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Filariose: uma doença negligenciada

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – CAMPUS FLORESTA 
CENTRO MULTIDISCIPLINAR 
CURSO DE ENFERMAGEM BACHARELADO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
HELMINTÍASE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cruzeiro do Sul 
2015 
 
 
 
 
HELMINTÍASES 
 
 FILARIOSE 
A ordem Spirurida apresenta grande número de espécies, parasitando mamíferos, 
inclusive humanos, além de aves, anfíbios e répteis, com algumas características comuns: são 
todos vermes finos e delicados, encontrados nos vasos linfáticos, vasos sanguíneos, tecido 
subcutâneo, cavidade peritoneal ou mesentério, e necessitam de um hospedeiro invertebrado. 
Das espécies encontradas no Brasil parasitando humanos, apenas uma é autóctone das 
Américas, a Mansonella ozzardi, sendo as demais originárias da Asia e Áfnca. Suspeita-se que 
para aqui chegaram durante o tráfico de escravos e se adaptaram, em vista da presença de um 
bom hospedeiro invertebrado (artrópodes) e semelhança com a região de origem. A ordem 
Spininda possui várias famílias, das quais duas têm interesse médico: Onchocercidae e 
Dracunculidae. Dessas nove espécies, três são encontradas no Brasil parasitando humanos: 
Wuchereria bancrofti (Cobbold, 1877), Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) e Mansonella 
ozzardi (Manson, 1897). A Dirofilaria immitis (Leidy, 1856) é encontrada naturalmente 
parasitando cães, mas em alguns países, inclusive no Brasil, já foram assinalados casos 
humanos (hospedeiros acidentais). As cinco espécies restantes (Brugia malayi, Brugia timori, 
Mansonella perstans, Loa Zoa, Dracunculus medinensis) não são encontradas em nosso país. 
A filariose linfática humana é causada por helmintos Nematoda das espécies 
Wuchereria bancrofti, Brugia nalayi e B. timori. Essa enfermidade é endêmica em várias 
regiões de muita pobreza e com clima tropical ou subtropical na Ásia, Afnca e Américas, 
sendo sério problema de saúde pública em países, como China, Índia, Indonésia e partes leste, 
central e oeste da África. E estimada em 1 bilhão a população que vive em áreas de risco de 
contrair a infecção e em 120 milhões o número de parasitados. Destes, aproximadamente 112 
milhões são portadores de K bancrofii e oito milhões são portadores de B. malayi ou B. timori 
(minoria). A filariose linfática no continente americano é causada exclusivamente pela W 
bancrofti, sendo também conhecida como Elefantíase, em uma de suas manifestações na fase 
crônica. 
 
Estima-se que cerca de 112 milhões de pessoas estão infectadas pela W. bancrofti, em 
pelo menos 80 países. Destes, cerca de um terço dos pacientes vive na índia, um terço na 
África, e o restante no Sudeste Asiático, ilhas a oeste do Pacífico e Américas. Nas Américas, 
os focos de maior prevalência da infecção, atualmente, se encontram no Haiti, República 
Dominicana, Guiana e Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a 
interrupção da transmissão ainda tem que ser confirmada na Costa Rica, Suriname e Trinidad 
e Tobago, áreas endêmicas no passado. 
O PARASITO 
A W.bancrofti possui diferentes formas evolutivas nos hospedeiros vertebrados (humanos) e 
invertebrados (mosquitos vetores). 
Verme adulto macho. Corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 3,5 a 4cm de comprimento e 
0,lmm de diâmetro. Extremidade anterior afilada e posterior enrolada ventralmente. 
Verme adulto fêmea. Corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 7 a 10cm de comprimento e 
0,3mm de diâmetro. Possui órgãos genitais duplos, com exceção da vagina, que é única e se 
exterioriza em uma vulva localizada próximo à extremidade anterior. 
Microfílaria. Esta forma também é conhecida como embrião. A fêmea grávida faz a postura 
de microfilárias, que possuem uma membrana extremamente delicada e que funciona como 
uma “Bainha flexível". A microfilária mede de 250 a 300μm de comprimento e se movimenta 
ativamente na corrente sanguínea do hospedeiro. 
A bainha cuticular lisa é apoiada sobre numerosas células subcuticulares (que irão formar a 
hipoderme e a musculatura do helminto adulto) e células somáticas (que irão formar o tubo 
digestivo e Órgãos). A presença da bainha é importante, pois alguns filarídeos encontrados no 
sangue não possuem tal estrutura, sendo este um dos critérios morfológicos para o diagnóstico 
diferencial. 
Larvas. São encontradas no inseto vetor. A larva de primeiro estágio mede em torno de 
300μm de comprimento e é originária da transformação da microfilária. Essa larva se 
 
diferencia em larva de segundo estádio, duas a três vezes maior, e sofre nova muda originando 
a larva infectante que tem entre 1,5 e 2,0μm de comprimento. 
Hábitat. Vermes adultos machos e fêmeas permanecem juntos nos vasos e gânglios linfáticos 
humanos, vivendo em média, quatro a oito anos. As regiões do corpo humano que 
normalmente abrigam as formas adultas são: pélvica (atingindo pernas e escroto), mamas e 
braços (mais raramente). São frequentemente localizados nos vasos linfáticos do cordão 
espermático, causando aumento e dano escrotal. As microfilárias eliminadas pela fêmea 
grávida saem dos ductos linfáticos e ganham a circulação sanguínea do hospedeiro. 
Periodicidade. Uma característica peculiar deste parasito, verificada na maioria das regiões 
onde é encontrado, é a periodicidade noturna de suas microfilárias no sangue periférico do 
hospedeiro humano; durante o dia, essas formas se localizam nos capilares profundos, 
principalmente nos pulmões, e, durante a noite, aparecem no sangue periférico, apresentando o 
pico da microfilaremia em tomo da meia-noite, decrescendo novamente no final da 
madrugada. 
 Os mecanismos e estímulos responsáveis por essa periodicidade não são claros, embora 
existam investigações que procuram relacionar a periodicidade noturna com fatores químicos. 
O pico da microfilaremia periférica coincide, na maioria das regiões endêmicas, com o horário 
preferencial de hematofagismo do principal inseto transmissor, o Culex quinquefasciatus (Say, 
1823). 
Nas regiões do Pacífico Sul e sudeste da Ásia, onde o principal transmissor é um mosquito que 
exerce a hematofagia durante o dia (Aedes polynesiensis), as microfilárias podem ser 
detectadas no sangue periférico humano a qualquer hora, com maior concentração no final da 
tarde (em tomo das 16 horas), sendo consideradas aperiódicas ou subperiódicas diurnas 
(também existe a forma periódica noturna nestas regiões). Apesar dessa coincidência 
(hematofagia do vetor e microfilaremia periférica), nenhuma das diversas hipóteses levantadas 
conseguiu ainda explicar essa periodicidade, a não ser a necessidade biológica do encontro da 
microfilária com o mosquito vetor. 
 
Ciclo biológico. É do tipo heteroxênico. A fêmea do Culex quinquefasciatus, ao exercer o 
hematofagismo em pessoas parasitadas, ingere microfilárias que no estômago do mosquito, 
após poucas horas, perdem a bainha, atravessam a parede do estômago do inseto, caem na 
cavidade geral e migram para o tórax, onde se alojam nos músculos torácicos e transformam-
se em uma larva, a larva salsichóide. Seis a dez dias após o repasto infectante, ocorre a 
primeira muda. Esta cresce muito e, 10-15 dias depois, sofre a segunda muda transformando-
se em larva infectante, medindo aproximadamente 2mm, que migra pelo inseto até alcançar a 
probóscida (aparelho picador), concentrando-se no lábio do mosquito. 
O ciclo no hospedeiro invertebrado é de 15 a 20 dias em temperatura de 20-25°C mas, em 
temperaturas mais elevadas, pode ocorrer em menor período. Em condições de laboratório, 
este ciclo ocorre em 12-15 dias. Quando o inseto vetor vai fazer novo repastosanguíneo, 
escapam do lábio, penetram pela solução de continuidade da pele do hospedeiro (não são 
inoculadas pelos mosquitos), migram para os vasos linfáticos, tornam-se vermes adultos e, 
sete a oito meses depois, as fêmeas grávidas produzem as primeiras microfilárias (período pré-
patente longo). 
Transmissão. Unicamente pela picada do inseto vetor (fêmea de C. quinquefasciatus) e 
deposição das larvas infectantes na pele lesada das pessoas. Parece que o estímulo que 
provoca a saída das larvas da probóscida do mosquito é o calor emanado do corpo humano. A 
pele, estando úmida (suor e alta umidade do ar), permite a progressão e penetração das larvas. 
É importante salientar que a vida média de um mosquito do gênero Culex é de 
aproximadamente um mês e o ciclo biológico do parasito no interior deste vetor ocorre em 
torno de 20 dias. Assim, é curto o período de tempo no qual o vetor pode estar transmitindo o 
parasito ao ser humano. 
QUADRO CLÍNICO 
A parasitose se caracteriza por uma variedade de manifestações clínicas que podem ser 
devidas aos vermes adultos no sistema linfático ou a resposta imune/inflamatória do 
hospedeiro contra microfilárias. As quatro principais formas clínicas da filariose linfática são: 
 
assintomática ou doença subclínica; manifestações agudas; manifestações crônicas; e 
eosinofilia pulmonar tropical (EPT). 
Indivíduos assintomáticos são aqueles com microfilárias no sangue e sem sintomatologia 
aparente. Mas, com o uso da linfocintigrafia e ultra-sonografia, tem-se verificado que esses 
assintomáticos, na realidade, apresentam doença subclínica com danos nos vasos linfáticos 
(dilatação e proliferação do endotélio) ou no sistema renal (hematúria microscópica), 
merecendo atenção médica precoce. 
As manifestações agudas são principalmente: linfangite retrógrada localizada principalmente 
nos membros e adenite, associadas a febre e mal-estar. As linfangites agudas têm curta 
duração e evoluem no sentido da raiz do membro para a extremidade. As adenites aparecem 
principalmente nas regiões inguinal,axilar e epitrocleana. As manifestações crônicas são: 
linfedema, hidrocele, quilúria e elefantíase, e iniciam-se, em geral, alguns anos após o início 
dos ataques agudos em moradores de áreas endêmicas. 
 A hidrocele é a mais comum destas manifestações crônicas e frequentemente desenvolve na 
ausência de reações inflamatórias prévias. Pacientes com hidrocele podem apresentar 
rnicrofilárias no sangue periférico. A elefantíase geralmente se localiza nos membros 
inferiores e na região escrotal, e está associada a episódios inflamatórios recorrentes. 
A incidência e gravidade das manifestações aumentam com a idade e lesões crônicas podem 
tornar-se irreversíveis. Alguns pacientes também podem apresentair comprometimento renal 
(quilúria). A eosinofilia pulmonar úopical (EPT) é uma síndrome caracterizada por sintomas 
de asma brônquica, sendo uma manifestação relativamente rara 
PATOLOGIA 
É importante distinguir os casos de infecção (presença de vermes e microfilárias sem 
sintomatologia aparente) de casos de doença. Os pacientes assintomáticos ou com 
manifestações discretas podem apresentar alta microfilaremia, e os pacientes com elefantíase 
ou outras manifestações crônicas não apresentam microfilaremia periférica ou está bastante 
reduzida. 
 
 Algumas manifestações, especialmente as imunoinflamatórias, se devem as microfilárias, e 
outras aos vermes adultos. As alterações provocadas por essas últimas formas são mais 
conhecidas, sendo de decurso longo, e podem apresentar desde uma pequena estase linfática 
até a elefantíase. As lesões podem ser de origem inflamatória ou não e são devidas a dois 
fatores principais: mecânicos e irritativos. 
Ação mecânica. A presença de vermes adultos dentro de um vaso linfático pode provocar os 
seguintes distúrbios: 
 Estase linfática com linfangiectasia (dilatação dos vasos linfáticos); 
 Derramamento linfático ou linforragia. 
Esse derramamento, ocorrendo nos tecidos, provocará o edema linfático (por exemplo, nas 
pernas). Ocorrendo na cavidade abdominal, teremos a ascite linfática e na túnica escrotal, a 
linfocele. Pode também ocorrer derramamento de linfa nas vias urinárias (linfúrialquilúria). 
Ação irritativa. A presença dos vermes adultos dentro dos vasos linfáticos, bem como dos 
produtos oriundos do seu metabolismo ou de sua desintegração após a morte, provoca 
fenômenos inflamatórios. Como conseqüência, teremos a linfangite retrógrada (inflamação 
dos vasos) e adenite (inflamação e hipertrofia dos gânglios linfáticos). 
Frequentemente aparecem fenômenos alérgicos, como urticárias e edemas extrafocais. 
Além das ações mecânica e irritativa, fenômenos imunológicos, especialmente os alérgicos, 
induzem a patogenia. Exemplo típico é o quadro conhecido como eosinofilia pulmonar 
tropical (EPT), no qual o paciente apresenta hiper-resposta imunológica a antígenos filariais, 
com aumento de IgE e hipereosinofilia, levando ao aparecimento de abscessos eosinofilicos 
com microfilárias e posterior aparecimento de fibrose intersticial crônica nos pulmões, 
comprometendo a função do órgão. 
A síndrome denominada elefantíase pode aparecer em alguns casos crônicos com até 
mais de dez anos de parasitismo. Esta síndrome pode ter outras causas que não a W. bancrofti 
(hanseníase, estafilococcias ou outra causa que perturbe o fluxo linfático). A elefantíase é 
caracterizada por um processo de inflamação e fibrose crônica do órgão atingido, com 
 
hipertrofia do tecido conjuntivo, dilatação dos vasos linfáticos e edema linfático. Inicialmente, 
há hipertrofia da derme, porém a epiderme é normal. 
 Com a progressão da doença, há esclerose da derme e hipertrofia da epiderme, dando a 
aparência típica da elefantíase: aumento exagerado do volume do órgão com queratinização e 
rugosidade da. Em geral, a seqüência dos eventos nos casos de elefantíase é a seguinte: 
linfangite, adenite, linfangiectasia (dilatação e varizes linfáticas), linforragia (extravasamento 
de linfa), linfedema (edema linfático), esclerose da derme, hiperhofia da epiderme e aumento 
do volume do órgão (principalmente pernas, escroto, ou mamas). Infecções bacterianas ou 
fúngicas secundárias agravam o quadro de elefantíase. 
DIAGNÓSTICO 
Clínico:É difícil devido à semelhança das alterações provocadas pela W. bancrofti com 
aquelas produzidas por outros agentes etiológicos com efeitos parecidos. Numa área 
endêmica, a história clínica de febre recorrente associada adenolinfangite pode ser indicativo 
de infecção filarial. Paciente com alteração pulmonar, eosinofilia sanguínea e altos níveis de 
IgE total no soro leva à suspeita de EPT. 
Laboratorial: A pesquisa de microfilárias no sangue periférico é feita por diferentes métodos 
parasitológicos. Entre as técnicas disponíveis, a mais utilizada é a gota espessa preparada com 
20 a 100uL de sangue colhido por punção capilar digital, entre as 22-24 horas. Após 12- 15 
horas do preparo das 1âminas com sangue, faz-se a desemoglobinização, cora-se pelo Giemsa 
e examina-se ao microscópio para verificar a presença de microfilárias. A gota espessa tem 
boa sensibilidade quando a parasitemia se encontra acima de 10 microfiláriastml de sangue. 
Para aumentar a sensibilidade desta técnica recomenda-se preparar mais de uma lâmina de um 
mesmo paciente, obedecendo ao horário noturno para a colheita de sangue para evitar 
resultados falso-negativos. A gota espessa é utilizada em inquéritos epidemiológicos por ser 
prática, rápida e econômica para obtenção de amostras de sangue colhidas a noite. 
Microfilárias podem estar ausentes no sangue, mas presentes na urina (quilúria e hematúria) 
ou líquidos da hidrocele. Nestes casos, omaterial obtido deve ser analisado usando técnicas de 
concentração. 
 
Diagnóstico da Infecção no Vetor: O diagnóstico da infecção dos insetos vetares é uma 
ferramenta complementar importante, pois permite, juntamente com a determinação das taxas 
de prevalência da infecção humana, monitorar a eficácia e estratégias de controle adotadas. 
 A dissecção dos mosquitos permite a identificação específica das larvas encontradas, assim 
como a determinação e quantificação de cada um dos diferentes estágios larvários A partir 
desses dados é possível calcular os índices de infecção e de infectividade. No entanto, a 
dissecção é um método laborioso, apresentando por vezes resultados duvidosos, uma vez que a 
distinção específica das larvas encontradas se torna difícil em áreas onde outras espécies de 
filarídeos, inclusive de animais, são prevalentes. A dissecção vem sendo substituída pela 
técnica de PCR, sensível a ponto de detectar DNA proveniente de uma única larva de FY 
bancrojii em amostras contendo até 100 mosquitos. 
MEDIDAS DE CONTROLE 
Redução das fontes de Infecção: O método que até o presente deu melhores resultados foi a 
administração, a todos os pacientes com exame de sangue positivo, de dietilcarbamazina 
(DEC) ou ivermectina, poderosos microfilaricidas. Ele requer o exame preliminar de todos os 
membros da comunidade, para identificação dos indivíduos com filaremia. 
O tratamento antiparasitário pode ser seletivo, quando são tratados apenas os pacientes com 
exame positivo; ou de massa, quando, depois de um inquérito que acusou altos índices de 
prevalência, decide-se administrar o medicamento a todos os habitantes da localidade. 
Naturalmente, sempre serão excluídas as crianças muito pequenas (lactentes), as gestantes e os 
pacientes com outras doenças que contra-indiquem a medicação. Estes, mais os ausentes e os 
casos de recusa, mantêm uma reserva de fontes de infecção, na qual ficam incluídos também 
os casos não curados completamente. 
COMBATE AOS VETORES 
Uso de Inseticidas: A desinsetização é uma das formas de controle importantes, sendo 
facilitada sempre que o inseto vetor tenha hábitos endófilos e permaneça bastante tempo nas 
 
casas, para que se possa tirar partido da aplicação intradomiciliária dos inseticidas de ação 
residual. 
Outros Métodos de Controle Químico: Experimentam-se, atualmente, drogas capazes de 
inibir o crescimento dos insetos ou a formação da quitina, para substituir os inseticidas. 
Controle Biológic:. O uso de peixes larvófagos pode ser útil em criadouros de águas limpas. 
Saneamento Ambiental: As redes de drenagem de águas pluviais e os esgotos, desde que 
recebam os cuidados manutenção necessários, constituem elementos importantes c 
permanentes que contribuem muito para reduzir as populações desses mosquitos. 
Redução do Contato Homem-Mosquito: Consegue-se com a telagem das casas (nas portas, 
janelas e outros tipos de aberturas), para o que são empregadas telas de náilon ou telas 
metálicas plastificadas. 
Nenhum dos métodos acima descritos, empregados de forma isolada, dá os resultados 
almejados, em todas as situações que se apresentem. 
A metodologia a empregar, muitas vezes, terá que ser a mais eclética, incluindo o uso de 
inseticidas de ação imediata pelos moradores, a aplicação de larvicidas, a eliminação dos 
criadouros potenciais, nas casas e no peridomicílio, a telagem e o uso de mosquiteiros. 
 
ASCARIS 
Estes helmintos são citados com frequência, pela ampla distribuição geográfica e pelos 
danos causados aos hospedeiros. São popularmente conhecidos como lombriga ou bicha, 
causando a doença denominada ascaridíase e, menos frequentemente, ascaridose ou ascariose. 
O A. lumbricoides é encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com frequência 
variada em virtude das condições climáticas, ambientais e, principalmente, do grau de 
desenvolvimento socioeconômico da população. 
 
 Os dados de prevalência são muito antigos, pontuais e todos com base em estimativas. 
Stoll (1947) baseando-se em dados obtidos através da literatura estimou em 644 milhões o 
número de indivíduos parasitados por A. lumbricoides em todo o mundo. Dados de 1984 da 
Organização Mundial de Saúde relataram que 1 bilhão de pessoas se apresentavam infectadas. 
A infecção pelo A. lumbricoides, como qualquer outra geo-helmintíase, está seguramente 
associada a fatores sociais, econômicos e culturais que proporcionam condições favoráveis à 
sua expansão, sobretudo em regiões onde os fatores ambientais são apropriados. Desse modo, 
o crescimento desordenado da população, em áreas muitas vezes desprovidas de saneamento 
básico, juntamente com o baixo poder econômico, educacional e hábitos pouco higiênicos, são 
relevantes e merecem destaque nos estudos epidemiológicos das parasitoses intestinais. 
Dados mais recentes indicam que o A. lumbricoides é o helminto mais frequente nos países 
pobres, sendo sua estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de 
pessoas em todo o mundo. A infecção humana por esta espécie de helminto está relacionada 
com a interação de diversas características que asseguram o processo de transmissão, como o 
parasito, o hospedeiro, o meio ambiente e a falta de noções ou condições de higiene. 
 O PARASITO 
Machos: Quando adultos, medem cerca de 20 a 30cm de comprimento e apresentam cor 
leitosa. A boca ou vestíbulo bucal está localizado na extremidade anterior, e é contornado por 
três fortes lábios com serrilha de dentículos e sem interlábios. A boca, segue-se o esôfago 
musculoso e, logo após, o intestino retilíneo. O reto é encontrado próximo a extremidade 
posterior. Apresenta um testículo filiforme e enovelado, que se diferencia em canal deferente, 
continua pelo canal ejaculador, abrindo-se na cloaca, localizada próximo a extremidade 
posterior. 
Apresentam ainda dois espículos iguais que funcionam como órgãos acessórios da cópula. 
Não possuem gubernáculo. A extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral 
é o caráter sexual externo que o diferencia facilmente da fêmea. Notam-se ainda na cauda 
papilas pré e cloacais. 
 
Fêmeas: Medem cerca de 30 a 40cm, quando adultas, sendo mais robustas que os exemplares 
machos. A cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho. Apresentam dois 
ovários tiliformes e enovelados que continuam como ovidutos, diferenciando em úteros que 
vão se unir em uma única vagina, que se exterioriza pela vulva, localizada no terço anterior do 
parasito. A extremidade posterior da fêmea é retilínea. 
Ovos: Originalmente são brancos e adquirem cor castanha devido ao contato com as fezes. 
São grandes, com cerca de 50 μm de diâmetro, ovais e com cápsula espessa, em razão da 
membrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada por 
mucopolissacarídeos. A essa membrana seguem-se uma membrana média constituída de 
quitina e proteína e outra mais interna, delgada e impermeável à água constituída de 25% de 
proteínas e 75% de lipídios. Esta Última camada confere ao ovo grande resistência às 
condições adversas do ambiente. 
 Internamente, os ovos dos ascarídeos apresentam uma massa de células germinativas. 
Frequentemente podemos encontrar nas fezes ovos inférteis. São mais alongados, possuem 
membrana mamilonada mais delgada e o citoplasma granuloso. Algumas vezes, ovos férteis 
podem apresentar-se sem a membrana mamilonada. 
 CICLO BIOLÓGICO 
 É do tipo monoxênico, isto é, possuem um único hospedeiro. Cada fêmea fecundada é capaz 
de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não-embrionados. que chegam ao ambiente 
juntamente comas fezes. Os ovos férteis em presença de temperatura entre 25ºC e 30°C, 
umidade mínima de 70% e oxigênio em abundância tomam-se embrionados em 15 dias. A 
primeira larva, forma dentro do ovo e é do tipo rabditóide, isto é, possui o esôfago com duas 
dilatações, uma em cada extremidade e uma constrição no meio. Após uma semana, ainda 
dentro do ovo, essa larva sofre mudança, e se torna infectante com esôfago tipicamente 
filarióide (esôfago retilíneo). 
A eclosão dos ovos ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro, 
como a presença de agentes redutores, o pH, a temperatura, os sais e, o mais importante, a 
concentração CO, cuja ausência inviabiliza a eclosão. As larvas, uma vez liberadas, 
 
atravessam a parede intestinal na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e nas veias e 
invadem o fígado entre 18 e 24 horas após a infecção. Em dois a três dias chegam ao coração 
direito, através da veia cava inferior ou superior e quatro a cinco dias após são encontradas nos 
pulmões (ciclo de LOSS). 
Cerca de oito dias da infecção, as larvas rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde 
sobem pela árvore brônquica e traquéia, chegando até a faringe. Podem então ser expelidas 
com a expectoração ou serem deglutidas, atravessando incólumes o estômago e fixando-se no, 
intestino delgado. Transformam-se em adultos jovens 20 a 30 dias após a infecção. Em 60 dias 
alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula, ovipostura e já são encontrados ovos nas fezes 
do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de um a dois anos. 
RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO 
Normalmente, a única forma infectante do parasito é o ovo embrionado, contendo larva de 
segundo estágio. A via de penetração é oral e compreende obrigatoriamente um ciclo 
migratório que passa pelos pulmões. 
 Experimentalmente, conseguiram-se infectar animais (e o próprio homem) alimentando-os 
com larvas extraídas do pulmão de outros animais recentemente infectados. 
 Os ovos de Ascaris suum também são infectantes para o homem. Sua evolução, porém, não 
costuma ir além da fase larvária, determinando alterações pulmonares e terminando aí o 
parasitismo. Em uma ocasião, conseguiu-se estabelecer o parasitismo intestinal em 7 a 19 
voluntários humanos que ingeriram ovos de A. suum, porém os vermes adultos foram logo 
eliminados espontaneamente. 
O período pré-patente, na infecção humana com A. lumbricoides, é de 67 a 76 dias. Mas com 
A. suum, ele foi de 24 a 29 dias apenas, em um estudo experimental feito no Japão, enquanto 
no porco esse período varia entre 46 e 56 dias, segundo vários autores. 
 
 
 
PATOLOGIA E QUADRO CLÍNICO 
 Deve ser estudada acompanhando-se o ciclo deste helminto, ou seja, a patogenia das larvas e 
dos adultos. Em ambas as situações, a intensidade das alterações provocadas está diretamente 
relacionada com o número de formas presentes no parasito. 
LARVAS: Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma 
alteração. Em infecções maciças encontramos lesões hepáticas e pulmonares. No fígado, 
quando são encontradas numerosas formas larvares migrando pelo parênquima, podem ser 
vistos pequenos focos hemorrágicos e de necrose que futuramente tomam-se fibrosados. 
Nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos. 
Na realidade, a migração das larvas pelos alvéolos pulmonares, dependendo do número de 
formas presentes, pode determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispnéia e 
eosinofilia. Há edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofilico, 
manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia (a este conjunto de sinais denomina-se 
síndrome de Loeffler). 
 Na tosse produtiva (com muco) o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do 
helminto. Estas manifestações geralmente ocorrem em crianças e estão associadas ao estado 
nutricional e imunitário das mesmas. 
Vermes adultos: Em infecções de baixa intensidade, três a quatro vermes, o hospedeiro não 
apresenta manifestação clínica. Já nas infecções médias, 30 a 40 vermes, ou maciças, 100 ou 
mais vermes, podemos encontrar as seguintes alterações: 
 Ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, 
lipídios e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, a subnutrição e 
depauperamento físico e mental; 
 Ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do 
hospedeiro, causando edema, urticária, convulsões epileptiformes etc.; 
 Ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, 
levando à sua obstrução. Este quadro parece não ser incomum, após estudos realizados 
 
em sete países com diferentes níveis de prevalências de ascaridíase concluíram que a 
obstrução intestinal é a mais comum das complicações agudas contabilizando três 
quartos de todas as complicações. As crianças são mais propensas a este tipo de 
complicação, causada principalmente pelo menor tamanho do intestino delgado e pela 
intensa carga parasitária; 
 Localização ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em 
que o verme sofra alguma ação irritativa, a exemplo de febre, uso impróprio de 
medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados o helminto desloca-se de 
seu hábitat normal atingindo locais não-habituais. Aos vermes que fazem esta 
migração dá-se o nome de "áscaris errático". 
A literatura registra um número de situações ectópicas que podem levar o paciente a 
quadros graves necessitando algumas vezes intervenção cirúrgica: 
 apêndice cecal causando apendicite aguda; 
 canal colédoco, causando obstrução do mesmo; 
 canal de Wirsung, causando pancreatite aguda; 
 eliminação do verme pela boca e narinas. 
Além destes locais, vermes adultos e formas larvares já foram encontrados no ouvido 
médio, narinas e trompa de Eustáquio. 
É muito comum entre crianças o aparecimento de uma alteração cutânea, que consiste em 
manchas, circulares, disseminadas pelo rosto, tronco e braços. Tais manchas são popularmente 
denominadas "pano", e são comumente relacionadas com o parasitismo pelo A. lumbricoides. 
Na realidade não existe nenhuma comprovação científica deste fato, mas algumas observações 
sugerem uma analogia entre manchas cutâneas e ascaridíase. Parece que seriam causadas pelo 
verme que consome grande quantidade de vitaminas A e C, provocando despigmentações 
circunscritas. Após a terapêutica e eliminação do verme, as manchas tendem a desaparecer. 
DIAGNÓSTICO 
 
Clínico: Usualmente a ascaridíase humana é pouco sintomática, por isto mesmo difícil de ser 
diagnosticada em exame clínico, sendo a gravidade da doença determinada pelo número de 
vermes que infectam cada pessoa. Como o parasito não se multiplica dentro do hospedeiro, a 
exposição contínua a ovos infectados é a única fonte responsável pelo acúmulo de vermes 
adultos no intestino do hospedeiro. 
Laboratorial: É feito pela pesquisa de ovos nas fezes. Como as fêmeas eliminam diariamente 
milhares de ovos por dia, não há necessidade, nos exames de rotina, de metodologia específica 
ou métodos de enriquecimento, bastando a técnica de sedimentação espontânea. Contudo, o 
método de Kato modificado por Katz é bastante eficiente e recomendado pela Organização 
Mundial de Saúde para inquéritos epidemiológicos. 
Esta técnica permite a quantificação dos ovos e consequentemente estima o grau de 
parasitismo dos portadores, compara dados entre várias áreas trabalhadas e demonstra maior 
rigor no controle de cura. Deve-se ressaltar que em infecções exclusivamente com vermes 
fêmeas, todos os ovos expelidos serão inférteis, enquanto eminfecções somente com vermes 
machos o exame de fezes será consistentemente negativo. 
MEDIDAS DE CONTROLE 
Os programas de combate aos Ascaris e outros geo-helmintos têm, geralmente, por objetivo o 
controle e, só tardiamente, sua erradicação. 
 Os tratamentos de massa, envolvendo a totalidade da população local, 
independentemente de exames coprológicos positivos, são recomendados quando a 
prevalência nos inquéritos preliminares é alta (60% ou mais). O tratamento seletivo dos casos 
positivos exige o exame de cada membro da comunidade e seu reexame, para o controle de 
cura. Requer, portanto, bons recursos laboratoriais, quantitativa e qualitativamente. O 
tratamento dos grupos mais parasitados inclui, em geral, apenas escolares e pré-escolares. É 
um objetivo mais simples de organizar e mais econômico. 
Por razões logísticas, preferem-se os esquemas de tratamento com dose única e via 
oral, mesmo quando a taxa de cura não se aproxime da ideal. Em todos os casos a repetição 
 
periódica da medicação é indispensável, visto que o solo permanece infectante por muito 
tempo e que os indivíduos não-tratados (ou excluídos do tratamento) irão poluí-lo 
repetidamente. 
Para o controle das várias helmintíases presentes, são escolhidos medicamentos de 
largo espectro, como o mebendazol, ou associações medicamentosas adequadas para as 
espécies de parasitos prevalentes na área. 
 
TRICHIURIS 
Este helminto é conhecido como tricuro e também como tricocéfalo, em vista de ter 
sido usado durante muito tempo o nome científico Trichocephalus trichiurus. Stoll, em 1947, 
calculou que deveriam existir no mundo mais de 350 milhões de indivíduos infectados por 
essa espécie, dos quais 28 milhões na África e 30 milhões na América tropical. Segundo a 
OMS (1998) havia 1 bilhão de indivíduos parasitados no mundo, dos quais 45,53 milhões 
clinicamente diagnosticados, que causaram cerca de 10.000 óbitos em 1997. Na grande 
maioria dos casos, o parasitismo decorre silenciosamente; mas os pacientes que, em vista de 
suas condições físicas ou das condições gerais de vida, contraem elevado número de vermes 
passam a sofrer de perturbações intestinais cuja gravidade chega inclusive a provocar a morte. 
A doença é dita tricuríase, tricurose ou tricocefalose, sendo preferível a primeira forma. 
Trichuris trichiura tem distribuição geográfica cosmopolita. Quase sempre, ela segue 
paralelamente à prevalência de Ascaris lumbricoides, devido a ser idêntico o modo de 
transmissão, grande a fertilidade dos helmintos e semelhante a resistência dos ovos às 
condições do meio exterior. 
A prevalência oscila entre 30 e 80% da população geral, incidindo principalmente em 
crianças. São elas que sofrem as cargas parasitárias mais elevadas e apresentam 
sintomatologia clínica importante. 
No Brasil, a taxa média de exames positivos era igual a 29,7% (sobre 2,9 milhões de 
exames coprológicos feitos em 23 das 25 unidades da Federação, em 1974-1976). A tricuríase 
 
incide mais intensamente na Amazónia e na faixa litorânea, de clima equatorial e chuvas 
distribuídas pelo ano todo, do que no planalto tropical e com estações secas. As maiores 
prevalências estão em Alagoas (71%) e Sergipe (80%). Também no México, encontram-se 
44% de parasitados no planalto (Distrito Federal) e 83% no litoral (Vera Cruz). 
No Chile, a positividade dos exames na região florestal (entre 35° e 43,5° sul), com 
temperatura média de 12°C, é igual a 53,5%; na zona fria e úmida mais ao sul, com média de 
7°C, é igual a 1,4%; para o norte, na região dos matorrais, com chuvas de 500 mm por ano e 
temperatura média de 14°C, 23%; na estepe, 16.3%; e nas áreas desérticas, 13% da população 
estão parasitados. 
O PARASITO 
OS VERMES ADULTOS: Os helmintos adultos medem 3 a 5 cm de comprimento, sendo os 
machos pouco menores que as fêmeas. A parte delgada anterior é mais longa que a posterior, 
fazendo com que se assemelhem a minúsculos chicotes. Por isso, nos países de língua inglesa, 
recebem o nome de "whipwornis" (whip, chicote). Na extremidade anterior do segmento 
delgado está a boca, provida de um estilete, e, ao longo de toda a extensão desse segmento, o 
espaço encontra-se ocupado pelo esticossomo (um tipo de esófago), que se continua depois 
com o intestino. 
 A parte posterior, mais volumosa, contém o intestino, o reto (ou a cloaca) e os órgãos 
reprodutores. Nos machos há um só testículo, canal deferente e canal ejaculador. O espículo 
também é único, longo e cercado por uma bainha que o envolve à maneira de um prepúcio — 
a bainha do espículo. 
A extremidade posterior da fêmea é romba e o ânus, subterminal. Aqui também os 
órgãos sexuais são singelos, pois há um só ovário, seguido de um oviduto, útero e vagina. O 
orifício genital feminino (vulva) abre-se nas proximidades da união entre a parte larga e a 
delgada do corpo do helminto. 
 
Os vermes adultos vivem no ceco, menos frequentemente no cólon, no apêndice ou nas 
últimas porções do íleo, sempre com a porção anterior mergulhada na mucosa, de onde retiram 
seu alimento. 
Estudos feitos com Trichuris vulpis, parasito normal do cão, demonstraram que 
possuem metabolismo aeróbio facultativo, mas, como Ascaris, a sobrevivência do verme e o 
consumo de glicose são maiores em atmosfera sem O₂. A presença de CO₂ no meio é 
indispensável e estimula o metabolismo glicídico. As semelhanças com o metabolismo de 
Ascaris lumbricoides levam a crer que ambos obtêm energia por uma via anaeróbia que requer 
CO₂, e forma succinato, bem como produtos derivados do ácido succínico. A diferença está 
em que T. vulpis possui um sistema citocromo e desenvolve atividades da catalase, mas não se 
sabe que funções lhe cabem no meio anaeróbio onde ele vive. 
CICLO BIOLOGICO 
A fecundidade da espécie é muito grande, sendo calculada entre 200 e 300 a média do 
número de ovos eliminados diariamente, por grama de fezes e por fêmea, o que equivale a 
uma oviposição de 3.000 a 7.000 ovos por fêmea e por dia (podendo chegar mesmo a 14.000 
ovos/dia). 
O tamanho dos ovos varia entre 50 e 55 µm de comprimento por 22 ou 23 µm de 
largura. O aspecto é muito característico, pois tem a forma de um barril alongado, cujas 
extremidades estivessem tapadas com rolhas de cristal. 
Três cascas são visíveis à microscopia óptica: a externa, mais espessa, de cor castanha 
por estar impregnada com pigmentos fecais, é interrompida nos dois pólos, onde um material 
hialino e refringente fecha as aberturas e faz saliência para o exterior; as duas cascas internas 
são mais claras, e de aspecto hialino. Dentro está a célula-ovo com sua membrana vitelina e o 
núcleo ainda não dividido. 
Enquanto estão no intestino do hospedeiro, os ovos permanecem sem embrionar. Mas, 
ao alcançarem o meio externo, começa a segmentação da célula-ovo, que leva à formação de 
uma larva ao fim de umas três semanas ou de vários meses, em função da temperatura e de 
 
outros fatores do meio. A larva não abandona a casca nem sofre ecdises aí, porém o ovo 
embrionado passa a ser infectante para o homem, quando ingerido com a poeira, a água ou 
alimentos contaminados. 
No laboratório, esses ovos embrionados podem conservar seu poder infectante durante 
cinco anos. Em condições naturais, devem sobreviver no meio durante vários meses. 
 Quando ingeridos pelas crianças ou pelos adultos, eclodem na luz do intestino, e as 
larvas, depois de saírem por um dos pólos do ovo, penetram nas criptas glandulares do ceco, 
onde permanecem dois dias, segundo foi observado administrando-se T. trichiura a ratos 
albinos, bem como nas experiências feitas com T. vulpis em cães. 
Completado o desenvolvimento, os vermes adultos fixam-se à mucosa, onde mantêm 
mergulhada aextremidade cefálica, e decorridos 70 a 90 dias, depois da ingestão do material 
infectante, completa-se o ciclo evolutivo com o aparecimento de ovos nas fezes do novo 
hospedeiro. 
RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO 
O número de espécimes de T. trichiura que vivem no intestino grosso das pessoas 
infectadas varia consideravelmente. Em geral, a população parasitária está compreendida entre 
2 e 10 helmintos, elevando-se em casos excepcionais para 100 a 1.000 vermes. 
Em 28 autópsias feitas em São Paulo, a média encontrada foi igual a oito. 
 A maioria dos indivíduos parasitados é de portadores assintomáticos, não se tendo 
informações sobre o número de vermes necessários para que surjam efeitos patogênicos. As 
condições em que se encontra o paciente constituem uma variável importante para o 
aparecimento e a gravidade do quadro clínico. 
PATOLOGIA 
As lesões traumáticas que os tricuros podem causar são mínimas e, mesmo nas 
infecções pesadas, não se observam fenômenos inflamatórios importantes. Os autores são, por 
 
isso, induzidos a pensar em mecanismos irritativos sobre as terminações nervosas da parede 
intestinal, produzindo reflexos que alteram a motilidade (peristaltismo) e as funções do 
intestino grosso (reabsorção de líquidos, principalmente), ou em mecanismos de 
hipersensibilidade aos produtos metabólicos do helminto. 
QUADRO CLÍNICO 
 O quadro clínico pode ser discreto e indefinido, com nervosismo, insônia, perda de 
apetite e eosinofilia sanguínea. Mais frequentemente é caracterizado por diarreia, dor 
abdominal, tenesmo e perda de peso. Uma diarreia persistente, em crianças pequenas, pode 
conduzir a um estado de desidratação cuja etiologia pode não ser suspeitada pelos médicos. 
Fenômenos dispépticos, dor abdominal, principalmente no quadrante inferior direito, 
flatulência, constipação intestinal e febre moderada compõem o quadro sintomático de outros 
casos. Uma intensa irritação intestinal pode levar até ao prolapso do reto, em pacientes 
(crianças) com grande número de vermes distribuídos por todos os segmentos do intestino 
grosso. 
DIAGNÓSTICO 
Dada a fecundidade dos tricuros, a pesquisa de seus ovos nas fezes não oferece 
dificuldade, sendo adequado para isto qualquer dos métodos parasitoscópicos de rotina. A 
morfologia também é inconfundível. Quando se quer calcular o número de helmintos 
existentes em um paciente, emprega-se a técnica de contagem de Stoll. 
Considera-se leve um parasitismo por T. trichiura que corresponda à eliminação de 
menos de 5.000 ovos por grama de fezes; entre 5.000 e 10.000 ovos/grama, trata-se de 
infecção de intensidade média; e acima de 10.000 ovos/grama, de infecção pesada. 
MEDIDAS DE CONTROLE 
As medidas de controle são as mesmas que as dos Ascaris, bem como todas as 
helmintíases intestinais transmitidas pelo solo.

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