelo NPJ da instituição, favorecendo a estética e uniformização de todas as peças processuais que comporão o processo. Obedecendo ainda o cabeçalho e rodapé que identifica a instituição. Diante disto, este material pedagógico estará em constante atualização e revisão e norteará sua caminhada nas disciplinas de estágio. Por fim, cumpre esclarecer, que esta apostila em momento algum pretende trazer modelos prontos, o objetivo é ensinar a criá-los e estimular a criatividade do acadêmico. Votos de boa aprendizagem! Prof. MSc. Rodrigo Jansen Fevereiro/2012. 5 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 2 TÉCNICA DA PETIÇÃO Imbuídos com o espírito de aprimorar e criar uma identidade nas peças processuais desenvolvidas pelos acadêmicos nesta instituição de ensino superior segue as orientações metodológicas exigidas para a disciplina quanto às regras de formatação e padrões da prática. 2.1 MARGENS Quanto às margens, adotam-se as seguintes dimensões: 3 cm 3 cm 2 cm 2 cm Importante se ter em mente que a margem esquerda é onde as folhas do documento redigido serão perfurados para a autuação do processo, por isso o recuo deve ser considerável para evitar a perfuração de palavras constantes da peça processual. Filippeto1 sustenta a necessidade de um recuo maior na margem esquerda, “para facilitar o encarte da petição no processo e para zelar pela 1 FILIPPETTO, Maria Elizabeth Carvalho Pádua. Apontamentos de redação e prática forense. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p.61-62. 1. DOS FATOS Início de parágrafo. Modelo para desenvolvimento escrito. Início de parágrafo. Modelo para desenvolvimento escrito. Início de parágrafo. Modelo para desenvolvimento escrito. Início de parágrafo. Modelo. Superior: 3cm Esquerda: 3cm Direita: 2cm Inferior: 2cm Parágrafo: 4cm 6 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br integridade do texto” e salienta que “se a margem da esquerda for pequena, o texto será avariado, além de ficar com os inícios das frases escondidos, dificultando a leitura”. 2.2 RECUO DE PARÁGRAFO A margem de parágrafo adotado será de 4 cm. 2.2.1 Numeração dos parágrafos A numeração dos parágrafos, compondo-se em itens tende a facilitar a leitura e o raciocínio. Porém, em sentido contrário, Filippetto2 entende dispensável e despropositada. Justificativa razoável para essa prática poderia ser a louvável intenção do advogado em deixar clara a sequência de suas idéias, articulando-as, porém, não é a numeração dos parágrafos que conferirá maior clareza, lógica e coerência ao texto. Muitas vezes a petição apresenta-se totalmente articulada (exposta em artigos) e sua narrativa não obedece coerentemente a ordem numérica estabelecida, demonstrando um vaivém de idéias ou fatos que indicam ainda mais difíceis de serem compreendidos em razão da numeração. Porém a enumeração dos pedidos, quando mais de um, faz-se necessário numerá-los. A orientação é no sentido da não numeração dos fatos e nem do direito, mas de identificação dos pedidos, preferencialmente por alíneas em letras. 2 FILIPPETTO, Maria Elizabeth Carvalho Pádua. Apontamentos de redação e prática forense. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p.69. 7 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 2.3 FONTE, TAMANHO E COR A fonte exigida será unicamente ARIAL, tamanho 12 para o corpo da peça processual, ou seja, para os parágrafos jurídicos, conforme item 5.1 da NBR 15287:2005. A cor somente será o preto. Não será admitido letras coloridas. 2.4 ESPAÇAMENTO Aconselha-se a utilizar o espaçamento de 1,5 cm (um centímetro e meio) entre uma linha e outra, conforme item 5.3 da NBR 15287:2005, uma vez que o espaço simples deixa o texto muito compactado, podendo dificultar a leitura. 2.5 CITAÇÕES Sempre que for necessário citar dispositivo legal, doutrina e/ou jurisprudência, será observada a NBR 10520:2002 da ABNT. As citações de dispositivos de lei, jurisprudência, doutrina são muito utilizadas na redação da prática forense, e, para Filippeto3 “funcionam como verdadeiras âncoras no desenvolvimento da tese”. Assim, recomenda-se a observância dos conselhos do autor referido: a) sejam transcritas fora da formatação dos parágrafos, com recuo, para se destacar do texto da redação; b) seja utilizado algum recurso para que a transcrição se sobressaia como: usar tipo ou tamanho de letra diferente da redação, negrito, itálico, aspas etc.; c) indicar sempre a fonte de onde foi extraído, o nome do autor, quando citação doutrinária, o tribunal julgador, tipo e número do recurso e data do julgamento, no caso de jurisprudência. Assim, as citações terão o mesmo recuo do parágrafo, qual seja, de 4 cm, porém de fonte 11 e espaçamento simples (NBR 15287:2005, item 5.1). 3 FILIPPETTO, Maria Elizabeth Carvalho Pádua. Apontamentos de redação e prática forense. São Paulo: Memória Jurídica, 2001, p.63. 8 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br EXEMPLOS: Art. 186 CC. Aquele que,por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. A pretensão das partes encontra arrimo no art. 1.580, § 2º e 1.582, ambos do Código Civil: Art. 1.580, § 2º. O divórcio poderá ser requerido, por um ou por ambos os cônjuges, no caso de comprovada separação de fato por mais de dois anos. Segundo os ensinamentos de Maria Helena Diniz “O divórcio é a dissolução de um casamento válido, ou seja, extinção do vínculo matrimonial (CC, art. 1.571, IV e § 1º), que se opera mediante sentença judicial ou escritura pública, habilitando as pessoas a convolar novas núpcias.” (In. Curso de direito civil brasileiro. v. 5. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 336). É entendimento jurisprudencial: DIVÓRCIO DIRETO. IMPLEMENTAÇÃO DO REQUISITO TEMPORAL À ÈPOCA DO JULGAMENTO. DECRETAÇÃO. POSSIBILIDADE. É de ser admitida a ação de divórcio direto, ainda que o prazo tenha sido implementado após a sentença e antes do julgamento do recurso em sede recursal. Inteligência do art. 462 do Código de Processo Civil. Estando, outrossim, o feito, em condições de imediato julgamento, impositiva a decretação do divórcio pelo órgão colegiado, com fundamento no art. 515, §3º, do diploma processual civil. Apelo provido (TJRS, Apelação Cível nº 70009031493/RS, Sétima Câmara Cível. Relatora: Desembargadora Maria Berenice Dias. Julgado em: 25.08.2004. Disponível em: <http://www.mariaberenice.com.br /uploads/70009031493.doc>. Acesso em: 21.02.2011). 9 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 3. LINGUAGEM JURÍDICA Segundo Viana4, “Os profissionais do Direito afirmam de modo categórico que apresentam dificuldades na redação dos textos jurídicos, pois dizem que, entre as várias complexidades redacionais, a maior delas é escrever um texto claro e objetivo.”. Complementa o doutrinador: Não há dúvida de que o Advogado, o Juiz de Direito, o Promotor de Justiça, o Procurador do Estado, o Delegado de Polícia, o Defensor Público e outros operadores do Direito redigem diariamente peças processuais, tais como petições iniciais, contestações, recursos, portaria para instauração de inquéritos policiais, denúncias, sentenças etc., já que o ato de escrever é inerente ao desenvolvimento das atividades desses profissionais.5 Portanto, para os operadores do Direito a leitura constante torna-se indispensável para a aquisição dos conhecimentos necessários para o desenvolvimento da boa escrita. A prática constante da leitura de bons textos colabora para um bom raciocínio e conduz à produção de bons textos, enquanto o pensamento confuso resulta em escrita confusa. 3.1 FUNÇÃO DA LINGUAGEM JURÍDICA A linguagem forense deve ser clara é técnica, de forma a fazer com que todos captem a mensagem, pois sabemos que os maiores destinatários dos textos elaborados pelo Poder Legislativo e as sentenças prolatadas pelo Poder Judiciário, são os cidadãos. Viana6 ensina que, Um dos objetivos do estudo das funções da linguagem é auxiliar o operador de Direito na construção do texto jurídico – como, por exemplo, uma petição inicial ou uma contestação – capaz de 4 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.1. 5 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.1-2. 6 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.14. 10 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br estimular não só a leitura, mas também prender a atenção do receptor. Para que isso seja possível, além de outras técnicas redacionais, o operador do Direito precisa conhecer as funções da própria linguagem forense. Com isto, resta claro que com a mensagem dirigida ao receptor (no caso, o juiz) tem-se em mira a produção de reação favorável ao acolhimento do pedido formulado. Inegável que todo o operador do direito deva gostar de ler. Esta área exige atualização permanente! 3.2 LINGUAGEM UTILIZADA NO PROCESSO A linguagem utilizada no processo deve ser mais acessível possível. Viana alerta para a necessidade de o operador do Direito observar que com a aplicação do vocabulário jurídico pode ocorrer o “aparecimento de palavras grotescas ou de difícil compreensão e aquelas rebuscadas, que devem ser evitadas, pois impedem a perfeita comunicação entre os profissionais do Direito. [...]”.7 O autor referido orienta para que se evite o rebuscamento e o preciosismo. Conforme leciona Pereira, “não é bom, outrossim a ‘bajulação’ exagerada ao juiz do tipo: ‘Fulano de Tal vem, à elevada presença de V. Exª’, ou ‘mui respeitosamente.....’ (suponho que uns digam ‘à consagrada presença...’ ou dirão à ‘santa presença’ e outros adjetivos desnecessários.8 Neste mesmo sentido é Campestrini e Florence9: É comum encontrar professores, articulistas, magistrados e outros sugerindo a simplificação do texto jurídico. Louvável a iniciativa. Não se pode, todavia, descaracterizar a linguagem jurídica – é ela a expressão de uma ciência. O que se deve condenar são os pedantismos (peça vestibular por petição inicial; ou vem à ínclita presença de Vossa Excelência); as expressões cheirando a mofo (se por al não estiver no ergástulo ou ao arrepio da lei); palavras e 7 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p. 43-44. 8 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. CLEDIJUR: São Paulo, 2011, p. 56. 9 CAMPESTRINI, Hildebrando. FLORENCE, Ruy Celso Barbosa. Como redigir petição inicial. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 26. 11 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br expressões estrangeiras (expert por perito, parquet por Ministério Público, ex positis, ex vi legis, custos legis e tantas outras); a falta de objetividade, clareza e lógica. Certo magistrado iniciou a decisão anotando que “o punctus prueins da questão era o domínio do imóvel”. Ocorre que punctus pruriens significa, literalmente, o ponto (local) que está com coceira – expressão no mínimo estranha. Não é demais repetir: texto que exige releitura ou consulta sistêmica a dicionário não está bem escrito. (grifos no original). De outro norte, não devem ser lançadas palavras ofensivas e desrespeitosas às partes, ao juiz e ao advogado da parte contrária. Nunca critique maldosamente. Conforme dispositivos legais do Código de Processo Civil e Código Penal estabelecem: Art. 15 CPC. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra. Art. 142 CP. Não constituem injúria ou difamação punível: I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador. [...] Parágrafo único. Nos casos dos n. I e III, responde pela injúria ou difamação quem lhe dá publicidade. Necessário mencionar ainda que deve-se evitar o uso de gírias, pois indicam desconhecimento da linguagem técnico-forense, além de empobrecer a peça processual. 3.3 CARACTERÍSTICAS DO TEXTO JURÍDICO Müssnich10 ensina que o “bom texto jurídico tem três características: clareza, objetividade, elegância. Uma palavra errada pode colocar a perderum processo. Muita gente erra porque não conhece a própria língua.” Pode- se complementar estas características acrescentando um estilo claro, convincente e sem omissões. 10 MÜSSNICH, Francisco. Cartas a um jovem advogado. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 29-30. 12 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Diante disto, o emissor da mensagem tem várias maneiras de transmiti-la e descrevê-la. Diferente de falar é escrever, pois a escrita não possui outras articulações que complementam a mensagem, como os gestos, expressão facial e entonação de voz. Por isso, o profissional do Direito deve dominar o vocabulário jurídico, e isto é facilitado mediante muita leitura. Mesmo diante das limitações da escrita em transmitir a mensagem, é possível, gritar, sussurrar, contar, explicar, comentar, jurar, lembrar, enfatizar, retrucar, contradizer e afirmar. É o que propõe Müssnich da seguinte forma: “Faça uma experiência. Escreva: ‘Ele andou até o carro’. Agora, experimente retirar a palavra ‘andou’ e trocar por uma dessas: ‘arrastou-se’, ‘cambaleou’, ‘marchou’, ‘saltitou’, correu’. Cada uma dessas sugere cena diferente”.11 Da soma de todos os parágrafos jurídicos tem-se como resultado o texto jurídico organizado, ou seja, a própria peça processual completa. Deve-se evitar espaços significativos entre as partes do texto, tanto para não permitir qualquer inserção como também para economizar material.12 3.3.1 Impessoalidade As petições devem sempre ser escritas na terceira pessoa, devendo ser evitado sempre que possível o uso constante de vocativos para chamar a atenção do juiz, como a exemplo “Ocorre Excelência...”. Como ensina Pereira, ao iniciar o texto na terceira pessoa, não se pode mudar para outra pessoa da conjugação verbal, sob pena de macular o aspecto linguístico. Ademais, o advogado fala pelo constituinte; não por si e diante disso, o referido autor exemplifica: Não se diz: “grifos nossos” (primeira pessoa), deve ser dito: “grifos do subscrito” ou “grifou-se”; não se diz: “em meu entendimento” (primeira pessoa), deve ser dito: “é do entendimento do Autor”; não 11 MÜSSNICH, Francisco. Cartas a um jovem advogado. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007, p. 30. 12 CAMPESTRINI, Hildebrando. FLORENCE, Ruy Celso Barbosa. Como redigir petição inicial. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 88. 13 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br se diz: “em que pese o nosso respeito pela parte contrária” (primeira pessoa), deve ser dito: “em que pese o respeito nutrido pela parte contrária”; não se diz: “os nossos tribunais têm entendido...”, deve ser dito: “os tribunais pátrios têm entendido...”. Não se usa as expressões nosso, nossos, meus, minhas, porque a redação deverá seguir uniforme, sempre na terceira pessoa.13 3.3.2 Concisão Ser conciso significa trabalhar com fatos necessários, suficientes para formar o convencimento do juiz, ou seja, devem ser evitados fatos e expressões redundantes e repetitivos, que emitem dúvida ou são inúteis.14 Para Viana, concisão “é o ato de exprimir muitas idéias, utilizando-se o menor número de palavras possíveis, evitando detalhes e repetições desnecessários. Isso significa que se deve ir direto ao assunto. As peças processuais com laudas extensas não garantem a vitória em uma ação judicial, mas o conhecimento jurídico que o profissional do Direito tem sobre o assunto que está ‘sub judice’”.15 A respeito disso, reforça Pereira “não ser conveniente elaborar parágrafos ‘quilométricos’, porque ficam cansativos para a leitura. [...]. Cansativos também são os petitórios com dezenas de decisão pretorianas (jurisprudência)”.16 Devem ser afastados os extremos, a petição não dever ser muito extensa nem muito reduzida. O advogado deve se limitar ao estritamente necessário e para cada parágrafo formular uma única ideia ou fato. 3.3.3 Coesão Coesão, segundo Viana, “é a competência linguística de se estabelecer uma relação de sentido entre as palavras, expressões ou enunciados que compõem a redação forense. É o encadeamento das idéias, uma seqüência de 13 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. CLEDIJUR: São Paulo, 2011, p. 20. 14 Texto extraído do seguinte site: http://www.scribd.com/doc/16356130/Apostila-de-Pratica- Processual-Civil. Acessado em 11 de dezembro de 2010. 15 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.99. 16 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. CLEDIJUR: São Paulo, 2011, p. 21. 14 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br enunciados que formam o texto jurídico”.17 Ou seja, a coesão deve estar em cada parágrafo. 3.3.4 Coerência Para Viana, coerência “é a unidade de sentido de um texto, permitindo que suas várias partes estejam ligadas harmonicamente entre si, sua base é a lógica contextual, pois o texto coerente apresenta começo, meio e fim” 18. Deste modo, diferente da coesão, a coerência é a ligação de um parágrafo com o próximo, dando organicidade no texto de forma a facilitar a compreensão das idéias. 3.3.5 Objetividade A linguagem objetiva importa em convencer o juiz com exposição lógica, coerente, segura, com serenidade e firmeza, que não se confunde com exaltação ou destempero. Assim, a objetividade não admite afirmações supérfluas e prolixas.19. 3.3.6 Vernaculidade e abreviaturas Vernáculo é o idioma próprio e peculiar do país. Deve-se evitar o uso de expressões latinas e/ou estrangeiras. Dispõem a Constituição da Republica Federativa do Brasil, artigo 13 e o Código de Processo Civil, artigo 156: Art. 13 CRFB/1988. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. Art. 156 CPC. Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo. 17 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.78-79. 18 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.80-81. 19 Texto extraído do seguinte site: http://www.scribd.com/doc/16356130/Apostila-de-Pratica- Processual-Civil. Acessado em 11 de dezembro de 2010. 15 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Ressalta-se aconselhável evitar o uso de abreviaturas, salvo para referir-se à siglas, aos códigos ou à Constituição Federal, como por exemplo: CPC, CC, CLT, CF, CPP, OAB, PROCON, INSS, INPC etc. Algumas palavras especiais também podem vir abreviadas, tais como: CTPS, RG, CPF, CNPJ, CEP, FGTS, MM., TJSC, STF, STJ, doc., p. ex., séc., art., pág. etc. Neste sentido é o Código de Processo Civil: Art. 169, § 1º CPC. É vedado usar abreviaturas. Esta é a corrente favorável adotada pela doutrina de nunca abreviar. Pois muitas abreviações somente são conhecidas das pessoas que delas as utilizam20. 3.3.7 Clareza Viana21 conceitua clareza como sendo a “capacidade de se organizar as idéias de forma a expô-las sem obscuridade. Vários fatores impedem a clareza de um texto jurídico, a saber: erros gramaticais, vocábulos imprecisos ou rebuscados, períodos longos, frases mal articuladas etc.” 3.3.8 Lógica É a adequação das informações na ordem em que os fatos ocorreram, de forma sutil e pacífica, mas voltada ao convencimento do examinador.Assim, os argumentos lançados na fundamentação de uma petição inicial devem justificar os pedidos.22 20 GONÇALVES, Mirian. Petição inicial no direito processual civil: teoria e prática. 2ª ed. – rev. e aum. – São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 29. 21 VIANA, Joseval Martins. Manual de redação forense e prática jurídica. 2. ed. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2005, p.99. 22 Texto extraído do seguinte site: http://www.scribd.com/doc/16356130/Apostila-de-Pratica- Processual-Civil. Acessado em 11 de dezembro de 2010. 16 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 3.3.9 Cortesia É o dever de urbanidade entre os sujeitos da relação processual (as partes, o juiz, e os advogados entre si). Quanto a este aspecto, é importante lembrar o dispositivo legal da resolução do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil, art. 44: Art. 44. Deve o advogado tratar o público, os colegas, as autoridades e os funcionários do Juízo com respeito, discrição e independência, exigindo igual tratamento e zelando pelas prerrogativas a que tem direito. Frisa-se o dito no item 3.2 supra: ao elaborar suas petições, o advogado deve ter cuidado para não dar ao texto caráter de subordinação entre advogado e magistrado ou membros do Ministério Público (art. 6º do Estatuto da Advocacia – Lei nº 8.906/94). Deverá se manifestar com respeito e urbanidade em relação aos demais sujeitos do processo, mas nunca atribuir ao texto jurídico ou atuação oral tom de submissão ou inferioridade.23 3.3.10 Ética Há um compromisso do advogado com a ética profissional, devendo prevalecer, em qualquer situação, o respeito à dignidade dos envolvidos. A necessária firmeza nos argumentos não permite agressões, ironias, calúnia ou injúria. A inviolabilidade do advogado não lhe dá o direito de colocar em prática este comportamento. O próprio CPC estabelece, nos incisos do art. 14, às partes e a todos aqueles que participam do processo, os deveres de “expor os fatos em juízo conforme a verdade”; “proceder com lealdade e boa-fé”; “não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento”; “não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito” e “cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final”. Assim, deve-se postular no processo sem atacar as partes, juiz ou advogados. 23 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 28. 17 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 3.3.11 Elegância textual A elegância textual é o resultado que se deve obter com o texto jurídico finalizado, ante a observação de todas as características anteriormente estudadas. Estão incluídas na elegância textual, além do conteúdo, a originalidade e a estética da peça processual, ou seja, o próprio aspecto formal do texto jurídico, o qual deverá conter parágrafos e estar justificado. Pereira recomenda que “Esteticamente, as expressões latinas ou estrangeiras devem vir em negrito ou itálico. As citações importantes devem ser DESTACADAS, ‘e n f a t i z a d a s’, EVIDENCIADAS, de maneira tal que, ao manusear a petição, atraia o julgador e chame-o para a leitura; seja convite agradável”.24 Mas sem exageros. Finalizada peça processual pertinente, o profissional deverá revisá-lo para evitar adendos e rasuras. É o último estágio, efetuando os definitivos retoques. 3.4 COMO REDIGIR UMA PETIÇÃO INICIAL Segundo Bortolai25, para se redigir uma petição inicial deve-se obedecer a ordem de dez critérios: 1º Historiar os fatos em ordem cronológica. 2º Verificar qual o direito do requerente em função dos fatos narrados (a que título formulará a pretensão), justificando. 3º Verificar, pela matéria versada, qual o juízo competente: monocrático (federal, estadual ou especial) ou tribunal. 4º Se Justiça estadual, verificar a comarca competente. 5º Se capital, verificar se Vara especializada ou Regional. 6º Verificar, dentre as ações existentes (conhecimento, execução, cautelar), qual a que interessa. 7º Dentre essas ações selecionar aquela com rito adequado (ordinário, sumário, por exemplo, se executivo aquela pertinente etc.). 8º Tendo em vista o direito do requerente (o direito aplicável à espécie) e o fato concreto (fato narrado e documentado), deduzir pretensão (formular pedido), observando o silogismo legal: P.M. – lei; p.m. – fato; cls. – pedido. 24 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. CLEDIJUR: São Paulo, 2011, p. 62. 25 BORTOLAI, Edson Cosac. Manual de prática forense civil. 9. ed. São Paulo: RT, 2003, p. 37. 18 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 9º Verificar pelos fatos narrados qual o valor envolvido, observando- se o art. 259 do CPC. 10º Analisar qual a melhor maneira de demonstrar ao juiz a ocorrência dos fatos alegados (ou verificar quais as provas de que se disporá no curso do processo: documental, oral, pericial ou outras). Gonçalves26 salienta que “os fatos devem ser descritos, mas não seja prolixo. Uma petição clara é muito mais adequada do que uma rebuscada. Por técnica da redação, não utilize parágrafos muito longos, pois, caso contrário, é certo que se perderá na concordância, e quem estiver lendo já se perderá no meio de algumas palavras”. 3.5 MÉTODOS PARA IDENTIFICAR O JUÍZO COMPETENTE A localização da competência, na vida prática, nada mais é do que encontrar entre os órgãos do Poder Judiciário brasileiro e nas diversas divisões territoriais aquele que seja o único investido pela lei para processar e julgar o conflito.27 3.5.1 A busca pelo juízo competente 1º Verificar se a justiça brasileira é competente para julgar a causa (arts. 88-89, CPC); 2º Investigar se é competência originária (juiz monocrático ou tribunal) ou órgão atípico (art. 51-52, CRFB/1988 - Senado Federal, Câmara dos Deputados, Assembléia Legislativa); 3º Identificar se a competência é da justiça especial (eleitoral, trabalhista, militar) ou comum (estadual ou federal); 4º Se comum: verificar se é federal (art. 109 CRFB/1988) ou estadual (residual); 26 GONÇALVES, Mirian. Petição inicial no direito processual civil: teoria e prática. 2ª ed. – rev. e aum. – São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, pp. 28/29. 27 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 77. 19 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 5º Se estadual: buscar o foro (comarca) competente – local (cidade) onde a demanda deve ser proposta (arts. 94 a 100 do CPC); 6º Verificar o juízo competente (vara especializada). Observação: competência estadual comum – é residual (remanescente). Todas as matérias que não estiverem definidas como sendo de competência de outros entes é de competência da justiça estadual. Assim, a localização da competência poderá ser realizada por critério de exclusão. 3.5.2 Identificação da ação cabível (peça processual a ser elaborada) O primeiro passo que se deve buscar é verificar qual processo e o procedimento a ser seguido: de conhecimento – comum ou especial -, de execução ou cautelar, de acordo com o CPC, e o procedimento a ser seguido. Para tanto, deve-se examinarcuidadosamente o direito material e o direito processual28. As providências jurisdicionais advindas de cada um destes são diferentes. Assim, no conhecimento objetiva-se a certificação do direito (mediante uma condenação, constituição ou declaração), na execução pretende-se a realização do direito consubstanciado no título executivo e na cautelar pretende-se o acautelamento do resultado útil da certificação ou da atuação do direito, que pode se dar de maneira preventiva, preparatória ou incidental (no curso de outra ação). Santos aconselha usar o método de exclusão. “Primeiro veja se é caso de processo de execução, não sendo descarte-o, em seguida verifique se é processo cautelar, não sendo já se sabe que o processo é o de conhecimento”.29 Parizatto30, a título de orientação para a propositura de ação judicial estabelece a seguinte ordem: a) Escolher o tipo de ação a ser ajuizada, prevista no processo de conhecimento, no processo de execução, no processo cautelar, nos processos especiais de jurisdição voluntária ou contenciosa. 28 Quando o tipo de procedimento, escolhido pelo sujeito ativo, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação, e a petição inicial não puder se adaptar ao procedimento legal, esta será indeferida (CPC, art. 295, V). 29 SANTOS, Vauledir Ribeiro. Como se preparar para o exame de ordem. 11. ed. São Paulo: Método, 2005, p. 203. 30 PARIZZATO, João Roberto. Prática forense. v. 2. 10. ed. São Paulo: Edipa, 2010, p. 2501-2502. 20 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br b) Escolher o procedimento para a ação (comum – ordinário ou, sumário, especiais de jurisdição voluntária, especiais de jurisdição contenciosa, de execução, cautelar ou previsto em outra lei extravagante). c) Verificar o juízo competente para a ação, inclusive Juizado Especial Cível. d) Verificar o valor da causa. e) Verificar a legitimidade ativa (do autor) e passiva (do réu) para a ação. f) Verificar se o direito não está prescrito ou se não ocorreu decadência. 3.6 LINGUAGEM UTILIZADA – TERMINOLOGIA/DENOMINAÇÃO DAS PARTES Deve-se usar corretamente a terminologia jurídica e não a substituir por sinônimos. O direito é uma ciência e como tal exige rigor em sua linguagem. A terminologia correta é a que consta da doutrina e dos códigos. Ex. Petição inicial não deve ser substituída por, exordial, peça vestibular, prefacial, peça inaugural e outras equivalentes. O emprego correto do termo técnico não acarreta o menor problema na sua repetição, o que somente facilita a tarefa do leitor, no acompanhamento do raciocínio ali desenvolvido.31 Devem-se evitar nomenclaturas abolidas pelo sistema processual atual, como a exemplo de suplicante e suplicado. Abaixo seguem algumas terminologias das partes no processo dependendo do tipo da ação intentada em juízo. Devendo profissional zelar em manter sempre as terminologias do começo ao final da redação, sem misturar, ainda que como sinônimos, a exemplo, uma hora denominar de autor e noutra de requerente. Assim, deve-se atentar para a uniformização da redação no tratamento das partes. 31 CASSANY, Daniel. Descrever o escrever: como se aprende a escrever. Itajaí: Univali, 1999. 21 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 4 TERMINOLOGIA DAS PARTES NO PROCESSO DEMANDAS/RECURSOS DESIGNAÇÃO DAS PARTES NO PROCESSO POLO ATIVO POLO PASSIVO Genérico para demandas Autor Requerente Demandante Réu Requerido Demandado Genérico para recursos Recorrente Recorrido Ação trabalhista Reclamante Reclamado Agravo Agravante Agravado Apelação Apelante Apelado Alimentos Alimentando/alimentado Alimentante Cobrança / Monitória Credor Devedor Consignação em pagamento Consignante Consignado/Consignatário Curatela Curador Curatelado Embargos Embargante Embargado Exceções Excipiente Excepto Execução Exequente/Credor Executado/Devedor Interdição Interditando Interditado Locação Locador Locatário/Inquilino Impugnação Impugnante Impugnado Inventário Inventariante Inventariado Mandado de Segurança Impetrante Impetrado Notificação Notificante Notificado Nunciação de Obra Nova Nunciante Nunciado Reconvenção Reconvinte Reconvindo Reivindicação Reivindicante Reivindicado Tutela Tutor Tutelado Usucapião Usucapiente Usucapiendo 5 TERMINOLOGIA NA REDAÇÃO DA PEÇA Propor/Ingressar/Ajuizar Ações Promover Execuções Interpor Apenas para recursos Opor/arguir Exceções Impetrar Para remédios constitucionais, como Mandado de Segurança, Injunção, habeas corpus (paciente), habeas data etc. Apresentar/Oferecer/ Manifestar Réplica, contestação, respostas do réu e manifestações em geral durante o curso do processo. 22 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 6 PETIÇÃO INICIAL Petição inicial é, sem dúvida, a mais importante peça processual que compõe um processo, eis que através dela se demonstra o que a parte pretende, como pretende, esclarecem-se os fatos e o enquadramento jurídico do pedido. Trata-se de ato solene. De regra, somente após a iniciativa da parte (autor ou interessado), é que o juiz poderá prestar a tutela jurisdicional, conforme dispõe art. 2º do CPC: Art. 2º CPC. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando à parte ou o interessado a requerer, nos casos e formas legais. Theodoro Junior ensina que “sem a petição inicial, não se estabelece a relação processual. É ela que tem a força de instaurar o processo e de fixar o objeto integral daquilo que vai ser solucionado pelo Órgão Jurisdicional: o litígio”.32 Para Palaia33, a elaboração da petição inicial exige “cuidado na escolha da ação, precisão jurídica dos conceitos, clareza de idéias e de desenvolvimento do raciocínio, concisão na exposição dos fatos e fundamentos e perfeição lógica e jurídica, [...]”. 6.1 CONCEITO Santos conceitua petição inicial como o “direito de agir, que é geral e abstrato, e que consiste no direito de invocar a tutela jurisdicional do Estado para decidir sobre uma pretensão, manifesta-se em concreto por meio de uma petição escrita do autor ao juiz. A essa petição denomina-se petição inicial, ou simplesmente, inicial”.34 32 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de processo civil. v. 1. 36. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 318. 33 PALAIA, Nelson. Técnica da petição inicial. 8 ed. rev. e atual. São Paulo: 2004, p. 21. 34 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. v. 1. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 141. 23 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Wambier conceitua petição inicial “como o instrumento pelo qual se introduz a demanda em juízo. [...]. Como o ato processual escrito, pelo qual se exerce o direito de ação, dando início à atividade jurisdicional”.35 6.2 FINALIDADE Casella leciona que “quando alguém pretende propor qualquer ação, que consiste no direito de invocar ‘tutela jurisdicional’ do Estado para decidir sobre uma pretensão resistida, manifesta-se através de um requerimento escrito dirigido ao juiz de direito ou tribunal, por meio de advogado devidamente habilitado e credenciado”.36 Complementa o autor: Dá-se o nome de ‘petição inicial’ a esse requerimento. Na sua composição é necessário observar os requisitos previstos no art. 282 do CPC, os quais são essenciais e não devem faltar qualquer espécie de ação. Seja qual for o rito processual previsto, ela se fará homogênea, somente se alterando no que tange aos fatos efundamentos jurídicos, que são próprios a cada ação a ser proposta. A petição inicial é o ato instrumental para o início da ação: Nemo judex sine actore (Não há juiz sem autor) e Ne procedat judex de offcio (O juiz não procede de ofício) – arts. 262 e 2º do CPC. A petição inicial é a peça mais importante do processo. É ela que estabelece os limites da própria sentença, a qual não pode ficar aquém, nem além e nem fora do que for nela articulado.37 6.3 FORMA E ELABORAÇÃO DA PETIÇÃO INICIAL Apesar de inexistir regra legal acerca da forma de como devem ser redigidas as petições apresentadas em juízo, tem-se que o profissional do direito deva fazê-la da melhor forma possível. Diante disso, frisa-se que será exigida a forma metodológica apresentada no item 2 desta apostila. Ademais se transcreve o dispositivo legal da resolução do Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil, art. 45: 35 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil. v. 1. 8. ed. São Paulo: RT, 2006, p. 266. 36 CASELLA, José Erasmo. Manual de prática forense. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 1. 37 CASELLA, José Erasmo. Manual de prática forense. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 1-2. 24 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Art. 45. Impõe-se ao advogado lhaneza, emprego de linguagem escorreita e polida, esmero e disciplina na execução dos serviços. Muito embora não haja forma definida em lei, em regra, a petição inicial deverá ser manifestada por escrito, através de advogado constituído e habilitado (arts. 36 a 38 do CPC), salvo nos casos expressamente previstos em lei38. Não pode a parte, salvo se possuir habilitação legal, propor a ação, sem assistência de um advogado. 6.4 ESTRUTURA DA PETIÇÃO INICIAL A petição inicial é composta por partes que podem ser divididas em introdução (identificação, que compreende preâmbulo, epígrafe e identificação completa das partes, inclusive endereço com CEP), corpo (narração/exposição dos fatos), postulação (petitório) e complementos. A divisão proposta e exigida é no sentido da utilização de 03 (três) grandes tópicos: DOS FATOS; DO DIREITO e DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS. Os requisitos que devem ser observados na elaboração da petição inicial são previstos no artigo 282 do CPC e aplicam-se a todas as ações judiciais, independentemente do procedimento. No entanto, devem ser observados os requisitos específicos em relação aos demais procedimentos, quando a legislação os estabelecer. Embora não constem como requisito do Código de Processo Civil, o número da carteira de identidade, bem como do CPF/MF, no caso de pessoa física ou CNPJ, no caso de pessoa jurídica, devem também constar das petições, conforme provimento 11/2008 do TJSC: PROVIMENTO N. 11/2008 Dispõe sobre a informação do número de inscrição das partes no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ da Receita Federal do Brasil. 38 Por exemplo, nas causas de valor inferior a vinte salários mínimos, perante o Juizado Especial Cível, conforme art. 9º, da Lei nº 9.099/1995, nas causas de valor inferior a sessenta salários mínimos, perante os Juizados Especiais Federais Cíveis, conforme Lei nº 10.259/2001, a impetração de Habeas Corpus, nos termos do artigo 654 do CPP e do §1º do artigo 1º da Lei 8.906/1994, entre outros. 25 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 213-A. As petições iniciais, de respostas e de recursos protocolizadas no Foro Judicial devem ter a indicação do CPF ou CNPJ do requerente e respectivo procurador. § 1o O autor, na petição inicial, deverá indicar o CPF ou CNPJ do réu. § 2o Na hipótese de a parte não possuir a inscrição nos cadastros da Receita Federal, ou quando para o réu não for conhecido o respectivo número, tais circunstâncias deverão ser declaradas na petição inicial, e responderá o declarante pela veracidade da afirmação, especialmente para os efeitos do art. 17 do CPC. § 3o A especificação do CPF e CNPJ também é obrigatória para os casos de pluralidade de partes (litisconsórcio ativo ou passivo). § 4o Caso não seja indicado o número do CPF ou CNPJ da parte, o servidor procederá à intimação para suprir a omissão. § 5o Persistindo a omissão, o Juiz poderá determinar diligências para suprir sua falta. [...]. Se for parte (autor ou réu) pessoa jurídica, deve ser qualificado, indicando quem a representa, em observação ao disposto no art. 12, VI do CPC. Tal dispositivo deverá ser observado para não incorrer em falta de legitimidade, em se tratando dos casos ali expressos. Deverá atentar-se para os casos de incapacidade (art. 3º e 4º do Código Civil) o qual incidirá a regra do art. 8º do CPC, conforme for o caso. 6.4.1 Preâmbulo De acordo com Luz, “insere-se, nesse item, o destinatário da petição inicial, ou seja, a autoridade judicial que pretende o autor seja o responsável pela apreciação e julgamento da demanda”.39 Em suma, é o endereçamento da petição, conforme art. 282, I do CPC, que dependendo de cada caso, deverá ser dirigido ao juiz de 1º grau (estadual ou federal), sem indicar a vara, porque depende de prévia distribuição, em regra. 39 LUZ, Valdemar P. Manual Prático de iniciação à advocacia. 7. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009, p. 17. 26 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Aconselha-se escrever todo o texto em maiúsculo, negrito e sem abreviação. (ver item 3.3.6 supra). 6.4.2 Cabeçalho O cabeçalho, para Luz, “consiste na menção expressa, que se faz ao nome das partes (demandante, demandado), bem assim as suas respectivas qualificações (nacionalidade, estado civil, profissão) e respectivos endereços, ao que se acrescenta a denominação (nomem iuris) da ação que se pretende”.40 A indicação do rito logo após a denominação da demanda. É a qualificação das partes, conforme dispõe art. 282, II do CPC. Caso forem mais de um autor e/ou mais de um réu, todos deverão ser devidamente qualificados, podendo ser indicados na sequência ou um abaixo do outro, como preferir. 40 LUZ, Valdemar P. Manual Prático de iniciação à advocacia. 7. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009, p. 19. EXEMPLOS: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __VARA CÍVEL DA COMARCA DE BLUMENAU – SANTA CATARINA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA __ VARA FEDERAL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE BLUMENAU/SC - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SANTA CATARINA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE BLUMENAU - SANTA CATARINA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SANTA CATARINA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR FEDERAL PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 27 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Quanto a forma, será a mesma da exigida para o endereçamento, ou seja, o nome das partes e a denominação jurídica da demanda devem ser escritos com letras maiúsculas e em negrito, conforme quadro abaixo: Embora muitas vezes não seja possível saber a qualificação completa das partes, por não se conhecer,por exemplo, o estado civil ou a profissão da parte oposta, é necessário que se faça a individualização destas para que, entre outras coisas, a sentença possa obrigar pessoas certas e também para evitar a citação de pessoas homônimas41. Gonçalves42 ensina que a ação é proposta em face de alguém e não contra alguém. A técnica é que o autor ingressa com a ação em face de alguém e contra o Estado. A parte contra o Estado não precisa ficar constando da inicial, pois é presumida. Também não é correta a expressão “face a”, que vem do Francês. Em português, o correto é em face de. Quanto a utilização de artigos no cabeçalho, em certas situações é aceitável, desde que a indicação do(s) artigo(s) se refira(m) apenas ao direito processual e nunca relativos a direito material.43 É adequado, desde o início da petição (seja inicial, intermediária ou de resposta), enumerar os documentos que a instruem, e ao final catalogá-las em ordem no “rol de documentos”. 41 É importante lembrar os casos de litisconsórcio necessário (CPC, art. 47, primeira parte), pois é indispensável que todos estejam figurando na petição inicial, sob pena de extinção do feito, uma vez que “a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no processo”. 42 GONÇALVES, Mirian. Petição inicial no direito processual civil: teoria e prática. 2ª ed. – rev. e aum. – São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 30. 43 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 40. EXEMPLO: NOME DO REQUERENTE, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência, RG e CPF, por intermédio de seu advogado que abaixo subscreve (procuração em anexo), ingressar com AÇÃO DE CONHECIMENTO, pelo rito ordinário em face de NOME DO REQUERIDO, nacionalidade, estado civil, profissão, domicílio e residência, RG e CPF, pelos seguintes fatos e fundamentos que passa a expor: 28 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Observação: entre o endereçamento da petição (preâmbulo) e a qualificação das partes (cabeçalho) deve-se deixar o máximo de espaço possível, pois, apesar de raro nos dias atuais, em determinadas situações, é nesse espaço que o juiz escreverá sua decisão ou despacho a respeito do pedido formulado. Ademais, neste espaço é indicado no número que os autos receberá, na forma de etiqueta adesiva. Assim, é aconselhável iniciar a qualificação das partes pouco abaixo da metade da folha do papel. 6.4.2.1 Nome da ação Quanto ao nome da ação, pertinente trazer a crítica de Paiva44: É comum, na prática diária, depararmo-nos com ações nominadas (cobrança, indenização, declaratória, anulatória etc). Trata-se de prática comum e que não pode ser considerada errada. A nosso ver, entretanto, as ações não têm nome, na exata medida em que filiamo- nos à teoria abstrata e autônoma quanto à natureza jurídica do direito de ação. Daí preferirmos nos limitarmos à utilização do nome da ação em relação ao tipo de processo: ação de conhecimento, ação de execução e ação cautelar. Nas ações submetidas a procedimentos especiais (depósito, consignação, monitória etc) utilizamos nominar a ação apenas com o objetivo de designar o procedimento adequado, isso, entretanto, não altera a sua natureza jurídica – por exemplo, as ações de procedimento especial são verdadeiras ações cognitivas, que em razão de dados específicos (direito discutido, partes) submetem-se a ritos processuais específicos. Neste sentido, Theotônio Negrão e José Roberto F. Gouvêa afirmam no verbete 11 do art. 250 que “O nome com qual se rotula a causa é sem relevância ara a ciência processual.”. 45 No mesmo sentido é a crítica de Barroso e Lettière: Quanto da elaboração da petição inicial, não obstante a omissão do art. 282, é dever do autor indicar o tipo de ação e rito escolhido para o processamento da demanda. E assim, em se tratando de processo de conhecimento comum, basta ao autor indicar no preâmbulo AÇÃO PELO RITO ORDINÁRIO ou AÇÃO PELO RITO SUMÁRIO. Por outro lado, em caso de processo de conhecimento de rito especial (previsto no Código de Processo Civil – arts. 890 a 1.210 – 44 PAIVA, Lúcio Flávio. Em material didático fornecido no site www.tvjustica.com.br. Acessado em 28/11/2011. 45 NEGRÃO, Theotônio, GOUVÊA, José Roberto F. Código de Processo Civil. 37ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 335. 29 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br ou na legislação extravagante), o procedimento é nominado, ou seja, a ação é dotada de um nome previsto na lei, por exemplo, ação possessória, ação monitória, ação de divórcio, ação de alimentos, ação de consignação em pagamento etc. Temos assistido a inúmeras aberrações práticas ao presenciar advogados criando nomes para ações que, pela lei, são inominadas. Por exemplo, verificando em certa petição inicial o seguinte: (...) propor AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS CUMULADA COM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS DE LUCROS CESSANTES, DANO ESTÉTICO E PENSÃO VITALÍCIA. Na verdade, no exemplo anterior, o advogado não indicou a ação nem o rito, apenas trouxe para o preâmbulo da petição inicial o pedido, ou seja, aquilo que deveria constar no final. E pior, deixou de indicar o rito da ação, o que, no caso, seria o mais importante. Devemos ressaltar que não existe ação de cobrança, ação de indenização, ação de reparação de danos, ação de obrigação de fazer, reivindicatória, imissão na posse etc. Na realidade, estas não são ações, mas o pedido contido em ações de conhecimento que tramitaram pelo rito ordinário ou sumário. Na prática presenciamos a maioria dos advogados usando tal forma, que, no entanto, não é técnica ou necessária. Não se trata aqui de exacerbar ou de preciosismo da técnica processual, isso é apenas um alerta para facilitar e simplificar a redação jurídica. Muitas vezes, o candidato no Exame de Ordem, ou mesmo o advogado, perde longo tempo tentando achar um nome para a ação (como se fosse legisladores), quando, na verdade, a lei não dá nome específico para aquela ação, bastando colocar o rito ordinário ou sumário (levando em consideração que se trata de processo de conhecimento). Tudo o que é realizado na prática merece uma explicação pelas regras de processo, sob pena de ser inútil ou não ter sentido legal. Assim, perguntamos: para o magistrado, o que é mais importante saber logo de fronte para a inicial: o objeto (cobrança, indenização) ou a ação (execução, cognição ou cautelar) e o rito? É indiferente para o magistrado conter no preâmbulo o objeto da ação. Mas é de fundamental importância que conste o rito, pois disso dependerá seu ato inicial: em se tratando de sumário, citaria para comparecer em audiência; sendo ordinário, a citação será para defesa no prazo legal; em execução de quantia certa contra devedor solvente, a citação se dará para o pagamento em 3 (três) dias, e assim por diante. Repita-se, ao criticar a fórmula adotada por muitos, temos por objetivo adequar a técnica à simplicidade, e não estimular a dificuldade de criar nomes para as ações que o legislador preferiu deixar inominadas.46 Em que pese a pertinência das críticas, não podemos negar a linguagem tradicional dos advogados e da prática forense. 46 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, pp.83-84. 30 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br 6.4.3 Núcleo ou desenvolvimento É o corpo da petição inicial, onde se inseremos fatos e o direito, conforme art. 282, III do CPC. Os fatos causadores da necessidade de ingressar em juízo devem ser relatados com clareza e simplicidade. O sujeito ativo deve demonstrar que possui um direito material a ser protegido (fundamentos jurídicos). Deve-se procurar narrar os fatos que fundamentam o pedido de modo desapaixonado, evitando o uso de expressões agressivas e narrativas repetitivas. É interessante que os fatos sejam contados progressiva e cronologicamente, de modo a possibilitar o convencimento do juiz acerca dos motivos que levaram o sujeito ativo a procurar a tutela jurisdicional do Estado. Ao colacionar legislação, doutrina ou jurisprudência, deve-se fazê-lo de modo restritivo, ou seja, limitar-se ao que for necessário para convencer o juiz de que o direito foi violado e de que é necessária a intervenção do Estado através da tutela jurisdicional. A sugestão é de citar jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça e do tribunal do Estado em que se postula a demanda e os dispositivos legais nesta ordem, como forma de realçar a aplicação do dispositivo legal cabível ao caso. Neste entendimento, aconselha-se a parafrasear o artigo de lei ao invés de transcrevê-lo literalmente. Deve-se interpretar a lei e não limitar-se a transcrever ou apenas mencionar/indicar o dispositivo legal. Barroso e Lettière assim ensinam: “a transcrição legal, como regra, é desnecessária, pois o juiz conhece o direito. Somente será imprescindível no caso de lei estadual ou municipal – ante sua especificidade e particularidade – ou de diploma legal pouco usual”.47 CPC, art. 337. Neste sentido o Professor Lúcio Flávio Paiva aborda: “Não é requisito previsto na lei a citação de doutrina e jurisprudência. Contudo, mostram-se úteis a corroborar o acerto da tese jurídica exposta na petição”.48 47 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 40. 48 PAIVA, Lúcio Flávio. Em material didático fornecido no site www.tvjustica.com.br. Acessado em 28/11/2011. 31 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Conquanto assim o seja, é recomendável, para efeito didático, a inserção do artigo de lei para facilitar a visualização do juiz, como recurso de comunicação. Não é obrigatório, mas é recomendável.49 É importante frisar que se houver alegação de que se aplica ao caso específico direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário, a parte possui o ônus de fornecer ao juízo a legislação aplicável, provando o teor e a vigência (CPC, art. 337, - sugere-se apresentar cópia em documento anexo à petição). Barroso e Lettière adverte que “inventar ou alterar julgado ou texto de doutrina constitui litigância de má-fé, nos termos dos arts. 14 e 17 do Código de Processo Civil, podendo implicar imposição de multa, bem como a instauração de procedimento ético disciplinar (art. 6º do Código de Ética Profissional). E isso porque o Estatuto da OAB é claro: ‘Art. 34. Constitui infração disciplinar: XIV – deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos, documentos e alegações da parte contrária, para confundir o adversário ou iludir o juiz da causa’”.50 6.4.3.1 Títulos e subtítulos – tópicos Quando a petição for extensa ou complexa (tratando de vários assuntos distintos, como no caso da separação judicial, onde também se pode definir a partilha de bens e a guarda de filhos menores), ou ainda quando for necessário destacar um pedido de liminar ou de tutela antecipada, pode-se dividi-la em títulos e subtítulos.51 Pode-se dividir tanto a descrição dos fatos como a argumentação do Direito. Assim, o tópico “DOS FATOS” (que é o título) pode compor-se dos seguintes subtítulos: i) do casamento; ii) dos filhos; iii) da guarda dos filhos; iv) dos alimentos; v) do direito de visita; vi) dos bens do casal; vii) da partilha 49 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. CLEDIJUR: São Paulo, 2011, p. 60. 50 BARROSO, Darlan; LETTIÈRE, Juliana Francisca. Prática Jurídica Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011, p. 41. 51 Texto extraído do seguinte site: http://www.scribd.com/doc/16356130/Apostila-de-Pratica- Processual-Civil. Acessado em 11 de dezembro de 2010. 32 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br dos bens; vii) do nome etc; e o tópico “DO DIREITO” (que é o título) poderá ser subdividido nos seguintes subtítulos: i) dos danos morais; ii) dos danos materiais; iii) do lucro cessante; iv) do quantum indenizatório; v) da antecipação da tutela vi) da inversão do ônus da prova etc. 6.4.4 Postulação É onde contém o pedido e o requerimento, os quais não se confundem. Deve-se observar o contido no art. 282, IV, VI e VII do CPC. Pedido é o que o autor pretende com a ação. Decorre de um direito subjetivo, o qual deve ser provado. Quando apreciado provoca uma decisão do juiz sobre o direito material (decisão interlocutória ou sentença). “É a conclusão do pedido. Indica o autor, de maneira positiva, certa e congruente, o objetivo de sua pretensão”.52 Requerimento tem por escopo exigir o cumprimento de um direito, decorre de direito objetivo e provoca um despacho ou uma decisão interlocutória. O juiz verificará apenas a presença ou não dos pressupostos necessários para o exercício do direito53. São as outras providências de ordem processual que o autor pretende sejam adotadas para o impulsionamento do processo54, não há discussão sobre direito material e não é decidido por sentença. Dinamarco55 diferencia pedido e requerimento da seguinte forma: “a manifestação da vontade de obter a sentença de mérito indicada é um pedido. A provocação ao juiz para que impulsione o processo, requerimento.”. O pedido apresenta dois aspectos: uma provisão jurisdicional (sentença declaratória, sentença constitutiva, sentença condenatória - que é o pedido imediato) e que tutela um bem jurídico (por exemplo: a indenização, os alimentos, a posse, a anulação de cláusula contratual – que constitui o pedido mediato). 52 CASELLA, José Erasmo. Manual de prática forense. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 6. 53 CAMPESTRINI, Hildebrando. FLORENCE, Ruy Celso Barbosa. Como redigir petição inicial. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 101. 54 Como, por exemplo, o requerimento de citação do réu, de produção de provas, de expedição de ofício para o empregador do réu. 55 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. v. 3. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2004. p. 355 33 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br O pedido possui determinados requisitos: deve ser certo (vir expresso, explícito, claro, não sendo admitido pedido tácito - CPC, arts. 128, 293 e 460) e determinado (definido, identificado, caracterizado e delimitado em sua qualidade e quantidade), e deve estar de acordo com a causa de pedir, ou seja, deve haver conexão entre a causa de pedir e o pedido (ser concludente - CPC, art. 286 e seguintes). Quanto ao pedido certo e determinado, Pereira ensina: O que não precisa de ser explícito é pedido decorrente de lei, inseparável do bem jurídico. Por exemplo: não há necessidade de pedir, em ação condenatória, juros legais porque decorrente do art. 293, do CPC. Não precisa pedir correção monetária porque decorre da lei nº 6.899/81. Não precisa pedir condenação em honorários porque a lei processual assimo determina, no art. 20, do CPC. Não precisa pedir explicação de multa cominatória na condenação em obrigação de fazer, porque o art. 461, com a nova roupagem ofertada pela lei nº 8.952/94, assim o determina. Não obstante, recomendo carreá-lo para o ato postulatório, porque uma coisa é ser bom, razoável; outra é ser ótimo.56 Contudo, apesar deste entendimento, faz-se aconselhável a indicação para fins didáticos. Conforme o ensinamento de Theodoro Júnior57, o sujeito ativo “deve explicar com clareza qual a espécie de tutela jurisdicional solicitada: se de condenação a uma prestação, se de declaração de existência ou não de uma relação jurídica, ou se constituição de uma nova relação jurídica”, devendo “a prestação reclamada ou a relação jurídica a declarar ou constituir” também ser “explicitamente definidas e delimitadas.”. A petição inicial será inepta, ensejando o seu indeferimento, quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, quando da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão, e quando o pedido for juridicamente impossível (CPC, art. 295, I). 56 PEREIRA, Ézio Luiz. Da Petição Inicial – técnica, prática e persuasão. 6ª ed. São Paulo: EDIJUR, 2011, p. 68. 57 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v. 1. 41. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 683. 34 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br De acordo com Moreira58, o pedido é juridicamente relevante para: i) identificar e individualizar a ação proposta; ii) atribuir o valor à causa e iii) fixar o objeto do litígio e os limites objetivos da coisa julgada. É o pedido que determina os limites objetivos da sentença, de modo que não pode esta ser de natureza diferente da do pedido, condenar o réu em quantidade superior ou a objeto diverso do que foi pleiteado (CPC, arts. 128 e 460). Por isso, o pedido deve ser claro, não pode deixar dúvida no juiz. No pedido não se deve redigir o embasamento legal, nem a justificativa, pois estes devem figurar na exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos. Na prática forense, o requerimento não possui ordem. Pode ser colocado antes ou depois do pedido, obedecendo a ordem de despacho do juiz. Alguns doutrinadores, como Campestrini e Florence59, entendem que colocá-lo antes ofenderia a lógica, porque só é possível requerer a citação do réu depois que o juiz, conhecendo o fato e o pedido, receber a ação. Por questões didáticas, as petições elaboradas deverão observar a recomendação de separar o(s) pedido(s) do(s) requerimento(s), organizar objetivamente este(s), e redigir o(s) pedido(s) antes do(s) requerimento(s). Observação: quando postular mais de um pedido e/ou requerer mais de uma providência, recomenda-se dispor cada um (uma) em um item diferente, no intuito de evitar confusão, conforme orientação constante do item 2.2.1 da apostila. 6.4.5 Encerramento/Fechamento No encerramento está contido o valor da causa (art. 282, V, CPC), local, data, assinatura, nome do advogado e sua inscrição na OAB (art. 14 do Código de Ética do Advogado), rol de testemunhas e de documentos (art. 283, CPC), nesta ordem. 58 MOREIRA, José Carlos Barbosa. O novo processo civil brasileiro. 18. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1996, p.11-24. 59 CAMPESTRINI, Hildebrando. FLORENCE, Ruy Celso Barbosa. Como redigir petição inicial. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 114. 35 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br A expressão correta para indicar o valor da causa é a seguinte: “Dá à causa o valor de R$ ______ (.....)” ou “Valor da causa R$ _____ (.....)” ou ainda “Atribui à causa o valor de R$ ______ (.....)”. Encerrar a petição inicial é a indicação do seu fechamento, por meio da expressão: “Nesses termos, pede deferimento” ou “Termos em que pede deferimento” – em uma só linha. A petição inicial foi concluída tendo sido preenchidos todos os requisitos (arts. 282, 283 e 37 todos do CPC), seguido da indicação do local, data e assinatura. Neste aspecto Loyola leciona da seguinte maneira: A praxe se consolidou em encerrar a petição com a inclusão do local, data e assinatura. Nada disso, todavia, consta do art. 282. Quanto ao local e à data, realmente sua falta não ocasiona qualquer consequência prática (não importa onde a petição foi redigida, e de nada vale a data nela expressada). O mesmo não se pode dizer da assinatura, que é imprescindível para a validade da petição, até porque se trata de ato privativo de quem é advogado. 60 Neste mesmo sentido é a lição de Campestrini e Florence61 em recomendar evitar as fórmulas esdrúxulas como “de Curitiba para Blumenau”. Entende-se por melhor indicar a cidade em que a peça foi elaborada e não à cidade que é endereçada. No local de indicação da assinatura do advogado, é muito comum na prática encontrarmos profissionais que incluem a expressão p.p. (abreviatura de por procuração), como se estivessem subscrevendo a petição por procuração de seu cliente. Contudo, a inclusão de p.p. antes da assinatura do advogado é errada. O advogado assina uma petição por capacidade postulatória que lhe é própria, nos termos da Constituição da República, do Código de Processo Civil e do Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil. A capacidade de assinar petição é do advogado; portanto, ele não pratica esse ato por procuração de seu cliente. Evidentemente o advogado está em juízo em mandato outorgado por seu cliente; no entanto, tal representação é para falar em nome dele. 60 LOYOLA, Kheyder. Manual de prática da OAB 2ª fase. 1ª ed. São Paulo: Rideel, 2011, p. 07. 61 CAMPESTRINI, Hildebrando. FLORENCE, Ruy Celso Barbosa. Como redigir petição inicial. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 165. 36 Profº. Rodrigo Jansen r.jansen@terra.com.br Lembre-se: o ato de assinar petição é prerrogativa do advogado, que não cumpre esse ato por procuração.62 Observação: quanto a assinatura, o(a) aluno(a) deverá assinar com seu nome seguido no número de sua matrícula no lugar do número da OAB/SC. Já para os acadêmicos da prática real assinaram a peça produzida ao final identificando-se como estagiários. Não colocar traço abaixo da assinatura, pois o traço compromete a estética e deve-se centralizar a assinatura. De acordo com o art. 258 do CPC, toda a causa deve ter um valor certo ainda que não tenha conteúdo econômico imediato (como, por exemplo, no caso de dano moral). Pode-se mencionar como consequências decorrentes do valor da causa, por exemplo, a determinação da competência (CPC, arts. 91, 102 e 111) e do procedimento (CPC, art. 275, I, Lei nº 9.099/1995, art. 3º, I e Lei nº 10.259/2001, art. 3º); e a fixação do valor do ônus da sucumbência. A falta ou sua indicação equivocada enseja determinação de emenda da inicial, sob pena de indeferimento. Expressões como “para efeitos meramente fiscais” está incorreta, porque o juiz não é fiscal de tributação, não é cobrador de impostos. Os efeitos imediatos não são os fiscais; são os legais, a lei assim o exige.63 Assim, para Gonçalves “todas as demandas devem indicar o valor da causa, o que inclui a reconvenção, a oposição e os embargos de devedor".64 Na fixação do valor é necessário obedecer aos critérios específicos para cada tipo de ação, mencionados nos arts. 259 e 260 do CPC, com o intuito também de evitar impugnação da parte contrária (art. 261 do CPC). É importante lembrar que os documentos indispensáveis à propositura da ação devem acompanhar a petição inicial, observando-se
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