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SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA 
JURÍDICA
SOCIOLOGIA E 
ANTROPOLOGIA 
JURÍDICA
ORGANIZADORES MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS TEIXEIRA LEITE.
ORGANIZADORES MARCUS VINÍCIUS DE FREITAS TEIXEIRA LEITE.
Sociologia e Antropologia Jurídica
GRUPO SER EDUCACIONAL
Com o objetivo de proporcionar um panorama multidisciplinar do Direito, 
este livro vai abordar a Sociologia do Direito e a Antropologia Jurídica, dois 
campos de estudo social do Direito muito importantes. Aqui, essas duas 
ciências serão discutidas a partir das noções básicas, das perspectivas 
históricas e sociológicas, além de apresentar os autores mais importantes 
e in�uentes da área: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. 
A análise das noções de “globalização” e “multiculturalismo”, tão impor-
tantes no mundo atual cada vez mais conectado, está presente neste livro 
também. O papel e o lugar do Direito em sua relação com a sociedade e a 
estrutura econômica e social a qual ele regula e qual a possibilidade de a 
prática jurídica promover ou barrar a mudança social serão temas também 
desta obra.
Uma obra abrangente que aborda ainda a Sociologia da aplicação do Direi-
to ou a Sociologia dos tribunais e o papel do Judiciário no desdobramento 
da cultura jurídica e na relação com os movimentos sociais. 
O estudo deste livro vai fazer a diferença na sua formação. Aproveite a 
leitura!
gente criando futuro
I SBN 9788522129669
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M
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CM
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SOCIOLOGIA E 
ANTROPOLOGIA 
JURÍDICA
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou 
transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo 
fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de 
informação, sem prévia autorização, por escrito, do Grupo Ser Educacional. 
Diretor de EAD: Enzo Moreira
Gerente de design instrucional: Paulo Kazuo Kato 
Coordenadora de projetos EAD: Manuela Martins Alves Gomes
Coordenadora educacional: Pamela Marques
Equipe de apoio educacional: Caroline Guglielmi, Danise Grimm, Jaqueline Morais, Laís Pessoa
Designers gráficos: Kamilla Moreira, Mário Gomes, Sérgio Ramos,Tiago da Rocha
Ilustradores: Anderson Eloy, Luiz Meneghel, Vinícius Manzi 
 
Leite, Marcus Vinícius de Freitas Teixeira.
 Sociologia e Antropologia Jurídica / Marcus Vinícius de Freitas Teixeira Leite. – São 
Paulo: Cengage, 2020.
 
 Bibliografia.
 ISBN 9788522129669
1. Direito. 2. Sociologia jurídica. 3. Antropologia jurídica.
Grupo Ser Educacional
 Rua Treze de Maio, 254 - Santo Amaro 
CEP: 50100-160, Recife - PE 
PABX: (81) 3413-4611 
E-mail: sereducacional@sereducacional.com
“É através da educação que a igualdade de oportunidades surge, e, com 
isso, há um maior desenvolvimento econômico e social para a nação. Há alguns 
anos, o Brasil vive um período de mudanças, e, assim, a educação também 
passa por tais transformações. A demanda por mão de obra qualificada, o 
aumento da competitividade e a produtividade fizeram com que o Ensino 
Superior ganhasse força e fosse tratado como prioridade para o Brasil.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego – Pronatec, 
tem como objetivo atender a essa demanda e ajudar o País a qualificar 
seus cidadãos em suas formações, contribuindo para o desenvolvimento 
da economia, da crescente globalização, além de garantir o exercício da 
democracia com a ampliação da escolaridade.
Dessa forma, as instituições do Grupo Ser Educacional buscam ampliar 
as competências básicas da educação de seus estudantes, além de oferecer-
lhes uma sólida formação técnica, sempre pensando nas ações dos alunos no 
contexto da sociedade.”
Janguiê Diniz
PALAVRA DO GRUPO SER EDUCACIONAL
Autoria
Marcus Vinicius de Freitas Teixeira Leite
Graduado e Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com formação 
complementar em Filosofia. É membro do Observatório para Qualidade da Lei (CNPq) e realiza 
pesquisas no Programa de Pós-Graduação da UFMG voltadas à Legística, processo legislativo e discurso 
parlamentar. Como bolsista de iniciação científica (PIQEG), participou do projeto Novas Perspectivas 
para a Educação Jurídica, sob orientação do prof. Aziz Tuffi Saliba. Foi monitor voluntário da disciplina 
Introdução à Ciência do Direito, fez intercâmbio internacional na Université Laval (Québec, Canadá), 
participou do Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP) como Diretor de Assistência, além de ter 
sido representante discente no departamento de Direito Penal da UFMG. Atuou como estagiário 
da Defensoria Pública da União (1º Ofício Regional) e como estagiário em escritório de advocacia 
especializado em Direito do Trabalho, onde também atuou como advogado. É também membro 
associado da Rede de Estudos Empíricos em Direito. Possui certificado em francês DALF C1 - Cadre 
européen commun de référence pour les langues. Tem como principais áreas de interesse: Filosofia 
do Direito; Legística; Educação Jurídica; Metodologia da Pesquisa; Filosofia da Linguagem; Linguística.
SUMÁRIO
Prefácio .................................................................................................................................................8
UNIDADE 1 - Introdução à antropologia e à sociologia jurídica ......................................................9
Introdução.............................................................................................................................................10
1. Significado, objeto e âmbito da Sociologia ....................................................................................... 11
2. Significado e objeto da Sociologia e da Antropologia do Direito ......................................................16
3. Paradigmas do pensamento social .................................................................................................... 21
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................25
UNIDADE 2 - Perspectivas sociológicas ..........................................................................................27
Introdução.............................................................................................................................................28
1 Indivíduo, cultura e sociedade ........................................................................................................... 29
2 Crime e desvio social .......................................................................................................................... 34
3 Sociologia Funcionalista de Émile Durkheim ..................................................................................... 39
4 Sociologia compreensiva de Max Weber ........................................................................................... 43
5 Sociologia crítica de Karl Marx ........................................................................................................... 48
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................53
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................54
UNIDADE 3 - Direito e sociedade ....................................................................................................57
Introdução.............................................................................................................................................58
1 Contribuição de outros teóricos para a Sociologia e a Antropologia do Direito ................................59
2 Globalização e Multiculturalismo ....................................................................................................... 64
3 Função da Sociologia do Direito eem dez anos, passando de 401,2 mil para 726,7 
mil, entre 2006 e 2016. Desde os anos 1990, podemos observar um processo de ampliação 
da complexidade e da dureza da legislação penal e processual penal brasileira, ainda que o 
processo não seja unívoco, com a ampliação de alternativas penais, hipóteses de medidas 
cautelares e a instituição da audiência de custódia. Para compreender a política criminal 
contemporânea brasileira, sugerimos o documentário brasileiro Sem Pena (Dir: Eugenio 
Puppo, 2014), disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=b6RDgB8GVW8).
39
Figura 2 - Complexo policial de Teixeira de Freitas (BA) 
Fonte: Rido, Shutterstock, 2020
3 SOCIOLOGIA FUNCIONALISTA DE ÉMILE 
DURKHEIM
Agora, nos deteremos sobre as principais correntes da Sociologia clássica, abordando sua 
relação com o Direito. Para tanto, veremos resumidamente como se fundaram os pensamentos 
de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Estes três teóricos podem ser considerados os mais 
importantes da Sociologia moderna e influenciam até hoje outras tantas correntes teóricas em 
diversas áreas, tendo especial importância também para o estudo do Direito.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
40
O francês Émile Durkheim (1858-1917) produziu obra de vasto e permanente impacto no 
campo da Sociologia, tendo contribuição central para a consolidação da disciplina e do caráter 
científico da mesma. O sociólogo buscou analisar fenômenos da vida social com maior rigor e 
objetividade em relação a outros pioneiros da área, como Auguste Comte, e implementou 
procedimentos científicos ancorados no empirismo, que conferiram à Sociologia uma discussão 
metodológica mais adequada e aprofundada.
A Sociologia, na visão durkheimiana, é definida como a ciência da gênese e do funcionamento 
das instituições, sendo estas todas as crenças e comportamentos instituídos pela coletividade, as 
quais exercem funções que permitem a estabilidade e manutenção no tempo da coesão social 
(QUINTANEIRO et. al., 2003).
3.2 Durkheim e fato social
Na obra de Durkheim, o conceito de fato social é primordial para compreendermos o 
arcabouço teórico produzido pelo autor. Para ele, fatos sociais são formas de agir e pensar 
externas aos indivíduos, aspectos da vida social que determinam ou condicionam a ação dos 
mesmos por diversas formas (DURKHEIM, 1999; GIDDENS, 2008). Isto se dá devido ao fato dos 
fatos sociais exercerem um poder coercitivo sobre os indivíduos, ainda que isso por muitas vezes 
ocorra de modo imperceptível ou naturalizado.
O autor parte da perspectiva de que a sociedade não é resultado da soma ou da justaposição 
dos indivíduos que a compõem, mas uma síntese de ações e sentimentos particulares que criam 
um fenômeno específico e novo. Por esta razão, as explicações para os fatos sociais devem ser 
buscadas na coletividade. Os exemplos de fatos sociais envolvem desde fenômenos consolidados 
e de grande dimensão, como a economia e a religião, até aqueles fluidos e efêmeros, como 
movimentos sociais, correntes de pensamento e formas de expressão.
Dentre as expressões do conjunto de fatos sociais, estão as representações coletivas e os 
valores. Um dos elementos a comprovar o fato de que aqueles tem caráter coercitivo e são 
externos aos indivíduos, Durkheim lembra que o não atendimento a estas convenções pode 
implicar diversos obstáculos, como a violação a uma lei. Entretanto, instituições são passíveis de 
mudança desde que um grupo de indivíduos, em ação combinada, apresentem comportamentos 
inovadores e produzam um produto novo que se constitua como um fato social (QUINTANEIRO et. 
al., 2003). Uma das formas de cristalização e reconhecimento desta mudança pode ser a alteração 
de normas jurídicas.
Ainda que nas palavras do próprio autor “a primeira regra e a mais fundamental é considerar 
os fatos sociais como coisas” (DURKHEIM, 2003, p. 15), estes são intangíveis e não observáveis 
diretamente. A pesquisa e a análise dos mesmos se dão por meio de uma investigação indireta, 
dos seus efeitos e de outras formas de representação dos mesmos, como, por exemplo, a 
41
Constituição e as leis (no Direito) e os textos sagrados (no caso das religiões).
3.2 Solidariedade mecânica e orgânica
Dentre os maiores interesses de pesquisa do sociólogo francês estava a compreensão de 
quais elementos eram responsáveis pela manutenção (ou pela quebra) da solidariedade e da 
ordem nas sociedades. Em sua visão, a primeira se mantém “quando os indivíduos se integram 
com sucesso em grupos sociais e se regem por um conjunto de valores e costumes partilhados” 
(GIDDENS, 2008, p. 9).
Durkheim (1999) destacou, em sua conhecida obra Da Divisão Social do Trabalho, a existência 
de dois tipos de solidariedade, as quais estariam diretamente relacionadas com a forma de 
divisão do trabalho em uma determinada sociedade: a solidariedade mecânica e a solidariedade 
orgânica.
A primeira, característica de culturas mais tradicionais (ou primitivas) e de menor especialização 
e divisão do trabalho – onde os indivíduos possuem ocupações laborais semelhantes –, estaria 
sustentada na homogeneidade e no consenso em relação a crenças e costumes. A dissidência no 
interior destas sociedades seria reprimida pela comunidade por meio da força e do castigo aos 
indivíduos que não se adequam.
A solidariedade orgânica, por sua vez, teria se desenvolvido em meio à rápida e profunda 
transformação social e econômica nas sociedades ocidentais, em meio aos processos de 
industrialização, complexificação econômica e urbanização. O desenvolvimento da sociedade 
capitalista implica na intensificação da interdependência econômica entre os indivíduos, 
ampliando relações de reciprocidade e reduzindo a importância de se partilhar crenças e 
costumes específicos.
Um dos principais meios de se observar a predominância de um ou outro tipo de solidariedade 
nas sociedades contemporâneas seria, para Durkheim, o Direito. Segundo Quintaneiro et al. 
(2003, pp. 74-75):
Durkheim utiliza-se da predominância de certas normas do Direito como indicador da presença 
de um ou do outro tipo de solidariedade, já que esta, por ser um fenômeno moral, não pode ser 
diretamente observada. Não obstante se sustente nos costumes difusos, o Direito é uma forma estável 
e precisa, e serve, portanto, de fator externo e objetivo que simboliza os elementos mais essenciais 
da solidariedade social. Por outro lado, as sanções que são aplicadas aos preceitos do Direito mudam 
de acordo com a gravidade destes, sendo assim possível estudar suas variações. O papel do Direito 
seria, nas sociedades complexas, análogo ao do sistema nervoso: regular as funções do corpo. Por 
isso expressa também o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, tanto 
quanto o sistema nervoso exprime o estado de concentração do organismo gerado pela divisão do 
trabalho fisiológico, isto é, sua complexidade e desenvolvimento. Enquanto as sanções impostas 
pelo costume são difusas, as que se impõem através do Direito são organizadas. Elas constituem 
42
duas classes: as repressivas - que infligem ao culpado uma dor, uma diminuição, uma privação; 
e as restitutivas - que fazem com que as coisas e relações perturbadas sejam restabelecidas à sua 
situação anterior, levando o culpado a reparar o dano causado. A maior ou menor presença de regras 
repressivas pode ser atestada através da fração ocupada pelo Direito Penal ou Repressivo no sistema 
jurídico da sociedade
A velocidade e intensidade destes processos na modernidade, porém, tem o poder de abalar 
costumes, valores e padrões de conduta (religiosos, morais etc.), sem que um outro arranjo 
ocupe estes espaços de forma decisiva, inclusive para direcionar ou circunscrever a conduta dos 
indivíduos. Este vazio de sentidos e objetivos em meio à vida social moderna é o que caracterizaria 
a anomia para o sociólogo francês. 
3.3 Anomia e normas morais: o suicídio e a religião
Esta perspectiva orientou o conceituado estudo do autor a respeitodo fenômeno do suicídio 
na obra O Suicídio, publicada pela primeira vez em 1897. Mais do que um ato pessoal e orientado 
pela angústia ou pelo desequilíbrio mental estrito dos indivíduos que o cometem, Durkheim 
optou por analisar esse ato como um fato social, passível de possuir padrões gerais observáveis 
e influenciado por fatores sociais. Em sua pesquisa, ele confirmou sua expectativa: verificou que 
determinados segmentos estavam mais vulneráveis ao suicídio do que outros: protestantes mais 
do que católicos, ricos mais do que pobres, homens mais do que mulheres. Além disso, guerras e 
mudanças econômicas também afetavam sensivelmente as estatísticas (DURKHEIM, 2000).
Estes aspectos reforçaram a posição do autor sobre a condição anômica em relação à 
perda de pontos de referência e de fontes de regulação social, bem como a importância do 
enfraquecimento de laços sociais no caso dos chamados suicídios egoístas. Reforçou, portanto, 
a perspectiva de que fatores sociais externos ao indivíduo interferem de forma significativa em 
condutas antes vistas como atos estritamente pessoais. E que esta influência podia ser investigada 
por meio da análise sociológica.
Também interessava ao autor a análise das normas morais das sociedades, que prescreveriam 
o modo como o sujeito deve se portar em determinadas circunstâncias e tem uma finalidade 
desejável e desejada por parte daqueles que se sujeitam a elas.
Em sociedades menos complexas, a moral cívica teria maior nível de associação com a religião 
pública, levando, portanto, a um nível maior de controle e disciplina de seus indivíduos. As 
sociedades modernas, por sua vez, apresentam maior nível de complexidade, nas quais o Estado 
possui grande variedade de funções, mas convive com outros grupos (família, corporações, 
instituições religiosas). Nesta associação tendente ao equilíbrio, desenvolvem-se as liberdades 
individuais.
A partir desta análise e reflexões, Durkheim empreende o estudo das religiões. O autor 
43
analisou especialmente aquelas praticadas em sociedades menos complexas, compreendidas 
como um sistema de crenças e práticas relativas às coisas sagradas que é comum a todos aqueles 
que se unem numa comunidade moral, chamada por ele de igreja (DURKHEIM, 1996).
Durkheim erigiu, portanto, um pensamento ancorado no método positivista e confiante na 
capacidade de convivência de indivíduos e grupos distintos nas sociedades modernas. Sua teoria 
do consenso e o funcionalismo foram especialmente influentes na antropologia e na sociologia 
norte-americana, aspecto que fora brevemente exemplificado na seção anterior.
4 SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE MAX WEBER
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A obra do alemão Max Weber (1864-1920) abarcou diversas áreas do conhecimento, como 
Direito, Filosofia e História, sendo influente também em disciplinas que se desenvolveriam de 
forma mais nítida apenas posteriormente, como a Ciência Política. Entretanto, o autor refletiu 
acerca do papel e do objeto do estudo sociológico, buscando estabelecer a Sociologia como uma 
disciplina preocupada com a diferença e a particularidades culturais e sociais.
Em seu texto A Ciência como Vocação, Weber discorre sobre o significado da ciência – vista 
como procedimento racional empreendido para explicar as consequências de determinados 
fenômenos –, e a respeito da postura do cientista frente ao seu ofício (WEBER, 2011). Este deve, 
em sua visão, selecionar e sugerir medidas com finalidade de solucioná-las, buscando respostas 
por meio do uso dos instrumentos metodológicos mais adequados (QUINTANEIRO et. al., 2003).
O sociólogo alemão também discorreu sobre a relação entre valores que orientam o 
pesquisador e a pretensão de objetividade nas Ciências Sociais, ao considerar que os “valores 
devem ser incorporados conscientemente à pesquisa e controlados através de procedimentos 
44
rigorosos de análise” (QUINTANEIRO et. al., 2003, p. 99). Uma atividade científica social que 
seja racional quanto às suas finalidades e valores não pode reduzir a realidade empírica a leis; a 
explicação de um determinado acontecimento envolve o agrupamento, por parte do cientista, do 
agrupamento da constelação de fatores que deem sentido ao mesmo.
4.1 Tipo ideal, ação social e relação social
Para tornar compreensível a natureza das conexões que se estabelecem na observação 
científica empírica, Weber parte de um modelo de interpretação e investigação chamado tipo 
ideal, caracterizado pela unilateralidade, racionalidade e caráter utópico. Como resumido por 
Quintaneiro et al. (2003, p. 103), na concepção weberiana “um conceito típico-ideal é um 
modelo simplificado do real, elaborado com base em traços considerados essenciais para a 
determinação da causalidade, segundo os critérios de quem pretende explicar um fenômeno”. 
De forma resumida, Weber vê o tipo ideal como um “recurso técnico que facilita uma disposição 
e terminologia mais lúcidas” (WEBER, 1979, p. 372), instrumento útil para conduzir o autor na 
investigação de uma realidade complexa e multifacetada.
Em Economia e Sociedade, Weber (2004a) desenvolve em maior profundidade o conceito de 
ação social, central em sua obra. A ação – conduta humana dotada de significado pelo indivíduo 
que a executa –, passa a ser definida como uma ação social quando esta se orienta para a ação 
de outros (seja um indivíduo, grupo específico ou a coletividade), de modo que tal conduta social 
tenha seu sentido partilhado. Esta noção é tão importante para a Sociologia weberiana que, na 
perspectiva do autor, a função do sociólogo é precisamente compreender e interpretar as ações 
sociais, observando suas características, efeitos, e verificando nexos causais que as determinam.
Como desdobramento da lógica dos tipos ideais, o sociólogo desenvolveu quatro elaborações 
conceituais para classificar as ações sociais. 
Classificação das ações sociais
Ação social afetiva: a conduta é movida por sentimentos, emoções e instintos .
Ação social tradicional: tem como fontes motivadoras costumes ou hábitos arraigados - 
ligados à cultura consuetudinária –, ou a reação a estímulos usuais e naturalizados.
Ação social racional com relação a valores, o agente se orienta conscientemente por crenças, 
convicções e princípios próprios.
Ação social racional sem relação a fins: tomada com o mínimo de interferência de tradições e 
afetos, com alto grau de reflexão da adequação entre meios e fins. 
Weber ressalta, contudo, que estes são modelos conceituais ideais/puros, e que as ações 
45
humanas geralmente se encaixam em mais de uma das categorias acima mencionadas. Ressalta 
ainda que elas não se confundem com ações reativas, instintivas, de imitação ou outras onde não 
há relação de sentido.
Quando uma conduta social é plural e tem seu sentido ou significado partilhado e 
compreendido por diversos atores em uma sociedade, passa a se constituir uma relação social. 
Esta pode se estabelecer independentemente da correspondência por uma das partes ou da 
duração desta relação, desde que haja compatibilidade entre as expectativas dos indivíduos sobre 
o significado da mesma. Instituições como o Estado ou a família, para Weber, se caracterizam por 
ser desenvolvimentos específicos da ação social de indivíduos.
A regularidade de certas condutas e relações pode ocorrer devido simplesmente a um hábito 
- que é classificado como uso -, que, quando duradouro, torna-se um costume.
4.2 Direito, poder, dominação e autoridade na Sociologia Weberiana
Por outro lado, um modelo de conduta pode adquirir legitimidade quando é considerado 
válido para um ou mais agentes, seja por receio de reprovação da comunidade pela discordância 
a outro, caso no qual este modelo é denominado convenção. Ou por receio de se tornar uma 
ordem pela ameaça de coação ou sanção pelo descumprimento do que é visto como obrigação. 
Neste caso, a ordem é o direito.
Aqui se inserem as questões do poder, da dominação e da autoridade no pensamento 
weberiano, chaves parao estudo sociológico. O poder para Weber significa a probabilidade, em 
uma relação social, de impor a vontade própria ao comportamento de terceiros, ainda que em 
face de resistência, e independente do fundamento de tal probabilidade (WEBER, 2004a). Os meios 
utilizados para alcança-lo são variados, abarcando desde a violência até procedimentos organizados. 
Há três formas de justificação da dominação legitimada: racional (dependente dos interesses, 
avaliações de vantagens e desvantagens no ato de obedecer); tradicional (orientada pelo 
FIQUE DE OLHO
Em consonância com esta posição, a unidade fundamental da análise sociológica weberiana 
é o agente individual – concepção também denominada de individualismo metodológico. 
Esse conceito parte do pressuposto de que as consciências sociais são entidades capazes de 
conferir significado às próprias ações, e que estes sentidos podem ser compartilhados por 
um grupo de indivíduos (QUINTANEIRO et. al., 2003). É por meio das ações e sentidos que 
os agentes conferem às esferas da vida social que estas podem ter sua lógica modificada.
46
costume, hábito); e afetiva (fundada em afetos ou inclinações pessoais em relação à liderança). A 
elas correspondem os três tipos de dominação legítima: legal, tradicional e carismática.
A primeira, relacionada à estrutura de dominação pela forma burocrática, é o domínio 
exercido pela administração moderna e racionalmente organizada do Estado. Nela a legitimidade 
se estabelece através da crença na legalidade das normas estatuídas e dos direitos de mando dos 
que exercem a autoridade (WEBER, 2004a).
A luta pelo estabelecimento de uma forma de dominação legítima - de conteúdos considerados 
válidos pelos participantes das relações sociais -, marca a evolução de cada uma das esferas da 
vida coletiva em particular e define o conteúdo das relações sociais no seu interior (QUINTANEIRO 
et. al. 2003). A dominação não é um fenômeno exclusivo da esfera política, mas engloba e envolve 
a organização de regras para a mesma. O autor acresce, ainda, que nas relações entre dominantes 
e dominados a dominação costuma apoiar-se e fundar sua legitimidade interna em bases jurídicas. 
O abalo da crença nesta legitimidade pode acarretar consequências de grande alcance.
4.3 Classes, estamentos e partidos
Segundo a concepção weberiana de sociedade, as diversas esferas da vida coletiva – econômica, 
política, jurídica, religiosa, cultural e social –, possuem lógicas particulares de funcionamento. Em 
diferentes momentos históricos, alguma (s) dessa (s) esfera (s) possuía dominância na definição 
das diferenças sociais. Nas sociedades capitalistas modernas o econômico (propriedade, riqueza) 
é o fundamento da posição especial, o principal elemento de classificação dos indivíduos.
Classes, estamentos e partidos são conceitos estabelecidos pelo sociólogo alemão no plano 
coletivo para entender mecanismos diversos de distribuição de poder. Uma classe é um grupo 
de indivíduos que se encontram numa situação comum referente à propriedade de bens ou de 
trabalho. As ações de tais agentes têm um sentido definido, de forma comum, pela posição deles 
no mercado (WEBER, 2004a).
Quando as ações individuais são condicionadas por critérios da ordem social, na aderência a 
modos de vida específicos e definidos, aí se estabelece a relação estamental. Estes estamentos 
podem ser fechados – quando sua posição se define por laços familiares, por exemplo –; ou abertos, 
sustentados por sentimentos comunitários ou de honra. Classes e estamentos tendem a se superpor, 
mas isto não ocorre em todas as ocasiões: tensões nesse sentido podiam ser verificadas tanto na 
época de Weber, entre a nobreza europeia tradicional, legada do período feudal, e a nova burguesia 
enriquecida; como hoje, nos atritos entre burguesia tradicional e os novos ricos.
Membros de uma mesma classe, entretanto, geralmente empreendem ações sociais enquanto 
grupo baseados em interesses racionais em respeito a fins. Os conflitos e diferenças gerados 
na ordem econômica entre classes e na ordem social entre os estamentos produzem, na esfera 
47
do poder social, os partidos. Estes são organizações que têm ação tipicamente racional e lutam 
pelo domínio da direção em uma associação ou comunidade (WEBER, 2004a; QUINTANEIRO et. 
al., 2003). Se dirigem a fins estabelecidos e à realização de programas de propósitos ideais ou 
materiais definidos.
Classes, estamentos e partidos são, portanto, fenômenos de distribuição de poder no seio 
das sociedades e manifestações organizadas da luta cotidiana travada no interior destas pela 
imposição dos interesses e vontades de algumas das partes contra outras. Na visão weberiana, 
esta é a essência da política, da vida social e da lógica do mercado.
4.4 Desencantamento do mundo, religião e resignação
A obra de Max Weber, por outro lado, também é marcada com um tom pessimista e resignado 
com o que ele via como consequências inevitáveis do processo de racionalização progressiva 
e burocratização modernas. A rotinização e racionalização ocorrem com tal força que mesmo 
lideranças carismáticas de cunho político ou religioso acabam sendo assimiladas pela “lógica 
férrea das instituições” (QUINTANEIRO et. al., 2003). Este processo de migração de sociedades 
marcadas pela ideia do sagrado, mágico e da espiritualidade para aquelas marcadas pela técnica 
e a ciência e orientada à materialidade é chamado de desencantamento do mundo.
O autor se interessou pela Sociologia da religião ao perceber a relevância e o impacto das 
doutrinas religiosas em outras áreas da vida coletiva, especialmente por conta das consequências 
práticas da religiosidade no tecido social. Ao estudar religiões não-cristãs, como o confucionismo 
e o budismo, Weber se interessou especialmente pela capacidade de algumas religiões de, a 
partir de seu conteúdo, fomentar o racionalismo prático e metódico na conduta cotidiana dos 
indivíduos. Essas religiões seriam marcadas pelo ascetismo mundano à participação nos processos 
da vida, orientando seus impulsos naturais à doutrina religiosa.
Nesta lógica se insere a famosa obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, escrita 
pelo autor em edições de 1905 e 1920. Se o desenvolvimento do Capitalismo estava vinculado à 
racionalização na vida prática, Weber identificou uma afinidade entre as disposições práticas dos 
indivíduos que se orientavam pela doutrina protestante calvinista. Esta rejeitava a contemplação, os 
instintos e prazeres instintivos, valorizando a atividade incessante e o trabalho como valor em si mesmo. 
Tal disposição implicava, na ordem econômica, na profunda dedicação de empresários orientados por 
essas doutrinas à produção de riqueza e de trabalhadores disciplinados (WEBER, 2004b).
A valorização espiritual da prosperidade na vida terrena, associada com a restrição do consumo 
em paixões mundanas, teria provocado como consequência concreta a acumulação capitalista e 
a poupança privada (WEBER, 2004b). Esse “espírito religioso” que favoreceu o desenvolvimento 
capitalista tornou-se desnecessário com o posterior desenvolvimento do sistema, também 
admitindo a busca de riquezas para a saciedade de interesses materiais “mundanos”.
48
A concepção “liberal desencantada” weberiana permanece fortemente influente nas 
Ciências Sociais, contribuindo para a compreensão dos contínuos processos de burocratização 
e racionalização na vida social, inclusive com a ampliação, complexificação e variedade dos 
aspectos abarcados pelo Direito, a regulação e a normatividade na Contemporaneidade.
5 SOCIOLOGIA CRÍTICA DE KARL MARX
Karl Marx (1818-1883) é um autor cuja obra não pode ser ligada a apenas uma área do 
conhecimento ou disciplina específica. O alemão, cujas referências teóricas e de pesquisa principais 
podem ser identificadas na filosofia hegeliana, na economia clássica inglesa (especialmente Adam 
Smith e David Ricardo) e no socialismo utópico francês – para divergir, em pontos distintos, de 
todos estes–, produziu extensos escritos nos ramos da Filosofia, da Economia e, no que interessa 
em especial para este tópico, produziu importantes reflexões sociológicas. A militância política e 
social e os interesses de pesquisa de Marx o levaram a refletir e teorizar acerca do surgimento e 
do desenvolvimento do Capitalismo na Modernidade.
5.1 Materialismo histórico: forças produtivas, relações sociais de 
produção e superestrutura jurídico-política
O filósofo e sociólogo desenvolveu a concepção materialista e dialética da História, por meio 
da qual orientou seu olhar para a sociedade burguesa moderna, sem deixar de fazer a análise 
histórica de sistemas sociais anteriores. A tese que orienta o materialismo histórico, nas palavras 
de Friedrich Engels, grande amigo e colaborador em vida de Marx, é a de que “a produção, e com 
ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social” (ENGELS, 2011, p. 55). Neste esquema 
teórico, três conceitos são centrais: as forças produtivas, as relações sociais de produção, e a 
superestrutura jurídico-política.
O conceito de forças produtivas em Marx, como abordado na Contribuição à crítica da 
economia política, envolve os recursos produtivos físicos para o trabalho humano -instrumentos, 
matérias primas, espaço físico (os meios de produção), e a força de trabalho -, o que inclui não 
apenas a força física dos indivíduos, mas também habilidades e conhecimento técnico aplicados 
no trabalho (COHEN, 2010). Envolve, portanto, o modo como os indivíduos obtém, num contexto 
específico, os bens de que necessitam.
As relações sociais de produção, por sua vez, dizem respeito às formas estabelecidas de 
distribuição dos meios de produção e do produto e o tipo de divisão social do trabalho numa 
sociedade, em um período histórico determinado. Expressa as relações sociais que os indivíduos 
precisam se inserir para sobreviver e produzir. Apesar da sociedade ser o produto da ação 
recíproca dos homens, esta não opera de acordo com seus desejos particulares.
49
Desse modo, a estrutura de uma sociedade dependeria do estado de desenvolvimento 
de suas forças produtivas, em primeiro lugar; e das relações sociais de produção que lhes 
são correspondentes (QUINTANEIRO et. al., 2003). Este arranjo material é a base que orienta 
e sustenta a superestrutura jurídica e política dessas sociedades, bem como as expressões 
ideológicas e culturais das mesmas.
A transformação dos sistemas sociais, em tal configuração, ocorre quando se modificam as 
condições das forças produtivas e, em seguida, das relações de produção de uma determinada 
sociedade, gerando tensionamentos com a superestrutura jurídico-política da mesma. Conflito este 
que pode se desdobrar de forma gradual ou por meio de uma mudança abrupta: as revoluções.
Marx verificou este quadro ao analisar historicamente a passagem das sociedades de caçadores-
coletores para os sistemas escravagistas arcaicos, seguida da transição para o Feudalismo e, por 
fim, da substituição deste pelo Capitalismo. O desenvolvimento da burguesia com a ampliação e a 
complexificação das relações comerciais, associadas ao impulso tecnológico essencial representado 
pela Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no século XVIII, seguida por outras nações europeias 
no início do século seguinte, modificou de forma decisiva o arranjo social. A ordem feudal e a 
hegemonia da nobreza fundiária foram suplantadas, consolidando-se uma nova ordem social.
Especialmente no Capitalismo, as relações de produção são relações de poder econômico 
sobre a força de trabalho e os meios de produção, de cujo privilégio alguns gozam, enquanto os 
demais carecem (COHEN, 2010).
Sobre esta infraestrutura, erige-se uma superestrutura jurídico-política que é formada 
em função daquela. Isto significa que a explicação das formas jurídicas, políticas e das ideias 
que circulam numa sociedade se encontra na base econômica e material da mesma. Em tal 
problemática, insere-se o Direito: o sistema de normas de conduta e princípios regente sob uma 
sociedade capitalista se orienta para a cristalização e regulação de direitos de propriedade e 
relações comerciais sob este sistema econômico, geralmente sob a forma do contrato.
50
5.2 Capitalismo: estruturação econômica e social
Marx se dedicou extensamente à análise do Capitalismo – para ele, a forma de organização 
mais desenvolvida e complexa existente até aquele momento histórico –, na sua grande obra O 
Capital, a qual o autor terminou de escrever apenas o primeiro volume.
A unidade analítica base da sociedade capitalista e expressão da riqueza da mesma é a 
mercadoria, forma que é assumida pelos produtos e pela força de trabalho e compõe-se pelo 
valor de uso - necessita ser útil e se efetivar no consumo -, e valor de troca. O valor desta última 
é medido pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção em um momento 
determinado (MARX, 2013).
Neste sistema, o capital é uma noção essencial: trata-se de qualquer ativo financeiro que 
possa ser utilizado ou investido para produção e reprodução de bens. Aqueles que detém esses 
meios de produção em abundância são os capitalistas, a classe burguesa, e eles ocupam a posição 
de dominância na sociedade moderna.
Os proprietários dos meios de produção obtêm lucro por meio da apropriação do esforço 
dos indivíduos que oferecem sua força de trabalho. Ao observar esta relação, o autor alemão 
desenvolveu o conceito de mais-valia: quando a força de trabalho do trabalhador, negociada com 
o capitalista, produz mais riqueza do que seu próprio valor de troca, na qual se obtém um valor 
que é superior ao dos fatores (meios de produção e força de trabalho) consumidos no processo 
produtivo (QUINTANEIRO et. al., 2003).
Os grupos e indivíduos que não possuem estes ativos, mas necessitam de encontrar formas 
para sua subsistência, se veem obrigados a oferecer sua força de trabalho aos detentores dos 
FIQUE DE OLHO
demandas populares. Nesse contexto, as cartas de direitos surgidas no contexto iluminista 
se orientavam por uma ótica burguesa, restrita a direitos civis e políticos e de caráter 
excludente e individualista. Marx tem um objetivo mais profundo: deseja a emancipação 
humana, a qual não será atingida com a pretensa inclusão de uma população no Estado 
burguês da época, mas com o reconhecimento e organização, por parte dos homens, de 
suas forças próprias como forças sociais (MARX, 2010). As interpretações acerca da relação 
do marxismo com o Direito ensejaram grandes controvérsias nos movimentos socialistas 
e comunistas que reivindicavam o legado do autor alemão: desde perspectivas favoráveis 
à possibilidade de um “Direito socialista”, como Petr Stutchka, àqueles que consideravam 
o Direito como a forma jurídica específica do modo de produção capitalista, associando a 
primeira à forma mercadoria, como Evgéni Pachukanis.
51
meios de produção, um contrato que lega ao trabalhador o salário como contrapartida. Esta 
classe, a mais numerosa, surgiu especialmente por meio da migração de antigos camponeses que 
migraram para as cidades por conta de mudanças na regulação da terra no meio rural, devido ao 
cercamento dos campos. Os agora trabalhadores nas indústrias capitalistas acabaram por formar 
o que Marx denominou proletariado, a classe operária industrial urbana.
O capitalismo erigiu, portanto, um sistema de classes marcado pelo conflito entre burguesia 
e proletariado, numa relação de mútua dependência, mas na qual os últimos se localizam numa 
situação de exploração e alienação estrutural. Para Marx, nesse sistema, os trabalhadores têm 
controle restrito ou nulo sobre o trabalho que exercem e de suas condições, estando numa 
condição de dominação por forças da sua própria criação, de modo a encarar o produto de seu 
trabalho como um poder estranho (MARX, 2008).
5.3 Luta de classes, revolução e comunismo
Partindo desta abordagem, Marx concluiu que “toda a história humana é, até o momento, 
a história da luta de classes” (MARX, 1998) – uma classeé um conjunto de membros de uma 
sociedade identificados por compartilhar certas condições objetivas (QUINTANEIRO et. al., 
2003). Na configuração do capitalismo, temos um modelo em cuja base estão, de um lado, os 
proprietários dos meios de produção, e, de outro, os que não os possuem. Entretanto, quando 
Marx empregou seu materialismo histórico para analisar os acontecimentos políticos de seu 
tempo, como em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, o autor identificou a presença de outras 
classes sociais relevantes para a análise da conjuntura.
O modelo de sociedade que se estabeleceu após o Feudalismo, portanto, teriam apenas 
substituído as velhas condições de opressão por outras novas, mantendo o contexto de luta de 
classes. Para Marx, assim como ocorreu nos modelos anteriores, o Capitalismo estaria fadado 
ao seu esgotamento, devido às contradições inerentes ao sistema, entre as forças produtivas 
que emergem do mesmo e seu choque com as relações de produção, ou superestrutura, que 
acabariam por perpetrar um processo de revolução social.
O proletariado, criado pelo Capitalismo e mantido em posição de exploração e alienação, é o agente 
transformador desta sociedade, força produtiva e a classe verdadeiramente revolucionária, a qual, por 
meio da consciência de sua situação social e a organização, tem as condições de abolir a propriedade 
privada dos meios de produção e abolir a sociedade civil burguesa estruturada em função desta.
As características e a estrutura da futura sociedade comunista – e a socialista, estágio de 
transição posterior à revolução -, não foram tratados exaustivamente por Marx, que delineou 
alguns princípios e premissas destas sociedades em sua Crítica do Programa de Gotha, de 1871.
A sociologia crítica marxista, assim, não apenas questiona teoricamente as premissas e o 
52
funcionamento do sistema capitalista, mas também problematiza a postura dos intérpretes sociais 
anteriores e os de seu tempo, adotando uma postura militante e orientada à intervenção na 
realidade efetiva. Como dito pelo autor nas Teses sobre Feuerbach: “os filósofos (...) interpretaram 
o mundo de diferentes maneiras; do que se trata é de transformá-lo” (MARX, 2001, p. 103).
Ainda que Marx não tenha se preocupado especificamente com a consolidação da Sociologia 
como uma disciplina e ciência autônomas, o autor é considerado um dos autores clássicos da 
Sociologia graças à profunda influência de sua teoria e métodos de análise da realidade social 
na produção sociológica, e ao grande impacto social e político do pensamento marxista, tendo 
produzido um extenso e duradouro legado sociológico.
53
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Aprender as principais perspectivas no campo da Antropologia a respeito do concei-
to de cultura (clássica, descritiva, simbólica, estrutural), bem como às relações entre 
cultura e sociedade no campo da Sociologia.
• Analisar as abordagens históricas dadas ao desvio social, considerado amplamente, 
e suas manifestações no Direito na forma do delito e do crime.
• Compreender os principais aspectos relativos à produção teórica de três dos maio-
res e mais influentes nomes das Ciências sociais: Émile Durkheim, Max Weber e 
Karl Marx, bem como as implicações das reflexões destes autores para o Direito e a 
Sociologia Jurídica.
PARA RESUMIR
ANITUA, G. I. História dos Pensamentos Criminológicos. Rio de Janeiro: Revan, 2007,
BARATTA, A. Criminologia Crítica e Crítica ao Direito Penal. Rio de Janeiro: Revan, 1999.
BECKER, H. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Zahar, 2008 
[1963].
BITTENCOURT, C. R. Tratado de Direito Penal I. São Paulo: Saraiva, 2013, 19ª ed.
BOURDIEU, P. Les trois états du capital culturel. Actes de la recherche en sciences 
sociales, Paris, n. 30, nov. p. 3-6, 1979.
COHEN, G. A. Forças produtivas e relações de produção. Crítica Marxista, n.31, p.63-82, 
2010.
DURKHEIM, É. As regras do método sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
DURKHEIM. Da divisão do trabalho social.. São Paulo: Martins Fontes, 1999, 24ª ed.
DURKHEIM. As formas elementares da vida religiosa.. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
DURKHEIM. O Suicídio. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ENGELS, F. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. São Paulo: Edipro, 2011.
ENGELS. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ENGELS, F et. al. Manifesto do Partido Comunista. Estudos Avançados, São Paulo, v. 12, 
n. 34, p. 7-46, Dez. 1998.
FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 1987.
GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
GIDDENS, A. Sociologia. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2008, 6ª ed.
GODOY, E. V. et al. Um olhar sobre a cultura. Educ. rev., Belo Horizonte, v. 30, n. 3, p. 
15-41, Set. 2014.
LARAIA, R.B. Cultura – um conceito antropológico. 11.ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1997.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARX, k. Manuscritos econômico-filosóficos. São Paulo: Boitempo, 2008.
MARX. O Capital - Livro I – crítica da economia política: O processo de produção do 
capital. Tradução Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.
MARX. Sobre a Questão Judaica. São Paulo: Boitempo, 2010
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Lígia de O; OLIVEIRA, Márcia Gardênia M. Um 
Toque de Clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003
TAYLOR, I. et al. The New Criminology: For a Social Theory of Deviance. Londres: 
Routhledge, 2013 [1973].
THOMPSON, J. B. Ideologia e cultura moderna: teoria social e crítica na era dos meios de 
comunicação de massa. Petrópolis: Vozes, 2000.
TOURAINE, A. Um novo paradigma para compreender o mundo de hoje. 3ª Ed. 
Petrópolis: Ed. Vozes, 2007.
WEBER, M. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Companhia das 
Letras, 2004.
WEBER, Max. Economia e Sociedade. São Paulo, Martins Fontes, 2004.
WEBER. Ciência e Política: Duas Vocações. São Paulo: Cultrix, 2011
WEBER. Rejeições religiosas do mundo e suas direções. In: GERTH, Hans; MILLS, Wright. 
Max Weber. Ensaios de Sociologia. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar, 
1979.
WHITE, L. A et al. O conceito de cultura. Rio de Janeiro: Contraponto, 2009.
UNIDADE 3
Direito e sociedade
Você está na unidade Direito e Sociedade. Conheça aqui a importância de algumas 
abordagens sociológicas do Direito, tais como as teorias de Georges Gurvitch, Eugen Erlich, 
Leon Duguit e Clifford Geertz. A partir desses autores, você compreenderá a importância 
de tais perspectivas para o estudo sociológico do Direito. Além disso, analisaremos as 
noções de “globalização” e “multiculturalismo”, tão importantes no mundo atual cada vez 
mais conectado. Por fim, estudaremos a questão da eficácia do Direito a partir de uma 
abordagem sociológica.
Bons estudos!
Introdução
59
1 CONTRIBUIÇÃO DE OUTROS TEÓRICOS PARA A 
SOCIOLOGIA E A ANTROPOLOGIA DO DIREITO
Algumas correntes específicas do Pluralismo Jurídico trataram o Direito sob uma perspectiva 
sociológica própria, como é o caso de Georges Gurvitch, Eugen Erlich, Leon Duguit e Clifford 
Geertz. Todas são teorias que de alguma forma colaboraram para refletir sobre o fenômeno 
jurídico de diferentes maneiras e trouxeram suas contribuições para o que será discutido ao longo 
desta unidade e da disciplina, como veremos a seguir.
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
1.1 Concepção e objeto da Sociologia
Georges Gurvitch (1894-1965) foi um sociólogo e jurista nascido na Rússia e que, ao longo 
de sua vida, realizou diversos estudos no campo sociológico em geral e especificamente na 
Sociologia do Direito. A teoria de Gurvitch insere-se dentro da corrente do Pluralismo Jurídico, que 
simplificadamente compreende outras formas de existência de juridicidade fora do aparato estatal.
Na concepção de Gurvitch, há uma verdadeira teoria do Direito, baseada em uma relação 
de complementariedade entre a Sociologia e a Filosofia: “(...) a Filosofia auxilia na diferenciação 
de fatos morais,de interpretação, estéticos e jurídicos enquanto a Sociologia ajuda a entender 
de forma fática a multiplicidade empírica desses aspectos na vida prática dos comportamentos 
sociais” (ROCHA, 2019. p. 200).
Gurvitch percebe na Jurisprudência certa autonomia em relação à dogmática jurídica, 
por entender que aquela uma “engenharia social” adaptada às possíveis interpretações de 
necessidades específicas de sistemas jurídicos concretos em “sociedades totais”. Tais sociedades 
seriam “grandes esferas culturais localizadas em épocas diferentes”, como civilizações e países 
60
culturalmente identificados (Estados Unidos, Império Romano, Inglaterra, dentre outros) (ROCHA, 
2019. p. 200).
que Gurvitch busca compreender a sociedade e seu dinamismo ao levar em conta os conflitos 
existentes, e a necessidade de solucioná-los, que seriam oriundos de choques de ordem moral, 
cultural, religiosa e estética. E, como forma de solução dos conflitos, o direito aparece enquanto 
intervenção regulativa (ROCHA, 2019. p. 202).
Daí, então, a preponderância que Gurvitch dá à Jurisprudência, na medida em que é voltada à 
particularidade do fenômeno social sub judice, isto é, os fenômenos sociais que estão no âmbito 
do Poder Judiciário, sob a tutela de juízes. Tais fenômenos devem, portanto, ser analisados com 
auxílio da Sociologia do Direito e da Filosofia do Direito, que contribuíram para uma compreensão 
mais completa a respeito dos conflitos que caracterizam essencialmente o dinamismo social 
(ROCHA, 2019. p. 202).
Gurvitch entende, ainda, que o direito nasce na sociedade, não no Estado, não sendo sequer 
necessário o Estado para a existência do Direito, o que implica na plena possibilidade de haver 
Direito sem que haja qualquer ato estatal. Para haver Direito, porém, é preciso que existam “fatos 
normativos”, que são considerados ideias-ações guiados por valores morais e jurídicos.
Assim, sendo o Direito surgido da sociedade e dos fatos normativos que nela emergem, 
Gurvitch diz haver duas espécies de Direito: social e individual. O social é baseado “na coletividade 
organizada e se caracteriza por uma ordem normativa integradora”, enquanto o individual, “de 
base individualista, caracteriza-se por ordem normativa de exclusão”, pode ser considerado como 
consequências das condições sociais do liberalismo econômico (VIEIRA, 2015. p. 117).
Embora Gurvitch tenha feito sua teoria com uma riqueza maior de detalhes e com outras 
diferenciações pertinentes, o que se percebe é que ele fundou sua tese a partir de um pluralismo 
antiestatal dialético, uma vez que extrai sua fonte normativa da coletividade, sobretudo dos fatos 
normativos já vistos. Por conseguinte, o Direito social por ele formulado se opõe ao individualismo 
liberal e estabelece uma relação de equivalência entre os direitos existentes (VIEIRA, 2015. p. 123).
1.2 Eugene Ehlich e o Direito vivo
Eugen Ehrlich (1862-1918) foi um sociólogo e jurista nascido na Áustria e vinculado à chamada 
Escola do Direito Livre, que propunha uma maior liberdade ao juiz e intérprete da lei para sua 
aplicação, sem haver uma completa submissão à lei e com uma vinculação da aplicação à ideia 
de justiça.
Para Ehrlich, o ponto central do Direito não se encontra na jurisprudência, nem na legislação 
ou na ciência jurídica, mas sim na própria sociedade. Trata-se, então, de um Direito vivo, que 
61
embora não negue a existência do Estado, rejeita o monismo jurídico - fonte do direito como 
sendo apenas estatal -, e o paradigma formalista. Em sua teoria, o Estado seria apenas mais uma 
entre as tantas associações organizadas que compõem a sociedade (VIEIRA, 2015. p. 109).
Além disso, segundo Ehrlich, todo Direito é social, de modo que não há Direito privado ou 
individual. Isso porque, para o autor, não há indivíduo fora de um contexto social mais amplo, 
sendo que tal contexto na verdade sempre abarca o indivíduo de alguma maneira (VIEIRA, 2015. 
p. 119).
Assim, com o propósito de tentar compreender o funcionamento do Direito na vida social, 
Ehrlich funda a teoria do chamado “Direito vivo”, segundo a qual o Direito equivale às normas 
jurídicas de conduta, ou seja, aquelas regras que as pessoas de fato observam em seu cotidiano, 
na convivência social (KONZEN e BORDINI, 2019. p. 315).
Nesse sentido, as relações humanas em geral “são determinadas por regras aceitas como 
vinculantes pelos integrantes das associações sociais e convertidas em ações efetivas no dia a 
dia”. Por isso, para que se possa de fato estudar esse Direito vivo, seria necessário analisar como 
tais associações se estruturam, quais são as regras seguidas pelos membros, qual seria sua ordem 
interna etc. (KONZEN e BORDINI, 2019. p. 315).
Dessa forma, Ehrlich retira a centralidade do aparato estatal como fonte do Direito. Para ele, 
o Direito existe antes de sua positivação, já que é a partir das práticas existentes na convivência 
social, dos chamados “fatos do Direito”, que se dão as bases para a elaboração de legislações 
estatais. Diante disso, Ehrlich coloca um importante questionamento acerca dos motivos que 
levam as pessoas a seguirem determinadas regras. Segundo o autor, as pessoas levam em conta o 
pertencimento às associações sociais – a fim de evitar desentendimentos e desavenças, perda de 
emprego ou prejuízos à reputação, por exemplo –, de modo que seria questionável até que ponto 
decisões judiciais e uso de coerção pela força influenciam as pessoas a seguirem regras postas. 
(KONZEN e BORDINI, 2019. p. 316).
Por fim, vale ressaltar que Ehrlich faz uma diferenciação entre normas e proposições jurídicas. 
As proposições seriam formulações precisas de um preceito legal previsto em um estatuto ou 
código, enquanto as normas jurídicas seriam comandos legais “(...) reduzidos a termos práticas 
para obter obediência, emanado de uma associação determinada, (...) mesmo sem nenhuma 
formulação em palavras” (COELHO, 2003. p. 428).
Em outras palavras, as proposições seriam, por exemplo, instrumentos utilizados pelos 
tribunais encarregados de manter certa ordem jurídica. Assim, segundo Coelho, as proposições 
não são de conhecimento generalizado na sociedade, uma vez que processos em tribunais não 
são fatos absolutamente rotineiros na vida das pessoas, ao contrário do que ocorre em relação 
às normas jurídicas, já que cotidianamente as pessoas estabelecem inúmeras relações jurídicas 
62
(COELHO, 2003. p. 428).
Enfim, o que se pode ver é que Ehrlich valoriza a vivência da sociedade ao pensar o direito. 
Por esse motivo, conforme Coelho, sua teoria afasta uma grande relevância para o direito 
estatal, inclusive porque as relações jurídicas de uma sociedade sequer podem ser totalmente 
contempladas na legislação, na medida o dinamismo social pode rapidamente tornar a legislação 
antiquada para os fatos sociais (COELHO, 2003. p. 429).
1.3 Leon Duguit e o Direito como regra da vida social
Leon Duguit (1859-1928) foi um jurista francês que ficou notabilizado por sua contribuição 
nas teorias do Direito Público e pelo desenvolvimento das noções básicas da teoria do Direito. 
Assim, diante da completude de suas obras, a teoria desenhada por Duguit reverberou nas mais 
diversas áreas do Direito.
De início, vale ressaltar a diferenciação que Duguit faz entre Direito objetivo e Direito subjetivo. 
O primeiro “designa os valores éticos que se exige dos indivíduos que vivem em sociedade”, de 
modo que a observância à tal ética seria responsável por preservar o interesse comum. O Direito 
subjetivo, por sua vez, consiste em um poder do indivíduo que integra a sociedade. Este poder 
é o que torna possível ao indivíduo a obtenção de um reconhecimento social dos seus atos de 
vontade - desde que legitimados pelo Direito objetivo (DUGUIT, 2009. p. 15).
Nesse sentido, Duguit considera equivocada a visão monista do Direito, segundo a qual 
só haveria Direito no Estado. Além disso, Duguit parte do pressuposto de que o ser humano é 
intrinsecamente social. Para ele, “a existência da sociedade é fatoprimitivo e humano, e não, 
portanto, produto da vontade humana”, de modo que todos nós, desde o nascimento, integramos 
algum agrupamento humano (DUGUIT, 2009. p. 39).
Assim, o que explicaria os laços de integração entre os seres humanos seria, segundo Duguit, 
a solidariedade social. A solidariedade abrangeria toda a humanidade, embora sejam laços ainda 
frágeis, já que os laços de solidariedade geralmente são voltados entre os integrantes de um 
mesmo grupo social, sendo que a humanidade estaria dividida em muitos grupos, na visão de 
Duguit. Ainda segundo o autor, os seres humanos de um grupo são solidários pois possuem 
necessidades em comum e anseios diferentes que se satisfazem a partir de trocas recíprocas nos 
grupos (DUGUIT, 2009. pp. 39-41).
Dessa forma, Duguit entende que o próprio Direito tem seu fundamento na solidariedade. 
Isso porque, como ressaltado, a sociedade se mantém a partir da solidariedade. Por isso, impõe-se 
uma regra de conduta aos seres humanos, que pode ser assim formulada: “(...) não praticar nada 
que possa atentar contra a solidariedade social sob qualquer das suas formas e, a par com isso, 
realizar toda atividade propícia a desenvolvê-la organicamente”. Para Duguit, o direito objetivo se 
63
resume nesta fórmula e a lei deve ser a expressão deste princípio (DUGUIT, 2009. p. 45).
É nesse sentido que Duguit considera o Direito como regra da vida social, já que: “A regra de 
direito é social pelo seu fundamento, no sentido de que só existe porque os homens vivem em 
sociedade”. Por fim, vale salientar que Duguit entende que a regra de Direito é ao mesmo tempo 
permanente e mutável, pois a solidariedade seria um elemento perene, mas oscila conforme as 
variações contextuais pela forma como a solidariedade se dá em cada grupo e momento (DUGUIT, 
2009. pp. 45-46).
1.4 Geertz: fatos e leis em uma perspectiva comparativa
Clifford Geertz (1926-2006) foi um antropólogo nascido nos Estados Unidos e é tido como um 
dos mais influentes de todo o século XX, sendo fundador da chamada Antropologia interpretativa, 
que até hoje possui grande relevância nos mais diversos campos do conhecimento.
Na perspectiva interpretativa de Geertz, ele busca desmitificar os problemas colocados em 
relação ao relativismo cultural. O relativismo se contrapõe ao etnocentrismo, segundo o qual 
determinada cultura seria melhor que outra, adotando parâmetros próprios para avaliar diferentes 
padrões culturais. Assim, o relativismo surge como resposta, com o intuito de promover maior 
respeito à diversidade cultural e às diferenças entre os variados contextos e culturas existentes.
O que ele busca fazer, então, é atacar as perspectivas anti-relativistas, sem, no entanto, adotar 
uma postura de defesa do relativismo. Seria, assim, um anti anti-relativismo. Segundo Heinen e 
Laurindo, ele critica a ideia de que o relativismo nos conduziria ao niilismo, ao nada, em que se 
perderia por completo as noções de verdadeiro e falso (HEINEN e LAURINDO, 2018. p. 66).
Assim, ao combater o anti-relativismo, Geertz não pretende confirmar a noção de que 
tudo depende apenas da perspectiva adotada. De acordo com Heinen e Laurindo, uma de suas 
pretensões – e, talvez, a mais importante para o estudo jurídico – é a de atentar à alteridade, “(...) 
para reconhecimento do outro em seu mundo, para a efemeridade, para as mudanças culturais, 
para a falta de harmonia e para a ausência de solidez” (HEINEN e LAURINDO, 2018. p. 67).
De um ponto de vista legal, então, as críticas de Geertz ao anti-relativismo servem para afastar 
a ideia de um Direito rigoroso, estrito e natural, que seria capaz de resolver todos os problemas. 
Seu olhar nos convida, na verdade, a pensar no Direito também em mutação constante, flexível 
e em movimento. Como consequência, o reconhecimento dessa mutabilidade implica também 
em reconhecer a pluralidade, inclusive em relação às questões jurídicas (HEINEN e LAURINDO, 
2018. pp. 70-71).
Além disso: “A visão do anti-relativismo através do espelho, como propõe Geertz, contribui, 
ainda, com o debate sobre a universalidade dos direitos humanos”. Ao colocar certa centralidade 
64
nessas questões, Geertz colabora também para a consolidação do respeito à diversidade como 
um fundamento do Direito. E, aliás, faz com que esse processo seja de mão dupla, na medida em 
que um olhar crítico em relação a outra cultura sirva também como perspectiva para analisar a 
própria cultura (HEINEN e LAURINDO, 2018. p. 72).
Dessa forma, a perspectiva comparativa e anti-relativista de Geertz possui grande valor para 
se pensar o mundo jurídico, pois nos permite compreender como a lei – embora congregue uma 
gama de valores morais, políticos, culturais etc. –, não é capaz de abarcar toda a complexidade 
e diversidade dos fatos. Por isso, é possível ter uma visão bem mais cuidadosa no que tange às 
particularidades e toda a complexidade que envolve a vivência humana em sociedade (HEINEN e 
LAURINDO, 2018. p. 72).
2 GLOBALIZAÇÃO E MULTICULTURALISMO
Agora, analisaremos os controversos conceitos de Globalização e multiculturalismo, buscando 
notar mais especificamente sua influência no estudo do Direito. Atualmente, em um mundo que 
se apresenta cada vez mais complexo e conectado, com novas identidades e comportamentos 
sociais, compreender a globalização e o multiculturalismo enquanto elementos constituintes do 
mundo hoje em dia mostra-se fundamental.
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2.1 Globalização
Anthony Giddens considera que a Globalização significa, em termos simples, que em um 
único mundo. O autor acredita que a globalização, tal como a vivemos hoje, é multifacetada, na 
medida em que é econômica, política, tecnológica e cultural (GIDDENS, 2007. pp. 18-21).
65
Além disso, Giddens destaca que a Globalização não é apenas um processo que acontece fora 
do ser humano, mas também em aspectos tidos como íntimos, como os valores familiares. Trata-
se então, de um processo repleto de complexidades, longe de ser singular. Por isso, há muitas 
nuances ainda difíceis de se compreender no processo de Globalização, como o ressurgimento 
de identidades culturais locais em resposta a ela, a perda de certo poder econômico das nações, 
a pressão por maior autonomia local, dentre tantos outros aspectos (GIDDENS, 2007. pp. 22-23).
Nesse sentido, a Globalização implica também na fragilização dos limites geográficos, culturais, 
políticos e econômicos da sociedade. Com tal fragilização, todos esses fatores que constituem as 
sociedades passaram a ser mais confusos e misturados, sem distinções perfeitamente nítidas de 
um contexto para outro. Como consequência, é possível afirmar que o Estado nacional tem ficado 
enfraquecido diante das transformações que se colocam, o que leva a uma mudança também em 
relação ao seu próprio papel no mundo (BELTRAME et al., 2008. p. 21).
A Globalização pode significar, também, a criação de uma sociedade global, cujo surgimento 
e fortalecimento é potencializado sobretudo pelos processos de comunicação a partir das novas 
tecnologias. Nesse caso, tem-se o desenvolvimento de múltiplas redes de poder, com distribuição 
do poder entre nações e organizações; a autonomia relativa de algumas organizações, “a formação 
de parlamentos e tribunais em conexão local e transnacional” e a formação de associações em 
outros espaços de poder local ou transnacional (BELTRAME et al., 2008. pp. 22-23). É preciso, 
contudo, ter ressalvas em relação a esse processo, já que ele não é total em relação à humanidade 
e não ocorre de maneira homogênea nas diversas partes do mundo.
Nas questões jurídicas propriamente ditas, a Globalização tem trazido um intercâmbio cada 
vez maior entre os diferentes sistemas jurídicos mundo afora, bem como um diálogo constante 
entre os Estados e as organizações internacionais, que ilustram esse processo de conexão. E, como 
a Globalização se dá em termos políticos, econômicos, culturais e tecnológicos, passa a surgir 
também uma demanda a nível mundial emrelação à regulação jurídica das novas construções e 
comportamentos sociais que vêm surgindo com ela.
66
Figura 1 - Globalização 
Fonte: VectorMine, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer Vemos na imagem pessoas de diferentes partes do mundo, conectadas graças 
ao sistema de telecomunicações e à Globalização.
2.2 Multiculturalismo
Nesse contexto de Globalização, não se pode ignorar que existem muitas diferenças 
culturais relevantes e que tais diferenças estão mais em contato que nunca. Assim, o conceito 
de Multiculturalismo surge como sendo “a coexistência de formas culturais ou de grupos 
caracterizados por culturas diferentes no seio de sociedades ‘modernas’”, embora hoje ele tenha 
se tornado “um modo de descrever as diferenças culturais em um contexto transnacional e 
global” (SANTOS, 2003. p. 26 apud BELTRAME et al., 2008. p. 25).
Agora o indivíduo apresenta uma enorme capacidade de se mover entre diversas localidades 
e, consequentemente, ter contato com variadas culturas. Isso intensifica o processo de 
transformações das fronteiras e de mudanças culturais em escala global, o que é fortemente 
influenciado pela Globalização e as questões relativas às trocas econômicas e aos processos de 
comunicação atuais, conforme já mencionado (BELTRAME et al., 2008. p. 26).
O multiculturalismo, portanto, tem a pretensão de construir uma política que respeite 
as diferenças e as pluralidades de cultura (BELTRAME et al., 2008. p. 27). Isso implica em um 
trabalho de fortalecimento dos direitos sobretudo das culturas marginalizadas e minoritárias, que 
frequentemente sofrem com a restrição do acesso aos direitos e à própria preservação cultural.
Nesse sentido, a efetivação de uma política de multiculturalismo pode criar condições para um 
diálogo entre “o local e o global” que permita o reconhecimento das diferenças e a consequente 
aceitação do outro (BELTRAME et al., 2008. p. 28). No direito, o multiculturalismo foi incorporado 
67
por vários sistemas jurídicos mundo afora como um princípio a ser seguido.
Percebe-se, então, que no mundo globalizado em que vivemos, o multiculturalismo tem 
especial importância na preservação de valores culturais e no respeito à diversidade, o que 
impacta fortemente no direito, já que tais questões devem ser tuteladas juridicamente para a 
garantia da pluralidade cultural.
Figura 2 - Grupo multiétnico de pessoas 
Fonte: Tartila, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer Vemos na imagem um grupo de pessoas diferentes entre si, com diferentes 
idades, gêneros, traços étnicos e formas de se vestir, demonstrando o Multiculturalismo.
3 FUNÇÃO DA SOCIOLOGIA DO DIREITO E A 
EFICÁCIA DO DIREITO
Como já vimos ao longo da disciplina, a Sociologia do Direito preocupa-se em analisar os 
FIQUE DE OLHO
No Canadá, na Carta de direitos e liberdades, há expressa menção à valorização e promoção 
do patrimônio multicultural. Além disso, há uma lei específica sobre o multiculturalismo 
canadense, que propugna, como valores jurídicos, o reconhecimento da diversidade cultural 
e racial da sociedade canadense, o multiculturalismo como característica fundamental da 
identidade e do patrimônio canadense, a promoção da compreensão entre indivíduos e 
coletividades de diferentes origens, dentre outros tantos aspectos.
68
fenômenos jurídicos em funcionamento nos processos e estruturas sociais, ou seja, como o Direito 
surge e repercute na sociedade. O que analisaremos neste tópico, então, é mais especificamente 
como se dá essa abordagem sociológica do Direito, além dos efeitos sociais e a eficácia das 
normas, sua análise empírica e os fatores pertinentes à eficácia da norma jurídica.
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3.1 Direito e a especificidade da abordagem sociológica
Conforme dito, a grande relevância da Sociologia Jurídica consiste exatamente na análise 
dos processos de criação e aplicação do Direito na sociedade. Dessa forma, a Sociologia é uma 
disciplina que permite compreender, com mais completude, os efeitos dos fenômenos jurídicos 
na vida das pessoas, como elas alteram ou conformam estruturas etc.
A autora Ana Lúcia Sabadell cita um exemplo que nos permite ilustrar como se dá 
concretamente a abordagem sociológica no Direito. No caso hipotético, situado quando o Código 
Penal brasileiro previa a prática de adultério como crime em seu artigo 240, ela descreve que em 
um caso de adultério, o advogado de uma mulher presa por essa prática iria pedir a absolvição 
sob o argumento de que o artigo 240 não era mais aplicado na prática. Na hipótese, o tribunal 
rejeita o argumenta e condena a mulher. Ao analisar o caso, um professor de filosofia do direito 
escreve um artigo afirmando que a punição por adultério é injusta e argumenta em relação à 
intimidade dos casais e da prática de adultério, concluindo que na verdade o tribunal deveria ter 
absolvido a mulher (SABADELL, 2002. p. 60).
Diante de um cenário como esse, Sabadell questiona qual deve ser a postura do sociólogo 
do Direito. Ela entende, então que cabem duas etapas de para o estudo empreendido pela 
Sociologia Jurídica: i) realizar uma pesquisa empírica para ver em que medida o artigo do adultério 
é aplicado; e ii) “(...) analisar a relação entre o Direito e a evolução da sociedade, para, depois, 
tentar explicar porque a norma é aplicada ou não” (SABADELL, 2002. p. 61).
69
Sabadell (2002, p. 61) chama a atenção, ainda, para a neutralidade valorativa que o sociólogo 
do Direito deve ter ao estudar casos como esse:
Ao realizar esta pesquisa o jurista-sociólogo não pode emitir juízos de valor sobre o tratamento 
jurídico e social do adultério. Sua função é a de compreender o pensamento e o comportamento 
do legislador, das autoridades e dos cidadãos, ou seja, as razões sociais que levam à elaboração de 
determinadas normas e sua aplicação. Por isto, deve deixar de lado sua opinião pessoal. Em outras 
palavras, o sociólogo do direito não julga, mas tenta compreender o fenômeno que se propõe analisar: 
deve buscar o sentido que as pessoas de uma determinada sociedade dão aos acontecimentos e às 
instituições sociais.
É preciso, contudo, relativizar em alguma medida essa pretensão de neutralidade. Embora 
seja de fato necessário um distanciamento mínimo ao analisar uma questão como essa, todo 
estudo e pesquisa são permeados pelas cargas valorativas pessoais da pessoa que os realiza.
Disso se depreende que a Sociologia do Direito não está interessada na justificação do Direito 
(justiça, moral, razão etc.), nem busca compreender a validade das normas, mas sim está ligada à eficácia 
do Direito, ou seja, à realidade social do Direito. Isso não quer dizer, é claro, que os outros aspectos não 
sejam relevantes. Trata-se apenas de uma questão de enfoque (SABADELL, 2002. pp. 61-63).
O que se vê, portanto, é que em geral o sociólogo do Direito busca analisar o funcionamento 
das estruturas e processos normativos na sociedade, sobretudo a partir de um estudo empírico. 
Trata-se de uma análise realmente debruçada sobre fatos concretos e narrativas reais, voltada 
principalmente para a forma como os fenômenos jurídicos repercutem na vida social. Para isso, a 
Sociologia Jurídica pode fazer uso de metodologias próprias das ciências sociais, que permitem fazer 
as averiguações necessárias conforme as especificidades de cada caso e a perspectiva adotada.
3.2 Efeitos sociais, eficácia e adequação interna das normas jurídicas
No que tange aos efeitos socias, à eficácia e à adequação interna das normas jurídicas, ainda 
na perspectiva de Ana Lúcia Sabadell, essas seriam as três dimensões possíveis de análise da 
repercussão social de uma norma (SABADELL, 2002. p. 64).
Primeiramente, em relação aos efeitos da norma, a autora considera que qualquer repercussão 
social gerada por uma norma constitui um efeito social da mesma. Exemplificando, Sabadell cita 
um caso em que determinado Estado brasileiro promulga uma lei estabelecendo um aumento no 
imposto para empresas de capital estrangeiro. Como consequência, é notadauma migração das 
empresas para outros Estados com alíquotas menores. Não se trata, então, de descumprimento 
da lei, mas simplesmente de um efeito gerado (SABADELL, 2002. p. 64).
A eficácia da norma, por sua vez, diz respeito ao “(...) grau de cumprimento da norma dentro 
da prática social. Uma norma é considerada socialmente eficaz quando é respeitada por seus 
destinatários ou quando sua violação é efetivamente punida pelo Estado”. O respeito espontâneo, 
70
independente de coerção estatal, seria a eficácia primária, enquanto a eficácia decorrente de 
intervenção repressiva seria a eficácia secundária (SABADELL, 2002. p. 64).
Já a adequação interna da norma seria a capacidade da norma para atingir a finalidade social 
previamente estabelecida pelos legisladores. Assim, uma norma seria internamente adequada 
quando suas consequências refletem os fins pretendidos pelos legisladores quando de sua 
elaboração. A questão, então, é analisar se o meio empregado (a norma jurídica criada) permite 
atingir os objetivos do legislador (SABADELL, 2002. pp. 65-67).
É importante ressaltar, ainda, a existências das chamadas “leis simbólicas”. Tais leis são 
normas elaboradas de modo que dificilmente alcançarão os objetivos em tese estabelecidos, isto 
é, são normas cuja baixa eficácia está desde a sua elaboração prevista. Em geral, essas leis são 
feitas com o intuito de dar algum tipo de resposta a uma insatisfação colocada por grupos sociais, 
a fim de dar a impressão de que o legislador está agindo para resolver os problemas colocados 
(SABADELL, 2002. p. 67).
Há, ainda, a adequação externa da norma. Nesse caso, os objetivos estabelecidos pelo 
legislador são analisados a partir de critérios de “justiça” (SABADELL, 2002. pp. 67-68), ou seja, 
segundo perspectivas muito mais filosóficas que sociológicas.
Vale lembrar, por último, que a eficácia pode ser considerada uma qualidade dos efeitos 
da norma. Isso porque os efeitos podem ser basicamente compreendidos como os resultados 
gerados pela sua existência, sejam eles quais forem. Ao passar a análise para os termos da 
eficácia, a questão passa a ser a qualidade do efeito produzido, isto é, em que medida os objetivos 
pretendidos estão sendo alcançados (ROSA, 2004. pp. 104-105). É nesse sentido que se diz que 
uma lei é ineficaz: quando não serve para os fins para os quais foi criada.
3.3 Análise empírica da eficácia das normas jurídicas
Diante de todo esse quadro, Sabadell considera que a Sociologia Jurídica permite um estudo 
empírico para analisar a eficácia das normas, contemplando basicamente quatro questões:
A norma possui efeitos, eficácia e adequação interna?
No Canadá, na Carta de direitos e liberdades, há expressa menção à valorização e promoção do 
patrimônio multicultural. Além disso, há uma lei específica sobre o multiculturalismo canadense, 
que propugna, como valores jurídicos, o reconhecimento da diversidade cultural e racial da 
sociedade canadense, o multiculturalismo como característica fundamental da identidade 
e do patrimônio canadense, a promoção da compreensão entre indivíduos e coletividades de 
diferentes origens, dentre outros tantos aspectos.
Qual é a reação do legislador em relação à constatação dos efeitos, eficácia e adequação de 
71
uma norma? E quais são as razões sociais para ela? 
3.4 Fatores de eficácia da norma jurídica
Sabadell nos apresenta os fatores considerados pelo Direito moderno como indicadores de 
eficácia da norma jurídica, segundo os quais quanto mais forte é a presença de tais fatores, maior 
é a possibilidade de eficácia da norma. A autora divide os fatores em instrumentais e referentes à 
situação social (SABADELL, 2002. p. 70).
Os fatores instrumentais dependem dos órgãos de elaboração e aplicação do direito 
e são os seguintes: i) divulgação do conteúdo da norma para a população através dos meios 
adequados, de modo a empregar métodos educacionais e meios de propaganda política e 
comercial; ii) conhecimento efetivo da norma pelos destinatários, o que depende largamente 
do primeiro fator; iii) qualidade técnica da norma, envolvendo a clareza na redação, concisão 
e precisão do conteúdo, bem como sistematicidade, elementos fundamentais no processo de 
elaboração da lei e com claras consequências na aplicação e observância; iv) elaboração de 
estudos preparatórios a respeito do tema sobre o qual se pretende legislar (trata-se dos trabalhos 
feitos pelo parlamento, em suas comissões por exemplo; v) preparação dos ditos operadores do 
direito que serão responsáveis pela aplicação da norma; vi) consequências jurídicas adaptadas 
à situação e socialmente aceitas, ou seja, elaborar normas que estimulem de alguma forma a 
adesão dos cidadãos; e vii) expectativa de consequências negativas por parte dos cidadãos em 
caso de descumprimento, de modo a desestimular a inobservância a partir da aplicação das 
sanções previstas (SABADELL, 2002. p. 70).
Os fatores ligados à situação social, por sua vez, dizem respeito ao sistema de relações sociais 
e atitudes do poder político em relação à sociedade civil, de modo a influenciar nas chances de 
aplicação das normas jurídicas, havendo quatro fatores: participação dos cidadãos no processo de 
elaboração das normas, coesão social, adequação da norma à situação política e à relações de força 
dominantes e contemporaneidade das normas com a sociedade (SABADELL, 2002. pp. 71-73).
A participação dos cidadãos no processo de produção normativa tem como cenário a 
valorização das formas democráticas de exercício do poder. Isso significa que, se as pessoas 
participam ativamente dos processos de tomada de decisão, considerando que as instituições 
pertinentes permitam tal participação, certamente haverá maior adesão da população às normas 
criadas, aumentando a eficácia normativa (SABADELL, 2002. p. 71).
De outro modo, podemos dizer que as normas em geral criadas pelo poder estatal possuem 
uma pluralidade enorme de destinatários. Por isso, é imprescindível que o processo de elaboração 
leve em conta minimamente as vozes das pessoas potencialmente afetadas pela norma. Isso 
pode resultar não só em uma maior adesão, como também em uma maior qualidade da norma.
72
O segundo fator, de coesão social, diz respeito à existência de conflitos na sociedade em dado 
momento. Para Sabadell, quanto menos conflitos são travados na sociedade, e quanto mais consenso 
houver entre os cidadãos e a política estatal, maior será a eficácia das normas. Há aqui, então, uma 
relação entre a legitimidade do Estado e a observância às normas (SABADELL, 2002. p. 72).
Embora de fato este seja um fator relevante, é importante pontuar também que não se pode 
ignorar a existência natural do dissenso e das divergências em uma sociedade complexa. Não há 
problema, em si, nos interesses conflituosos de diferentes grupos sociais. A questão parece muito 
mais pertinente a respeito de como esses conflitos são colocados e se há um respeito concreto 
aos direitos garantidos por lei, sobretudo daqueles grupos com menos força política.
Já no que tange à adequação da norma à situação política e às relações de força dominantes, 
Sabadell considera que “(...) a situação socioeconômica de um país e as forças políticas que se 
encontram no poder influem sobre a eficácia das normas jurídicas. Uma norma que corresponde 
à realidade política e social possui mais chances de ser cumprida” (SABADELL, 2002. p. 72).
Por fim, a contemporaneidade das normas com a sociedade quer dizer, segundo Sabadell, 
que em geral as normas não são eficazes se exprimem ideias antigas ou inovadoras (SABADELL, 
2002. p. 73). Assim, pode-se dizer que a eficácia está ligada também a uma certa harmonia com 
aquilo que a sociedade anseia em determinado momento. A partir do exemplo já citado nesta 
unidade, da tipificação do adultério como crime no Código Penal, temos a ineficácia da norma 
em razão também de sua inadequação aos valores atuais, ou seja, em algum momento a norma 
passou a exprimir algo tido como antiquado e inapropriado.FIQUE DE OLHO
Ao se falar em eficácia das normas jurídicas, tem ganhado cada vez mais espaço no 
mundo jurídico, principalmente no contexto internacional, um ramo do Direito conhecido 
como Legística. A Legística ocupa-se do processo de produção normativa e é dividida entre 
“formal” e “material”. A legística material diz respeito aos estudos sobre o conteúdo da 
norma, sobretudo com a avaliação de impacto legislativo, enquanto a legística formal é 
pertinente aos processos de comunicação da norma, como sua redação.
73
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Compreender que o pluralismo formulado por Georges Gurvitch tem sua fonte nor-
mativa na coletividade. Assim, trata-se de um Direito social que se opõe ao individu-
alismo liberal.
• Compreender que, na visão de Eugen Ehrlich, há uma clara valorização da vivência 
da sociedade ao pensar o Direito. Por isso, sua teoria não centraliza o direito estatal, 
mas destaca o dinamismo social, que pode rapidamente tornar a legislação antiqua-
da para os fatos sociais.
• Entender que a Globalização significa um processo de intercâmbio político, eco-
nômico, tecnológico e cultural entre as sociedades, enquanto o multiculturalismo 
é uma forma de garantir o respeito à diversidade cultural e às particularidades de 
cada grupo.
• Analisar a eficácia da norma em relação ao grau de cumprimento da lei na prática 
social, na medida em que ela é respeitada (ou não) pelos seus destinatários.
• Compreender que a abordagem sociológica do Direito se concentra sobre a reali-
dade social e os efeitos nela causados pela norma, sem com isso realizar juízos de 
justiça ou moral, mas sim buscando compreender o funcionamento dos fenômenos 
jurídicos na vida social.
PARA RESUMIR
BELTRAME, A. et al. O multiculturalismo e a globalização como princípios para uma 
internacionalização do direito. In: Padê, Brasília, v. 2, n. 1, p. 4-46, jan./jun. 2008.
COELHO, L. F. Teoria crítica do direito – 3ª ed. rev., atual. e ampl. – Belo Horionte: Del 
Rey, 2003.
DUGUIT, L. Fundamentos do direito. Trad. Marcio Pugliesi – São Paulo: Martin Claret, 
2009
GIDDENS, A. Mundo em descontrole –Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. 6ª ed. – Rio de 
Janeiro: Record, 2007.
HEINEN, L. R. et al. Interfaces entre a Antropologia e o Direito: uma discussão sobre o 
anti anti-relativismo de Clifford Geertz. In: Revista Videre, Dourados, MS, v.10, n.20, jul./
dez. 2018.
KONZEN, L. P. et al. Sociologia do direito contra dogmática: revisitando o debate Ehrlich-
Kelsen. In: Rev. Direito Práx., Rio de Janeiro, Vol. 10, N.1, 2019, p. 303-334.
ROCHA, J. M. de S. Sociologia Jurídica: fundamentos e fronteiras – 6ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2019.
ROSA, F. A. de M. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como fato social – 17ª ed. 
rev. e atual. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
SABADELL, A. L. Manual de sociologia jurídica: introdução a uma leitura externa do 
direito. – 2ª ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
VIEIRA, R. de S. Pluralismo Jurídico Clássico: A Contribuição de Ehrlich, Santi Romano e 
Gurvitch. In: Direito, Estado e Sociedade n. 47 p. 108 a 127 jul/dez 2015.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 4
Controle social
Olá,
Você está na unidade. Nesta unidade, nos aprofundaremos na discussão acerca do papel e 
do lugar do Direito em sua relação com a sociedade e a estrutura econômica e social a qual 
ele regula, e o questionamento acerca da possibilidade da prática jurídica em promover 
ou em barrar a mudança social. Por fim, discutiremos temas afins à Sociologia da aplicação 
do Direito, ou a Sociologia dos tribunais; e o papel do Judiciário no desdobramento da 
cultura jurídica e na relação com os movimentos sociais.
Bons estudos!
Introdução
77
1 CONFLITOS, INTEGRAÇÃO E MUDANÇA SOCIAL: 
O PAPEL DAS NORMAS JURÍDICAS
Se partirmos da premissa de que um dos principais objetivos do estudo sociológico é o de 
observar e analisar as regras que regem a interação entre pessoas e grupos (REHBINDER, 2000), 
ou seja, das relações sociais; o estudo das mesmas envolve analisar regras de organização social, 
dos conflitos e de mudanças sociais (SABADELL, 2002).
Nesse sentido, as relações entre a Sociologia e o Direito, que visa estabelecer regras definidas 
e coerentes para regular o comportamento social, são evidentes. A Sociologia jurídica busca 
investigar a expressão justamente da forma pela qual se exprime no sistema jurídico os processos 
de conflito, integração e mudança que se desenvolvem no tecido social (SABADELL, 2002).
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1.1 Anomia e regras sociais
De acordo com Durkhein, o conceito de anomia se refere à falta de normas que vinculem as 
pessoas à estrutura social, usual em períodos de grande transformação e de questionamento 
de sistemas sociais decadentes ou em crise. A constatação de uma situação anômica poderia 
indicar a existência de um período de mudança social e analisar efeitos e causas de tal situação 
transitória (SABADELL, 2002).
Ana Lúcia Sabadell (2002) identificou três usos possíveis para a construção teórica da 
anomia para a Sociologia do Direito. O primeiro diz respeito à possibilidade de a anomia causar 
a ineficácia de preceitos jurídicos devido à consideração, por parte dos indivíduos, que a norma 
descumprida é inadequada ou injusta, situação distinta de violações ocasionais da legislação que 
não questionam a validade da lei em questão. O Estado pode reagir a esta conduta de várias 
78
formas: tolerando a violação e permitindo a ineficácia tácita da norma; modificando a legislação, 
visando aproximá-la das práticas sociais vigentes e então em conflito com as normas jurídicas; 
realizando campanhas informativas e propagandistas, com o objetivo de ampliar o apoio social 
às leis já vigentes; ou, por fim, usando a força e a repressão contra as tendências anômicas 
(SABADELL, 2002).
Outras situações verificadas pela autora dizem respeito à heteronomia: quando a anomia 
não deriva da ausência de normas, mas do conflito entre os princípios e convicções do sistema 
jurídico oficial, e as normas às quais parte dos sujeitos subordinados pelo mesmo sistema jurídico 
aceitam se sujeitar; e o pluralismo cultural, onde a imposição, pelo direito estatal, de normas 
orientadas por uma visão específica num contexto de multiplicidade de valores e modos de vida 
existentes na sociedade incentiva comportamentos anômicos e crises de legitimação do direito 
(SABADELL, 2002).
Quanto à teoria de Merton, embora ela tenha potencial explicativo razoável em relação 
ao cometimento de crimes patrimoniais por parte de indivíduos em situação socioeconômica 
desfavorável, além de crimes de motivação política e comportamentos autodestrutivos, como o 
vício em substâncias toxicodependentes, ela é vista por Sabadell (2002) como demasiadamente 
genérica, incapaz de apresentar uma chave explicativa e conceitual suficiente para determinados 
tipos de violação à lei, como, por exemplo, os crimes passionais e sexuais.
As condutas anômicas (inovação, ritualismo, evasão, rebelião) são vistas como disfunções e 
patologias de origem eminentemente individual dentro de um sistema social presumido como 
estável e orientado para o equilíbrio (MARRA, 1991). Em outro sentido, também assume uma 
concordância geral na sociedade acerca das metas e objetivos sociais a serem valorizados – aqui 
associados à ideologia dominante nas sociedades capitalistas contemporâneas –, o que nem 
sempre é o caso e limita o potencial explicativo e a validade da teoria (PAVARINI, 1983).
1.2 Direito como propulsor e obstáculo da mudança social
O campo que mobiliza o conceito de anomia e vê sua relação com a conformidade, ou não, às 
regras sociais vigentes, que tem como principal referência sociológica Émile Durkheim (2003), vê 
o Direito como um indicador privilegiado dos padrões de solidariedade social, sendo garantidor 
da acomodação e resolução harmoniosa dos conflitos em uma comunidade e instrumento de 
maximizaçãoa eficácia do Direito .....................................................................67
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................74
UNIDADE 4 - Controle social ..........................................................................................................75
Introdução.............................................................................................................................................76
1 Conflitos, integração e mudança social: o papel das normas jurídicas ..............................................77
2 Controle social e Direito: cultura e normatização .............................................................................. 83
3 Sociologia dos tribunais e democratização da Justiça ........................................................................89
PARA RESUMIR ..............................................................................................................................96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................................97
Sociologia do Direito e Antropologia Jurídica são dois campos de estudo social do 
Direito muito importantes para que o estudante tenha um panorama multidisciplinar 
da área. Em quatro unidades, esta obra vai apresentar os principais aspectos para um 
estudo completo sobre o assunto, conforme indicado a seguir.
A primeira unidade, introdução à Antropologia e à Sociologia vai apresentar o 
significado dessas duas ciências aplicadas ao Direito e discutirá sobre o objeto e o 
âmbito da Sociologia geral a partir de uma perspectiva histórica, além de abordar o 
objeto e o significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. 
Depois de estudar as noções fundamentais você estará apto a aprender os conceitos 
que serão estudados ao longo do curso, mais especificamente da disciplina, além de 
melhorar o entendimento do fenômeno jurídico e suas implicações sociais.
Na segunda unidade, perspectivas sociológicas de Sociologia e Antropologia 
Jurídica, destacaremos algumas nuances importantes para o estudo da Sociologia e 
Antropologia do Direito como a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e 
sociedade; crime e desvio social. Depois de uma breve apresentação das perspectivas 
de teóricos importantes a respeito da problemática do crime e do desvio social, 
estudaremos as perspectivas sociológicas de três dos autores mais importantes e 
influentes desta disciplina: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. As interseções da 
obra destes autores com o Direito também serão abordadas nesta unidade.
A terceira unidade vai tratar de Direito e Sociedade. A importância de algumas 
abordagens sociológicas do Direito, tais como as teorias de Georges Gurvitch, Eugen 
Erlich, Leon Duguit e Clifford Geertz serão discutidas aqui e, a partir desses autores, 
desenvolveremos o tema discutindo a importância das variadas perspectivas para o 
estudo sociológico do Direito. Além disso, analisaremos as noções de “globalização” e 
“multiculturalismo”, tão importantes no mundo atual cada vez mais conectado. Por fim, 
estudaremos a questão da eficácia do Direito a partir de uma abordagem sociológica.
Por fim, a quarta unidade discute aspectos do Controle Social. Qual o papel e o lugar 
do Direito em sua relação com a sociedade e a estrutura econômica e social a qual ele 
regula? Qual a possibilidade de a prática jurídica promover ou barrar a mudança social? 
São estas as questões abordadas nesta unidade, além de temas relacionados com a 
Sociologia da aplicação do Direito ou a Sociologia dos tribunais e o papel do Judiciário 
no desdobramento da cultura jurídica e na relação com os movimentos sociais.
Um tema interessante e importante no estudo do Direito! Aproveite a leitura e 
bons estudos!
PREFÁCIO
UNIDADE 1
Introdução à antropologia e à socio-
logia jurídica
Olá,
Você está na unidade. Conheça aqui as abordagens de dois campos de estudos: a 
Sociologia do Direito e a Antropologia Jurídica. Para tanto, estudaremos o significado, o 
objeto e âmbito da Sociologia geral, a partir de uma perspectiva histórica, além do objeto 
e do significado da Antropologia Jurídica e da Sociologia aplicada ao Direito. Essas noções 
serão fundamentais para os conceitos estudados ao longo da disciplina e também para 
uma melhor compreensão do fenômeno jurídico e suas implicações sociais.
Bons estudos!
Introdução
11
1. SIGNIFICADO, OBJETO E ÂMBITO DA SOCIOLOGIA
Neste tópico, a proposta é compreender do que trata a Sociologia Geral, qual o seu objeto de 
estudo e o que ela aborda. Além disso, veremos sua origem histórica, com enfoque na figura de 
Augusto Comte e no Positivismo. Veremos que a Sociologia tem uma enorme relevância para os 
estudos sobre a sociedade, o que fortalece a pertinência da Sociologia do Direito para qualquer 
aprofundamento no campo jurídico.
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1.1 Concepção e objeto da Sociologia
A Sociologia pode ser considerada uma ciência que tem por objetivo analisar os processos 
e as estruturas sociais, ou seja, como se dá a vida humana em sociedade. A partir de diferentes 
perspectivas, o que os principais teóricos da Sociologia fizeram foi oferecer explicações para se 
compreender a sociedade como um todo, em análises sobre alguns aspectos da estrutura social 
e das relações que se estabelecem no seu interior.
Ao estudar as formações sociais e suas causas, a Sociologia se insere em uma análise acerca 
do desenvolvimento histórico de tais formações, na medida em que tenta compreender os fatores 
que levaram a uma dada situação social vivida em determinados contextos. Assim, pode-se dizer 
que a Sociologia está comprometida com os processos de transformação social, desvendando 
mistérios da vida social do passado e, através desse conhecimento, intervindo na realidade e 
contribuindo para a compreensão e construção do futuro. Dito de maneira simplificada, o objeto 
de estudo da Sociologia seria, então, as formações sociais passadas, presentes e uma espécie de 
projeção sobre as futuras (ROCHA, 2019. p. 10).
O sociólogo José Manuel de Sacadura Rocha destaca também necessidade de que a 
Sociologia, para ser ciência, seja pensada em um contexto de liberdade. Isso porque, para o autor, 
12
como a Sociologia está comprometida com a reflexão sobre as transformações sociais, seria difícil 
defender esse papel de agente de mudanças em um contexto de autoritarismo e estados de 
exceção (ROCHA, 2019. p. 10).
Além disso, é importante pontuar a extrema relevância da Sociologia para a compreensão do 
ser humano acerca de si mesmo. Historicamente, o ser humano constitui-se de maneira social, 
isto é, em relação com outros seres humanos e com o ambiente que os cerca. Essas relações 
ajudam a moldar, condicionar e até determinar a forma como agimos, vivemos e somos.
Mesmo que nós possamos agir de maneira isolada e individual, o comportamento continua 
sendo social, na medida em que sobre ele “recai o peso da orientação coletiva de determinado 
grupo” (ROCHA, 2019. p. 11). Evidentemente, há sempre certo espaço para a ação individualizada 
e nem tudo é absolutamente determinado e condicionado socialmente. Mas não se pode negar 
a influência dos fatores sociais na constituição dos comportamentos humanos. Como exemplo, 
podemos pensar na forma de utilização do tempo pelas pessoas. Por que tantas pessoas 
habitualmente acordam em uma faixa de horário similar, se locomovem ao trabalho e retornam 
em horários semelhantes? A influência dos modos de produção de trabalho estabelecidos é 
perceptível, na medida em que somos condicionados a utilizar nosso tempo dessa forma.
Assim, quando se diz que a Sociologia estuda processos e estruturas sociais, concretamenteda integração social e realização do bem comum (SANTOS, 1999).
O lado oposto desta discussão, derivado especialmente do Marxismo, concebe o Direito como 
um instrumento de dominação econômica e política que é expressão dos interesses das classes 
dominantes. Sendo um componente da superestrutura da sociedade capitalista e derivado da 
conformação das forças produtivas e relações sociais de produção da mesma, o Direito opera 
como um sistema que transforma os interesses específicos das classes dominantes para positivá-
79
los na lei como se representassem um interesse coletivo e universal destas sociedades (MARX, 
2001, 2010, 2013; SANTOS, 1999).
Boaventura de Sousa Santos (1999) recorda que, nos debates afins à Sociologia Jurídica – 
que implica refletir acerca das articulações do campo do direito com as estruturas sociais e as 
condições em que este opera –, incide uma disputa de perspectivas derivada da polarização 
apresentada acima: o direito é variável dependente – ou seja, é fenômeno que se limita a 
acompanhar e incorporar valores sociais e padrões de conduta constituídos e disputados 
politicamente na sociedade –, ou é instrumento capaz de ser um promotor ativo de mudança 
social, na vida concreta e na disputa de ideias?
No polo oposto, estão aqueles que atribuem ao Direito papel determinante no contexto 
social, tendo este a capacidade de atuar perante a realidade e modifica-la de forma autônoma. 
Nesta ótica, mudanças normativas de qualquer espécie tem condições de impor com sucesso 
determinados comportamentos aos membros da comunidade: o “dever ser” pode sempre 
direcionar o “ser”. Esta é a posição idealista.
Antes de apresentar a última corrente, é necessário apontar que, de forma associada a esta 
problemática, incide outra divisão no campo da Sociologia jurídica sobre Direito e mudança 
social: a disputa entre aqueles que a) consideram que o direito é um freio às grandes mudanças 
sociais, reagindo às reivindicações populares de forma lenta e restrita (tendo, portanto, um 
papel essencialmente conservador); e b) a visão de que o Direito tem o condão de desempenhar 
uma função educadora e progressista, sendo instrumento eficaz e aberto para a realização de 
mudanças por meio de reformas legislativas (SABADELL, 2002).
A autora supracitada apresenta uma terceira posição, intermediária, que conciliaria as duas 
visões antagônicas apresentadas. Para Sabadell (2002), o Direito é, de fato, configurado por 
interesses e necessidades sociais e produto em grande medida de um contexto econômico e 
FIQUE DE OLHO
Ana Lúcia Sabadell (2002) entende que há três posições distintas acerca desta 
problemática nos debates acadêmicos. Inicialmente, há a corrente denominada “realista”, 
que compreende que o Direito é uma manifestação social determinada pelo contexto 
sociocultural. Desta forma, a sociedade produziria o Direito que convém à mesma. Quando 
este argumento é levado ao limite, o Direito é visto como a mera reprodução, em nível 
normativo, da dominação social e da imposição dos interesses dos grupos dominantes, visão 
compartilhada por algumas correntes marxistas e liberais.
80
social. Entretanto, o mesmo teria a capacidade de influir, de forma dinâmica, na realidade social, 
determinando e sendo determinado pela mesma ao mesmo tempo. Esta posição se associa à 
de Soriano (1997), que vê o Direito como possuidor de uma autonomia relativa em relação à 
estrutura sociocultural na qual está inserido.
1.3 Atuação do Direito como fator de mudança social
Continuando a explorar esta corrente intermediária, que admite a possibilidade do Direito, 
considerado estritamente, provocar mudanças sociais – mas não de forma estrutural ou radical 
sem que esteja inserido e associado a um processo de mobilização e transformação política 
sistêmica, Soriano (1997) se interessa pela intensidade, o ritmo e as esferas de manifestação das 
mudanças passíveis de decorrer do sistema jurídico.
Quanto ao primeiro aspecto, a intensidade da mudança por meio do Direito depende, 
segundo o autor e Sabadell (2002), de dois fatores: a natureza do sistema jurídico e a natureza do 
sistema político em que tais mudanças concretamente incidirão. No primeiro fator, a abertura, 
flexibilidade e abstração das normas jurídicas favorecem reformas de maior monta, enquanto a 
existência de fortes procedimentos de controle e rigidez normativa - ao, por exemplo, estabelecer 
“cláusulas pétreas” em uma Constituição -, minimizam as possibilidades de alterações sistêmicas.
Em relação ao sistema político, um maior nível de concentração do poder e de quantidade 
de atribuições a entes específicos facilita a implementação de mudanças rápidas e de peso 
via alterações legislativas – o que também ocorre usualmente em situações de revolução 
social (SABADELL, 2002). Por outro lado, a pulverização do poder, a presença de fortes pesos 
e contrapesos, bem como a postura dos agentes políticos – seja pelo desinteresse em alterar o 
status quo, seja pela opção pela conciliação e acomodação de demandas -, também tem como 
consequência lógica um Direito que opera de modo a promover estabilidade.
Nesta problemática, se inserem correntes teóricas no campo do Direito que acreditavam 
ser possível uma prática e interpretação jurídicas emancipadoras e favoráveis a grupos e classes 
sociais desfavorecidas, como no caso do “Direito alternativo”. Uma variação desta problemática 
no debate jurídico brasileiro, também valorizando e ampliando as possibilidades hermenêuticas 
dos aplicadores do Direito, é o chamado neoconstitucionalismo.
As críticas a esta “instrumentalização” do Direito em prol da solidariedade e igualdade 
social vieram especialmente de tradições jurídicas afins ao positivismo e críticas à ingerência do 
Judiciário em funções de outros poderes (SARMENTO, 2007; STRECK, 2011) e também de grupos 
políticos alertas ao perfil cultural, econômico e social majoritário dos aplicadores do Direito em 
sociedades capitalistas e no Brasil, em específico (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2018).
81
No primeiro caso, são alvo de críticas especialmente decisões que se baseiam em 
interpretações demasiadamente elásticas da legislação aplicável, quando não uma atuação contra 
legem. No segundo caso, a alegação é de que este tipo de atuação também pode ser utilizada 
com propósitos conservadores, corporativos ou proselitistas, considerando o fato da maioria do 
Judiciário e do Ministério Público no Brasil e em outros países ser ocupado pela elite econômica 
e cultural da sociedade, e tendente a enxergar o mundo e o labor jurídico diário por esta lente.
Em relação às esferas de manifestação de mudanças, estas podem ocorrer de forma 
estritamente interna, abarcando o Direito nacional, bem como externamente, no caso do Direito 
internacional e/ou comparado (SABADELL, 2002). Nesse sentido, vale lembrar que mudanças 
e reformas jurídicas de destaque em determinados países por vezes ganham notoriedade e 
influência em sistemas jurídicos alienígenas.
Por fim, cabe fazer breves considerações acerca dos diferentes ritmos de mudanças 
impulsionadas pelo Direito. A depender dos aspectos da vida social afetados por uma mudança na 
legislação, esta pode se dar de forma mais fácil e rápida, como em mudanças econômicas de grande 
aceitação pelo público alvo; ou sofrer fortes resistências, como, por exemplo, exemplo, normas que 
vão de encontro a práticas culturais ou religiosas fortemente arraigadas no tecido social.
De qualquer forma, resta claro que nesta relação mútua entre Direito e sociedade, a mudança 
social através do Direito é um problema eminentemente político (SABADELL, 2002).
1.4 Pluralismo Jurídico
O termo “pluralismo jurídico” diz respeito à perspectiva que defende a existência, em uma 
mesma comunidade e simultaneamente, de mais de um conjunto articulado de regras, princípios 
e instituições – ou seja, da pluralidade de ordens jurídicas no interior de um mesmo espaço 
geopolítico (CASTRO, 2013; SANTOS, 2011).
Tal expressão surgiu em meadosdo século XIX como uma reação à visão monista do 
Direito, ainda predominante. O monismo está identificado à uma orientação exclusivamente 
centralizadora e estatal sobre quais normas são válidas em uma determinada sociedade.
Em diversas sociedades, se viu um processo de supressão, marginalização ou assimilação de 
usos e costumes locais que entravam em conflito ou se localizavam fora do âmbito do direito estatal.
Tal dinâmica pôde ser vista tanto em guerras e conflitos na Europa ocidental, como na 
colonização europeia na África e nas Américas. Ela foi e continua sendo alvo de resistência das 
populações locais, situação em que se estabelece um cenário de pluralidade de normatividades, 
ou “direitos”, observados pela comunidade.
Historicamente, estas normas de conduta marginalizadas eram eventualmente alvo de 
82
incorporação ou reconhecimento pelo Direito dos Estados das metrópoles ou em situação de 
dominância.
Na visão de Sally Merry (1988), podem ser distinguidos dois períodos distintos de análise 
sobre o pluralismo jurídico: o clássico e o do novo pluralismo jurídico. O primeiro se referiria 
aos estudos aplicados às sociedades coloniais onde se verificava autonomia e interseção entre 
ordens jurídicas distintas – notadamente, o(s) Direito(s) dos indígenas e o Direito das colônias. A 
perspectiva relativa ao acesso diferenciado à justiça em comunidades tradicionais se desenvolveu 
nas últimas décadas e afastou a feição etnocêntrica, abrindo maior espaço para a resolução de 
conflitos por meio de processos de justiça comunitária adotando valores e símbolos caros a estes 
grupos específicos.
O novo pluralismo diz respeito, na perspectiva da autora e de Santos (2011), ao contexto pós-
colonial de sociedades urbanas industrializadas onde incide uma teia de legalidades entrelaçadas, 
e uma relação entre diferentes ordens normativas vista agora como interativa, e não segmentada.
Nesse sentido que Castro (2013) aponta que a partir dos anos 1980 se intensificaram os debates 
que questionavam a posição de subordinação e dominação dos Direitos locais em detrimento 
do Direito “oficial”. A partir desta mudança, a academia passou a enfatizar as possibilidades 
de interações bidimensionais – destas diferentes fontes de normatividade –, ampliando o 
reconhecimento do pluralismo em contextos também não orientados pelo colonialismo ou pela 
vida rural.
Amplificou-se, assim, o espaço às perspectivas que rejeitam a ideia de que apenas o Direito 
estatal deve ser considerado “Direito” e, portanto, única fonte legítima e válida de orientação 
de normas de conduta. Este processo ocorreu de forma concomitantes dentro dos marcos dos 
estados-nação e globalmente, com o declínio de construções jurídicas “clássicas” do Direito 
internacional e a fragmentação do Direito internacional (CASTRO, 2013).
Dentre as principais referências contemporâneas no estudo e visibilidade do pluralismo 
jurídico no Brasil está o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos. Seu já clássico 
estudo realizado em uma favela do Rio de Janeiro nos anos 1970 identificou as diversas formas 
alternativas de definição de normas de conduta e de interpretação e construção da legalidade 
naquela comunidade. Este trabalho empírico que impulsionou os estudos sobre o pluralismo 
jurídico contemporâneo nas décadas seguintes.
Outro fenômeno social que impulsionou as discussões sobre o pluralismo jurídico foi a 
emergência dos chamados “Estados plurinacionais” pelos processos constituintes na Bolívia 
e Equador nos anos 2000, que promoveram em seus textos constitucionais dispositivos 
reconhecendo a diversidade de ordens normativas internas ao Estado-nação e questionando o 
próprio modelo deste (AFONSO; MAGALHÃES, 2011).
83
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2 CONTROLE SOCIAL E DIREITO: CULTURA E 
NORMATIZAÇÃO
O controle social diz respeito, em sentido amplo, a tudo aquilo que tem a capacidade de 
influenciar o comportamento dos indivíduos de uma sociedade (SABADELL, 2002); tecnicamente, 
é conceituado como “(...) qualquer influência volitiva dominante, exercida por via individual ou 
grupal sobre o comportamento de unidades individuais ou grupais, no sentido de manter-se 
uniformidade quanto a padrões sociais” (SOUTO; SOUTO, 1997, p. 177).
O estudo das finalidades, dos elementos e dos meios em que a sociedade pressiona os 
indivíduos a seguirem os valores sociais dominantes foi de grande interesse da Sociologia ao 
longo do século XX. Nesse sentido, o campo da Sociologia do direito se interessa especialmente 
pelo controle social exercido por meio do Direito.
Soriano (1997) e Sabadell (2002) destacam algumas diferenciações internas importantes relativas 
ao controle social. Inicialmente, apontam a possibilidade do exercício deste instrumento tanto para 
a mera orientação do comportamento social dos indivíduos, como para fiscalizar efetivamente a 
conduta dos mesmos (atuação, portanto, mais intrusiva). O controle pode variar também no que diz 
respeito aos seus destinatários: pode ser difuso, ou generalizado; como pode ser intensificado em 
certos grupos específicos de interesse – no qual é denominado controle localizado.
Também variam os agentes que exercem o controle social: este pode ser promovido por meio 
de setores da sociedade, por meio da “opinião pública”, da família, do ambiente laboral; ou a 
fiscalização pode ser realizada diretamente pelo Estado e seus órgãos e agentes. Por fim, o escopo 
de atuação do controle pode ser de atuação direta ou indireta sobre os indivíduos e grupos: um 
policial que aborda um cidadão exerce controle direto; a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e 
84
o Ministério da Educação exercem indiretamente controle sobre conteúdo e estrutura do ensino 
nas escolas brasileiras.
É importante ainda diferenciar algumas das diversas formas em que o fenômeno do 
controle social pode se manifestar. Primeiramente, este pode apresentar grau de organização 
maior ou menor, assumindo feições formais e/ou informais. Este se associa ao controle difuso 
e ao que é realizado pela sociedade, ao passo que o primeiro é realizado primordialmente pelo 
Estado, visto que usualmente é resultado de um processo de institucionalização do controle de 
comportamentos desviantes – espaço onde o Direito se encontra (SABADELL, 2002).
Os meios de controle social também podem assumir feição negativa ou positiva. No primeiro 
caso, almeja-se alterar um comportamento indesejável por meio da reprovação do mesmo 
e da aplicação de sanções aos indivíduos que o cometeram, enquanto o controle positivo visa 
incentivar condutas vistas como adequadas pela persuasão e premiação àqueles que adotaram 
“bons” comportamentos (SABADELL, 2002).
Figura 1 - Exemplo de meio de controle social: a polícia 
Fonte: Antonio Scorza, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: Vemos um policial observando um grupo de pessoas que formam uma fila para 
embarcar num bonde elétrico urbano.
2.2 Características do controle social por meio do Direito
Como indicado na seção anterior, o Direito se caracteriza por ser uma forma de controle social 
formal, que determina normas de conduta que: i) são interpretadas e aplicadas por agentes do 
Estado designados com esta função; ii) caracterizam-se por serem explícitas – indicando o que 
fazer ou não fazer; e iii) cujo descumprimento implica na aplicação de sanções (SABADELL, 2002).
As sanções ditadas pelo Direito oficial se diferenciam das sanções “sociais” ou informais 
por estarem formalizadas num código jurídico, delimitadas concretamente, circunscritas em 
85
procedimentos definidos (que também servem como garantias e proteção contra a arbitrariedade) 
e aplicada por instituições competentes específicas para sua aplicação.
Num sistema jurídico, há normas de organização que não estão associadas a sanções, 
voltadas para a organização da aplicação de outros dispositivos – estas são as normas processuais 
(SABADELL, 2002). Também há casos de normas que determinam obrigações, mas não impõem de 
formaconcomitante sanções no caso do descumprimento daquela. Podemos citar aqui condutas 
puníveis penalmente, mas cujos autores encontram-se em situações onde incide excludentes de 
culpabilidade, tipicidade ou ilicitude.
Outros casos são normas que preveem incentivo no caso de seu cumprimento, mas não é de 
execução compulsória e, portanto, não admite coerção no caso de não observância. Exemplos são 
as legislações que admitem descontos no imposto de renda no caso do cumprimento de alguns 
critérios relativos a condutas estimuladas pelo Estado.
Por fim, temos o caso de normas de Direito internacional, que geralmente não são 
vinculadas a sanções que envolvam coação devido à ausência de um poder político transnacional 
com a prerrogativa de executar sanções à força. Nesse caso, o cumprimento depende da 
discricionariedade dos Estados-nação, os quais podem ser alvo de pressões políticas e econômicas 
(SABADELL, 2002).
A sanção jurídica é o elemento principal do exercício do controle social através do Direito. Esta 
pode ser definida, nos termos de Sabadell (2002), como uma consequência positiva ou negativa 
decorrente do cumprimento ou não de uma norma jurídica.
Como já indicado anteriormente, sanções jurídicas podem ter um caráter positivo, associadas 
às chamadas normas promocionais; ou negativo, que consistem na privação ou restrição de 
Direitos dos indivíduos que infringem determinada norma, e podem envolver a liberdade de 
locomoção, de ofício ou implementar sanções pecuniárias.
Sanções negativas podem ter caráter preventivo ou reparatório. As primeiras são raras e 
desaconselháveis no contexto de um Estado Democrático de Direito, mas no dia-a-dia podem 
ser vistas diversas medidas fiscalizatórias associadas à prevenção, tendo o objetivo de evitar 
a violação de normas jurídicas. Exemplos disso são: uma blitz policial, a revista corporal no 
momento de adentrar um recinto com regras específicas, dentre outras.
As sanções reparatórias, por outro lado, são aplicadas contra o responsável por um dano 
determinado, provocado pela violação de uma norma jurídica. O objetivo das mesmas é o de 
buscar restaurar, quando possível, o status quo ante, e restabelecer a ordem lesada, bem como o 
de compensar ou minimizar as perdas daqueles que eventualmente possam ter sido prejudicados 
pela violação à norma.
86
Este tipo de sanção usualmente se divide, nos sistemas jurídicos das sociedades 
contemporâneas, em três categorias. Pode assumir a feição de um constrangimento que force 
cumprimento de uma obrigação, como no caso de uma sentença transitada em julgado que dispõe 
o dever de pagar uma dívida; também pode exigir o ressarcimento de um dano por meio do 
pagamento em dinheiro, via multa ou indenização (SABADELL, 2002); por fim, também se exprime 
no caso das sanções reparatórias penais, que pode assumir diversas funções e justificativas nos 
sistemas jurídicos modernos: neutralização, retribuição, ressocialização, dentre outros.
Considerando a gravidade e a força da intervenção da norma penal sobre os indivíduos, os 
sistemas legais modernos limitam e circunscrevem esta possibilidade, orientando princípios básicos 
que devem ser observados em sua aplicação: legalidade, proporcionalidade, imparcialidade, 
dentre outros princípios. A amplitude e a restritividade destas orientações não apenas varia 
entre os diversos sistemas jurídicos nacionais, como é alvo de um intenso e duradouro debate no 
campo do direito penal e da criminologia.
2.3 Ótica funcionalista do controle social por meio do Direito
Sabadell (2002) e Soriano (1997) dispõem que, pela perspectiva funcionalista da Sociologia 
do Direito, o controle social é realizado com base em algumas características chave:
O Direito se expressaria por meio de uma linguagem conhecida por todos e de conhecimento 
da população, tendo alto grau de certeza na fixação de modelos de comportamento devido à 
clareza e publicidade do mesmo.
Perspectiva de que os direitos culturais são exprimidos na defesa de atributos particulares, 
mas cuja defesa possui um sentido universal. Nestes estariam inseridos, segundo o autor, diversas 
das chamadas lutas “identitárias” modernas, de minorias étnicas, sociais, religiosas ou sexuais.
As normas criam modelos gerais de comportamento, os quais devem ser observados por 
todos que se incluam nas situações-tipo, usualmente de forma independente de especificidades 
individuais, embora existam exceções.
O respeito e o cumprimento das normas de conduta positivadas pelo direito é reforçado por 
órgãos de poder, instituições e agentes que velam pela observância do ordenamento jurídico, 
fazendo uso da persuasão, coação e, quando necessário, da violência contra os indivíduos 
desviantes.
De forma alinhada à concepção weberiana, entende-se que o Direito regula cada vez 
mais esferas do comportamento humano e da vida social com o passar do tempo, fenômeno 
denominado “juridicização” ou “juridificação”. 
O Direito funciona como instrumento de controle social que se baseia em regras uniformes, 
87
seja no âmbito nacional como no internacional – tal característica se associa à generalidade. 
O Direito é visto como sistema de controle social que exprime os valores e princípios 
hegemônicos de uma sociedade e que tem a finalidade de garanti-los, sancionando aqueles que 
lesionam direitos e bens coletivos e individuais.
2.4 Abordagem crítica do controle social por meio do Direito
Esta perspectiva funcionalista fundada nas teorias do consenso, como abordado na unidade 
II, foi alvo de diversas críticas de perspectivas marxistas, liberais e anarquistas, devido ao 
fato das mesmas limitarem drasticamente as possibilidades de processos de ruptura, conflito 
e mudanças sistêmicas, vendo estas usualmente como patologias independentemente do 
conteúdo e das razões dos mesmos (SABADELL, 2002). Desse modo, o campo do funcionalismo 
seria demasiadamente estático, incapaz de interpretar processos sociais radicais e acabando por 
adotar uma postura, no limite, conservadora ou superficial sobre a dinâmica social.
Às perspectivas do consenso, se opõem as teorias do conflito social. As várias teorias do 
conflito coincidem em compreender que a sociedade é composta por grupos de interesses 
estruturalmente opostos, que permanecem em constante situação de disputa pelo poder e 
geralmente em situação de desigualdade entre uns e outros (SABADELL, 2002). Neste sentido, os 
grupos detentores do poder em um determinado momento o reforçam por meio da coação e do 
condicionamento ideológico. Por esta ótima, crises e mudanças sociais são fenômenos comuns 
na sociedade, sendo expressões objetivas das disputas de interesses, ou da luta de classes, 
existentes numa comunidade.
Sociólogos do conflito levantam uma série de críticas à perspectiva funcionalista, a começar 
pelo fato de que, na visão destes, há uma confusão entre as funções declaradas do controle 
social – especialmente aquele efetuado por meio do sistema penal –, relacionadas à dissuasão, 
à ressocialização e a proteção de bens jurídicos dignos de proteção, e as funções latentes, as 
finalidades a que concretamente se presta o controle social.
Dentre as críticas empreendidas e/ou resgatadas por teóricos do conflito como Baratta 
(1999) e Anitua (2007), destaca-se primeiramente alegações de ilegitimidade do poder punitivo 
do Estado capitalista. O controle social, nesta perspectiva, estaria a serviço dos grupos de poder 
dominantes nesta sociedade, direcionando o sentido das normas em favor de seus interesses 
pessoais e, ao mesmo tempo, atuando de modo a fazer tais normas terem a aparência de um 
interesse geral e consensual da sociedade.
Estas críticas se associam a uma desnaturalização do crime e do criminoso e concepções 
etiológicas e ontológicas destes fenômenos. Desvios e crimes são construções sociais contingentes, 
que variam com a evolução de fatores culturais e da conjuntura política. Eles não coincidem com 
88
noções universais e imutáveis do “bem” ou do “mal”. Por exemplo,o tratamento legal dado ao 
ato de abortar, ou o de se relacionar sexualmente com pessoas do mesmo gênero variam entre 
diferentes Estados-nação, podendo ser condutas amparadas pela lei ou delitos.
Também incidem questionamentos acerca da existência ou não da culpabilidade pessoal 
à transgressão de certas normas. Em um contexto de pluralismo cultural e disputas relativas 
a valores, bem como à influência do contexto na determinação das condutas dos indivíduos, 
questiona-se a justiça e a correção do exercício do controle social (SABADELL, 2002).
2.5 Ressocialização
Dentre as diversas justificativas e “funções” dadas para a utilização da sanção de privação de 
liberdade, uma das mais disseminadas ao longo do século XX diz respeito à chamada prevenção 
especial positiva, ou à ressocialização.
Esta é conceituada, segundo Luís Carlos Valois (2012, p. 79) como “(...) a reforma moral 
ou psicológica – aí dependendo daquilo que o reformador acreditar – do criminoso enquanto 
submetido às instituições punitivas do Estado”. A prisão seria vista, assim, como um recurso e 
um meio de correção do indivíduo e de preparação do mesmo para o futuro retorno ao convívio 
social. Esta perspectiva perpassa diversos dos dispositivos que orientam o direito penal brasileiro, 
como o Código Penal e a Lei de Execução Penal.
Entretanto, nas últimas décadas se tornou lugar comum nos debates acadêmicos e jurídicos 
relacionados ao tema o fracasso, especialmente no caso brasileiro, do sistema penitenciário em 
alcançar este suposto fim com êxito. Há, no entanto, uma divisão entre setores que atribuem este 
fracasso à incompetência e à ineficácia da administração do sistema, enquanto outros reforçam a 
inviabilidade e a falta de respaldo científico inerente ao ideal ressocializador por meio do cárcere 
(VALOIS, 2012).
Inicialmente, há um diagnóstico consolidado do perfil social, racial e econômico que domina 
as prisões no país: indivíduos em geral do sexo masculino, jovens, de baixa renda, escolaridade 
e de cor de pele negra. Esta constatação da seletividade estrutural do filtro do sistema penal 
demonstra e reflete, de saída, a falta de acesso a direitos e de um cenário de vulnerabilidade 
anteriores aos processos de criminalização.
Somando este fato às características do dia-a-dia dos estabelecimentos prisionais do país – 
marcado por um histórico de violações de direitos humanos, violência, ausência de alternativas 
laborais, formativas e de lazer, bem como do enfraquecimento de relações familiares e sociais -, 
tem-se um resultado trágico, mas esperado: altos níveis de reincidência (IPEA, 2015), imposição 
de um “rótulo” de criminoso no egresso do sistema (questão que fora abordada na menção à 
teoria do labelling approach na unidade II) e retorno ao convívio social em condições de ainda 
89
maior precariedade e vulnerabilidade.
A partir desta constatação, o que fazer? Alessandro Baratta (1990) destaca a existência das 
posições realista e idealista a respeito à justificação da privação da liberdade face à crise do ideal 
ressocializador. A primeira propõe o abandono deste ideal com o foco no controle social baseado 
na neutralização e retribuição ao criminoso, tendo, portanto, viés repressivo. A segunda defende 
a manutenção da justificativa ressocializadora para evitar que seu abandono contribua para o 
recrudescimento do sistema.
O autor rechaça ambas as posições, defendendo, ao mesmo tempo, o reconhecimento da 
inviabilidade do ideal ressocializador e a substituição do termo pela ideia de reintegração social. 
Sua ideia pressupõe maior comunicação e interação entre prisão e sociedade, bem como o 
incentivo a um processo de reconhecimento mútuo entre reclusos e sociedade “externa” à prisão 
(BARATTA, 1990).
Figura 2 - Presos em Eunápolis (BA) 
Fonte: Joa Souza, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: vemos na imagem um grupo de presos numa prisão em Eunápolis (BA). 
3 SOCIOLOGIA DOS TRIBUNAIS E DEMOCRATIZAÇÃO 
DA JUSTIÇA
Ainda que a Sociologia jurídica tenha sido constituída como ramo especializado) apenas a 
partir de meados do século XX, Boaventura da Souza Santos (1999) recorda que o Direito é um 
fenômeno social objeto de séculos de produção intelectual e teórica associadas a disciplinas 
afins, como a Filosofia e a História do Direito.
Este fato, associado à consolidação da Ciência Política como disciplina e ao interesse desta 
nos tribunais como instância de decisão e poder políticos, e ao desenvolvimento da orientação, 
90
dentro da antropologia do direito, à análise dos processos e das instituições jurídicas e ao poder 
destes de estruturarem os comportamentos dos atores destes sistemas, formaram as condições 
teóricas e concretas para o desenvolvimento da sociologia dos tribunais (SANTOS, 1999).
Utilize o QR Code para assistir ao vídeo:
3.1 Acesso à Justiça
A expressão “acesso à justiça” pode assumir uma variedade de definições, mas Mauro 
Cappelletti (1988), afirma que a mesma pode assumir dois significados: inicialmente, refere-se 
à possibilidade dos indivíduos de reivindicarem direitos e buscarem a resolução de conflitos no 
âmbito do Judiciário; ao mesmo tempo, se associa à possibilidade das pessoas terem efetivo 
acesso a resultados justos para si e para o meio social. Trata, portanto, não somente da garantia 
concreta do Direito de recorrer aos tribunais, mas do atendimento à justiça social dentro e por 
meio deste espaço (FULLIN, 2013).
Como indicado na seção anterior, o surgimento e a consolidação do acesso à justiça com 
o conteúdo amplo apontado acima dependeram de modificações e transformações históricas a 
respeito do entendimento inicial, no sentido de que os cidadãos tinham a liberdade e o direito 
para litigar em defesa de seus interesses (concepção liberal). A assunção de que o acesso à justiça 
implica na promoção da igualdade social e, portanto, na disposição de condições econômicas, 
culturais e institucionais concretas para a judicialização de demandas veio no bojo da adoção 
de políticas dos Estados de bem-estar social nos países ocidentais – normalmente revestidas de 
proteção legal (FULLIN, 2013).
Esta positivação de direitos sociais e a regulamentação crescente das esferas da vida social 
por meio do Direito contribuiu para a intensificação do recurso aos tribunais para a obtenção 
de direitos conquistados, processo definido por autores como Vianna et. al (1997) como “a 
judicialização das relações sociais”.
91
O processo de judicialização se intensificou e adquiriu contornos mais conflituosos a partir 
das crises econômicas e do desmonte de políticas de bem-estar social nos países centrais a partir 
do final dos anos 1970. As expectativas da cidadania em pleitear direitos e políticas públicas 
sucateadas pelos próprios Estados (FULLIN, 2013), associadas ao crescente protagonismo do 
Judiciário como espaço para resolução de tais questões provocou o fenômeno denominado por 
Boaventura de Sousa Santos (1999) como “explosão de litigiosidade”.
Entretanto, de forma concomitante a este processo, os próprios serviços judiciários destes 
países tiveram suas capacidades limitadas pela falta de investimento e recursos. A disparidade 
entre a estrutura existente do sistema e a grande demanda social de garantia de direitos por meio 
dos tribunais fomentou a “crise da administração da justiça” (FULLIN, 2013).
Estes fenômenos estimularam as reflexões de governos em torno de medidas para mitigá-los, 
bem como fomentaram a investigação e a pesquisa social – onde se insere a Sociologia jurídica 
e, mais especificamente, a Sociologia dos tribunais –, para identificar e fazer prognósticos sobre 
gargalos e impedimentos, de ordem institucional, econômica, social ou cultural, ao acesso à 
justiça pelos cidadãos.
Como resposta a estes desafios, intensificaram-se movimentos por reformas com o objetivo 
de enfrentar e mitigar as diversas barreiras e desigualdades de acesso à justiça. Mauro Cappelletti, 
processualista italiano, teve destaque neste processo e identificou a existênciade três conjuntos 
de reforma empreendidos sequencialmente no Ocidente com o objetivo de ampliar e qualificar 
o acesso à justiça, os quais ficaram usualmente conhecidos como “as ondas do movimento de 
acesso à justiça”.
A primeira onda de aprimoramento do acesso à justiça teria sido representada pelas políticas 
de investimento público em assistência judiciária gratuita ao público necessitado, visando 
minimizar as barreiras de caráter econômico no sistema. Este tema foi introduzido no direito 
brasileiro a partir da Lei nº 1.060, de 1950.
Para Cappelletti (1988), a segunda onda buscou enfrentar a questão da representação 
dos interesses difusos e coletivos, atribuindo legitimidade ativa para coletividades, grupos 
representativos e atores governamentais - no Brasil, especialmente o Ministério Público e 
em seguida a Defensoria Pública -, para ingressar em juízo em defesa dos direitos de uma 
multiplicidade de sujeitos.
Por fim, a terceira onda do movimento estaria associada a um complexo de reformas visando 
modificar as formas de resolução de conflitos, tendo, como alguns de seus objetivos, a agilização, 
simplificação e a busca de soluções mais mediadas entre as partes (FULLIN, 2013). Nesta 
perspectiva, insere-se a ampliação da aplicação dos chamados meios alternativos de resolução 
de conflitos, como a justiça restaurativa, a mediação, a conciliação e a arbitragem.
92
Ainda que tenham sido observados avanços sensíveis no acesso à justiça às minorias sociais, o 
tema do acesso à justiça permanece um desafio para o Judiciário e para o campo da Sociologia do 
direito. A flexibilização e simplificação de procedimentos também podem promover e perpetuar 
assimetrias e desigualdades, o que exige contínua análise e reflexão sobre novos meios para 
promover a garantia de direitos e a resolução adequada de conflitos sociais.
Figura 3 - Supremo Tribunal Federal em Brasília (DF) 
Fonte: Diego Grandi, Shutterstock, 2020
#PraCegoVer: Vemos na imagem o Supremo Tribunal Federal em Brasília (DF). Na frente do 
Tribunal, há uma estátua que simboliza a Justiça. 
3.2 Tribunais e movimentos sociais
A organização do Judiciário brasileiro, definida por Boaventura de Sousa Santos (2011), se 
estrutura de forma análoga à de uma pirâmide, onde a posição hierárquica define o prestígio 
e a influência dos indivíduos no sistema e na qual um pequeno número de juízes no alto desta 
hierarquia define quase integralmente a linha dos tribunais como um todo.
O autor observa que, assim como em Portugal, a transição pós-ditadura destes países pouco 
modificou a estrutura organizacional dos tribunais, mantendo um cenário de insulamento 
burocrático, foco dos magistrados no “sucesso” individual de suas carreiras – medido aqui pela 
escalada hierárquica, não qualidade ou influência do conteúdo e da correção das decisões 
proferidas. Este cenário de isolamento social do Judiciário implicou, também, na falta de discussão 
de mecanismos de controle democrático da magistratura (SANTOS, 2011).
Esta postura passou a ser cada vez mais alvo de críticas de movimentos sociais – como os 
movimentos negro, indígena e sem-terra –, em relação às insuficientes, atrasadas ou desiguais 
respostas jurisdicionais às suas demandas. Dentre os questionamentos realizados por estes 
movimentos, estão a falta de reflexão teórica e social a respeito de inovações e refinamentos nos 
debates políticos e jurídicos acerca de políticas e conceitos como as cotas raciais, a função social 
93
da propriedade e aos direitos dos povos originários. Isso leva à morosidade ou ao desinteresse em 
proferir decisões liminares ou definitivas em tempo hábil; ou o tácito ou explícito favorecimento 
ao lado econômica e socialmente favorecido das demandas pela reprodução, no processo, de 
assimetrias e desigualdades entre as partes.
Lidar com este problema implica numa profunda reflexão acerca da estrutura do sistema de 
justiça não apenas nos métodos de seleção dos profissionais que operam no mesmo, tampouco 
exclusivamente na atualização do processo formativo dos magistrados, mas também nos métodos 
de avaliação de desempenho e de definição da promoção na carreira (SANTOS, 2011).
Nesse sentido, o cumprimento do potencial dos tribunais em prover materialmente a garantia dos 
direitos sociais e de mitigar desigualdades históricas que nossa Carta Constitucional se comprometeu a 
combater implica numa autorreflexão desta instituição acerca de suas funções e de sua responsabilidade 
sistêmica – mas realizada por meio de demandas individuais ou setoriais – de enfrentar conflitos 
estruturais existentes no tecido social. Isto implica também em acolher uma concepção atual e ampla 
de direitos humanos, concebida aqui para além de sua dimensão estritamente individualista, civil e 
política, incluindo também direitos sociais e econômicos coletivos e difusos.
Na apreciação de conflitos relacionados à demandas étnico-raciais históricas, isto demanda a 
compreensão do papel estruturante da escravidão e do colonialismo na formação da sociedade 
brasileira, bem como da permanência de desigualdades sociais e econômicas entre brancos 
e negros no Brasil. Isto se associa inclusive à escassa presença da população negra no corpo 
burocrático do Judiciário, especialmente em cargos de maior prestígio.
Por outro lado, no que diz respeito aos conflitos associados à terra e à propriedade nos 
meios rural e urbano, observa-se aqui uma atuação contínua de pelo menos quatro grupos 
numerosos de movimentos sociais, articulados de forma relativamente autônoma entre si. Além 
dos movimentos sem-terra, dos quilombolas e de povos indígenas, indicados por Boaventura de 
Sousa Santos (2011), emergiu com maior força na última década o movimento dos sem-teto e 
das ocupações urbanas. As demandas históricas destes grupos exigem dos membros do Judiciário 
sensibilidade e compreensão sistêmica do arcabouço jurídico erigido pós-Constituição de 1988 
para uma avaliação parcimoniosa dos direitos de tais atores nas diversas demandas em que a 
posição dos tribunais será a palavra final.
3.3 Cultura jurídica e independência judicial
Nesse sentido, Santos (2011) relaciona a necessidade de se buscar uma equalização entre 
a necessária garantia da independência do Judiciário e de seus atores – vista como importante 
conquista democrática –; e, concomitantemente, o desenvolvimento de mecanismos democráticos 
de controle externo da atividade judicial.
94
Isto se justifica pelo fato de que, na maioria das democracias modernas, o Judiciário é o 
único dos três poderes no qual seus agentes não obtêm seus cargos direta ou indiretamente 
relacionados à soberania popular, sendo membros não-eleitos.
Este fato, associado a uma estrutura organizacional obsoleta e, no caso brasileiro, do 
direcionamento de vultuosos recursos financeiros para a administração da justiça (em 
porcentagem maior do PIB que todos os países desenvolvidos, bem como de outras nações 
latinoamericanas) – em especial voltada aos altos salários e “penduricalhos”, ou verbas e auxílios 
adicionais ao salário – contribui para o insulamento excessivo deste Poder e, em consequência, a 
exacerbação do corporativismo na instituição.
Ao mesmo tempo, diversos estudos demonstraram a predominância, dentro do corpo 
de funcionários do Judiciário, de pessoas de origem social abastada e cujo ambiente familiar 
e social é, historicamente, afim ao da elite econômica e cultural brasileira. Esta condição pode 
produzir diversas implicações, como a falta de empatia com a condição de partes desfavorecidas 
em processos, bem como, numa perspectiva sistêmica, de um ethos conservador e tendente 
à manutenção do status quo, visto que os próprios juízes, desembargadores e promotores 
compõem a elite, com interesses materiais e posturas ideológicas conformes.
Exemplos da influência de uma cultura jurídica particular, e geralmente conservadora, na 
prestação jurisdicional concreta não faltam. Um desdobramento marcante deste fenômeno foi 
observado a partir daampliação das hipóteses legais de alternativas à prisão no processo penal 
pátrio, com a inserção de novas possibilidades de medidas cautelares. Embora se esperasse um 
possível impacto da mudança legislativa na redução da população carcerária brasileira, pesquisas 
como a do Instituto Sou da Paz (2011) mostraram a permanência da preferência dos magistrados 
em designar a privação da liberdade de acusados na maioria dos casos, bem como de hipóteses 
antigas e restritas de medidas cautelares, como a fiança.
Este resultado se relaciona diretamente com as os conceitos e preconceitos acerca da figura 
do acusado, de seu papel no sistema de justiça criminal e das funções do mesmo. Ao invés de 
julgador imparcial e desinteressado, muitos magistrados passaram a se considerar verdadeiros 
agentes de segurança orientados pela “luta contra o crime” (INSTITUTO SOU DA PAZ, 2011).
Situação parecida foi observada por Santos (2011) após reforma similar ocorrida em Portugal. 
Nesse país, os pesquisadores captaram outro aspecto relevante que influía na baixa aplicação da 
medida de cumprimento de serviços à comunidade: o escasso diálogo e articulação do Judiciário 
luso com os programas de assistência social e organizações da sociedade civil.
Desse modo, Santos (2011) e outros autores perceberam a relevância de se atentar à cultura 
jurídica para que mudanças sociais e reformas legislativas tenham os resultados concretos almejados: 
“(...) sem uma outra cultura jurídica não se faz nenhuma reforma” (SANTOS, 2011, p. 84).
95
Nesse sentido, o sociólogo português conclui: “(...) A nossa meta deve ser a criação de uma 
cultura jurídica que leve os cidadãos a sentirem-se mais próximos da justiça. Não haverá justiça 
mais próxima dos cidadãos, se os cidadãos não se sentirem mais próximos da justiça. ” (SANTOS, 
2011, p. 84).
96
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• Discutir o que é o Direito e quais as suas funções nas sociedades contemporâneas.
• Estudar perspectivas que consideram o Direito como mecanismo de garantia da 
solidariedade social, e a daqueles que o veem como instrumento de dominação e 
consolidação do poder das classes dominantes.
• Compreender outras discussões importantes na sociologia jurídica: a do nível 
de autonomia do direito face à realidade social, e às divisões acerca do papel 
predominante do ordenamento jurídico – se freio às mudanças sociais estruturais, ou 
mecanismo útil para a promoção de reformas.
• Aprofundar aspectos relativos ao tema do controle social promovido pelo Direito, 
suas diferenciações internas, características, e abordamos com maior especificidade 
o formato deste controle social a partir da ótica funcionalista.
• Estudar os questionamentos realizados ao controle social do direito – primeiro 
pelo questionamento e problematização realizada pelos estudiosos do pluralismo 
jurídico, e depois destrinchando críticas empreendidas por sociólogos do conflito em 
relação aos usos, funções e justificativas do poder punitivo do Estado, mostrando 
como exemplo o discurso relativo às funções de prevenção geral e especial da pena 
privativa de liberdade e a crise do ideal ressocializador
• Compreender a sociologia da aplicação do direito e alguns de seus subtemas: a 
discussão acerca do acesso à justiça ao longo do século XX, o perfil e a estrutura 
do Poder Judiciário brasileiro e de seus integrantes, bem como as críticas e 
questionamentos de movimentos sociais em relação à (baixa) permeabilidade das 
instituições de justiça às demandas populares, bem como à origem social privilegiada 
da maioria dos juízes, promotores e desembargadores do país..
PARA RESUMIR
AFONSO, H. W et al. O Estado Plurinacional da Bolívia e do Equador: matrizes para uma 
releitura do direito internacional moderno. In: Revista Brasileira de Direito Constitucional 
– RBDC n. 17 – jan./jun. 2011. Disponível em: . Acesso em: jul. 2017.
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BARATTA. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da “reintegração 
social” do sentenciado. 1990.
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ENGELS, F et al. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001
FULLIN, C. S.. “Acesso à Justiça: a construção de um problema em mutação”. In: 
RODRÍGUEZ, J. R; GONÇALVES F. (orgs.). Manual de Sociologia Jurídica. São Paulo: 
Saraiva, 2013, pp. 219-236.
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REHBINDER, M. Rechtssoziologie. Munchen: Beck, 2000
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(Doutorado em Direito). Universidade de São Paulo, 2012.
VIANNA, L. W. et al. Corpo e alma da magistratura brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 1997.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Com o objetivo de proporcionar um panorama multidisciplinar 
do Direito, este livro vai abordar a Sociologia do Direito e a 
Antropologia Jurídica, dois campos de estudo social do Direito muito 
importantes. Aqui, essas duas ciências serão discutidas a partir das 
noções básicas, das perspectivas históricas e sociológicas, além deapresentar os autores mais importantes e influentes da área: Émile 
Durkheim, Max Weber e Karl Marx. 
A análise das noções de “globalização” e “multiculturalismo”, tão 
importantes no mundo atual cada vez mais conectado, está presente 
neste livro também. O papel e o lugar do Direito em sua relação com 
a sociedade e a estrutura econômica e social a qual ele regula e qual 
a possibilidade de a prática jurídica promover ou barrar a mudança 
social serão temas também desta obra.
Uma obra abrangente que aborda ainda a Sociologia da 
aplicação do Direito ou a Sociologia dos tribunais e o papel do 
Judiciário no desdobramento da cultura jurídica e na relação com 
os movimentos sociais. 
O estudo deste livro vai fazer a diferença na sua formação. 
Aproveite a leitura!
	Capa E-Book_Sociologia e Antropologia Jurídica_CENGAGE_V2
	E-Book Completo_Sociologia e Antropologia Jurídica_CENGAGE_V2seu objeto está presente em comportamentos sociais variados, como os modos de produção, 
a utilização do tempo, as hierarquias sociais, as estruturas de raça e gênero, por exemplo, que 
implicam na vivência de determinadas experiências, as regras sociais tácitas e explícitas que 
ditam nossa forma de viver, dentre tantos outros exemplos possíveis.
Todas essas condições da vida humana são construções realizadas ao longo do tempo pelo 
próprio ser humano, influenciado também pelas contingências contextuais. Isso traz à tona o 
papel constituinte do ser humano em geral, já que os grupos acabam por ter a capacidade de 
construir seu conjunto de regras, normas e comportamentos, que vão se modificando ao longo 
do tempo. Mesmo que seja possível entender o papel do ser humano nessas transformações de 
maneira muito distinta conforme a perspectiva sociológica adotada, o fato é que as sociedades 
são diferentes e sofrem modificações constantes (ROCHA, 2019. p. 12).
Como essas transformações são absolutamente pertinentes ao estudo sociológico, não há 
como negar a importância crescente da Sociologia no contexto atual, tão marcado por mudanças 
e pelo dinamismo, através, sobretudo, das transformações tecnológicas. É nesse sentido que F. 
A. de Miranda Rosa (2004, p. 23) destaca a crise profunda em que se encontram as sociedades 
humanas, mas também o potencial transformador nelas existente:
As contradições internas se manifestam em forma de explosões reveladoras de forças sociais 
imensas, represas ou em curso; as populações aumentam aceleradamente e com isso as tensões 
13
internas dos grupos sociais, ou as tensões entre grupos diferentes; a ideologia se apresenta com 
enorme capacidade de polarização do pensamento e da ação; o sentido, mesmo, que deve ter a vida 
humana, é posto em questão; mas em meio aos problemas e aos conflitos, há uma vitalidade imensa, 
cheia de espírito criador, da solidariedade, em que um novo eclodir do humanismo se mostra, e quando 
a procura de unidade no essencial rivaliza com a afirmação das diferenças inerentes à personalidade.
É notável, portanto, a importância que se deve dar à Sociologia no mundo atual. Ao vivermos 
tantas mudanças sociais, a tentativa de compreendê-las e sobre elas refletir é um imperativo.
Diante de tamanha complexidade da vida humana em sociedade, especialmente nos dias 
atuais, o objeto de estudo da Sociologia mostra-se bastante abrangente. Para Anthony Giddens, 
então, a Sociologia é “o estudo da vida social humana, dos grupos e das sociedades”, ou seja, seu 
objeto está centrado no nosso próprio comportamento como seres sociais e sua abrangência é 
vasta, na medida em que inclui “desde a análise de encontros ocasionais entre indivíduos na rua 
até a investigação de processos sociais globais” (GIDDENS, 2005. p. 24).
Ainda segundo Giddens, a Sociologia traz vantagens para as pessoas em geral, pois permite 
ao ser humano ter mais consciência das diferenças culturais, já que dá subsídios para que nós 
vejamos o mundo a partir de pontos de vista distintos do nosso. Além disso, o autor considera 
também que a Sociologia é uma importante aliada prática na avaliação dos resultados de iniciativas 
políticas, na medida em que considera vários fatores pertinentes à atuação estatal na construção 
de políticas públicas, por exemplo. Por fim, Giddens destaca que a Sociologia pode nos fornecer 
certo auto-esclarecimento: “ (...) quanto mais sabemos por que agimos como agimos e como 
se dá o completo funcionamento de nossa sociedade, provavelmente seremos mais capazes de 
influenciar nossos próprios futuros. ” (2005. p. 26).
Percebe-se, portanto, que a Sociologia abarca uma variedade enorme de visões teóricas sobre 
a realidade, que enriquece as análises e formas de compreensão do mundo. A Sociologia não é, 
então, um campo intelectual abstrato, mas na verdade possui implicações prática de extrema 
relevância para a vida das pessoas, na medida em que se debruça sobre os comportamentos, 
processos e estruturas sociais (GIDDENS, 2005. p. 36).
14
Figura 1 - Sociedade 
Fonte: Karavai, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Vemos uma diversidade de pessoas diferentes, convivendo e interagindo no 
mesmo espaço, configurando o que chamamos de sociedade
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1.2 Origem da Sociologia: Augusto Comte e o Positivismo
Para entender a origem da Sociologia, é preciso primeiramente esclarecer o contexto em que 
ela surgiu, na França do século XIX. Àquela época, sentindo os efeitos da Revolução Industrial, a 
França se tornava pouco a pouco uma sociedade industrial, marcada pela exploração de mão de 
15
obra barata, sobretudo de mulheres e crianças, em condições nítidas de precarização, além de 
um fluxo desordenado de pessoas que saíam do campo para as cidades, o que gerava problemas 
de habitação, higiene, alta mortalidade infantil, etc. (ROCHA, 2019. p. 14).
Nesse contexto repleto de transformações e dificuldades sociais, surge a Sociologia, com o 
intuito de compreender, por exemplo, os motivos pelos quais a sociedade é estruturada assim e 
como e por que as sociedades mudam (GIDDENS, 2005. p. 28), questões pertinentes até hoje nos 
estudos sociológicos.
Embora não seja possível atribuir a criação desse campo de estudo exclusivamente a uma 
pessoa, certamente o francês Augusto Comte (1798-1857) possui grande destaque na origem da 
disciplina, já que ele foi o primeiro teórico a usar o termo “Sociologia”. 
A perspectiva adotada por Comte é a da ciência positiva. Para o teórico, a Sociologia deveria 
adotar os mesmos métodos científicos que a Física ou a Química para o estudo do mundo físico. 
Assim, para o Positivismo, a ciência deve se preocupar apenas com aquilo que pode ser observável 
e conhecido através da experiência. Tendo por base as observações sensoriais, seria possível 
inferir as leis que regem as relações entre os fenômenos observados (GIDDENS, 2005. p. 28).
Nas palavras do próprio Augusto Comte, “ (...) todos os bons espíritos repetem (...) que 
somente são reais os conhecimentos que repousam sobre fatos observados” (COMTE, 1978. 
p. 4). Segundo Comte, o pensamento humano teria passado por três estágios na tentativa de 
compreensão do mundo: teológico, metafísico e positivo. No plano teológico, os esforços eram 
guiados pelas ideias religiosas e crença segundo a qual a sociedade era a expressão da vontade 
divina. Já no estágio metafísico, ocorrido mais ou menos na época da Renascença, a sociedade 
passa a ser vista da perspectiva natural, e não sobrenatural. Por fim, no estágio positivo, 
influenciado pelas descobertas de Copérnico, Newton e Galileu, tem-se a aplicação de técnicas 
científicas (das ciências naturais) ao mundo social (GIDDENS, 2005. p. 28).
Além disso, ainda no que diz respeito à primazia da experiência, preconizada por Comte, 
o autor considera importantes dois principais fatores: a observação em si, ou seja, “o exame 
direto do fenômeno tal como ele se apresenta naturalmente”, e a observação do fenômeno já 
“modificado em circunstâncias artificialmente construídas” (SOUZA, 2008. p. 139).
Diante da influência decisiva das ditas “leis naturais”, a concepção positivista de Comte 
aduz que a evolução social está, na verdade sujeita, a essas leis naturais, que não podem ser 
modificadas pela natureza humana. Isso leva à inutilidade, do ponto de vista comteano, da 
resistência ao desenvolvimento inevitável da sociedade. Assim, como consequência lógica da 
teoria de Comte, chega-se a um dos pontos mais importantes e também mais polêmicos de 
sua teoria, que considera haver um determinismo no mundo social, em que os fatos estão “(...) 
rigorosamente encadeados uns aos outros, segundo leis naturais, que a observação filosófica do 
16
passado pode descobrir, e determinam, para cada época, de maneira inteiramente positiva, os 
aperfeiçoamentos que o estado social deve experimentar” (SOUZA, 2008. pp. 139-140).
De todo modo, a teoria positivista teve e ainda tem uma forte influência na concepçãode 
diferentes conceitos e teorias nas mais diversas áreas do conhecimento, incluindo o Direito. 
Embora haja um grande determinismo na explicação do mundo social, que deixa as análises 
herméticas em alguma medida, sem dúvida Augusto Comte possibilitou importantes formas de 
análise da sociedade e dos processos e estruturas sociais inerentes à vida humana.
2. SIGNIFICADO E OBJETO DA SOCIOLOGIA E DA 
ANTROPOLOGIA DO DIREITO
Agora, é importante nos determos mais sobre a Sociologia já no contexto do Direito. Como 
veremos, há uma enorme pertinência não só da Sociologia no campo jurídico, como também da 
Antropologia. Por isso, veremos o que cada um desses ramos tem por objeto e sua relevância 
para o Direito, além de diferenciarmos a Antropologia e a Sociologia do Direito.
2.1 Concepção e objeto da Sociologia do Direito
Após tratarmos da Sociologia geral compreendendo seu escopo, seu objeto e sua origem, 
cabe agora melhor analisar sua pertinência no estudo jurídico propriamente dito. Como já vimos, 
a Sociologia se debruça sobre os comportamentos, as estruturas e os processos sociais, buscando 
entender o funcionamento da sociedade como um todo. Nas sociedades contemporâneas, o 
Direito é entendido também como o conjunto de normas que regulam a vida social, servindo para 
dirimir conflitos e estabelecer parâmetros de conduta (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 7).
Segundo José Manuel de Sacadura Rocha, a Sociologia aplicada ao Direito interessa-se pelo 
estudo do Direito com base nos fenômenos sociais. Isso porque as sociedades instituem regras 
e leis que orientam e obrigam os indivíduos em sua sobrevivência conjunta. Para o autor, “o 
objeto da Sociologia Jurídica é a contribuição que o determinado grupo humano empresta 
para a consagração e formalização dessas regras, ou seja, entender a norma, escrita (aparelho 
jurídico formal), ou não escrita (extrajurídico) ”, a partir de da relação dos fenômenos sociais com 
formações sociais específicas de cada sociedade (ROCHA, 2019. p. 23).
Rocha (2019, p. 23) aponta algumas perguntas sobre as quais a Sociologia Jurídica busca 
refletir, tais como: qual a magnitude do Direito na sociedade?; o que existe no Direito além de 
códigos e dos conceitos meramente legislativos?; como e por que se cria um conjunto de normas?
O que tem se observado já há bastante tempo é a insuficiência em relação à compreensão 
dos fenômenos sociais pelo Direito, o que frequentemente implica em erros de julgamento e 
17
falhas sérias na efetivação da justiça. Isso se dá também com a efetividade das normas jurídicas, 
por vezes produzida e interpretada com certo distanciamento da realidade fática vivida pelas 
pessoas. Assim, é nítido que o Direito positivado – estabelecido em normas, leis e códigos – não 
contempla toda a complexidade da vida em sociedade. Os fenômenos sociais estão acima e antes 
dos códigos legislativos e da formalização no sistema jurídico (ROCHA, 2019. p. 23).
Rocha chama atenção, ainda, às confusões comumente feitas em relação à Sociologia Jurídica. 
Segundo o autor, por vezes juristas tendem a subordinar a Sociologia ao Direito, o que implica em 
um privilégio equivocado da norma em detrimento da formação social. Para ele, “não é um erro 
simples; é, simplesmente, a supressão da ordem das coisas como estas são”, que pode resultar 
em um Direito desprovimento de movimento e flexibilidade para adequação à vida concreta 
(ROCHA, 2019. pp. 23-24).
Erro semelhante é cometido, também, pelos cientistas sociais que retiram do Direito seu 
papel ativo na sociedade e submete-o integralmente aos fenômenos sociais, tratando-o de como 
um mero conjunto de normas para resolução de conflitos específicos (ROCHA, 2019. p. 24).
Trata-se, igualmente, de uma visão reducionista e empobrecedora em relação ao Direito. A 
relação entre os objetos da Sociologia e o Direito é dialética e dialógica, de constituição mútua: 
da mesma forma que os fenômenos sociais constituem o Direito, tais fenômenos são por ele 
constituídos. O Direito faz parte da realidade social; não pode ser visto como letra fria e sem vida, 
como se sua existência não repercutisse diretamente na vida das pessoas:
O Direito tem de observar de perto essa dinâmica, a interação entre sociedade e norma, encarar 
a mudança na medida exata da mudança das estruturas sociais e de seu aparato jurídico, diante das 
expectativas e tensões pertinentes na vida prática dos agentes sociais inseridos em um contexto de 
modernidade. E, de forma igual, a Sociologia há de reconhecer a penetração do Direito na vida social 
(ROSA, 2004. p. 25).
Nesse sentido, apesar dessa relação indissociável entre a Sociologia e o Direito, é possível 
dizer que a Sociologia Jurídica goza de certa autonomia, já que seu objeto é mais específico em 
relação a outros campos do conhecimento. Segundo Cavalieri Filho, a Sociologia Jurídica tem 
por finalidade o estabelecimento de “(...) uma relação funcional entre a realidade social e as 
diferentes manifestações jurídicas, sob forma de regulamentação da vida social, fornecendo 
subsídios para suas transformações, no tempo e no espaço” (CAVALIERI FILHO, 2007. p. 58).
É importante ter em mente, ainda, que a norma jurídica é resultado da realidade social. 
Conforme Rosa: “Ela emana da sociedade, por seus instrumentos e instituições destinados a 
formular o Direito, refletindo o que a sociedade tem como objetivos, bem como suas crenças 
e valorações”. Aliás, o próprio estudo histórico das sociedades comprova isso, na medida em 
que é facilmente observável a existência de estruturas jurídicas bem distintas no tempo e no 
espaço, conforme a realidade e o contexto do momento (ROSA, 2004. p. 44). Sem nos determos 
18
sobre este ponto, basta pensarmos nas mudanças que o divórcio sofreu ao longo do tempo no 
sistema jurídico brasileiro, com uma aceitação muito maior em relação às décadas passadas, 
acompanhando também transformações sociais.
Além disso, de Acordo com Rocha (2019), a Sociologia Jurídica tem algumas premissas que 
merecem ser destacadas brevemente:
Premissas da Sociologia Jurídica
• Pluralismo Jurídico, ou se, a diversidade de concepções do que vem a ser o Direito, das 
fontes do Direito e das formas de se sistematizar a juridicidade em uma sociedade.
• Compreensão da função das normas
• Eficácia normativa, ou seja, os efeitos produzidos pela norma. 
Assim, o que se percebe com essas premissas é uma relação mais concreta que a Sociologia 
Jurídica estabelece com os fenômenos jurídicos, já que se referem às formas de estruturação do 
Direito e às normas em sua realidade prática e os seus efeitos possíveis. A Sociologia Jurídica, 
mesmo que através de diferentes perspectivas teóricas, explora os fenômenos jurídicos em 
seus efeitos, causas, processos e estruturas sociais, focando o olhar para o funcionamento da 
normatividade (em sentido lato) na vida social.
2.2 Concepção e objeto da Antropologia Jurídica
Além da Sociologia do Direito, há um outro campo de estudo social no Direito, a chamada 
Antropologia Jurídica. Da mesma forma que ocorre com a Sociologia, o objeto de estudo 
antropológico é abrangente e de difícil definição, já que se concentra também por aspectos da 
vida em sociedade.
Olney Queiroz Assis e Vitor Frederico Kümpel destacam esse caráter diversificado da 
Antropologia, que aborda diferentes aspectos da realidade humana. No seu surgimento, em 
meados do Séxulo XIX, a Antropologia debruça-se sobre as sociedades primitivas (ASSIS et 
al.,2010. p. 17), a fim de entender suas formas de organização, costumes, evolução no tempo e 
no espaço etc.
Posteriormente, já no século XX, a Antropologia amplia seu objeto e passa a analisar não 
apenas as sociedades primitivas, mas qualquer sociedade em qualquer tempo, de modo que 
seu objeto passaria a ser “o estudo do homem inteiro”. Assim, ela visaria o conhecimento por 
completo do ser humano, implicando no estudo do homem e da cultura em todas as suas 
dimensões (ASSIS et al.,2010. p. 17).
Diante da complexidade da vida humana,a Antropologia se divide em alguns ramos, com 
19
enfoques diferentes. O primeiro ramo é o da Antropologia cultural, que consiste segundo Assis et 
al. (2010, pp. 17-18): “ (...) no estudo de tudo que constitui as sociedades humanas: seus modos 
de produção econômica, suas descobertas e invenções, suas técnicas, sua organização política e 
jurídica, (...) suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia (...)”.
Temos, ainda, a Antropologia biológica. Nesse caso, o enfoque de estudo está voltado para 
a evolução do homem, sua distribuição em grupos étnicos, além da análise de relações entre 
patrimônio genético e espaços geográficos. Já a Antropologia pré-histórica, por sua vez, envereda-
se pelo estudo dos vestígios materiais deixados nos ambientes ocupados pelo ser humano, na 
busca da reconstituição de sociedades e grupos desaparecidos. Por fim, a Antropologia linguística 
ocupa-se da linguagem enquanto patrimônio cultural de sociedade, considerando a relevância dos 
processos comunicacionais para a expressão de pensamentos, crenças e valores (ASSIS et al., 2010).
Evidentemente, todos esses ramos se entrelaçam de alguma maneira e possuem uma relação 
de complementaridade. Contudo, certamente os estudos da Antropologia cultural possuem 
maior repercussão no campo jurídico, já que seu objeto relaciona-se mais com o Direito e com as 
estruturas e formações políticas, normativas e sociais tão pertinentes ao Direito. Nesse sentido, 
a Antropologia cultural é dividida entre a Etnografia e a Etnologia, consideradas métodos da 
pesquisa antropológica. Segundo Assis et al. (2010), podemos defini-las como:
• Etnografia diz respeito ao trabalho de campo de observação, descrição e análise de gru-
pos humanos, considerando suas particularidades. 
• Etnologia busca utilizar comparativamente os documentos apresentados pelo etnógrafo, 
integrando conhecimentos de grupos, reconstituindo o passado de determinadas socie-
dades. 
As conexões do Direito com a Antropologia são evidentes, visto que o ser humano constitui 
objeto central dessas duas áreas do conhecimento, motivo pelo qual temas como igualdade e 
diferença são, ao mesmo tempo, jurídicos e antropológicos. Além disso, o direito constitui um dos 
aspectos da cultura, e esta constitui objeto específico da antropologia cultural. A antropologia, tal 
como o direito, também se interessa pelos conflitos sociais, principalmente no que diz respeito 
à intervenção normativa na decisão jurídica desses conflitos, bem como pelo desdobramento da 
ordem jurídica diante das transformações culturais, sociais, políticas e econômicas.
Quando inserida especificamente no estudo jurídico, então, a Antropologia tem por objeto 
o estudo do ser humano enquanto “ser normativo”, isto é, “(...) a utilidade e eficiência das 
regras de conduta a partir do conjunto de mecanismos culturais que cada grupo estabelece para 
sobreviver” (ROCHA, 2018. p. 36).
 Além disso, a Antropologia jurídica permite descobrir e compreender o Direito encoberto pela 
legislação, pela normatividade formal. Isso é importante também para que a sociedade acompanhe 
20
as evoluções jurídicas para um Direito mais flexível e maleável, por exemplo. Nesse sentido, 
o Pluralismo jurídico (sobretudo do ponto de vista normativo) ocupa igualmente um espaço de 
relevância para a Antropologia, na medida em que se aceita com mais clareza a existência de 
normatividades diferentes daquelas legislativas e estatais (ASSIS, KÜMPEL, 2010. pp. 49-50).
Como exemplo, Assis e Kümpel destacam a normatividade existente em favelas do Rio de 
Janeiro, onde há uma legalidade alternativa para resolução de conflitos e solução de outros 
problemas comunitários, o que representa o exercício de um poder político alternativo, mesmo 
que de forma incipiente. Segundo os autores, a preponderância de procedimentos com maior 
oralidade e informalidade tem inspirado mudanças no direito estatal, sobretudo em tribunais de 
pequenas causas e na aplicação das penas ditas alternativas (ASSIS, KÜMPEL, 2010. pp. 50-51).
Assim sendo, embora a Antropologia pareça ser complexa, seu estudo é pertinente para o 
Direito justamente nas formas mais simples e cotidianas de normatividades e legalidades, que 
mostram formas de organização de condutas, bem como possibilitam a análise dos efeitos das 
normas estatais em grupos e comunidades, avaliando a recepção da legislação na sociedade.
Figura 2 - Vista aérea da favela da Rocinha no Rio de Janeiro (RJ) 
Fonte: Donatas Dabravolskas, Shutterstock, 2020
#ParaCegoVer: Vemos uma foto aérea da cidade do Rio de Janeiro, destacando a favela da 
Rocinha, e a sua proximidade com bairros nobres. Nota-se o contraste entre as construções da 
favela e dos bairros vizinhos. 
21
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3. PARADIGMAS DO PENSAMENTO SOCIAL
Ao refletirmos sobre os paradigmas do pensamento social, vamos focar em dois paradigmas 
principais: a Modernidade e a Pós-modernidade. Embora a princípio possa parecer uma tarefa 
complexa, veremos que se trata de entender os modelos e padrões de pensamento social em 
determinadas épocas, ou seja, compreender basicamente como se estruturam os pensamentos 
sociais a partir desses paradigmas tão importantes historicamente e na atualidade.
3.1 Paradigmas do pensamento social: a Modernidade
Historicamente, podemos afirmar que a Modernidade tem início com a Revolução Francesa, 
ocorrida no fim do século XVIII. Esse contexto foi marcado pela tomada do poder pela burguesia, 
e pelo surgimento de novas concepções filosóficas de mundo, como o Iluminismo, com a defesa 
da “(...) crença na razão como promotora de progresso e da felicidade, a rejeição ao governo 
absolutista e aos privilégios da nobreza e do clero, e também a crítica à interferência da igreja nas 
questões de Estado” (ESCOBAR, 2010. p. 72).
Com a influência das ideias iluministas, cresceu também a defesa de um governo regido por leis, 
que protegeria os cidadãos contra abusos de poder por parte dos governantes e consagraria a igualdade 
formal entre os cidadãos. Além disso, o Racionalismo igualmente passou a ganhar importância, de 
modo a propugnar a razão como instrumento de solução dos problemas vividos. Paralelamente a 
esses fatos, inovações tecnológicas foram pouco a pouco implementadas na sociedade e o modo de 
produção capitalista substituiu as formas econômicas feudais (ESCOBAR, 2010. pp. 72-73).
A Modernidade trouxe, portanto, uma orientação para o futuro, havendo um sentido de 
continuidade e descontinuidade, ordem e caos, estabilidade e instabilidade (BEZERRA, 2011. p. 
180). A potencialidade de transformação da Modernidade veio não só das mudanças tecnológicas, 
22
mas também de aspectos epistemológicos, isto é, em relação àquilo que passou a ser considerado 
válido como conhecimento e saber.
Antes, o ser humano estava de certa forma preso às certezas das perspectivas míticas e 
religiosas que predominavam na maneira de se entender o mundo e o próprio ser humano. 
Além da importância do Iluminismo na Modernidade, o Universalismo também apareceu como 
a dimensão generalizadora do projeto civilizatório pensado nessa época, de modo que se levava em 
conta postulados com a pretensão universalista acerca da natureza humana para se compreender 
o ser humano de maneira homogênea. Assim, quaisquer conflitos poderiam ser resolvidos a partir 
dessas noções aplicáveis a todos em qualquer contexto (BEZERRA, 2011. pp. 182-183).
É preciso ressaltar, ainda, que essa mudança na maneira de enxergar o mundo e o ser humano, 
com uma valorização do papel da razão em detrimento do pensamento mítico-religioso, não era 
homogênea. Diferentes perspectivas situadas na tradição moderna chocaram com abordagens 
diversas e até críticas a alguns aspectos da própria Modernidade, como é o caso de Karl Marx e 
Max Weber, que veremos melhor nessa disciplina.
De todo modo, a Modernidade ficou caracterizada pelo surgimento de um sujeito autônomo, 
com pretensões mais claras de liberdade e que passou aenxergar na sua existência com um 
potencial de transformação da realidade posta, sobretudo através da racionalidade agora 
colocada em destaque.
3.2 Paradigmas do pensamento social: a Pós-Modernidade
Diante dos sérios problemas vividos na Modernidade, como as duas grandes Guerras Mundiais, 
a ascensão de regimes Totalitários e as crises econômicas no mundo afora, os fundamentos do 
pensamento moderno começaram a ser questionados e dar lugar a outras ideias e lutas até então 
relativamente silenciadas nos pelos paradigmas dominantes. Assim, nas décadas de 1960 e 1970, 
apareceu o que se convencionou chamar de pensamento pós-moderno.
Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, surgiram outras categorias de sujeitos e de 
entendimento em relação à própria vivência humana. “Emergem novas categorias sociais: o 
colonizado, a raça, a marginalidade, o gênero e similares”, além de uma crescente contestação 
por parte das populações de países tidos como “periféricos” (BEZERRA, 2011. p. 191).
Assim, a Pós-Modernidade fundou-se na crítica à crença moderna na razão como instrumento 
para emancipação universal do ser humano, como se a história fosse um processo unitário que, 
por meio de formas universais, pudesse levar a humanidade ao progresso. Porém, “(...) pensar a 
história como processo unitário só era possível porque tal pensamento se ancorava na existência de 
um centro a partir de onde se recolhiam e ordenavam os acontecimentos” (BEZERRA, 2011. p. 195).
23
Na Pós-Modernidade, há um entendimento de que existem diversas narrativas nas 
sociedades e na humanidade em geral, de modo que considerar a história como tal um processo 
unitário seria ignorar essas tantas e variadas formas de vivências. Nesse sentido, alguns teóricos 
(como Vattimo) entendem que as mídias de massa contribuíram para esse processo ao dar voz 
a essas novas narrativas, mesmo que essas mesmas mídias tenham contribuído também para a 
massificação e hegemonia de determinadas estruturas culturais (BEZERRA, 2011. p. 196).
Para Jean-François Lyotard, a Pós-Modernidade é caracterizada pela incredulidade em relação 
aos “metarrelatos”, ou seja, a uma grande narrativa que explica o ser humano e o mundo, como 
a da Modernidade a respeito da razão como instrumento para o progresso histórico. Assim, a 
função narrativa “(...) se dispersa em nuvens de elementos de linguagem narrativos, mas também 
denotativos, prescritivos, descritivos etc., cada um veiculando validades pragmáticas sui generis” 
(LYOTARD, 2009. p. xvi).
Como consequência dessas alterações que decompuseram os “grandes relatos”, Lyotard 
acredita que houve a dissolução do vínculo social e a passagem de coletividades sociais a uma 
massa composta por átomos individuais. Nesse processo, a comunicação e os jogos de linguagem 
ganham cada vez mais centralidade (LYOTARD, 2009. p. 30), como foi dito a respeito das mídias 
de massa, por exemplo.
Segundo Bauman, há um amontoamento das diferenças, que se tornam objeto de disputa, 
com estilos e padrões concorrentes. Trata-se de um suposto amor à diferença, em que todos 
devem se mostrar seduzidos pela “(...) infinita possibilidade e constante renovação promovida 
pelo mercado consumidor, de se regozijar com a sorte de vestir e despir identidades, de passar a 
vida na caça interminável de cada vez mais intensas sensações” (BAUMAN, 1998. p. 23).
Dessa forma, é importante pensar a Pós-Modernidade como a época da relativização das grandes 
narrativas e de certos valores que eram tidos como pretensamente universais, como a crença no 
progresso natural da humanidade e na razão como instrumento para tal. E, nesse contexto, surgem 
novas identidades sociais, novos comportamentos que brigam por espaço, sendo que o. O caráter 
cibernético e informatizado da sociedade é um traço marcante das novas formas de comunicação e 
entendimento da realidade, tornando essa nova realidade fluida e mais mutável.
FIQUE DE OLHO
Há no Brasil, nos últimos anos, novas correntes sociológicas que vêm apresentando visões 
diferentes sobre a realidade brasileira, com noções de interseccionalidade e as problemáticas 
de raça, gênero, classe etc, além das perspectivas chamadas de “decoloniais”, que buscam 
construir um conhecimento a partir de paradigmas próprios da vivência brasileira e periférica.
24
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• aprender que a Sociologia busca estudar as estruturas, processos e comportamentos 
sociais, de modo a tentar entender o funcionamento da sociedade;
• compreender o Positivismo, como uma das formas originárias da Sociologia, marcado 
pela crença de que a sociedade é regida por leis universais, tal como as ciências 
naturais;
• entender a Sociologia do Direito como uma disciplina que foca na análise da 
normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos em seus efeitos e 
causas nas estruturas e processos sociais;
• analisar as diferenças entre a Sociologia do Direito e a Antropologia do Direito que 
foca na análise da normatividade na vida social, observando os fenômenos jurídicos 
em seus efeitos e causas nas estruturas e processos sociais;
• compreender que a Antropologia jurídica tem por objeto o ser humano enquanto ser 
social, a partir da observação de comportamentos de grupos e sociedades;
• analisar a Modernidade e a Pós-Modernidade como como paradigmas do 
pensamento social, em que a primeira diz respeito à primazia da razão como forma 
de compreender o mundo e como instrumento para o progresso da humanidade, 
e a segunda é fortemente marcada pela fluidez e relativização de identidades e 
comportamentos, bem como pela inexistência de metanarrativas para a sociedade.
PARA RESUMIR
ASSIS, et al. Manual de antropologia jurídica – São Paulo: Saraiva, 2011.
BAUMAN, Z. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
BEZERRA, T. C. E. “Modernidade e pós-modernidade: uma abordagem preliminar”. In: 
Textos e Debates (UFRR), v. 1, p. 176-202, 2011.
CAVALIERI FILHO, S. Programa de Sociologia Jurídica. Rio de Janeiro: Forense, 2007.
COMTE, A. Curso de filosofia positiva. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
ESCOBAR, K. Modernidade e pós-modernidade: promessas, dilemas e dafios a condição 
humana. Cadernos UniFOA (Impresso), v. 12, p. 71-80, 2010.
GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.
LYOTARD, J. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2009.
ROCHA, J. M. de S. Sociologia Jurídica: fundamentos e fronteiras – 6ª ed. Rio de Janeiro: 
Forense, 2019.
ROCHA, J. M. de S. Antropologia Jurídica: Geral e do Brasil. 5ª ed. Salvador: JusPodivm, 
2018.
ROSA, F. A. de M. Sociologia do direito: o fenômeno jurídico como fato social – 17ª ed. 
rev. e atual. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
SOUZA, R. L.de. A ordem e a síntese: aspectos da sociologia de Auguste Comte. In: Revis-
ta Cronos, Natal-RN, v. 9, n. 1, p. 137-155, jan./jun. 2008.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNIDADE 2
Perspectivas sociológicas
Olá,
Iniciaremos o estudo da unidade II de Sociologia e Antropologia Jurídica com as 
abordagens do campo da Antropologia sobre a cultura. Em seguida, trataremos das 
relações entre cultura e sociedade na Sociologia. Após uma breve apresentação das 
perspectivas de teóricos importantes a respeito da problemática do crime e do desvio 
social, estudaremos as perspectivas sociológicas de três dos autores mais importantes e 
influentes desta disciplina: Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx. As interseções da 
obra destes autores com o Direito também serão abordadas nesta unidade.
Bons estudos!
Introdução
29
1 INDIVÍDUO, CULTURA E SOCIEDADE
Neste tópico, analisaremos com maior detalhe algumas nuances importantes para o estudo 
da Sociologia e Antropologia do Direito: a cultura por uma perspectiva antropológica; cultura e 
sociedade; crime e desvio social. São aspectos de grande relevância para o estudo do Direito, uma 
vez que dizem respeito a fenômenos sociais abarcados pelo âmbito jurídico em geral.
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1.1Abordagem antropológica da cultura
O entendimento da Ciência Social a respeito do que significa o termo “cultura” e que 
fenômenos ele compreende se modificou sensivelmente ao longo dos últimos séculos. Antes 
do surgimento e consolidação da Antropologia como disciplina – ocorrida a partir do século XIX 
-, a visão predominante entre filósofos e historiadores europeus apresentava uma concepção 
acerca do fenômeno cultural que John Thompson (2000) denominou como concepção clássica de 
cultura, por vezes também denominada como normativa.
O termo era frequentemente associado a um processo de desenvolvimento e enobrecimento 
das faculdades humanas, o qual seria facilitado pela assimilação de trabalhos artísticos e 
acadêmicos e estaria ligado ao caráter progressista da Modernidade e da racionalidade do 
período Iluminista.
Este último elemento, ligado à perspectiva clássica, foi alvo de fortes críticas e é uma das 
principais razões para que esta perspectiva tenha sido superada na produção acadêmica: 
ela indicava uma superioridade de certos valores e ofícios em relação a outros e apresentava 
conotação fortemente eurocêntrica, dando centralidade excessiva ao legado Iluminista (LOPES, 
2014).
30
O desenvolvimento do campo antropológico na segunda metade do século XIX, associado 
à proliferação dos trabalhos etnográficos na disciplina voltados a comunidades fora da Europa, 
impulsionou mudanças na concepção predominante sobre o conceito “cultura”, abrindo 
espaço, inicialmente, para a chamada concepção descritiva. O primeiro conceito propriamente 
antropológico de cultura, elaborado por Edward Taylor, considera o fenômeno como “(...) todo 
o complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra 
capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (TAYLOR apud 
LARAIA, 1997, p. 25).
Historiadores culturais e antropólogos da época, ainda que adotando inovações e 
particularidades a partir da ideia apresentada - como, por exemplo, o particularismo e o 
relativismo da abordagem de Franz Boas, e o funcionalismo de Bronislaw Malinowski –, 
partilhavam a perspectiva de que a cultura de um grupo se refere às ideias, valores, crenças e 
costumes, assim como os instrumentos materiais e objetos tangíveis que os indivíduos adquirem 
enquanto membros de determinada sociedade.
Ao mesmo tempo, se verificavam divergências entre os pesquisadores da época acerca do 
referencial de aplicação deste conceito – se a partir de uma ótica evolucionista, ou objeto de uma 
análise funcional (LOPES. 2014).
Dentre as ressalvas feitas por antropólogos à perspectiva descritiva, estariam a excessiva 
amplitude e vagueza do conceito de cultura, que poderia se tornar redundante, confundindo-
se com o próprio termo “Antropologia”, quando não associado a uma maior especificação do 
método de análise. Para contrapor-se a este problema, desenvolveu-se a concepção simbólica 
de cultura, inicialmente esboçada por L. A. White. O autor considerou que o ser humano e a 
cultura são inseparáveis e interdependentes. A atribuição de símbolos e dos significados seria 
uma capacidade inerente à humanidade, e a cultura seria realizada por meio destes atos de 
simbolização (WHITE, 2009).
Esta conceituação influenciou a construção da perspectiva semiótica de Clifford Geertz, que 
colocou o tema da cultura em posição de centralidade nos debates da disciplina. Na conhecida 
obra A interpretação das culturas, Geertz (1989) avalia que, ainda que em seu sentido mais 
amplo a cultura diga respeito à toda produção humana material e imaterial, esta é uma teia de 
significados tecida pelo homem, que orienta sua existência. Trata-se de um padrão de significados, 
representados na forma de símbolos, que interage em meio às relações comunicacionais dos 
indivíduos de forma recíproca. O autor define símbolo como qualquer ato, objeto, acontecimento 
ou relação que represente um significado.
As diferenças entre estas duas concepções possuem implicações profundas na pesquisa 
antropológica. Enquanto a análise simbólica visa elucidar padrões de significado e interpretar 
os mesmos de forma incorporada às formas simbólicas, a pesquisa orientada pela abordagem 
31
descritiva se volta à classificação e à análise científica, interdependência funcional e mudanças 
evolutivas (LOPES, 2014).
Os opositores da concepção simbólica, como Thompson (2000), alegam a debilidade da 
mesma para considerar questões relativas ao poder e ao conflito, a negligência aos contextos 
sociais onde se produzem e transmitem os fenômenos culturais.
Este antropólogo buscou formular a chamada concepção estrutural da cultura, a qual buscaria 
investigar os contextos e processos historicamente específicos e socialmente estruturados nos 
quais formas simbólicas são produzidas, transmitidas e recebidas (THOMPSON, 2000). Em tal ótica, 
os fenômenos culturais são percebidos como formas simbólicas socialmente contextualizadas; 
enquanto que a análise cultural trata do estudo da constituição significativa e da contextualização 
social das mesmas (LOPES, 2014).
A abordagem estrutural se difere da simbólica e apresenta uma vantagem analítica em 
relação à mesma, portanto, ao enfatizar, ao mesmo tempo, o caráter simbólico dos fenômenos 
culturais e o fato de que esses fenômenos estão sempre inseridos em contextos socialmente 
estruturados – que envolvem conflitos, relações de dominação (muitas vezes cristalizadas no 
direito) e desigualdades na distribuição de recursos (LOPES, 2014).
A construção das abordagens simbólica, semiótica e estrutural da cultura foram responsáveis 
diretamente pela ascensão do status elevado atribuído ao tema da cultura a partir da década 
de 1960. Um marco neste sentido é a criação da área interdisciplinar dos Estudos Culturais, 
cujos principais colaboradores foram Raymond Williams e Stuart Hall. Com isto, a cultura passa 
a exercer um papel de destaque nas discussões acadêmicas e sociais envolvendo a estrutura e a 
organização da vida cotidiana das pessoas, a partir da compreensão de que toda a prática social, 
sendo prática discursiva, possui uma dimensão cultural (GODOY; SANTOS, 2014).
Na Sociologia, o conceito de cultura diz respeito aos aspectos aprendidos e partilhados pelos 
membros da sociedade e que permitem a comunicação e cooperação entre indivíduos e grupos. 
Ele se refere ao contexto em que os eles vivem suas vidas e envolve tanto aspectos tangíveis 
(tecnologia, objetos, símbolos) como intangíveis (valores, ideias e crenças) (GIDDENS, 2008).
Embora haja distinções conceituais entre os termos “cultura” e “sociedade”, há fortes conexões 
entre eles. Sociedades são, nas palavras de Anthony Giddens (2008), sistemas de interrelações 
que envolvem coletivamente um conjunto de indivíduos. Uma sociedade pode englobar milhões 
de pessoas ou apenas algumas dezenas delas, mas o elemento que faz tanto uma gigantesca 
nação, quanto uma pequena tribo indígena ser conceituada com o mesmo termo, é a organização 
destes dois conjuntos em relações sociais estruturadas a partir de uma cultura comum. Desse 
modo, culturas não podem existir sem sociedades e vice-versa. Consequentemente, variações 
culturais identificadas entre seres humanos se relacionam fortemente com as diferenças entre 
32
tipos de sociedade diversos.
Todas as culturas se orientam por um conjunto de ideias abstratas ou valores, os quais 
atribuem significados e orientam os indivíduos na interação com o mundo social, e que definem 
o que é importante, desejável ou útil (GIDDENS, 2008). Os valores de uma determinada cultura 
usualmente são refletidos ou incorporados nas regras de comportamento (normas) da sociedade, 
reforçando em mão dupla o comportamento das pessoas. Muitas vezes, hábitos culturais estão 
de tal forma enraizados e naturalizados que sequer são percebidos como tais, e podem persistir 
ainda que setores da sociedade em questão atuem ativamente para modificá-los.
A socialização, embora seja processo fundamental de moldee influência do comportamento 
dos indivíduos, não anula a individualidade ou o livre arbítrio dos mesmos. Ela é vista como 
condição e origem da formação da identidade dos seres humanos, que organiza o sentido e a 
experiência de suas vidas – quem eles são, o que é importante para os mesmos e quais atributos 
eles reivindicam para si.
Em sociedades modernas de grande porte, também é comum que existam valores e ideias 
contraditórias e em disputa, conflitos estes que não raro alcançam o terreno da política e do 
direito. Nesse aspecto, o elemento demográfico contribui de forma decisiva: há uma tendência de 
que sociedades de grande porte apresentem maior nível de diversidade cultural e, inversamente, 
FIQUE DE OLHO
A pesquisa sociológica tem como pressuposto de que uma cultura precisa ser estudada 
considerando os seus próprios valores e significados. Este relativismo cultural é necessário 
para que se evite uma conduta oposta e que pode ser danosa para a disciplina: o 
etnocentrismo, ou seja, realizar juízos de valor acerca de culturas diferentes tendo como 
medida de comportamento a cultura de origem do pesquisador. Tal procedimento envolve 
desafios, especialmente em casos limítrofes que coloquem em questão comportamentos 
que atentem a princípios centrais e fundamentais para outras culturas.
Como a cultura se refere a elementos que são aprendidos e não inatos, também interessa 
o processo pelo qual os membros da sociedade aprendem e apreendem os modos de vida 
da comunidade em que se inseriram. A socialização é o principal canal de transmissão 
cultural ao longo do tempo, e se trata de um processo vitalício e contínuo de configuração 
do comportamento humano através das interações sociais (GIDDENS, 2008) – aspecto 
temporal este que também é decisivo na modificação gradual de hábitos e valores adotados 
comunitariamente.
33
que sociedades de pequena dimensão apresentem maior uniformidade cultural. Neste caso, elas 
são chamadas de monoculturais (GIDDENS, 2008).
É importante ressaltar, contudo, que isso não é uma regra geral: sociedades com dezenas 
de milhões de habitantes (como o Japão) podem apresentar menor diversificação que nações 
de menor porte, sobre as quais incidiram fortes influências externas, imigração e integração 
econômica, bem como aquelas com grande diversidade étnica interna (como diversos países 
ocidentais, a exemplo dos Estados Unidos).
Estes processos se intensificaram nas últimas décadas, fazendo emergir o que o sociólogo 
Anthony Giddens denominou como culturas mistas, ou contribuindo para a proliferação de 
subculturas. Estas não se resumem a grupos linguísticos ou étnicos minoritários em uma 
comunidade, mas se referem a “qualquer segmento da população que se distinga do resto da 
sociedade em virtude dos seus padrões culturais” (GIDDENS, 2008, p. 25). Ao mesmo tempo, 
também se verificam setores sociais que optam por rejeitar e/ou questionar parte das normas e 
valores hegemônicos em uma determinada sociedade, valorizando condutas alternativas, o que 
se denominou contracultura.
Diversos autores e correntes teóricas abordaram, sob óticas específicas, fenômenos 
relacionados à cultura nas sociedades contemporâneas. Sem a pretensão de esgotar todas as 
abordagens relevantes no campo da Sociologia a partir de meados do século XX, indicamos aqui 
algumas outras perspectivas influentes:
Desenvolvida pelos intelectuais da chamada Escola de Frankfurt. No que se refere aos 
estudos sobre a cultura, formulou o conceito da cultura de massa, e uma crítica de longo alcance 
da indústria cultural – espaço que promove a padronização e comercialização de expressões 
artísticas, transformadas em mais uma mercadoria –, ambos fenômenos típicos das sociedades 
capitalistas contemporâneas
A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos ativos sociais e conhecimentos 
culturais específicos dos indivíduos aptos a conferir status social e poder aos mesmos numa 
sociedade estratificada.
A noção desenvolvida pelo sociólogo francês se refere aos ativos sociais e conhecimentos 
culturais específicos dos indivíduos aptos a conferir status social e poder aos mesmos numa 
sociedade estratificada.
Perspectiva de que os direitos culturais são exprimidos na defesa de atributos particulares, 
mas cuja defesa possui um sentido universal. Nestes estariam inseridos, segundo o autor, diversas 
das chamadas lutas “identitárias” modernas, de minorias étnicas, sociais, religiosas ou sexuais.
34
Figura 1 - Diversidae étnico-racial 
Fonte: Rido, Shutterstock, 2020
2 CRIME E DESVIO SOCIAL
Como indicado anteriormente, a vida humana em comunidade envolve a adoção de uma série 
de valores e ideias, que acabam por nortear o desenvolvimento de normas e regras de conduta 
nestas sociedades. Em certa medida, trata-se de elemento essencial para a própria existência 
e sustentabilidade das sociedades. A depender do arranjo e da complexidade dessas regras, 
elas podem assumir formas escritas ou não escritas, positivadas num sistema legal ou seguidas 
pelo mero uso ou costume. De qualquer forma, elas delimitam quais condutas são consideradas 
corretas ou não na vida social.
A adoção de determinadas regras implica, necessariamente, duas possibilidades aos 
indivíduos que a elas se sujeitam: respeitá-las ou não. No segundo caso, caracteriza-se o 
comportamento desviante; tema de importância central para o sistema jurídico e político estatal, 
e que historicamente atraiu o interesse do estudo sociológico por conta de suas definições, 
características e de suas diversas implicações.
O desvio pode ser definido, portanto, como ações ou omissões (praticadas individualmente 
ou em grupo) que não estão de acordo com um certo conjunto de normas aceito por um 
número significativo de pessoas de uma sociedade. A não conformidade às normas sociais 
tende a ser acompanhada por uma sanção, que corresponde a qualquer reação de terceiros ao 
comportamento de um indivíduo ou grupo com o objetivo de assegurar o cumprimento de uma 
norma (GIDDENS, 2008).
35
Assim como é virtualmente impossível que um indivíduo apresente um comportamento 
desviante total, desrespeitando em sua integralidade as normas de sua comunidade, certamente 
também é extremamente comum que pessoas rompam, parcial e ocasionalmente, com as regras 
de seu entorno.
De qualquer forma, este conceito tem grande amplitude e corresponde a um fenômeno que 
abarca uma quantidade maior de condutas do que, por exemplo, o que é regulado pelo direito, 
espaço no qual se insere as violações à lei e conceitos como o ato ilícito e o crime.
Nesse sentido, existem duas disciplinas que se voltam, de forma mais estrita, ao estudo do 
desvio social. A Sociologia do desvio procura compreender a razão de certos comportamentos 
serem vistos como desviantes, variações das noções relativas ao desvio numa comunidade, 
dentre outros temas, sem se resumir aos desvios considerados ilícitos ou crimes pelo direito. 
Quando o objeto e o espaço da reflexão científica é o espaço dos comportamentos sancionados 
pela lei, e mais especificamente abarcados pelo Direito Penal e o sistema de justiça criminal, 
estamos no espaço da Criminologia.
Esta, assim como o Direito Penal, possui em seu interior teorias e abordagens metodológicas 
relevantes com pouco contato com a Sociologia do desvio, como as de fundo psicológico ou 
psicanalítico; o estudo da microfísica das relações sociais, a genealogia do poder e a análise da 
metamorfose dos métodos punitivos de Michel Foucault em Vigiar e punir (FOUCAULT, 1987), 
dentre outras. Nessa unidade, nos centraremos nas perspectivas teóricas que influenciaram 
historicamente as três disciplinas.
2.1 Teorias e abordagens históricas sobre o desvio e o crime: a Escola 
Positivista
A primeira perspectiva de destaque que tangencia a Sociologia do desvio, a Criminologia e o 
Direito Penal é a chamada Escola Positivista. Esta se contrapôs à teoria clássica do Direito Penal 
ancorada na obra de Cesare Beccaria e no Iluminismo, passandoa abordar como objeto de estudo 
o criminoso e o seu comportamento. Logo, o delito e o delinquente são considerados patologias 
sociais, devendo a pena ter um propósito utilitarista (BITTENCOURT, 2013).
Seus principais nomes – os italianos Enrico Ferri, Raffaele Garófalo e, especialmente, Cesare 
Lombroso -, defenderam a possibilidade de se identificar a existência de uma determinação 
biológica, inata, sobre o fenômeno da delinquência. Ainda que a socialização pudesse influenciar 
na manifestação do comportamento criminoso, certos indivíduos teriam traços físicos e 
anatômicos que poderiam ser identificáveis e associados à criminalidade, associáveis a um estágio 
menos desenvolvido de evolução humana (BARATTA, 1999). O conteúdo racista e evolucionista, 
de impacto político e social danoso até os dias atuais foi rechaçado pelas perspectivas sociológicas 
posteriores. Ainda que a escola Positivista tenha contribuído para o fomento do olhar científico 
36
para o fenômeno da criminalidade, este era concebido como um fenômeno ontológico, um dado 
da realidade anterior à realidade social e que não se constituía a partir das definições desta.
2.2 Teorias do consenso: o funcionalismo
A partir da obra de Émile Durkheim desenvolveram-se as Teorias funcionalistas sobre o crime 
e o desvio, também chamadas de Teorias do Consenso. Para ele, as razões do desvio não envolvem 
fatores biológicos e naturais. Este fenômeno é visto como algo inerente à toda estrutura social, e 
passa a ser negativo apenas quando se segue a este uma desorganização social de tal modo que 
provoque uma situação anômica (conceito que será retomado na sequência da unidade). Dentro de 
limites funcionais, este tipo de comportamento é necessário para o equilíbrio e o desenvolvimento 
social e cultural, ao impulsionar novos desafios no seio da comunidade e ao contribuir para a 
manutenção de limites claros entre comportamentos saudáveis e danosos à mesma, provocando 
respostas que reforcem a solidariedade do grupo (BARATTA, 1999; GIDDENS, 2008).
Esta visão foi parcialmente modificada por outros nomes célebres do campo das Teorias 
do consenso: as teorias dos grupos subculturais e as de Robert Merton (referência da chamada 
Escola de Chicago). Este agregou a influência da desigualdade econômica e de oportunidades 
no fenômeno criminal, alterando o conceito de anomia, aqui considerada como uma tensão 
sobre o comportamento dos indivíduos frente ao conflito entre a realidade social concreta, as 
normas aceitas e as práticas culturais valorizadas na sociedade. A partir disto, formulou-se um 
modelo teórico com cinco modelos de adequação dos indivíduos no meio social, variando da 
conformidade à rebelião.
2.3 Interacionismo e Teoria do etiquetamento
Outra tradição sociológica despontou a partir de meados do século XX, denominada 
interacionista. Esta foi a primeira a romper de forma marcada com a concepção ontológica do 
crime, rejeitando a noção de que há condutas desviantes ou criminosas por natureza e passando 
a percebê-los como fenômenos socialmente construídos (GIDDENS, 2008). Dentro desta 
perspectiva, destacam-se duas teorias. Primeiro, a da associação diferencial, formulada por Edwin 
Sutherland, que sugeria que o desvio poderia ser aprendido por meio da interação com outros em 
determinados ambientes, utilizando como fenômeno específico de análise os chamados crimes 
de colarinho branco, cometido por indivíduos de classes sociais mais abastadas.
O interacionismo contribuiu para o desenvolvimento de outra perspectiva dotada de maior 
criticidade com o seu objeto de análise: a Teoria do etiquetamento, ou “labeling approach”. A 
“desnaturalização” do crime e do criminoso levou a questionamentos de implicações mais 
profundas relativas ao sistema de justiça criminal. O foco desta abordagem passou a ser as 
instâncias legais e institucionais que definem o que é o delito; os mecanismos de reação social a 
ele e ao criminoso; e quem são os indivíduos “rotulados” como delinquentes, portanto, o estudo 
37
da criminalidade foi substituído pelos estudos da criminalização (ANITUA, 2007). Referência de 
estudo que parte de tal perspectiva é o livro Outsiders, de Howard Becker, escrito entre os anos 
1950 e 1960 (BECKER, 2008 [1963]).
Ainda que possua caráter notadamente contestatório e com pontos de contato com as teorias 
do conflito, a abordagem do etiquetamento tinha um enfoque em processos microssociológicos, 
em detrimento de análises de caráter estrutural e sistêmico. Logo, não tinha como objeto de 
análise os processos sociais de fundo que condicionavam o fenômeno da violência e a organização 
da política criminal nas sociedades capitalistas contemporâneas.
2.4 Teorias do conflito e a Crimnologia crítica
Com estes aspectos em mente, e partindo de premissas e marcos teóricos distintos dos 
funcionalistas e interacionistas, surgiram a partir dos anos 1970 perspectivas teóricas voltadas 
à criminologia denominadas Teorias do conflito. Esta teoria partia geralmente. do pensamento 
marxista, e tinha como referências a relação direito, marxismo e sociologia. Dessa forma, após a 
publicação do livro The New Criminology, de Taylor et al (TAYLOR et al., 2013 [1973]), fomentou-se 
um campo que sustentava que o desvio é uma opção deliberada e não raro de natureza política; 
inserida numa sociedade em estado de constante tensão e luta pelo poder; e estruturada de 
acordo com os interesses da classe dominante, sendo, assim, o sistema de justiça um dos meios 
de controle da classe dominada.
Junto com outras perspectivas filosóficas, sociológicas e jurídicas também de alcance radical 
– associadas ao existencialismo, ao pós-estruturalismo e ao pensamento anarquista -, elas o 
grupo associado à chamada Criminologia crítica, cujas propostas oscilam entre a ampliação e 
estruturação de limites rígidos e especificados à pretensão punitiva estatal; tendo ainda contatos 
com o positivismo jurídico (garantismo penal); passando pela orientação jurídico-política 
de redução do direito penal; por uma política criminal afeita a meios não encarceradores de 
responsabilização de condutas desviantes (minimalismo penal); até os postulados pela abolição 
total da pena privativa de liberdade, da instituição prisão e, em sua instância mais radical, à 
abolição de toda intenção punitiva - o abolicionismo penal (ANITUA, 2007).
38
2.5 Teorias atuariais e do controle social
Por fim, nas últimas décadas também se desenvolveram de modo mais destacado perspectivas 
radicalmente distintas à Criminologia crítica e às Teorias do conflito: as Teorias do controle social. 
Estas usualmente ignoram os processos sociais que fornecem o contexto das atividades criminosas, 
partindo da premissa de que os indivíduos agem racionalmente, atentos às oportunidades e 
ao custo-benefício da atividade criminosa. Ao formular propostas de prevenção e repressão à 
criminalidade, o foco não é a reabilitação dos indivíduos, direcionando-se a técnicas e dispositivos 
de dissuasão. A sua versão mais radicalizada é a chamada “política de tolerância zero”, sendo uma 
de suas variações mais conhecidas a chamada “Teoria das Janelas Quebradas”, implementada 
de forma controversa em Nova Iorque nos anos 1990. Outras perspectivas similares envolvem 
o chamado “atuarialismo” - voltado à gerência do sistema penal efetivamente existente e ao 
controle de “grupos de risco” -, o Direito Penal do inimigo, dentre outras.
As diversas perspectivas apresentadas acima permanecem em discussão e embate, seja no 
âmbito acadêmico, no social ou no político – sendo que o direito, e, mais especificamente, o 
Direito Penal e a política criminal dos Estados contemporâneos possuem dispositivos orientados 
pelas premissas de diversas teorias, em intensidades distintas.
FIQUE DE OLHO
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