Buscar

Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas brasileiras

Prévia do material em texto

Rosana Baeninger
77Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
ROTATIvIDADE MIGRATÓRIA: uM NOvO OLhAR PARA AS 
MIGRAçõES INTERNAS NO BRASIL
Rosana Baeninger*
O artigo analisa os movimentos migratórios no Brasil, acompanhando as 
transformações em sua dinâmica nas últimas décadas. Os movimentos 
migratórios internos no Brasil, dos últimos 60 anos, estão fortemente 
relacionados aos processos de urbanização e de redistribuição espacial 
da população, marcados pela intensa mobilidade populacional. Nesse 
contexto, os clássicos fatores de atração e expulsão se esgotam para 
as explicações do fenômeno migratório. As evidências empíricas dos 
censos demográficos e das PNADs permitem conhecer as alterações nas 
tendências migratórias nacionais, revelando novas condições migratórias 
para diferentes estados: áreas de retenção migratória, áreas de perdas 
migratórias e áreas de rotatividade migratória. O século 21 anuncia a 
expansão dos espaços da migração no Brasil, marcados pelo crescimento 
de áreas de rotatividade migratória.
Palavras-chave: Migração interna; Ubanização; Migração interestadual.
Introdução
O tema das migrações internas no Brasil adquire importância crescente 
nos estudos de população no século 21. De um lado, as migrações de longa 
distância redesenharam seus trajetos e seus significados; de outro lado, 
as dinâmicas regionais passaram a imprimir especificidades às migrações 
urbanas-urbanas.
O artigo analisa os movimentos migratórios no Brasil, acompanhando 
as transformações em sua dinâmica nas últimas décadas. Os movimentos 
migratórios internos no Brasil, dos últimos 60 anos, estão fortemente 
* Doutora em Ciências Sociais, professora colaboradora do Departamento de Demografia do Instituto 
de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da 
Unicamp. E-mail: baeninger@reitoria.unicamp.br. Campinas/Brasil.
78 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
relacionados aos processos de urbanização e de redistribuição espacial da 
população, marcados pela intensa mobilidade populacional, e inseridos nas 
distintas etapas econômicas, sociais e políticas experimentadas pelo país ao 
longo desse período.
Desse modo, o deslanchar dos processos migratórios recentes tem 
suas raízes de transformações desde os anos 1980, quando as clássicas 
interpretações da migração ancorada somente no desempenho econômico 
das áreas alcançaram seus limites. O artigo recapitula as tendências gerais da 
migração nos anos 1980 e 1990 no Brasil, a fim de que se possa acompanhar, no 
longo prazo, a manifestação das migrações internas no país e sua configuração 
atual. Focaliza no século 21, os processos migratórios nacionais que, imersos 
em um novo contexto socioeconômico e urbano, imprimem espaços da 
migração marcados por diferentes “condição migratória”: áreas de retenção 
de população, áreas de perdas migratórias e áreas de rotatividade migratória.
As análises relativas aos primeiros anos do século 21 comparam as 
informações sobre os movimentos migratórios para todos os Estados brasileiros, 
no período 1995-2000 e 2005-2010, com base no Censo Demográfico de 
2000 e 2010; para os períodos intercensitários de 1999-2004, 2001-2006, 
2003-2008 e 2004-2009 nas Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliar. 
Busca-se apresentar os movimentos migratórios contemporâneos, em 
particular aqueles referentes aos últimos anos, que imersos em um novo 
contexto socioeconômico e urbano, imprimem espaços da migração marcados 
por diferentes “condição migratória”: áreas de retenção de população, áreas 
de perdas migratórias e áreas de rotatividade migratória.
Nesse contexto, apresenta-se a seguir algumas reflexões que contemplam 
o cenário recente das migrações internas no Brasil, com a incorporação do 
conceito de rotatividade migratória para o entendimento teórico-metodológico 
dos processos migratórios em curso no país.
Breve retrospectiva
Os movimentos migratórios internos no Brasil, dos últimos 60 anos, estão 
fortemente relacionados aos processos de urbanização e de redistribuição 
espacial da população, marcados pela intensa mobilidade populacional, e 
inseridos nas distintas etapas econômicas, sociais e políticas experimentadas 
pelo país ao longo desse período.
As mudanças no processo migratório nacional tiveram, a partir dos anos 
70, o deslanchar de suas transformações. No contexto dos deslocamentos 
interestaduais apesar da centralidade migratória no Sudeste - São Paulo e Rio 
Rosana Baeninger
79Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
de Janeiro foram os dois Estados dessa Região que já haviam assistido a uma 
redução em seus volumes de imigrantes dos anos 70 para os 80.1 O Sudeste 
que chegava a ter um movimento migratório que envolvia quase 5 milhões 
de pessoas nos anos 70, diminuiu este volume para 4,3 milhões no período 
1981-1991.
Na Região Centro-Oeste, os Estados do Mato Grosso do Sul e do 
Distrito Federal também diminuíram seus volumes de imigrantes entre esses 
dois períodos. O Mato Grosso do Sul demonstrava sinais do “fechamento 
de sua fronteira”2 e o Distrito Federal iniciava, no período 1981-1991, seu 
processo de expansão metropolitana atingindo os municípios do Estado de 
Goiás, com significativos fluxos migratórios para seu entorno.
Ao longo dos últimos cinquenta anos do século 20, as migrações 
internas reorganizaram a população no território nacional, onde as vertentes 
da industrialização e das fronteiras agrícolas constituíram os eixos da dinâmica 
da distribuição espacial da população no âmbito interestadual, muito embora 
a primeira vertente detivesse os fluxos mais volumosos. Nesse sentido, as 
análises a respeito do processo de distribuição espacial da população nos anos 
70, e até mesmo durante a década de 80, estiveram baseadas e preocupadas 
em apontar o crescente e intenso movimento de concentração: da migração, 
com a predominância do fluxo para o Sudeste; do processo de urbanização, 
com a enorme transferência de população do campo para a cidade, 
quando cerca de 15,6 milhões deixaram as áreas rurais nesse período;3 e, 
a concentração da população, manifestada no processo de metropolização.
De fato, essas características representaram e compuseram a sociedade 
urbano-industrial brasileira,4 com a concentração tanto de atividades 
econômicas quanto populacional. É revelador nesse processo, no entanto, 
que os efeitos da desconcentração relativa das atividades econômicas,5 
iniciados no decorrer dos anos 70, não tivesse tido reflexos imediatos nos 
deslocamentos populacionais captados pelo censo demográfico de 1980; 
somente no período 1981-1991 é que esse processo tornou-se mais evidente, 
1 BAENINGER, Rosana. Região, Metrópole e Interior: espaços ganhadores e espaços perdedores nas 
migrações internas no Brasil, 1980-1996.
2 MARTINE, George. “A redistribuição espacial da população brasileira durante a década de 80”, 
IDEM. “Migração e metropolização”.
3 Ibidem.
4 FARIA, Vilmar. “Cinquenta anos de urbanização no Brasil: tendências e perspectivas”.
5 Cf. NEGRI, Barjas. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880-1990); DINIZ, 
Célio C. “Dinâmica regional recente e suas perspectivas”; CANO, Wilson. “Novas Determinações 
sobre a Questão Regional e Urbana após 1980”; PACHECO, Carlos Américo. Fragmentação da 
nação.
80 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
sugerindo uma defasagem entre os deslocamentos das atividades econômicas 
e os deslocamentos de população.6
No entanto, além das “trajetórias dominantes”7, fenômenos de suma 
importância para a dinâmica da mobilidadeespacial da população já emergiam 
naquele período. Um deles referia-se ao refluxo de mineiros para seu Estado 
já nos anos 70,8 apontando o incipiente processo de reversão emigratória da 
área; cerca de 35,6% dos imigrantes para o Estado de Minas Gerais eram 
de retorno naquele período. O processo de desconcentração das atividades 
econômicas que marcava o período 1970-1980 beneficiou Minas Gerais, 
podendo já ter contribuído, nesse período, para a absorção de sua população 
natural, bem como para atração e, inclusive, refluxo de população.
Outro aspecto a considerar refere-se aos possíveis destinos migratórios 
nos anos 70. Martine y Carvalho9 sintetizam os deslocamentos populacionais, 
desse período, destacando a ocorrência do aumento no número de Estados 
expulsores de população e a redução nos receptores. Na verdade, das vinte e 
seis UF’s existentes em 1980,10 onze delas haviam registrado trocas migratórias 
positivas com outros Estados, das quais cinco estavam no Norte, indicando que 
entre 1970-1980 essa fronteira foi capaz de aumentar o número de Estados 
absorvedores de população no País; no cômputo geral, havia, nos anos 70, 
mais Estados “perdedores” que “ganhadores” de população.11 Essa situação 
inverteu-se na década seguinte, com os anos 80 entrando na história migratória 
recente do País com o maior número de “espaços ganhadores” nas migrações 
interestaduais, mesmo tendo o Rio de Janeiro registrado perdas populacionais. 
Dentre as vinte e sete UF’s existentes em 1991, quatorze delas registraram 
trocas migratórias positivas no período 1981-1991, destacando-se, além dos 
Estados do Norte (à exceção do Acre), o saldo positivo do Estado de Sergipe 
(no Nordeste), do Espírito Santo (no Sudeste) e de Goiás (no Centro-Oeste).
De fato, de uma para outra década, ocorreram significativas mudanças 
econômicas que tiveram rebatimentos sobre os movimentos migratórios. Ao 
lado do processo de esgotamento das fronteiras agrícolas, o País conviveu com 
o importante processo de desconcentração relativa da indústria, que implicou 
na alteração da distribuição das atividades econômicas, em particular as 
6 NEGRI (op. cit.) aponta essa possível defasagem entre dinâmica econômica e dinâmica migratória 
em seu estudo a respeito do processo de desconcentração da indústria no País.
7 BRITO, Fausto. “População, espaço e economia numa perspectiva histórica: o caso brasileiro”.
8 Brito (ibidem) indica essa tendência para os anos 70.
9 MARTINE, Jorge; CARVALHO, José Alberto M. Cenários demográficos para o século 21 e algumas 
implicações sociais.
10 Tocantins ainda fazia parte de Goiás.
11 Eram 15 estados perdedores de população contra 11 ganhadores.
Rosana Baeninger
81Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
industriais.12 Para esse período, pode-se concluir que essa desconcentração 
relativa da indústria propiciou também fluxos migratórios nessas direções, 
bem como reteve uma população que potencialmente migraria destas áreas.
Foi particularmente importante no período 1981-1991, o movimento 
de retorno aos Estados de nascimento, os quais também contribuíram para a 
elevação no número de Estados ganhadores. Nos anos 70, o movimento de 
retorno aos Estados de nascimento representava apenas 11,0% do total da 
migração nacional, proporção que chegou a dobrar no período 1981-1991, 
alcançando 24,5% do total; passou-se de um volume anual de retorno de 
105.482 pessoas, no período 1970-1980, para 259.582, entre 1981-1991.
Assim, os anos 80 já indicavam a expansão dos espaços da migração,13 
tendência que se viu confirmada nos anos 90, particularmente quando se 
consideram os movimentos intra-regionais e os inter-regionais separadamente.
Na continuidade das mudanças nos movimentos migratórios, as 
tendências na migração interna no Brasil nos anos 90 apontaram:
1) os fluxos migratórios de longa distância reduziram-se, consideravel-
mente, em particular aqueles que se dirigiam às fronteiras agrícolas;
2) mantiveram-se como área de absorção de fluxos de longa distância, 
os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal, que 
canalizaram os fluxos do Nordeste;
3) houve a recuperação migratória no âmbito intra-regional de “espaços 
perdedores” no âmbito nacional, especialmente os Estados nordestinos;
4) houve o surgimento e consolidação de pólos de absorção migratória 
no âmbito inter-regional e intra-regional, com a maior parte dos Estados 
tornando-se “ganhadores” de população - mesmo que estes ganhos estejam 
circunscritos a contextos regionais específicos.
A análise dos movimentos migratórios, em anos recentes – anos 2000, 
como se procederá a seguir, indica o reforço da tendência de configuração 
de novos espaços da migração, agora, no entanto, muito mais relacionados 
ao âmbito de suas próprias regiões.
Cenário recente das Migrações Internas no Brasil
Quando se considera os movimentos migratórios interestaduais e suas 
trocas migratórias pode-se verificar entre 1995 e 2009, a manutenção no 
número de Estados ganhadores de população: 17 Estados entre 1995-2000 
12 PACHECO, op. cit.
13 BAENINGER, Rosana. “A nova configuração urbana no Brasil: desaceleração metropolitana e 
redistribuição da população”.
82 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
e entre 1999-2004. Entre 2001-2006 e 2004-2009, no entanto, foram, 
respectivamente, 12 e 13 os Estados com ganhos migratórios, refletindo 
a situação de trocas migratórias negativas dos Estados da Região Norte, as 
oscilações nas tendências da migração de alguns Estados da Região Nordeste e 
a nova posição de São Paulo e Rio de Janeiro no cenário de perdas migratórias 
no contexto das migrações internas no Brasil (Tabela 1). 
Ou seja, no início do século XXI, as migrações internas tornaram-
se ainda mais complexas, sem a definição – que anteriormente poderia se 
visualizar – dos rumos da migração no país, considerando o comportamento 
verificado em décadas ou quinquênios anteriores.
TABELA 1
Volumes de imigração, emigração e trocas migratórias por Regiões e 
Unidades da Federação Brasil, 1995/2000 e 1999/2004
Regiões e 
UFs
1995/2000 1999/2004
I
(Imigração)
E
(Emigração)
Trocas I 
(Imigração)
E
(Emigração)
Trocas
Rondônia 83.325 72.734 10.591 49.046 55.239 -6.193
Acre 13.635 16.069 -2.434 14.777 13.212 1.565
Amazonas 89.626 58.658 30.968 64.001 52.928 11.073
Roraima 47.750 14.380 33.370 38.384 13.325 25.059
Pará 182.045 234.213 -52.168 235.111 187.426 47.685
Amapá 44.582 15.113 29.469 32.525 18.281 14.244
Tocantins 95.430 82.513 12.917 82.312 112.004 -29.69
NORTE 556.393 493.680 62.713 516.156 452.415 63.741
Maranhão 100.820 274.470 -173.650 180.924 258.016 -77.092
Piauí 88.736 140.815 -52.079 119.646 113.952 5.694
Ceará 162.926 186.709 -23.783 141.680 120.574 21.106
Rio G. Norte 77.917 71.286 6.631 73.494 37.284 36.210
Paraíba 102.005 163.485 -61.480 138.328 95.857 42.471
Pernambuco 164.872 280.289 -115.417 179.932 204.868 -24.936
Alagoas 55.967 127.949 -71.982 81.318 85.668 -4.350
Sergipe 52.109 56.921 -4.812 45.843 43.258 2.585
Bahia 250.572 517.930 -267.358 290.343 378.618 -88.275
NORDESTE 1.055.924 1.819.854 -763.930 1.251.508 1.338.095 -86.587
Minas Gerais 447.836 408.659 39.177 429.438 398.460 30.978
Espírito Santo 129.169 95.149 34.020 107.132 108.669 -1.537
Rio de Janeiro 319.749 274.223 45.526 166.036 255.653 -89.617
São Paulo 1.223.809 884.121 339.688 823.557 978.689 -155.132
Rosana Baeninger
83Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
SUDESTE 2.120.563 1.662.152 458.411 1.526.163 1.741.471 -215.308
Paraná 297.308 336.998 -39.690 260.478 271.182 -10.704
Santa Catarina 199.651 139.665 59.986 214.287 139.268 75.019Rio G. do Sul 113.395 152.891 -39.496 116.643 146.372 -29.729
SUL 610.354 629.554 -19.200 591.408 556.822 34.586
Mato G. do Sul 97.709 108.738 -11.029 90.071 97.271 -7.200
Mato Grosso 166.297 123.726 42.571 192.691 81.011 111.680
Goiás 372.702 169.887 202.815 315.571 168.574 146.997
Distrito Federal 216.200 188.551 27.649 152.073 199.982 -47.909
C-OESTE 852.908 590.902 262.006 750.406 546.838 203.568
TOTAL 5.196.142 5.196.142 - 4.635.641 4.635.641 -
Fonte: Fundação IBGE (2000 y 2004). Tabulação Nepo/Unicamp.
* Não inclui os imigrantes estrangeiros nem os de UF não especificada.
A redefinição da relação migração-industrialização, migração-fronteira 
agrícola, migração-desconcentração industrial, migração-emprego, migração-
mobilidade social no contexto atual da economia e da reestruturação 
produtiva, em anos recentes, induziu um novo dinamismo às migrações 
no Brasil, onde os fluxos mais volumosos são compostos de idas-e-vindas, 
refluxos, re-emigração, outras etapas – que pode ser mesmo o próprio 
local de origem antes do próximo refluxo para o último destino -, onde as 
migrações assumem um caráter mais reversível14 do que nas explicações que 
nos pautávamos até o final do século XX. Essa reversibilidade diz respeito 
tanto às áreas de origem, com um crescente vai-e-vem, como às de destino, 
com o incremento da migração de retorno.
É nesse contexto, que a migração interestadual, para o conjunto do país, 
continuou exibindo decréscimos em seus volumes: passou de 5,2 milhões, 
entre 1995-2000, para 4,6 milhões, entre 1999-2004 e de 4,4 milhões, de 
2001-2006, para 3,2 milhões entre 2004-2009. Esse decréscimo, contudo, 
não implica em uma tendência à estagnação das migrações; ao contrário, 
denota outros arranjos da própria migração interna, bem como seus atuais 
desdobramentos, com novas modalidades de deslocamentos populacionais 
em âmbitos locais e regionais.
Para o entendimento deste novo cenário das migrações no país é 
necessário que se observe as tendências atuais da Região Nordeste. Com uma 
tendência que se delineia desde os últimos vinte anos, a Região Nordeste 
continuou o decréscimo em seus saldos migratórios negativos, de 763 mil 
14 DOMENACH, Hervé; PICOUET, Michel. “El caráter de reversibilidad en el estudio de la Migración”. 
84 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
pessoas, entre 1995-2000, para 86 mil pessoas, entre 1999-2004, alcançando 
53 mil e 168 mil pessoas, respectivamente, entre 2001-2006 e 2003-2008. 
Entre 2004-2009 o saldo negativo migratório para a região Nordeste manteve-
se em 187 mil pessoas, o que indica a força da migração de retorno na 
composição de sua imigração. Esta nova face e nova fase da imigração para 
o Nordeste estão relacionadas ao contexto atual da Região Metropolitana de 
São Paulo, em especial, e do Rio de Janeiro, e a reorganização da indústria 
no território nacional15 e internacional16.
As dinâmicas migratórias dos Estados do Nordeste são profundamente 
marcadas por oscilações em termos de recuperação, absorção e expulsão 
de suas populações que refletem tanto os processos intra-regionais, como 
a instabilidade das tendências dos movimentos migratórios de retorno. De 
um lado, o Rio Grande do Norte e o Ceará vêm conseguindo manter trocas 
migratórias positivas com as demais Unidades da Federação. Do outro lado, 
o Estado da Bahia é um dos melhores exemplos: com uma trajetória de 
perdas migratórias por mais de cinquenta anos – apesar do decréscimo em 
seu volume como um todo – a PNAD 2006 revelou maior contingente de 
imigrantes (339.133 pessoas) do que de emigrantes (306.116), com um saldo 
migratório positivo de 33.017 pessoas para esse Estado. No entanto, as PNADs 
2008 e 2009 apontam perdas migratórias de 75 mil pessoas e de 108.326, 
respectivamente, para a Bahia com alta rotatividade migratória. Nesse 
contexto, torna-se pertinente, mais uma vez destacar, as análises a respeito 
da reversibilidade das migrações, como aponta Domenach e Picouet.17
A compreensão das migrações no Nordeste passa necessariamente 
pela nova realidade da Região Sudeste. Os movimentos migratórios, do início 
do século 21, transformaram os grandes Estados de atração populacional 
dos anos 70 - São Paulo e Rio de Janeiro - em áreas de perdas migratórias. 
Nas PNADs 2006, 2008 e 2009 é possível identificar que a imigração para 
São Paulo diminuiu para 765.469 em 2001-2006 para 621.058 entre 
2003-2008, chegando a 535.376 migrantes nacionais para o período 2004-
2009 – quando, no período 1995-2000, esta imigração ainda havia sido de 
1.223.809 migrantes interestaduais.
Com isso, nas trocas migratórias, o Estado de São Paulo passou de um 
ganho de migrantes (339.688), no período 1995-2000, para uma perda de 
-207.098 pessoas, entre 2001-2006, diminuindo esta perda -19.652 pessoas 
entre 2003-2008 e -53.276 entre 2004-2009. Deve-se ressaltar que estas 
15 COUTINHO, Luciano. “Cenários exploratórios do Brasil 2020: comentário”.
16 SASSEN, Saskia. The Mobility of Labor and Capital. 
17 DOMENACH, PICOUET, op. cit.
Rosana Baeninger
85Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
perdas podem estar relacionadas, muito mais, às saídas de população da 
Região Metropolitana de São Paulo, com histórico consolidado de migrações 
interestaduais – em especial nordestina -, do que ao cenário do interior 
paulista, que vem expandindo suas áreas de migração com o Nordeste mais 
recentemente.18
O Rio de Janeiro teve seu volume de imigrantes diminuído de 319.749, 
entre 1995-2000, para 210.038, entre 2001-2006, com declínio mais intenso, 
no período 2003-2008, para 193.793 imigrantes e 141.459 no período 
2004-2009, embora com menor força que o decréscimo para São Paulo. 
Esse estado registrou saldo migratório negativo de -41.596 migrantes, entre 
2001-2003, positivo de 12.169 pessoas, no período 2003-2008, voltando a 
ser negativo entre 2004-2009 (-24.063).
Para as antigas áreas de fronteiras agrícolas, as mudanças nos movimentos 
migratórios também foram expressivas. Na Região Norte, o início dos anos 
2000 aponta a inversão dos processos migratórios em Rondônia. Ainda no 
período 1995-2000, o Estado registrava trocas migratórias interestaduais 
positivas (10.591 pessoas), passando para um saldo migratório negativo entre 
1999-2004 (-6.193), indicando no período 2001-2006 aumentos em suas 
perdas migratórias (-20.801 migrantes). Porém, o redesenho dessas áreas 
com a expansão da “nova fronteira agrícola”19 já se fez sentir nos movimento 
migratórios do período 2003-2008 com declínio das perdas migratórias, para 
-6.783, voltando a ter ganhos populacionais entre 2004-2009, em especial 
Rondônia e Amapá.
Na Região Centro-Oeste, o Mato Grosso do Sul que apresentava 
tendência de perda de população em 1995-2000 (com saldo negativo de 
11.029 migrantes), diminuiu sua emigração, passando a um saldo positivo 
de 39.818 migrantes, entre 2001-2006. Todavia, no período 2003-2008, 
esse Estado volta a apresentar trocas migratórias negativa de -5.166 pessoas 
e oscilando para saldo migratório positivo entre 2004-2009 (7.695 pessoas). 
Outra tendência inversa no Centro-Oeste é registrada pelo Distrito Federal que 
de ganhos migratórios, ainda em 1995-2000 (27.649 pessoas), passou para 
uma perda de população em 2001-2006 de 12.784 pessoas, com maiores 
volumes negativos no período 2003-2008 (-19.438), mas também voltando 
a saldos positivos entre 2004-2009 (11.866 pessoas). O Estado do Mato 
Grosso nos três períodos (1995-2000, 1999-2004 e 2001-2006), apresentou 
saldo positivo em suas trocas migratórias, porém, no período recente (2003-
18 BAENINGER, Rosana. “Expansão, Redefinição ou Consolidação dos Espaços da Migração em São 
Paulo? Análises a partir dos primeiros resultados do Censo 2000”.19 CANO, op. cit.
86 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
2008), passou a ter saldo negativo de -16.398 pessoas, com perdas migratórias 
entre 2004-2009 (-12.027 pessoas). Nota-se, portanto, as tênues fronteiras 
entre as “condições migratórias” mesmo dos atuais pólos migratórios no 
país. O importante a reter aqui são os níveis escalares em que se operam tais 
fenômenos migratórios e sua manifestação local/regional e nacional.
Cabe ainda destacar que, a Região Sul passou a ter saldo positivo no 
âmbito nacional, de um para outro período: de -19.200, no período 1995-
2000, para 40.534 migrantes, entre 2001-2006, com manutenção do saldo 
de 40.282 pessoas, no período 2003-2008 e de 98.253 migrantes, entre 
2004-2009, em função principalmente dos ganhos migratórios de Santa 
Catarina.
Considerando-se o Índice de Eficácia Migratória interestadual (IEM), 
nos períodos 1995-2000, 1999-2004, 2001-2006, 2003-2008 e 2004-2009, 
nota-se que o país vivencia uma intensa mobilidade da população, com 
o aumento das áreas de rotatividade migratória, onde o índice de eficácia 
migratório, tanto positivo quanto negativo, são bastante próximo de zero 
(Tabela 2). Ou seja, já não há mais áreas de grande retenção migratória e 
nem de elevada perda migratória. Isto já fica evidente quando observado 
o comportamento em termos de grandes regiões brasileiras. Para a Região 
Norte e a Região Sul os índices de eficácia migratória se situam na faixa entre 
-0,05 e 0,14, ou seja, muito distante dos extremos do indicador (-1 como 
área de evasão e +1 como área de retenção migratória). Há sim um intenso 
movimento de rotatividade migratória no Brasil, com o indicador situando-se 
próximo de zero (entram migrantes e saem migrantes).
Assim, os Estados com índice de eficácia próximo ao de rotatividade 
migratória – mesmo com valores negativos (entre –0,12 e 0,12) – são no 
período 2004-2009: Rondônia, Acre, Amazonas, Maranhão, Ceará, Paraíba, 
Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, 
Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, 
compreendendo dezessete estados brasileiros.
Os Estados com capacidade de retenção migratória (IEM acima de 
0,12, com valor superior de 0,30), no período 2004-2009 totalizam apenas 
5 estados: Amazonas, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Santa Catarina 
e Goiás. Já as áreas de perdas migratórias (IEM entre -0,12 e –0,30) são 
apenas: Pará, Tocantins, Piauí, Alagoas, Bahia. Destaca-se que essas áreas 
têm apresentado também oscilações em suas “condições migratórias” como 
demonstra a evolução do IEM.
Rosana Baeninger
87Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
TABELA 2
Índice de eficácia migratória por Regiões e Unidades da Federação
Brasil, 1995-2010
UFs 1995/2000 1999/2004 2001/2006 2003/2008 2004/2009 2005/2010
Rondônia 0,07 -0,06 -0,22 -0,08 0,03 0,10
Acre -0,08 0,06 0,15 0,17 0,01 -0,03
Amazonas 0,21 0,09 -0,03 0,09 0,28 0,16
Roraima 0,54 0,48 0,68 0,36 0,02 0,39
Pará -0,13 0,11 0,06 0,01 -0,15 -0,11
Amapá 0,49 0,28 -0,05 -0,36 0,29 0,42
Tocantins 0,07 -0,15 -0,14 -0,04 -0,24 0,05
NORTE 0,06 0,07 0,01 -0,01 -0,05 0,04
Maranhão -0,46 -0,18 -0,18 -0,21 -0,11 -0,44
Piauí -0,23 0,02 -0,05 -0,03 -0,17 -0,32
Ceará -0,07 0,08 0,12 0,06 -0,02 -0,23
Rio G. Norte 0,04 0,33 0,22 0,13 0,24 0,11
Paraíba -0,23 0,18 -0,1 -0,21 0,02 -0,13
Pernambuco -0,26 -0,06 -0,03 -0,04 -0,03 -0,20
Alagoas -0,39 -0,03 -0,2 -0,36 -0,30 -0,42
Sergipe -0,04 0,03 -0,08 0,15 0,02 0,08
Bahia -0,35 -0,13 0,05 -0,15 -0,21 -0,34
NORDESTE -0,27 -0,03 -0,02 -0,09 -0,10 -0,27
Minas Gerais 0,05 0,04 0,05 0,1 0,02 -0,02
E. Santo 0,15 -0,01 0,25 0,18 0,33 0,30
Rio Janeiro 0,08 -0,21 -0,09 0,03 -0,08 0,04
São Paulo 0,16 -0,09 -0,12 -0,02 -0,05 0,15
SUDESTE 0,12 -0,07 -0,05 0,03 -0,01 0,10
Paraná -0,06 -0,02 -0,02 0,03 0,08 -0,04
S. Catarina 0,18 0,21 0,26 0,3 0,26 0,40
Rio G. Sul -0,15 -0,11 -0,17 -0,23 -0,07 -0,27
SUL -0,02 0,03 0,04 0,05 0,11 0,06
Mato G. Sul -0,05 -0,04 0,2 -0,04 0,07 0,10
Mato Grosso 0,15 0,41 0,25 -0,08 -0,07 0,08
Goiás 0,37 0,3 0,18 0,25 0,32 0,40
D. Federal 0,07 -0,14 -0,04 -0,09 0,04 0,04
C. OESTE 0,18 0,16 0,13 0,06 0,14 0,20
TOTAL 5.196.142 4.635.641 4.463.418 3.327.741 3.240.083 4.643.752
Fonte: Fundação IBGE, Censo Demográfico de 2000 e 2010, e PNAD 2004, 2006, 2008 e 2009.
88 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
 O entendimento das migrações internas atuais, a partir desse novo 
olhar para os processos migratórios, conduz à substituição de conceitos 
historicamente datados, tais como: a) áreas de evasão por áreas de perdas 
migratórias; b) áreas de atração ou absorção por áreas de retenção migratória; 
c) áreas de origem e destino por áreas/etapas constituintes dos processos de 
rotatividade migratória.
Duas dimensões estão particularmente presentes na re-definição desses 
processos: em primeiro lugar, a própria reversibilidade20 dos diferentes fluxos 
migratórios, em especial as oscilações nos volumes de emigração e imigração 
e suas novas modalidades. Em segundo lugar, a menor permanência das 
condições da migração para a caracterização das áreas.
Os volumes dos fluxos migratórios interestaduais para o período 2000-
2010, segundo o Censo Demográfico de 2010, totalizaram 11.409.086 
pessoas que declararam ter mudado de Unidade da Federação na década e 
confirmando as grandes tendências que se delinearam com as informações 
das PNADs, em especial quando se observa os índices de eficácia migratória. 
O que mais chama a atenção é o fato do Censo 2010 não ter comprovado 
a perda migratória do Estado de São Paulo, como as PNADs da década 
vinham apontando (com Índice de Eficácia Migratória em torno de -0,05 
pelas PNADs e de 0,15 com o Censo). Porém o censo continua a confirmar a 
tendência de rotatividade migratória do Estado de São Paulo, como pudemos 
captar com as PNADs.
Considerando as trocas migratórias nas últimas duas décadas (Tabelas 
3a e 3b) para todas as Unidades da Federação do país, é possível verificar os 
menores patamares da migração interestadual, com a Região Norte tendo 
decrescido seu saldo migratório de 245.998 pessoas entre 1970-1980 para 
146.962 entre 2000-2010. A região Nordeste diminuiu sua perda migratória, 
mantendo em torno de -1,6 milhões suas trocas migratórias entre 1990-2000 
e 2000-2010. A Região Sul revelou no período 2000-2010 perdas migratórias 
para o Rio Grande do Sul e Paraná. O Centro-Oeste manteve seus elevados 
ganhos populacionais, em torno de 600 mil pessoas.
Destaca-se, no período 2000-2010, a Região Sudeste com troca 
migratória em torno de 800 mil pessoas, quando no período 1990-2000 
havia sido de 1,8 milhão. Essa diminuição nos ganhos migratórios do 
Sudeste se deveu à forte redução na imigração para São Paulo: de 3.254.389 
imigrantes entre 1990-2000 para 2.507.631 entre 2000-2010, tendo a 
emigração registrado: 1.789.544 e 1.840.193, respectivamente. Com isso 
20 DOMENACH, PICOUET, op. cit.
Rosana Baeninger
89Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
as trocas migratórias de São Paulo com as demais Unidades da Federação 
passaram de 1.464.846, entre 1990-2000, para 667.438 pessoas no período 
2000-2010.
TABELA 3a
Volumes de Imigração e Emigração Interestaduais* e Trocas Migratórias
Brasil, 2000-2010
* Não inclui sem especificação (2.012 casos).
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000 e 2010.
 
Regiões e UFs 
BRASIL 
Imigração Emigração Trocas 
migratórias 
IEM 
Norte 1.147.743 1.000.781 146.962 0,07 
Nordeste 2.381.889 4.080.204 -1.698.315 -0,26Sudeste 4.410.181 3.597.042 813.139 0,10 
Sul 1.559.832 1.450.774 109.058 0,04 
C. Oeste 1.907.431 1.278.275 629.156 0,20 
 TOTAL 11.407.076 
Rondônia 152.914 136.367 16.547 0,06 
Acre 33.501 34.377 -876 -0,01 
Amazonas 171.151 122.441 48.710 0,17 
Roraima 62.078 25.601 36.477 0,42 
Pará 451.988 460.689 -8.701 -0,01 
Amapá 85.690 36.882 48.808 0,40 
Tocantins 190.421 184.424 5.997 0,02 
Maranhão 268.487 677.350 -408.863 -0,43 
Piauí 173.776 351.306 -177.530 -0,34 
Ceará 309.027 452.275 -143.248 -0,19 
R.G.Norte 161.443 140.981 20.462 0,07 
Paraíba 223.337 324.489 -101.152 -0,18 
Pernambuco 370.987 588.262 -217.275 -0,23 
Alagoas 143.703 307.060 -163.357 -0,36 
Sergipe 121.924 118.966 2.958 0,01 
Bahia 609.205 1.119.515 -510.310 -0,30 
M. Gerais 914.847 986.045 -71.198 -0,04 
E. Santo 286.428 185.623 100.805 0,21 
Rio Janeiro 701.275 585.180 116.095 0,09 
São Paulo 2.507.631 1.840.193 667.438 0,15 
Paraná 649.067 738.089 -89.022 -0,06 
S. Catarina 618.129 328.653 289.476 0,31 
Rio G. do Sul 292.636 384.031 -91.395 -0,14 
Mato G. Sul 227.334 197.269 30.065 0,07 
Mato Grosso 386.904 359.182 27.722 0,04 
Goiás 817.939 393.761 424.178 0,35 
D. Federal 475.254 428.063 47.191 0,05 
 
90 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
TABELA 3b
Volumes de Imigração e Emigração Interestaduais* e Trocas Migratórias
São Paulo, 2000-2010
* não inclui sem especificação (2.012 casos).
Fonte: FIBGE, Censo Demográfico de 2000 e 2010.
O caso de Estado de São Paulo, portanto, é indicativo da complexidade 
que assume o fenômeno migratório no século 21. Tendo sido considerado o 
pólo nacional das migrações no Brasil por mais de 50 anos, caracteriza-se por 
distintas “condições migratórias” a depender dos fluxos que se processam de 
e com São Paulo. Nas principais trocas migratórias ocorridas entre 2000-2010, 
dentre os estados brasileiros, São Paulo apresentou-se como área de forte 
Regiões e UFs Imigração para 
São Paulo 
Emigração de 
São Paulo 
Trocas 
Migratórias São 
Paulo 
IEM São Paulo 
Norte 59.150 52.839 6.311 0,06 
Nordeste 1.451.666 701.672 749.994 0,35 
Sudeste 547.442 490.669 56.773 0,05 
Sul 301.913 388.899 -86.986 -0,13 
C. Oeste 147.460 206.114 -58.654 -0,17 
TOTAL 2.507.631 1.840.193 667.438 0,14 
Rondônia 11.267 13.903 -2.636 -0,10 
Acre 1.538 2.014 -476 -0,13 
Amazonas 8.732 7.115 1.617 0,10 
Roraima 1.020 1.452 -432 -0,17 
Pará 27.661 17.672 9.989 0,22 
Amapá 1.357 1.195 162 0,06 
Tocantins 7.576 9.488 -1.912 -0,11 
Maranhão 92.114 25.948 66.166 0,56 
Piauí 126.882 44.066 82.816 0,48 
Ceará 155.121 93.004 62.117 0,25 
R.G.Norte 31.320 33.736 -2.416 -0,04 
Paraíba 99.043 57.599 41.444 0,26 
Pernambuco 244.174 124.557 119.617 0,32 
Alagoas 122.895 47.042 75.853 0,45 
Sergipe 38.157 25.717 12.440 0,19 
Bahia 541.959 250.002 291.957 0,37 
M. Gerais 418.348 366.699 51.649 0,07 
E. Santo 18.352 22.562 -4.210 -0,10 
Rio Janeiro 110.742 101.408 9.334 0,04 
São Paulo 
Paraná 225.541 271.796 -46.255 -0,09 
S. Catarina 38.682 79.158 -40.476 -0,34 
Rio G. do Sul 37.690 37.946 -256 0,00 
Mato G. Sul 55.822 77.723 -21.901 -0,16 
Mato Grosso 31.976 41.829 -9.853 -0,13 
Goiás 35.457 54.988 -19.531 -0,22 
D. Federal 24.206 31.574 -7.368 -0,13 
 
Rosana Baeninger
91Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
perda migratória para Santa Catarina e estados do Centro-Oeste; com a Região 
Norte, apresenta saldos migratórios negativos com estados como Rondônia, 
Acre, Roraima, Amapá, mas ganha migrantes do Pará. Com os estados do 
Nordeste voltou a reter população do Maranhão, Piauí, Pernambuco, Ceará 
e Bahia, mesmo que em menores patamares que em décadas anteriores. Já 
com os demais estados brasileiros São Paulo caracteriza-se como área de 
rotatividade migratória.
Como se poderia visualizar essa configuração migratória para São 
Paulo dez anos atrás? Como mantermos a hipótese de que esta tendência 
atual de rotatividade migratória permanecerá? A passagem de uma “condição 
migratória” de retenção, perda ou rotatividade migratória para as áreas requer 
o entendimento da complexidade que o fenômeno migratório assumiu no 
século 21, pela generalização do processo de urbanização, pelas modalidades 
migratórias e pelos reflexos da inserção na dinâmica global.
Nesse contexto de redefinição de áreas de retenção e perdas migratórias, 
redesenha-se a mobilidade espacial da população no Brasil, com processos 
migratórios que resultam na expansão dos espaços de rotatividade migratória. 
A tendência de menores saldos migratórios para o Sudeste, evidenciada já 
entre 1999-2004,21 revela a consolidação dos espaços da migração no 
país, onde a complementaridade migratória, historicamente existente entre 
Nordeste-Sudeste, se redefine num cenário de menores fluxos migratórios, 
com decréscimo na absorção migratória e a presença da rotatividade 
migratória. Não se trata, contudo, apenas das “duplas migratórias” - como 
define Wendin22 para as migrações internacionais – mas sim de variados 
sentidos e direção das migrações internas no Brasil.
Pode-se caracterizar os espaços da migração no Brasil na última década 
da seguinte maneira: 
• área de retenção migratória nacional e regional, ou seja, o novo 
pólo das migrações, o Estado de Goiás, situado na região Centro-
Oeste e área de expansão da nova fronteira agropecuária 
• áreas de retenção migratória regional, estados do Mato Grosso 
(Região Centro-Oeste), Pará (Região Norte), Rio Grande do Norte 
(Região Nordeste), Espírito Santo (Região Sudeste) e Santa Catarina 
(Região Sul);
21 CUNHA, José Marcos P. “A migração no Brasil no começo do Século 21: continuidades e novidades 
trazidas pela PNAD 2004”; HAKKERT, Ralph e MARTINE, George. “Tendências migratórias recentes 
no Brasil: as evidências da PNAD de 2004”; BRITO, CARVALHO, op. cit.
22 WENDEN, Catherine. “Un essai de typologie des nouvelles mobilités”.
92 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
• área de rotatividade migratória nacional: São Paulo e Rio de 
Janeiro, em especial suas metrópoles 
 É nesse sentido, que se pode observar nas migrações internas do 
Brasil, na primeira década do século 21, uma faixa que se estende do Mato 
Grosso passando por Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí até o Pará (áreas 
dos commodities exportáveis, fronteira mineral e agropecuária). Já no Norte/
Nordeste do país, as novas áreas de expansão da fronteira agrícola ganham 
importância na recepção dos fluxos migratórios do Pará com a atual retenção 
migratória de Roraima, espelhando, portanto, processos locais da esfera 
global. Já o outro corredor da migração nacional é historicamente conformado 
pelos fluxos Nordeste-Sudeste, e agora pelos seus refluxos Sudeste-Nordeste, 
onde transitam os volumes mais elevados da migração do país, com intensas 
áreas de rotatividade migratória. Reconfiguram-se espacialidades migratórias 
em âmbito sub-regional, como são os casos de Minas Gerais, Bahia e São 
Paulo. 
Nesse contexto de redefinição de áreas de retenção e perdas 
migratórias, redesenha-se a mobilidade espacial da população no Brasil, com 
processos migratórios que resultam na expansão dos espaços de rotatividade 
migratória. A tendência de perda migratória do Sudeste revela a consolidação 
dos espaços da migração no país, onde a complementaridade migratória - 
historicamente existente entre Nordeste-Sudeste – se redefine num cenário 
de rotatividade migratória. 
Desse modo, o cenário migratório do século 21 apresenta dois 
grandes vetores redistributivos nacionais. O primeiro é caracterizado pela 
“dispersão migratória metropolitana”, que em nívelnacional é marcado pelos 
significativos volumes de migrantes de retorno interestaduais que partem do 
Sudeste em direção ao Nordeste. No âmbito intra-estadual, esta tendência se 
evidencia com a conformação de importantes fluxos migratórios metrópole-
interior. 
Nesse sentido, o segundo vetor refere-se a “interiorização migratória”, 
com trajetórias migratórias de mais curtas distâncias, envolvendo 
aglomerações urbanas e espaços não-metropolitanos, expressos na maior 
retenção de população migrante nos estados e nas regiões. A reversibilidade 
dos processos migratórios adquire significado distinto quando se contempla 
dinâmicas urbano-regionais específicas.
As migrações no século 21 redefinem seus pólos, configurando mais 
áreas de retenção da migração do que áreas com uma tendência polarizadora 
de longa permanência, como foi o caso do Sudeste nos últimos cinquenta 
Rosana Baeninger
93Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
anos. Essas modificações são resultados de inúmeras transformações ocorridas 
no cenário econômico internacional e nacional, que trouxeram efeitos 
em termos políticos e econômicos. Tais mudanças exercem efeitos sobre a 
decisão de migrar, e num contexto mais atual, sobre a decisão de permanecer 
ou não na Região/Estado para a qual migrou em tempos passado. 
Entretanto, os volumes de imigração e emigração entre Nordeste-
São Paulo não deverão ser muito menores. Em um contexto de enormes 
transformações na dinâmica produtiva, onde o setor terciário tem importante 
papel – quer seja nas metrópoles do Sudeste ou do Nordeste - e o emprego 
na indústria oscila conforme o mercado internacional, a rotatividade 
migratória tenderá a se consolidar, marcando uma nova fase do processo de 
redistribuição espacial da população brasileira.
Rotatividade Migratória: conceito para as migrações urbanas no 
século 21
O fenômeno migratório atual apresenta especificidades que indicam 
tanto sua complexidade, advinda do processo de reestruturação urbana 
e econômica, quanto seu importante papel na conformação de espaços 
regionais e locais. O entendimento do fenômeno como processo histórico-
social, como já indicava Singer23, constitui a raiz do entendimento também 
para os processos migratórios urbanos atuais. 
As localidades de partida e chegada, contudo, não se configuram 
mais como as antigas áreas de origem e destino conforme pensadas para 
a migração rural-urbana desde suas formulações clássicas.24 O expressivo 
retorno migratório revela configurações da migração e de trajetórias 
urbanas-urbanas não contempladas nos conceitos datados em seu tempo 
histórico.
Poder-se-ia, então, recorrer ao conceito de circulação para as análises 
dos processos migratórios atuais?
Zelinsky25 define circulação como uma etapa de transição para 
movimentos migratórios permanentes, diferenciando circulação de migração, 
uma vez que a primeira não implica em mudança de residência e com 
restrita temporalidade. Nesta mesma direção, Chapman, Muray e Prothero26 
denominam circulação como um conceito que substitui migração, quando 
não há mudança permanente de residência.
23 SINGER, Paul. “Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo”.
24 Ibidem; LEE, Everett S. “Uma teoria sobre a migração”.
25 ZELINSKY, Wilbur. “The hypothesis of the mobility transition”.
26 CHAPMAN, Murray; PROTHERO, Mansell. “Themes on circulation in the Third World”.
94 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
Skeldon27 destaca
(…) the process of wage labor circulation must refer to many 
interrelated macro factors – land inequality, pauperization, 
uprooting, rural exodus, conditions maintaining both rural 
and urban poverty, disarticulation of links between village and 
town, spatial-economic disorganization, urban polarization of 
resources, the parasitic character of urban areas and possibly 
many more. Collectively these may be called the working of a 
syndrome of poverty and mobility. Wage labour circulation is just 
one manifestation of this syndrome.
Essas interpretações conceituais, portanto, ainda estão baseadas em um 
excedente populacional na origem rural que circula por trabalhos sazonais ou 
temporários no lugar de destino. Ainda na perspectiva das migrações rurais-
urbanas, a circulação traduziria a complementaridade dos deslocamentos 
de população; tais conceitos partem de uma sociedade em transição para o 
mundo urbano, onde as mudanças na estrutura agrária geram um contingente 
de “força de trabalho móvel”.28 
A circulação, em sua formulação clássica, traduz a força de trabalho 
disponível em meio às transformações geradas pelo urbano e pela 
industrialização. Considera-se, contudo, que este conceito de circularidade, 
na etapa atual da sociedade urbanizada encontra limites para contemplar a 
complexidade do fenômeno migratório, uma vez que se baseia em áreas de 
origem menos dinâmicas para áreas de destino com dinâmicas produtivas e 
capacidade em emprego, mesmo que temporários ou sazonais. O olhar é 
para o destino migratório.
O conceito de rotatividade migratória contempla, por sua vez, como 
primeiro pressuposto, tratar-se de um fenômeno migratório eminentemente 
urbano e que - também no âmbito das migrações internas – constitui um fato 
social total.29 Ou seja, a imigração e a emigração fazem parte de um mesmo 
processo social, sendo um fenômeno que comporta transformações na esfera 
social, na dimensão econômica e cultural no local de partida e de chegada; 
Sayad30 se refere ao conceito de double absence para o entendimento das 
migrações internacionais nessa perspectiva.
A segunda premissa do conceito de rotatividade migratória vincula-se à 
expansão clássica do capitalismo com a circulação de capital, mercadorias e 
27 SKELDON, Ronald. Population Mobility in Developing Countries, p. 293.
28 SPAAN, Ernst. Labour circulation and socioeconomic transformation. The case of East Java, 
Indonesia.
29 SAYAD, Abdelmalek. La Double absence: dês ilusions de l´emigré aux soufrances de l´immigré.
30 Ibidem.
Rosana Baeninger
95Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
pessoas, construindo um excedente populacional. No contexto atual, esse é 
um excedente populacional urbano gerado tanto na área de origem como na 
área de destino, que será rotativo dependendo das necessidades do capital 
e da inserção dessas localidades na divisão social e territorial do trabalho 
em âmbito nacional e internacional. A rotatividade da mão de obra nos 
processos migratórios – via rotatividade migratória – contribuirá para atender 
as demandas e custo da força de trabalho nos locais de chegada e de partida.
A releitura do conceito de força de trabalho móvel pode ser contemplada 
como uma dimensão das migrações internas urbanas da atualidade. No 
contexto atual da reestruturação da economia em nível internacional e seus 
rebatimentos em âmbitos locais31 a força de trabalho móvel urbana tende a 
crescer, em especial em uma economia baseada nos serviços, com a fluidez 
também dos movimentos migratórios no atual processo de urbanização.
O conceito de rotatividade migratória pressupõe ainda a dimensão 
espacial para o entendimento dos processos migratórios32 e, mais que isto, 
seus espaços de vida,33 com idas-e-vindas, retornos, temporalidades limitadas. 
Nesse sentido, as explicações das dinâmicas migratórias internas no país 
têm se aproximado cada vez mais de aportes teóricos acerca das migrações 
internacionais, quer seja na vertente do tema das redes sociais,34 quer seja na 
vertente da demanda por trabalhadores, como indicado por Krissman35. 
É no espaço de vida,36 no campo social37 onde agentes “ocupam 
posições relativas em um espaço de relações que, ainda que invisível esempre 
difícil de expressar empiricamente, é a realidade mais real (...) e o princípio 
real dos comportamentos dos indivíduos e dos grupos”, constituindo os 
espaços sociais da migração.
Considerações finais
As evidências empíricas acerca das migrações internas no Brasil 
conduzem a novos olhares para a interpretação dos movimentos migratórios 
e sua descrição, bem como impõe enorme desafios conceituais.
31 HARVEY, Daniel. Condição Pós-Moderna.
32 VILLA, Miguel; RODRIGUEZ, Jorge. “Dinámica sociodemografica de las metrópolis 
latinoamericanas”.
33 COURGEAU Daniel. Méthodes de Mesure de la Mobilité Spaciale: migration internes, mobilité 
temporaire, navettes.
34 MASSEY, Douglas et alii. Worlds in motion: understanding International Migration at the end of the 
millennium.
35 KRISSMAN, Fred. “Sin coyote ni patrón: why the ‘Migrant Network’ fails to explain International 
Migration”.
36 COURGEAU, op. cit.
37 BOURDIEU, Pierre. “Efeitos do lugar”.
96 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
Em termos empíricos, o elemento que mais chama a atenção se refere 
à complementaridade migratória - como transferências de população do 
Nordeste para o Sudeste -, que parecia ter diminuído nos anos 80, volta a 
ser retomada nos 90, porém se redesenha nos 2000. O Nordeste registrava 
um total de 1,3 milhão de emigrantes para outras regiões, em 1986-1991, 
elevando-se para 1,8 milhão em 1995-2000; a partir dos anos 2000 diminui 
para o patamar de 1,3 mil emigrantes no período 2001-2006, e para 980 mil 
emigrantes entre 2003-2008, mas voltando a um milhão entre 2004-2009. 
Essas oscilações nos volumes da imigração e emigração entre o Nordeste e 
Sudeste parecem confirmar as enormes idas-e-vindas, o caráter reversibilidade 
dos movimentos migratórios internos de longa distância no Brasil. 
As migrações no século 21 redefinem seus pólos, configurando mais 
áreas de retenção da migração do que áreas com uma tendência polarizadora 
de longa permanência, como foi o caso do Sudeste nos últimos cinquenta 
anos. Essas modificações são resultados de inúmeras transformações ocorridas 
no cenário econômico internacional e nacional, que trouxeram efeitos 
em termos políticos e econômicos. Tais mudanças exercem efeitos sobre a 
decisão de migrar, e num contexto mais atual, sobre a decisão de permanecer 
ou não na Região/Estado para a qual migrou em tempos passado. 
Entretanto, os volumes de imigração e emigração entre Nordeste-
São Paulo não deverão ser muito menores. Em um contexto de enormes 
transformações na dinâmica produtiva, onde o setor terciário tem importante 
papel - quer seja nas metrópoles do Sudeste ou do Nordeste - e o emprego 
na indústria oscila conforme o mercado internacional, a rotatividade 
migratória tenderá a se consolidar, marcando uma nova fase do processo de 
redistribuição espacial da população brasileira.
Nesse contexto, torna-se cada vez mais evidente a complexidade 
do entendimento das migrações internas na sociedade brasileira do século 
21. Encontrar caminhos teórico-metodológicos para a nova leitura das 
migrações internas no Brasil requer considerar que para a conceitualização 
de rotatividade migratória torna-se importante destacar que estamos diante 
de uma nova sociedade: reflexiva38, de risco39, da tecnologia da informação40. 
Assim, no caso da compreensão de espaços de “partida e chegada” tão 
difusos é imprescindível considerar a articulação de processos locais ao 
âmbito regional e global, que promovem “mecanismos de desencaixe” da 
38 GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade.
39 BECK, Ulrich. Risk Society: Towards a new modernity.
40 CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede.
Rosana Baeninger
97Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
sociedade,41 com reflexos nos processos de urbanização e de redistribuição 
espacial da população nos variados contextos regionais. 
Por sua vez, as novas territorialidades e os espaços da migração 
aceleram seu processo de emergência na sociedade de riscos. Nesta, os 
riscos são compartilhados42 e, portanto, a rotatividade migratória – marcada 
por entradas e saídas - está imersa em um conjunto de “sistemas peritos” 
da sociedade43: desde a facilidade de transportes até a conformação de 
novos espaços da migração no âmbito local e regional. A intensificação 
de áreas com rotatividade migratória no país indica a fluidez da força de 
trabalho em espaços compartilhados da sociedade de risco. Esse parece ser 
um caminho promissor para o aprofundamento das interpretações acerca do 
fenômeno migratório na contemporaneidade, bem como para o processo de 
configuração de espaços regionais.
Bibliografia
BAENINGER, Rosana. “A nova configuração urbana no Brasil: desaceleração 
metropolitana e redistribuição da população”, in Anais do XI Encontro nacional de 
Estudos Populacionais. Caxambu: ABEP, 1998. 
________. “Expansão, Redefinição ou Consolidação dos Espaços da Migração em São 
Paulo? Análises a partir dos primeiros resultados do Censo 2000”, in Anais do XIII 
Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Ouro Preto: ABEP, 2002.
________. Região, Metrópole e Interior: espaços ganhadores e espaços perdedores nas 
migrações internas no Brasil, 1980-1996. Tese de Doutorado. Campinas: IFCH-
UNICAMP, 1999.
BECK, Ulrich. Risk Society: Towards a new modernity. London: Sage Publications, 1992.
BOURDIEU, Pierre. “Efeitos do lugar”, in BOURDIEU, Pierre (coord.). A miséria do 
mundo. Petrópolis: Vozes, 1997.
BRANDÃO, C. A. Território e desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o 
global. Campinas: Editora da UNICAMP, 2007.
BRITO, Fausto. População, espaço e economia numa perspectiva histórica: o caso 
brasileiro. Tese de Doutorado, Faculdade de Ciências Econômicas, CEDEPLAR/
UFMG, 1997.
BRITO, Fusto; CARVALHO, José A. “As migrações internas no Brasil: as novidades 
sugeridas pelos Censos Demográficos de 1991 e 2000 e pelas PNADs recentes”, in 
Parcerias Estratégicas, n. 22, 2006, p. 441-454.
41 GIDDENS, op. cit.
42 OJIMA, Ricardo. Instituições políticas e Mudança Ambiental: os novos arranjos institucionais na 
gestão de recursos hídricos e suas interfaces políticas.
43 GIDDENS, op. cit.
98 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
CANO, Wilson. “Novas Determinações sobre a Questão Regional e Urbana após 1980”. 
Texto para Discussão n. 193. Instituto de Economia/UNICAMP, julho de 2011.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
CHAPMAN, Murray; PROTHERO, Mansell. “Themes on circulation in the Third 
World”, in Circulation in Third World countries. Londres: Routledge & Kegan Paul, 
p. 1–26, 1985.
COURGEAU, Daniel. Méthodes de Mesure de la Mobilité Spaciale: migration internes, 
mobilité temporaire, navettes. Paris: L’Institut National D’Estudes Démographiques, 
1988.
________. “Nuevos enfoques para medir la movilidad espacial interna de la población”, 
in Notas de Población, Santiago de Chile, CELADE, n. 50, 1990.
COUTINHO, Luciano. “Cenários exploratórios do Brasil 2020: comentário”, in 
Revista ANPEC, n. 4, p. 43-46, 1998.
CUNHA, José Marcos P. “A migração no Brasil no começo do Século 21: continuidades 
e novidades trazidas pela PNAD 2004”, in Parcerias Estratégicas, n. 22, p. 381-439, 
2006
CUNHA, José Marcos; BAENINGER, Rosana. “Cenários da migração no Brasil nos 
anos 90”, Cadernos do CRH, vol. 18, núm. 43, pp.87-101.2005.
DOMENACH, Hervé; PICOUET, Michel. “El caráter de reversibilidad en el estudio de 
la Migración”, in Notas de Población, n. 49, 1990.
DINIZ, Célio C. “Dinâmica regional recente e suas perspectivas”, in AFFONSO, 
Rui de Britto A.; SILVA, Pedro LuizB (orgs.). A federação em perspectiva: ensaios 
selecionados. São Paulo: Fundap, 1995, p. 417-429.
FARIA, Vilmar. “Cinquenta anos de urbanização no Brasil: tendências e perspectivas”, 
in Novos Estudos CEBRAP, n. 29, p. 98-119, 1991.
HAKKERT, Ralph; MARTINE, George. “Tendências migratórias recentes no Brasil: as 
evidências da PNAD de 2004”, in Parcerias Estratégicas, n. 22, p. 347-379, 2006.
GIDDENS, Anthony. As Consequências da Modernidade. São Paulo: Editora UNESP, 1991.
HARVEY, David. A Condição Pós-Moderna. São Paulo: Editora Loyola, 1992.
KRISSMAN, Fred. “Sin coyote ni patrón: why the “Migrant Network” fails to explain 
International Migration”, in International Migration Review, v. 39, n. 1, p. 4-44, 2005.
LATTES, Alfredo E. “Population distribution in Latin America: is there a trend towards 
population deconcentration?”, in UNITED NATIONS. Population, distribution and 
migration. New York, 1998.
LEE, Everett S. “Uma teoria sobre a migração”, in MOURA, Hélio (org.). Migração 
interna: textos selecionados. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil S.A., 1980.
MARTINE, George. “A evolução espacial da população brasileira”, in AFFONSO, Rui 
de Britto A.; SILVA, Pedro Luiz B. (orgs.). Desigualdades regionais e desenvolvimento. 
São Paulo: FUNDAP/Ed. UNESP, 1995, p. 61-91.
Rosana Baeninger
99Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
______. “A redistribuição espacial da população brasileira durante a década de 80”. 
Textos para Discussão, n. 329, Brasília, 1994.
______. “Migração e metropolização”, in Revista São Paulo em Perspectiva, v. 1, n. 2, 
1987, p. 28-31.
MARTINE, George; CARVALHO, José Alberto M. Cenários demográficos para o século 
21 e algumas implicações sociais. Campinas: Editora da UNICAMP, 1989.
MARTINE, George; CAMARGO, Líscio. “Crescimento e distribuição da população 
brasileira: tendências recentes”, in Revista Brasileira de Estudos de População, v. 1, 
n. 2, 1984, p. 99-143.
MASSEY, Douglas; ARANGO, Joaquin; HUGO, Graeme; KOUAOUCI, Ali; 
PELLEGRINO, Adela; TAYLOR, James. Worlds in motion: understanding 
International Migration at the end of the millennium. Oxford: Oxford University 
Press, 1998.
NEGRI, Barjas. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880-1990). 
Campinas: Editora da UNICAMP, 1986.
OJIMA, Ricardo. Instituições políticas e Mudança Ambiental: os novos arranjos 
institucionais na gestão de recursos hídricos e suas interfaces políticas. Dissertação 
de Mestrado, Campinas: UNICAMP, 2003.
PACHECO, Carlos Américo. Fragmentação da nação. Campinas: IE/UNICAMP, 1988.
SAYAD, Abdelmalek. La Double absence: dês ilusions de l´emigré aux soufrances de 
l´immigré. Paris: Seul, 1999.
SINGER, Paul. “Migrações internas: considerações teóricas sobre o seu estudo”, in 
Economia política da urbanização. São Paulo: Editora Brasiliense/CEBRAP, 1973, p. 
29-60.
SKELDON, Ronald. Population Mobility in Developing Countries. London; New York: 
Bedhaven Press, 1990.
SPAAN, Ernst. Labour circulation and socioeconomic transformation. The case of East 
Java, Indonesia. The Hague: NIDI, Report n. 56, 1999. 
SASSEN, Saskia. The Mobility of Labor and Capital. Cambridge University Press, 1988.
VILLA, Miguel; RODRIGUEZ, Jorge. “Dinámica sociodemografica de las metrópolis 
latinoamericanas”, in Documentos Docentes, Santiago de Chile, 1994.
WENDEN, Catherine. “Un essai de typologie des nouvelles mobilités”, in Hommes & 
migration, n. 1233, 2001.
ZELINSKY, Wilbur. “The hypothesis of the mobility transition”, in Geographical Review, 
v. 61, n. 2, 1971, p. 219-249.
100 Rev. Inter. Mob. Hum., Brasília, Ano XX, Nº 39, p. 77-100, jul./dez. 2012
Rotatividade Migratória: um novo olhar para as migrações internas no Brasil
Abstract
Migratory turnover: a new look at internal migration in Brazil
This article analyses the migration movements in Brazil, following the 
changes in their dynamics in recent decades. The movements of internal 
migration in Brazil, the last 60 years, are strongly related to the processes 
of urbanization and spatial redistribution of population, both marked by 
intense population mobility. In this context, classical factors of attraction 
and expulsion run out of explanations for migration. Empirical evidences 
of demographic censuses and “National Survey by Household Samples” 
(PNADs) make it possible to know the changes in national migration 
trends, revealing new conditions of migration for different states: areas 
of migratory retention, areas of migratory losses and areas of migratory 
turnover. The 21st century announces the expansion of migration spaces in 
Brazil, marked by the growth of areas of migratory turnover. 
Keywords: Internal migration; Urbanization; Interstate migration.
Recebido para publicação em 04/10/2012.
Aceito para publicação em 15/11/2012.
Received for publication in October, 04th, 2012.
Accepted for publication in November, 15th, 2012.

Continue navegando