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Artigo Turismo e Ilha das Bruxas

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V História e Segredo: Dimensões entre o público e o privado. De 09 a 12 de setembro de 2014. FAED-UDESC, Florianópolis, SC 
 
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Minissérie Ilha das Bruxas: A apropriação da obra de Franklin Cascaes pela 
televisão 
Alan Cristhian Michelmann1 
Resumo: A obra de Franklin Joaquim Cascaes, nascido em 1908 e falecido em 1983 é 
objeto de análise, pesquisa e debates, além de produção de livros e artigos. Ao longo 
dos anos 1980 toda a montagem e recriação feita por Cascaes da cultura popular dos 
habitantes de Florianópolis e região, foi fruto de apropriações das mais variadas. O 
poder público valeu-se principalmente dos elementos fantásticos da obra do Professor 
Cascaes para promover a capital do estado pela ótica da cultura luso-açoriana, a criação 
da Fundação Cultural Franklin Cascaes é um exemplo prático disso. Além do poder 
público, a iniciativa privada aproveitou muito bem deste importante registro da cultura 
popular e o ampliou em divulgações da Ilha de Santa Catarina, tanto é que a 
especulação imobiliária nos anos 1980 tornou-se mais agressiva. Além dos poderes 
público e privado, as artes em geral se apropriaram desse vasto registro: Músicas, peças 
de teatro, curtas-metragens, enfim, o legado de Franklin Cascaes foi materializado. Mas 
no início da década de 1990 a TV Manchete leva para o grande público uma adaptação 
baseada na obra de Cascaes intitulada Ilha das Bruxas e, em linhas gerais, faz com que o 
nome do criador das obras ultrapassasse as fronteiras de Santa Catarina. O presente 
artigo visa discorrer sobre essa apropriação por parte da mídia televisiva da obra de 
Franklin Cascaes, analisando o processo da construção da imagem fantástica de 
Florianópolis entre os anos 1980 e 1990. 
Palavras-chave: Ilha das Bruxas, apropriação, televisão, cultura popular, Cascaes 
 
Primeiras Palavras 
 
 A obra de Franklin Cascaes deixou para as gerações posteriores um legado de 
uma Florianópolis que hoje praticamente desapareceu. A modernidade foi ocupando 
cada espaço onde o tradicional, o simples, o artesanal estava encrustado no cotidiano e 
os hábitos, práticas, usos e costumes, bem como as histórias antigas passadas de geração 
para geração formaram a matéria prima para todo o processo de produção o qual se 
dedicou por mais de três décadas. Desenhos, esculturas, maquetes, esboços, ensaios, 
cadernos e gravações. Tudo isso faz parte do legado material deixado pelo professor 
Franklin Cascaes e atualmente se encontra no Museu Universitário da UFSC. 
 Desde sua morte, em 16 de março de 1983, até os dias atuais, uma série de usos 
e apropriações de sua vasta obra foram feitas, principalmente no que tange aos aspectos 
 
1 Alan Cristhian Michelmann é graduando na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, pelo curso de 
Bacharelado e Licenciatura em História. É professor do ensino fundamental II e ensino médio no Colégio Elcana, 
Palhoça-SC. E-mail: <alancristhian@gmail.com>. 
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envolvendo o elemento fantástico – as bruxas, boitatás, etc. – como peças teatrais, 
exposições, propagandas turísticas e, também, pela televisão. 
 O turismo foi um dos campos em que o elemento mitológico popular ilhéu foi 
bem apropriado pelos agentes públicos e privados. Atividades expressivas de 
articulação do turismo em Santa Catarina para os demais estados do Brasil e países do 
chamado Cone Sul2, somado a iniciativas de divulgação de Florianópolis como roteiro 
de viagem no sul do país, como o XVI Congresso Associação Brasileira das Agências 
de Viagens – ABAV, em São Paulo-SP, em 1988, onde o estande de divulgação foi 
dentro dos motivos fantásticos, com pessoas encarnadas na personagem da bruxa. 
No caso da televisão, temos no ano de 1991 a exibição pela Rede Manchete de 
Televisão uma série composta de 23 episódios inspirada na obra de Franklin Cascaes 
que foi apresentada em todo o território nacional. Com o sugestivo nome de Ilha das 
Bruxas, o enredo desenrolou-se dentro dos aspectos culturais populares das gentes que 
habitaram a Ilha de Santa Catarina e que eram de origem luso-açoriana. 
As questões que envolvem esteticamente e a apropriação dos elementos dessa 
cultura recolhidos por Cascaes ao longo de sua vida pelo turismo na segunda metade da 
década de 1980 e nesse seriado de televisão guiarão esse texto. 
 
O elemento fantástico apropriado pelo turismo: O Congresso da ABAV em 1988 
 
Antes mesmo de a Manchete colocar no cenário nacional a cultura da Ilha de 
Santa Catarina e explorar a questão da açoraneidade, a mística das bruxas baseado na 
obra de Franklin Cascaes é utilizado por Santa Catarina para divulgação do estado no 
circuito turístico no ano de 1988, onde em evento realizado pela Associação Brasileira 
de Agências de Viagem – ABAV na cidade de São Paulo, dentro dos debates da crise 
dentro do setor turístico nacional, o estande promocional catarinense foi uma montagem 
que levou em conta toda a magia das bruxas da Ilha. 
Esse estande foi concebido por Gelcy José Coelho, o “Peninha”, e montado 
pelo artista plástico Jone Araújo, causando polêmica e provocando a repercussão na 
imprensa. As performances de atrizes representando bruxas e servindo uma bebida 
consumida pelos antigos moradores da Capital catarinense, somando a ruídos 
característicos das descrições sobre bruxas chamavam a atenção dos participantes e 
 
2 OLIVEIRA, Antônio Pereira. História do Turismo em Florianópolis: Narrada por quem a vivenciou (1950-2010). 
Florianópolis: PalavraCom Editora. 2011. p.281. 
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alcançou o objetivo esperado: Florianópolis é uma cidade mágica, com mistérios e com 
uma natureza encantadora, algo digno de bruxaria3. 
Jone Araújo, atualmente vinculado ao Núcleo de Estudos Açorianos – NEA da 
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, mantém vivo o lado artístico da 
mística da arte deixada por Franklin Cascaes, dando continuidade pelos presépios 
açorianos e, pouco a pouco, trabalhando em uma “extensa produção autônoma baseada 
no vídeo, na fotografia, em colagens (...), sobretudo em instalações de temática 
açorianista” (LEAL, 1998, p.122), e no ano de 1988 foi convidado a conceber uma 
instalação dentro dessa temática no evento da ABAV promovendo o turismo em Santa 
Catarina, em especial, o litoral. 
Já Peninha advém dos circuitos artísticos e culturais de vanguarda da capital 
desde a segunda metade dos anos 1960 e foi o responsável por “redescobrir” a produção 
de Franklin Cascaes, no ano de 1972, o colocando em contato com outros artistas, 
incentivadores e intelectuais locais, tais como Salim Miguel, Beto Stodieck, dentre 
outros e formando um núcleo de divulgação artística que girava em torno do Studio A/2, 
de propriedade de Stodieck. Durante a década de 1970 trabalhou juntamente com 
Cascaes, mediando inclusive o processo de transferência de toda a produção do acervo 
de Franklin para a UFSC, onde atualmente se encontra no Museu Universitário Oswaldo 
Rodrigues Cabral sob o nome de Acervo Elisabeth Pavan Cascaes. Peninha atualmente 
trabalha no museu acima citado e é ativista do NEA. 
Esse evento apropriou-se de forma muito eficiente da cultura de origem luso-
açoriana e apresentou Florianópolis de forma mais agressiva no cenário turístico 
nacional, posto que gaúchos e argentinos conhecessem e frequentasse o litoral 
catarinense desde fins dos anos 1970, expandir o alcance dasbelezas naturais da Ilha de 
Santa Catarina para outros públicos era essencial. 
Com a gestão do governador Esperidião Anin (1983-1986) onde, ao contrário do 
que tivemos nas primeiras décadas do século XX com uma ideia de uma identidade 
germânica e, após o I Congresso Catarinense de História, no mês de outubro de 1948, 
onde se voltou às atenções para a valorização da cultura açoriana em Santa Catarina, 
buscou-se mostrar que o estado possuía diversas identidades: dos imigrantes alemães no 
norte e vale do Itajaí, italianos no sul do estado, dos sertanejos que lutaram na Guerra 
do Contestado (1912-1917) e, por fim, dos açorianos no litoral catarinense. 
 
3 LEAL, João. Cultura e Identidade Açoriana: o movimento açorianista em Santa Catarina. Florianópolis: 
Ed.UFSC, 2007.p.133-134. 
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A exploração do turismo em Florianópolis ao longo da década de 1980 pode se 
observar, por exemplo, dentro do quadro de hospedagens, onde “no período de verão, de 
890 mil em 1980/1981 para mais de 3 milhões em 1989/90, com expressiva presença de 
visitantes estrangeiros” (LINS, 1993, p.89), isso demonstra uma visibilidade maior da 
Capital em relação ao turismo, alterando rapidamente inclusive o perfil do morador fixo 
da Ilha, posto que o turista é um propagador de informações para outras pessoas para 
visitar o local, bem como cogitar a possibilidade de fazer o lugar de descanso de 
veraneio, o seu local de moradia4. Nesse sentido temos também a cada vez maior 
especulação imobiliária, inicialmente focada na região central da cidade, principalmente 
a partir da metade da década de 1970, com a inauguração da Avenida Beira Mar Norte e 
a construção de edifícios, espalhando-se rapidamente para o interior da ilha, por 
intermédio de casas de veraneio, pousadas, etc., bem como “a complementação do 
circuito rodoviário na porção Nordeste da Ilha, integrando-a aos balneários da Costa 
Norte” (LINS, 1993, p.90). 
 O XVI Congresso da ABAV em São Paulo apenas reforçou essa ideia de 
mostrar a apropriação da cultura açoriana no litoral catarinense e que a Manchete 
percebeu ser um bom produto para suas intenções mercadológicas e de conquista de 
audiência. 
 
A teledramaturgia brasileira nos anos 1980: Globo e Manchete em breves palavras 
 
A televisão possui um quase pleno alcance no território brasileiro. De acordo 
com o IBGE 98% das residências brasileiras possui ao menos 1 aparelho de TV. A 
emissora de maior abrangência do país tem seu sinal de retransmissão atingindo 99% do 
território nacional. 
Os produtos advindos das emissoras de televisão e captados por aparelhos nas 
residências brasileiras obviamente atinge as mais diversas camadas sociais. A 
dramaturgia faz parte da programação de emissoras de televisão desde a década de 
1950, e, ao longo das décadas conquistou o gosto do espectador. Novelas, séries e 
minisséries fazem parte do horário nobre, no caso, no período noturno, espaço este 
 
4 LINS, Hoyedo Nunes. Herança açoriana e turismo na Ilha de Santa Catarina. Revista de Ciências Humanas, 
vol.10, n.14, 1993. p.105. 
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detentor dos maiores índices de audiência entre os telespectadores, apesar dos métodos 
de medição de audiência até meados da década de 1980 ser questionáveis5. 
A Rede Globo conquistou um público cativo para seus produtos tele 
dramatúrgicos e, por intermédio destas histórias ficcionais, a audiência tornou-se a 
maior do país até os dias atuais. 
Nos anos 1980 a Rede Globo passa a investir nas séries e minisséries. 
Inicialmente as obras literárias foram o alvo. A obra de Guimarães Rosa Grande Sertão: 
Veredas e a de Érico Veríssimo O Tempo e o Vento foram responsáveis por bons 
retornos de público e crítica. Até os dias atuais a emissora da família Marinho investe 
nesse segmento da dramaturgia. 
É nos anos 1980 também que a Família Bloch passa a investir no segmento de 
televisão - posto que detivesse nos meios impressos um veículo importante, no caso a 
Editora Bloch, que entre outras publicações, editava a Revista Manchete (circulou no 
país de 1952 até 2000) que praticamente substituiu no gosto popular a consagrada 
revista O Cruzeiro – inaugurando em 05 de junho de 1983 a Rede Manchete de 
Televisão6. 
O referido canal tinha em sua proposta uma plataforma moderna para os 
parâmetros da época, principalmente no que tange aos componentes técnicos de 
transmissão, tanto que o slogan da rede era “a televisão do ano 2000”7. A 
teledramaturgia foi uma aposta e novelas e minisséries passaram a fazer parte do horário 
nobre do canal, atingindo razoáveis índices de audiência ao longo da década de 1980 - a 
novela Pantanal, dirigida por Jayme Monjardim, que superou no primeiro lugar em 
audiência na região metropolitana de São Paulo a novela O Dono do Mundo, exibida 
pela Rede Globo. A primeira minissérie produzida pela Manchete ocorreu em 1984 com 
o título de A Marquesa de Santos, estrelado por Paulo Gracindo e Maitê Proença, 
atingindo bons índices de audiência8. Era o pontapé inicial da emissora no segmento de 
teledramaturgia e, no ano seguinte, a emissora apresentava ao público sua primeira 
novela. 
Dar visibilidade a um Brasil que não era muito explorado devidamente pela 
Globo foi o insight percebido pela Manchete. As longas sequências de paisagens de 
 
5 LOBO, Narciso Júlio Freire. A busca por uma teledramaturgia nacional. XXIII Congresso Brasileiro de Ciência 
da Comunicação. Manaus. 2000. p.13. 
6 FRANCFORT, Elmo. Rede Manchete: aconteceu, virou história. São Paulo: Imprensa Oficial, 2008. p.17. 
7 Curiosamente, a Rede Manchete encerra suas atividades em maio de 1999, passando o seu sinal a ser operado pela 
Rede TV!.A “televisão do ano 2000” deixa de existir antes disso. Cf. FRANCFORT, pp.280-287. 
8 FRANCFORT. Idem. p.61-62. 
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outras regiões do país, como as do pantanal mato-grossense, do interior de Minas Gerais 
ou de pontos da região sul do país em meio aos enredos das telenovelas e minisséries. A 
apropriação de um “outro Brasil” foi bem recepcionada pelo telespectador garantindo 
bons índices de audiência para a rede de televisão da família Bloch. 
Outro fator atraiu uma parcela do público: A exposição e exploração da 
sensualidade, principalmente, do corpo feminino. Em abril de 1986 vai ao ar a novela 
Dona Beija, exibida pela Manchete notabilizou-se por cenas em que a sensualidade foi 
explorada substancialmente. A novela atingiu uma média de 15 pontos, chegando a 
superar a programação da Rede Globo em várias oportunidades no primeiro lugar na 
audiência, com picos de 36 pontos9. 
Assim sendo, o processo de conquista de um público cativo, combinado com a 
busca pela audiência10, somado a exploração visual da sensualidade feminina, mais a 
apropriação dos aspectos naturais de regiões do país não muito exploradas pela televisão 
em novelas e minisséries até sua exploração pela Manchete dão o tempero para uma 
concorrência ainda maior pela audiência no horário nobre, posto que a Globo 
explorasse, principalmente na segunda metade dos anos 1980, as paisagens do nordeste 
brasileiro, como o caso da novela Tieta, de 1988 e da minissérie Riacho Doce, no ano 
de 1990. 
Entre as paisagens poucoexploradas pela Globo, a Manchete optou por explorar, 
como citado acima, o pantanal mato-grossense e paisagens do sul do país, uma delas, foi 
a Ilha de Santa Catarina, onde no ano de 1991, entre 04 a 28 de março, foi ao ar no 
horário das 22h uma minissérie em 23 episódios sugestivamente intitulado Ilha das 
Bruxas11, baseando-se na obra do professor Franklin Cascaes. Segundo Elmo Francfort 
“a abertura, com lua cheia, gritos de bruxas e nuvens era tão realista que deixavam as 
crianças com medo” (FRANCFORT, 2008, p.179) 
 
 
 
 
 
 
9 FRANCFORT. Idem. p.31e 65. 
10 Segundo Elmo Francfort, constante nas referências bibliográficas deste texto, os três primeiros anos de vida da 
Rede Manchete estavam voltados para a busca de uma audiência qualificada nas classes A e B, com programas de 
música clássica e entrevistas. Apenas em 1986, para segurar a queda de audiência, a emissora da família Bloch muda 
seu público-alvo, investindo em programas infantis, musicais e novelas, bem como a programação esportiva. 
11 Página virtual Manchete.net. Disponível em <http://redemanchete.net/artigos/artigo.asp?id=186&t=Tudo-sobre-
Ilha-das-Bruxas>. Acessos em 20 de maio e 23 de agosto de 2014. 
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O seriado Ilha das Bruxas 
 
No rastro do sucesso da novela Pantanal12, a Manchete voltou-se para o sul do 
país, mais precisamente a Ilha de Santa Catarina e a cultura popular local registrada por 
Franklin Cascaes ao longo de sua vida e, adaptando os relatos fantásticos e com o 
elemento sobrenatural, trabalho este a cargo de Bebel Orofino Schaefer, com o roteiro 
escrito por Paulo Figueiredo, é produzido no ano de 1990 e estreia em março de 1991 a 
minissérie Ilha das Bruxas a mais cara produção de minissérie da Rede Manchete, com 
um custo estimado por capítulo em torno dos U$50 mil dólares13. 
Franklin Cascaes, em entrevista a Raimundo Caruso, discorre sobre a televisão: 
 
Não tem tempo, tem que ver televisão (...). Quando veem televisão, chegam a 
desligar as campainhas (...). As minhas crianças quando veem televisão, elas 
não escutam chamar. Isso foi uma praga que surgiu. Quem pensa que ela está 
construindo, está muito enganado, está é destruindo, isolando uma pessoa da 
outra, ninguém conversa mais. O senhor pode chegar numa casa e parece um 
velório. Todo mundo está com os olhos firmes naquela coisa. E há pessoas 
que não se levantam durante duas, três, quatro horas. (CASCAES, 1989, 
p.101) 
 
Certamente o professor, que de forma profética e objetiva demonstrou seu 
descontentamento com a televisão, não poderia imaginar que justo ela alavancaria sua 
obra, apropriando-se para deixar mais pessoas por uma boa parcela de tempo diante do 
televisor para acompanhar as histórias das bruxas da Ilha de Santa Catarina. A televisão, 
de forma “sutil e manhosa”14 buscou atrair o público por intermédio da magia das 
bruxas. 
As bruxas são entes que aparecem com frequência nos relatos coletados por 
Cascaes, onde: 
Claramente, a bruxa aparece apenas na forma feminina, normalmente são 
mulheres que durante o dia estão em sua forma humana, vivendo nas 
comunidades e, à noite “metamorfoseam-se” e aparecendo de várias formas, 
como galinha-choca, por exemplo. As bruxas são divididas em duas 
categorias: as terráqueas e as espirituais, sendo estas últimas, predestinadas 
pelo próprio Demônio a tal missão. O foco principal das bruxas são os seres 
humanos, apesar de atacarem os animais. (MICHELMANN e 
GONÇALVES, 2013, p.9) 
 
 
12 Foi o maior sucesso de audiência da Rede Manchete, atingindo média de audiência entre 36 a 40 pontos, ficando à 
frente da Rede Globo no horário nobre. 
13 LOBO, Narciso Júlio Freire. p.15. 
14 LOBO. Idem. p.4. 
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 Ao longo de suas décadas de pesquisa de relatos orais, este componente místico 
e soturno da figura da bruxa e de suas magias fora objeto de apropriação ao longo 
principalmente na década de 1980, onde Florianópolis, visando para explorar por 
intermédio da cultura popular o turismo e a natureza locais, ganhou as alcunhas de “Ilha 
da Magia” e “Ilha das Bruxas”, sendo este último, o escolhido pela equipe que produziu 
o referido seriado para dar vida à minissérie. 
 
Aspectos percebidos na minissérie 
 
Antes de tudo cabe aqui apresentar quem são os personagens principais da trama 
adaptada por Bebel Orofino Schaefer, escrita por Paulo Figueiredo e dirigida por 
Henrique Martins: 
 
Personagem Ator/atriz 
Ludovica....................................................................Miriam Pires 
Aquilina.....................................................................Maria Helena Dias 
Domingas...................................................................Desirée Vignolli 
Marina .......................................................................Ana Cecília 
Bruxa Selena.............................................................Dedina Bernadelli* 
Constança..................................................................Wanda Kosmo 
Alice..........................................................................Daniela Camargo 
Leandro.....................................................................Camilo Bevilacqua 
Antero ......................................................................Breno Bonin 
Juliano ......................................................................Eduardo Conde 
Geraldo Sem Medo..................................................Umberto Magnani 
Severo (Sr.Benzedor)...............................................Isaac Bardavid 
Pedro........................................................................Irwing São Paulo 
Willian.....................................................................Rúbens Corrêa 
David.......................................................................Leonardo Franco 
Os atores Nelson Freitas e André Gonçalves e as atrizes Júlia Lemertz e Denise 
Del Vecchio também compunham o elenco principal da minissérie15. 
 *A atriz também aparece interpretando a neta de Pedro e Alice na última cena da 
minissérie. 
 
15 Manchete.net. Idem. 
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Buscando recriar o ambiente de uma vila fictícia de pescadores do interior da 
Ilha de Santa Catarina no ano de 1919 (a precisão temporal se tem apenas no último 
capítulo, quando o personagem Pedro, no ano de 1991, ao relatar sua experiência para 
estudantes da UFSC, apresenta sua neta e diz sua idade), a minissérie Ilha das Bruxas 
possui um enredo centrado nos seguintes elementos visuais e estéticos: Trilha sonora 
dando um clima de mistério; exploração das paisagens da Ilha de Santa Catarina; 
exploração do imaginário bruxólico; demonstração das crenças populares de curas 
espirituais das benzedeiras; pouca exploração do cotidiano dos pescadores e do 
linguajar característico do morador nativo do interior da Ilha. 
Os nomes dos personagens por vezes não condizem com os usuais nomes 
encontrados nas comunidades litorâneas de origem luso-açoriana, como, por exemplo, 
Francisco, Joaquim, José e Manoel, Maria, etc., provavelmente uma opção da equipe de 
produção e direção de escapar de determinados estereótipos e arquétipos e tornar mais 
próximo do público em geral de umpadrão de nomes que a Manchete utilizava em suas 
produções de novelas e minisséries. Nomes como Leandro, Juliano, Domingas aprecem 
entre os personagens. 
A trama da minissérie perpassa por uma série de acontecimentos sobrenaturais 
que ocorre na fictícia Vila de Santo Antão, onde temos no primeiro capítulo o botânico 
estadunidense Willian, que mora alguns anos na vila em busca de estudar as espécies da 
fauna e flora locais. Ao ser guiado de barco por um pescador local, Pedro, acaba por 
encontrar resquícios do que indica ser uma festa estranha, ocorrida em campo aberto. 
Assustado com o que vira o pesquisador volta rapidamente para o barco e passa a pensar 
sobre aquilo que observou em seu quarto alugado na casa de um dono de barcos de 
pesca (Antero) e de sua esposa, uma benzedeira local (Constança). 
O transcorrer da trama desenvolve-se de forma lenta, expondo de forma bucólica 
e até certo ponto inocente o cotidiano do interior da Ilha de Santa Catarina e, salvo 
alguns postos-chaves da história, o desenrolar dos fatos transcorre sem muitos 
sobressaltos, o que para um telespectador ávido por movimento e um enredo que 
indique maior ação, pode trazer certo enfado, tornando-o monótono. Por outro lado, a 
trama torna-se menos complexa de acompanhar, posto que o desenrolar dos 
acontecimentos, bem como em determinados pontos dos capítulos há diálogos 
explicativos sobre o modo de vida nas vilas do interior da Ilha de Santa Catarina, 
trazendo o telespectador de outras regiões do país que desconhecem a cultura popular 
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do litoral catarinense uma melhor compreensão. Sendo assim percebe-se que a pesquisa 
e a elaboração do argumento para o texto da minissérie buscou recriar o ambiente ilhéu 
das primeiras décadas do século XX da forma mais próxima. 
Diferente do que costumeiramente é descrito nos relatos16 e desenhos17 de 
Franklin Cascaes sobre as bruxas da Ilha, elas na minissérie são retratadas de uma forma 
visual que se assemelha ao estereótipo idealizado pelo senso comum. Além do mais, o 
seriado enfocou em três principais feitos fantásticos: A reunião das bruxas, a 
metamorfose destas e o congresso bruxólico18. 
Os resquícios da reunião das bruxas que o personagem Willian observou no 
primeiro capítulo, nos seguintes ele testemunhou o encontro bruxólico, reconhecendo 
algumas das moradoras da vila entre as bruxas. Conforme os relatos coletados por 
Cascaes, a bruxa principal19, no caso, a personagem Ludovica, sente a presença de 
alguém espreitando o ato bruxólico e manda as demais participantes do encontro a ir 
atrás dele. 
Nesse encontro noturno outro elemento muito descrito nos relatos de Cascaes: 
Um bebê sendo vítima das bruxas, tendo o seu sangue sugado por elas, causando assim 
o enfraquecimento da mesma, conforme o linguajar popular nesses casos, a criança 
sofre assim um “empresamento” e é isto o causador dos males às crianças20. O próprio 
Cascaes em depoimento a Raimundo Caruso deixa claro que era algo que as pessoas 
acreditavam para explicar o que de fato ocorria: 
 
O povo desconhecia a higiene, as mães davam aquelas chupetas para as 
crianças do peito, que eram um pedaço de pano, cheio, amarrado, faziam uma 
bola; aquilo elas molhavam na água com açúcar e davam para as crianças 
chupar. As crianças chupavam e depois abandonavam pelo chão. Elas 
apanhavam e tornavam a molhar no açúcar e botavam na boca da criança. 
Isso aí que embruxava a gurizada. (CASCAES, 1989, p.64) 
 
O personagem Willian, ao retornar para seu quarto alugado rapidamente registra 
o que vira em seu diário pessoal levando mais tarde a outro personagem importante na 
trama: O pai do pescador Pedro, o personagem Severo, que entre os moradores da vila 
fictícia era chamado simplesmente por “Senhor benzedor”. Willian pede que o benzedor 
 
16 Cf. CASCAES, Franklin. O Fantástico na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: Ed.UFSC, 2012. 
17 Cf. ESPADA, Heloísa. Na Cauda do Boitatá: Estudo do Processo de Criação nos desenhos de Franklin Cascaes. 
Florianópolis: Ed. Letras Contemporâneas. 1997. 2ª ed. revista. 
18 CASCAES. Idem. 
19 Cf. o conto Velha bruxa-chefe, In: CASCAES, Franklin. O Fantástico na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: 
Ed.UFSC, 2012. pp. 225-228. 
20 Cf. o conto Estado fadórico das mulheres bruxas, In: CASCAES, Franklin. O Fantástico na Ilha de Santa 
Catarina. Florianópolis: Ed.UFSC, 2012. pp. 77-83. 
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fique com o diário e o leia, posto que o que testemunhara lhe causava certo conflito com 
sua lógica científica e se interessou em investigar estes fatos sobrenaturais. O benzedor 
em questão aparece como um profundo conhecedor dos poderes fantásticos das bruxas e 
em como combater tais ações maléficas. 
Em uma das cenas do segundo capítulo o benzedor relata aos frequentadores do 
bar do personagem Leandro – que é o inspetor de quarteirão, à época que se passa a 
história é o equivalente a autoridade policial local – o que é necessário para libertar 
crianças do embruxamento, esse relato consta em um dos contos presentes na obra O 
Fantástico na Ilha de Santa Catarina, coletânea de histórias de Franklin Cascaes, bem 
como várias orações que ele profere em alguns capítulos para afugentar o mal 
provocado pelas bruxas. A outra personagem com o poder de benzer é Constança e nela 
temos um contraponto em relação ao modo como o benzedor atua e isso foi 
relativamente bem explorado na adaptação: Ela é a benzedeira que cobra pelos serviços, 
independente de quem solicite, do contrário não presta o trabalho21. Isso vai mudando 
conforme a trama se aprofunda e ela percebe a força da ação fadólica22 na vila. 
O poder das bruxas no local se intensifica após o interesse em demasia de 
Willian, sobremaneira quando este é assassinado de forma misteriosa no sexto capítulo 
da minissérie e a investigação é conduzida por Leandro. O principal suspeito, Pedro, é 
noivo de Alice, que é neta de Ludovica, a principal bruxa. Esta por sua vez passa a agir 
perante Pedro, aparecendo transformada em mulher mais jovem, todas as noites, sob o 
nome de Selene23, seduzindo-o. Isso abala o noivado dele com Alice que passa a ser 
sondado pelo amigo de Pedro, que é filho de um grande proprietário de terras local, 
conhecido por Geraldo Sem Medo24 que tem o perfil do homem controlador e que 
subestima a capacidade feminina, no caso, de sua esposa e de sua filha que são bruxas 
na vila e agem contra ele por intermédio de feitiços para enfraquecê-lo. 
E é nesse entrecruzamento dos personagens e suas histórias que os relatos de 
Cascaes aparecem adaptados dentro da minissérie. No caso do personagem Geraldo 
Sem Medo, este é vítima de outro feitiço bruxólico: É transformado em animal de 
montaria que serve às bruxas para seus passeios ao longo da madrugada. A intenção de 
 
21 Idem. p.79-81. 
22 CASCAES. Franklin. Vida e arte, e a colonização açoriana: entrevistas concedidas e textos organizados por 
Raimundo Caruso. Florianópolis – SC: Ed. UFSC, 1989. 2ªed. revista. p.90. 
23 O nome da metamorfose de Ludovica pode ser explicado pela alusão à lua, à noite, que é quando Selene aparece. 
Selenita é uma pedra translúcida e ligada às questões mágicas. 
24 O nome deste personagem bem como sua postura na trama televisiva é claramente inspirado no homônimo que 
aparece no conto Orquestra selenita bruxólica, presente no livro de Franklin Cascaes, O fantástico na Ilhade Santa 
Catarina. Florianópolis: Ed.UFSC, 2012. pp. 89-95. 
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ambas era fazer com que ele se rendesse ao poder feminino e as respeitasse, o que 
ocorre apenas no penúltimo capítulo, com o benzedor auxiliando Geraldo, cortando o 
encanto de sua esposa. 
Uma a uma as bruxas vão sendo desencantadas e todos os desencantos 
correspondem ao que Cascaes descrevera, revelando assim fidelidade às histórias dos 
seres fantásticos. A única que escapa do desencantamento e a filha de Geraldo Sem 
Medo, Mariana, que consegue conquistar o filho de Willian, o também botânico David, 
que veio a Vila para acompanhar as investigações da morte do pai. 
A apropriação dos elementos da cultura popular da Ilha da época, como a crença 
na força do poder das bruxas e no poder das benzedeiras em retirar os encantos 
maléficos sobre as pessoas, a natureza sempre evidenciada nas cenas, o aspecto noturno 
da Ilha dão o tempero as histórias escolhidas, formando o argumento da minissérie: Os 
habitantes da vila atormentados pelos feitos das bruxas, onde noivados são desfeitos, 
crianças tem seu sangue sugado, famílias inteiras acabam sofrendo de uma forma ou 
outra pelo lado sobrenatural. 
Foi explorado pela produção da minissérie também que cada uma das bruxas 
possuía algum segredo que as fizeram entregar-se a Lúcifer – o chefe das bruxas. 
Ludovica, em sua juventude, se apaixonou por um jovem padre – nos relatos de 
Cascaes, isso era motivo para que a mulher viesse a se tornar uma bruxa – sendo este 
semelhante fisicamente ao pescador Pedro, o que explica a metamorfose de Ludovica 
em Selene – que é a própria Ludovica quando jovem. Mariana e Aquilina – 
respectivamente filha e esposa de Geraldo Sem Medo – tornaram-se bruxas para se 
vingar dos maus tratos dados por Geraldo a elas, tanto que o conto de Cascaes em que o 
homem é transformado em cavalo de montaria para que as bruxas cavalguem nele pela 
madrugada afora é utilizado nesse núcleo da história. 
Domingas, irmã do pescador Antero, este esposo da benzedeira Constança, se 
entrega aos desejos de Lúcifer por não aceitar sua situação de agregada e busca tirar do 
caminho ambos para tomar conta das posses de Constança – ela na trama possui os 
barcos e terras, dos quais Antero os administra. O clima para que todos os 
acontecimentos difíceis de explicar estão feitos e assim a trama transcorre ao longo de 
23 episódios exibidos no horário nobre da Manchete entre março e abril de 1991. 
Seguindo um cliché das tramas televisivas, os vilões pagam pelos seus erros e os 
personagens de boa índole acabam tendo um final feliz. A benzedeira Constança e o 
benzedor Severo terminam ainda mais respeitados na vila, pelos seus atos em expulsar o 
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poder maléfico das bruxas que rodeavam a Vila; Aquilina fora desencantada e passou a 
ser bem tratada pelo seu marido, Geraldo Sem Medo; Pedro e Alice enfim se casam e 
logo mais tarde tem uma filha; Já Domingas, que igualmente fora desencantada por 
Severo e Constança, passa a vagar pela Ilha, tornando-se uma mendiga; E Ludovica 
acaba sendo desencantada e morta pelo seu filho Juliano, que também foi o responsável 
pela morte do botânico Willian. Nesse caso, Juliano matou-o por ter sido encantado por 
Ludovica, posto que o botânico testemunhou a reunião das bruxas e deveria ser 
silenciado. 
 
Últimas Palavras 
 
Em termos de alcance nacional, a audiência do seriado Ilha das Bruxas não foi o 
esperado, sendo considerado um fracasso de público, se bem que a crítica via como 
interessante a investida da Manchete em mostrar outros aspectos da cultura 
multifacetada do Brasil. Além dessa minissérie foram produzidas outras ao longo do 
ano de 1991 – tendo em sua maioria a temática do soturno e sobrenatural, combinado 
com a exploração das paisagens naturais - foi ao ar às minisséries Filhos do Sol, O 
Farol, Na rede de intrigas, Floradas da Serra, O Guarani e Fantasma da Ópera. Todas 
essas produções tiveram o mesmo alcance de audiência de Ilha das Bruxas. 
Se o retorno de audiência não atingiu o patamar da novela Pantanal, o projeto e a 
minissérie Ilha das Bruxas contribuiu localmente para a solidificação da ideia já 
explorada no turismo de que Florianópolis, principalmente após a divulgação de Santa 
Catarina no XVI Congresso da ABAV em 1988, onde o ar misterioso e mágico foram 
visualmente utilizadas, possuía um ar encantador em sua natureza e costumes, o que 
atraía mais e mais pessoas para visita-la, mesmo que de forma sazonal, por turistas 
advindos principalmente dos estados do Paraná e Rio Grande do Sul e de países 
vizinhos, como Uruguai e, principalmente Argentina. 
A “magia” da Ilha fora construída baseando-se no encantamento bruxólico 
descrito nos relatos de Franklin Cascaes, que ao fim da vida desejou que sua obra fosse 
utilizada para mostrar “a Desterro”, certamente não imaginaria que a cultura popular, 
vivenciada pelo professor e artista desde sua juventude, no convívio com os 
trabalhadores jornaleiros nas terras de sua família e em toda a região de Itaguaçú, 
Abraão e Coqueiros, no continente da Capital, bem como todo o seu processo 
independente de visitas, conversas, pesquisas e registros dos hábitos e costumes das 
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pessoas comuns das regiões pesqueiras da Ilha de Santa Catarina, viria a se tornar o 
mote para o desenvolvimento turístico e sua obra viesse a ser o escopo para uma 
produção a uma rede nacional de televisão. 
Ao público catarinense a minissérie Ilha das Bruxas solidificou ainda mais a 
ideia de “Ilha da magia” em que, pegando emprestada uma frase costumeiramente dita 
por figuras proeminentes da imprensa local e replicada pelo senso comum, 
“Florianópolis é a terra dos casos e ocasos raros”25, onde bruxas, seres fantásticos dos 
mais variados, benzedeiras e demais elementos dão o tempero especial para que a 
capital catarinense tenha um modo peculiar de apropriar-se de uma parcela importante 
de sua história, advinda dos portugueses do arquipélago dos Açores em grande monta a 
partir de 1746, em uma epopeia26 que ainda possui nos dias atuais forte apelo na 
promoção do litoral catarinense, em especial, Florianópolis, para o Brasil e 
internacionalmente. 
 
Referências: 
CASCAES, Franklin. Vida e arte, e a colonização açoriana: entrevistas concedidas e 
textos organizados por Raimundo Caruso. Florianópolis: Ed. UFSC, 1989. 2ªed. revista. 
 
CASCAES, Franklin. O fantástico na Ilha de Santa Catarina. Florianópolis: 
Ed.UFSC, 2012. 
 
FRANCFORT, Elmo. Rede Manchete: aconteceu, virou história. São Paulo: Imprensa 
Oficial, 2008. 
 
LEAL, João. Cultura e Identidade Açoriana: o movimento açorianista em Santa 
Catarina. Florianópolis: Ed.UFSC, 2007. 
 
LINS, Hoyedo Nunes. Herança açoriana e turismo na Ilha de Santa Catarina. Revista de 
Ciências Humanas, vol.10, n.14, 1993. pp. 89-117. 
 
LOBO, Narciso Júlio Freire. A busca por uma teledramaturgia nacional. XXIII 
Congresso Brasileiro de Ciência da Comunicação. Manaus. 2000. Disponível em: 
<http://www.portcom.intercom.org.br/pdfs/764d5de334fed8d406739f315b7e38ab.pdf>. 
Acesso em 24/07/2014. 
 
MICHELMANN, Alan Cristhian; GONÇALVES, Cristiane. Franklin Cascaes: O 
fantástico, o religioso e a coleta de relatos orais. Anais da IV Semana de História da 
UDESC. Florianópolis. 2013. Disponível em:25 Frase atribuída ao professor e jornalista Amaro Seixas Neto (1924 – 1984). 
26 Cf. PIAZZA, Walter. A epopeia açórico-madeirense 1748-1756. Florianópolis: Ed.UFSC; Ed.Lunardelli, 1992. 
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<http://www.anaissemanahistoriaudesc.com.br/p/edicao-atual.html>. Acesso em: 
29/03/2014. 
OLIVEIRA, Antonio Pereira. História do Turismo em Florianópolis: Narrada por 
quem a vivenciou (1950-2010). Florianópolis: PalavraCom Editora. 2011. 
PIAZZA, Walter. A epopeia açórico-madeirense 1748-1756. Florianópolis: Ed.UFSC; 
Ed.Lunardelli, 1992. 
Fonte: 
MINISSÉRIE. Ilha das Bruxas. Rio de Janeiro, Rede Manchete de Televisão, março e 
abril de 1991. Programa de TV. Disponível em 
<https://www.youtube.com/results?search_query=Ilha+das+bruxas>. Acesso em: 02 de 
maio de 2014.

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