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Do registro de candidatura
Luís Adriano de Castro
 
Palavras­chave: Justiça eleitoral. Direito eleitoral. Princípio da celeridade. Ação de
impugnação.
Sumário: Introdução – 1 A justiça eleitoral: delineamentos básicos – 2 Princípios
do Direito Eleitoral – 2.1 Princípio da Celeridade – 2.2 Princípio da Isonomia ou
Princípio da Lisura das Eleições – 2.3 Princípio da Devolutividade dos Recursos – 2.4
Princípio da Preclusão – 2.5 Princípio da Anualidade ou Princípio da anterioridade da
Lei Eleitoral – 2.6 Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos
políticos – 2.7 Princípio da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior
Eleitoral – 3 Do processo eleitoral – 4 Do registro de candidatura – 4.1 Natureza
Jurídica – 4.2 Convenção Partidária – 4.3 Elegibilidade e Inelegibilidade – 4.3.1
Restrição da Elegibilidade pela moralidade – 4.3.2 A Lei Complementar nº
135/2010 – 4.4 Do procedimento do Registro de Candidatura – 4.4.1 Documentos
necessários ao registro – 4.5 Da ação de Impugnação do Registro de Candidatura –
4.5.1 Aspectos processuais da ação de impugnação do registro de candidatura –
Conclusão – Referências
 
Introdução
O trabalho tem como parâmetros os estudos desenvolvidos por ocasião do Curso de Especialização
em Direito e Processo Eleitoral (2008/2010), ministrado pela Universidade Federal de Goiás em
convênio com o Tribunal Regional Eleitoral de Goiás.
No desenvolvimento do assunto, procuraremos demonstrar, inicialmente, os institutos,
delineamentos básicos e a forma de atuar da Justiça Eleitoral, baseando em princípios que
demonstrem a essência, os alicerces do ordenamento jurídico em questão, para que possamos
entender todas suas características intrínsecas, e todo processo eleitoral que antecede ao registro
de candidaturas.
Posteriormente, trataremos do tema principal em estudo, demonstrando suas etapas e
procedimentos tanto para sua propositura quanto para sua impugnação. Como inovações,
abordaremos a Lei Complementar nº 135/2010, popularmente conhecida com “Lei da Ficha Limpa”,
bem como as relações e implicações entre a elegibilidade e moralidade, procurando atiçar a
discussão sobre a probidade administrativa aos pretendentes ao mandato eletivo.
Analisaremos, especificamente, a questão da elegibilidade e da inelegibilidade, cujo estudo é de
fato uma das premissas maiores ao presente trabalho, e que merece tratamento a parte, devido a
sua importância e abrangência.
O tema escolhido, “Registro de Candidaturas”, é fruto das atividades exercidas na Secretaria
Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, do qual sou servidor, nas quais vivenciei
situações que acabaram convergindo para o assunto, em razão dos diversos debates presenciados
pela sua aplicação em casos concretos. Procuro, neste trabalho, ser o mais objetivo possível,
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mostrando os pontos mais relevantes que levam aos indeferimentos do registro de candidatura,
bem como as maiores dificuldades que os atores (candidatos, advogados, partidos políticos) do
processo eleitoral encontram por ocasião da atividade em questão.
 
1 A justiça eleitoral: delineamentos básicos
Antes de adentrarmos ao tema principal é imprescindível que destaquemos alguns pontos a
respeito da justiça eleitoral e seus delineamentos básicos, que, através de seus institutos, normas
e procedimentos, impermeabilizam os direitos políticos, exercidos por representantes escolhidos
através do poder de sufrágio popular.
Através dos direitos políticos, concebido constitucionalmente, é que todo cidadão participa de forma
direta ou indiretamente do governo, da organização e funcionamento do Estado, sobre a égide da
liberdade e igualdade, caracterizada por um regime de Estado democrático de direito, ou seja,
governo formado por cidadãos, os quais são escolhidos livremente pelo voto direto e universal,
tendo sua titularidade o povo.
Dessa forma, em respeito à escolha dos representantes aos mandatos eletivos, faz­se necessário a
implantação de um sistema eleitoral adequado, confiável, que seja dotado de técnicas seguras e
instrumentos eficazes, aptos a captar com imparcialidade a vontade popular, assegurando a
segurança e legitimidade às eleições, aos mandatos e ao exercício da atividade estatal, ao longo
desse processo eleitoral.
O ordenamento jurídico brasileiro, especificamente através da justiça eleitoral, é quem exerce o
controle da regularidade e legitimidade do processo eleitoral. Em outros países, tal função é
delegada ao legislativo ou executivo, e até mesmo a órgãos advindos dos poderes estatais. Nos
Estados Unidos da América, por exemplo, é incumbido ao poder legislativo a verificação da
legalidade e legitimidade das eleições através do sistema de “verificação de poderes”; em outros
países, como Portugal, França, Espanha, Argentina, esse processo não é só decorrente do
Legislativo, mas também do Executivo, e da própria sociedade, através do sistema “eclético”.
No Brasil, antes de o Poder Judiciário ser o responsável pela regularidade das eleições, o sistema
adotado era da “verificação dos poderes”, desde o Império até o período republicano, ficando a
cargo das assembleias políticas a verificação da validade e proclamação dos eleitos, sistema então
considerado insatisfatório, devido a abusos e distorções da vontade popular. Diante a tal fato, foi
instituída a Justiça Eleitoral, através da criação do Código Eleitoral em 24.2.1932, passando a
integrar o Poder Judiciário, passando então a responsabilidade do processo eleitoral para sua
competência. No entanto, sua existência foi consagrada na Constituição Federal de 1934 e foi
expungida em 1937 pela Carta Política de ordem totalitária, ficando o poder de sufrágio nas mãos
do Presidente da Republica.
Essa situação perdurou até 1945, quando, pelo Decreto­Lei nº 7.586, a Justiça eleitoral foi
restituída, e posteriormente consolidada, na Constituição de 1946 e 1967, posterior Emenda I, de
1969, e também na Constituição de 1988, com o detalhe de que, em 1965, foi editado um novo
Código Eleitoral, Lei nº 4.737/65, que se encontra em vigor até hoje.
Desde então, conforme salienta Camargo Gomes (2010, p. 23), passou “a Justiça eleitoral a ser
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uma instituição perene no ordenamento constitucional brasileiro, com vida contínua e
intermitente, mesmo nos períodos em que as eleições não ocorreram para todos os níveis de
governos e cargos representativos do povo”.
A Justiça Eleitoral está prevista na Constituição, quando se trata sobre o Poder Judiciário, sendo
destarte integrada ao mesmo, situada especificamente no Capítulo III do Título IV, sendo que seus
órgãos estão estabelecidos nos arts. 92, V, e 118 a 121. Apresenta, como característica própria, o
sistema jurisdicional, dando a responsabilidade a todo o processo eleitoral; é considerada, também,
uma justiça especializada por possuir um âmbito de atuação específico, que somente conhece e
julga questões relativas ao processo eleitoral e a crimes envolvidos em seu desenvolvimento.
Os órgãos da Justiça Eleitoral obedecem a uma estrutura piramidal composta de níveis hierárquicos
distintos, tendo no ápice o Tribunal Superior Eleitoral, em seguida os Tribunais Regionais Eleitorais
e, posteriormente, os Juízes e Juntas Eleitorais. No entanto, característica intrínseca à Justiça
Eleitoral é sua composição heterogênica, não possuindo quadro próprio de magistrados, mas sim
juízes advindos de áreas diversas da carreira da magistratura e da advocacia, e sujeitos a
mandatos periódicos no exercício da judicatura eleitoral.
A divisão territorial na JustiçaEleitoral rege­se pelo seguinte critério: os Estados da Federação e o
Distrito Federal constituem­se em circunscrições eleitorais divididas em Zonas, o Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) possui jurisdição sobre todo o território nacional, os Tribunais Regionais
apresentam circunscrição eleitoral respectiva correspondente a cada Estado e ao Distrito Federal;
já os juízes detêm jurisdição sobre as Zonas eleitorais. Apesar do fato de os juízes serem
investidos temporariamente nas funções eleitorais, não significa que a Justiça Eleitoral não
funcione permanentemente.
Ao compreendermos esses delineamentos básicos inerentes à Justiça Eleitoral, observamos, por
hora, a grande responsabilidade da mesma perante a sociedade brasileira, em zelar pela
regularidade e legitimidade do processo eleitoral.
 
2 Princípios do direito eleitoral
Os princípios, por serem os precursores da interpretação de qualquer norma, têm como função
apresentar exatamente qual é a interpretação correta da lei, que muitas das vezes apresentam
lacunas ou de fato são obscuras quanto ao seu entendimento, hipóteses chamadas de hard cases,
isto é, casos difíceis. Devido a tal problemática, observa­se na lei de Introdução ao Código Civil,
serem os princípios como uma fonte do direito, uma verdadeira lei geral para interpretação das
demais normas. Assim prescreve o referido diploma legal:
 
Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e os princípios gerais do direito.
 
Diante disso, têm os princípios grande importância a ser considerados não só pelo aplicador do
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Direito, mas também por todos aqueles que, de alguma forma, ao sistema jurídico se dirijam, pois
toda e qualquer norma jurídica reside de certa forma sua eficácia a eles. Desse modo, à luz da
justiça eleitoral, no entendimento de Furtado Coelho (2010, p. 91), preleciona:
 
O direito eleitoral, como os demais ramos do direito, também possui sua
fundamentação principiológica que essencialmente visa à consecução da ética
jurídica e da lisura dos pleitos eleitorais, tendo em vista os vícios que corrompem o
processo eleitoral e ferem o sufrágio universal como um todo, pois o pleito eleitoral
e todos os procedimentos que lhe antecedem e sucedem são um sistema interligado.
 
Para a melhor interpretação de nossas normas, o intérprete tem sempre que contar que o sistema
jurídico legal está assentado em princípios que, em matéria eleitoral, Furtado Coelho (2010, p. 91­
92) relata:
 
(...) estão dispostos na Constituição Federal, Código Eleitoral, Leis Eleitorais e
Resoluções do TSE e são basicamente: o princípio do aproveitamento do voto, da
celeridade, da isonomia, da devolutividade dos recursos, da preclusão, da
responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos, da irrecorribilidade
das decisões do Tribunal Superior Eleitoral.
 
2.1 Princípio da Celeridade
Desse princípio extrai­se a ideia de imediatividade, não deixando que a justiça eleitoral se torne
morosa. No entanto, diante da evidência do mal causado pela dificuldade na sua prática, a Emenda
Constitucional nº 45, de 8.12.2004, incluiu mais um inciso no elenco dos direitos fundamentais
(CF, art. 5º): o de nº LXXVIII, segundo o qual:
 
Art. 5º A todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo, e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
 
Furtado Coelho, em seu compêndio de Direito eleitoral e processo eleitoral, aduz que “a celeridade
é característica intrínseca ao processo eleitoral. O início e o término preestabelecidos do processo
impõem que as decisões eleitorais sejam imediatas, evitando­se que se estendam para após as
diplomações, que constituem a sua última fase” (COELHO, 2010, p. 92).
 
2.2 Princípio da Isonomia ou Princípio da Lisura das Eleições
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Ao tratarmos desse princípio, referimo­nos àqueles cidadãos que, exercendo seus direitos políticos,
dentro da condição de elegibilidade, quando concorrerem a cargos eletivos, disputarão o mandato,
em condições iguais a todos, resguardado, conforme visa Furtado Coelho (2010, p. 92, 93), a “(...)
igualdade de oportunidades e pela lisura dos meios empregados nas campanhas sem privilégios em
favor de determinada candidatura”.
Dessa forma, o presente princípio deve ser pautado na atuação da justiça eleitoral e de todos os
demais envolvidos no processo eleitoral. Assim, a Lei Complementar nº 60/90 rechaça a ideia de
isonomia entre candidato e da lisura das eleições, ao dizer, no seu artigo 23, que “O Tribunal
formará sua convicção pela livre apreciação dos fatos públicos e notórios, dos indícios e presunções
e prova produzida, atendendo para circunstâncias ou fatos, ainda que não indicados ou alegados
pelas partes, mas que preservem o interesse público de lisura eleitoral”.
 
2.3 Princípio da Devolutividade dos Recursos
Trata­se de reapreciar novamente matéria já decidida, devolvendo ao tribunal o conhecimento da
matéria efetivamente impugnada no recurso. Segundo Coelho (2010, p. 93­94), “Esse princípio
está ligado ao princípio da celeridade no direito eleitoral, vez que a ausência de efeito suspensivo
ao recurso faz com que a decisão do juiz seja automaticamente cumprida, independente se a parte
recorre ou não, para que, assim, a celeridade ocorra”.
 
2.4 Princípio da Preclusão
Partimos da tese de Furtado Coelho (2010, p. 94­95) que a esse princípio apregoa três sentidos, o
primeiro consumativo, “com o exercício da faculdade processual”, o segundo lógico pela “prática de
ato incompatível com o exercício da faculdade”, e por último o temporal, “com a não realização do
ato processual a tempo e modo”.
Resumidamente, o processo eleitoral é constituído de fases, definidas e sucessivas, iniciando pela
escolha dos candidatos com as convenções partidárias e encerando na diplomação dos mesmos,
assim, uma vez encerrada uma fase, não poderão mais ser praticados atos relativos às fases
anteriores. “As impugnações e nulidades devem ser alegadas imediatamente, sob pena de
preclusão”. Dessa matéria há de se ressaltar ainda que “a preclusão não incide em relação a
matérias constitucionais e a erros na intimidade da justiça” (COELHO, 2010, p. 94­95).
2.5 Princípio da Anualidade ou Princípio da anterioridade da Lei Eleitoral
A esse princípio refere­se que a norma modificadora, só terá vigência a partir da data de sua
publicação, portanto não regerá a eleição que ocorrer em período inferior a um ano de sua entrada
no ordenamento jurídico, conforme disposto no art. 16 da Constituição de 1988.
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Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua
publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua
vigência.
O princípio da anualidade eleitoral, também é conhecido como “antinomia eleitoral”
ou conflito de leis no tempo, é a expressão máxima da Democracia, lastreado no
princípio do “rules of game”, ou seja, “não pode mudar as regras do jogo no meio do
campeonato”, traduzindo para a seara jurídica eleitoral, não se pode fazer leis
casuísticas para preservar o poder político, econômico ou de autoridade.
(CERQUEIRA, apud COELHO, 2010, p. 95)
(...)
Em face ao objetivo desse princípio, entende­se que a “lei eleitoral” em comento
não é qualquer regra eleitoral, mas apenas aquelas que possam influenciar nos
parâmetros deequidade entre os partidos políticos ou entre candidatos, excluindo­
se desse conceito leis meramente instrumentais. Isto é, a Lei eleitoral publicada a
menos de um ano de uma eleição não poderá modificar os critérios para
estabelecimento ou não de coligações. Não se admitirá, também, reger eleições leis
c om  meno s   d e   um   a n o   d e   v i g ê n c i a ,   q u e   a l t e r e   o s   c r i t é r i o s   p a r a
desincompatibilização. Entretanto, se a mudança for meramente instrumental, como
por exemplo, modificação de formulários a serem preenchidos por candidatos, data e
forma de diplomação dos eleitos e contabilidade de votos, não serão alcançadas pelo
princípio da anualidade da lei eleitoral. (COELHO, 2010, p. 95)
 
2.6 Princípio da responsabilidade solidária entre candidatos e partidos políticos
A esse princípio partimos da premissa de que tanto o candidato (pessoa física), quanto os partidos
políticos (pessoa jurídica) são solidariamente responsáveis cível, administrativa e penalmente por
abusos e excessos cometidos durante o processo eleitoral.
 
2.7 Princípio da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral
A esse princípio, dispõe a irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral, por se tratar
de última instância para recurso. Tal entendimento encontra­se disposto no art. 281 do Código
Eleitoral, que diz:
 
São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior, salvo as que declararem a
invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as denegatórias de
habeas corpus ou mandado de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o
Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias.
 
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3 Do processo eleitoral
Ter direito à jurisdição significa, também, ter direito ao processo, sendo meio imprescindível para a
realização da justiça. A Constituição, por isso, assegura aos cidadãos o direito ao processo como
uma das garantias individuais, disposta no art. 5º, inciso XXXV. Assim, para que haja a justa
composição da lide, deve abraçar a justiça eleitoral as normas processuais traçadas pelo processo
eleitoral, baseando–se em princípios que nos mostra a verdadeira essência do ordenamento
jurídico em questão. É no conjunto dessas normas do processo eleitoral que se consagram os
princípios, propiciando às partes a plena defesa de seus interesses e ao juiz os instrumentos
necessários para a busca da verdade real.
Deparamo­nos, desse modo, com a necessidade de realçarmos os fundamentos essenciais do
processo eleitoral, em virtude do mesma abarcar a legitimidade das eleições e a livre expressão do
sufrágio. Assim, é importante entendermos o significado que o termo “processo eleitoral” alcança
na Justiça Eleitoral, considerando que Jairo Gomes (2010, p. 191­192) emprega duplo sentido ao
termo, sendo um deles amplo e outro restrito, conforme detalhamos:
 
Em sentido amplo, significa a complexa relação que se instaura entre candidatos,
partidos políticos, coligações, Justiça Eleitoral, Ministério Público e cidadãos com
vistas à concretização do sacrossanto direito de sufrágio e escolha dos ocupantes
dos cargos públicos eletivos em disputa. O procedimento, aqui, reflete o intricado
caminho que se percorre para a realização das eleições, desde a realização das
convenções pelas agremiações políticas até a diplomação dos eleitos. Em geral,
quando se fala em processo eleitoral, é a este sentido que se quer aludir.
Já em sentido restrito, a expressão “processo eleitoral” apresenta o mesmo
significado inicialmente referido. Nesse sentido, é individualizado, veiculando pedido
específico entre partes bem definidas. A ele se aplica subsidiariamente o Código de
Processo Civil. Ora se apresenta em sua feição clássica, em que se divisa uma
relação triangular, da qual participam autor, juiz e réu; é isso o que ocorre em
ações como impugnação de mandato eletivo, investigação judicial, captação ilícita de
sufrágio ou conduta vedada. Ora se apresenta na forma de relação linear, integrada
por um requerente e pelo órgão judicial, tal qual ocorre no pedido de registro de
candidatura.
 
Desse modo, ao entendermos o sentido jurídico do que seja processo, verificamos esse domínio do
direito processual como um complexo de atos relativos à realização das eleições.
O processo eleitoral, portanto, em sentido restrito, tem como marco inicial fixado no dia 10 de
junho do ano da eleição, apresentando­se sob o prisma de três etapas: a primeira com escolha dos
candidatos em convenção partidária, seguindo­se pelo registro dos candidatos e, por último, a
diplomação dos eleitos. No entanto esses mesmos atos, não obstantes a fatos anteriores da
convenção partidária, poderão ter reflexos relevantes ao processo eleitoral, podendo ser
conhecidos e julgados pela justiça eleitoral.
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4 Do registro de candidatura
4.1 Natureza Jurídica
É através do registro de candidatura que se formaliza a pretensão de determinado cidadão, com
todas as condições de elegibilidade preenchidas, a concorrer a uma vaga do mandato eletivo. Para
que isso ocorra, é necessário que o partido político encaminhe o pedido à Justiça Eleitoral, com o
nome de cada filiado escolhido em convenção, para que a mesma examine os requisitos
necessários à condição de elegibilidade, instaurando um processo de registro de candidatura –
RCAND.
Jairo Gomes dispõe que, “sobre sua natureza, uns entendem que esse processo tem cunho
administrativo, ao passo que outros afirmam constituir um misto administrativo e jurisdicional”
(GOMES, 2010, p. 203).
Entendemos ser de natureza jurisdicional voluntária, por não haver o contraditório, logo não existe
pólo passivo. Assim, não há conflito de interesse a ser solvido, devendo Juízo ou Tribunal Eleitoral
conhecer ex officio as questões nele envolvidas, nomeadamente as pertinentes à ausência de
condições de elegibilidade, às causas de inelegibilidade e ao atendimento de determinados
pressupostos formais. Situação disposta no art. 7º, parágrafo único, da LC nº 64/90, que autoriza
o órgão judicial a formar “sua convicção pela livre apreciação da prova, atendendo aos fatos e às
circunstâncias constantes dos autos, ainda que não alegados pelas partes”.
Porque inquiridos no processo de registro, é nessa oportunidade que os requisitos necessários à
concretização da candidatura são analisados. Não devemos confundir o momento de aferição com a
existência das condições de elegibilidade e causas de inelegibilidade. Conforme relata Jairo Gomes
(2010, p. 204), “para algumas, relevante é que se apresentem na data da eleição. Nesse sentido,
prescreve o art. 9º, da Lei 9.504/97, que o alistamento e o domicílio eleitorais e a filiação
partidária sejam aferidos tomando­se por base o dia do pleito. No tocante à idade mínima exigida
para certos cargos, essa condição de elegibilidade deve ser pesquisada no momento da posse”.
A qualidade de candidato só é alcançada com a efetivação do registro, operado em virtude de
sentença constitutiva prolatada em processo de pedido de registro de candidatura.
 
4.2 Convenção Partidária
O sistema eleitoral não admite candidatura avulsa. As candidaturas devem partir da iniciativa dos
partidos políticos ou coligações partidárias, após escolhidos em convenção partidária.
Nas palavras de Jairo Gomes (2010, p. 193), “Convenção é a reunião ou assembléia formada pelos
filiados a um partido político — denominados convencionais — cuja finalidade é eleger os que
concorrerão ao pleito. Em outros termos, é o meio pelo qual os partidos escolhem os candidatos
que disputarãoas eleições”.
Já as coligações são entidades integradas por dois ou mais partidos apenas durante as eleições,
afim de obtenção de força política, e detêm as mesmas obrigações dos partidos políticos no âmbito
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do processo eleitoral.
Devemos ressaltar, no entanto, que cada convenção partidária deve ser registrada na Justiça
Eleitoral, com objetivo de prevenir futuras disputas acerca das deliberações oficialmente tomadas
pelos convencionais.
 
4.3 Elegibilidade e Inelegibilidade
Ao tratarmos de registro de candidatura, imprescindível analisarmos a respeito de elegibilidade,
que é requisito essencial para a mesma, sendo que o candidato que pretende concorrer ao
mandato eletivo deve preencher todas as condições de elegibilidade.
Observamos dois campos referentes aos direitos políticos, os positivos e negativos. Os direitos
políticos positivos, então, apresentam como núcleo o direito de sufrágio, que se caracteriza pela
capacidade eleitoral ativa, como direito de votar, capacidade de ser eleitor e alistabilidade, e
também pela capacidade eleitoral passiva, como o direito de ser votado e pelas condições de
elegibilidade.
Conforme os ensinamentos de Pedro Lenza (2008, p. 683), “os direitos políticos nada mais são do
que instrumentos por meio dos quais a CF garante o exercício da soberania popular, atribuindo
poderes aos cidadãos para interferirem na condição da coisa pública, seja direta seja
indiretamente”.
Como nos interessa ao presente estudo a elegibilidade, trataremos com mais perspicácia a
capacidade eleitoral passiva, que nada mais é do que a possibilidade de eleger­se concorrendo a
mandado eletivo.
Neste sentido se faz importante a definição de elegibilidade de Pinto (2008, p. 4­5), sendo a
mesma, “o credenciamento do cidadão para postulação do registro de candidatura”.
A elegibilidade, no entanto, não se confunde apenas com o direito de ser votado, apenas se
concretiza quando efetivamente for registrada sua candidatura.
Para que se tenha condições de elegibilidade, que é de fato o direito a registrar a candidatura, são
necessárias algumas exigências legais, que estão previstas no art. 14, §3º da Constituição Federal,
sendo elas; nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral,
domicílio na circunscrição, filiação partidária e idade mínima, estas são chamadas condições de
elegibilidade próprias, as impróprias são as estabelecidas em normas infraconstitucionais como a da
Lei nº 9.504/97.
Para Niess (2000, p. 23), a elegibilidade é “pressuposto do exercício regular do mandato político”.
Enquanto inelegibilidade seria “a negação do direito de ser representante do povo no Poder”.
Assim, as inelegibilidades são aspectos constitucionais ou previstos em lei complementar, que
impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva, ou seja,
impedimento da capacidade de eleger­se, e ao direito de ser votado; matéria tratada no campo dos
direitos políticos negativos, que definem “formulações constitucionais restritivas e impeditivas das
atividades político­partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como
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impedindo­os de eleger um candidato (...)” (LENZA, 2008, p. 687).
Suzana de Camargo Gomes (2010, p. 154) enfatiza: “(...) que nem todos preenchem as condições
necessárias imposta pelo ordenamento jurídico que lhes facultem a candidatura e, por conseguinte,
o direito de ser votado”.
A Constituição Federal, em seu artigo. 14,§§4º e 7º dispõe que não são elegíveis os inalistáveis e
os analfabetos, e ainda no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, do Governador de
Estado ou Território, do Distrito Federal, do Prefeito, ou de quem os haja substituído dentro de seis
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato a reeleição.
 
4.3.1 Da restrição da elegibilidade pela moralidade
Diante das críticas ao modelo de democracia representativa, deparamo­nos com a necessidade de
relatar a relação entre elegibilidade e moralidade abordada por Dias Junior, em sua teoria da
imanência, segundo a qual poderá acarretar em decisivas consequências nas análises dos pedidos
de registro de candidatura.
Essas críticas à democracia representativa a que nos referíamos seriam a manipulação da vontade
eleitoral pelo abuso do poder político, do poder econômico e pela utilização abusiva dos meios de
comunicação, e o comprometimento moral de muitos os que aspiram aos cargos políticos, a eles
alçados, muitas vezes, comungando, paradoxalmente, com práticas tendentes a fraudar a vontade
do povo, ou se beneficiando dessas mesmas práticas, o que certamente enfraquece o regime
democrático representativo (DIAS JUNIOR, 2010).
A respeito da tese da imanência, entendemos ser a elegibilidade e moralidade inseparáveis, ou
seja, para a investidura no mandado eletivo é exigido que se atue com moralidade, no entanto, a
elegibilidade tem que levar em conta aspectos de moralidade, demonstrando que a postura política
do representante seja digna a representar todos os segmentos da sociedade.
Dessa forma, deve o povo, ao exercer seu direito de voto, “conhecer acerca dos atributos de
moralidade daqueles que pretendem ser seus representantes (...), uma vez que, no mandato
eletivo, diferentemente do mandato representativo civil de Direito Privado, não há transferência de
poder” (DIAS JUNIOR, 2010, p. 65).
Segundo Pinto (2008, p. 90), “mesmo que a Constituição não tivesse erigido ao nível de princípio
constitucional a exigência de vida pregressa, compatível com a magnitude do mandato eletivo, não
poderia ser deixada de lado para deferimento do registro de candidatura”.
Devemos destacar ainda que essa relação entre elegibilidade e moralidade não se deve romper,
pois, após eleitos, os representantes adquirem considerável autonomia em relação aos que o
elegeram, em virtude do característico princípio do modelo representativo de que eleitos
representam toda nação e não só os círculos por que são eleitos, o que equivale à proibição do
mandato imperativo (DIAS JUNIOR, 2010).
Como em qualquer outra atividade é preciso a moralidade para seu pleno desenvolvimento, o
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cenário político também não foge à regra, ao passo que o sistema democrático de hoje encontra­se
desmoralizado perante a sociedade. A insatisfação da sociedade para com seus representantes é
perfeitamente visível aos olhos de quem quer enxergar.
“O processo democrático, nos seus mais diversos aspectos, deve­se aperfeiçoar sob a luz da
moralidade, a qual não deva ser presumida, mas devidamente perquirida quando do momento de
verificação, pelo Judiciário, da satisfação das condições de elegibilidade, ou seja, quando do
deferimento do registro de candidatura” (NIESS, 2000, p. 43).
Para Pinto (2008, p. 59), “a investidura no mandato eletivo, como em qualquer função pública,
exige honestidade, retidão, enfim, que seja o cidadão, no mínimo, digno de respeito”.
Dessa forma, essa teoria se faz pertinente ao modelo político de hoje, de modo que os escândalos
políticos que vivenciamos não só desmoralizam todo o Estado Democrático, como também
envergonha nossa sociedade.
 
4.3.2 A Lei Complementar no 135/2010
Ao destacarmos a importância da moralidade no item anterior, observamos que tal preceitoencontra­se também regido na Lei Complementar nº 135/2010, conhecida como “Ficha Limpa”,
que, de fato, exige a proteção à moralidade e à probidade administrativa no exercício de mandatos
e o combate à corrupção eleitoral, como exige o §9º do art. 14 da Constituição Federal, contra
aqueles que ainda insistem em ensejar a imoralidade.
A referida lei inovou, em diversos aspectos, tanto materiais quanto procedimentais, a Lei
Complementar nº 64/90, denominada lei de inelegibilidade, tornando inelegível quem possui
sentença condenatória proferida por Tribunal, criando novas hipóteses de inelegibilidade, ampliando
seu prazo para oito anos, e ampliando também a eficácia da ação de investigação judicial eleitoral.
Foi retirada a exigência do requisito da potencialidade para configurar abuso de poder, bastando a
presença da gravidade das circunstâncias nas quais o fato indevido ocorreu. Promoveu
modificações no procedimento eleitoral.
O cancelamento de registro de candidatura não mais dependerá do trânsito em julgado, sendo
suficiente a decisão proferida por órgão colegiado, bem como a anulação do diploma e cassação de
mandato, bastando que seja publicada a decisão proferida pelo colegiado.
Outra importante inovação do procedimento está consubstanciada no que se refere ao alcance da
Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE). O julgamento procedente da AIJE, ainda que após a
proclamação dos eleitos, terá como consequência, além da declaração de inelegibilidade, a
cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pelo abuso de poder e pela
corrupção eleitoral. A remessa ao Ministério Público da ação não mais possui o objetivo de
ajuizamento de demandas eleitorais complementares, mas tão apenas para instauração de
processo disciplinar e de ação penal, conforme o cabimento dentro da livre convicção do órgão
ministerial.
A aprovação da lei complementar se deu graças à ativa participação da sociedade brasileira, não
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admitindo a gerência dos negócios públicos por representantes que não possuem conduta adequada
à dignidade das relevantes funções institucionais.
 
4.4 Do Procedimento do Registro de Candidatura
Estando o candidato, partido ou coligações, que almejem a uma vaga no pleito, com todas as
condições de elegibilidade preenchidas, devem entrar com o pedido de registro à Justiça Eleitoral.
Para Jairo Gomes (2010, p. 205), “a marcha processual inicia­se com a apresentação à Justiça
Eleitoral do pedido de registro, que deve ser feito pelos partidos e coligações interessados em
lançar candidatos ao pleito”.
O pedido e todo o feito do pedido de registro será processado diante da Secretaria Judiciária,
devendo ser protocolado até as 19 horas do dia 5 de julho do ano das eleições, e a ele deve estar
anexada toda documentação prescrita em lei para sua formalização. Depois de protocolado, deve
ser registrado e autuado, onde serão registrados os formulários, com suas respectivas
documentações: Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (Drap) e Requerimento de
Registro de Candidatura (RRC). Para autuação, terão que conter as documentações mencionadas
acima as seguintes informações: o pedido de registro de candidaturas, a coligação, a que cargo, em
que eleições, nome da coligação acompanhada das siglas dos partidos integrantes, nome do
representante da coligação.
Finalizados esses procedimentos, deve­se certificar a distribuição do feito para que sejam os autos
conclusos ao Juiz Relator, que determinará a publicação em edital na imprensa oficial, de todos os
pedidos relacionados (LC nº 64/90, art. 3º). A partir da publicação do edital, inicia­se o prazo de
cinco dias para que candidato, partido político, coligação ou Ministério Público apresentem
impugnação. Podendo, a critério do juiz, ser aberto prazo de 72 horas para diligências que
entender necessárias.
O Ministério Público também poderá requerer as diligências que achar necessárias no prazo de
cinco dias depois de publicação dos editais. Eventuais dúvidas, falhas ou omissões no pedido de
registro devem ser supridas nessa fase. Conta­se o prazo a partir da intimação do candidato e do
partido. A intimação pode ser realizada por fac­símile, correio eletrônico ou telegrama; não se
admite, porém, intimação por telefone. Note­se que o candidato também deve ser cientificado,
sobretudo quando a falha detectada só por ele puder ser suprida, como ocorre no caso de
comprovante de escolaridade ou declaração de bens.
Como nos ensina Jairo Gomes (2010, p. 205), o pedido de registro desdobra­se em duas fases: “A
primeira é expressa em um processo principal — também chamado de “processo raiz ou geral. A
segunda refere­se a tantos processos individuais quantas forem as candidaturas a serem
registradas”.
Assim, diante do desdobramento referido pelo autor Jairo Gomes, concluímos que, ao processo
adotado por ele como principal ou geral, atribui­se analisar a regularidade dos fatos praticados na
disputa eleitoral, tais como a validade da convenção, situação jurídica do partido. Já no processo
individual, analisa­se o pedido de cada postulante à candidatura em particular, a respeito das
condições de elegibilidade, inelegibilidade e outras.
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O pedido de registro deve apresentar o valor máximo dos gastos que partido ou coligação fará por
cargo eletivo em cada eleição a que concorrer, observando o limite estipulado pela lei ou, ausente
esta, pelo próprio partido. Vale lembrar que, se o gasto efetivo superar o declarado, fica o
responsável sujeito ao pagamento de multa de valor de cinco a dez vezes a quantia excedente.
Encerradas as fases de diligências, os autos serão conclusos para julgamento. A decisão que deferir
ou indeferir o registro apresenta natureza meramente declaratória, pois, conforme salienta Jairo
Gomes (2010, p. 208), “apenas pronuncia inelegibilidade originária, isto é, já existente no mundo
jurídico”.
Havendo impugnação ao registro de candidatura, essa deverá ser comum a do processo de registro,
passando o rito de ambos os processos a ser idêntico, cabíveis, igualmente, os mesmos recursos.
 
4.4.1 Documentos necessários ao registro
A Lei nº 9.504/97, em seu art. 11, §1º, apresenta o rol dos documentos necessários para o
registro de candidatura.
No processo principal, devem­se apresentar documentos que patenteiem a regularidade do partido
e dos atos praticados, entre os quais se destacam a cópia da ata de convenção e a demonstração
de legitimidade do representante do partido e subscritor do pedido de registro.
O processo individual deve ser instruído com os seguintes documentos:
I ­ cópia da ata da convenção;
II ­ autorização escrita do candidato;
III ­ prova de filiação partidária;
IV ­ declaração de bens, assinada pelo candidato;
V ­ cópia do título eleitoral, ou certidão, fornecida pelo cartório eleitoral, de que o candidato é
eleitor na circunscrição ou requereu sua inscrição ou transferência de domicílio no ano
anterior;
VI ­ certidão de quitação eleitoral;
VII ­ certidões fornecidas pelos órgãos de distribuição da Justiça Eleitoral, Federal e Estadual;
VIII ­ fotografia do candidato em dimensões estabelecidas em instrução pela Justiça Eleitoral;
IX ­ propostas defendidas pelo candidato a Prefeito, a Governador de Estado e a Presidente da
República;
X ­ comprovante de escolaridade;
XI ­ prova de desincompatibilização, quando for o caso.
 
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4.5 Da Ação de Impugnação do Registro de Candidatura (AIRC)
A impugnação ao registro de candidatura prevista no art. 14 da Constituição Federal e na LC nº
64/90 visa determinar a improcedência do seu pedido, quer pela ausência das condições de
elegibilidade, quer pelo não cumprimento das formalidades legais, como a ausência de algum
documento exigido por lei.
Como sabemos, o ius honorum, como direito de ser votado, é efeito do fato jurídico do registro de
candidatura, dependente do preenchimento de todas as condições de elegibilidade (filiação
partidária, ser alfabetizado, ter idade mínima para ocupar determinado cargo, estar
desincompatibilizado, etc.). Quem preenche as condições de elegibilidade pode pleitear em juízo o
registro de sua candidatura, pessoalmente ou através do partido político pelo qual irá concorrer,
após ter sido escolhido em convenção. Feito o pedido judicialmente, nasce para os legitimados,
indicados por lei, o direito subjetivo a impugnar a candidatura pleiteada.
Assim, o art. 3º da LC nº 64/90 prescreve que caberá a qualquer candidato, partido político,
coligação ou representante do Ministério Público (que não tenha, nos dois anos anteriores,
disputado mandato eletivo, integrado diretório de partido político ou exercido atividade político­
partidária), no prazo de cinco dias, contados da publicação do pedido de registro de candidatura,
impugná­lo em petição fundamentada.
Esse prazo é peremptório, não admitindo elastério, de modo que o não exercício dessa faculdade
implica na decadência do direito de impugnar. Sendo decadencial, esse prazo deve ser conhecido
de ofício pelo juiz eleitoral, abordando seu manejo serôdio.
Logo, o dies a quo para a propositura da AIRC é a publicação do edital que dê ciência do
aforamento do pedido de registro dos pré­candidatos. Desse modo, ofereceu o legislador, àqueles
legitimados, uma via adequada para atacar o pedido de registro de candidatura.
Cabe lembrar que, conforme disposto, no art. 25 da LC nº 64/90, constitui crime eleitoral, “a
argüição de inelegibilidade, ou impugnação de registro de candidato feito por interferência do
poder econômico, desvio ou abuso do poder de autoridade, deduzida de forma temerária ou de
manifestada má­fé”.
O direito subjetivo a impugnar o pedido de registro nasce já exigível, dotado de pretensão. A ação
de direito material, que tem por escopo atuá­lo frente ao sujeito passivo, é apenas exercitável
judicialmente, não o podendo ser extrajudicialmente. De modo que, nesse passo, é assaz relevante
perquirir qual o escopo dessa ação, vale dizer, quais os efeitos preponderantes por ela produzíveis.
Entendemos ter a AIRC natureza declaratória, aduzindo que o juiz é chamado a se pronunciar a
respeito de situação preexistente que o impugnante alega projetar­se sobre as pretensões
eleitorais do impugnado, tornando­o inelegível, e que, portanto, o exclui da disputa de que deseja
participar. Apresenta­se também a decisão ser de cunho declaratório, com efeito  ex tunc, que
valerá como preceito, como norma jurídica concreta. Desse modo, conclui tratar­se de uma ação
civil de conhecimento, de conteúdo declaratório.
Quanto ao fato da inelegibilidade, para efeitos do pedido de registro, ela pode ser originária ou
cominada. Sempre que originária, bastará ser declarada pela sentença, pois ela existe ipso iure,
quer dizer, no plano do direito material, pelo só fato da ausência do direito de ser votado,
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insatisfeitas algumas das condições de elegibilidade. A decisão judicial aí é meramente certificativa
da ausência do ius honorum, ou seja, da falta de elegibilidade. Assim, no caso concreto, bastará o
pré­candidato estar em situação de incompatibilidade, ou não ser filiado a partido político
validamente, ou não ser eleitoral da circunscrição eleitoral, ou ser analfabeto, ou não ter a idade
mínima exigível ou ter os seus direitos políticos suspensos por decisão anterior ainda em vigor, que
terá sua inelegibilidade declarada. Com a sentença, por conseguinte, certifica­se que inexiste o
direito a ser votado, portanto, que é inelegível o pré­candidato.
Logo se vê, portanto, que, em se tratando de inelegibilidade inata, um dos efeitos relevantes da
sentença será o declaratório negativo, pois toda inelegibilidade é enunciado negativo da existência
da elegibilidade, do direito a ser votado. Decorre ela da falta de alguma das condições de
elegibilidade, que gera um déficit no suporte fático do fato jurídico que origina o direito subjetivo
de ser votado.
Não sendo originária a inelegibilidade, mas sim cominada com reproche à prática de algum ato
eleitoral ilícito, a questão ganha um pouco mais de complexidade. Há duas hipóteses: (a) a
sentença poderá conhecer de inelegibilidade cominada causada por outro ato, que não ela própria,
quando ela então terá, como efeito imediato, a declaração da inelegibilidade ocorrida
anteriormente à sua prolação; (b) antes da sentença, inexistia alguma sanção de inelegibilidade,
sendo esse ato judicial o seu causador.
As inelegibilidades cominadas são sempre estipuladas em lei como sanção por ato praticado contra
a legitimidade e moralidade das eleições, como ocorre quando há abuso de poder econômico ou
fraude. Nesse caso, a inelegibilidade é aplicada com pecha na esfera jurídica do infrator, visando
coibir a prática de atos desse jaez.
 
4.5.1 Aspectos Processuais da ação de impugnação do registro de candidatura (AIRC)
É importante apontarmos os principais aspectos processuais da AIRC. Dentro do qual, o objeto em
questão é o indeferimento do pedido de registro de candidatura; a impugnação deve preencher
todos os pressupostos processuais e condições da ação, bem como os meios de prova em que
pretende produzir e o rol de testemunhas a ser apresentado. Seu procedimento encontra­se
disposto nos artigos 2º a 16º da lei de Inelegibilidade, aplicado subsidiariamente ao Código de
Processo Civil.
Tem a ação de impugnação de registro de candidatura natureza administrativa, de cunho
declaratório, declarando, assim, apenas quem é elegível e reconhecendo a inelegibilidade; não
possui natureza condenatória e nem constitutiva. Os prazos para propositura da impugnação ao
registro são exíguos, contínuos e peremptórios; correm em cartório não se suspendendo aos
sábados, domingos e feriados (LC nº 64/90, art.16); em seu cômputo é excluído o dia do começo e
incluindo seu vencimento. Diante desses procedimentos, observamos claramente implícito o
princípio da celeridade, propondo uma razoável duração do processo. É nesse sentido que o artigo
16, §1º, da LE, descreve que, até 45 dias antes da data das eleições, “todos os pedidos de registro
de candidatos, inclusive os impugnados, e os respectivos recursos, devem estar julgados em todas
as instâncias e publicadas as decisões a eles relativas”.
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Inicia­se, com o protocolo da petição inicial pela parte legitimada, impreterivelmente em cinco dias
contados da publicação do edital do pedido de registro, (art. 3º, caput, da LC nº 64/90). Seu prazo
é decadencial devido ao próprio direito subjetivo de impugnar o pedido de registro. A competência
desse tipo de ação cabe ao órgão jurisdicional a que o pedido do registro foi feito.
Conforme nos ensina Jairo Gomes (2010, p. 233), “o fundamento do pedido é a falta de condição
de elegibilidade, a incidência de causa de inelegibilidade ou o descumprimento de formalidade
legal, como a juntada de documento exigido pelo art. 11, §1º, da LE. Pode a AIRC estribar­se em
qualquer fato, desde que revelador de uma dessas causas”.
Importante destacarmosque abuso de poder econômico ou político, conforme entendimento da
jurisprudência, antes ou depois do pedido de registro não se discute em AIRC, mas sim em ação de
investigação judicial eleitoral (AIJE).
Após a notificação do impugnado, passa a correr o prazo de sete dias para a contestação, devendo,
conforme relata Jairo Gomes (2010, p. 241), “o contestante deduzir toda a matéria de defesa,
expondo as razões de fato e de direito com que rechaça o pedido exordial”.
Conforme artigo 4º da LC nº 64/90, com a contestação poderá “juntar documentos, indicar rol de
testemunhas e requerer a produção de outras provas, inclusive documentais, que se encontrarem
em poder de terceiros, de repartições públicas ou de procedimentos judiciais, ou administrativos,
salvo os processos em tramitação em segredo de justiça”.
Apresentada a defesa e colhido o alvitre do Ministério Público, pode o juiz conhecer diretamente do
pedido, proferindo a sentença com o julgamento antecipado da lide, quando a questão de mérito
for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de produzir
prova em audiência. Logo, tratando­se de discussão apenas de direito, estando já o fato probando
satisfatoriamente demonstrado com os documentos carreados aos autos ou sendo irrelevante a
prova que se pretenda produzir para a solução da lide, deverá o juiz decidir a lide de plano. Antes,
porém, será ouvido o Ministério Público, que funciona no processo como fiscal de lei.
Na fase probatória por se “tratar de condição de elegibilidade, causa de inelegibilidade ou
descumprimento de formalidade imposta em lei, normalmente, a prova reclamada na impugnatória
de registro será documental. Todavia, eventualmente, a testemunhal será necessária” (GOMES, p.
244).
Nesse caso, as testemunhas devem ser arroladas na inicial e na contestação. As mesmas serão
produzidas / ouvidas em audiência de instrução. “Encerrada a audiência de instrução, nos 5 dias
subseqüentes serão ultimadas todas as diligências determinadas pelo juiz, de ofício ou a
requerimento pelas partes”(...). Nesse mesmo prazo, poderá ser ordenado o depósito em juízo de
qualquer documento necessário à formação da prova que se achar em terceiro” (GOMES, p. 245).
Encerrada a fase probatória, “as partes, inclusive o Ministério Público, poderão apresentar
alegações finais no prazo comum de 5 (cinco) dias” (art. 6º da LC nº 64/90).
Findado o prazo para as alegações finais, devem os autos ser conclusos ao juiz para o julgamento.
A sentença, como dito inicialmente, possui apenas caráter declaratório, reconhece e afirma a
inelegibilidade.
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Havendo recurso dessa decisão — antes, portanto, do trânsito em julgado — entende­se que o
candidato poderá prosseguir em sua campanha, inclusive arrecadando recursos e realizando
propaganda eleitoral, além de ter seu nome mantido na urna eletrônica. Se na altura do pleito a
matéria estiver sub judice, a validade dos votos que receber é condicionada ao deferimento do
pedido de registro pela instância superior.
Da sentença que julgar a AIRC cabe recurso no prazo de três dias. Igual prazo é também para
apresentação de contrarrazões.
Não interpondo recurso acarreta­se a preclusão, fechando­se a via para discussão futura da
questão, salvo se tratar de matéria constitucional, pois esta pode ser alegada a qualquer tempo
(CE, art. 259).
 
Conclusão
O mandato eletivo não é propriedade privada do representante nem existe para fins de
beneficiamento individual. Trata­se de um serviço público, um ônus, uma missão para a qual,
durante determinado tempo, algumas pessoas se submetem, representando outros tantos
nacionais. Aqueles que não possuírem vida pregressa e comportamento compatíveis devem ser
desonerados dessa árdua e relevante tarefa de definir os rumos da coletividade.
Antes de se submeter ao sufrágio universal, há de se perquirir, individualmente, se aquele
pretenso candidato possui capacidade para o exercício do mandato eletivo. Essa capacidade é
averiguada por ocasião do registro de candidatura, o que torna extremamente importante essa
fase do procedimento eleitoral. Ao expurgamos, no nascedouro do processo eleitoral, aqueles
indivíduos incompatíveis de representarem o povo através do mandato eletivo, estaremos todos
fazendo um serviço à sociedade brasileira.
Evidente que transformação definitiva dos costumes políticos somente será possível com uma
profunda reforma política, construindo um sistema no qual sejam privilegiados projetos e ideias, a
meritocracia, a participação popular, o fortalecimento dos partidos políticos, a contenção da
influência indevida do poder econômico e da máquina administrativa.
 
Referências
CAVALCANTE JUNIOR, Ophir; COÊLHO, Marcos Vinicius Furtado. Ficha Limpa: a vitória da
sociedade: comentários à Lei Complementar nº 135/2010. Brasília: OAB, Conselho Federal, 2010.
COÊLHO, Marcos Vinicius Furtado. Direito eleitoral e processo eleitoral. 2. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2010.
DIAS JUNIOR, José Armando Ponte. Elegibilidade e moralidade: o direito fundamental à moralidade
das candidaturas. Curitiba: Juruá, 2010.
GOMES, José Jairo. Direito eleitoral. 4. ed. rev. atual. e ampl. de acordo com a minerreforma
eleitoral Lei nº 12.034/2009. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
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GOMES, Suzana de Camargo. Crimes eleitorais. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2008.
LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 12. ed. rev., atual. e ampl. EC nº 56/2007.
São Paulo: Saraiva, 2008.
NIESS, Pedro Henrique Távora. Direitos políticos: elegibilidade, inelegibilidade e ações eleitorais. 2.
ed. Bauru: Edipro, 2000.
PINTO, Djalma. Elegibilidade no direito brasileiro. São Paulo: Atlas, 2008.
 
Como citar este artigo na versão digital:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto
científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma:
CASTRO, Luís Adriano de. Do registro de candidatura. Revista Brasileira de Direito Eleitoral – RBDE,
B e l o   H o r i z o n t e ,   a n o   4 ,   n .   6 ,   j a n . / j u n .   2 0 1 2 .   D i s p o n í v e l   e m :
<http://www.bidforum.com.br/bid/PDI0006.aspx?pdiCntd=78753>. Acesso em: 30 maio 2012.
Como citar este artigo na versão impressa:
Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), este texto
científico publicado em periódico impresso deve ser citado da seguinte forma:
CASTRO, Luís Adriano de. Do registro de candidatura. Revista Brasileira de Direito Eleitoral – RBDE,
Belo Horizonte, ano 4, n. 6, p. 117­138, jan./jun. 2012.
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