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Slide- Aula Princípios(Penal I 2015)

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Aula 2: Princípios
Professora Drª. Adriana Geisler
Inverno de 2015
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1. Princípio da Intervenção Mínima (ultima ratio)
 Princípio limitador do poder punitivo do Estado, responsável tanto pela indicação dos bens que merecem atenção do Direito Penal quanto pela denominada descriminaização (- quando o legislador, atento às mudanças sociais, faz retirar do nosso ordenamento jurídico-penal certos tipos incriminadores)
 Direito Penal como ultima ratio  caráter subsidiário; só deve atuar quando os demais ramos do direito forem incapazes/insuficientes de proteger bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade.
Exs.: Cheque sem suficiente provisão de fundos - medidas civis ou administrativas são suficientes para inibir as ações dos maus pagadores (ex.: execução da quantia não paga e o impedimento de ser correntista por um longo prazo).
 Adultério (abolido pela Lei 11.106/2005) – o cônjuge traído poderá ingressar no juízo civil com uma ação de indenização (reparação prejuízo moral).
 	Finalidade: indicação dos bens que merecem atenção do direito penal e descriminalização 	(legislador fará retirar do ordenamento determinados tipos incriminadores)
	
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2. Princípio da Lesividade: 
Limita ainda mais o poder do legislador, esclarecendo que condutas podem ser incriminadas pelo direito penal, considerando:
atitude interna – “cogitationis poenam nemo patitur” (ninguém pode ser punido por aquilo que pensa ou mesmo por seus sentimentos pessoais). Ex.: ódio.
bens de terceiros 
		b.1 – ninguém pode ser punido por condutas que não excedem o âmbito do próprio autor, isto é, para que possa ser punido a conduta do autor deve ser lesiva a bens de terceiros. Ex.: autolesão, tentativa de suicídio; atos preparatórios; crime impossível.
		b.2 – ninguém pode ser punido por condutas reprovadas sob o aspecto moral, ou seja, consideradas com certo desprezo ou repulsa. Ex.: não gostar de tomar banho regularmente; tatuar o corpo; ter práticas sexuais “anormais”.
ação exteriorizada (conduta) - impedir que o agente seja punido pelo que ele é, e não pelo que fez – o direito é uma ordem reguladora de conduta humana  penalizar o AGIR, e não o “ser”.
 - Finalidade: tolerância (liberdade e respeito ao direito do outro – direito de ser, pensar e expressar-se livremente).
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3. Princípio da Adequação Social
 Traduz a impossibilidade de uma conduta que esteja de acordo com a ordem social de uma determinada época ser considerada típica, ainda que possa se subsumir ao modelo legal.
 Finalidade: Orientar o legislador na escolha de condutas a serem proibidas ou impostas, bom como na revogação dos tipos penais.
IPC: Não cabe a alegação do agente de que o fato que pratica se encontra, agora, adequado socialmente, pois, uma lei só pode ser revogada por outra (LICC, art. 2).
Ex.: “jogo do bicho”. 
4. Princípio da Fragmentariedade
 Como consequência da adoção dos princípios anteriores, ressalta a característica fragmentária do direito penal, isto é, que nem tudo lhe interessa, mas uma vez escolhido aqueles bens fundamentais e comprovada a lesividade e a inadequação das condutas que os ofendem, estes passam a integrar a pequena parcela sob sua proteção.
		Ex.:Mentira – como ação meramente imoral, não recebe castigo do Direito Penal.
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5. Princípio da Insignificância
 Indica a necessidade do bem juridicamente protegido pelo Direito Penal ser relevante, afastando àqueles considerados inexpressivos. 
Ex.: Agente que causa lesão corporal culposa de apenas dois centímetros na perna de um transeunte.
 - Finalidade: Auxiliar o intérprete quando da análise do tipo penal, mais precisamente na avaliação (como veremos) da tipicidade material, para fazer excluir do âmbito de incidência da lei aquelas situações consideradas como de bagatela. Assim, faltando a chamada tipicidade material, exclui-se, dessa forma, a tipicidade conglobante e, por conseguinte, a tipicidade penal. Se não há tipicidade penal, não haverá fato típico, e como consequência lógica, não haverá crime.
 
 Vale a ressalva de que nem todos os tipos penais permitem a aplicação do princípio (p. ex. homicídio). Assim: 
	• Nos delitos patrimoniais cometidos sem violência: o entendimento dos tribunais superiores tem sido pela aplicação do princípio.	
	• Controvérsia na revogada Lei 6368/76 (Lei de Entorpecentes): divergência quanto a sua 	aplicação aos crimes de drogas. Para alguns, inaplicável, pois o delito de tráfico de 	entorpecentes é de perigo presumido ou abstrato para a saúde pública, sendo irrelevante a 	quantidade de droga apreendida em poder do agente.
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6. Princípio da Individualização da Pena
- Impõe o ajuste da pena cominada, considerando os dados objetivos e subjetivos da infração penal, no momento da aplicação e da execução.
 Fases:
1ª. ) Cominação / legislador – plano abstrato: seleção realizada pelos tipos penais no plano abstrato, cabendo ao legislador, de acordo com critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito penal e individualizando as penas de cada infração penal de acordo com sua gravidade. 
2ª.) Aplicação / julgador – plano concreto: Após a conclusão de que o fato é típico, antijurídico e culpável, cabe ao juiz sentenciante indicar a infração praticada pelo agente e individualizar a pena a ele correspondente.
2.1 – pena-base (CP, art. 68): circunstâncias judiciais (CP, art. 59);
2.2 - circunstâncias atenuantes e agravantes;
2.3 – causas de diminuição e aumento de pena.
3ª.) Execução penal (Art. 5º. da Lei 7210/84 – LEP): “os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.”
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7. Princípio da Proporcionalidade
 “Exige que se faça uma ponderação sobre a relação existente entre o bem que é lesionado ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem de que pode alguém ser privado (gravidade da pena)” (Franco apud Greco).
 Tem um duplo destinatário: 
	• O poder legislativo - atento à dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do nosso Estado Social e Democrático de Direito (art. 1º, III, da CRFB) - tem de estabelecer penas proporcionadas, em abstrato, à gravidade do delito. 
	• O juiz (as penas que os juízes impõem ao autor do delito têm de ser proporcionadas à sua concreta gravidade). O art. 68 do Código Penal, ao implementar o critério trifásico de aplicação da pena, forneceu ao julgador meios para que pudesse, no caso concreto, individualizar a pena. Assim, por exemplo, se depois de analisar, isoladamente, as circunstâncias judiciais, o juiz concluir que todas são favoráveis ao agente, jamais poderá determinar a pena-base na quantidade máxima cominada ao delito por este cometido, sob pena de aplicar uma pena desproporcional ao fato praticado.
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8. Princípio da Responsabilidade Pessoal (princípio da pessoalidade ou da intransferência da pena)
CRFB/88, art. 5º, XLV: “Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”
 Indica o caráter personalíssimo da pena, qualquer que seja a sua natureza (privativa de liberdade, restritiva de direitos ou multa), determinando que somente o autor do delito pode submeter-se às sanções penais a ele aplicadas.
IPC: A Lei 9268/96 modificou o artigo 51 do Código Penal e passou a considerar a pena de multa como dívida de valor - passível tão-somente de execução - aplicando-lhe as normas da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública. Assim, a flagrante desigualdade no tratamento entre condenados ricos e pobres verificada na conversão da pena de multa em pena privativa de liberdade foi corrigida. A pena de multa, no entanto, não perdeu sua natureza penal com essa modificação, impedindo-se a sua cobrança após a morte do autor da infração
(ver art. 107, I, CP – a morte do agente extingue a punibilidade). 
IPC 2: Diante de uma responsabilidade não penal (v.g., obrigação de reparar o dano), nada impede que, no caso de morte do condenado e tendo havido a transferência de seus bens a seus sucessores, estes respondam até as forças da herança (CRFB, art. 5º.; art. 1997, CC – Lei 10406/02).
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IPC 3: Nada impede que o valor correspondente à pena de multa (ou mesmo a pena restritiva de direitos na modalidade prestação pecuniária) seja efetivamente pago por outra pessoa, solidária com o condenado, oportunidade em que será desrespeitado esse princípio. (A esse respeito, ver Ferrajoli (“pena aberrante”).
9. Princípio da Limitação das Penas
 Impede que qualquer tentativa de retrocesso quanto à cominação das penas seja levada a efeito pelo legislador. Assim, de acordo com a CRFB/88, art. 5º, XLVII:
XLVII – não haverá penas:
de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
de caráter perpétuo;
de trabalhos forçados;
de banimento;
cruéis.
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 a e b) Penas de Morte e de caráter perpétuo:
 
 Tendência mundial pela abolição da pena de morte, seja essa abolição total, ou parcial (Brasil – guerra declarada nos termos do art. 84, XIX, CRFB/88; nesse caso, executada por fuzilamento, conforme art. 56 do Código Penal Militar).
 Prisão perpétua – morte em vida; incompatível com a ressocialização.
 CRFB/88, art. 60, § 4º, IV: “não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais.
c) Pena de Trabalhos Forçados.
 LEP, Art. 39, V (a execução do trabalho, das tarefas e das ordens recebidas é dever do condenado); LEP, art. 114, I (benefício do ingresso no regime aberto ao condenado que estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-lo) # “trabalho forçado” (trabalho humilhante pelas condições como é executado; ex.: espancamento para forçar ao trabalho, suspensão da alimentação para o cumprimento do que cabia ao condenado fazer): o fato de volitivamente não querer trabalhar impede o condenado de conquistar benefícios contidos na LEP (ex.: progressão de regime, remição – p/ cada 3 dias trabalhados, 1 remido.) 
d) Pena de banimento (política criminal que consistia na expulsão do território nacional de quem atentasse contra a ordem política interna ou a forma de governo estabelecida).
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Ex.: AI n. 13/69 – banimento de brasileiro que, “comprovadamente, se tornar inconveniente, nocivo ou perigoso à Segurança Nacional”.
e) Penas Cruéis
Em consonância com o princípio da dignidade da pessoa humana, quis o legislador assegurar ao preso o respeito à sua integridade física e moral.  pena cruel = pena racional (Zeffaroni e Pierangeli).
10. Princípio da Culpabilidade
 Exigência de um juízo de reprovação jurídica que se apóia sob a crença de que ao homem é dada a possibilidade de, em certas circunstâncias, agir de outro modo.  juízo sobre a formação da vontade do agente.
 Três sentidos fundamentais:
Elemento integrante do conceito analítico de crime  possibilidade ou não de censura sobre o fato praticado (caracterização da infração penal; fundamentação da pena em si), considerando que uma conduta típica e antijurídica não é em si punível;
 Princípio medidor da pena: culpabilidade do agente como critério regulador da pena, isto é, a pena não deve ultrapassar o marco fixado pela culpabilidade da respectiva conduta. Assim:
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CP, Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes...  culpabilidade como circunstância judicial a ser aferida pelo juiz.
c) Princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva (responsabilidade penal sem culpa): os resultados que não foram causados a título de dolo ou culpa pelo agente não podem ser a ele atribuídos.
11. Princípio da Legalidade (Art. 5º. II, da CRFB/88: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei):
 Como expressão maior do Estado Democrático de Direito, possui duplo sentido:
	a) estabelece que o Estado deve se submeter ao império da lei, garantindo a 	segurança político-jurídica do cidadão. 
	b) estabelece que os cidadãos devem, igualmente, se submeter às leis que, pactuadas socialmente, serão coativamente impostas pelo Estado  “liberdade negativa”
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 Possui quatro funções fundamentais:
1ª) Proibir a retroatividade da lei penal (nulla crimen nulla poena sine lege praevia): 
	● Se, ao tempo da ação ou omissão, inexistia qualquer lei penal incriminando o agente, ele não poderá ser punido; o fato será tido como um indiferente penal pois ninguém pode ser punido. 
	● Assim, como veremos, a regra constitucional é a irretroatividade da lei penal, sendo a retroatividade (para beneficiar o reú) a exceção. Portanto, lei posterior (ao fato praticado pelo agente) não poderá retroagir para prejudicá-lo (vide art. 5º, XL, da CRFB)
		Art. 5º, XL: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o reú.
2ª.) Proibir a criação de crimes e penas pelo costumes (nullum crimen nulla poena sine lege scripta): como vimos, a fonte de conhecimento imediata do Direito Penal é a lei, vedando-se a invocação do direito consuentudinário para a fundamentação ou agravação da pena.
3ª.) Proibir o emprego da analogia para se criar crimes, fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege scripta): se o fato não foi previsto expressamente pelo legislador, não pode o intérprete socorrer-se da analogia a fim de tentar encontrar fatos fatos similares aos legislados em prejuízo do agente (analogia in malam partem)
4ª.) Proibir incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena lege certa): a lei deve ser taxativa, contendo uma definição precisa da conduta proibida ou imposta no preceito primário do tipo penal incriminador. 
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● Deixar o agente sem saber exatamente que a conduta está proibido a praticar, coloca-o nas mãos do intérprete e do momento político, como já aconteceu em certos períodos da história e da história do Direito Penal (Alemanha Nazista, Itália Fascista, na Lei de Segurança Nacional)

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