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HISTÓRIA DO DIREITO Derrubar "ídolos"-é assim que chamo todos os ideais-, esse é meu verdadeiro ofício. É inventando a mentira de um mundo ideal que se tira o valor de realidade, sua significação, sua veracidade...A mentira do ideal foi até agora a maldição que pesou sobre a realidade, a própria humanidade se tornou mentirosa e falsa até o mais fundo de seus instintos-até a adoração dos valores opostos àqueles que poderiam lhe garantir um belo crescimento futuro..." © obvious: http://lounge.obviousmag.org/abismo/2013/11/nietzsche-uma-dinamite-na-filosofia.html#ixzz3sJDZNc00 Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook A TEORIA REALISTA DO DIREITO TEM UMA PRONUNCIADA TENDÊNCIA ANTI-IDEOLÓGICA. EM QUE SENTIDO É UMA TEORIA RADICALMENTE REALISTA? O Juiz no Divã O Realismo Jurídico surgiu em duas vertentes concomitantes: a Americana e a Escandinava, mas vou me ater ao Realismo Jurídico Escandinavo. Para os realistas, o direito atua na esfera do fato social e não é simplesmente um ordenamento de regras e normas hierárquicas como afirmava Kelsen em Teoria Pura do Direito, onde prega o Positivismo. O direito não pode existir fora do contexto social no qual está inserido. Pode-se deduzir, portanto, que é uma teoria sustentada pelo empirismo, pois o ato do juiz no momento de tomar a decisão está mais apoiado em sua intuição do que em normas jurídicas. Primeiro vem a decisão, depois a argumentação jurídica que embasaria esta decisão. Nas palavras do atual Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal, Dr. Marco Aurélio Melo “o juiz primeiro decide no seu íntimo e só depois vai buscar os fundamentos de sua decisão”. Axel Hägerström foi o mais destacado entre os juristas que escreveram sobre o realismo escandinavo. Dizia que as normas de direito advinham de superstições, de crenças, e, portanto, não seria mais do que mera psicologia (corta para a Grécia antiga com suas pitonisas). As normas estariam sendo feitas de acordo com a doutrina seguida pelos juízes. Isso não nos lembra o DIGESTO Justiniano? Neste sentido, evoluímos ou retrocedemos? Pois não é uma questão de evolução ou retrocesso. A sociedade, juristas incluso, pensadores e filósofos, está sempre à procura de um sistema mais justo para o entendimento do que é ou do que deveria ser a Lei, o Direito. As correntes de pensamento como não poderiam deixar de ser, têm uma influência muito grande neste sentido. Neste nosso momento de existência, o homem está, (ou deveria estar), cada vez mais preocupado com o bem estar social de seus pares. E assim, o Realismo Jurídico se preocupa cada vez mais com o conteúdo moral do caso a ser julgado, e não simplesmente com a aplicação das regras para solucionar o conflito. ANTI-IDEOLÓGICO: ideológico é o “dever-ser”. Hägerström, outro pensador da teoria do Realismo Jurídico, afirma que “...nenhuma ciência do dever-ser é possível. Consequentemente, todas as questões tratadas tradicionalmente pela filosofia do direito são ilusórias...” (in Solon, A.M. “Dever Jurídico e Teoria Realista do Direito”, pg. 61). Nietschze Por que a Psicanálise? Na página 58 de seu livro “Dever Jurídico e Teoria Realista do Direito”, Sólon cita Hägerström: “...a consciência moral não é passível de conhecimento. Por outro lado, o conteúdo da consciência moral apresenta-se na forma de sentimentos e impulsos que podem ser conhecidos”. Ora, onde mais que não no divã? Freud, em sua 3ª Tópica, dividiu a vida interna do homem em 3 instâncias. O ID, o SUPEREGO e o EGO. O ID é a parte mais profunda e é desconhecida até pelo próprio indivíduo. É nele que residem as pulsões. O SUPEREGO é a internalização das proibições sociais, mas também morais. E o EGO, coitadinho, tem a função de negociar entre as pulsões do ID e as proibições do SUPEREGO. Apesar das proibições, das Leis, o ID muitas vezes consegue burlá-las e atua, sem que o indivíduo saiba o motivo que o levou, a tomar certas atitudes ou certas decisões. Em O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO, Freud, explica como as leis fazem o psiquismo adoecer, pois as leis são colocadas justamente para domar as pulsões do ID, que são sempre egoísticas, pois buscam o princípio do prazer, a satisfação de sua libido. Em outros trabalhos, Freud coloca o PAI como a interdição. A criança começa a perceber que só poderá obter a aprovação do PAI (ou da figura paterna) se obedecer as “leis”. Neste sentido o Estado é o PAI e o Povo é a criança. Considero especificamente o povo brasileiro como um “adolescente não interditado”, um povo que não aceita a interdição do PAI/ESTADO e continua a se comportar como se não houvesse LEIS. Quanto do ID reside nas decisões intuitivas dos juízes que adotam a doutrina do Realismo Jurídico? Para esclarecer melhor esse ponto, nada melhor que um exemplo. Uma juíza que foi vítima de estupro tenderá a julgar mais severamente um réu acusado deste mesmo crime? Quanto mais uma pessoa conhece o seu ID, através da psicanálise, mais imparcial ele poderá ser em suas decisões. Não percam o próximo capítulo: “O BRASILEIRO, um adolescente não interdidato” Hans Kelsen (1881-1973), apesar de inicialmente apontar em seus trabalhos a distinção entre a teoria pura do Direito e a especulação psicossociológica, mais tarde concebe a soberania do Estado em termos da Psicanálise de Freud, seu contemporâneo. Pelo menos é o que registra em seu texto O Conceito de Estado e a Psicologia Social, onde a todo instante faz referências aos textos de Freud, especialmente Totem e Tabu, Psicologia das Massas e Análise do Ego. Também em sua última obra, Teoria Geral das Normas, em que reformulou alguns conceitos, traz uma importante contribuição para a aproximação Direito e Psicanálise quando, investigando sobre a origem das leis, remete-nos a um regressum infinitum e onde cada norma é determinada por uma norma superior, deparando-se com fictio como origem, como a primeira lei. Da mesma forma a Psicanálise nos remete à uma primeira lei, é a Lei do Pai (nom du père). Não estariam Freud e Kelsen falando de uma mesma lei, ou seja, a lei jurídica e a lei "psicanalítica" não se entrecruzam ou têm uma mesma origem? Freud, em seu texto de 1915, O Inconsciente[5], faz a indagação: "Como devemos chegar a um conhecimento do inconsciente? Certamente, só o conhecemos como algo consciente, depois que ele sofreu transformação ou tradução para algo consciente (...)". A Teoria do Estado Civil sob à luz da Psicanálise: a relação entre psiquismo e Lei Jurídica na modernidade FERRÃO, Camila da Silva 1 A obra freudiana é perpassada por uma dimensão política, em que o homem moderno perde a referência, passando a cumprir a lei, pela lei, sem que se considere o dever moral. As regras da convivência se tornam externas a ele, elaboradas pela reflexão e consenso coletivo. Com isso, objetiva-se fazer um estudo metodológico dos efeitos da lei sobre o psiquismo do sujeito moderno, que tem como cenário a passagem do estado de natureza ao estado civil. A escolha metodológica é pautada em textos que discorrem sobre a história e filosofia do direito, os textos políticos de Freud e as contribuições de Hans Kelsen à psicanálise. Esse estudo é dividido em três partes: a primeira tem por objetivo caracterizar as implicações da passagem do jusnaturalismo ao juspositivismo; a segunda apresenta a teoria freudiana sobre as implicações dessa passagem sobre o sujeito moderno; e a terceira, enuncia as conclusões de Hans Kelsen sobre o conceito de psicologia coletiva de Freud e a resposta do pai da psicanálise à problemática kelseniana. A passagem do jusnaturalismo para o juspositivismo marca o direito como formalmente público, e quando se impõe um dever moral por meio da força, os que se adéquam a lei o fazem, não mais por um princípio moral, mas por um dever legal. Direito e Estado se confundem, e a sociedade civil deixa de intervir na formação das normas jurídicas. A princípio, Sigmund Freud não se propõe a elaborar uma teoria do Estado, mas percebe que a passagem do estado de natureza ao estadocivil resulta em uma determinação política das relações do sujeito com seus semelhantes. Elabora, com isso, uma teoria da constituição dos laços sociais, fortemente criticada por Hans Kelsen, porque reduz a formação dos laços sociais à economia libidinal. Com isso, Kelsen convida Freud a pensar sobre a questão da servidão voluntária frente a um Estado coercitivo. A resposta vem, anos mais tarde, com o conceito de Supereu, que, no entanto, não agrada o pensamento liberal de Kelsen. Freud afirma que o sujeito moderno não é, simplesmente, acometido pela coação do Estado, mas utiliza-se dela para punir a si próprio, frente a um sentimento de culpa. Uma culpa originária, que nasce no seio da sociedade civil, perante a possibilidade de satisfazer um desejo que não passou pelo interdito da lei: o incesto. Em suma, respondendo a questão proposta, A TEORIA REALISTA DO DIREITO TEM UMA PRONUNCIADA TENDÊNCIA ANTI-IDEOLÓGICA. EM QUE SENTIDO É UMA TEORIA RADICALMENTE REALISTA? A teoria realista do direito tem sim uma pronunciada tendência anti-ideológica. O que me preocupa é a palavra “radicalmente”. O que é radical? Em que sentido essa palavra está sendo usada neste contexto? O Dicionário Aurélio define radical de várias maneiras: Significado de Radical 1 Parte invariável de uma palavra que pode receber afixos. 2 Sinal de extração de raiz (V). 3 Corpo composto que nas combinações se comporta como corpo simples. 4 Da raiz. 5 Inerente, inseparável. 6 Completo. 7 Que é drástico ou brusco. 8 Que quer reformas absolutas em política. 9 Pertencente ou relativo à raiz da palavra. 10 Diz-se das folhas que nascem junto da raiz. 11 Que ou quem se encontra distante do que é considerado normal ou tradicional. 12 Que ou quem é partidário do radicalismo. 13 radical livre: molécula ou átomo com número ímpar de elétrons e que, no organismo, são produzidos no processo de combustão do oxigênio nas células, podendo provocar danos em células sãs. Destas várias definições escolhi: Inerente, inseparável Completo Que é drástico ou brusco. Que quer reformas absolutas em política. Que ou quem se encontra distante do que é considerado normal ou tradicional. Radical remete à situação presente na guerra? Radical em relação a que? Imagino que neste contexto, se refere às teorias jurídicas que vieram antes da Teoria Positivista de Kelsen. Tomando como referência o livro de Ari Solon, “A Teoria da Soberania como problema da Norma Jurídica e da Decisão”, Solon, A.M. – TEORIA DA SOBERANIA COMO PROBLEMA DA NORMA JURIDICA E DA DECISÃO -1997 Solon, A.M. – DEVER JURIDICO E TEORIA REALISTA DO DIREITO - 2000 http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/por-que-o-direito-se-interessa-pela-psican%C3%A1lise O Realismo Jurídico Escandinavo - Breves Notas (Texto preparado de acordo com as lições dadas às turmas do 4.º ano (diurno) e 5.º ano (pos-laboral) da Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, no ano de 2014. O Texto tem fins meramente didácticos e ostenta as limitações próprias de um resumo para uma aula, não dispensando, por isso, a leitura de obras que aprofundam o tema.) Trabalho apresentado durante o curso de Mestrado em Direito Constitucional da Universidade Federal do Ceará, em convênio com a Universidade Federal de Sergipe. ** Juiz do Trabalho Titular da Vara de Maruim - SE (TRT - 20ª Região) ***Juiz do Trabalho Substituto em Alagoas (TRT - 19ª Região) FREUD, S. – O MAL ESTAR NA CIVILIZAÇÃO (1930) in OBRAS COMPLETAS DE FREUD, vol. XXI – IMAGO EDITORA