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Prática Jurídica Civil e Empresarial I Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Christiane Cavalcante Marcellos Revisão Textual: Prof.ª Dra. Luciene Oliveira da Costa Granadeiro Petição Inicial Petição Inicial • Introduzir o aluno no estudo prático do Direito, de modo que possa elaborar uma petição inicial adequada ao caso concreto, baseado na técnica desenvolvida em sala de aula e de acordo com as exigências das provas e mercado de trabalho. OBJETIVO DE APRENDIZADO • Noções Gerais da Petição Inicial; • Requisitos da Petição Inicial; • Orientações Gerais para a Elaboração de uma Petição Inicial; • Esqueleto da Peça. UNIDADE Petição Inicial Noções Gerais da Petição Inicial Chegou! Finalmente, chegou a hora de você aplicar na prática aquilo que aprendeu na teoria. E como é bom vivenciar a prática, já se imaginando um profissional do Direito! Figura 1 – Poder Judiciário Fonte: Getty Images Você sabe qual é a primeira peça de um processo? É a petição inicial. Redundante dizer, mas como é a primeira peça recebe o nome de petição inicial, também é chamada de exordial ou peça inaugural. A petição inicial é a peça que inaugura o processo, estabelecendo uma relação jurídica processual entre o autor e o juiz. Em outras palavras, é a peça processual por meio da qual a parte, que é o autor, exerce seu direito de ação, invocando uma tutela jurisdicional. Importante! As petições visam influenciar na convicção do magistrado. O advogado se vale desse poderoso instrumento para convencer o juiz de que seu cliente tem determinado direi- to assegurado no ordenamento jurídico. Não se trata de mera narrativa de fatos e de direitos, mas de texto articulado para atuar na inteligência do magistrado (BARROSO; LETTIERE, 2019, p. 23). O processo não se inicia sozinho, precisa provocar o órgão jurisdicional. Costumamos dizer que nunca um juiz irá bater à sua porta e perguntar se você quer processar alguém. Como ensina Chacon (2021, p. 5): É preciso, portanto, tirar o juiz da inércia que lhe é inerente. Isso se faz por meio de um complexo requerimento, qual seja a petição inicial, que fixará os fatos, os fundamentos jurídicos, os pedidos e a causa de pedir, utiliza- dos pelo ente jurisdicional para o julgamento da lide então instaurada, nos moldes e limites da legislação. 8 9 É sempre bom lembrar que não fazemos nada “do nosso jeito”, mas sim como manda a lei. A Lei n. 13.105/2015, do Código de Processo Civil, traz um capítulo específico (arts. 319 ao 321) sobre a da petição inicial. Porém, antes de tratarmos dos requisitos legais, precisamos ter uma conversa séria sobre dois temas muito importantes: estudo jurídico e estudo da língua portuguesa. Sobre a questão jurídica, é importante que você tenha o hábito de estudar. Não estamos nos referindo ao estudo de véspera de prova, mas sim ao estudo contínuo. Precisamos que você estude com afinco o direito material e processual. Se não for assim, você terá dificul- dade na disciplina de prática. É realmente necessário que você se preocupe com seu nível de conhecimento e, caso se sinta inseguro, basta estudar. Seja qual for o caminho escolhido, o profissional do Direito não para nunca, está sempre estudando, pesquisando e atualizando seus conhecimentos. Outro assunto sério e que todo estudante deve se preocupar, é a língua portuguesa. Começamos perguntando: você tem uma boa gramática da língua portuguesa? Deseja- mos que sim, pois você precisará estudar a língua portuguesa com o mesmo empenho que estuda o direito. Entenda que os dois conhecimentos andam juntos, não adianta você conhecer o direito, mas não saber se expressar adequadamente. Também não adianta você conhecer muito bem a língua, mas não o direito. Como dispõe o art. 192, “Em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso da língua portuguesa”, então vamos caprichar, pois o jurista deve escrever de forma correta. O aluno e o profissional do Direito não devem esquecer de que a boa escrita, ao lado da organização das palavras, da lógica do texto e do bom domínio da técnica forense, viabilizam a pretensão pretendida pela parte por meio de seu advogado, pois certamente o convencimento será algo mais evidente quando o pedido (leia-se a petição) estiver bem elaborado. (CHACON, 2021, p. 5) Mais uma coisa: a elaboração de uma boa petição inicial, além dos conhecimentos jurídicos e da língua portuguesa, exige treino. Por isso, sempre que possível, faça as provas da OAB e de outros concursos, seja protagonista de seus estudos, assim teremos a certeza de que você vai longe. Feitas essas considerações, acreditamos que você já está preparado(a) para estudar os requisitos da petição inicial, então vamos lá. Requisitos da Petição Inicial Como dito antes, o profissional do Direito age conforme a lei; por se tratar de ma- téria processual, a petição inicial está disciplinada pelo Código de Processo Civil, Lei 13.105/2015, artigos 319 a 321. 9 UNIDADE Petição Inicial Figura 2 – Reunião de cliente e advogado Fonte: Getty Images Art. 319. A petição inicial indicará: I – o juízo a que é dirigida; II – os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III – o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV – o pedido com as suas especificações; V – o valor da causa; VI – as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII – a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação. § 1º. Caso não disponha das informações previstas no inciso II, poderá o au- tor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências necessárias a sua obtenção. § 2º. A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de infor- mações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. § 3º. A petição inicial não será indeferida pelo não atendimento ao dis- posto no inciso II deste artigo se a obtenção de tais informações tornar impossível ou excessivamente oneroso o acesso à justiça. Primeiramente, leia e releia o art. 319 infinitas vezes. Após, vamos juntos analisar cada requisito. São eles: I – O juízo a que é dirigida Trata-se do endereçamento, ou seja, o foro que a ação será proposta (foro competente). O Código de Processo Civil trata do assunto nos artigos 42 a 53, recomendamos a leitura. Ensinam Barroso e Lettiere (2019, p. 99) que: Quando da elaboração da inicial, o autor deverá indicar o órgão jurisdicio- nal competente para a demanda (o juízo = órgão + foro), observando as regras de competência funcional (como regra, previstas na Constituição da República, Constituições dos Estados e nas leis de organização judiciária) e as de competência territorial (estabelecidas nos arts. 46 a 53 do CPC). 10 11 Regra Comum de Competência: • Ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens imóveis (art. 46, caput): domicílio do réu; • Ações fundadas em direito real sobre imóveis (art. 47, caput): foro de situação da coisa. Cuidado, não deixe de estudar as situações em que a lei prevê foro privilegiado, em especial, aquelas previstas no art. 53. Por exemplo, a ação de alimentos, sendo compe- tente o foro do domicílio do alimentando (art. 53, II, do CPC). Saiba que cada estado tem uma Lei de Organização Judiciária, assim você consegue saber sobre a existência de varas especializadas ou foros regionais. O endereçamento será indicado na parte superior da petição inicial, procure usar letras maiúsculas e não faça abreviaturas. Não existe uma lei que estabelece como deve ser feito o endereçamento, segue-se a praxe jurídica, conforme exemplos abaixo: Justiça Estadual (mais de uma vara): EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA___ª VARA CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE ____________ DO ESTADO DE ______. Obs.: Pelo novo CPC, também estaria correto “ao juízocivil da comarca de ___” EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL – SÃO PAULO. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA DE FAMÍLIA E SUCESSÕES DA COMARCA DE NITERÓI – RJ. EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DE UMA DAS VARAS CÍVEIS DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA SAPITAL – SÃO PAULO. Justiça Federal: EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE FEDERAL DA ___ª VARA CÍVEL DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE ______. Você sabe o motivo de mantermos um espaço em branco antes da Vara? Nos foros com mais de uma vara, quando a petição inicial é distribuída, não sabemos a vara, por isso deixamos em branco. Nas demais petições, no entanto, a vara é indicada. Com o novo Código de Processo Civil, surgiu uma discussão. O atual CPC fala em “juízo a que é dirigida (319, inciso A), o antigo falava em “juiz”. Por isso você pode ouvir alguém falar que atualmente o endereçamento mudou, passou a ser apenas “Ao Juízo Civil da Comarca de ___”. Na verdade, os dois estão corretos, como explicam Barroso e Lettiere (2019, p. 99), “ao indicar VARA CÍVEL de tal lugar... o autor da peça processual está indicando o Juízo, cumprindo de forma técnica a previsão legal”. 11 UNIDADE Petição Inicial Importante! • Juiz Estadual: na petição inicial é chamado de Juiz de Direito (Comarca); • Juiz Federal: na petição inicial é chamado de Juiz Federal (Seção ou Subseção Judiciária). II – Os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu Trata-se da qualificação das partes, feita no preâmbulo da petição inicial. A quali- ficação deve ser completa, com todas as informações contidas no inciso II. Detalhe, é muito comum constar a cédula de identidade (RG) na petição inicial, mas saiba que não é requisito obrigatório, pois não está inserido no inciso II. Se o autor não souber alguma informação obrigatória, como o endereço do réu, segun- do o § 1º do art. 319, “poderá o autor, na petição inicial, requerer ao juiz diligências neces- sárias à sua obtenção.” Para a localização do réu, por exemplo, muito comum o pedido de expedição de ofícios (ex. IIRG, DRF, Bacen). A petição inicial não será indeferida se, a despeito da falta de informações a que se refere o inciso II, for possível a citação do réu. (§ 2º do art. 319). Exemplo: Para pessoa física (autor e réu): NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e domiciliado na Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______. Para pessoa jurídica (autor e réu): NOME DO AUTOR, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) sob o n.____, com sede na Rua____, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______, endereço eletrônico___, por seu representante (qualificar igual à pessoa física). Lembre-se de que, apesar de constar na qualificação a nacionalidade e o RG, não são requisitos obrigatórios do art. 319. Algumas situações merecem um cuidado maior, vamos mencionar duas. Os absoluta- mente incapazes são representados ou assistidos, portanto, na qualificação, deve cons- tar o nome do representante ou assistente (art.3º e 4º do Código Civil). Para o nascituro, qualifica-se como: ”nascituro de ____ (nome da mãe)”. Para concluir, gostaríamos que soubesse que, na petição inicial, escreve-se o nome das partes na qualificação, mas, após, não é necessário repetir os nomes, basta indicar 12 13 as partes como “autor” e “réu”, que é a regra geral. Lembrando que o autor é aquele que promove a ação e o réu aquele contra quem se promove. Atente ao CPC, que apresenta a terminologia correta das partes. Exame de Ordem Não se devem criar dados, somente utilizar aqueles trazidos pelo problema. Se o pro- blema não trouxer, deixar de forma genérica, conforme exemplo acima. Qualquer informação criada ou alterada corre um enorme risco de causar a anulação da prova, pois se considera identificação do candidato, por exemplo, inventar sobrenome, nú- mero de documento, endereço. Observe um trecho da segunda fase da OAB, sendo a peça cabível uma petição ini- cial, observe que o problema não traz maiores informações acerca da qualificação. Aline é proprietária de uma pequena casa situada na cidade de São Paulo, residindo no imóvel há cerca de 5 anos, em terreno constituído pela acessão e por um pequeno pomar. Pouco antes de iniciar obras no imóvel, Aline precisou fazer uma viagem de emergência para o interior de Minas Gerais, a fim de auxiliar sua mãe que se encontrava gravemente doente, com previsão de retornar dois meses depois a São Paulo. Aline comentou a viagem com vários vizinhos, dentre os quais, João Paulo, Nice, Marcos e Alexandre, pedindo que “olhassem” o imóvel no período. (XXVI Exame de Ordem Unificado – 2018.2) Ah, outra coisa importante. No preâmbulo, após a qualificação do autor, também consta que o autor possui advogado (exemplo: “vem, por seu advogado”). Consta também o nome da ação (conhecimento ou execução) e o procedimento (comum ou especial), embora o CPC não trata disso expressamente. (vide modelo no item 4). III – O fato e os fundamentos jurídicos do pedido O autor deve indicar os fatos e os fundamentos do pedido que embasam o seu pedido, ou seja, a causa de pedir (causa de pedir remota e causa de pedir próxima). Para a descrição dos fatos, exige-se uma boa redação, com começo, meio e fim. Escre- va somente o necessário, sempre com clareza e objetividade. Recomendamos iniciar os fatos demonstrando a relação jurídica existente entre as partes (existência do contrato, por exemplo) e a violação que deu causa à propositura da ação (não cumprimento do contrato, por exemplo). Os fatos “nada mais são que os eventos ou acontecimentos ocorridos no plano material que originaram o conflito; os fatos costumam ser denominados como causa de pedir remota. Como exemplo, imagine uma ação indenizatória decorrente de acidente de veículo auto- motor. Os fatos vão indicar quando, onde e como se deu o acidente, assim como as conse- quências que dele advieram (se houve ou não vítimas, se ocorreu alguma conversa entre os envolvidos no acidente, quais foram os prejuízos, se houve algum tipo de pagamento etc.)” (TARTUCE, 2020, p. 102). Lembre-se de que o juiz não conhece os fatos, por isso seja bastante claro e objetivo. 13 UNIDADE Petição Inicial No Exame de Ordem, os fatos trazidos no problema devem ser respeitados, não crie dados novos e nem altere os existentes. Além de narrar os fatos (causa de pedir remota), o autor deve apresentar os funda- mentos jurídicos (causa de pedir próxima). Não se trata apenas da citação ou transcrição do artigo, o autor deve apresentar uma boa narrativa, que demonstre a aplicação da lei ao caso concreto e que convença o juiz. Fundamentos Jurídicos [...] não se trata de dar a fundamentação legal, citando o número do artigo da lei (fundamento legal é diferente de fundamento jurídico). A fun- damentação legal seria apenas a indicação ou transcrição do artigo da lei; enquanto o fundamento jurídico é mais, ao passo que representa o raciocínio lógico de aplicação do direito ao fato, levando o magistrado ao convencimento para acolher a pretensão. É na fundamentação jurídica que o autor poderá apresentar jurisprudência, doutrina e, até mesmo, a indicação do texto da lei. (BARROSO; LETTIERE, 2019, p. 108) Como se vê, nos fundamentos jurídicos, você terá a oportunidade de demonstrar seus conhecimentos técnicos, utilizando-se da lei, doutrina e jurisprudência. IV – O pedido com as suas especificações O pedido é fundamental, em geral, limita a atuação jurisdicional. Para melhor entendimento, recomendamos leitura dos artigos 322 ao 329 do Código de Processo Civil. Valelembrar que o pedido pode ser imediato (providência jurisdicional) e mediato (resultado prático que se pretende). Segundo o CPC, o pedido deve ser certo (caput do art. 322) e determinado (caput do art. 324). Mesmo que o autor não faça pedido expresso, compreendem-se no principal os juros legais, a correção monetária e as verbas de sucumbência, inclusive os honorá- rios advocatícios. (§1º do art. 322), vale dizer que a parte vencida arcará com tais verbas. Por fim, o pedido deve ser interpretado conforme “o conjunto da postulação e observará o princípio da boa-fé”. (§2º do art. 322). A certeza do pedido diz respeito à providência jurisdicional pleiteada, ao verbo que será utilizado na redação da petição: no pedido deve-se fazer menção a condenar, declarar ou constituir. A determinação do pedido diz respeito ao complemento do verbo, ao bem da vida: ao pedir a condenação (certeza do pedido), deve-se indicar de quanto se quer a condenação (TARTUCE, 2020, p. 108). Alguns pedidos dependem do caso concreto, como o pedido de concessão de Justiça Gratuita, conforme arts. 98 e 99 do CPC e Lei n. 1060/50. Não se esqueça de as comunicações e atos processuais devem ser feitos em nome do advogado. 14 15 Para finalizar, uma pergunta: é possível o autor acrescentar algo no pedido, após a distribuição da petição inicial? Segundo o art. 329, inciso I, o autor poderá “até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consenti- mento do réu”. Por outro lado, o autor vai precisar do consentimento do réu, na hipótese prevista no inciso II do precitado artigo. Assim, o autor poderá: II – até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar. V – O valor da causa Outro requisito obrigatório é o valor da causa, toda causa tem um valor. Em regra, o valor da causa corresponde ao benefício econômico reclamado pelo autor. Conforme art. 291, “toda causa será atribuída valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível”. As regras para atribuição do valor da causa estão nos artigos 291 a 293 (recomendo leitura), além de legislação especial (ex. Lei do Inquilinato). A atribuição do valor à causa estabelece: • O cálculo da taxa judiciária; • A competência (em alguns estados, existem foros regionais que têm sua competência fixada pelo valor da causa); • O procedimento (ex. juizados especiais); • O valor das verbas de sucumbência (art. 85, parág. 2º, CPC: de 10 a 20% do valor atualizado da causa). Exemplo: Dá à causa o valor de R$______ (valor por extenso). Dá-se à causa o valor de R$ ____ (valor por extenso). Veja algumas regras para atribuição do valor da causa, segundo o art. 292: • Na ação de cobrança de dívida, será a soma monetariamente corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades, se houver, até a data de pro- positura da ação; • Na ação de alimentos, será a soma de 12 (doze) prestações mensais pedidas pelo autor; • Na ação indenizatória, inclusive a fundada em dano moral, será o valor pretendido; • Na ação em que há cumulação de pedidos, será a quantia correspondente à soma dos valores de todos eles. VI – As provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados Ao autor compete, na petição inicial, especificar as provas com que pretende de- monstrar a veracidade dos fatos constitutivos de seu direito. Segundo o art. 369 do CPC: “As partes têm o direito de empregar todos os meios le- gais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, para 15 UNIDADE Petição Inicial provar a verdade dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na convicção do juiz”. Na prática, irá depender do caso concreto, sendo as mais comuns as provas orais (depoimento pessoal e oitiva de testemunhas), documentais e periciais. Exemplo: Requer provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas, em especial pelo depoimento pessoal do autor, oitiva de testemunhas, juntadas de documentos e outros que se fizerem necessários à demonstração da verdade dos fatos. “Protesta-se provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, principalmente juntada de novos documentos, prova oral e pericial, sem exceção de outras que pos- sam ser indicadas no momento oportuno” (CHACON, 2021, p. 9). Sobre a prova documental, aqueles indispensáveis à propositura da ação (procura- ção, por ex.) devem ser juntados com a petição inicial (art. 320). No caso concreto, é possível verificar a indispensabilidade do documento, por exemplo, na ação de divórcio, deve-se juntar a certidão de casamento. VII – A opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação O autor deve indicar na Petição Inicial se tem interesse ou não na realização de audi- ência de conciliação. Segundo o §4º do art. 334, a audiência não será realizada “I – se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual; II – quando não se admitir a autocomposição”. Exemplo: Nos termos do art. 334, § 5º do Código de Processo Civil, o autor desde já manifesta, pela natureza do litígio, desinteresse em autocomposição. Nos termos do art. 334 do Código de Processo Civil, requer que seja designada a audiência de conciliação, pois o autor manifesta interesse em autocomposição. Ausência dos Requisitos Legais O que acontece quando a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito? Segundo o art. 321, o juiz determinará que o autor a emende ou a complete no prazo de 15 (quinze) dias, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado. E se o autor não cumprir a diligência? Aí o juiz indeferirá a petição inicial (parágrafo único do art. 321). E por falar em petição inicial, tome muito cuidado, pois o artigo 330 diz que a pe- tição inicial será indeferida quando: for inepta, a parte for manifestamente ilegítima, o autor carecer de interesse processual ou quando não forem atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321. 16 17 Quando a petição inicial é inepta? Vamos recordar o §1º do precitado art. 330: a petição é inepta quando lhe faltar pedido ou causa de pedir, quando o pedido for inde- terminado, ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico, quando da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão e quando contiver pedidos incompatíveis entre si. Sinceramente, é muito desagradável ter uma petição considerada inepta, por isso há importância em estudar. Não se esqueça, por fim, de que sobre a decisão de indeferimento da petição inicial cabe recurso de apelação, sendo facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se (art. 331, caput). Orientações Gerais para a Elaboração de uma Petição Inicial Não se esqueça de que o objetivo da petição inicial é convencer o juiz sobre a verdade dos fatos alegados. Desse modo, redija a petição de forma clara e objetiva, escreva so- mente o necessário, tenha um bom conhecimento do direito material e processual, além de uma boa escrita. Figura 3 – Estudando o caso Fonte: Getty Images A primeira dúvida, que surge principalmente na segunda fase do Exame de Ordem, é saber qual a peça processual cabível. No que se refere à prova de Civil, fique tranquilo , é só ler com calma o problema e saber interpretar. Eis uma dica simples: quando o proble- ma deixar claro que o autor foi lesado e não teve um processo iniciado, a peça cabível é a petição inicial. Já quando o problema relata que houve sentença, costuma ser recurso de apelação. 17 UNIDADE Petição Inicial Número de Páginas é Importante? Não, o artigo 319 do CPC não traz o número de páginas como requisito. Porém, tenha bom senso, seja claro e objetivo,não se alongue demais. Sobre o assunto, a decisão proferida pelo Juiz Valdir Flavio Loco Maia, da Vara Única da Comarca de Patu – RN, em 24/03/2004, foi bem interessante, leia na íntegra: Segundo a Unesco, um texto de 49 páginas ou mais é um livro. Esta petição inicial é, pois, um livro. O notório excesso de trabalho desta Vara não permite ler livros inteiros durante o expediente. Ademais, tudo o que fora dito cabe num vigésimo ou menos das páginas que o autor escreveu. Não é possível assegurar a razoável duração do processo e a celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII CF) sem a indispensável colaboração dos advogados (CF, art. 133). O tempo que o juiz gasta lendo páginas inúteis é roubado à tramitação de outros processos. Portan- to, a prolixidade da inicial desrespeita entre outras coisas: a) a diretriz constitucional da celeridade (CF art. 5º LXXVII e art. 125 do CPC); b) o princípio da lealdade (art. 14, II, do CPC), porque prejudica desnecessariamente a produtividade do Poder Judiciário, e c) o dever de não praticar atos desnecessários à defesa do direito (art. 14, IV, do CPC). Ademais, forçar o adversário a ler dezenas, quiçá centenas, de páginas supérfluas é uma estratégia desleal para encurtar o prazo de defesa. Há claro abuso do direito de petição por parte do autor, ato ilícito (art. 187 do CC/02), que o juiz está obrigado a inibir (art. 125, I e III, e art. 129 do CPC). Enfim, a prolixidade do autor contradiz a alegação de necessidade de urgência da tutela, afi- nal de contas, quem tem pressa não tem tempo de escrever dezenas de laudas numa petição, cujo objeto poderia ser reduzido há pelo menos 20% do total escrito. Isto posto, concedo à parte autora 10 dias para emendar a inicial, reduzindo-a a uma versão objetiva com a extensão estritamente necessária, sob pena de indeferimento da inicial. Conclusão, na exposição dos fatos, fundamentos e pedido, seja simples e direto (a), lembre-se de que não é o número de páginas que irá definir a qualidade da sua peça e que o importante é a compreensão do destinatário. Barroso e Lettiere (2019, e-book, p. 23) explicam que a petição inicial deve ser redi- gida com clareza, lógica e objetividade. Para melhor compreensão, eles dão importantes orientações, preste atenção: a) ordene os fatos na ordem cronológica; b) separe a petição em “Dos fatos”, “Do direito” e “Do pedido”, espe- cialmente quando o texto for longo, isso ajuda a estabelecer a lógica no discurso jurídico; c) para cada parágrafo use apenas uma ideia ou fato; d) narre apenas os fatos relevantes para a solução do conflito ou inci- dente processual; e) os parágrafos devem estar atrelados ou conexos, por exemplo: Caio e Tício celebraram contrato de compra e venda pelo qual este se obrigou à entrega de 40 (quarenta) sacas de café... No entanto, Tício não cumpriu a obrigação no prazo determinado, apresentando a alegação de que a plantação não atingiu o resultado esperado. f) ao redigir a tese (do direito) o raciocínio jurídico sempre se desenvolve em um círculo vicioso (para cada tese autônoma): 18 19 1º) Indicação do tema a ser tratado; 2º) Citação dos fundamentos jurídicos (legislação, jurisprudência e doutrina); 3º) Relação do direito (fundamento jurídicos) com o fato apresentado; 4º) Conclusão da ideia com a apresentação do objetivo da peça. Na redação da peça, como vimos, deve ser utilizada uma linguagem correta e culta. Não use gírias, linguagem chula, ditados populares, cuidado com os pleonasmos e evite abreviaturas (exceto comuns ou oficiais, ex. REsp, INSS). Documentos: A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação. (art. 320). Portanto, junte os documentos essenciais com a Petição Inicial. Atenção sobre o pedido de citação! O pedido de citação do réu deixou de ser obri- gatório pelo novo CPC, mas, para Chacon (2021, p. 20), “mesmo que dispensável, a forma de elaboração do pedido de citação irá variar, portanto: em razão da forma como se pretende seja realizada (correio, oficial, edital); e em razão do procedimento (citação para quê?)”. Esqueleto da Peça Quadro 1 – Petição inicial: artigos importantes do CPC Endereçamento • Art. 319, I; • Arts. 42 a 43; • Lei de Organização Judiciária do Estado; • Regra: Distribuição livre; • Exceção: distribuição por dependência. Preâmbulo • Qualificação das partes: art. 319, II; • Juntada da procuração: art. 104, 287, ambos do CPC; • Nome da ação+ procedimento + fundamento legal; • Tutela Provisória (se existente o pedido). Fatos • Art. 319, III; • Narrativa dos fatos. Fundamentos jurídicos • Art. 319, III; • Fundamentos jurídicos que justifiquem a pretensão do autor. Pedido • Art. 319, IV; • Art. 322 a 329. 19 UNIDADE Petição Inicial Requerimentos • Obrigatórios: » Art. 319, VI, especificação de provas; » Art. 319, VII, indicação de interesse ou não de conciliação. • Facultativos (análise do caso concreto): » Art. 98, Justiça Gratuita; » Art. 1.048, Prioridade na tramitação; » Art. 178, intimação do MP. Valor da causa • Art. 319, V; • Art. 291 e Art. 293. Encerramento Termos em que, pede deferimento. Local e data. Advogado. OAB n.___ Figura 4 – Advogado redigindo uma petição inicial Fonte: Getty Images A ideia não é trazer uma peça pronta, mas sim o esqueleto (estrutura) da petição inicial, bem simples, mas que prepare você para uma prova discursiva. EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA ___ª VARA CÍVEL DO FORO____ DA COMARCA DE ___. OBS: (Na petição inicial, não se aponta a vara, pois somente tomamos conhecimen- to no momento da distribuição. Nas provas de concurso e exame de ordem, a Vara e o Foro serão aqueles apontados na prova, não invente outro. Se o problema for omisso, deixar em branco) (espaço de aproximadamente 5 linhas) NOME DO AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e domiciliado na 20 21 Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______, vem, por seu advogado (instrumento de mandato, doc. __), propor a presente AÇÃO DE CONHE- CIMENTO PELO PROCEDIMENTO COMUM, nos termos do art. 319 do Código de Pro- cesso Civil, em face de NOME DA PARTE RÉ, nacionalidade, estado civil, profissão, portador da cédula de identidade n._____, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas do Ministério da Fazenda sob o n._____, endereço eletrônico ___, residente e domiciliado na Rua ________, n.___, Bairro, Cidade, Estado, CEP_______, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos: I – DOS FATOS Narrar os fatos em ordem cronológica. Recomenda-se separar os parágrafos. Escreva de forma clara e objetiva. (OAB: cuidado, os fatos são exatamente aqueles trazidos pelo problema, não pode inventar e nem alterar). II – DO DIREITO Apresentar o fundamento jurídico. Recomenda-se separar os parágrafos. Escreva de forma clara e objetiva OAB: “a peça deve abranger todos os fundamentos de Direito que possam ser utili- zados para dar respaldo à pretensão. A simples menção ou transcrição do dispositivo legal não confere pontuação” (exame XXVI). III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS Por todo o exposto, requer a Vossa Excelência a) seja julgado procedente o pedido de ____, com a condenação do réu ao paga- mento de ___. b) condenação do réu ao pagamento de custas e honorários advocatícios, nos ter- mos dos artigos 82, §2º e 85, ambos do Código de Processo Civil. Requer que todas as intimações sejam feitas em nome do advogado(a) NOME DO ADVOGADO(A), inscrito(a) na OAB n.__, endereço eletrônico, com escritório na ___. Requer, ainda, provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitido, em especial pelo depoimento pessoal do réu, oitiva de testemunhas e demais de estilo. Requer, por fim, nos termos do artigo 334 do Código de Processo Civil, a designação de Audiência de Conciliação. Dá-se a causa o valor de R$ ____ (___). Termosem que, Pede deferimento. Local e data Advogado (nome e assinatura) OAB___ (OAB: Cuidado, não coloque o seu nome e nunca assine a peça) 21 UNIDADE Petição Inicial Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros Manual de Prática Forense Civil Leitura do Capítulo IV – Como se preparar para a prova da 2ª fase da OAB, p. 92 a 94. CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book) Vídeos Saber Direito Aula – Procedimento comum no Novo CPC O Professor João Augusto Castro trata sobre o procedimento comum, em especial a peti- ção inicial no novo CPC. Com a aula, você irá reforçar os estudos sobre a petição inicial. https://youtu.be/QIMFfXTBcag Leitura FGV Conhecimento – Exame de Ordem da OAB No site da FGV, você terá todas as informações sobre o exame de ordem, com as provas e gabaritos da primeira e segunda fase. https://bit.ly/3l8CobU Lei nº 13.105, de 16 de Março de 2015 Acesse o Código de Processo Civil, disponível no site do Planalto. Para leitura dos artigos recomendados na presente unidade sobre competência, valor da causa, pedido etc. https://bit.ly/3jRK2Ij 22 23 Referências BARROSO, D.; LETTIERE, J. F. Prática no processo civil. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. (e-book) CHACON, L. F. R. Manual de prática forense civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. (e-book) TARTUCE, F. D. L. Manual de prática civil. 16. ed. rev. atual. São Paulo: Método, 2021. (e-book) THEODORO JUNIOR, H. Código de processo civil anotado. 23. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. (e-book) 23
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