Buscar

Projeto Interdisciplinar do 5º período do Curso de Direito Noite Faculdade Novos Horizontes (1)._ANALISADO

Prévia do material em texto

FACULDADE NOVOS HORIZONTES
Curso de Direito
A HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL NOS TRIBUNAIS SUPERIORES:
Possibilidade de aplicação de multas pela BHTrans
Allan Pierre de Oliveira Lima
Antônio Carlos Assis Silva
Diego Rodrigo da Silva
Luciano Alves dos Santos
Marinho Francisco da Costa
Simone Souza dos Santos
Belo Horizonte
2015
Allan Pierre de Oliveira Lima
Antônio Carlos Assis Silva
Diego Rodrigo da Silva
Luciano Alves dos Santos
Marinho Francisco da Costa
Simone Souza dos Santos
A HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL NOS TRIBUNAIS SUPERIORES:
Possibilidade de aplicação de multas pela BHTrans
Projeto Interdisciplinar apresentado ao quinto período do Curso de Direito da Faculdade Novos Horizontes.
Prof. Orientador: Bruna
Belo Horizonte
2015
Parecer Jurídico
Possibilidade de aplicação de multas pela BHTrans
SUMÁRIO
1 PREÂMBULO	Erro! Indicador não definido.
2 EMENTA	Erro! Indicador não definido.
3 RELATÓRIO	7
4 MARCO LEGAL	9
4 FUNDAMENTAÇÃO	12
4.1 Administração Pública	12
4.2 Regime jurídico Administrativo	13
4.3 Poder de policia	14
4.4 Delegabilidade do Poder de Polícia	16
4.5 Poder de Policia Coerção	17
4.6 Princípio da Legalidade	Erro! Indicador não definido.8
4.7 Percepções dos Tribunais Superiores	Erro! Indicador não definido.9
5 CONCLUSÃO	21
REFERÊNCIAS	23
1 PREAMBULO
Nº DO PARECER: 01/2015
RESPONSÁVEIS:ALLAN PIERRE DE OLIVEIRA LIMA, ANTÔNIO CARLOS ASSIS SILVA, DIEGO RODRIGO DA SILVA, LUCIANO ALVES DOS SANTOS, MARINHO FRANCISCO DA COSTA E SIMONE SOUZA DOS SANTOS, TODOS DOSCENTESDO 5º PERIODO DO CURSO DE DIREITO NOITE, DA FACULDADE NOVOS HORIZONTES, A FIM DE ANALISAR A POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MULTAS PELA BHTRANS, EMPRESA DE ECONOMIA MISTA EMBASADO NA DELEGABILIDADE DO PODER DE POLICIA, ATRAVÉS DE PARECER PAUTADO NO RECURSO ESPECIAL DE Nº 817.534 - MG
CONSULENTES: FACULDADE NOVOS HORIZONTES.
INTERESSADOS:SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS, BHTRANS, COMUNIDADE ACADÊMICA, FACULDADE NOVOS HORIZONTES.
2 EMENTA
PODER DE POLÍCIA - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA-MULTA-DELEGAÇÃO-EMPRESA PÚBLICA- IMPOSSIBILIDADE- DIREITOS FUNDAMESNTAIS-LEGALIDADE.Impossibilidade de delegação do Poder de Polícia para aplicação de multas de trânsito à BHTRANS, sendo essa particular enquanto Sociedade de Economia Mista. Poder inerente da Administração Pública interna, , ato coercitivo do Estado, decorrente da supremacia do interesse público, materializado no Poder de Polícia.Somente os atos relativos ao consentimento, ou seja, a emissão da carteira corporifica e a fiscalização como instalações de equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito a lei, são delegáveis. Atos de legislação e Sanção como aplicação de multa é poder de coerção, limitação de liberdade e propriedade exclusivo do Poder Público. Sociedades de economia Mista são entidades empresariais, ou seja, "pessoas jurídicas de Direito Privado com a finalidade de prestar serviço público que possa ser explorado no modo empresarial, ou de exercer atividade económica de relevante interesse coletivo" segundo o mestre Hely Lopes Meireles em Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo, Malheiros, 2009, p. 67, substanciado no conceito de Sociedade de Economia Mista do artigo 5º, III, do Decreto 200/67. Entende-se não ser o trânsito atividade econômica. Logo, a BHTRANS enquanto Sociedade de Economia Mista não deve aplicar multa, ainda que delegada pela Administração pública para tal fim em respeito ao princípio da legalidade. Para esse propósito deverá ser constituída entidade com natureza jurídica adequada, já que a BHTRANS não foi constituída para tal.
3 RELATÓRIO
No dia 10 de novembro de 2009, o Recurso Especial Nº 817.534 - MG (2006/0025288-1) interposto pelo Ministério Público de Minas Gerais ao Superior Tribunal de Justiça em face da Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte – BHTRANS que pleiteava o direito de aplicar multas de trânsito, alegando o exercício de atividade pública. Porém, a aplicação de multas pela BHTRANS por meio da delegação de Poder de Polícia configura, para o Ministério Público, ato de ilegalidade. Esse Poder só pode ser exercido pela Administração Pública direta ou pessoas jurídicas de direito público.
Ao analisar o caso, o relator entendeu que a delegação do poder de polícia à BHTRANS para a aplicação de multas de trânsito, sendo essa particular enquanto sociedade de economia mista, não seria possível por este ser poder inerente ao Poder Público, ato coercitivo do Estado decorrente da supremacia do interesse público materializado no poder de polícia.
Segundo o Ministério Público, são delegáveis os atos relativos ao consentimento, ou seja, por exemplo, a emissão de carteira de habilitação, a instalação de radares e fiscalização eletrônica do trânsito. Atos de legislação e sanção, como aplicação de multa, é poder de coerção e limitação de direito, liberdade e propriedade, exclusivo da Administração Pública.
Enfatizou o relator que sociedades de economia mista são entidades empresariais, ou seja, pessoas jurídicas de direito privado com a finalidade de prestar serviço público que possa ser explorado no modo empresarial ou de exercer atividade econômica  de relevante interesse coletivo.
Concluiu afirmando que não sendo o trânsito atividade econômica, a BHTRANS, enquanto sociedade de economia mista, não detém poder polícia para aplicação de multa, ainda que delegada pela Administração Pública para tal fim em respeito ao princípio da legalidade.
Os demais ministros que participaram do julgamento, Ministra Eliana Calmon, Ministro Mauro Campbell Marques, Ministro Castro Meira, Ministro Humberto Martins decidiram acompanhar o voto do relator. Porém o Ministro Herman Benjamin solicitou vista dos autos. Prosseguindo o julgamento com o voto vista do Ministro, esse entendeu procedente o recurso afirmando que, na hipótese de gerenciamento de trânsito, não é possível a transferência do poder de polícia para sociedade de economia mista. Logo acompanhou o relator e deu provimento ao Recurso Especial.
Portanto, o parecer técnico desenvolvido com base nesse recurso deverá abordar a questão do poder de polícia e sua delegação, Administração Pública, a questão da atividade econômica na aplicação desse poder e o princípio da legalidade enquanto norteador da função Pública.
4 MARCO LEGAL
A administração Indireta ocorre pela necessidade da descentralização administrativa, dessa forma as Sociedades de Economia Mista fazem parte da Administração Pública indireta, conforme decreto lei 200 de 1967, no artigo 4º inciso II:
II - A Administração Indireta, que compreende as seguintes categorias de entidades, dotadas de personalidade jurídica própria:a) Autarquias; b) Empresas Públicas; c) Sociedades de Economia Mista; d) Fundações públicas.
O Decreto-lei 200/67 ainda trata da delegação de competência conforme art. 11:
A delegação de competência será utilizada como instrumento de descentralização administrativa, com o objetivo de assegurar maior rapidez e objetividade às decisões, situando-as na proximidade dos fatos, pessoas ou problemas a atender.
Ainda no mesmo Decreto-lei, existe a definição de empresa de economia mista, no parágrafo 5º inciso III:
  III - Sociedade de Economia Mista - a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, criada por lei para a exploração de atividade econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas ações com direito a voto pertençam em sua maioria à União ou a entidade da Administração Indireta. 
A criação de Sociedade de economia mista é autorizada de acordo com a constituição federal (art.37 XIX) através de autorização por lei especifica e o nascimento ocorre com o registro em cartório de seus respectivos atos constitutivos.
A sua principal função é permitir oEstado atuar no domínio econômico por meio da figura excepcional de agente econômico. Esta intervenção somente é legitimada quando necessária aos imperativos de segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definição constitucional, art. 173, caput, CF:
Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.
A BHTRANS foi criada pela lei  nº 5.953, de 31 de julho de 1991 que autorizou o executivo a constituir a EMPRESA DE TRANSPORTES E TRÂNSITO DE BELO HORIZONTE S/A – BHTRANS. Esta lei é regulamentada pelo Decreto 7298/92.
Este decreto possui 20 artigos e trata da sua formação (Conselho Fiscal, por exemplo) sua jurisdição (dentro do Município de Belo horizonte) e principais competências, tais como, planejamento, a organização, a direção, a coordenação, a execução, a delegação e o controle da prestação dos serviços públicos relativos a transporte coletivo e individual de passageiros, tráfego, trânsito e sistema viário, do Município de Belo Horizonte em especial.
A seguir são expostos referências de marco legal auxiliadoras na elucidação desse debate:
Lei 5.172/66 - Código Tributário Nacional, artigo 78 que define o conceito legal de poder de polícia: 
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
Artigo 37, Caput, Constituição Federal de 1988:
“A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência”. 
Artigo 5º, II, da Constituição Federal de 1988:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.”
Artigo 5º, XXXV, CR/88:
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Lei 5.172 de 25/10/66 - Taxa pelo Poder de Polícia
Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.
Parágrafo único. A taxa não pode ter base de cálculo ou fato gerador, idênticos aos que correspondam a imposto nem ser calculada em função do capital das empresas
Art. 145 da Constituição Federal de 1988. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos:
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
Súmula 473 do STF:	
“A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”
4 FUNDAMENTAÇÃO
4.1 Administrações Públicas
É através da Administração Pública com seus órgãos e agentes públicos, que o Estado pratica atividades que beneficiam a coletividade.
Como elemento físico da Administração Pública, os agentes públicos são integrantes dos órgãos públicos, cuja vontade é imputada a pessoa jurídica, Estado, que os dotam de prerrogativas indispensáveis para obtenção dos fins públicos, conforme doutrina Carvalho Filho:
“O Estado, embora se caracterize como instituição política, cuja atuação produz efeitos externos e internos, não pode deixar de estar a serviço da coletividade. A evolução do Estado demonstra que um dos principais motivos inspiradores de sua existência é justamente a necessidade de disciplinar as relações sociais, seja propiciando segurança aos indivíduos, seja preservando a ordem pública, ou mesmo praticando atividades que tragam benefício à sociedade” (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual Direito Administrativo, 22ª Edição. Editora Lumen Juris. 2009, p.45).
A administração pública segue os fundamentos do regime administrativo, no qual considera os princípios descritos no artigo 37, caput, da Constituição Federal de 1988:
“ Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]”.
Atualmente pelo seu caráter normativo os princípios apresentam presença relevante no ordenamento jurídico e deve ser respeitado. Também na Carta Maior, a Administração Publica se divide em direta e indireta.
Em suas atividades a administração exerce poderes, os chamados poderes administrativos e pratica sujeições em relação aos princípios, supracitados, além de ter como principais princípios norteadores, a supremacia do interesse coletivo público sobre o privado e a indisponibilidade do interesse público.
Como mecanismo da supremacia do interesse público sobre o particular, o poder de polícia é prerrogativa especial do direito público, que possibilita o Poder Público interferir na orbita particular, restringindo direitos individuais, a fim de assegurar os interesses públicos.
4.2 Regime Jurídico Administrativo
Na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, está localizado um conjunto de princípios e normas, que direcionam a atividade desempenhada pelos agentes e órgãos da Administração Pública. Esses acompanham um conjugando as regras e os princípios que estruturam a Administração Pública Brasileira, com denominação de Regime Jurídico Administrativo.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que:
 “a expressão regime jurídico administrativo é reservada tão-somente para abranger o conjunto de traços, de conotações que tipificam o Direito Administrativo, colocando a Administração Pública numa posição privilegiada, vertical, na relação jurídico-administrativa. Basicamente pode-se dizer que o regime administrativo resume-se a duas palavras apenas: prerrogativas e sujeições” ( ) 
Marçal Justen Filho tem a seguinte definição: 
“o regime jurídico de direito público consiste no conjunto de normas jurídicas que disciplinam o desempenho de atividades e de organizações de interesse coletivo, vinculadas direta ou indiretamente à realização dos direitos fundamentais, caracterizado pela ausência de disponibilidade e pela vinculação à satisfação de determinados fins”( ) 
Ainda segundo ensinamentos de Bandeira de Mello (2004) o regime de direito público resulta da caracterização normativa de determinados interesses como pertinentes à sociedade e não aos particulares considerados em sua individuada singularidade. Juridicamente esta caracterização consiste, no Direito Administrativo, segundo nosso modo de ver, na atribuição de uma disciplina normativa peculiar que, fundamentalmente se delineia em função da consagração de dois princípios: a) supremacia do interesse público sobre o privado; b) indisponibilidade, pela Administração, dos interesses públicos. Dentro desse Regime Jurídico Administrativo estão inseridos os Poderes Administrativos, sendo um deles o Poder de Polícia, definido no artigo 78 do CódigoTributário Nacional. 
4.3 Poder de Polícia
O Código Tributário Nacional (CTN) em seu artigo 78 elucida as considerações de poder de polícia:
“Considera-se poder de polícia a atividade da Administração Pública que limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a pratica de ato ou a abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos (Art.78, CNT de 1966)”.
O professor Carvalho Filho (2009, p. 73) muito bem conceituou o Poder de Polícia da Administração Pública:
[...] entendemos que se possa conceituar o poder de polícia como a prerrogativa de direito público que, calcada na lei, autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse da coletividade. (CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual Direito Administrativo, 22ª Edição. Editora Lumen Juris. 2009. Pag 73). 
Conforme ensina Cunha Júnior (2008), o poder de polícia tem origem na segunda metade do século XVIII,quando os cidadãos conquistaram seus primeiros direitos individuais, afastando assim, parte da opressão imposta pelo Estado. Entretanto, surgiu a necessidade de um controle estatal para que não houvesse excesso do cidadão ao exercer esses direitos, vindo a prejudicar a coletividade.
Atualmente, como afirma Gasparini (2009), os principais direitos individuais do cidadão brasileiro estão expressos nas cláusulas pétreas da nossa Constituição da República (1988), principalmente no seu artigo 5º, do qual expressa os direitos fundamentais referentes à liberdade e ao uso, gozo e disposição da propriedade, por exemplo.
Destaca ainda o professor Cunha Júnior (2008) que, desde aquela época, o Estado está autorizado apenas a restringir o exercício dos direitos individuais, mas jamais poderá extinguir ou anular esses direitos.
Entretanto, Gasparini (2009), lembra que: 
“O exercício desses direitos não é ilimitado. Ao contrário, deve ser compatível com o bem estar social ou com o próprio interesse do Poder Público, não podendo, assim, constituir obstáculo à realização dos objetivos do Estado ou da sociedade (GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 14ª Edição. Editora Saraiva. São Paulo. 2009 Pag.126).”
Conforme o avançar da sociedade, o Estado vem se equipando de ferramentas necessárias para que o mesmo possa vir a atender aos pedidos desta, e um destes é o poder de administrar, aonde este vêm dotado de diversas atividades, sendo estas embasadas no que dita a Lei, sempre fundamentada e legalizada.
Ainda para Carvalho Filho (2009, p.75) “A expressão poder de polícia comporta dois sentidos, um amplo e um estrito.”, em sentido amplo diz respeito à ação restritiva do Estado em relação aos direitos individuais expresso na Constituição Federal (artigo 5º, II), em sentido estrito são as atividades administrativas, prerrogativas conferidas aos agentes da Administração, para restringir e condicionar liberdade e propriedade.
Um desses poderes resulta exatamente do inevitável confronto entre os interesses público e privado e expressa necessidade de impor restrições ao exercício dos direitos dos indivíduos. Quando o Poder Público interfere na órbita do interesse privado para salvaguardar o interesse público, restringindo direitos individuais, atua no exercício do poder de polícia.
De acordo com Bandeira de Mello (2004), a essência do poder de polícia é o seu caráter negativo:
“No sentido de que através dele, o Poder Público, de regra, não pretende uma atuação do particular, pretende uma abstenção. (...) a utilidade pública é, no mais das vezes, conseguida de modo indireto pelo poder de polícia, em contraposição à obtenção direta de tal utilidade, obtida por meio dos serviços públicos” (BANDEIRA DE MELLO, Antonio Celso. Curso de Direito Administrativo. 2004, p. 725-727).
4.4 Delegabilidade do Poder de Policia
A possibilidade de delegação do exercício do Poder de Policia por particulares, é um tema de extensas discussões doutrinárias, essas premissas apontam que boa parte da doutrina elucida ser impossível a delegação a qualquer ente privado, indiferente de ser ele pessoa natural ou jurídica. Definindo que o Poder de Policia é atividade exclusiva do Estado, portanto só pode ser exercido pela Administração Pública enquanto Poder Público.
O poder de polícia, por ser atividade exclusiva do Estado, não pode ser delegado a particulares, mas é possível sua outorga a entidades de Direito Público da Administração Indireta, como as agências reguladoras (ANA, ANEEL, ANATEL, etc.), as autarquias corporativas (CFM, CFO, CONFEA, etc.) e o Banco Central. Eventualmente, particulares podem executar atos de polícia, mas sob o comando direto da Administração Pública. Ex.: destruição de armas apreendidas. Nesses casos, não há delegação, pois o particular atua sob as ordens estritas dos agentes públicos.
Carvalho Filho (2009) defende que há possibilidades de delegar o poder de policia ao particular, em determinadas situações em que se faz necessário o exercício do poder de Polícia fiscalizatório (normalmente de caráter preventivo), o Poder Público atribui a Pessoas privadas, por meio de contrato, a operacionalização material da fiscalização Através de máquinas especiais, como ocorre, por exemplo, na triagem em aeroportos para detectar eventual porte de objetos ilícitos ou proibidos. Aqui o Estado não se despe do poder de polícia nem procede a qualquer delegação, mas apenas atribui ao executor tarefa de operacionalizar máquinas e equipamentos, sendo-lhe incabível, por conseguinte, instituir qualquer tipo de restrição; sua atividade limita-se, com efeito, à constatação de fatos. O mesmo ocorre, aliás, com a fixação de equipamentos de fiscalização de restrições de polícia, como os aparelhos eletrônicos utilizados pelos órgãos de trânsito para a identificação de infrações por excesso de velocidade: ainda que a fixação e a manutenção de tais aparelhos possam ser atribuídos a pessoas privadas, o poder de polícia continua sendo da titularidade do ente federativo constitucionalmente competente, portanto nada há de ilícito em semelhante atribuição operacional.
Esse argumento vai de encontro ao alegado pela BHTRANS, que afirma que a delegação seria possível tendo em vista que estaria exercendo uma função pública. 
Expressiva parte da doutrina defende a visão onde os atos de policia podem ser divididos em dois grupos: sendo eles; atos de policia delegáveis e indelegáveis. O que podemos exemplificar através de Juarez Freitas, para quem “são delegáveis os atos mediatamente de policia ou instrumentais, não inerentemente estatais, sem qualquer ofensa à mencionada indelegabilidade” (FREITAS, Juarez. 2004). 
Em contraponto temos os atos de legislação e de sanção, onde o mesmo doutrinador pondera embasado na legalidade tratar-se de atividade exclusiva do Poder Público, e, por conseguinte, contesta a possibilidade de delegação.
Bandeira de Mello (2004) defende uma posição paralela a esta sendo que considera passível de delegação somente os atos materiais preparatórios ou sucessivos aos atos de policia. E ainda pretere a delegação dos atos, que denomina atos jurídicos expressivos do Poder de Polícia.
4.5 Poderes de Polícia coerção
A atividade da Administração Pública no exercício do poder de polícia autoriza-o a exigir do interessado o pagamento de taxa, espécie de tributo, conforme determinam a Constituição Federal de 1988 no seu artigo 145 e o Código Tributário Nacional. 
A taxa diferencia-se do imposto, outra espécie de tributo, principalmente quanto à sua destinação: enquanto a receita dos impostos é utilizada para o pagamento de diversas despesas, a taxa tem destinação específica – o custeio da atividade de polícia administrativa ou de um serviço público divisível.
Em consequência, não é cabível a cobrançade tarifa, que se caracteriza como preço público, e, diferentemente daquele tributo, tem natureza contratual, ou seja, somente é cobrada quando o consumidor usufrui o serviço. A tarifa é adequada para remunerar serviços públicos econômicos, inclusive os executados por concessionários e permissionários de serviços públicos (energia, transporte, água, telefonia etc.).
Da mesma forma, para que seja legítima a cobrança de taxa pelo Poder Público competente, necessário se faz que a entidade exerça o poder de polícia. 
Portanto o exercício do Poder de polícia por um particular, cujo objetivo é exercer atividade econômica, não é legalmente permitido, pois trás o escopo do lucro na atividade, logo, esse é mais um impedimento legal para aplicação de multas pela BHTRANS.
4.6 Princípio da Legalidade
O Poder de Polícia com todos os seus atributos, exigibilidade, coercibilidade, autoexecutoriedade, tipicidade e discricionariedade, é um Poder-Dever da Administração Pública e está completamente vinculado ao princípio da legalidade. 
O Estado é obrigado a exercê-lo quando o interesse Público demandar. Contudo, deve-se observar a limitação estatal, enquanto Estado de Direito, deve respeitar os direitos e garantias fundamentais impressos na Constituição Federal de 1988, agindo sempre pautado nos princípios constitucionais, em especial aqueles do artigo 37, caput, da CF/88, a saber: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
No que discerne o sentido de legalidade, os atos praticados por esta empresa supracitada neste parecer, são terminantemente ilegais embasados no que Bandeira de Mello explicita que: “certos atos materiais que precedem atos jurídicos de polícia não possam ser praticados por particulares, mediante delegação, propriamente dita”.
É o que ocorre no caso da fiscalização do cumprimento de regras de trânsito por meio de equipamentos eletrônicos que pertencem a empresas privadas contratadas pela Administração Pública. Isso é possível porquanto não há atribuição de poder que eleve os contratados à posição de supremacia em relação aos demais administrados. O desequilíbrio haveria, contudo, se fosse concedido ao particular o poder dever de decidir pela eventual aplicação de sanção, e pela sua aplicação propriamente dita.
4.7 Percepções dos Tribunais Superiores
A lei Nº 5.953 em sua ementa autorizou o Executivo a constituir e organizar uma sociedade de economia mista sob a denominação de Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte S/A -BHTRANS - e dá outras providências, vislumbra-se um erro, não do exercimento do Poder de Polícia em razão do interesse coletivo, mas de competência, indicando vício material, uma vez que, constitucionalmente, uma sociedade de economia mista pertence à administração indireta, criada com vistas a permitir com que o Estado atue comercialmente no mercado, sendo o Poder de Polícia prática de competência da Administração Pública direta, conforme Repercussão Geral no Recurso Extraordinário com Agravo 662.186, Minas Gerais, cujo relator foi o Min. Luiz Fux.
Corroborando com esta interpretação, o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Recurso Especial objeto deste estudo, onde fora expresso claramente a conformidade sobre o tema, no qual o Ministério Público de Minas Gerais interpôs o referido recurso, ante a legalidade da delegação a uma sociedade de economia mista pelo Estado de Minas Gerais, da atividade de policia administrativa referente a aplicação de penalidades administrativas de trânsito.
Rel. Min. Mauro Campbell Marques no julgamento do Recurso Especial (nº 817.534 MG 20060025288-1 discerniu como indelegável o Poder de policia nos âmbitos Legislação e sanção).
Portanto, de acordo com este entendimento, devem ser consideradas as quatro atividades relativas ao poder de polícia: legislação, consentimento, fiscalização e sanção. Assim, legislação e sanção constituem atividades típicas da Administração Pública e, portanto, indelegáveis. Consentimento e fiscalização, por outro lado, não realizam poder coercitivo e, por isso podem ser delegados.
5 CONCLUSÃO
A discussão sobre a delegação do Poder de Polícia, que no caso em questão se materializa através da possibilidade de aplicação de multa pela BHTRANS, enquanto empresa pública gera bastante polemica no meio jurídico. A maioria da doutrina e da jurisprudência é contrária a esta outorga, assim como o posicionamento do grupo.
Autorizar o particular o exercer poderes típicos de Estado é um precedente perigoso, podendo gerar grande insegurança jurídica. Tendo em vista que esse poder só é possível ser utilizado pelo Estado, ante que este está vinculado à legalidade, só faz aquilo que a lei autoriza, e limitado pelos direitos fundamentais, sendo seus atos facilmente controlados, seja pela própria Administração através do atributo da autotutela, que conforme a sumula 473 do STF, a Administração pode anular seus próprios atos quando eivados de vícios que os tornem ilegais ou revogá-los, por conveniência ou oportunidade, ou pela via judiciária, tendo em vista que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário, lesão ou ameaça a direito conforme artigo 5, XXXV, CR/ 88. Logo, sendo o Estado o único a restringir direitos em nome do interesse público.
Porém, de acordo com recente entendimento do STJ, devem ser consideradas as quatro atividades relativas ao poder de polícia: legislação, consentimento, fiscalização e sanção. Assim, legislação e sanção constituem atividades típicas da Administração Pública e, portanto, indelegáveis. Consentimento e fiscalização, por outro lado, não realizam poder coercitivo e por isso podem ser delegados.
Como todo ato discricionário, o poder de polícia tem limite nos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Este último é de fundamental importância, pois exige que os direitos individuais sejam apenas restritos na medida considerada indispensável para a satisfação do interesse público. É atuação desproporcional.
Portanto, Poder de polícia sendo atos de fiscalização das condutas dos particulares não pode ser delegável, muito embora os atos materiais, cuja atribuição se restringe apenas a fornecer o material solicitado pela Administração, serem passíveis de delegações, pois ao delegar esses atos, muitas vezes necessários por falta de estrutura da Administração Pública, não se transfere ao particular a atividade de fiscalização do Estado. 
Colocar nas mãos de particular poder para limitar direitos e interesses do cidadão vai contra o Estado de Direito, fere os Direitos Fundamentais e abre a possibilidade da arbitrariedade em prol de interesses privados. Tendo em vista que o particular, mesmo exercendo atividade pública, muitas vezes visará o lucro.
Portando, esse parecer é totalmente contrário a delegação de Poder de Polícia Administrativa para possibilidade de aplicação de multa por meio de fiscalização pela BHTRANS. 
REFERÊNCIAS
BANDEIRA DE MELLO, Antonio Celso. Curso de Direito Administrativo. 2004. p. 725-727.
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio Bandeira. Elementos de direito administrativo. Editora Revista dos Tribunais, 1980.
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional. Malheiros Editores, 2000.
BRASIL, Constituição da República Federativa do. BRASIL, 1988. 
Acesso em 17/10/2015. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm
BRASIL. Decreto lei 200/67 artigos 4,5,11. Acesso em 17/10/2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm
BRASIL. Decreto nº 7298 de 5 de agosto de 1992. Acesso em 17/10/2015. Disponível em: http://cmbelohorizonte.jusbrasil.com.br/legislacao/241129/decreto-7298-92
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 22ª edição. Rio de janeiro. Editora Lumen Juris, 2009.
Código Tributário Nacional Brasileiro. Editora Saraiva, 34ª edição, 2005.
Freitas, Juarez. Poder de Policia Administrativa e o primado dos direitos fundamentais. In- Estudosem homenagem ao professor Adilson Abreu Dallari, 2004. p. 412
GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 14ª Edição. Editora Saraiva. São Paulo. 2009 Pag.126.
MACIEL, Silvio Luiz. "Interpretação conforme a Constituição." São Paulo: Puc, 2008.
MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 29. ed., rev., atual. E ampl. São Paulo: Malheiros, 2008.
MEIRELLES, Hely Lopes, et al. Direito administrativo brasileiro. Vol. 3. Revista dos Tribunais, 1966.
Recurso Especial 817.534 MG. Disponível em: https:// ww2.stj.jus.br-revista eletrônica- Resp. 817.534-MG-
TRIBE, Laurence. MICHEL, Dorf. “Hermenêutica constitucional.” Vol. 8. Editora del Rey, 2007.

Continue navegando