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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – CAMPUS FLORESTA CENTRO MULTIDISCIPLINAR CURSO DE ENFERMAGEM BACHARELADO HELMINTÍASE Cruzeiro do Sul 2015 HELMINTÍASES FILARIOSE A ordem Spirurida apresenta grande número de espécies, parasitando mamíferos, inclusive humanos, além de aves, anfíbios e répteis, com algumas características comuns: são todos vermes finos e delicados, encontrados nos vasos linfáticos, vasos sanguíneos, tecido subcutâneo, cavidade peritoneal ou mesentério, e necessitam de um hospedeiro invertebrado. Das espécies encontradas no Brasil parasitando humanos, apenas uma é autóctone das Américas, a Mansonella ozzardi, sendo as demais originárias da Asia e Áfnca. Suspeita-se que para aqui chegaram durante o tráfico de escravos e se adaptaram, em vista da presença de um bom hospedeiro invertebrado (artrópodes) e semelhança com a região de origem. A ordem Spininda possui várias famílias, das quais duas têm interesse médico: Onchocercidae e Dracunculidae. Dessas nove espécies, três são encontradas no Brasil parasitando humanos: Wuchereria bancrofti (Cobbold, 1877), Onchocerca volvulus (Leuckart, 1893) e Mansonella ozzardi (Manson, 1897). A Dirofilaria immitis (Leidy, 1856) é encontrada naturalmente parasitando cães, mas em alguns países, inclusive no Brasil, já foram assinalados casos humanos (hospedeiros acidentais). As cinco espécies restantes (Brugia malayi, Brugia timori, Mansonella perstans, Loa Zoa, Dracunculus medinensis) não são encontradas em nosso país. A filariose linfática humana é causada por helmintos Nematoda das espécies Wuchereria bancrofti, Brugia nalayi e B. timori. Essa enfermidade é endêmica em várias regiões de muita pobreza e com clima tropical ou subtropical na Ásia, Afnca e Américas, sendo sério problema de saúde pública em países, como China, Índia, Indonésia e partes leste, central e oeste da África. E estimada em 1 bilhão a população que vive em áreas de risco de contrair a infecção e em 120 milhões o número de parasitados. Destes, aproximadamente 112 milhões são portadores de K bancrofii e oito milhões são portadores de B. malayi ou B. timori (minoria). A filariose linfática no continente americano é causada exclusivamente pela W bancrofti, sendo também conhecida como Elefantíase, em uma de suas manifestações na fase crônica. Estima-se que cerca de 112 milhões de pessoas estão infectadas pela W. bancrofti, em pelo menos 80 países. Destes, cerca de um terço dos pacientes vive na índia, um terço na África, e o restante no Sudeste Asiático, ilhas a oeste do Pacífico e Américas. Nas Américas, os focos de maior prevalência da infecção, atualmente, se encontram no Haiti, República Dominicana, Guiana e Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera que a interrupção da transmissão ainda tem que ser confirmada na Costa Rica, Suriname e Trinidad e Tobago, áreas endêmicas no passado. O PARASITO A W.bancrofti possui diferentes formas evolutivas nos hospedeiros vertebrados (humanos) e invertebrados (mosquitos vetores). Verme adulto macho. Corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 3,5 a 4cm de comprimento e 0,lmm de diâmetro. Extremidade anterior afilada e posterior enrolada ventralmente. Verme adulto fêmea. Corpo delgado e branco-leitoso. Mede de 7 a 10cm de comprimento e 0,3mm de diâmetro. Possui órgãos genitais duplos, com exceção da vagina, que é única e se exterioriza em uma vulva localizada próximo à extremidade anterior. Microfílaria. Esta forma também é conhecida como embrião. A fêmea grávida faz a postura de microfilárias, que possuem uma membrana extremamente delicada e que funciona como uma “Bainha flexível". A microfilária mede de 250 a 300μm de comprimento e se movimenta ativamente na corrente sanguínea do hospedeiro. A bainha cuticular lisa é apoiada sobre numerosas células subcuticulares (que irão formar a hipoderme e a musculatura do helminto adulto) e células somáticas (que irão formar o tubo digestivo e Órgãos). A presença da bainha é importante, pois alguns filarídeos encontrados no sangue não possuem tal estrutura, sendo este um dos critérios morfológicos para o diagnóstico diferencial. Larvas. São encontradas no inseto vetor. A larva de primeiro estágio mede em torno de 300μm de comprimento e é originária da transformação da microfilária. Essa larva se diferencia em larva de segundo estádio, duas a três vezes maior, e sofre nova muda originando a larva infectante que tem entre 1,5 e 2,0μm de comprimento. Hábitat. Vermes adultos machos e fêmeas permanecem juntos nos vasos e gânglios linfáticos humanos, vivendo em média, quatro a oito anos. As regiões do corpo humano que normalmente abrigam as formas adultas são: pélvica (atingindo pernas e escroto), mamas e braços (mais raramente). São frequentemente localizados nos vasos linfáticos do cordão espermático, causando aumento e dano escrotal. As microfilárias eliminadas pela fêmea grávida saem dos ductos linfáticos e ganham a circulação sanguínea do hospedeiro. Periodicidade. Uma característica peculiar deste parasito, verificada na maioria das regiões onde é encontrado, é a periodicidade noturna de suas microfilárias no sangue periférico do hospedeiro humano; durante o dia, essas formas se localizam nos capilares profundos, principalmente nos pulmões, e, durante a noite, aparecem no sangue periférico, apresentando o pico da microfilaremia em tomo da meia-noite, decrescendo novamente no final da madrugada. Os mecanismos e estímulos responsáveis por essa periodicidade não são claros, embora existam investigações que procuram relacionar a periodicidade noturna com fatores químicos. O pico da microfilaremia periférica coincide, na maioria das regiões endêmicas, com o horário preferencial de hematofagismo do principal inseto transmissor, o Culex quinquefasciatus (Say, 1823). Nas regiões do Pacífico Sul e sudeste da Ásia, onde o principal transmissor é um mosquito que exerce a hematofagia durante o dia (Aedes polynesiensis), as microfilárias podem ser detectadas no sangue periférico humano a qualquer hora, com maior concentração no final da tarde (em tomo das 16 horas), sendo consideradas aperiódicas ou subperiódicas diurnas (também existe a forma periódica noturna nestas regiões). Apesar dessa coincidência (hematofagia do vetor e microfilaremia periférica), nenhuma das diversas hipóteses levantadas conseguiu ainda explicar essa periodicidade, a não ser a necessidade biológica do encontro da microfilária com o mosquito vetor. Ciclo biológico. É do tipo heteroxênico. A fêmea do Culex quinquefasciatus, ao exercer o hematofagismo em pessoas parasitadas, ingere microfilárias que no estômago do mosquito, após poucas horas, perdem a bainha, atravessam a parede do estômago do inseto, caem na cavidade geral e migram para o tórax, onde se alojam nos músculos torácicos e transformam- se em uma larva, a larva salsichóide. Seis a dez dias após o repasto infectante, ocorre a primeira muda. Esta cresce muito e, 10-15 dias depois, sofre a segunda muda transformando- se em larva infectante, medindo aproximadamente 2mm, que migra pelo inseto até alcançar a probóscida (aparelho picador), concentrando-se no lábio do mosquito. O ciclo no hospedeiro invertebrado é de 15 a 20 dias em temperatura de 20-25°C mas, em temperaturas mais elevadas, pode ocorrer em menor período. Em condições de laboratório, este ciclo ocorre em 12-15 dias. Quando o inseto vetor vai fazer novo repastosanguíneo, escapam do lábio, penetram pela solução de continuidade da pele do hospedeiro (não são inoculadas pelos mosquitos), migram para os vasos linfáticos, tornam-se vermes adultos e, sete a oito meses depois, as fêmeas grávidas produzem as primeiras microfilárias (período pré- patente longo). Transmissão. Unicamente pela picada do inseto vetor (fêmea de C. quinquefasciatus) e deposição das larvas infectantes na pele lesada das pessoas. Parece que o estímulo que provoca a saída das larvas da probóscida do mosquito é o calor emanado do corpo humano. A pele, estando úmida (suor e alta umidade do ar), permite a progressão e penetração das larvas. É importante salientar que a vida média de um mosquito do gênero Culex é de aproximadamente um mês e o ciclo biológico do parasito no interior deste vetor ocorre em torno de 20 dias. Assim, é curto o período de tempo no qual o vetor pode estar transmitindo o parasito ao ser humano. QUADRO CLÍNICO A parasitose se caracteriza por uma variedade de manifestações clínicas que podem ser devidas aos vermes adultos no sistema linfático ou a resposta imune/inflamatória do hospedeiro contra microfilárias. As quatro principais formas clínicas da filariose linfática são: assintomática ou doença subclínica; manifestações agudas; manifestações crônicas; e eosinofilia pulmonar tropical (EPT). Indivíduos assintomáticos são aqueles com microfilárias no sangue e sem sintomatologia aparente. Mas, com o uso da linfocintigrafia e ultra-sonografia, tem-se verificado que esses assintomáticos, na realidade, apresentam doença subclínica com danos nos vasos linfáticos (dilatação e proliferação do endotélio) ou no sistema renal (hematúria microscópica), merecendo atenção médica precoce. As manifestações agudas são principalmente: linfangite retrógrada localizada principalmente nos membros e adenite, associadas a febre e mal-estar. As linfangites agudas têm curta duração e evoluem no sentido da raiz do membro para a extremidade. As adenites aparecem principalmente nas regiões inguinal,axilar e epitrocleana. As manifestações crônicas são: linfedema, hidrocele, quilúria e elefantíase, e iniciam-se, em geral, alguns anos após o início dos ataques agudos em moradores de áreas endêmicas. A hidrocele é a mais comum destas manifestações crônicas e frequentemente desenvolve na ausência de reações inflamatórias prévias. Pacientes com hidrocele podem apresentar rnicrofilárias no sangue periférico. A elefantíase geralmente se localiza nos membros inferiores e na região escrotal, e está associada a episódios inflamatórios recorrentes. A incidência e gravidade das manifestações aumentam com a idade e lesões crônicas podem tornar-se irreversíveis. Alguns pacientes também podem apresentair comprometimento renal (quilúria). A eosinofilia pulmonar úopical (EPT) é uma síndrome caracterizada por sintomas de asma brônquica, sendo uma manifestação relativamente rara PATOLOGIA É importante distinguir os casos de infecção (presença de vermes e microfilárias sem sintomatologia aparente) de casos de doença. Os pacientes assintomáticos ou com manifestações discretas podem apresentar alta microfilaremia, e os pacientes com elefantíase ou outras manifestações crônicas não apresentam microfilaremia periférica ou está bastante reduzida. Algumas manifestações, especialmente as imunoinflamatórias, se devem as microfilárias, e outras aos vermes adultos. As alterações provocadas por essas últimas formas são mais conhecidas, sendo de decurso longo, e podem apresentar desde uma pequena estase linfática até a elefantíase. As lesões podem ser de origem inflamatória ou não e são devidas a dois fatores principais: mecânicos e irritativos. Ação mecânica. A presença de vermes adultos dentro de um vaso linfático pode provocar os seguintes distúrbios: Estase linfática com linfangiectasia (dilatação dos vasos linfáticos); Derramamento linfático ou linforragia. Esse derramamento, ocorrendo nos tecidos, provocará o edema linfático (por exemplo, nas pernas). Ocorrendo na cavidade abdominal, teremos a ascite linfática e na túnica escrotal, a linfocele. Pode também ocorrer derramamento de linfa nas vias urinárias (linfúrialquilúria). Ação irritativa. A presença dos vermes adultos dentro dos vasos linfáticos, bem como dos produtos oriundos do seu metabolismo ou de sua desintegração após a morte, provoca fenômenos inflamatórios. Como conseqüência, teremos a linfangite retrógrada (inflamação dos vasos) e adenite (inflamação e hipertrofia dos gânglios linfáticos). Frequentemente aparecem fenômenos alérgicos, como urticárias e edemas extrafocais. Além das ações mecânica e irritativa, fenômenos imunológicos, especialmente os alérgicos, induzem a patogenia. Exemplo típico é o quadro conhecido como eosinofilia pulmonar tropical (EPT), no qual o paciente apresenta hiper-resposta imunológica a antígenos filariais, com aumento de IgE e hipereosinofilia, levando ao aparecimento de abscessos eosinofilicos com microfilárias e posterior aparecimento de fibrose intersticial crônica nos pulmões, comprometendo a função do órgão. A síndrome denominada elefantíase pode aparecer em alguns casos crônicos com até mais de dez anos de parasitismo. Esta síndrome pode ter outras causas que não a W. bancrofti (hanseníase, estafilococcias ou outra causa que perturbe o fluxo linfático). A elefantíase é caracterizada por um processo de inflamação e fibrose crônica do órgão atingido, com hipertrofia do tecido conjuntivo, dilatação dos vasos linfáticos e edema linfático. Inicialmente, há hipertrofia da derme, porém a epiderme é normal. Com a progressão da doença, há esclerose da derme e hipertrofia da epiderme, dando a aparência típica da elefantíase: aumento exagerado do volume do órgão com queratinização e rugosidade da. Em geral, a seqüência dos eventos nos casos de elefantíase é a seguinte: linfangite, adenite, linfangiectasia (dilatação e varizes linfáticas), linforragia (extravasamento de linfa), linfedema (edema linfático), esclerose da derme, hiperhofia da epiderme e aumento do volume do órgão (principalmente pernas, escroto, ou mamas). Infecções bacterianas ou fúngicas secundárias agravam o quadro de elefantíase. DIAGNÓSTICO Clínico:É difícil devido à semelhança das alterações provocadas pela W. bancrofti com aquelas produzidas por outros agentes etiológicos com efeitos parecidos. Numa área endêmica, a história clínica de febre recorrente associada adenolinfangite pode ser indicativo de infecção filarial. Paciente com alteração pulmonar, eosinofilia sanguínea e altos níveis de IgE total no soro leva à suspeita de EPT. Laboratorial: A pesquisa de microfilárias no sangue periférico é feita por diferentes métodos parasitológicos. Entre as técnicas disponíveis, a mais utilizada é a gota espessa preparada com 20 a 100uL de sangue colhido por punção capilar digital, entre as 22-24 horas. Após 12- 15 horas do preparo das 1âminas com sangue, faz-se a desemoglobinização, cora-se pelo Giemsa e examina-se ao microscópio para verificar a presença de microfilárias. A gota espessa tem boa sensibilidade quando a parasitemia se encontra acima de 10 microfiláriastml de sangue. Para aumentar a sensibilidade desta técnica recomenda-se preparar mais de uma lâmina de um mesmo paciente, obedecendo ao horário noturno para a colheita de sangue para evitar resultados falso-negativos. A gota espessa é utilizada em inquéritos epidemiológicos por ser prática, rápida e econômica para obtenção de amostras de sangue colhidas a noite. Microfilárias podem estar ausentes no sangue, mas presentes na urina (quilúria e hematúria) ou líquidos da hidrocele. Nestes casos, omaterial obtido deve ser analisado usando técnicas de concentração. Diagnóstico da Infecção no Vetor: O diagnóstico da infecção dos insetos vetares é uma ferramenta complementar importante, pois permite, juntamente com a determinação das taxas de prevalência da infecção humana, monitorar a eficácia e estratégias de controle adotadas. A dissecção dos mosquitos permite a identificação específica das larvas encontradas, assim como a determinação e quantificação de cada um dos diferentes estágios larvários A partir desses dados é possível calcular os índices de infecção e de infectividade. No entanto, a dissecção é um método laborioso, apresentando por vezes resultados duvidosos, uma vez que a distinção específica das larvas encontradas se torna difícil em áreas onde outras espécies de filarídeos, inclusive de animais, são prevalentes. A dissecção vem sendo substituída pela técnica de PCR, sensível a ponto de detectar DNA proveniente de uma única larva de FY bancrojii em amostras contendo até 100 mosquitos. MEDIDAS DE CONTROLE Redução das fontes de Infecção: O método que até o presente deu melhores resultados foi a administração, a todos os pacientes com exame de sangue positivo, de dietilcarbamazina (DEC) ou ivermectina, poderosos microfilaricidas. Ele requer o exame preliminar de todos os membros da comunidade, para identificação dos indivíduos com filaremia. O tratamento antiparasitário pode ser seletivo, quando são tratados apenas os pacientes com exame positivo; ou de massa, quando, depois de um inquérito que acusou altos índices de prevalência, decide-se administrar o medicamento a todos os habitantes da localidade. Naturalmente, sempre serão excluídas as crianças muito pequenas (lactentes), as gestantes e os pacientes com outras doenças que contra-indiquem a medicação. Estes, mais os ausentes e os casos de recusa, mantêm uma reserva de fontes de infecção, na qual ficam incluídos também os casos não curados completamente. COMBATE AOS VETORES Uso de Inseticidas: A desinsetização é uma das formas de controle importantes, sendo facilitada sempre que o inseto vetor tenha hábitos endófilos e permaneça bastante tempo nas casas, para que se possa tirar partido da aplicação intradomiciliária dos inseticidas de ação residual. Outros Métodos de Controle Químico: Experimentam-se, atualmente, drogas capazes de inibir o crescimento dos insetos ou a formação da quitina, para substituir os inseticidas. Controle Biológic:. O uso de peixes larvófagos pode ser útil em criadouros de águas limpas. Saneamento Ambiental: As redes de drenagem de águas pluviais e os esgotos, desde que recebam os cuidados manutenção necessários, constituem elementos importantes c permanentes que contribuem muito para reduzir as populações desses mosquitos. Redução do Contato Homem-Mosquito: Consegue-se com a telagem das casas (nas portas, janelas e outros tipos de aberturas), para o que são empregadas telas de náilon ou telas metálicas plastificadas. Nenhum dos métodos acima descritos, empregados de forma isolada, dá os resultados almejados, em todas as situações que se apresentem. A metodologia a empregar, muitas vezes, terá que ser a mais eclética, incluindo o uso de inseticidas de ação imediata pelos moradores, a aplicação de larvicidas, a eliminação dos criadouros potenciais, nas casas e no peridomicílio, a telagem e o uso de mosquiteiros. ASCARIS Estes helmintos são citados com frequência, pela ampla distribuição geográfica e pelos danos causados aos hospedeiros. São popularmente conhecidos como lombriga ou bicha, causando a doença denominada ascaridíase e, menos frequentemente, ascaridose ou ascariose. O A. lumbricoides é encontrado em quase todos os países do mundo e ocorre com frequência variada em virtude das condições climáticas, ambientais e, principalmente, do grau de desenvolvimento socioeconômico da população. Os dados de prevalência são muito antigos, pontuais e todos com base em estimativas. Stoll (1947) baseando-se em dados obtidos através da literatura estimou em 644 milhões o número de indivíduos parasitados por A. lumbricoides em todo o mundo. Dados de 1984 da Organização Mundial de Saúde relataram que 1 bilhão de pessoas se apresentavam infectadas. A infecção pelo A. lumbricoides, como qualquer outra geo-helmintíase, está seguramente associada a fatores sociais, econômicos e culturais que proporcionam condições favoráveis à sua expansão, sobretudo em regiões onde os fatores ambientais são apropriados. Desse modo, o crescimento desordenado da população, em áreas muitas vezes desprovidas de saneamento básico, juntamente com o baixo poder econômico, educacional e hábitos pouco higiênicos, são relevantes e merecem destaque nos estudos epidemiológicos das parasitoses intestinais. Dados mais recentes indicam que o A. lumbricoides é o helminto mais frequente nos países pobres, sendo sua estimativa de prevalência de aproximadamente 30%, ou seja, 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo. A infecção humana por esta espécie de helminto está relacionada com a interação de diversas características que asseguram o processo de transmissão, como o parasito, o hospedeiro, o meio ambiente e a falta de noções ou condições de higiene. O PARASITO Machos: Quando adultos, medem cerca de 20 a 30cm de comprimento e apresentam cor leitosa. A boca ou vestíbulo bucal está localizado na extremidade anterior, e é contornado por três fortes lábios com serrilha de dentículos e sem interlábios. A boca, segue-se o esôfago musculoso e, logo após, o intestino retilíneo. O reto é encontrado próximo a extremidade posterior. Apresenta um testículo filiforme e enovelado, que se diferencia em canal deferente, continua pelo canal ejaculador, abrindo-se na cloaca, localizada próximo a extremidade posterior. Apresentam ainda dois espículos iguais que funcionam como órgãos acessórios da cópula. Não possuem gubernáculo. A extremidade posterior fortemente encurvada para a face ventral é o caráter sexual externo que o diferencia facilmente da fêmea. Notam-se ainda na cauda papilas pré e cloacais. Fêmeas: Medem cerca de 30 a 40cm, quando adultas, sendo mais robustas que os exemplares machos. A cor, a boca e o aparelho digestivo são semelhantes aos do macho. Apresentam dois ovários tiliformes e enovelados que continuam como ovidutos, diferenciando em úteros que vão se unir em uma única vagina, que se exterioriza pela vulva, localizada no terço anterior do parasito. A extremidade posterior da fêmea é retilínea. Ovos: Originalmente são brancos e adquirem cor castanha devido ao contato com as fezes. São grandes, com cerca de 50 μm de diâmetro, ovais e com cápsula espessa, em razão da membrana externa mamilonada, secretada pela parede uterina e formada por mucopolissacarídeos. A essa membrana seguem-se uma membrana média constituída de quitina e proteína e outra mais interna, delgada e impermeável à água constituída de 25% de proteínas e 75% de lipídios. Esta Última camada confere ao ovo grande resistência às condições adversas do ambiente. Internamente, os ovos dos ascarídeos apresentam uma massa de células germinativas. Frequentemente podemos encontrar nas fezes ovos inférteis. São mais alongados, possuem membrana mamilonada mais delgada e o citoplasma granuloso. Algumas vezes, ovos férteis podem apresentar-se sem a membrana mamilonada. CICLO BIOLÓGICO É do tipo monoxênico, isto é, possuem um único hospedeiro. Cada fêmea fecundada é capaz de colocar, por dia, cerca de 200.000 ovos não-embrionados. que chegam ao ambiente juntamente comas fezes. Os ovos férteis em presença de temperatura entre 25ºC e 30°C, umidade mínima de 70% e oxigênio em abundância tomam-se embrionados em 15 dias. A primeira larva, forma dentro do ovo e é do tipo rabditóide, isto é, possui o esôfago com duas dilatações, uma em cada extremidade e uma constrição no meio. Após uma semana, ainda dentro do ovo, essa larva sofre mudança, e se torna infectante com esôfago tipicamente filarióide (esôfago retilíneo). A eclosão dos ovos ocorre graças a fatores ou estímulos fornecidos pelo próprio hospedeiro, como a presença de agentes redutores, o pH, a temperatura, os sais e, o mais importante, a concentração CO, cuja ausência inviabiliza a eclosão. As larvas, uma vez liberadas, atravessam a parede intestinal na altura do ceco, caem nos vasos linfáticos e nas veias e invadem o fígado entre 18 e 24 horas após a infecção. Em dois a três dias chegam ao coração direito, através da veia cava inferior ou superior e quatro a cinco dias após são encontradas nos pulmões (ciclo de LOSS). Cerca de oito dias da infecção, as larvas rompem os capilares e caem nos alvéolos, onde sobem pela árvore brônquica e traquéia, chegando até a faringe. Podem então ser expelidas com a expectoração ou serem deglutidas, atravessando incólumes o estômago e fixando-se no, intestino delgado. Transformam-se em adultos jovens 20 a 30 dias após a infecção. Em 60 dias alcançam a maturidade sexual, fazem a cópula, ovipostura e já são encontrados ovos nas fezes do hospedeiro. Os vermes adultos têm uma longevidade de um a dois anos. RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO Normalmente, a única forma infectante do parasito é o ovo embrionado, contendo larva de segundo estágio. A via de penetração é oral e compreende obrigatoriamente um ciclo migratório que passa pelos pulmões. Experimentalmente, conseguiram-se infectar animais (e o próprio homem) alimentando-os com larvas extraídas do pulmão de outros animais recentemente infectados. Os ovos de Ascaris suum também são infectantes para o homem. Sua evolução, porém, não costuma ir além da fase larvária, determinando alterações pulmonares e terminando aí o parasitismo. Em uma ocasião, conseguiu-se estabelecer o parasitismo intestinal em 7 a 19 voluntários humanos que ingeriram ovos de A. suum, porém os vermes adultos foram logo eliminados espontaneamente. O período pré-patente, na infecção humana com A. lumbricoides, é de 67 a 76 dias. Mas com A. suum, ele foi de 24 a 29 dias apenas, em um estudo experimental feito no Japão, enquanto no porco esse período varia entre 46 e 56 dias, segundo vários autores. PATOLOGIA E QUADRO CLÍNICO Deve ser estudada acompanhando-se o ciclo deste helminto, ou seja, a patogenia das larvas e dos adultos. Em ambas as situações, a intensidade das alterações provocadas está diretamente relacionada com o número de formas presentes no parasito. LARVAS: Em infecções de baixa intensidade, normalmente não se observa nenhuma alteração. Em infecções maciças encontramos lesões hepáticas e pulmonares. No fígado, quando são encontradas numerosas formas larvares migrando pelo parênquima, podem ser vistos pequenos focos hemorrágicos e de necrose que futuramente tomam-se fibrosados. Nos pulmões ocorrem vários pontos hemorrágicos na passagem das larvas para os alvéolos. Na realidade, a migração das larvas pelos alvéolos pulmonares, dependendo do número de formas presentes, pode determinar um quadro pneumônico com febre, tosse, dispnéia e eosinofilia. Há edemaciação dos alvéolos com infiltrado parenquimatoso eosinofilico, manifestações alérgicas, febre, bronquite e pneumonia (a este conjunto de sinais denomina-se síndrome de Loeffler). Na tosse produtiva (com muco) o catarro pode ser sanguinolento e apresentar larvas do helminto. Estas manifestações geralmente ocorrem em crianças e estão associadas ao estado nutricional e imunitário das mesmas. Vermes adultos: Em infecções de baixa intensidade, três a quatro vermes, o hospedeiro não apresenta manifestação clínica. Já nas infecções médias, 30 a 40 vermes, ou maciças, 100 ou mais vermes, podemos encontrar as seguintes alterações: Ação espoliadora: os vermes consomem grande quantidade de proteínas, carboidratos, lipídios e vitaminas A e C, levando o paciente, principalmente crianças, a subnutrição e depauperamento físico e mental; Ação tóxica: reação entre antígenos parasitários e anticorpos alergizantes do hospedeiro, causando edema, urticária, convulsões epileptiformes etc.; Ação mecânica: causam irritação na parede e podem enovelar-se na luz intestinal, levando à sua obstrução. Este quadro parece não ser incomum, após estudos realizados em sete países com diferentes níveis de prevalências de ascaridíase concluíram que a obstrução intestinal é a mais comum das complicações agudas contabilizando três quartos de todas as complicações. As crianças são mais propensas a este tipo de complicação, causada principalmente pelo menor tamanho do intestino delgado e pela intensa carga parasitária; Localização ectópica: nos casos de pacientes com altas cargas parasitárias ou ainda em que o verme sofra alguma ação irritativa, a exemplo de febre, uso impróprio de medicamento e ingestão de alimentos muito condimentados o helminto desloca-se de seu hábitat normal atingindo locais não-habituais. Aos vermes que fazem esta migração dá-se o nome de "áscaris errático". A literatura registra um número de situações ectópicas que podem levar o paciente a quadros graves necessitando algumas vezes intervenção cirúrgica: apêndice cecal causando apendicite aguda; canal colédoco, causando obstrução do mesmo; canal de Wirsung, causando pancreatite aguda; eliminação do verme pela boca e narinas. Além destes locais, vermes adultos e formas larvares já foram encontrados no ouvido médio, narinas e trompa de Eustáquio. É muito comum entre crianças o aparecimento de uma alteração cutânea, que consiste em manchas, circulares, disseminadas pelo rosto, tronco e braços. Tais manchas são popularmente denominadas "pano", e são comumente relacionadas com o parasitismo pelo A. lumbricoides. Na realidade não existe nenhuma comprovação científica deste fato, mas algumas observações sugerem uma analogia entre manchas cutâneas e ascaridíase. Parece que seriam causadas pelo verme que consome grande quantidade de vitaminas A e C, provocando despigmentações circunscritas. Após a terapêutica e eliminação do verme, as manchas tendem a desaparecer. DIAGNÓSTICO Clínico: Usualmente a ascaridíase humana é pouco sintomática, por isto mesmo difícil de ser diagnosticada em exame clínico, sendo a gravidade da doença determinada pelo número de vermes que infectam cada pessoa. Como o parasito não se multiplica dentro do hospedeiro, a exposição contínua a ovos infectados é a única fonte responsável pelo acúmulo de vermes adultos no intestino do hospedeiro. Laboratorial: É feito pela pesquisa de ovos nas fezes. Como as fêmeas eliminam diariamente milhares de ovos por dia, não há necessidade, nos exames de rotina, de metodologia específica ou métodos de enriquecimento, bastando a técnica de sedimentação espontânea. Contudo, o método de Kato modificado por Katz é bastante eficiente e recomendado pela Organização Mundial de Saúde para inquéritos epidemiológicos. Esta técnica permite a quantificação dos ovos e consequentemente estima o grau de parasitismo dos portadores, compara dados entre várias áreas trabalhadas e demonstra maior rigor no controle de cura. Deve-se ressaltar que em infecções exclusivamente com vermes fêmeas, todos os ovos expelidos serão inférteis, enquanto eminfecções somente com vermes machos o exame de fezes será consistentemente negativo. MEDIDAS DE CONTROLE Os programas de combate aos Ascaris e outros geo-helmintos têm, geralmente, por objetivo o controle e, só tardiamente, sua erradicação. Os tratamentos de massa, envolvendo a totalidade da população local, independentemente de exames coprológicos positivos, são recomendados quando a prevalência nos inquéritos preliminares é alta (60% ou mais). O tratamento seletivo dos casos positivos exige o exame de cada membro da comunidade e seu reexame, para o controle de cura. Requer, portanto, bons recursos laboratoriais, quantitativa e qualitativamente. O tratamento dos grupos mais parasitados inclui, em geral, apenas escolares e pré-escolares. É um objetivo mais simples de organizar e mais econômico. Por razões logísticas, preferem-se os esquemas de tratamento com dose única e via oral, mesmo quando a taxa de cura não se aproxime da ideal. Em todos os casos a repetição periódica da medicação é indispensável, visto que o solo permanece infectante por muito tempo e que os indivíduos não-tratados (ou excluídos do tratamento) irão poluí-lo repetidamente. Para o controle das várias helmintíases presentes, são escolhidos medicamentos de largo espectro, como o mebendazol, ou associações medicamentosas adequadas para as espécies de parasitos prevalentes na área. TRICHIURIS Este helminto é conhecido como tricuro e também como tricocéfalo, em vista de ter sido usado durante muito tempo o nome científico Trichocephalus trichiurus. Stoll, em 1947, calculou que deveriam existir no mundo mais de 350 milhões de indivíduos infectados por essa espécie, dos quais 28 milhões na África e 30 milhões na América tropical. Segundo a OMS (1998) havia 1 bilhão de indivíduos parasitados no mundo, dos quais 45,53 milhões clinicamente diagnosticados, que causaram cerca de 10.000 óbitos em 1997. Na grande maioria dos casos, o parasitismo decorre silenciosamente; mas os pacientes que, em vista de suas condições físicas ou das condições gerais de vida, contraem elevado número de vermes passam a sofrer de perturbações intestinais cuja gravidade chega inclusive a provocar a morte. A doença é dita tricuríase, tricurose ou tricocefalose, sendo preferível a primeira forma. Trichuris trichiura tem distribuição geográfica cosmopolita. Quase sempre, ela segue paralelamente à prevalência de Ascaris lumbricoides, devido a ser idêntico o modo de transmissão, grande a fertilidade dos helmintos e semelhante a resistência dos ovos às condições do meio exterior. A prevalência oscila entre 30 e 80% da população geral, incidindo principalmente em crianças. São elas que sofrem as cargas parasitárias mais elevadas e apresentam sintomatologia clínica importante. No Brasil, a taxa média de exames positivos era igual a 29,7% (sobre 2,9 milhões de exames coprológicos feitos em 23 das 25 unidades da Federação, em 1974-1976). A tricuríase incide mais intensamente na Amazónia e na faixa litorânea, de clima equatorial e chuvas distribuídas pelo ano todo, do que no planalto tropical e com estações secas. As maiores prevalências estão em Alagoas (71%) e Sergipe (80%). Também no México, encontram-se 44% de parasitados no planalto (Distrito Federal) e 83% no litoral (Vera Cruz). No Chile, a positividade dos exames na região florestal (entre 35° e 43,5° sul), com temperatura média de 12°C, é igual a 53,5%; na zona fria e úmida mais ao sul, com média de 7°C, é igual a 1,4%; para o norte, na região dos matorrais, com chuvas de 500 mm por ano e temperatura média de 14°C, 23%; na estepe, 16.3%; e nas áreas desérticas, 13% da população estão parasitados. O PARASITO OS VERMES ADULTOS: Os helmintos adultos medem 3 a 5 cm de comprimento, sendo os machos pouco menores que as fêmeas. A parte delgada anterior é mais longa que a posterior, fazendo com que se assemelhem a minúsculos chicotes. Por isso, nos países de língua inglesa, recebem o nome de "whipwornis" (whip, chicote). Na extremidade anterior do segmento delgado está a boca, provida de um estilete, e, ao longo de toda a extensão desse segmento, o espaço encontra-se ocupado pelo esticossomo (um tipo de esófago), que se continua depois com o intestino. A parte posterior, mais volumosa, contém o intestino, o reto (ou a cloaca) e os órgãos reprodutores. Nos machos há um só testículo, canal deferente e canal ejaculador. O espículo também é único, longo e cercado por uma bainha que o envolve à maneira de um prepúcio — a bainha do espículo. A extremidade posterior da fêmea é romba e o ânus, subterminal. Aqui também os órgãos sexuais são singelos, pois há um só ovário, seguido de um oviduto, útero e vagina. O orifício genital feminino (vulva) abre-se nas proximidades da união entre a parte larga e a delgada do corpo do helminto. Os vermes adultos vivem no ceco, menos frequentemente no cólon, no apêndice ou nas últimas porções do íleo, sempre com a porção anterior mergulhada na mucosa, de onde retiram seu alimento. Estudos feitos com Trichuris vulpis, parasito normal do cão, demonstraram que possuem metabolismo aeróbio facultativo, mas, como Ascaris, a sobrevivência do verme e o consumo de glicose são maiores em atmosfera sem O₂. A presença de CO₂ no meio é indispensável e estimula o metabolismo glicídico. As semelhanças com o metabolismo de Ascaris lumbricoides levam a crer que ambos obtêm energia por uma via anaeróbia que requer CO₂, e forma succinato, bem como produtos derivados do ácido succínico. A diferença está em que T. vulpis possui um sistema citocromo e desenvolve atividades da catalase, mas não se sabe que funções lhe cabem no meio anaeróbio onde ele vive. CICLO BIOLOGICO A fecundidade da espécie é muito grande, sendo calculada entre 200 e 300 a média do número de ovos eliminados diariamente, por grama de fezes e por fêmea, o que equivale a uma oviposição de 3.000 a 7.000 ovos por fêmea e por dia (podendo chegar mesmo a 14.000 ovos/dia). O tamanho dos ovos varia entre 50 e 55 µm de comprimento por 22 ou 23 µm de largura. O aspecto é muito característico, pois tem a forma de um barril alongado, cujas extremidades estivessem tapadas com rolhas de cristal. Três cascas são visíveis à microscopia óptica: a externa, mais espessa, de cor castanha por estar impregnada com pigmentos fecais, é interrompida nos dois pólos, onde um material hialino e refringente fecha as aberturas e faz saliência para o exterior; as duas cascas internas são mais claras, e de aspecto hialino. Dentro está a célula-ovo com sua membrana vitelina e o núcleo ainda não dividido. Enquanto estão no intestino do hospedeiro, os ovos permanecem sem embrionar. Mas, ao alcançarem o meio externo, começa a segmentação da célula-ovo, que leva à formação de uma larva ao fim de umas três semanas ou de vários meses, em função da temperatura e de outros fatores do meio. A larva não abandona a casca nem sofre ecdises aí, porém o ovo embrionado passa a ser infectante para o homem, quando ingerido com a poeira, a água ou alimentos contaminados. No laboratório, esses ovos embrionados podem conservar seu poder infectante durante cinco anos. Em condições naturais, devem sobreviver no meio durante vários meses. Quando ingeridos pelas crianças ou pelos adultos, eclodem na luz do intestino, e as larvas, depois de saírem por um dos pólos do ovo, penetram nas criptas glandulares do ceco, onde permanecem dois dias, segundo foi observado administrando-se T. trichiura a ratos albinos, bem como nas experiências feitas com T. vulpis em cães. Completado o desenvolvimento, os vermes adultos fixam-se à mucosa, onde mantêm mergulhada aextremidade cefálica, e decorridos 70 a 90 dias, depois da ingestão do material infectante, completa-se o ciclo evolutivo com o aparecimento de ovos nas fezes do novo hospedeiro. RELAÇÕES PARASITO-HOSPEDEIRO O número de espécimes de T. trichiura que vivem no intestino grosso das pessoas infectadas varia consideravelmente. Em geral, a população parasitária está compreendida entre 2 e 10 helmintos, elevando-se em casos excepcionais para 100 a 1.000 vermes. Em 28 autópsias feitas em São Paulo, a média encontrada foi igual a oito. A maioria dos indivíduos parasitados é de portadores assintomáticos, não se tendo informações sobre o número de vermes necessários para que surjam efeitos patogênicos. As condições em que se encontra o paciente constituem uma variável importante para o aparecimento e a gravidade do quadro clínico. PATOLOGIA As lesões traumáticas que os tricuros podem causar são mínimas e, mesmo nas infecções pesadas, não se observam fenômenos inflamatórios importantes. Os autores são, por isso, induzidos a pensar em mecanismos irritativos sobre as terminações nervosas da parede intestinal, produzindo reflexos que alteram a motilidade (peristaltismo) e as funções do intestino grosso (reabsorção de líquidos, principalmente), ou em mecanismos de hipersensibilidade aos produtos metabólicos do helminto. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico pode ser discreto e indefinido, com nervosismo, insônia, perda de apetite e eosinofilia sanguínea. Mais frequentemente é caracterizado por diarreia, dor abdominal, tenesmo e perda de peso. Uma diarreia persistente, em crianças pequenas, pode conduzir a um estado de desidratação cuja etiologia pode não ser suspeitada pelos médicos. Fenômenos dispépticos, dor abdominal, principalmente no quadrante inferior direito, flatulência, constipação intestinal e febre moderada compõem o quadro sintomático de outros casos. Uma intensa irritação intestinal pode levar até ao prolapso do reto, em pacientes (crianças) com grande número de vermes distribuídos por todos os segmentos do intestino grosso. DIAGNÓSTICO Dada a fecundidade dos tricuros, a pesquisa de seus ovos nas fezes não oferece dificuldade, sendo adequado para isto qualquer dos métodos parasitoscópicos de rotina. A morfologia também é inconfundível. Quando se quer calcular o número de helmintos existentes em um paciente, emprega-se a técnica de contagem de Stoll. Considera-se leve um parasitismo por T. trichiura que corresponda à eliminação de menos de 5.000 ovos por grama de fezes; entre 5.000 e 10.000 ovos/grama, trata-se de infecção de intensidade média; e acima de 10.000 ovos/grama, de infecção pesada. MEDIDAS DE CONTROLE As medidas de controle são as mesmas que as dos Ascaris, bem como todas as helmintíases intestinais transmitidas pelo solo.
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