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Camille Buger – T8 Problema 3 – Bicho Bravo Empiema, Transudato, Exsudato, Hemotórax, Quilotórax O empiema é uma infecção piogênica ou supurativa do espaço pleural. O empiema pleural é o líquido pleural de aspecto purulento e/ou com identificação de bactérias, seja pelo Gram ou cultura. As principais causas de empiema pleural são: condição pós-pneumonia (comunitária ou hospitalar), pós-operatório, iatrogenia, empiema secundário a trauma torácico, e obstrução brônquica por conta da neoplasia central ou por corpo estranho. febre, tosse produtiva, dor torácica, perda de peso e dispneia. Transudato: líquido com pouco teor proteico, é um ultrafiltrado do plasma sanguíneo resultante de Pressão Hidrostática elevada ou Força Osmótica diminuída no plasma. Coloração amarelo claro, proteína baixa (3g/100 ml, glicose baixapacientes com fibrose cística e imunocomprometidos. Bactérias Atípicas Bactérias atípicas (“atípica” refere-se à resistência intrínseca desses organismos aos beta-lactâmicos e sua incapacidade de serem visualizadas na coloração de Gram ou cultivadas usando técnicas tradicionais): • Legionella spp é comum em indivíduos com condições predisponentes, como doenças cardíaca, renal, imunológica ou hematológica. Receptores de transplantes de órgãos são particularmente suscetíveis. Exposição à água contaminada é um fator de risco para infecção por Legionella • Mycoplasma pneumoniae são particularmente comuns entre crianças e adultos jovens. Ocorrem esporadicamente ou como epidemias locais em comunidades fechadas (escolas, acampamentos militares e prisões). • Chlamydia pneumoniae • Chlamydia psittaci a exposição à aves aumenta a possibilidade de infecção • Coxiella burnetii Vírus Respiratórios • Vírus influenza A e B • Rinovírus • Vírus parainfluenza • Adenovírus • Vírus sincicial respiratório Camille Buger – T8 Fisiopatologia: Os mecanismos normais de defesa do trato respiratório superior e inferior para proteger o indivíduo de infecção consiste em células mucosas e pelo epitélio ciliado para capturar os microrganismos, produção local de imunoglobulina A (IgA) na mucosa nasal para prevenir aderência bacteriana, reflexo de tosse para remover grandes partículas da via aérea inferiores, e o epitélio ciliar e o muco dos brônquios capturam as partículas pequenas para serem removidas pela tosse. O fluído alveolar contem complemento e imunoglobulinas que agem como opsoninas, a fim de os macrófagos alveolares eliminarem as bactérias. Se esses mecanismos de defesa falharem, as bactérias podem replicar-se nos alvéolos onde estimulam a produção local de citocinas e causam extravasamento capilar e acúmulo de plasma e células inflamatórias. A diminuição dos mecanismos de defesa sistêmicos ou dos intrínsecos do pulmão ocorre em geral pela presença de comorbidades ou relacionado ao tratamento destas (medicações imunossupressoras, quimioterapia, corticóides). Após a chegada do microrganismo nos pulmões, o desenvolvimento de um processo infeccioso depende do balanço entre as defesas do paciente e da carga e agressividade (virulência) do microrganismo. Quando os organismos infecciosos atingem os alvéolos, as defesas inatas e específicas entram em ação. Essa sequência inicia um círculo vicioso, no qual células inflamatórias adicionais são atraídas e a liberação subsequente de mais citocinas é estimulada. Na pneumonia bacteriana, a resposta inflamatória do hospedeiro é responsável pela maioria das manifestações da doença. Esse exsudado inflamatório progressivo, que é detectado na radiografia como uma pneumonia, causa um desequilíbrio da ventilação-perfusão, gerando hipoxemia. Para que o processo inflamatório se desenvolva, o microrganismo deve atingir o parênquima pulmonar e existem 4 possibilidades de inoculação, que são: - Via aspirativa: aspiração de micropartículas da orofaringe, durante o sono profundo, alterações do nível de consciência (uso de bebida alcoólica) ou defeitos da deglutição. Normalmente, a cavidade oral é colonizada por bactérias, inclusive anaeróbias, que podem ser aspiradas para o trato respiratório inferior. Em pacientes imunodeprimidos, idosos ou institucionalizados, a frequência de bacilos gram-negativos colonizantes se eleva, predispondo a PAC por esses agentes. - Via inalatória: inalação de partículas respiráveis que ficam suspensas no ar transmitidas por outros pacientes. Mecanismo que ocorre nas pneumonias por vírus, Mycoplasma pneumoniae e Legionella sp. - Via hematogênica: germes lançados na corrente sanguínea provenientes de qualquer órgão podem ficar alojados no pulmão. Esse é um exemplo típico de pneumonia em usuários de drogas injetáveis ou pacientes com endocardite bacteriana. Camille Buger – T8 - Via contiguidade: paciente com infecção próxima ao pulmão que progride e atinge seu parênquima. É um exemplo de abscesso de parede torácica ou subfrênico. Ao contrário da pneumonia bacteriana, o vírus influenza invade diretamente as células do epitélio cilíndrico, originando assim alterações patológicas que vão desde a vacuolização de algumas células epiteliais respiratórias até a descamação de toda a camada epitelial. Essas alterações dispersas que originam o padrão intersticial difuso observado na radiografia de tórax também predispõem a invasão bacteriana secundária. Quadro Clínico: A apresentação clínica da PAC varia amplamente, desde uma pneumonia leve, caracterizada por febre, tosse e falta de ar, até uma pneumonia grave, caracterizada por sepse e dificuldade respiratória. A gravidade dos sintomas está diretamente relacionada à intensidade da resposta imune local e sistêmica em cada paciente. O quadro clínico típico clássico da PAC é representado pela pneumonia pneumocócica. A doença se apresenta de forma hiperaguda, entre 2 e 3 dias, tendo como história principal calafrios, tremores, febre alta (39-40ºC), dor torácica pleurítica e tosse produtiva com expectoração purulenta esverdeada. Sintomas gastrintestinais como diarréia podem surgir em pneumonia causada por Chlamydia ou Legionella. No caso de ocorrer tosse seca, dor de ouvido, meningite bolhosa e, ocasionalmente, presença de estado mental alterado, isso pode sugerir pneumonia causada por M. pneumoniae. A cefaléia é comum nos pacientes com pneumonia por Legionella. O exame físico normalmente evidencia prostração (fraqueza, moleza), taquipneia, taquicardia, hipotensão e hipertermia. Crepitações localizadas e sinais sugestivos de consolidação podem estar presentes em frequência e combinação variáveis, e são sugestivos de pneumonia Dispneia e dor pleurítica também. Realizar inspeção, palpação, percussão e por final a ausculta! É importante notar que os pacientes idosos frequentemente não apresentam febre, tosse ou mesmo dispneia. Camille Buger – T8 Podem apresentar-se com quadro clínico inespecífico, como desorientação, mudanças abruptas da capacidade funcional e descompensação de uma doença previamente estável, como diabete, DPOC ou insuficiência cardíaca. Os achados do exame do aparelho respiratório podem variar de simples estertores até a síndrome de consolidação pulmonar e/ou a síndrome de derrame pleural. A síndrome de consolidação pulmonar é caracterizada pela presença de som bronquial, aumento do frêmito toracovocal, submacicez e broncofonia. Já a síndrome do derrame pleural é identificada pela abolição do murmúrio vesicular e do frêmito toracovocal, submacicez e egofonia. Sinais e Sintomas Pulmonares • Tosse (com ou sem produção de escarro); • Dispneia; • Dor no peito tipo pleurítica. • Achados do exame físico incluem taquipneia, aumento do esforço respiratório e sons respiratórios adventícios, incluindo estertores e roncos. Frêmito toracovocal, egofonia e macicez à percussão também sugerem pneumonia. Esses sinais e sintomas resultam do acúmulo de leucócitos, fluidos e proteínas no espaço alveolar. A hipoxemia pode resultar do comprometimento subsequente das trocas gasosas alveolares. Na radiografia de tórax, o acúmulo de leucócitos e líquido dentro dos alvéolos aparece como opacidades pulmonares. Sinais e Sintomas Sistêmicos: A grande maioria dos pacientes com PAC apresenta febre. Outros sintomas sistêmicos, como calafrios, fadiga, mal-estar e anorexia também são comuns. Taquicardia, leucocitose neutrofílica com desvio para a esquerda ou leucopenia também são achados ocasionados pela resposta inflamatória sistêmica, sendo a leucopeniaum sinal de mau prognóstico. Marcadores inflamatórios, como VHS, PCR e procalcitonina podem se elevar, embora este último seja altamente específico para infecções bacterianas. A gasometria arterial tem como achados mais frequentes a hipoxemia e a alcalose respiratória. A PAC também é a principal causa de sepse; assim, a apresentação inicial pode ser caracterizada por hipotensão, estado mental alterado e outros sinais de disfunção orgânica, como disfunção renal, disfunção hepática e/ou trombocitopenia. Diagnóstico: O diagnóstico da pneumonia baseia-se em achados clínicos (febre, tosse, expectoração, dor torácica) e achados de exame físico (estertores crepitantes, sinais de consolidação, taquipneia, taquicardia) confirmados pela radiografia de tórax, já que nenhum conjunto de sinais e sintomas é acurado o bastante para predizer com alto grau de certeza a presença de pneumonia. O diagnóstico de PAC geralmente requer a demonstração de um infiltrado na imagem do tórax em um paciente com uma síndrome clinicamente compatível, por exemplo, febre, dispneia, tosse e produção de escarro. Camille Buger – T8 A radiografia de tórax, em associação com a anamnese e o exame físico, faz parte da tríade propedêutica clássica para PAC, sendo recomendada sua realização de rotina, quando disponível, nas incidências posteroanterior (PA) e perfil. Além da contribuição ao diagnóstico, a radiografia de tórax permite ainda avaliar a extensão das lesões, detectar complicações e auxiliar no diagnóstico diferencial. Os achados radiográficos consistentes com o diagnóstico de PAC incluem: consolidações lobares, infiltrados intersticiais e/ou cavitações. O infiltrado alveolar do tipo broncopneumônico é o achado radiológico mais frequente na pneumonia bacteriana, independente do agente etiológico. A radiografia de tórax está recomendada também quando há dúvida quanto ao diagnóstico ou necessidade de diagnóstico diferencial com câncer de pulmão, assim como quando, durante o seguimento do tratamento, a resposta clínica for insatisfatória. Ultrassonografia de tórax (UST): apresenta maior sensibilidade e maior acurácia do que a radiografia de tórax na identificação de alterações parenquimatosas. Os principais achados ultrassonográficos na PAC são: consolidações, padrão intersticial focal, lesões subpleurais e anormalidades na linha pleural. Adicionalmente, a UST apresenta alto rendimento na detecção de complicações como o derrame pleural, além de permitir a visualização de loculações na cavidade. Tomografia de tórax: método mais sensível na identificação de acometimento infeccioso do parênquima pulmonar, porém trata-se de um método de alto custo e alta exposição à radiação. Trata-se de um exame útil principalmente nos casos em que a acurácia da radiografia de tórax e da UST é baixa, como em pacientes obesos, imunossuprimidos e indivíduos com alterações radiológicas prévias. Além disso, a TC de tórax está indicada na suspeita de infecções fúngicas e para auxiliar na exclusão de outros diagnósticos em casos selecionados. Ressalta-se ainda a importância da TC de tórax para a avaliação de complicações da PAC, como abscesso de pulmão e derrame pleural loculado, além da investigação da falta de resposta clínica ao tratamento. Autores sugerem uso de UST antes de uso de TC no diagnóstico de casos difíceis (alta exposição radiológica). Camille Buger – T8 Diagnóstico Diferencial: Várias doenças podem manifestar febre e opacidades radiográficas no tórax e mimetizar a PAC; elas devem ser suspeitadas quando a resolução radiológica é raramente rápida ou quando há falta de resposta aos tratamentos iniciais ou subsequentes com antibióticos. Atelectasia, hemorragia pulmonar, SDRA e embolia pulmonar, entre outras, podem mimetizar a pneumonia. Broncopneumonia: ronco e sibilo, estertores subcrepitantes (inspiração e expiração) Broncoespasmo: brônquio contrai, presente em crise de asma, ausculta tem sibilos difusos. Camille Buger – T8 Estratificação do Risco: Praticamente todas as decisões quanto à escolha do tratamento, exames diagnósticos a serem feitos e local de tratamento da PAC baseiam-se na avaliação inicial da gravidade da PAC. Os pacientes com diagnóstico de PAC devem ser sempre avaliados quanto à gravidade da doença, pois isso tem impacto direto na redução da mortalidade. Os escores de prognóstico disponíveis dimensionam a gravidade e ajudam a predizer o prognóstico da PAC, guiando a decisão quanto ao local de tratamento — ambulatorial, hospitalar ou UTI — quanto à necessidade de investigação etiológica, quanto à escolha do antibiótico e sua via de administração. PNEUMONIA SEVERITY INDEX – PSI Composto por 20 itens que incluem características demográficas, comorbidades, alterações laboratoriais, alterações radiológicas e achados do exame físico. Ele classifica os pacientes em 5 categorias, estimando a mortalidade em 30 dias e sugerindo o local de tratamento. escore mais sensível para definir o grupo de pacientes que necessitam de internação em unidade de terapia intensiva. CURB – 65 Mental Confusion, Urea, Respiratory rate, Blood pressure, and age ≥ 65 years (CURB-65): • Confusão mental (escore ≤ 8, segundo o abbreviated mental test score); • Ureia > 50 mg/dl; • Frequência Respiratória > 30 ciclos/min; • (Blood pressure): pressão arterial sistólicacomorbidades, nenhum uso recente de antibióticos, sem fatores de risco para resistência e sem contraindicação ou história de alergia a essas drogas. Usar azitromicina ou claritromicina! Para esses casos, sugere-se evitar o uso das fluoroquinolonas devido ao recente alerta da agência norte-americana FDA sobre o potencial risco de efeitos colaterais graves. Essas drogas devem ser reservadas para pacientes com fatores de risco, doença mais grave ou quando não houver outra opção de tratamento, situações essas em que os benefícios superariam os potenciais riscos. Quanto aos macrolídeos, a azitromicina é mais efetiva in vitro contra a maioria das cepas de Haemophilus influenzae do que a claritromicina e, por isso, deveria ser preferida nos pacientes com DPOC. Os riscos de infecção por agentes patogênicos resistentes e de falência terapêutica são maiores quando há história de uso de um antibiótico nos três meses anteriores; quando os pacientes vêm de regiões onde a taxa local de resistência aos macrolídeos é superior a 25%; e na presença de doenças associadas (DPOC, doença hepática ou renal, câncer, diabetes, insuficiência cardíaca congestiva, alcoolismo ou imunossupressão). Nesses casos recomenda-se para o tratamento ambulatorial da PAC associar macrolídeos (azitromicina) a um ẞ-lactâmico (clavulanato + amoxicilina) OU realizar monoterapia com uma fluoroquinolona respiratória (levofloxacina) por pelo menos 5 dias. TRATAMENTO PARA PACIENTES INTERNADOS EM ENFERMARIA: Emprego de ẞ-lactâmico associado a um macrolídeo ou fluoroquinolona respiratória isolada. Camille Buger – T8 ẞ-lactâmico: Ceftriaxona, Cefotaxima, ampicilina. TRATAMENTO PARA PACIENTES INTERNADOS EM UTI: A terapia combinada deve ser recomendada por reduzir a mortalidade. A administração dos antibióticos deve ser a mais precoce possível e deve incluir preferencialmente um macrolídeo (ou fluoroquinolona) e um ẞ-lactâmico, ambos por via endovenosa. Prevenção e Profilaxia: A vacinação contra pneumococo (23-valente não conjugada) e influenza é a principal forma de prevenção contra PAC. Todas as pessoas com 50 anos de idade ou mais, risco aumentado de complicações, contatos intradomiciliares de pessoas de alto risco e profissionais de saúde devem receber anualmente a vacina do vírus inativado da influenza. A vacina pneumocócica é recomendada para pessoas com 65 anos de idade ou mais e para aquelas com risco aumentado de infecção, ou seja: doenças cardiopulmonares crônicas, diabete, alcoolismo, hepatopatias, asplenia funcional ou anatômica, fístula liquórica, uso de imunossupressores e residentes em casa de repouso. A segunda dose deve ser realizada 5 anos após a primeira. Critérios de Falha terapêutica: Diagnóstico incorreto Antibiótico ou dose errada Má adesão do paciente em casa ao tratamento (caso necessário ou na dúvida internar). Pneumonia Hospitalar Aquela que ocorre após 48 horas da internação. Por conta de semelhanças clínicas e terapêuticas, será abordada em conjunto com a pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) e a pneumonia relacionada a cuidados de saúde (PACS). Tanto a PAH quanto a PAVM são classificadas como de início precoce (quando surgem entre o 2º e o 4º dia) ou tardio (a partir do 5º dia), sendo esta última a de maior risco para agentes multirresistentes, com suas graves implicações terapêuticas e prognósticas. Camille Buger – T8 Epidemiologia: Incidência maior nos pacientes submetidos à ventilação mecânica, já que este é um forte fator de risco para a condição. Obviamente, a incidência de PAH e PAVM varia com o hospital. As pneumonias hospitalares são a 2ª causa de infecção hospitalar (atrás apenas das infecções do trato urinário) e respondem por 25% das infecções adquiridas em UTI e 50% das prescrições de ATB. A mortalidade atribuída a PAH também é variável, entre 20 e 70%. Porém, a PAVM apresenta maior risco de óbito quando comparada a outras infecções hospitalares. Fisiopatologia: Tem origem multifatorial. O primeiro fator determinante é o estado de diminuição das defesas do paciente, como: uso de drogas (corticosteroides, quimioterápicos), doença de base do paciente (câncer ou doenças autoimunes), desnutrição e invasão por sondas, cateteres ou cânulas (IOT). O segundo fator determinante é a colonização do paciente (pele e mucosas) por agentes hospitalares, que quase sempre são mais resistentes a antibióticos. Após 2 a 3 dias de hospitalização, a flora que coloniza o paciente já começa a mudar. Um terceiro fator é a presença de procedimentos e dispositivos invasivos em pacientes hospitalizados, como: tubo orotraqueal para ventilação mecânica, realização de broncoscopia, manipulação das vias aéreas por aspiração de aerossóis contaminados durante inalações e aspiração de conteúdo gástrico. Esta última via é frequente em pacientes internados porque são comuns o rebaixamento neurológico e o uso de drogas para prevenção de úlcera gástrica, que alcalinizam o estômago e permitem a proliferação bacteriana gástrica. O paciente passa a ser colonizado pelos patógenos hospitalares a partir do contato com os profissionais de saúde, outros pacientes e dispositivos invasivos, como tubos e sondas. Etiologia: Nas pneumonias de início precoce (até o 4º dia), as bactérias mais frequentes ainda são as comumente encontradas na comunidade: Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Staphylococcus aureus sensível à oxacilina e Gram-negativos entéricos sensíveis. O perfil dos agentes etiológicos é diferente na pneumonia tardia (5º dia em diante), predominando microrganismos resistentes, sobretudo os bacilos Gram-negativos, como Pseudomonas aeruginosa, Klebsiella pneumoniae e Acinetobacter baumannii. Também é comum o Staphylococcus aureus resistente à oxacilina. Diagnóstico: diagnóstico de pneumonia hospitalar é mais difícil que o diagnóstico de pneumonia comunitária. Essa maior dificuldade se dá por dois motivos: Dificuldade de diagnóstico pela radiografia de tórax: nos pacientes hospitalizados há várias causas para alterações da radiografia que simulam uma pneumonia, como atelectasia, derrame pleural, hemorragia e congestão pulmonar, além de tromboembolismo pulmonar. Além disso, o aspecto radiográfico pode ser atípico, uma vez que a pneumonia hospitalar desenvolve-se a partir da impactação do material aspirado e infectado em um bronquíolo, o que gera um quadro radiológico de broncopneumonia caracterizado por Camille Buger – T8 pequenos focos de preenchimento alveolar e predomínio gravidade-dependente em determinadas áreas. Dificuldade de diagnóstico clínico: há outras causas para os sinais comuns de pneumonia, como febre, leucocitose e secreção traqueal purulenta e, mesmo com uma abordagem protocolada, o diagnóstico clínico tem baixa sensibilidade e especificidade. O diagnóstico clínico de pneumonia hospitalar é definido pela presença de um infiltrado radiológico novo ou progressivo associado a pelo menos dois dos seguintes sinais: febre, aparecimento de secreção traqueal purulenta e leucocitose ou leucopenia. Tratamento: A terapia empírica da PAV é necessariamente ampla, pois a variedade de patógenos potenciais é grande e a mortalidade é aumentada quando o patógeno responsável é resistente ao regime empírico inicial com antibióticos. Os regimes empíricos recomendados incluem agentes ẞ-lactâmicos de amplo espectro, geralmente em combinação com aminoglicosídeos e com cobertura para MRSA. Ticarcilina-clavulanato e piperacilinatazobactam são os ẞ-lactâmicos/ inibidores de ẞ1-lactamase preferidos para o tratamento de pneumonia nosocomial. Levofloxacina (IV ou VO), Gatifloxacina (IV ou VO), Moxifloxacina (IV ou VO) ou Gemifloxacina (VO) são preferidas para Streptococcus pneumoniae. Aciprofloxacina apresenta a melhor atividade in vitro contra Pseudomonas aeruginosa. Derrame Pleural O derrame pleural se caracteriza pelo acúmulo anormal de líquido no espaço pleural. Esses ocorrem mais comumente em pacientes como pneumonia ou com insuficiência cardíaca. No derrame pleural, o fluido presente na cavidade pleural pode ser classificado em transudato ou exsudato. O derrame pleural transudativo é secundário a doenças sistêmicas, tendo tratamento baseado na resolução da causa base, por exemplo, a compensação da insuficiência cardíaca ou da nefropatia. Exsudato: resulta de um processo inflamatório pleural que promove um aumento de permeabilidade capilar e liberação de mediadores, ocasionando o extravasamento de líquido rico em proteína. A doença em praticamente qualquer órgão pode causar derrames pleurais exsudativos por uma variedade de mecanismos, incluindo infecção, malignidade, respostas imunológicas, anormalidades linfáticas. Camille Buger – T8 CRITÉRIOS DE LIGHT A avaliação dos critérios de Light possibilita a diferenciação do derrame pleural em transudatos e exsudatos, através da avaliação bioquímica que mede a proteína sérica e do líquido pleural e a desidrogenase lática (DHL). DERRAME PLEURAL PARAPNEUMÔNICO Presença de líquido associado a pneumonia ou sepse. O derrame pleural parapneumônico (DPP) ocorre durante o curso clínico de uma pneumonia ou abscesso pulmonar. Sua incidência é frequentemente subestimada, podendo aparecer em cerca de 25% a 44% dos casos de pneumonias adquiridas na comunidade (PAC). A maioria desses derrames é resolvida com o mesmo tratamento antibiótico da PAC, e sua presença pode passar despercebida. No entanto, quando não ocorre a resposta habitual ao tratamento, o DPP pode aumentar de volume e evoluir com septações (denominados de DPP complicados) ou para empiema pleural → presença de pus na cavidade pleural. Fisiopatologia: O mecanismo para que o derrame ocorra seria um desbalanço na entrada ou na saída do líquido pleural. O aumento da formação do líquido pleural pode ser causado em duas diferentes situações: (1) desequilíbrio nas pressões hidrostáticas e/ou oncóticas pleurais e (2) alteração da permeabilidade capilar pleural. Quadro Clínico: Os sintomas clássicos de um paciente com derrame pleural são: dor torácica, dispneia e tosse seca. Inicialmente a tosse é seca, esporádica e pouco intensa, causada pelo estímulo inflamatório à pleura parietal. Em grandes volumes, ocorre desarranjo estrutural que pode levar a acumulo de secreções e, posteriormente, desenvolvimento de infecções bacterianas associadas, podendo ocasionar tosse produtiva. A tosse e a dor torácica (pleurítica), geram desconforto respiratório que associado ao maior número de incursões respiratórias (para compensar o baixo volume corrente), causam sinto- mas mais intensos, como a dispneia. Outro fator relacionado a dispneia é o estado funcional cardiorrespiratório do paciente, porque, com reserva baixa, mesmo pequenos derrames podem causar dispneia. Camille Buger – T8 Sinal de Lemos Torres corresponde a um abaulamento expiratório localizado nos últimos espaços intercostais, principalmente à expiração forçada nos pequenos e médios derrames. Sinal de Litten corresponde a ausência da visualização da depressão intercostal inspiratória no hemitórax acometido. Sinal de Signorelli corresponde a mudança do som claro pulmonar durante a percussão da coluna vertebral. Parábola de Damoiseau delimita o limite superior do derrame pleural. Diagnóstico: O diagnóstico clínico é baseado na história do paciente, associado a tríade clássica: tosse seca, dispneia e dor torácica. Entre os exames de imagem, o mais utilizado é a radiografia de tórax, obtido em posteroanterior (PA), perfil e decúbito lateral com raios horizontais (incidência de Laurell). A mais sensível para o diagnóstico de derrame pleural é a incidência em decúbito lateral, já que detecta até mesmo pequenos volumes. Laboratorial: O diagnóstico laboratorial é feito por meio da análise do líquido feito por meio da toracocentese diagnóstica. Os parâmetros a serem avaliados são: SIRS, Sepse e Choque Séptico SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica): condição em que o corpo apresenta uma reação inflamatória exacerbada causada por uma infecção ou por outros diversos insultos como queimaduras, isquemia, traumas, cirurgias. É definida pela presença de 2 ou mais dos seguintes critérios: SIRS é um conceito que era utilizado no consenso Sepsis – 2 (ano 2002). Porém Acreditavam que os parâmetros utilizados eram muito sensíveis, de modo que pacientes com algum processo infeccioso que nem fosse tão grave, eram submetidos ao protocolo de tratamento para Sepse. Contanto, em 2016 foi lançado o 3º Consenso Internacional, o famoso Sepsis-3, que atualizou a forma com que avaliamos os quadros de Sepse. A principal mudança é que agora TODA sepse tem disfunção orgânica associada! Camille Buger – T8 Isso fez com o conceito de SIRS para diagnosticar e definir sepse fosse deixado de lado, porém seus componentes (febre, taquicardia, taquipneia e leucocitose com desvio para a esquerda) ainda possam ser utilizados na prática clínica para diagnóstico de infecção grave. Sepse: Disfunção orgânica com risco de vida, causada por uma resposta desregulada do hospedeiro à infecção (definida como um score SOFA ≥2 pontos). Choque séptico: Sepse associada à persistência de hipotensão, necessitando de vasopressores para manter PAM ≥ 65mmHg e com um nível de lactato sérico >2mmol/L (HIPERLACTATEMIA) apesar da reposição volêmica adequada. Como os critérios da SIRS não são mais levados em consideração para o diagnóstico de Sepse, foi necessário outra ferramenta para avaliar se o paciente está ou não em Sepse e com isso surge o SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), um critério que define se há disfunção orgânica a partir de uma série de dados de cada um dos sistemas orgânicos. *PaO2: pressão parcial de O2 dissolvida no sangue arterial FiO2: fração inspirada de oxigênio. Para cada sistema avaliado pelo SOFA, o paciente receberá uma pontuação que varia entre 0 e 4. É definido que há disfunção quando o paciente tiver um aumento de 2 pontos no SOFA. O SOFA é uma escala complexa e que necessita de exames laboratoriais para diagnóstico, não podendo ser utilizada para avaliar precocemente pacientes graves com suspeita de sepse em ambientes de emergência, ou à beira- leito. Foi justamente por conta disso que se criou uma versão mais simplificada dele o qSOFA (quickSOFA), que tem 3 critérios: • FR ≥ 22 ipm • PAS ≤ 100 mmHg • Alteração do nível de consciência Considera-se como alterado um qSOFA ≥ 2 O qSOFA se baseia em critérios clínicos para identificar a probabilidade de um paciente com infecção ter um prognóstico ruim. O qSOFA não define diagnóstico! Assim, a gente admite que um qSOFA ≥ 2 pontos é um indicativo de disfunção orgânica. Sepse A sepse se dá quando microorganismos são introduzidos diretamente na corrente sanguínea (infusão de líquido contaminado, cateter, endocardite) ou disseminam-se a partir de uma infecção localizada em órgãos bem vascularizados (rins, pulmões, trato biliar, pele). Camille Buger – T8 Manejo O protocolo de sepse deve ser aberto para pacientes com SUSPEITA de sepse e choque séptico. Uma vez tendo levantado a suspeita de Sepse, deve-se manejar o paciente o mais rápido possível e isso envolve, logo de cara, monitorizá-lo e garantir acesso vascular, sendo que por esse nós já devemos colher os exames necessários para definir o SOFA, ou seja: Em pacientes com qualquer das disfunções clínica utilizadas na triagem (hipotensão, rebaixamento de consciência,dispneia ou desaturação e, eventualmente, oligúria), deve- se dar seguimento imediato ao protocolo, com as medidas do pacote de 1 hora, e proceder a reavaliação do paciente ao longo das 6 primeiras horas. O “tempo zero” é definido como: - Hora da suspeita de sepse na triagem na sala de emergência ou - Hora do primeiro registro gráfico de prontuário de disfunção orgânica no caso de pacientes encaminhados de outros locais de atendimento. O pacote de 1 hora é composto dos seguintes itens: ● Coleta de exames laboratoriais para a pesquisa de disfunções orgânicas: gasometria e lactato arterial, hemograma completo, creatinina, bilirrubina e coagulograma. O lactato é um dos marcadores de hipoperfusão tecidual e caso o exame inicial estiver elevado (> 2 mmol /L), um novo deverá ser coletado no intervalo de duas a quatro horas, tendo como meta a sua normalização. Camille Buger – T8 ● Coleta de duas hemoculturas de sítios distintos e culturas de todos os outros sítios pertinentes (aspirado traqueal, líquor, urocultura) antes da administração do antimicrobiano. ● Prescrição e administração de antimicrobianos de amplo espectro para a situação clínica, por via endovenosa, visando o foco suspeito, dentro da primeira hora da identificação da sepse. Objetivando cobrir todos os patógenos prováveis deve ser iniciada imediatamente. ● Ressuscitação volêmica: Para pacientes hipotensos ou com sinais de hipoperfusão, entre eles niveis de lactato acima de duas vezes o valor de referência (hiperlactatemia inicial), deve ser iniciada ressuscitação volêmica com infusão imediata de 30 mL/kg de cristaloides intravenosos. ● Uso de vasopressores para pacientes que permaneçam com pressão arterial média (PAM) abaixo de 65 (após a infusão de volume inicial), sendo a noradrenalina a droga de primeira escolha. Reavaliação das 6 horas A reavaliação das 6 horas deve ser feita em pacientes que se apresentem com choque séptico, hiperlactatemia ou sinais clínicos de hipoperfusão tecidual. A continuidade do cuidado é importante, por isso entende-se que durante as seis primeiras horas o paciente deve ser reavaliado periodicamente. Para isso é importante o registro da reavaliação do status volêmico e da perfusão tecidual. Deve-se fazer a reavaliação da continuidade da ressuscitação volêmica, por meio de marcadores do estado volêmico ou de parâmetros perfusionais. As seguintes formas de reavaliação poderão ser consideradas: Pacientes com sinais de hipoperfusão e com níveis de hemoglobina abaixo de 7 mg/dL devem receber transfusão o mais rapidamente possível.