Buscar

RESUMO LIVRO - POLTRONIERI

Prévia do material em texto

1 
 
RESUMO IED 
 
 
 
 
CONCEITOS: 
 Direito, sociedade e Estado (teoria monista e teoria dualista), formação 
do Estado. 
 Justiça (Justiça vertical e justiça horizontal) 
 Regra de conduta, moral (moral x direito) 
 Fontes do direito: fontes materiais x fontes formais, analogia, costume, 
princípios gerais de direito, jurisprudência, doutrina, equidade 
 Direito Publico e Direito Privado 
 Ciência do direito (juízo de realidade e juízo de valor), normas jurídicas, 
direito e filosofia, direito e sociologia, direito e economia 
 Norma jurídica (sanção jurídica): validade, vigência, eficácia e 
exequibilidade 
 Direito subjetivo e direito objetivo 
 Direito positivo e direito natural 
 Doutrinas jurídicas: jusnaturalismo, positivismo jurídico, historicismo, 
realismo, normatismo e culturalismo jurídico 
 Kelsen: pirâmide normativa kelseana, norma fundamental 
 Tridimensionalidade do Direito (fato, valor e norma) 
 Relação jurídica (sujeito de direito, objeto de direito, personalidade 
jurídica, capacidade jurídica) 
 Irretroatividade das leis: direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa 
julgada 
 Sistema jurídico, Unidade, Completude e Coerência 
 
 
1.1 – DIREITO, SOCIEDADE E ESTADO 
 Devemos entender Direito, neste estudo, como um “conjunto de normas 
obrigatórias”. (17) O direito não nos torna iguais, mas nos coloca em situações que, 
perante as normas jurídicas, devem ser examinadas e sancionadas da mesma 
forma. (20) 
2 
 
 [Tércio] Sociedade pode ser entendida como um sistema de interações, 
comportamentos mutuamente dirigidos e referidos uns aos outros, formando uma 
rede de relações. (18) 
 O fato de um individuo obedecer e respeitar a norma não significa que ele alterou 
seus interesses e desejos particulares, apenas cedeu parte de sua liberdade em prol 
da sociedade. Tudo o que está no direito é fruto das vontades de uma sociedade, 
seguindo uma racionalidade preestabelecida. (19) 
 O Estado dita as regras e tutela os direitos, conforme os anseios da sociedade. Ele 
teria surgido de forma natural, como um ente que possibilitasse à sociedade realizar 
a sua organização. (21) É responsável de traduzir o direito em sua forma positiva 
para seus destinatários e de implantá-lo na sociedade. (24) O Estado de Direito, 
estruturado sobre o principio da legalidade, tem por objetivo assegurar ac proteção 
dos direitos individuais, não apenas nas relações entre particulares, mas também 
entre estes e o próprio Estado que, juridicamente constituído, significa sociedade 
política juridicamente organizada, como um povo, um território e um governo, com 
vistas a atingir o bem comum, entendido aqui como os valores de uma época. (26) 
 Diversas teorias se propuseram a investigar a origem do Estado. São elas: 
 Teoria da formação natural do Estado: é a regra geral mais aceita. Dizemos 
que a relação entre pessoas tem sua origem com os membros das famílias e, 
por conseguinte, a relação entre as famílias; relação essa denominada de 
relação “política”, dentro de um território. O Estado surgiria de forma natural, 
como um ente de que possibilitasse à sociedade realizar sua organização. (21) 
 Teoria contratual: Apresenta-o como uma convenção entre os membros da 
sociedade humana. O Estado surge como onipotente perante os homens, pois 
estes, considerados como iguais, cederiam seus direitos em função do 
sentimento que se mostraria e consubstanciaria na nação, em busca do fim da 
anarquia, cujo conceito nem mesmo estava definido. Dessa forma, o Estado 
nunca deixaria de existir pela relação com a população. (22) 
 Teoria da origem violenta: Teoria na qual afirma que o Estado advém do poder 
de dominação dos mais fortes sobre os mais fracos. Seus adeptos veem na 
sociedade uma luta pela vida. Identifica-se essa teoria com a concepção 
marxista de Estado (luta de classes). (21) 
 Teoria da formação histórica: Aponta três modos de ocorrência do fenômeno: 
originário (diretamente da população sedentária); secundário (da união ou 
fracionamento de um ou mais Estados); e derivado (nascido da influencia de 
outros). (21) 
 Teoria da formação jurídica: possui uma atraente precisão em determinar o 
momento exato da criação do Estado, pois se baseia na Constituição. Enquanto 
não há Constituição, o Estado não nasce. Temos aqui o Estado em função da 
norma posta, do ponto de vista racional. Essa teoria apresenta um marco 
objetivo para o estudo das relações e funções do Estado. (22) 
3 
 
 Teoria da nacionalidade: Surgida com a Revolução Francesa, indicando a 
transposição do poder de governo do rei para a nação. Inspirou a burguesia à 
unificação, como um desdobramento do liberalismo. (21) 
 A realidade entre Direito e Estado já foi vista sob duas perspectivas distintas: a 
teoria monista e a teoria dualista. A teoria monista vê o Estado como única fonte 
do Direito, ou seja, ambos em uma única realidade. (23) A teoria dualista (pluralista) 
sustentava que Estado e Direito são duas realidades distintas e independentes – do 
Estado, proveria apenas o direito positivo. (24) 
 
1.2 – DIREITO E JUSTIÇA 
 A exigência de igualdade contida na ideia de justiça não é dirigida de forma 
absoluta a todos. Dessa forma, a igualdade deve ser vista de modo relativo, assim 
como a justiça. (29) 
 Justiça vertical: é irracional e movida pelo conceito particular de justiça que parte 
daquele que a aplica, o famoso “fazer justiça com as próprias mãos”. (29) É uma 
força sem limites, uma resposta à um ato. 
 Justiça horizontal: é a vislumbrada pelo direito; a punição a um infrator deve ser 
aquela prevista na lei, nem mais, nem menos. (30) 
 Justiça é diferente de direito; mas este ultimo, se aplicado rigorosamente, 
aproxima-se da justiça. Fazer justiça é, portanto, julgar ou decidir segundo o 
conteúdo material do direito, previsto na norma jurídica segundo um parâmetro de 
equilíbrio entre fato antecedente-ato consequente. Relaciona-se com a legalidade, 
ou seja, com aquilo que é permitido e previsto na norma jurídica. (31) Embora o 
direito não possa garantir a presença plena da justiça, ele ainda se mostra como a 
melhor ferramenta, e única socialmente autorizada, para alcança-la. (32) 
 Justiça pode significar: a realização da ordem social, a posição harmônica de 
interesses humanos, o valor constituído ao longo da história. (cad) 
 
1.3 – DIREITO E MORAL 
 Ao dizer o que devemos fazer, toda regra de conduta torna-se também uma norma 
ética, pois prescreve deveres objetivando a realização de valores. (33) 
 O direito tende a guardar certa proximidade com a moral, porém, não se confunde 
com ela. [Tércio – Há certa similitude entre normas jurídicas e os processos morais, 
pois ambos prescrevem algo, vinculam e estabelecem obrigações – ambos são 
elementos constitutivos da convivência]. (34) 
 Moral: tem a ver com aquilo que pensamos, que desejamos, que cremos 
efetivamente. Advém do foro interno, da convicção intima dos indivíduos – o tipo 
de convencimento que faz com que uma norma moral venha a ser respeitada. (34-35) 
 Embora na maioria dos casos o direito seja orientado por alguma “moral social”, 
não depende necessariamente desta para ter império, validade e eficácia, e por isso 
4 
 
nem sempre estará relacionado com ela. A moral social influencia o direito na sua 
criação, mas não deve mitiga-lo na sua aplicação. (37) 
 Moral x Direito: Nas regras de moral – embora haja certa pressão psicológica no 
sentido de seu cumprimento – não existe o elemento da força como meio de 
execução. Já no direito, há uma imposição coercitiva que força o cumprimento (a 
forçapotencial monopolizada pelo Estado para fazer cumprir o que o direito 
estabeleceu). (38) 
 
1.4 – FONTES DO DIREITO: LEGISLAÇÃO, PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO, 
JURISPRUDÊNCIA, COSTUME, DOUTRINA, ANALOGIA E EQUIDADE 
 Quando se fala em fontes do direito, busca-se a verdade, a origem, o ponto de 
partida para o conteúdo do direito. As fontes materiais são compostas pelos 
elementos históricos, econômicos e sociais (fatores que determinam o conteúdo 
das normas jurídicas) que dão origem às fontes formais, que é o modo pelo qual o 
direito se manifesta: as normas que regulam as relações entre as pessoas. Elas 
compreendem toda a legislação em vigor, valendo-se da Constituição como sua lei 
fundamental, pois que reúne os principais instrumentos de sustentação da 
sociedade – é o meio pelo qual o conteúdo da norma é expresso, a lei (38-39, 41) 
 A Constituição assenta-se no grau mais elevado de um ordenamento jurídico. A 
legislação representa a soberania do poder do Estado. (40) 
 Art. 4º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: Quando a lei for 
omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios 
gerais do direito. Analogia, costumes e princípios gerais do Direito devem ser 
entendidos como ferramentas ou instrumentos que permitem a completude do 
ordenamento jurídico. (42) [Ross – As fontes do direito são o conjunto de fatores que 
influencia o juiz e em que ele funda sua decisão]. (42) 
 Analogia: um procedimento pelo qual se atribui a um caso não regulado a mesma 
disciplina de um caso regulado de maneira semelhante – aplicação de um raciocínio 
baseado em razões relevantes de similitude. (43) 
 Lacunas: é falta ou omissão da lei sobre determinado assunto fático. 
 Costume: É uma regra de comportamento obra de um coletivo e que nasce 
naturalmente, tendo caráter marcado pela espontaneidade. No Brasil, o conceito 
refere-se a situações especificadas nas quais a lei não aborda o caso concreto em 
minúcias – sua aplicação deve ser vista com cautela. (43-45) 
 Princípios gerais de direito: Advêm dos valores sociais que foram positivados e, por 
isso, tem caráter jurídico; devem ser extraídos do próprio ordenamento. Oferecem 
melhor leitura da regra, servindo de parâmetro para interpretação de uma 
determinada situação de fato em relação ao ato consequente previsto na própria 
norma. [Bobbio: Podem ser considerados como normas fundamentais]. Só haveriam 
de ser invocados como “fonte complementar”. (45-46) 
5 
 
 Jurisprudência: Funciona como uma ferramenta interpretativa que pode auxiliar ou 
influenciar o juiz em sua decisão; faz isso ao demonstrar como outras sentenças 
foram decididas. (46) Não chega a ser fonte do Direito, mas sim fonte interpretativa. 
 Doutrina: É instrumento de entendimento e aplicação do direito – estudo do direito 
que os juristas realizam a respeito do próprio direito, produzindo esquemas 
teóricos. (47) 
 Equidade: É a propriedade que tem a lei de se adaptar às circunstancias da espécie 
de fato, de maneira que o rigor do texto legal e seu elemento sancionador sejam 
adequados às particularidades do caso. [Venosa – trata-se de um raciocínio que 
busca a adequação da norma ao caso concreto]. Não deve ser entendida como 
descumprimento do texto legal. (49-50) 
 
1.5 – DIREITO PÚBLICO, DIREITO PRIVADO E OUTROS RAMOS DO DIREITO 
 Direito Público: é aquele que dizia respeito às coisas do Estado; tem a função de 
tutelar os interesses gerais da sociedade por intermédio do Estado. Só se permite 
fazer ou agir diante do que estiver previsto em lei. Ex: a competência dos poderes 
(Legislativos, Executivo, Judiciários), a fixação de impostos e punição de criminosos. 
(53-55) 
 Direito Privado: de utilidade dos particulares; refere-se aos interesses particulares 
dos indivíduos. Ex: os contratos de compra e venda entre os particulares. (53,55) 
 
 
1.6 – DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA – CIÊNCIAS NATURAIS E CIÊNCIAS CULTURAIS 
 Questionando a cientificidade do direito, alguns estudiosos afirmavam que a 
instabilidade e a mutabilidade do direito impossibilitavam as generalizações 
necessárias ao processo científico. (56) 
 De outro lado, os defensores alegavam que, apesar da mutabilidade das normas 
(durante o processo de criação), a “experiência jurídica” – dever ser – se 
conservava, sendo imutável, no sentido de “se há regra, deve ser cumprida”. (56) 
 Ciência do direito pode ser tida como um “sistema de conhecimentos sobre a 
realidade jurídica”, o que se faz com esse conhecimento e o que diferencia as 
sociedades e suas organizações legais. A cientificidade do direito é, atualmente, 
reconhecida pelos doutrinadores de forma majoritária. A ciência do direito examina 
a relação fato antecedente-ato consequente, ou seja, a situação de fato e a previsão 
normativa relacionada. Examina e estuda as realizações do direito, enquanto regra 
obrigatória, que deve ser seguida. (57,59) 
 
Juízo de valor e realidade 
6 
 
 Podemos relacionar os juízos de realidade com as leis físico-naturais (objeto das 
ciências naturais) e os juízos de valor com as leis culturais (objeto das ciências 
culturais). (60) 
 As ciências naturais trabalham com a realidade natural, “explicando” os fenômenos 
e descrevendo a realidade sem atribuir-lhe valores. Encarregam-se de estudar a 
realidade da natureza, a qual não coube intervenção humana. Trabalham com base 
na coexistência e na coordenação. (58) Em outras palavras, tem como preocupação 
apenas a explicação de um fato e, por isso, abordam a realidade como ela é, 
aplicando um juízo de realidade derivado da mera observação. (61) 
 Juízo de realidade: refere-se à constatação material da realidade físico-natural, que 
independe da ação humana. Estabelece conexões necessárias entre fatos 
observados e se expressa por meio do ser, aquilo que é. (60) 
 As ciências culturais tratam da realidade criada ou modificada pelo homem, tal 
realidade recebe um juízo de valor conforme a cultura. Exigem o elemento 
“compreensão”, pois ordenam fatos naturais segundo conexões de sentido, 
finalidade e ordem de valores. Nessas leis culturais, o mais forte é a “teoria” em 
contraposição ao fato pois há essa valoração por parte do homem. (58, 61) 
 Juízo de valor: formula apreciações de natureza axiológica sobre os fatos e atos 
observados, apresenta-se por meio do deve ser, e por isso depende da 
interpretação das normas criadas. (60) 
 Como visto, o Direito pertence à essa última categoria, pois na análise do direito, o 
legislador não apenas observa e descreve o ato, ele passa a determinar como algo 
deve ser. (61) 
 Normas jurídicas: juízos de valor predefinidos e já expressos por meio de texto 
normativo. (62) Ao adquirir esse status de realidade jurídica, a norma e seu conteúdo 
só serão passíveis de sofrer um juízo de realidade”, de modo que caberá ao 
aplicador da norma apenas identificar se houve ou não a relação fato antecedente-
ato consequente contida na regra, ou seja, não se permite a ocorrência de novos 
juízos de valor sobre os já constituídos. 
 Portanto, em relação à escolha do conteúdo da norma, aplica-se um juízo de valor; 
no momento da aplicação, aplicar-se-á um juízo de realidade. 
 
Afinidade da ciência jurídica com outras ciências 
 Direito e filosofia: está encarregada de formular questões quanto à “essência” do 
direito. (63) 
 Direito e sociologia: estuda o direito como fenômeno histórico social. (64) 
 Direito e economia: a economia trata do estudo das relações sociais diante de 
recursos ilimitados e, nesse sentido, o direito pode ser instrumento utilizado para 
alocar recursos de um determinado setorpara outro. (65) 
 
7 
 
1.7 – NORMA JURÍDICA: CARACTERÍSTICAS, NOTA ESPECÍFICA, CLASSIFICAÇÃO, 
ESTRUTURA, VALIDADE, VIGÊNCIA, EFICÁCIA, EXEQUIBILIDADE 
Características 
 É dotada de generalidade porque estabelece um modelo aplicável a vários casos. 
Ela prescreve um padrão, tem caráter abstrato e é imperativa. Outra característica é 
a sua heteronomia – é uma obrigação imposta por terceiros para ser cumprida, 
dessa forma, não importa a sua aceitação e sim seu cumprimento. (68) 
 
Nota específica 
 Coercibilidade. A coerção é o poder de que dispõe o Estado para obrigar os 
indivíduos aos cumprimentos das leis. (69) É o possível emprego da força física para 
fazer com que o direito seja observado – uma força potencial controlada e 
autorizada, executada dentro dos limites da lei. 
 Temos que a coercibilidade é a forma para materializar a coação (psicológica) ideal 
caso haja desrespeito a uma norma jurídica. Enquanto a coação refere-se à 
consciência de que há uma obrigação em relação a um ato concreto, a 
coercibilidade é esta força em potencial. (69) 
 
Classificação 
 São inúmeras as possibilidades de classificação da norma jurídica, sob o critério de: 
 Hierarquia: normas constitucionais, complementares, ordinárias, etc.; 
 Obrigatoriedade: norma imperativa ou dispositiva; 
 Da sansão vinculada: perfeita, mais-que-perfeita, ou imperfeita; 
 Da natureza de suas disposições: substantivas ou processuais; 
 Da sua aplicabilidade: autoaplicáveis ou dependentes de complementação; 
 Da sua sistematização: esparsas, dispostas em códigos ou consolidações; 
 Da esfera do Poder Público que emanam: federal, estadual, municipal. (70) 
 
Estrutura 
 Independentemente de seu conteúdo, a norma jurídica sempre preserva, em sua 
estrutura, a relação fato antecedente-ato consequente. Assim, na ocorrência de um 
fato normatizado, haverá também uma consequência jurídica. (71) A formação da 
proposição da norma jurídica terá natureza descritiva, de modo que a proposição 
apresentará um preceito (enunciado) e uma sanção. (72) 
 Sanção jurídica: [Gusmão: é uma consequência jurídica danosa, prevista na 
própria norma e que será aplicável no caso de sua inobservância]. Ela é 
proporcional à gravidade do caso e oferece a garantia da imparciabilidade. É 
elemento essencial à norma jurídica – deve ser entendida como uma 
“retribuição” (penalidade ou prêmio) a um ato ou fato praticado ou ocorrido, a 
ser aplicada de forma comum a todos e delimitada segundo o previsto na 
norma. (72-74) 
8 
 
 
Validade, vigência e eficácia 
 A validade de uma norma jurídica depende da obediência dos tramites regulares 
para a sua produção. Tem relação com processo legislativo regular de sua criação, 
definindo tempo, espaço, matéria e pessoa a que se destinam. 
 A vigência é o lapso de tempo no qual uma lei figura como obrigatória – tempo de 
validade da lei. Tem relação com possibilidade de ser exigida a conduta, obrigação, 
ou proibição prevista na norma. Uma lei, anteriormente assinada pela autoridade 
competente (com caráter de validade) começa a ter vigência com sua publicação ou 
com a data prevista por ela. 
 A eficácia ocorre quando a previsão especifica da norma é alcançada ou, se 
desrespeitada, a sansão prevista é efetivamente aplicada. (75-77) 
 Exequibilidade material: é preciso que existam condições de fato para a realização 
daquilo que a norma determina. (77) 
 
1.8 – EXPERIENCIA JURÍDICA: DIREITO OBJETIVO, SUBJETIVO, POSITIVO E NATURAL 
Direito objetivo e direito subjetivo 
 Direito objetivo: é o complexo de normas jurídicas que regem o comportamento 
humano, de modo obrigatório, prescrevendo uma sanção no caso de sua violação. 
(DINIZ) Implicará em um direito posto ou reconhecido pelo Estado, daí a semelhança 
entre direito objetivo e direito positivo. Sua concepção tende a ser vista como 
aquela que destaca o direito como um fenômeno composto de normas e 
instituições. (78, 83) 
 Direito subjetivo: é a permissão dada por meio de norma jurídica, para fazer ou não 
fazer alguma coisa, para ter ou não ter algo. Ex.: as permissões de casar e construir 
família, adotar, vender seus pertences, etc. (DINIZ) É fruto do direito positivo e só 
existe em função deste. É a faculdade que um titular de direito tem de usá-lo ou 
não na proteção do bem jurídico – a permissão dada pela norma para se fazer ou 
não alguma coisa. (79, 80, 82) 
 
Direito positivo e direito natural 
 Direito positivo: é produzido pela racionalidade humana e tem sempre um aspecto 
formal. É o direito tal como ele é determinado, estipulado, lógico, racional e útil, é 
aquele que se modifica para se adequar às mudanças sociais, seja por costume, seja 
para efeito de uma nova lei. Provém da vontade da autoridade humana. É ato 
coercitivo. Encontra sua forma perfeita no Estado. É dinâmico. (84,88) 
 Direito natural: princípios imutáveis e universais; seu fundamento seria a vontade 
de Deus. Tem caráter universalista e eterno, emana da natureza, refuta a coerção e 
é uma ordem anárquica, além de estática. Não há possibilidade de ambos se 
relacionarem, pois são dois sistemas diferentes com critérios de validade diferentes. 
(87-89) 
9 
 
 
1.9 – DOUTRINAS JURIDICAS DO ESTADO MODERNO: JUSNATURALISMO, 
POSITIVISMO, HISTORICISMO, REALISMO, NORMATIVO E CULTURALISMO 
JURÍDICO 
 Jusnaturalismo (ou jusracionalismo): é a corrente de pensamento que reúne as 
teorias defensores do direito natural. (97) 
 Positivismo: é a corrente que refuta a ideia de um direito natural, reunindo 
pensadores que estão interessados apenas no estudo do direito positivado pelo 
Estado. (97) 
 Historicismo jurídico: fundamentou o direito na própria história, criticando o 
jusnaturalismo e o positivismo. (97) 
 Normatismo jurídico: é uma releitura do positivismo (neopositivismo), fortemente 
marcado por visões de disciplinas como a sociologia, economia e a psicologia. (98) 
 Realismo jurídico: apresenta o direito como sendo aquilo o que os tribunais 
apresentam, apresentando-o como algo relativo. (98) 
 Culturalismo: acreditam numa abordagem que envolve aspectos sociológicos, 
lógicos e axiológicos no direito. (98) O ensino brasileiro está atualmente orientado 
pelas concepções do culturalismo jurídico, a considerar a influência das obras de 
Miguel Reale, Montoro, Gusmão e Tercio, já que estes ressalvam que o direito é 
uma realidade cultural. 
 
1.10 – POSITIVISMO JURÍDICO E SEUS PRINCIPAIS AUTORES: KANT, AUSTIN, KELSEN, 
ROSS, HART E BOBBIO 
Kelsen 
 O direito não pode ser separado da política, pois é essencialmente um instrumento 
da política. (109) 
 Eleva o direito à posição de “ciência jurídica”. (109) 
 Kelsen propõe uma separação absoluta entre ser (mundo da ciência natural) e 
dever ser (mundo da ciência normativa). As normas são um dever ser, um 
comando, produto de um ato de vontade, que proíbe, obriga ou permite um 
comportamento, atuando como motivação indireta de conduta, pois contêm 
sanções. (110) 
 Seu sistema lógico é concebido como uma construção escalonaria de diferentes 
níveis de normas jurídicas, conhecida como pirâmide normativa kelseana. Uma 
norma existe e obriga na medida que foi produzida conforme o prescrito em uma 
norma superior, e, assim, sucessivamente até chegar a uma normal fundamental – 
que é simplesmente a formulação do pressuposto necessário para qualquer 
compreensão positivista de matérias jurídicas (disposição hierárquica das normas). 
(111) 
10 
 
 Encara o direito como um sistema de normas objetivadas e como uma determinada 
organização do poder, uma ordem coativa, um sistema de normase não como fato 
social, numa visão que ficou conhecida como normativista-formalista. (111-112) 
 
Alf Ross 
 Considera que o direito é o que dizem os tribunais e critica a visão jusnaturalista do 
direito de forma constante. (112-113) 
 Assim, como Kelsen, Ross considera a norma como um esquema racional de 
interpretação que permite compreender os comportamentos jurídicos. Diverge no 
que tange à forma de controle de conhecimentos da ciência jurídica, optando por 
construir um modelo teórico com base no empirismo. (112-113,115) 
 
1.11 – TRIDIMENSIONALIDADE DO DIREITO 
 É comum a apresentação do direito como se compondo de três caracteres: fato, 
valor e norma. (120) 
 Fato: significa a realização de um bem comum segundo a efetividade histórica e 
cultural(120) 
 Valor: significa o conteúdo da regra segundo uma concepção de utilidade, 
proporcionalidade, igualdade e justiça, em determinado tempo e espaço. (120) 
 Norma: ordem bilateral e heterônoma para atribuir determinados efeitos aos 
eventos e fenômenos jurídicos, segundo um conjunto de regras ordenadas. (120) 
 A teoria da tridimensionalidade do Direito, do professor Miguel Reale, postula que 
o fenômeno do direito deve ser sempre analisado de forma dialética, por meio de 
três aspectos distintos entre si: 
 Fático: o estudo do fato; 
 Axiológico: o estudo do valor; 
 Normativo: o estudo das normas que compreende o dever-ser. (120) 
 Para o autor, os componentes do direito se relacionam entre si através de uma 
dialética de complementaridade. (121) 
 
1.12 – RELAÇÃO JURÍDICA: SUJEITO DE DIREITO, PERSONALIDADE JURÍDICA E 
CAPACIDADE JURÍDICA 
 Relação jurídica: ocorre por meio do fato ou evento jurídico que abrange fato 
natural e ações humanas. Na visão de Montoro, é um vínculo entre pessoas, 
enquanto que, para Kelsen, nada mais é do que uma relação entre normas, e não 
entre pessoas. (123, 124) 
 Sujeito de direito: é somente o homem. Ele figura não apenas como sujeito ativo 
da relação jurídica (como titular de um direito), como também atua como sujeito 
passivo na pessoa obrigada a realizar a prestação. (124) 
11 
 
 O homem pode ser também objeto de direito, pois uma relação jurídica nada mais 
é que o elemento em razão do qual foi constituída a relação. (125) 
 Na visão de Miguel Reale, só pessoas podem ser sujeitos de uma relação jurídica, e 
sem duas ou mais pessoas, ela não se constitui. (126) 
 Personalidade jurídica: indica a condição humana de ser sujeito de direitos e 
deveres. (127) 
 Capacidade jurídica: exercício desses atributos. (127) 
 
1.14 – IRRETROATIVIDADE DAS LEIS: DIREITO ADQUIRIDO, ATO JURÍDICO PERFEITO, 
COISA JULGADA 
 Irretroatividade remete ao tema da vigência da norma jurídica (128) Assim, uma lei 
validamente promulgada entra em vigor na data estabelecida e vigora até o termo 
nela fixado ou até que outra lei nova a revogue. Estando vigente, a lei passa a ter 
aptidão para produzir efeitos no mundo jurídico (eficácia). Nesse contexto, 
irretroatividade da lei significa que o sistema jurídico proíbe que uma lei possa 
incidir sobre fatos passados. O evento que já ocorreu não pode ser desfeito ou 
questionado, não podendo uma lei retroagir para alcança-lo, de modo que seja 
respeitada a lei vigente à época na qual o evento ocorreu. (128) 
 A irretroatividade das leis é pressuposto de um sistema formal que preza pela 
segurança jurídica, pois do contrário os conflitos estariam intermináveis, trazendo 
total instabilidade às relações sociais. (129) 
 Há alguns casos específicos em que se permite que a lei nova produza efeitos no 
passado e até mesmo situação em que a lei foi criada visando o passado (como a lei 
da anistia), mas devem ser consideradas exceções à regra. Exemplo da primeira 
situação vem do direito penal, no caso em que uma lei nova, ao deixar de 
considerar determinado fato como um ilícito penal, faz com que seus efeitos 
retroajam, por exemplo, cessando a punição daquele que ainda não foi atingido por 
completo com os efeitos da lei antiga (a eficácia somente retroage para o passado 
se a lei antiga não tiver ainda produzindo efeitos, de modo que se a pena já foi 
cumprida, a eficácia da lei nova não retroage). (129) 
 LINDB – Art. 1º - Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o País 45 
dias depois de oficialmente publicada. 
 Art. 2º - (...) A lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue. 
 São elementos da doutrina da irretroatividade das leis o ato jurídico perfeito, o 
direito adquirido e a coisa julgada. 
 O ato jurídico perfeito é o preceito segundo o qual o ato exercitado e consumado 
de acordo com as normas de conduta da lei antiga não pode ser atingido pela lei 
posterior, protegendo o titular que exerceu a relação jurídica conforme normas de 
conduta. (130) À grosso modo, refere-se ao direito processual. (131) 
 O direito adquirido relaciona-se com as normas de estrutura do sistema, pois são 
estas normas que definem quem pode ou não ser titular de um direito 
12 
 
(competência para ser proprietário, por exemplo). Uma nova norma de estrutura 
não poderá ter eficácia sobre o direito adquirido anteriormente, pois que a 
incidência da lei antiga já ocorreu plenamente. À grosso modo, refere-se ao direito 
material. (130,131) 
 Coisa julgada aquilo que foi fixado pelo tribunal, sendo a decisão judicial que já não 
caiba mais recurso. A coisa julgada protege a relação decidida, mesmo contra 
incidência da lei nova. (131) 
 Relacionando os conceitos, podemos dizer que há situações nas quais atos jurídicos 
perfeitos (regulado por normas de conduta) poderão levar à aquisição de um direito 
adquirido (regulado por normas de competência). Enquanto isso não acontece, 
haverá apenas uma “expectativa de direito” – logo, qualquer controvérsia acerca da 
real situação jurídica poderá ser levada a um tribunal, e a decisão garantirá que a 
situação não seja mais questionada, pois que a decisão fez coisa julgada. (131) 
 
 
1.15 – SISTEMA JURÍDICO E METODOLOGIA: UNIDADE, COMPLETUDE E COERÊNCIA 
 Sistema jurídico: conjunto de normas ligadas a fatos, eventos e atos e que acabam 
por ser divididas em ramos do direito, porém, funcionando com uma unidade 
finalística, isto é, toda essa unidade significa que todas as ordens possuem uma 
finalidade individual e comum, ao mesmo tempo. As mudanças na ordem jurídica 
são feitas pelo próprio sistema; essa autonomia é característica do sistema jurídico. 
(137, 138) Não é um mero conjunto de leis postas – é um organismo vivo, dinâmico e 
autossuficiente. (144) 
 Quanto mais definido o conceito estiver na norma, mais fácil será o entendimento 
do comando normativo. A integração é outro fator importante no sistema jurídico e 
diz respeito a aplicar uma norma com vistas a um ordenamento. (141) 
 A unidade do ordenamento será buscada na origem comum de suas normas, no 
caso, a Constituição de um país. (141) 
 A completude seria a ausência de lacunas no ordenamento. Todavia, ainda que se 
defenda a existência dessas lacunas na lei, elas não existem no sistema considerado 
como um todo, pois o ordenamento jurídico recorre a métodos integrativos que o 
tornam “completável” (142) 
 A coerência só seria possível diante da inexistência de antinomia, ou seja, diante da 
inexistência de contradição de leis. O problema se dissolve, no entanto, ao 
notarmos que há elementos no ordenamento, considerado como um todo, para 
resolver qualquer contradição entre normas, seja pelo critério hierárquico (escolha 
daquela de maior valor na escada hierárquica), cronológico (lei posterior revoga lei 
anterior) ou de especialidade (lei específica se sobrepõeà lei geral) (143)

Continue navegando